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Fichamento Edward Palmer Thompson

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Fichamento Edward Palmer Thompson 
As hipóteses do materialismo histórico e da anti-economia politica de O Capital, embora estreitamente ligadas, eram distintas. Friedrich Engels desempenhou papel importante no desenvolvimento dessas hipóteses. Engels era muito modesto quanto ao seu papel nessa produção conjunta, essas hipóteses continuaram em grande parte sem desenvolvimento nos 40 anos seguintes, foram mais elaboradas por Engels que por Marx. Enquanto isso, durante 20 anos Marx esteve preso a sua luta com seu antagonismo, a economia politica.
O problema é passar dos circuitos do capital para o capitalismo, de um modo de produção conceptualizado e abstrato, dentro do qual o determinismo surge como absoluto, para as determinações históricas como exercício de pressões, como uma logica do processo dentro de um processo maior. Mas as referências continuam hipóteses, são supostas e não provadas, e muito mais ainda as suposições são apoiadas pelas hipóteses anteriores do materialismo histórico, que precedem muito a O Capital, mas que ficaram sem desenvolvimento e sem exame. Verificamos que a analogia de Engels entre Darwin e Marx, de um aspecto ainda mais próximo do que ele pretendia. Darwin demonstrou um processo evolucionário que se desenvolveu por meio de uma transmutação hipotética das espécies, e ainda assim continuou no escuro quanto aos meios genéticos reais dessa transmissão e transmutação. Desta forma, de maneira análoga o materialismo histórico como uma hipótese ficou sem sua “genética” própria. O que descobrimos está num termo que falta: “experiência humana”. O que Althusser e seus seguidores desejam expulsar sob injurias do clube do pensamento, com o nome de “empirismo”.
Introduzimos um termo, “cultura” que em sua origem “antropológica” seria deplorado por Althusser, e que em sua definição e desenvolvimento subsequente dentro do conhecimento histórico não estava à disposição de Marx. Não é verdade que Marx inocentemente tivesse negligenciado a necessidade de proporcionar certa “genética” a sua teoria. Voltamos ao termo que falta “experiência”, e enfrentamos imediatamente os verdadeiros silêncios de Marx. Não se trata apenas de um ponto de junção entre “estrutura” e “processo”, mas um ponto de disjunção entre tradições alternativas e incompatíveis. Esses silêncios, partindo do dogma idealista são ausência de “rigor” em Marx (incapacidade de teorizar plenamente seus próprios conceitos), e devem ser costurados aproximando os conceitos, gerados conceitualmente pela mesma matriz conceptual. Ate mesmo excelentes historiadores, que deveriam ter mais conhecimento (e talvez tenham), ponderam a falta de um "mecanismo estrutural preciso" para "ligar" a base e a superestrutura, e meditam sobre as maneiras pelas quais essa omissão pode ser conceptualmente reparada. Mas o que esta errado, e sempre esteve errado, e a analogia com que começamos (corpo/alma e a noção de que a articulação pode ser reparada com um "mecanismo". As feministas socialistas, que tem um ressentimento sincero contra os "silêncios" do marxismo, procuram, através de árduos exercícios de teoria, inserir uma nova engrenagem (reprodução da força de trabalho no planetário, um volante, esperando que sua inercia movimente, de alguma forma miraculosa, todas as variadas "formas desenvolvidas" da repressão e expressão sexual, modos de famílias e papeis de gênero. Mas o que esta errado não é o fato de terem proposto o problema, mas de o terem reduzido a um pseudoproblema, procurando inseri-lo numa maquina planejada para a sua exclusão. E, ao mesmo tempo, foram induzidas a desmantelar todo o caráter de desafio e a identidade de seu problema, sujeitando-o a mesma praga geral. 
A pratica teórica anuncia sua "descoberta": o modo de produção. Não só o conhecimento substantivo, mas também os próprios vocabulários do projeto humano compaixão, ambição, amor, orgulho, auto sacrifício, lealdade, traição, calúnia foram devorados ate os circuitos de capital. Esses Gafanhotos são platônistas muito eruditos: se houvessem pousado sobre A Republica, a teriam desnudado de tudo, exceto da ideia de uma contradição entre um filósofo e um escravo. Por mais elaborados que sejam os mecanismos internos, as torções e autonomias, a pratica teórica constitui o ponto extremo do reducionismo: uma redução, não da "religião" ou da "'politica" “economia", mas das disciplinas do conhecimento a apenas um tipo "básico" de teoria. A teoria esta sempre recaindo numa teoria ulterior. Ao recusar a investigação empírica, a mente esta para sempre confinada aos limites da mente. Não pode caminhar do lado de fora. É imobilizada pela caibra teórica e a dor só é suportável se não movimentar seus membros. É esse, portanto, o sistema de fechamento. É o lugar em que todos os marxismos, concebidos como sistemas teóricos autossuficientes, autojustificativos, auto-extrapolantes, devem terminar. No pior dos casos a prática teórica é esse fim, e podemos agradecer a Althusser por demonstrar isso com tal "rigor". Mas se voltarmos a "experiência" podemos passar, desse ponto, novamente para uma exploração aberta do mundo e de nós mesmos. Essa exploração faz exigências de igual rigor teórico, mas dentro do dialogo entre a conceptualização e a confrontação empírica que já examinamos. Essa exploração ainda pode situar-se na tradição marxista, no sentido de que estamos tomando as hipóteses de Marx e alguns de seus conceitos centrais, e colocando-os em operação. Mas o fim dessa exploração não é descobrir um sistema conceptual finito (reformado), o marxismo. Não ha, nem pode haver nunca, esse sistema finito. Podemos apenas retornar, ao fim dessas explorações, com melhores métodos e um melhor mapa; com uma certa apreensão de todo o processo social; com expectativas quanto ao processo e quanto as relações estruturadas; com uma certa maneira de nos situar frente ao material; com certos conceitos de materialismo histórico: classe, ideologia, modo de produção. Nas margens do mapa, encontraremos sempre as fronteiras do desconhecido. O que resta fazer e interrogar os silêncios reais, através do dialogo do conhecimento. E, a medida que esses silêncios são penetrados, não cosemos apenas um conceito novo ao pano velho, mas vemos ser necessário reordenar todo 0 conjunto de conceitos. 
É nisto que esta a diferença entre marxismo e tradição marxista. É possível ter uma pratica marxista, mas considerar os marxismos como obscurantismos o que manifestamente eles se tornaram, numa dezena de formas. Isso nada tem a ver' com a admiração que se possa ter por Marx e sua obra. Empregar seus termos, aprender a trabalhar num dialogo do mesmo tipo. Mas a emulação não se deve basear numa reverencia servil e nem mesmo numa pretensa reverencia pelo que Marx pretendia dizer, mas, inexplicavelmente, esqueceu-se de dizer. A questão e agora mais grave do que isso. O marxismo vem sofrendo ha décadas de uma devastadora doença do economismo vulgar. Seus movimentos foram enfraquecidos, sua mem6ria falha, sua visão esta obscurecida. Entrou, agora, rapidamente no delírio final do idealismo, e a enfermidade pode ser fatal. A prática teórica já é o rigor mortis do marxismo que se inicia. O marxismo já nada tem a nos dizer sobre o mundo, nem qualquer maneira de fazer descobertas sobre ele. Marx errou varias vezes, e em algumas delas de maneiras danosas. Nem todas as autorizações que Althusser exibe são tão espúrias quanto a sua frase de Miséria da filosofia. Uma parte de Marx sugere o sistema e a "ciência" de uma maneira que propicia uma incomoda continuidade aos "ismos" e as ideologias estatais de nossa época. O "fado Grundrisse" de Marx a noção da "imanência" do capital, pressagia Althusser, embora esse presságio seja claramente contraditado em cem outros lugares. Marx partilha com outros grandes e fecundos pensadores (Hobbes, Maquiavel, Milton, Pascal, Vico, Rousseau) uma ambiguidade inerente ao rigor mesmo e á abertura de seu pensamento. O marxismo foi apenas uma evolução possível, embora tendo apenas uma débil relação com Marx. Masa tradição marxista aberta, exploratória, autocrítica foi também outro desenvolvimento. Sua presença pode ser encontrada em todas as disciplinas, em muitas praticas políticas, e em todas as partes do mundo. Quando digo que "nós" exploramos o exterior dessa maneira, não estou dizendo que fomos os pioneiros, ou que não fomos ajudados por historiadores, antropólogos e outros de diferentes tradições. Nossas dívidas são múltiplas. Não descobrimos outros sistemas, coexistentes, de status e coerência iguais ao sistema da (anti) Economia Política, exercendo pressões que fossem todas igualmente determinantes: um Modo de Parentesco, um Modo Simbó1ico, um Modo Ideológico etc. A "experiência" foi, em ultima instância, gerada na "vida material", foi estruturada em termos de classe, e, consequentemente o "ser social" determinou a "consciência social". La Structure ainda domina a experiência, mas dessa perspectiva sua influencia determinada é pequena. As maneiras pelas quais qualquer geração viva, em qualquer "agora" 	 “manipula", a experiência desafiam a previsão e fogem a qualquer definição estreita da determinação.
 Creio que descobrimos outra coisa, de significação ainda maior para todo o projeto do socialismo. É aqui que o silencio de Marx, e da maioria dos marxismos é tão gritante que chega a ensurdecer. É um silêncio estranho, sem duvida, pois como já notamos Marx, em sua ira e compaixão, era um moralista em cada palavra que escrevia.
 Assediado pelo moralismo triunfante do capitalismo vitoriano, cuja retórica disfarçava as realidades da exploração e do imperialismo, sua técnica polêmica foi denunciar todo moralismo como um engodo malsão: "A Igreja Anglicana Oficial perdoara com mais facilidade um ataque a 38 de seus 39 artigos do que a 1/39 de sua renda." Sua posição tornou-se a de um antimoralista. Ate o final de sua vida, quando encontrou, em suas pesquisas antropológicas, problemas que evidentemente exigiam analise em termos não oriundos da Economia Política, Marx, embora reconhecendo esses problemas estava sempre tentando remetê-los de volta a um quadro de referência econômico. Esse silêncio foi transmitido à tradição marxista subsequente, na forma de uma repressão.
Esta e uma exposição grosseiramente simplificada de um desenvolvimento mais complexo, e mais contestada. Mas já localizamos o ultimo dos ogros de Althusser, o "moralismo". Descobrimos que sua cova se encontra menos na floresta da ideologia burguesa do que no fundo do coração do próprio movimento operário internacional. 
Nesse caso, e apenas nesse caso, a autorização exibida por Althusser e autentica. Esta, realmente, assinada por Marx e contra assinada (com uma ressalva quanto a "moral verdadeiramente humana") por Engels. Talvez seja par isso que Althusser nunca se da ao trabalho de discutir a questão, podendo simplesmente supor que todos os marxistas devem concordar que o "moralismo" e uma medonha monstruosidade. 
Por outro lado, a "moral" e simplesmente equacionada a "moral burguesa", isto e, a ideologia. Este e um "mundo de álibis, das sublimes e das mentiras" ou a “politica e religião", urn mundo dos "mitos e drogas" e os marxistas não podem ter interesse senão em desmistifica-lo. 
o que e óbvio nessas construções atormentadas e que constituem recursos desesperados, empregados por um racional ismo ingênuo, numa tentativa de fabricar uma nova explicação racionalista para um comportamento não racional: isto e, a consciência afetiva e moral deve ser construída, de algum modo uma racionalidade deslocada (“ideologia”) e não como uma experiência vivida, "rnanejada" de maneiras características. 
Não estamos dizendo que os valores são independentes da coloração da ideologia. Mas supor a partir disto que sejam “impostos” (por urn Estado) como "ideologia", é equivocar-se em relação a todo o processo social e cultural. Essa imposição será sempre tentada, com maior ou menor êxito, mas não pode alcançar nenhum êxito, a menos que exista certa congruência entre as regras e visão-de-vida impostas e a questão necessária de viver urn determinado modo de produção. Além disso, os valores, tanto quanto as necessidades materiais, serão sempre um terreno de contradição, de luta entre valores e visões-de·vida alternativos. 
O materialismo histórico e cultural não pode explicar a "moral" e coloca-la de lado como interesses de classe disfarçados, já que a noção de que todos os "interesses" podem ser classificados em objetivos materiais cientificamente determináveis não passa do mau hálito do utilitarismo. Interesse e aquilo que interessa as pessoas, inclusive o que lhes é mais caro. Um exame materialista dos valores deve situar-se não segundo proposições idealistas, mas em face de permanência material da cultura: o modo de vida, e acima de tudo, as relações produtivas e familiares das pessoas. E isto e o que "nós" estamos fazendo, e ha varias décadas. 
Dessa forma, a crítica moral do stalinismo nunca foi um grunhido de autonomia moral. Foi uma critica politica muito especifica e pratica. Referiu-se a determinadas formas e praticas do movimento comunista internacional; a subordinação da imaginação (e do artista) a sabedoria do Partido; a imposição de uma noção de "realismo politico" que rejeita qualquer debate sobre valores, em qualquer nível da organização do Partido; as estratégias econômicas e a estreita propaganda da necessidade material, que e cega a áreas inteiras de necessidades (sexuais, culturais), que despreza os próprios recursos culturais do povo, e que decide, sem permiti r que as pessoas escolham o que elas realmente "querem". 
O mais velho erro do racionalismo foi supor que definindo o não racional como não fazendo parte do seu vocabulário havia de alguma forma, conseguido elimina-lo da vida. Em contraposição a “ideologia moral" (que a c1asse' dominante inculca por conveniência própria devemos supor que "e possível uma forma de razão pratica que não seja, em nenhum sentido, moral Ou socialmente repressiva" ideologia moral "deve ser antagônica aos valores naturais (felicidade, satisfação das necessidades)", Assim, existe imperativos "naturais" (simples, como "felicidade") e estes, podem ser imediatamente deduzidos pela "razão". "A eliminação dos motivos morais permitiria ao homem buscar racionalmente seus fins naturais". Não importa. As discussões (poderíamos arriscar) giraram sobre esses "fins naturais" como sexo, dinheiro e bebida. E isso nos lembra de que o repudio a todo "moralismo" esteve muito em moda por algum tempo. A jovem burguesia revoltada ha muito está “na sua”, e se de algum modo são moralistas, isso se revela em sua desaprovação aos "pesados" discursos dos mais velhos sobre "deveres". Os mais sensíveis entre eles não só estiveram "na sua", como já estão saindo dela, purificados, para "outra", do outro lado. Não há e nem pode haver nunca, uma moral "natural", nem "fins naturais". Certamente o materialismo histórico e cultural jamais as encontrou. Os fins são escolhidos pela nossa cultura, que nos proporciona, ao mesmo tempo, nosso próprio meio de escolher de influir nessa escolha. Pensar de outra maneira seria supor que nossas "necessidades" estão ali, nalgum ponto fora de nos mesmos e de nossa cultura, e que se a ideologia fosse ernbora, a razão as identificaria imediatamente. O próprio godwinismo, que impregnou metade da jovem intelectualidade da Inglaterra entre 1794 e 1798, foi exatamente esse momento de extremismo intelectual, divorciado da ação correlativa ou da atuação social real, como vimos na ultima década.
Assim, se mudarmos um numero de lugar (1798/1978). Estaremos no mesmo momento sincrônico de tempo estruturado. Mas, da segunda vez, como farsa. Pois aqueles godwinianos, no único momenta em que a intelligentsia inglesa adotou, em sua teoria, uma postura ultra jacobina, tinham certo espírito.

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