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Cap Resistencia de Vitima(Superando a Resistencia em Terapia cognitiva)

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188 jzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Superando a Resistência em Terapia Cognitiva zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
RESUMO 
Neste capítulo revisei diversos aspectos da resistência moral. Alguns terapeutas cogni-
tivos cometem o erro de atacar qualquer afirmação do tipo "deveria" que o paciente 
pode oferecer, como se o paciente "devesse" ser compelido a abandonar qualquer 
código de conduta. Para muitos pacientes, este ataque indiscriminado no "deveria" 
parece ingénuo e simples e apenas aumenta sua resistência para mudar. N o entanto, 
podemos abordar "deveria" mal-adaptativos, examinando as diferenças entre eventos 
anteriores, causas, causas adjacentes e responsabilidade moral. Podemos distinguir ne-
gligência contributiva ou fatores que podem compensar o grau de responsabilidade 
de uma pessoa. Podemos ilustrar a importância de fatores mitigantes, examinar a i m -
portância do padrão-duplo e redirecionar o paciente de autocondenação para auto-
correção e perdão pessoal. Por úl t imo, podemos ajudar o paciente a desenvolver u m 
entendimento de "deveria" racional, apelando para u m imperativo categórico kantia-
no ou invocando u m utilitarismo racionalista (Hare, 1981). 
Resistência de Vít ima zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Ninguém, exceto você, poderia entrar por esta porta, uma vez que 
ela lhe foi destinada. Agora, vou fechá-la. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
— KAFKA, OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA PROCESSO 
Um Mundo Justo e Merecimento 
"Coisas ruins acontecem com pessoas ruins" 
U m a q u e s t ã o para qualquer sistema mora l é: " p o r que deveria me i n -
comodar po r seguir estas regras morais?" U m mode lo funcional r í g i d o 
sugeriria que p r i n c í p i o s morais situacionais p o d e m determinar a esco-
lha correta. D a perspectiva de escolha ind iv idua l entre alternativas, ele 
pode conc lu i r que, se puder escapar disso e sentir-se melhor , aí vale 
a pena fazer algo. M u i t o da c r e n ç a religiosa ocidental t e m po r base 
a v i são de que " j u s t i ç a " o u " idoneidade" u m dia seria reconhecida e 
recompensada. A re l ig ião judaica enfatiza a c r e n ç a de que a a l iança 
(pacto sagrado) entre Deus e o povo juda i co resul ta rá na p r o t e ç ã o de 
Deus e m re lação aos descendentes dos filhos de Israel (Heschel, 1997). 
189 
Superando a Resistência em Terapia Cognitiva 
Dessa maneira, embora uma pessoa possa sofrer e m sua vida atual, lhe 
é ensinado que, se seguir a L e i de M o i s é s , sua prole estará protegida e 
salva. Consequentemente, j u s t i ç a e idoneidade durante esta vida se rão 
recompensadas nas vidas de descendentes de uma ú n i c a pessoa o u de 
vár ias . A dou t r ina cristã promete recompensar honradez na "v ida que 
está por v i r " — e m vida após a m o r t e (Pelikan, 1999). Este sistema de 
c r e n ç a religiosa prega que, o m u n d o atual pode n ã o ser jus to , mas a j u s -
tiça será oferecida àque l e s que são realmente virtuosos e mora lmente 
corretos. Assim, ambos os sistemas p r o m e t e m recompensas por agir de 
uma forma mora l . 
Embora as d o u t r i n a s j u d a i c o - c r i s t ã s r e c o n h e ç a m que a j u s t i ç a pode 
n ã o caracterizar a vida atual (ou o m u n d o ) , muitas pessoas realmente 
acreditam e m u m m u n d o " jus to" . D e acordo c o m este modelo , a pes-
soa " i n g é n u a " acredita que coisas boas acontecem c o m pessoas boas e 
que coisas ruins acontecem c o m pessoas ruins (Lerner e M i l l e r , 1978). 
Por exemplo, quando é d i to às pessoas que a l g u é m que estava sentado 
em u m carro fo i a t ingido po r u m out ro carro, eles t ê m uma t e n d ê n c i a 
a desvalorizar a pessoa que fo i atingida (Lerner e M i l l e r , 1978). Esta 
de sva lo r i z açã o confere ao "acidente" u m "evento j u s t o " , pressupondo 
que coisas ruins geralmente acontecem c o m pessoas ruins. 
A vantagem ps ico lóg ica desta c r enç a é que ela nos pe rmi te manter 
a i lusão de que, se agirmos corretamente, n ã o sofreremos. A ideia de 
"acidentes" que acontecem para pessoas inocentes o u mesmo honestas 
impl ica que qualquer pessoa pode ser v í t i m a a qualquer m o m e n t o . 
C o n t u d o , ao rotular a v í t i m a inocente c o m o "merecedora" de dano, 
nos protegemos do reconhecimento indesejado e i n c ó m o d o de que 
coisas te r r íve is p o d e m acontecer c o m qualquer u m . 
Todavia, se coisas ruins apenas acontecem c o m "pessoas ru ins" , en-
tão , a pessoa depr imida pode conc lu i r que sua dep re s são é u m sinal de 
sua falha mora l : "estou sofrendo porque devo ser m a u " . Assim, por 
exemplo, uma mu lhe r acreditava que sua dep re s são era e v i d ê n c i a de seu 
fracasso c o m o ser humano, sugerindo-lhe que t inha feito algo errado. 
O terapeuta perguntou- lhe : "qua l é a vantagem de acreditar que a sua 
dep re s são é u m sinal de seu fracasso?". Ela respondeu:"se posso enten-
der que o que faço está errado, e n t ã o , posso mudar isso e evitar no f u -
t u r o " . Dessa maneira, sua es t ra tég ia fo i se condenar, enquanto 
preservava sua c r e n ç a de que o m u n d o é jus to e que, se pudesse enten-
der seus erros, poderia evitar sofrer no futuro. Natura lmente , a i ronia 
aqui é que sua a u t o c o n d e n a ç ã o perpetuava sua dep re s são e adicionava 
Resistem i.i de \a 
mais " e v i d ê n c i a " de que ela era uma fracassada mora l . Alguns pacientes 
resistentes acreditam que "merecem" sofrer. U m a mulher , que se auto-
m u t i l o u cor tando seus pulsos, m e n c i o n o u que n ã o merecia ser feliz. Ela 
acreditava que t inha de sofrer por seus erros. C o n t o u que uma vanta-
gem da a u t o p u n i ç ã o era que isso a fazia se lembrar de n ã o cometer os 
mesmos erros novamente. 
Ver a dep re s são c o m o u m sinal de fracasso mora l é u m exemplo de zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
erro categorial. Neste caso, a paciente t inha confundido categorias morais 
c o m categorias m é d i c a s o u ps i co lóg icas . C o n t u d o , fez isso c o m a espe-
ran ça de que poder ia pelo menos "salvar" a sua c r e n ç a e m u m m u n d o 
justo. Piaget (1934) se refere a esta c r e n ç a c o m o justiça iminente, isto é, 
que a j u s t i ç a se segu i rá de cada m á a ç ã o e que c o n s e q u ê n c i a s negativas 
o c o r r e m porque a pessoa fez algo errado. Estas " c r e n ç a s de u m m u n d o 
justo" são descritas na Figura 8 .1 . 
O terapeuta que diretamente desafia estas regras morais é visto 
como a l g u é m que está " tentando" direcionar o paciente a uma vida de 
maiores erros. U m paciente disse: " v o c ê está tentando tirar os meus pa-
drões ! Tudo o que v o c ê quer que eu faça é que seja egoís ta e diga que 
'está tudo b e m ' " . Dessa maneira, para esta paciente, conseguir ajuda por 
meio da terapia é u m erro "auto- indulgente" . Assim, ela n ã o apenas via 
"sentir-se b e m " c o m o algo que n ã o "merecia"; ela acreditava que sentir-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ei m u n d o é jus to : coisas 
ruins acontecem a 
pessoas ruins. 
M H H N M l 
I i i devo te r feito alguma 
i i usa errada. 
Se eu puder entender o 
t | i ie Fiz de errado, poderei 
evitar so f r imento n o 
lut uro. 
Eu es tou sofrendo. 
Alguma coisa ru im e s t á 
acontecendo comigo. 
Eu m e r e ç o sofrer. 
Por tanto , eu deveria me 
focar em todos os meus I 
i Igura 8.1 C r e n ç a s de um m u n d o justo . 
192 Superando a Resistência em Terapia Cognitiva 
se b e m a levaria a cometer ainda mais erros. N a verdade, ela temia que se 
c o m e ç a s s e a apreciar a si mesma, se tornar ia an t ipá t ica e arrogante e m 
re lação aos outros, afastando qualquer pouco apoio que t inha. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA"Coisas boas acontecem com pessoas boas" 
U m a c r e n ç a e m u m m u n d o jus to t a m b é m toma a fo rma de merec i -
m e n t o para ser recompensado po r ser uma boa pessoa. Se o m u n d o é 
" jus to" e sou uma "boa pessoa", eu deveria ser "recompensado". D e v e -
ria ser recompensado porque fiz as coisas corretas que me levaram azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA me-
recer a recompensa: "eu trabalho duro. M e u chefe deveria me valor izar" 
o u "sou u m b o m empregado: deveria ser p r o m o v i d o " . O pressuposto 
subjacente é de que o m u n d o deveria ser jus to e as pessoas deveriam ser 
recompensadas por seu b o m caráter , es forço e m é r i t o . Esta sensação de 
"fazer e merecer" t a m b é m subjaz às r e c l a m a ç õ e s de pessoas que acredi-
t am que coisas ruins nunca deveriam acontecer a elas: " t enho sido uma 
pessoa decente. N ã o é jus to que tenha perdido m e u emprego". 
Pacientes que acreditam que suas "qualidades" deveriam ser re-
compensadas, frequentemente resistem a realizar m u d a n ç a e m re lação 
ao compor t amen to mais " e s t r a t é g i c o " . Por exemplo, u m executivo que 
n ã o t inha conseguido uma p r o m o ç ã o alguns anos antes, queixou-se 
de que era i m p r o v á v e l conseguir uma p r o m o ç ã o este ano. E m vez de 
desenvolver al ianças c o m pessoas que pode r i a m a judá - lo , fez reclama-
ç õ e s passivo-agressivas sobre seu chefe. Q u a n d o o terapeuta sugeriu 
que ele poder ia tentar se tornar mais recompensador e m re lação ao seu 
chefe, ele respondeu: "eu n ã o deveria ter de fazer isso. E u tenho sido 
u m b o m empregado". 
O paciente que acredita que suas boas qualidades deveriam ser re-
conhecidas, apreciadas e recompensadas, espera ser tratado c o m j u s t i ç a 
e m todos os relacionamentos, quase sempre independentemente de 
e v i d ê n c i a e m c o n t r á r i o . Por exemplo, u m h o m e m conseguiu u m tra-
balho e m u m e s c r i t ó r i o onde os outros empregados d iz i am que as 
coisas n ã o c o r r i a m c o m ju s t i ç a e que o chefe era a l g u é m que t inha 
favoritismos. E m vez de pensar e agir estrategicamente, ele abordava 
seu trabalho c o m o pressuposto de que seria a e x c e ç ã o à regra. Ele 
adotou o papel de v í t i m a inocente, queixando-se e se ressentindo c o n -
tra o injusto tratamento. Q u a n d o seu terapeuta sugeriu que ele poderia 
se ut i l izar de uma abordagem mais es t ra tég ica com o seu chefe e seus 
colegas de trabalho, respondeu dizendo: "algumas pessoas fogem das 
Resistência de Vítima 193 
coisas, po r que eu n ã o deveria?". Dessa perspectiva, tentativas da parte 
dele para ser mais e s t r a t ég i c o se equiparavam a aceitar a injust iça no 
e s c r i t ó r i o . 
Discu t i re i o papel de v í t i m a c o m mais detalhes adiante. N a Figura 
8.2, e s b o ç o as vár ias respostas para o " reconhec imen to" de que "coisas 
ruins acontecem c o m pessoas ru ins" e de que "coisas ruins acontecem 
c o m todo m u n d o " . 
Coisa: s ruins aconteceram comigo. 
Coisas ruins acontecem c o m pessoas ruins. i 
Um 
ou outro 
I u devo ser mau. 
Falha moral 
Auioc rí t ica 
Revisa erros . 
I I m i p e n s a ç ã o 
I « c p i c s s a o . 
i ulpa. vergonha 
Isto n ã o deveria ter | 
acontecido. 
Vítima 
Queixa-se. culpa os 
ou t ro s , recusa-se a 
mudar, demanda 
va l idação , ca tas t rof i -
za os problemas 
Raiva, ressent imen-
to e passividade 
Coisas ruins acontecem 
com t o d o m u n d o 
Eu posso pensar em c o m o 
conseguir recompensas. 
Proativo/Estratégico 
Considera diferentes font( -s 
de recompensas, examina 
c o n t i n g ê n c i a s reais, adapta 
e s t r a t é g i a s de r e s o l u ç ã o de 
problemas, forma a l i a n ç a s . 
' I 
Planejamento, a ç ã o . 
flexibilidade 
I g i l l . i H 7 Aulcx ulpa. roteiros de vi t ima r e s t i . i t rg i . i s pm. i l iv . i s . 
Superando a Resistência em Terapia Cognitiva zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Resistência de Vít ima e Pensamento Est rat égico 
Estas três respostas para o reconhecimento de que "algo r u i m está acon-
tecendo c o m i g o " ilustra o contraste entre res is tência mora l e respostas 
es t ra tég icas . O pressuposto guiando a terapia cognit iva é que uma pes-
soa o b t ê m uma vantagem ao reconhecer que coisas ruins acontecem 
c o m todo m u n d o e que c o n s e q u ê n c i a s p o d e m ocorrer independen-
temente do m é r i t o . Desta maneira, se a l g u é m se aproveita de v o c ê , 
v o c ê pode admi t i r que "isto n ã o deveria ter acontecido". Ent re tan-
to, v o c ê pode "aceitar o que é dado", isto é, "visto que X aconteceu, o 
que posso fazer para melhorar minha s i t u a ç ã o ? " A resposta es t ra tég ica 
proativa e m terapia cognitiva leva a uma e x p l o r a ç ã o de respostas f le -
xíveis d i spon íve i s que p o d e m levar a s o l u ç ã o de problemas e a r e c o m -
pensas, embora m i n i m i z a n d o custos. Pegando emprestada uma frase da 
teoria m i c r o e c o n ô m i c a , a pessoa olha e m d i r e ç ã o àzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA utilidade futura, e m 
vez de permanecer engajada em contestar o passado. D a sua perspectiva 
proativa es t ra tég ica , o m u n d o n ã o é n e m jus to n e m injusto — simples-
mente é o que é. 
Compare esta resposta es t ra tég ica proativa c o m a resposta da pessoa 
que acredita que coisas ruins apenas acontecem c o m pessoas ruins -
por tanto , "eu devo ser m a u " . Desta perspectiva, o merec imento é de-
te rminado pelo resultado. O pressuposto é que o m u n d o é justo, e n t ã o , 
se algo r u i m lhe aconteceu, deve ser devido ao seu fracasso. 
C o n t e m p o r â n e a s , as c r enças da N o v a Era de que há uma "persona-
lidade c a n c e r í g e n a " (Temoshak e Dreher, 1992) refletem esta crendice 
de que algumas pessoas t ê m uma particular " i m p e r f e i ç ã o " o u "defe i to" 
que, se co r r i g ido , poder ia prevenir a o c o r r ê n c i a desta te r r íve l d o e n ç a . 
Outras c renças mág ica s c o m o : "se alguma coisa r u i m aconteceu, deve 
ser por u m p r o p ó s i t o " , t a m b é m refletem esta busca po r j u s t i ç a e m u m 
m u n d o mora lmente imparcial . C r e n ç a s religiosas c o m o "Deus age de 
formas misteriosas" são tentativas de encontrar j u s t i ç a e a l ív io nas 
t ragéd ias da vida cotidiana. 
Paralela a esta c r e n ç a de que "devo ter falhado e m alguma coisa, é 
po r isso que eu estou sofrendo", é a c r e n ç a da v í t i m a mora l : "isto n ã o 
deveria ter acontecido c o m i g o porque n ã o merecia". O esquema é o 
de " j u s t i ç a " — " n ã o é ju s to ! " I re i examinar o roteiro de v í t i m a e m mais 
detalhes mais à frente; aqui apenas apontarei que a v í t i m a resiste à reso-
l u ç ã o de problemas e considera seu p r ó p r i o papel no problema porque 
fazer assim impl i ca para ele que " tudo b e m que isto aconteceu". 
Resistem ia de Vitima 19') 
Neste cap í tu lo , examino c o m o a res is tência para mudar pode ter 
por base uti l izar desculpas para evitar ser ju lgado pelos outros (ou pelo 
self). E m seguida, examino c o m o o papel de v í t i m a é desenvolvido e 
man t ido e po r que o paciente v ê a abordagem de r e s o l u ç ã o de prob le -
ma e m terapia cognit iva c o m o maior e v i d ê n c i a de v i t i m i z a ç ã o . Por f i m , 
analiso algumas i n t e r v e n ç õ e s e c o n c e i t u a l i z a ç õ e s que p o d e m auxiliar o 
terapeuta e o paciente na c o m p a r t i m e n t a l i z a ç ã o do papel de v í t i m a e 
levar este e m d i r e ç ã o ao compor t amen to mais proativo. 
A Lógica de Desculpas 
A maior ia das pessoas t e n t a r á construir eventos de forma que m i n i m i -
zem seu fracassoo u culpa. Se a pessoa pode m i n i m i z a r a culpa i n d i v i -
dual, e n t ã o , salva as apa rênc i a s . A o avaliar nossa p r ó p r i a "culpa" , pode-
mos tentar mi t igar nossa responsabilidade, apontando para nossa falta 
de i n t e n ç ã o maliciosa, nossa falta de visão, a pressão que nos afeta, a falta 
de alternativas d i spon íve i s e a normal idade de nossa ação . A l é m disso, 
podemos mi t igar a culpa, suavizando as c o n s e q u ê n c i a s — po r exemplo, 
indicando que as c o n s e q u ê n c i a s foram m í n i m a s e t rans i tó r ias . N ó s ape-
lamos para estas desculpas, justificativas e exp l i cações , mi t igando para 
salvar as apa rênc ias e para manter o u reparar relacionamentos. 
A d e p e n d ê n c i a de desculpas pode ser p r o b l e m á t i c a e m terapia, por 
uma sér ie de razões . Desculpas p o d e m se tornar "uma forma de v ida" , 
de maneira que a pessoa está mais investida e m just if icar sua s i t uação do 
(|iie em m u d á - l a . Q u a n t o mais usamos uma e x p l i c a ç ã o para nosso 
i ompor tamento , mais acreditamos nela. A l é m disso, tentativas do tera-
peuta para desafiar desculpas são quase sempre interpretadas pelo pa-
IzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA H I i i e c o m o maneiras para c u l p á - l o . C o m o as pessoas que d ã o a zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
desculpa v ê e m seu compor t amen to pr inc ipa lmente at ravés do me io 
moral , isto é , " a l g u é m t e m de ser culpado"— tentativas para modif icar 
i i i i.ição de desculpas p o d e m levar ao agravamento de g e r a ç ã o de des-
> ulpa e demandas po r va l idação . 
lai vez o mais claro exemplo dessa d e p e n d ê n c i a de desculpas ocor -
1,1 c m terapia de casal. C o m f requênc ia , cada parceiro depende de des-
i ulp.is para seu compor tamento . O(a) esposo(a) explica e just i f ica seu 
p< irtamento fazendo referências a vários fatores. Estes inc luem o c o m -
I amento m e d í o c r e do ou t ro c ô n j u g e , pressões no trabalho, af i rma-
i " i |tie o seu p r ó p r i o compor tamento é normal,justificativas c o m base 
II senso ob t ido dos outros (amigos, outros terapeutas) que concor -
196 ' Superando a Resistência em Terapia Cognitiva 
dam c o m ele dando a desculpa e a re fe rênc ia para a ausênc ia de r e c o m -
pensa sustentada pelo ou t ro c ô n j u g e . A meta interpessoal latente é 
just if icar o compor t amen to em vez de m u d á - l o . zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Julgar responsabilidade e gerar desculpas 
E m geral, ao ju lga r uma a ç ã o ind iv idua l , consideramos uma sér ie de 
fatores. Pr imei ro , consideramos ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA desfecho, ou seja, se é posit ivo o u 
negativo, e a sua magni tude. C o m u m e n t e , n ã o nos preocupamos e m 
" ju lgar" u m resultado que n ã o produz m u d a n ç a . Q u a n t o ma io r for a 
negatividade do resultado, maior a probabil idade de a pessoa a t r ibu i r 
ser merecedora de desprezo (Weiner, 1995). Segundo, consideramos se 
a causa é pessoal ou impessoal. Por exemplo, nossos ju lgamentos de des-
fechos extremos são mais extremos se c o n c l u í m o s que este fo i causado 
po r uma pessoa e m vez de u m "fator impessoal" (como, por exemplo, 
u m furacão) . U m terceiro fator que consideramos é se a pessoa teve 
controle pessoal, especificamente, se ela teve intenção, o que significa que 
provocou o resultado. Baseado nesta c o n s i d e r a ç ã o , infer imos o grau 
para o qual a pessoa "pretendia" que o resultado ocorresse. Nossa in fe -
r ênc i a de " i n t e n ç ã o culposa" t e m c o m o base se a pessoa fo i "obr igada" 
po r outros fatores, o u se ela teve sua capacidade de agir de m o d o d i fe -
rente d i m i n u í d a . Por exemplo, c o n s i d e r a r í a m o s a pessoa ser menos m e -
recedora de receber a culpa se s o u b é s s e m o s que ela fo i provocada o u 
estava sofrendo de uma c o n v u l s ã o epi lé t ica . Estas c o n d i ç õ e s coercitivas 
o u l imitantes i m p l i c a m que n ã o era l ivre para agir de outra maneira e, 
por tanto , suas i n t e n ç õ e s n ã o foram maldosas. 
Quar to , nossos ju lgamentos de responsabilidade po r uma a ç ã o são 
afetados pelo grau e m que o ou t ro é visto c o m o uma causa única para 
aquele resultado — em especial se h á uma grande magni tude para o 
resultado negativo.Vemos os outros c o m o menos cu lpáve is se acredita-
mos que t iveram res t r i ções e m seu compor t amen to o u capacidade re-
duzida para agir de uma fo rma diferente. Por exemplo, se a pessoa foi 
provocada para dizer alguma coisa negativa sobre n ó s , e n t ã o a j u l g a r í a -
mos a ser menos censu ráve l . A l é m disso, tentamos determinar e m que 
grau a pessoa teve i n t e n ç ã o no resultado — por exemplo, ela nos previu 
de que o que disse teria efeito negativo e m nós? (Har t , 1968) 
E m qu in to lugar, t a m b é m julgaremos a l g u é m mais severamente se 
acreditamos que ele age sistematicamente de m o d o negativo, uma vez 
que sua consistência de transgressão impl ica que pessoalmente provoca u m 
resultado negativo o u que n ã o se i m p o r t a conosco (neg l igênc ia ) (ver 
Resistem ia de Vitima 
fones e Davis, 1966; Kelley, 1971). C o m a cons i s t ênc ia no compor t a -
mento do outro, somos menos capazes de conc lu i r " f o i a s i t u a ç ã o " e, 
assim, o deixamos fora de per igo. A l g u é m que está constantemente 
atrasado, e m especial depois que lhe dissemos que isso nos incomoda , é 
frequentemente ju lgado c o m o se n ã o se importasse c o m as nossas ne-
cessidades. A reincidência é mais ofensiva. 
Podemos j u l g a r que a l g u é m é a causa pessoal e é r e s p o n s á v e l , mas 
podemos j u l g á - l o c o m o menos merecedor de receber a culpa, isto é, é 
menos p rováve l que o puniremos se conc lu i rmos que ele aceita res-
ponsabilidade pessoal e mostra remorso. Se ele oferece i n d e n i z a ç ã o , 
tanto melhor . Falar é fácil, podemos ver o pedido de desculpa c o m o 
menos convincente do que o pedido de desculpa e indenização. 
Os c o m e n t á r i o s mencionados chamam a a t e n ç ã o para o r a c i o c í -
nio mora l o u ju lgamentos de pessoas que v ê e m m u d a n ç a e m termos 
de u m m e i o mora l de pensamento. Pessoas que oferecem desculpas 
por seu c o m p o r t a m e n t o ten tam ut i l izar aspectos de a t r i b u i ç ã o causal 
e responsabilidade. Desculpas p o d e m tomar a fo rma de negar consis-
tênc ia , a f i rmando que fo i d is t in t ivo para uma pessoa, suger indo capa-
cidade l imi tada , negando i n t e n ç ã o , sugerindo que havia falta de v i são 
OU alegando que as o p ç õ e s fo ram limitadas. 
liilgar intenção e oferecer desculpas 
Pol exemplo, se a esposa, e m uma terapia de casal, acredita que seu ma-
n d o deliberadamente despreza os seus carinhos, estará mais propensa a 
ii< it revoltada e é mais p rováve l que haja re ta l iação. Seu " ju lgamento 
mora l " pode consistir no seguinte: 
• Magnitude do desfecho: " E t e r r íve l que n ã o esteja conseguindo 
car inho. E u absolutamente preciso disso!" 
• Causa pessoal versus causa impessoal: "Isto é algo que ele está fa-
zendo — pessoalmente." 
• Restrição em liberdade de ação:"Não h á razão para explicar o po r -
q u ê ele está fazendo isto. Eu faço t udo por ele." 
• Inferência de intenção maldosa: "Ele está in tencionalmente negan-
do car inho para me punir ." 
• Consistência de transgressão: "Ele está sempre me negando ca r i -
nho." 
 
 
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