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filosofia juridica aula 1 a 6

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Aula 1
O que é Filosofia?
O que é Filosofia:
Filosofia é o estudo de problemas fundamentais relacionados a existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem, filosofia é uma palavra grega, que significa "amor à sabedoria". Filósofo é um indivíduo que busca o conhecimento de si mesmo, sem uma visão pragmática, é movido pela curiosidade e sobre os fundamentos da realidade. Além do desenvolvimento da filosofia como uma disciplina, a filosofia é intrínseca à condição humana, não é um conhecimento, mas uma atitude natural do homem em relação ao universo e seu próprio ser.
A filosofia foca questões da existência humana, mas diferentemente da religião, não é baseada na revelação divina ou na fé e sim na razão. Desta forma, a filosofia pode ser definida como a análise racional do significado da existência humana, individual e coletivamente, com base na compreensão do ser. Apesar de algumas semelhanças com a ciência, muitas das perguntas da filosofia não podem ser respondidas pelo empirismo experimental.
A filosofia pode ser dividido em vários ramos. A filosofia do ser, por exemplo, inclui a metafísica, ontologia e cosmologia, entre outras disciplinas. A filosofia do conhecimento inclui a lógica e a epistemologia, enquanto filosofia de trabalho está relacionado a questões como a ética.
Diversos filósofos deixaram seu nome gravado na história mundial, com suas teorias que são debatidas, aceitas e condenadas até os dias de hoje. Alguns desses filósofos são Aristóteles, Pitágoras, Platão, Sócrates, Descartes, Locke, Kant, Freud, Habermas e muitos outros. Cada um desses filósofos fez suas teorias baseadas nas diversas disciplinas da filosofia, lógica, metafísica, ética, filosofia política, estética e outras.
Nos dias de hoje a palavra "filosofia" é muitas vezes usada para descrever um conjunto de ideias, atitudes e ideais, como por exemplo: "filosofia de vida", "filosofia política", "filosofia da educação", "filosofia reggae", etc.
Resumo: A Filosofia do Direito é obrigatória na formação do estudante de Direito, mas não é raro ver acadêmicos e juristas questionando sobre a razão de ser dessa disciplina, assim como não é raro constatar uma grande resistência ao estudo e ao aprofundamento nessa área. A Filosofia visa contribuir com a formação holística do jurista; busca oferecer um instrumental capaz de viabilizar uma melhor compreensão do universo jurídico e objetiva, enfim, instigar o jurista a pensar o Direito para além dos limites da ciência jurídica e do Direito Positivo. Esse artigo apresenta um sucinto resumo da História da Filosofia e apresenta alguns conceitos possíveis para a Filosofia do Direito.
Palavras-chave: Filosofia. História da Filosofia. Filosofia do Direito. Conceitos de Filosofia do Direito.
Abstract: The philosophy of law is mandatory in the formation of a law student, but it is not uncommon to see lawyers and academics questioning the reason for this discipline, as it is not unusual to find a great resistance to the study and deepening in this area. Philosophy aims to contribute to the holistic formation of a lawyer, intends to offer an instrument capable of achieving a better understanding of the legal universe and objective, finally instigating the lawyer to think the law beyond the limits of legal science. This article presents a brief summary of the history of philosophy and attempts to present some possible concepts for the Philosophy of Law.
Keywords: Philosophy. History of Philosophy. Philosophy of Law. Concepts of Philosophy of Law.
Sumário: Introdução. 1 Filosofia do direito: história e conceitos. 1.1 Breve resgate histórico da filosofia ocidental. 1.2 Filosofia do direito: conceitos.
Introdução
A Filosofia do Direito figura como disciplina do eixo fundamental na formação do profissional do Direito, ou seja, está inserida entre os conhecimentos que constituem a base sobre a qual o jurista irá construir seu edifício jurídico.
De uma forma geral os profissionais das várias carreiras jurídicas, bem como os acadêmicos de Direito, pouco se interessam pelas lições da Filosofia do Direito e a tratam como um peso ou obstáculo que precisa ser superado, já que é conteúdo obrigatório no currículo do curso.
Contudo, por detrás dessa visão predominante, há realidades que podem ser exploradas a fim de trazerem ao acadêmico ou ao profissional do Direito, grandes contribuições para uma leitura mais completa do universo jurídico. Aqueles que conseguem ultrapassar as primeiras barreiras da racionalidade imediatista, experimentam grandes ganhos ao filosofarem sobre o Direito e percebem a importância que essa atitude tem.
Tanto autores, ao escreverem suas obras, como docentes, ao elaborarem seus planos de ensino de Filosofia do Direito, utilizam estratégias variadas e almejam objetivos diferenciados. No entanto, independente dessa diversidade, algumas semelhanças podem ser detectadas quando se pretende diagnosticar a importância da Filosofia no conjunto da formação do profissional do Direito. Essas semelhanças aparecem nas apresentações ou introduções das obras dedicadas a esse conteúdo.
Em 2008 foi sancionada a lei 11.684/08 que determina a presença da Filosofia em todas as séries do Ensino Médio de Escolas Públicas e Particulares de todo o país; há Universidades Públicas e Particulares cobrando explicita ou implicitamente conteúdos de Filosofia em seus vestibulares; o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), na área de “humanidades e suas tecnologias” espera que o candidato saiba vários conteúdos que são específicos de Filosofia ou que estão a ela vinculados de forma interdisciplinar ou transdisciplinar; há uma tendência, especialmente nos exames oficiais de avaliação de cursos ou de etapas da educação formal, em fazer com que as provas sejam mais reflexivas e menos técnicas – o que impõe a necessidade de se ter uma compreensão que integre conhecimentos de várias áreas – e há consenso em dizer que a filosofia tem uma missão especial nesse quesito.
O Direito não fica de fora dessas tendências. Ele, por sua própria natureza, é amplo e interdisciplinar. O jurista não pode prescindir de absorver uma formação que congregue conhecimentos vindos de várias áreas, afinal, o Direito é universal e interfere, direta ou indiretamente, em todas as situações.
Segundo a Resolução 09 de 29 de setembro de 2004 que institui as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Direito, a Filosofia do Direito figura como uma das disciplinas do eixo de formação fundamental. Trata de uma obrigatoriedade já que a Resolução afirma que as disciplinas ali elencadas devem compor o projeto pedagógico e a organização curricular.
Esse artigo tem o objetivo de demonstrar que há proximidade entre a Filosofia Geral e a Filosofia do Direito, bem como apresentar alguns conceitos possíveis para a Filosofia do Direito.
Do ponto de vista metodológico esse artigo resulta de uma revisão bibliográfica em literaturas de História da Filosofia Geral e manuais de Filosofia do Direito.
O presente artigo faz, portanto, um resgate histórico da filosofia ocidental e apresenta alguns conceitos da Filosofia do Direito, bem como aponta a relação entre Filosofia Geral e Filosofia do Direito. A apresentação resumida de pontos da filosofia geral pretende indicar que durante toda a história do pensamento ocidental, os filósofos se preocuparam com o Direito, mesmo que indiretamente.
1 Filosofia do direito: história e conceitos
1.1 Breve resgate histórico da filosofia ocidental
Ao se colocar em foco a Filosofia do Direito, surge a necessidade de contextualizá-la no cenário da construção histórica do pensamento ocidental; antes de investigar qualquer temática ligada à Filosofia do Direito, é mister trazer à tona, mesmo que de forma sucinta, algo sobre a Filosofia em sentido amplo ou Filosofia Geral.
A Filosofia nasce com o desejo de encontrar respostas capazes de satisfazer uma curiosidade humana alimentada por uma Razão inquieta. As respostas até então existentes estavam fundadasnos mitos e, portanto revestidas de mistérios, forças sobrenaturais e fé; não suportavam questionamentos e usavam o aparato cultural para terem sentido. Ao buscar superar essa metodologia, a Filosofia enfrenta os desafios de desbravar novos caminhos; de enfrentar as tradições e chocar com as verdades já prontas e acabadas.
Essas verdades eram apregoadas prioritariamente através dos mitos que eram transmitidos oralmente de geração para geração. Segundo Japiassú e Marcondes (1989, p. 183), Mito é “narrativa lendária, pertencente à tradição cultural de um povo, que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e a origem e os valores básicos do próprio povo”.
Em outras palavras, Mito é uma história que surge no seio da cultura de um povo e que tem a finalidade de explicar as diversas dúvidas existentes, bem como organizar a vida social e possibilitar a perpetuação desse povo.
Os Mitos não se preocupavam com uma explicação que pudesse ser debatida ou reelaborada à luz de novidades. Ao contrário, os Mitos se constituíam como verdades que eram transmitidas de geração para geração, oralmente.
Com o aparecimento da escrita, o uso cada vez mais intenso da moeda, o aumento das relações comerciais nas cidades-estados portuárias gregas, o germe da democracia vivenciado através dos debates nas praças públicas, entre outros fatores, os Mitos começam a se enfraquecer e, aos poucos, surge a possibilidade e a necessidade da Filosofia.
A Filosofia nasce na Grécia antiga, aproximadamente no século VI a. C. e o primeiro filósofo de que se tem notícia é Tales de Mileto. “Todas as coisas são feitas de água, teria dito Tales de Mileto. E assim começam a Filosofia e a Ciência” (RUSSELL, 2001. p. 21). Tales e alguns de seus contemporâneos praticaram uma Filosofia voltada para a compreensão dos fenômenos naturais. Buscaram explicar os fenômenos naturais, que até então eram explicados através dos mitos, usando uma metodologia de cunho predominantemente racional.
Essa busca pela compreensão do que acontece no mundo natural sem se valer de explicações, que extrapolem este mesmo mundo, é a mais importante marca dos primeiros filósofos. Esse desejo de compreender o mundo natural levou os primeiros filósofos a investigarem acerca de algum elemento que desse sustentabilidade à ordem presente no mundo. Assim nasceu a busca pelo arché, um elemento primordial que seria a causa de toda realidade. Um elemento que tivesse presente em tudo, que tivesse gerado tudo e que não tivesse sido gerado por nada. Esse princípio de tudo é insistentemente procurado pelos primeiros filósofos. Segundo Reale e Antiseri (1990a, p. 30), arché pode ser entendido como “a) a fonte e origem de todas as coisas; b) a foz ou termo último de todas as coisas; c) o sustentáculo permanente que mantém todas as coisas (a ‘substância’, poderíamos dizer, usando um termo posterior). Em suma, o “princípio” pode ser definido como aquilo do qual provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas”.
Evidentemente a busca por um elemento primordial se faz dentro de um contexto que leva em conta outros pressupostos, tais como a existência de uma lógica de causalidade inerente à ordem natural; o compromisso com o logos (razão informadora do discurso racional); a convicção de que a ordem presente no cosmos era acessível à racionalidade humana. Levando-se em conta esses e outros fatores, a humanidade, representada pelos gregos, abre uma nova forma de compreender e interpretar a vida, a sociedade e o mundo. Surge, assim, o que posteriormente será chamado de Filosofia.
Depois dessa fase introdutória da Filosofia, surge no cenário grego a emblemática figura de Sócrates que inaugura um período novo chamado de Período Clássico. Nesse período aparecem as figuras de Sócrates em permanente oposição aos Sofistas; Platão, idealista, fundador de uma visão metafísica de realidade; e Aristóteles, valorizador do materialismo e da experiência. Para Russell (2001, p. 66), Sócrates, Platão e Aristóteles são as “três maiores figuras da Filosofia Grega”.
A Filosofia Clássica debate amplamente sobre a questão ontológica, metafísica e gnosiológica; discute também sobre os valores que devem ser considerados para a construção de uma sociedade justa e solidária. Nesse ponto, os filósofos se posicionam claramente sobre o conceito de justiça, o papel dos agentes detentores do poder político e até dão orientações sobre os princípios fundantes da vida social.
Para Mondim (1982a, p. 46), dos seguidores do pensamento socrático, podemos extrair três tendências oriundas do próprio Sócrates: a moral (Xenofonte); a metafísica e as difíceis preocupações com o ser (Platão) e a postura de um filósofo que ensina doutrinas (Aristóteles).
Platão se destaca como filósofo de perspectiva idealista. Para ele, a compreensão Racional da Ideia é o caminho que leva ao conhecimento da realidade, da verdade; Aristóteles, por sua vez, valoriza o conhecimento de natureza sensível, material. Pode-se dizer que esses dois filósofos estabeleceram as bases sobres as quais a Filosofia Ocidental construiu todo seu edifício teórico.
Encerrado o período áureo da Filosofia Grega, o grande movimento filosófico que o sucede é a chamada Filosofia Medieval de caráter cristão. Os medievais, imersos na atmosfera cristã e envolvidos nos novos cenários de organização sócio-política-econômica vigentes, se ocuparam predominantemente dos temas cristãos. Não há dúvida das riquezas dessa época, mas a diversidade temática não foi marcante. Russell (2001, p. 170) não faz rodeios para dizer que “a filosofia se converteu num ramo do saber destinado a justificar o domínio do cristianismo [...]”.
A característica mais marcante da Filosofia Medieval foi, em função da força da instituição religiosa cristã, o teocentrismo. Pode-se dizer que o filósofo medieval pratica uma reflexão filosófica que parte de Deus, passa por Deus e de algum modo chega a Deus.
“A filosofia que se produziu durante toda a Idade Média está intimamente ligada, em suas origens à expansão do cristianismo. Os maiores representantes do pensamento medieval foram cristãos fervorosos [...] que procuraram conciliar os métodos filosóficos dos gregos aos ensinamentos da fé cristã, para refletir sobre o mundo e o ser humano dentro de uma perspectiva teocêntrica (CHALITA, 2005, p. 99)”.
Dois grandes movimentos marcaram a Filosofia Medieval: a Patrística e a Escolástica. A Patrística pode ser ilustrada pela figura de Santo Agostinho “que sistematizou todo o pensamento católico que vinha sendo construído” (INCONTRI e BIGHETO, 2008, p. 375). Na Filosofia Patrística se destaca a defesa da doutrina cristã, nas palavras de Japiassú e Marcondes (1996, p. 208) pode-se ler: “A Patrística surge quando o cristianismo se difunde e se consolida como religião de importância social e política, e a Igreja se firma como instituição, formando-se então a base filosófica da doutrina cristã, especialmente na medida em que esta se opõe ao paganismo e às heresias que ameaçam sua própria unidade interna. Predominam assim os textos apologéticos em defesa do cristianismo”.
A Escolástica “caracteriza-se principalmente pela tentativa de conciliar os dogmas da fé cristã e as verdades reveladas nas Sagradas Escrituras com as doutrinas filosóficas clássicas” (JAPIASSÚ e MARCONDES, 1996, p. 87).  O principal representante da Escolástica é Santo Tomás de Aquino.
É comum se dizer que Santo Agostinho cristianizou o pensamento de Platão, enquanto Santo Tomás de Aquino cuidou de fazer o mesmo com Aristóteles. Vale registrar os dizeres de Rezende (2002, p. 96) quando aborda essa relação dos pensadores medievais com os gregos clássicos: “Enquanto Platão foi o filósofo que mais diretamente influiu no pensamento de Santo Agostinho, a presença marcante da filosofia de Aristóteles é o que caracteriza o pensamento de Santo Tomás. O mesmo trabalho realizado por Santo Agostinho ao cristianizar a filosofia platônicafoi feito por Santo Tomás em relação à filosofia aristotélica”.
Do ponto de vista histórico, a Idade Média durou em torno de um milênio, mas um conjunto de fatores levou ao enfraquecimento das estruturas constituídas e construídas ao longo de todo esse tempo e, a partir do século XIV, várias transformações levaram ao fim do império medieval e possibilitaram o surgimento de novas concepções de mundo e de homem.
No lugar do teocentrismo, característica marcante do pensamento medieval, surge uma forte supervalorização do homem, que passa a ocupar o centro das atenções. E esse homem é portador de uma Razão confiável o bastante para poder descartar toda e qualquer realidade que não se harmonizava com as ideias e com os  valores encampados por essa Razão.
Para Lamanna, [s. d.]  citado por Mondim (1982b, p. 8) pode-se dizer o seguinte da Modernidade que nascia com o final do pensamento medieval: “O mundo moderno caracteriza-se justamente pelo oposto: não mais teocentrismo, nem autoritarismo eclesiástico, mas autonomia do mundo da cultura em relação a todo fim transcendente;livre explicação da atividade que o constitui ; supremacia da evidência racional na procura da verdade; consciência do valor absoluto da pessoa humana e afirmação do seu poder soberano sobre o mundo”.
Entre outras, podem ser citadas duas temáticas marcantes da Filosofia Moderna: a busca de compreensão da origem social do homem e a consequente lógica que poderia legitimar o exercício do poder político – tema trabalhado pelos contratualistas; e o problema do conhecimento. De que forma pode o homem chegar ao conhecimento da verdade: através da Razão ou da Experiência? Esse tema é trabalhado por racionalistas e empiristas, conforme se lê no texto abaixo: “Há, inicialmente na Filosofia, duas vertentes sobre a questão do conhecimento: o racionalismo e o empirismo. O Racionalismo e o Empirismo expressam em comum a preocupação fundamental face aos problemas do conhecimento, ponto de referência básico da Filosofia Moderna (MEIRO, 2011, p. 01)”.
Todos os esforços Modernos encontram seu ápice no Iluminismo que inspirou os ideais da Revolução Francesa. Essa Revolução icnográfica serve como referência para a compreensão de vários dos elementos presentes nas organizações sociopolíticas atuais e marca, segundo critérios historiográficos clássicos, o fim da modernidade e o início da Contemporaneidade.
Na Filosofia Contemporânea, diferente do que se verifica nos momentos anteriores, não se pode estabelecer uma linha temática que a perpassa, aliás, filosoficamente falando, o Período Contemporâneo se caracteriza por uma pluralidade de interesses e indagações que fazem com que Filosofia só possa ser compreendida à luz das correntes ou escolas dentro das quais se manifestam os pensamentos e os pensadores. Cada Escola ou Corrente filosófica tem seu objeto, suas metodologias, suas convicções, seus pontos de partida, suas conclusões.
“Uma das principais características de toda a Filosofia do século XX é a desconfiança nos grandes sistemas de pensamento que pretendem dar conta de toda a realidade,como eram o idealismo alemão e o materialismo histórico de  Marx. A Filosofia se tornou mais recatada em suas intenções [...]. Por isso ela se tornou multifacetada, com tendências particulares e difíceis de serem mapeadas (INCONTRI e BIGHETO, 2008, p. 406)”.
Toda essa viagem pela História do Pensamento Ocidental revela que não é recente a preocupação do Homem com a arte de pensar seus pensamentos. A Filosofia é o compromisso de pensar o pensamento. De pensar aquilo que o pensamento produz. A história está repleta de tentativas de compreender de forma mais profunda, completa e complexa as concepções que o homem tem de si mesmo, do mundo em que vive, da sociedade a que pertence, dos valores que deseja ver perpetuar.
Na medida em que o Direito é uma realidade produzida pela razão humana, na medida em que ele é um ser cultural (GALVES, 2002, p. 21) ele também é objeto especialmente pensado pela Filosofia, o que leva à percepção de que pode e deve haver uma Filosofia do Direito.
Pode-se dizer que uma das relações da Filosofia com o Direito passará pela tentativa de avaliar, de sopesar a atuação do Direito frente à sociedade a fim de contribuir para que ele, o Direito, busque os aprimoramentos possíveis e necessários ao alcance de sua primordial meta: organizar, de forma razoável, a sociedade administrando de modo equânime as divergências de interesses dos indivíduos que compõem a sociedade.
Uma leitura atenta da História do Pensamento do Ocidente revela que mesmo que o tema Direito não estivesse sendo explicitamente abordado, desde os primórdios da reflexão filosófica, temas muito intimamente ligados a ele o foram, o que faz com que o Direito tenha sido indiretamente pensado pela história da Filosofia. Quando Platão propõe os pilares de uma república ideal; quando Aristóteles estabelece parâmetros para um comportamento ético; Hobbes indica os moldes do Pacto Social; Locke conclui que o poder emana do povo; quando Maquiavel prescreve conselhos ao Príncipe; Kant debate sobre os valores na Metafísica dos Costumes;  Hegel descortina os pilares de uma Filosofia do Direito ou quando Harent investiga sobre a origem do totalitarismo, está o Direito, de alguma forma, sendo pensado e influenciado. Está o Direito sendo, mesmo que indiretamente, objeto ou destinatário de reflexões filosóficas.
Assim sendo, na História da Filosofia podem ser encontradas diversas reflexões filosóficas que aproveitam ao Direito, mesmo porque, partindo da ideia de que o fim do Direito é a Justiça e a Justiça (independente das elucubrações filosóficas feitas a seu respeito) é uma expectativa dos homens de todas as épocas, em todos os seus períodos a Filosofia se preocupou com ela e, consequentemente, com o Direito. Ilustra bem essa afirmação as palavras de Cretella Junior (1993, p. 5): “O problema da justiça que é a força motriz que impulsiona o Direito é, no fundo, problema eminentemente e, por excelência, filosófico”.
As palavras de Del Vecchio (2006, p. 11) corroboram com esse entendimento:
“A história da Filosofia do Direito, especificamente, nos mostra, antes de tudo, que em todo tempo se meditou sobre o problema do direito e da justiça, o qual, em verdade, não foi artificiosamente inventado, mas corresponde a uma necessidade natural e constante do espírito humano. Todavia, a Filosofia do Direito, em sua origem, não se apresenta autônoma, mas mesclada à Teologia, à Moral, à Política”.
Mas em que consiste a Filosofia do Direito propriamente dita? Essa pergunta será enfrentada no próximo tópico.
1.2 Filosofia do direito: conceitos
O que é Filosofia do Direito?
Essa pergunta é inevitável, e mesmo que pareça irônico, já é uma pergunta filosófico-jurídica, ou seja, já se começa a fazer Filosofia do Direito quando se questiona a respeito do que seja  Filosofia do Direito.
Praticamente todos os autores que se debruçam sobre o objeto jurídico com a finalidade de extrair dele uma leitura filosófica acabam buscando uma resposta para essa pergunta. De alguma forma, esse caminho acaba se tornando inevitável, pois, ao se perguntar sobre o conceito de Filosofia do Direito, o pensador estabelece critérios e bases que organizam e delimitam seu trabalho filosófico.
Galves (2002, p. 1) responde a essa pergunta de forma direta, mas muito abrangente, para ele, “Filosofia do Direito é o estudo das questões fundamentais do Direito como um todo. Fundamentais, por que se trata, ao pé da letra, do alicerce, das questões básicas, sobre cujas soluções se ergue todo o edifício do Direito. Como um todo, porque se trata de questões cujas soluções empenham todo o corpo do Direito, e, por isso, interessam todos os ramos em que se divide a ciência jurídica”.
Nesse conceito, aparentemente modesto, veem-se dois critérios exigidos da atividade filosófica: a necessidade de amplitude e a necessidade de profundidade. Uma reflexão filosófica precisa ser ampla, global, ou seja, deve ser um “tipo de reflexão totalizante,de conjunto, porque examina os problemas relacionando os diversos aspectos entre si” (ARANHA e MARTINS, 2009, p. 21). Evidentemente o conceito em análise indica que essa totalidade buscada pela reflexão filosófica deve estar direcionada ao Direito, de maneira que o Filósofo do Direito esteja comprometido com a busca de uma visão unitária e ampla do universo jurídico.
O outro critério, a profundidade, pressupõe a busca das raízes mais profundas de seu objeto de estudo, pois “a filosofia é radical, não no sentido corriqueiro de ser inflexível – nesse caso seria antifilosófica! –, mas porque busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir” (ARANHA e MARTINS, 2009, p. 20).
Voltada para o Direito é certo que a Filosofia deve comprometer-se com a busca das fundamentações daqueles elementos que dão sustentabilidade ao edifício jurídico. Levando-se em conta essa metáfora da construção civil, sem boas bases, sem fundações confiantes e bem feitas, nenhuma construção estaria a salvo.
Outro conceito é apresentado por Reale (2002, p. 9), para quem a Filosofia do Direito “é a própria Filosofia enquanto voltada para uma ordem de realidade, que é a ‘Realidade Jurídica’”. Para esse autor, a Filosofia do Direito não é uma disciplina específica, mas o que se chama de Filosofia do Direito é o exercício completo da Filosofia voltado para o objeto Direito.
Decorre desse conceito que a atividade Filosófica, quando voltada para o Direito, leva consigo toda a tradição e força que vem da Filosofia Geral. Reale (2002, p. 9) conclui sobre a filosofia do Direito que “nem mesmo se pode afirmar que seja Filosofia especial, porque é a Filosofia, na sua totalidade [...]”. De alguma forma, para esse autor não há como falar de independência absoluta da Filosofia do Direito, o que se pode falar é de Filosofia voltada para o Direito, ou seja, a Filosofia do Direito, mesmo vista com certa autonomia tem vínculos com a Filosofia Geral.
Na mesma linha de raciocínio, está o pensamento de Cretella Junior (1993, p. 4) para quem a Filosofia do Direito “é parte da Filosofia”. O filósofo do direito deve tratar das questões pertinentes ao Direito, mas é indispensável que ele tenha conhecimento da Filosofia.
“Não é possível abordar o estudo filosófico do direito ou do Estado, ou seja, a filosofia jurídica, no seu mais amplo sentido, sem se ter já um certo conhecimento prévio da problemática e do próprio movimento do pensamento filosófico geral e da sua história. A filosofia do direito não é uma disciplina jurídica ao lado de outras; não é sequer, rigorosamente, uma disciplina jurídica. É uma atividade mental ou ramo da filosofia que se ocupa do direito [...] (CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 4)”.
A atividade do Filósofo do Direito é um desdobramento da atividade Filosófica propriamente dita, de maneira que se reconhece a necessidade de um conhecimento prévio da História e das temáticas da Filosofia Geral para se aprofundar na Filosofia do Direito.
Há, porém, quem, ao buscar conceituar, levante dúvidas em relação à tese de que a Filosofia do Direito seja parte da Filosofia Geral. É o caso de Bittar e Almeida (2001, p. 39). Para esses pensadores, essa afirmação é muito grave, embora não intimide a maioria dos autores que se dedica ao estudo da Filosofia do Direito.
A fundamentação da gravidade alegada vincula-se a uma divisão da Filosofia do Direito em duas modalidades: Filosofia Jurídica implícita e Filosofia Jurídica explícita. A primeira é a Filosofia do Direito que pode ser encontrada ao longo de toda a História do Pensamento Ocidental. Foi construída pelos filósofos que se aventuraram a compreender a realidade de forma ampla, dentro da qual está o Direito.
A Filosofia do Direito explícita é a que começa a ocorrer a partir do momento que se tem o desejo de filosofar o fenômeno Direito de forma autônoma e intensa. É como se a Filosofia do Direito ganhasse status de uma ciência independente e autônoma.
Reale (2002, p. 286) explicita essa situação da seguinte forma: “Parece-me, pois, que cabe distinguir entre uma Filosofia Jurídica implícita, que se prolonga, no mundo ocidental, desde os pré-socráticos até Kant, e uma Filosofia Jurídica explícita, consciente da autonomia de seus títulos, por ter intencionalmente cuidado de estabelecer fronteiras se seu objeto próprio nos domínios do discurso filosófico. O Surgimento da Filosofia do Direito como disciplina autônoma foi resultado de longa maturação histórica, tornando-se uma realidade [...] na época em que se deu a terceira fundação da Ciência Jurídica ocidental, isto é, a cavaleiro dos séculos XVIII e XIX”.
Parece que, embora Reale entenda, como visto acima, que há necessidade de conhecimento da Filosofia Geral para se penetrar no campo da Filosofa do Direito, esta se constitui como ramo autônomo. Ora, se é ramo autônomo, pode-se entender também que não é parte da Filosofia Geral.
Pode parecer que há aqui uma contradição. A Filosofia do Direito é uma disciplina autônoma ou é parte da Filosofia Geral?
Levando-se em conta o pensamento de Reale, verifica-se que a Filosofia do Direito (a partir do século XVII) possui autonomia no que concerne a seu objeto de estudo, de maneira que pode desenvolver sua história sem esperar que os filósofos especialistas se posicionem acerca de seus temas. Mas essa autonomia não é uma isenção para o Filósofo do Direito prescindir de conhecimentos filosóficos (metodologia, técnicas, lógica, história do pensamento etc.) quando se propõe à realização de seu trabalho jurídico-filosófico, ao contrário, a Filosofia do Direito precisa exalar o mesmo espírito e a mesma identidade que desde os primórdios caracteriza a Filosofia Geral como saber autônomo. Precisa estar comprometida com a busca da Verdade; o amor ao saber;  o descortinar da realidade; com a procura incessante da luz que combate as sombras da construção racional. Sendo assim, pouco importa a querela em questão.
Outro autor que indica uma independência da Filosofia do Direito da filosofia geral é Gusmão (2004, p. 7). “A Filosofia do Direito foi, até Hegel, objeto dos filósofos, depois, dos juristas”. Mas o autor também entende que essa independência não é absoluta, pois a filosofia do direito “supõe uma Filosofia, que lhe serve de ponto de partida e de base”.
Os conceitos de Filosofia do Direito surgem então, a partir dessas tentativas de encontrar a identidade dessa área do saber. Pode-se dizer que Filosofia do Direito é a tentativa de pensar o Direito de forma ampla, profunda e crítica. Ou que Filosofia do Direito constitui-se como a arte de buscar os porquês que rodeiam o Direito. Não importa. Cada conceito trará à tona algo que revela as concepções filosóficas de seu autor.
Cretella Junior (1993, p. 7) se deu conta disso quando buscou conceituar Filosofia do Direito em seu livro. Primeiro percebeu que “a problemática de conceituação da Filosofia do Direito envolve, antes de mais nada, inúmeras indagações a respeito da filosofia”. Percebeu que a conceituação, como já mencionado acima, já é um trabalho filosófico. Assim optou por adotar a seguinte estratégia: “Tratando-se, pois, de conceituar a filosofia do direito, o critério que se impõe como válido, neste particular, é o de se tomar como ponto de partida várias definições de filosofia e, em seguida, transportá-las com as necessárias adaptações para o âmbito da filosofia do direito (CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 8)”.
Em outras palavras, o que o autor se propôs a fazer foi trabalhar alguns critérios conceituais consagrados pela História da Filosofia e lê-los segundo as necessidades e/u possibilidades da Filosofia do Direito e do próprio Direito, a saber.I) O critério nominal entende a filosofia a partir do significado etimológico, amor ao saber. A filosofia se constitui como sendo uma busca apaixonada pelo conhecimento, pela sabedoria. Ao ser aproveitado pelo filósofo do Direito, esse conceito indica que “a Filosofia do Direito é o amor ao saber jurídico, é a preocupação profunda e constante com o fenômeno jurídico”(CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 9).
II) Para o critério global a Filosofia se preocupa com a busca de uma explicação global para os fenômenos e, de certa forma, foge de explicações particulares ou isoladas daqueles objetos por ela pensados. Seguindo essa conceituação, a Filosofia do Direito buscaria uma explicação global do fenômeno jurídico, buscaria uma cosmovisão do Direito. Vale a pena aprender com os ensinamentos de Cretella Junior (1993, p. 10) acerca desse conceito: “Desse modo, ao invés de estudar este ou aquele fenômeno jurídico isolado, a filosofia do direito se empenha em explicar o direito como sistema total, em que o todo e as partes se inter-relacionam. A filosofia do direito é a “scientia universalis” do mundo jurídico, a “scientia altior” da Jurisprudência”.
III) Critério causal: para este, a filosofia é a arte de buscar as causas primeiras. Esse conceito vem da tradição aristotélica e é ratificado pela filosofia cartesiana. Mas o que significa buscar as causas?
Do ponto de vista filosófico, a busca das primeiras causas vincula-se à busca das explicações mais originais possíveis da realidade. Buscar a causa é buscar a origem que potencializa a compreensão clara e evidente da realidade investigada ou pensada. Para a Filosofia do Direito, esse conceito levaria “ao estudo dos institutos jurídicos por seus primeiros princípios. É a procura da causa primeira dos institutos da ciência do Direito (CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 11).
IV) Para o critério dos postulados, a Filosofia consiste na permanente crítica aos postulados das ciências particulares. As ciências não estão comprometidas com o questionamento dos pontos referencias de partida. Ao cientista compete desenvolver seu trabalho, sua pesquisa sem indagar aquele ponto que lhe é dado como certo, como fundamento para sua atividade. “É com esses postulados, entretanto, que o filósofo trabalha, procurando o fundamento das coisas, criticando, por insuficientes, as soluções obtidas pelas ciências particulares e chegando a um grau de generalização e abstração não conseguido pelos cultores das várias ciências (CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 12)”.
Ora, a Filosofia do Direito se volta para o Direito, segundo esse conceito buscando o questionamento dos postulados que mantém cada uma das ciências particulares do direito. Nas palavras de Cretella Junior (1993, p. 13): “A filosofia do direito deixa de ser expositiva e passa a ser crítica, penetrando, primeiro, na denominação e conceito de cada disciplina jurídica, depois na razão de ser de cada instituto jurídico, problematizando-o e indagando da legitimidade de seu suporte último. Filosofia do direito é o estudo crítico dos postulados em que repousam os institutos típicos dos diferentes ramos em que se subdivide a ciência jurídica; é a crítica dos postulados das ciências particulares do Direito”.
V) Por fim, o critério axiológico leva a filosofia a assumir uma postura valorativa da vida. O filósofo, visto sob esse prisma, cuida de pensar e repensar as experiências humanas e estabelecer uma leitura crítico-valorativa dessas experiências.  Evidentemente, não trata de uma postura moralista, mas da tentativa de avaliar de forma crítica o universo dos valores necessários à preservação equilibrada da sociedade humana. “Transplantada esta colocação para o campo da Filosofia do Direito, vemos esta disciplina como o estudo crítico-valorativo da experiência jurídica” (CRETELLA JUNIOR, 1993, p. 13).
Como se vê, conceituar filosofia do direito é tarefa árdua e pressupõe a consideração de vários elementos que acabam por revelar as convicções e as tendências teóricas e ideológicas que o pensador traz consigo.
Não há um conceito certo em detrimento de outro que esteja errado. Não se pode dizer que haja um conceito que seja completo em detrimento de outros que sejam deficitários. Não se trata de buscar um conceito que consiga traduzir a generalidade da investigação da Filosofia do Direito; que seja de tal forma abrangente para não deixar nada de fora, mesmo porque uma convicção assim tem grandes chances de ser anti-filosófica.
Não se trata, é evidente, de fugir do desafio de conceituar, já que lidar com a Filosofia do Direito impõe esse desejo de desvelar sua face, de identificá-la, mas trata de não ter a pretensão de ser, aquele que conceitua, o dono da verdade. O conceito de Filosofia do Direito precisa ser um conceito aberto, um conceito em construção, que respeite a dinamicidade do próprio Direito e da vida. Um conceito  que lide bem com essa grande metamorfose perpétua que é o Direito. Um bom conceito de Filosofia do Direito precisa ser ousado, forte, vanguardista, mas despretensioso.
Essas dicas não foram seguidas sempre por todos os filósofos do Direito, mas é uma indicação útil para o estudioso dessa área porque o prepara para enfrentar a diversidade e a divergência de opiniões, um dos principais combustíveis e produtos da reflexão filosófica do Direito.
Conclusão
Desde seu surgimento a filosofia prezou pela busca de soluções bem fundamentadas para as perguntas que incomodavam as pessoas; sempre tentou nutrir-se com a convicção de que as respostas encontradas deveriam ser tratadas como prováveis e não como absolutamente certas e acabadas.
Em todas as épocas, sempre existiram pessoas e instituições que celebraram a mesmice e fizeram o pacto da perpetuação das estruturas e verdades que receberam, e o fizeram sem se darem ao trabalho de questionar ou de perguntar acerca dos porquês das coisas. Essas posturas são, via de regra, anti-filosóficas porque fecham as portas que oxigenam o espírito.
A História da Filosofia e a tentativa de conceituar Filosofia do Direito oferecem ao jurista e ao acadêmico de Direito a oportunidade de tratar o Direito de forma mais complexa e completa, afinal, uma área que mexe com todos os setores da vida humana não pode ser reduzida à mera técnica ou a um conhecimento restrito, periférico e superficial
Aula 2
sócrates e os Sofistas
Em Atenas, Sócrates não era o único a filosofar. A cidade, com o seu esplendor cultural e regime democrático, atraía a si estrangeiros que se davam pelo nome de sofistas.
A palavra sofista (em grego sophistes) deriva de sophia «sabedoria», e designa todo o homem que possui conhecimentos consideráveis em qualquer ramo do saber, nomeadamente gramática, astronomia, geometria, música, entre outras. O sofista era alguém a que hoje chamaríamos de sábio. Ensinavam tudo o que se podia ensinar, "tinham a pretensão de formar homens completos, habituados a todas as subtilezas do pensamento reflectido, hábeis em manejar a palavra, corajosos e fortes na acção, dignos de todos os triunfos, de todas as felicidades". Landormy (1985:13).
Como, nesta altura, os jovens atenienses estavam ávidos de novidades, rapidamente os sofistas se viram rodeados de rapazes desejosos de encontrar o segredo do domínio das multidões.
Os sofistas recebiam pelos ensinamentos que ministravam, o que era alvo da censura  dos atenienses. Também Sócrates achava "vergonhoso vender o saber, dizendo que o comércio da sabedoria não merecia menos ser chamado prostituição que o tráfego da beleza" (Bonnard, 1980:438). Sócrates comparava os sofistas aos mercadores, que elogiam os produtos que vendem mesmo sem saberem se são bons ou não. Mas, não será que, como os mercadores que elogiam os seus produtos, também os sofistas seriam inevitavelmente tentados a acomodar a sua mercadoria ao gosto dos compradores? Ao receberem pelos ensinamentos ministrados, os sofistas forçaram o reconhecimento do carácter profissional  do trabalho de professor. Essa é uma dívida que a institucionalização da escola tem para com eles.
No entanto, ao serem pagos directamente pelos alunos, ficavam em condições de fazer  uma selecção entre os candidatos. Em geral, preferiam os filhos de famílias mais abastadas. A analogia com o carácter selectivo da escola dos nossos dias é aqui tristemente visível.
Ao contrário dos sofistas, Sócrates não recebia pagamento pelo que ensinava. Dispensava gratuitamente o seu saber a quemdele necessitava. Contudo, foi considerado por muitos como sofista  porque aparentemente exercia o mesmo ofício. Como eles, instruía a juventude, discutia em público política e moral, religião e por vezes arte e, como eles, criticava com vigor e subtileza as noções tradicionais nas diferentes matérias. Como diz Bonnard (1980: 439), ele era o "príncipe dos sofistas, o mais insidioso dos corruptores da juventude. O mais culpado também: os outros são estrangeiros, ele é cidadão" .
A sua motivação de ordem pedagógica distingue-se ainda da dos sofistas, na medida em que estes, praticavam um ensino desligado de preocupações de  ordem ética.  Como diz Landormy (1985:15), fingiam "adoptar as opiniões comuns, a moral das pessoas honestas, os preconceitos ou as superstições do povo"  de modo a agradarem ao maior número de pessoas. O seu objectivo principal era agradar de forma a obterem os seus proveitos próprios, sem atenção aos valores essenciais. Daí o uso artificioso da oratória e da retórica como forma precisamente de, através da palavra, conseguir persuadir os cidadãos.
Pelo contrário, como diz Bonnard (1980: 442) "Sócrates quer educar o seu povo, conduzi-lo à consciência do seu verdadeiro bem, ao perigo e à nobreza da escolha. Quer libertá-lo da servil obediência à opinião estabelecida, para o comprometer no livre serviço da verdade severamente verificada. Quer tirá-lo da infância, que pensa e age por imitação e constrangimento, para fazer dele um povo adulto, capaz de agir por razão, de praticar a virtude não por temor das leis e do poder (ou de deuses ao seu dispor), mas porque sabe de ciência certa que a felicidade é idêntica à virtude" .
Sócrates acreditava que se, através do seu método, conseguisse levar as pessoas a descobrirem o que é a aretê, então esta descoberta obrigaria os seus interlocutores a agir de forma virtuosa. No Protágoras,  a pergunta pela ensinabilidade da virtude é central . Pode a virtude ser ensinada?  O ponto curioso deste diálogo é que, na primeira fase da discussão, Sócrates dúvida que a virtude possa ser ensinada, enquanto Protágoras, como sofista, entende que sim. Mas, no decorrer da argumentação, Sócrates vai analisar as várias virtudes e conclui que todas elas são uma única, que todas se identificam com o conhecimento do Bem. Nesse momento, acaba por concluir que a virtude pode ser ensinada e é Protágoras quem passa a considerar duvidosa esse possibilidade.
Uma outra diferença fundamental separa Sócrates dos Sofistas. É que, enquanto aqueles se consideravam sábios, profundamente conhecedores de várias matérias, e, justamente por essa razão, se faziam pagar pelos seus ensinamentos, Sócrates defendia aquela  fórmula tão célebre quanto enigmática pela qual ficou para sempre conhecido:
"Só sei que nada sei"
Sócrates combateu os sofistas, julgou com severidade o uso que faziam da arte da palavra, que segundo ele não visava estabelecer o verdadeiro mas produzir a aparência. Sócrates defendia energicamente a necessidade e a possibilidade de conhecer a verdade. Amava-a acima de tudo e tomou como ocupação exclusiva da sua vida, ajudar a descobrir em cada homem a verdade que nele existia.  Mesmo sem salário e quase sem esperança, exerceu até à morte este serviço de educador do seu povo, o mais insubmisso de todos os povos. É esta a sua maneira de ser cidadão.
Mas, os cidadãos atenienses não souberam compreender Sócrates.  Ele amava a juventude. Amava a sua cidade. Foi por ela que viveu e foi por ela que consentiu morrer.
Platão: justiça e a fundação do Estado..aula 3
 Aula 3
A importância de Platão para tradição Filosófica
Platão (428-347 a.C.), que em grego significa “amplo”, tinha como seu verdadeiro nome Arístocles. Ele nasceu em Atenas e lá exerceu a atividade de filósofo e fundador da Academia, que viria a ser a primeira instituição de educação superior do Ocidente. Aluno de Sócrates e professor de Aristóteles, ele foi um dos responsáveis pela construção dos alicerces da filosofia e da ciência conforme conhecemos hoje.
Sua influência sobre o mundo ocidental foi tamanha que chegou a servir de base, de um lado para toda a teologia cristã e, de outro, a filosofia cartesiana, bem assim como grandes pensadores contemporâneos.
Dentre os temas que podem ser associados à ele está o dualismo e o hierarquismo. Como dualista Platão entendia que a realidade é dual, ou seja, dividida em duas partes. Sendo hierarquista ele acreditava que uma delas ela superiora a outra. Ou seja, ele acreditava que o Mundo das Ideias era superior ao mundo sensível. Com estas duas idéias em mente vejamos suas principais teses.
2. Estudar a dualidade na Alegoria da Caverna
A alegoria da Caverna de Platão vem servindo de chave hermenêtica para se compreender este pensador. Neste texto Platão procura mostrar a necessidade e a importância de se ter um governante que seja filósofo e que, portanto, veja além da mera sombra, ou das simples opiniões dos indoutos. Aqui encontramos um debate entre Sócrates e um dos irmãos mais moços de Platão, Glauco. Neste debate Sócrates fala da existência de uma caverna em que as pessoas viviam toda sua vida acorrentadas, ouvindo vozes e vendo sombras. Por certo estas pessoas entendiam que aquilo que viam era a verde, pois era a única coisa que viam e ouviam. Eis que um deles consegue fugir da caverna e ver a realidade existente do lado de fora. Fora da caverna estava a verdadeira realidade mas, quando ele voltou para contar aos companheiros de prisão, ninguém acreditou. Há alguns aspectos que precisam ser destacados aqui.
(i) que as pessoas preferem permanecer em sua zona de conforto ainda que esta zona implique na crença em algo que não se sustenta intelectualmente;
(ii) que toda tentativa de sair da caverna é tão dolorosa quanto à contração da pupila frente à luz, o que fortalece mais a busca pelo conforto.
(iii) que somente alguns privilegiados possuem o desejo, a coragem e a força para saírem da caverna e trem acesso à realidade como ela de fato é. Estes devem ser vistos como os verdadeiros guardiães, ou seja, como os líderes da cidade.
3. Compreender o papel do filósofo na República e a relação entre justiça e lei
Segundo ensina Walace Ferreira “Platão foi o filósofo político do mundo ideal, aquele que concebeu nos filósofos a sapiência do conhecimento da justiça para fins de promoção do bem-estar da pólis. Nele, a justiça, tema central do diálogo da República, viria do plano ideal, e como seria privilégio dos sábios conhecê-la, estes seriam aqueles que deveriam assumir o poder da cidade e distribuir as funções sociais conforme um padrão de justiça voltado para o que entendem como ‘bem comum’” (http://jus.com.br/artigos/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes. acessado em 10 de agosto de 2013). Deste pequeno texto podemos retirar algumas informações importantes.
(i) A primeira é que Platão projetava sobre a cidade também seu dualismo e, portanto, privilegiava um aspecto mais espiritual e irreal do que era de fato uma cidade feita de pessoas humanas.
(ii) Enquanto no início de seus escritos ele mostrava a relatividade das leis humanas que mudam de acordo com as circunstâncias, “nas Leis, consciente da impossibilidade de encontrar um dirigente capaz de harmonizar os desejos e o Bem na escala da cidade, ele reconheceu a necessidade de uma regulamentação escrita. É preciso salvaguardar a permanência do Estado. As leis serão precedidas de preâmbulos que explicitarão a sua justificação e terão como tarefa pôr o legislador de acordo com os cidadãos, do mesmo modo que um bom médico se esforça para convencer o doente” (JEANNIÈRE, A. p. 128). Em outras palavras, o Platão da República revela-se bem mais idealista do que o das Leis. Este amadurecimento no pensamento político de Platão será claramente percebido por seus leitores.
(iii) Citando mais uma vez Jeannière (1995, p. 128), Platão entende que a melhor solução seria o esboço lógico desenvolvido na República, mas é preciso aprender a se contentar com o possível e com a realidade e reconhecerque são poucos os homens capazes de orientar para o Bem a totalidade de seus desejos. Por isso, é preciso obedecer a uma constituição. Para tanto ele nos dá duas orientações: “O legislador não deve constituir autoridades absolutas, nem, por outro lado, poderes que não se equilibrem por estarem misturados” (PLATÃO, In JEANNIÈRE, 1995, p. 128).
A segunda orientação foge do modelo de Estado governado por um rei-filósofo. Ele prefere um esquema mais misto. Vejamos, mais uma vez suas palavras: “Escuta: se disséssemos que a organização política comporta duas espécies-mães, das quais se originariam toda as outras, expressaríamos uma idéia justa, e seria justo dar a uma o nome de governo de um só, à outra o nome de governo do povo; no cume da primeira espécie, situaríamos a nação dos persas; e nós, atenienses, no cume da segunda. Os outros, quase todos, são, como eu disse, variedades originarias desses dois. Assim sendo, é preciso, é até forçoso que, se todavia uma organização política deve um dia acrescentar à inteligência a liberdade e a amizade, esta tenha participado dessas duas espécies juntas” (PLATÃO, In JEANNIÈRE, 1995, p. 129).
Em resumo, é importante alguém que tome as decisões com base na razão, mas que estas decisões esteja em conformidade com uma constituição e que assegure a liberdade dos cidadãos.
 
4. Compreender a idéia de justiça retributiva apresentada no mito de Er
O mito de Er é um relato e que Platão, no Livro X da República, registra o relato oral de alguém que acaba de retornar do Hades, ou seja, do lugar dos mortos. A essência deste mito ensina que fossem quais “fossem as injustiças cometidas e as pessoas prejudicadas, as almas injustas pagavam a pena de quanto houvessem feito em vida, a fim de purificarem a alma”. Este tipo de escatologia revela a existência de um logos cósmico fundamentalmente moral, criando uma espécie de teleologia vinculativa entre os seres humanos. Platão procurou demonstrar duas verdades com esse mito.
(i) que as riquezas, as honrarias ou o poder em si pouco valem para a felicidade terrena, Platão usa o Mito de Er para mostrar que a virtude e a justiça são também condição para a felicidade supraterrena.
(ii) Platão, seguindo os ensinamentos de seu mestre Sócrates, dizia que o poder da virtude era tal que teria repercussões para além da própria e limitada vida de um individuo, ou seja, depois da morte.
Aula 4
Aristóteles o sentido polissêmico, legalidade e equidade
1. Teoria da justiça segundo Aristóteles
Aristóteles fez várias considerações no que toca a legalidade e equidade, trazendo uma grande contribuição e inovação para os estudos sobre a justiça.
Segundo Bittar, o desenvolvimento do tema justiça na teoria de Aristóteles foi obtida após uma análise critica de conhecimentos reunidos ao longo dos séculos anteriores a ele (pré socratismo, platonista....), como também, da reunião das opiniões de sábios, do povo e da experiência prática, trazendo uma nova acepção da justiça sob a ótica aristotélica.
Os principais pontos levantados por Aristóteles a respeito da justiça são relatados no livro Ética a Nicômacos- livro V, na obra, o termo justiça ganhou imbricações éticas, sendo entendida como uma virtude assemelhada a coragem, a benevolência, entre outras. Na visão aristotélica, a virtude, assim como o vicio, são adquiridos pelo hábito.
Vista por esse ângulo, a justiça torno-use foco da ciência prática, que se dedica ao comportamento do ser humano na prática, e que tem como objetivo traçar as normas suficientes e adequadas para orientar as atividades da polis (de maneira ética), para o desenvolvimento do bem comum, buscando entendimento sobre o justo e o injusto, do bem e do mal. Em suma, A ciência prática, tem a tarefa de educar e tornar realizável a harmonia do comportamento humano individual e social.
Segundo Aristóteles, a lei serve para ordenar a virtude (justiça) e proibir o vicio (injustiça), contudo, o termo justiça e injustiça podem ser utilizados em mais de um sentido (caráter polissêmico), mas devido haver certa proximidade nos sentidos, o equívocos não é detectado, a exemplo, o termo injusto tanto é utilizado para o individuo que transgride a lei tanto para aqueles que tomam mais do que lhe é devido (individuo não equitativo).
2. As diversas acepções do termo justiça.
2.1 Justiça total (justo total)
A primeira acepção do termo justiça, segundo Aristóteles, é a justiça total (universal ou integral), justiça essa que consiste na observância da lei e no respeito àquilo que é legitimo, no interesse do bem comum, neste sentido, a justiça e a legalidade são a mesma coisa. 
Esta é a justiça aplicável na vida política, organizadas segundo as leis emanadas do legislativo. Na justiça total reside a virtude total, pois respeitando as leis estamos respeitando a todos.
Na produção de efeitos justiça e virtude são idênticos, pois levam ao mesmo meio-termo, porém, na essência há diferença, pois a justiça total e uma regra social de caráter vinculativo e virtude total é um bem de espírito.
2.2 Justiça particular (justo particular)
Trata-se de uma virtude particular, não genérica e difere da justiça total, pois, tem foco restrito e individual, diferente desta, que te foco coletivo. O justo particular é espécie do gênero justo total. Quem comete um injusto particular não deixa de violar a lei e praticar uma injustiça no sentido mais genérico. 
São duas as espécies de justiça particular:
a) a justiça distributiva: justo distributivo relaciona-se a um tipo de distribuição levada a efeito do estado, seja de dinheiro seja de horas, ou qualquer outro bem possível de serem participados aos governados. Refere-se às repartições se essa distribuição for feita de forma desigual ocorrerá a injustiça.
A justiça distributiva é igualdade de caráter proporcional sendo fixada de acordo com um critério de estimação dos sujeitos analisados, esses critérios é que vão estabelecer quem é merecedor de determinado beneficio para torná-lo igual, portanto, o justo distributivo atinge seu objetivo quando proporciona a cada qual aquilo que lhe é devido, dentro de uma razão proporcional participativa, evitando o excesso ou a falta.
b) Justiça corretiva: consiste em estabelecer e aplicar um juízo corretivo nas transações entre indivíduos ela também regula as transações financeiras/comercias entre as pessoas, evitando o injusto. Tem como objetivo manter o equilíbrio das associações humanas, cabendo ao juiz igualar as relações quando isso não ocorre naturalmente.
A justiça corretiva é a justiça apta a produzir reparação nas relações entre os indivíduos vinculando-se a idéia de igualdade perfeita ou absoluta, essa igualdade dar-se entre perda e ganho entre os indivíduos diferente da justiça atributiva que busca a qualificação para promover a igualdade evitando que alguém tome mais do que lhe pertence como também não causar a outrem danos, por exemplo, quando um bem ou serviço não se correspondem ao que foi pago, entra a justiça corretiva para estabelecer o equilíbrio.
Aristóteles também fala sobre o justo político e o justo doméstico, o primeiro consiste na aplicação da justiça na comunidade entre pessoas livres e iguais, tendo como finalidade satisfazer suas necessidades, não podendo ocorrer esse tipo de justiça entre as pessoas que não sejam livres e iguais, enquanto o segundo, trata de um a justiça aplicada nas relação “pessoais” não determinada pela lei, como por exemplo, na relação entre pai e filho, entre marido e mulher, entre o senhor e seu escravo.
Justo político: é composto por justo legal (lei) e justo natural. O justo legal tem sua origem no justo natural, afinal as leis são aplicáveis aos casos surgidos no meio social, sendo a observância a lei. Apesar de que, Infelizmente, a justiça política, nem sempre está de acordo com a natureza, isso pode ocorrer, como por exemplo, quando a constituição é utilizada como instrumento de manipulação de poder e para obter benefícios, levantando a questão de que a lei nem sempre é justa.
Bittar afirma que, “ Daspartes que compõe o justo político, aquela que é conforme a natureza e a razão é sempre boa, enquanto aquela que é conforme a lei pode ser boa ou má”, sendo a legislação perfeita aquela que tem uma adequação plena do legal e do natural.
Quanto ao justo natural, este, encontra sua fundamentação na virtude humana preceituada da própria natureza, não dependendo de positividade, nem do legislador, possui caráter universal.
3 . A importância da Equidade 
A relação entre a equidade e a justiça não se equivalem de forma perfeita, pois os termos são semelhantes, mas não são idênticos, aproximando-se seus conceitos de forma apenas genérica.
Segundo Bittar, a equidade é necessária devido à universalidade da lei , ou pela insuficiência desta, seja por vontade do legislador, que não pode precisar tudo, ou mesmo , contra a sua vontade, quando ocorre de um caso lhe passar despercebido, é aí que nasce a necessidade o principio da equidade, agindo de modo complementar em determinados fatos. Em ambas as situações deve-se fazer uso da equidade, nesse caso, o julgador coloca-se na posição do legislador para avaliar o caso concreto, sendo na ausência da lei que a equidade apresenta sua maior utilidade, complementando, individualizando e respondendo pelo fato que venha a surgir de imprevisto.
A equidade é a medida corretiva da justiça legal quando esta produz uma injustiça devido sua generalidades nos preceitos normativos, sendo um recurso utilizável como forma de mensurar e adaptar a norma para ocaso concreto, mesmo porque muitas vezes ocorre do individuo realizar o injusto de forma involuntária e isso deve ser considerado na hora do seu julgamento. 
Logo, a equidade é fonte do direito, sendo utilizada para atingir a justiça. É a forma de aplicar o Direito, o mais próximo possível do justo e do razoável, um ideal de justiça universal.
Aula 5
O DIREITO NATURAL E O ESTOICISMO
Ronaldo Rebello de Britto Poletti
 
O estoicismo, corrente filosófica predominante na Antigüidade Clássica durante mais de cinco séculos (300 a.C. – 200 d. C.), não alcançou as alturas da filosofia de Platão e de Aristóteles, mas foi a ideologia do Império, a base do Direito Romano e a grande preparação para o Cristianismo. Exerceu forte influência nos Padres da Igreja (Santo Ambrósio adaptou o De Officiis de Cícero ao uso dos clérigos). O humanismo e o naturalismo estóicos ressurgiram na Reforma e no Renascimento e estão presentes em Montaigne, Pascal, na moral cartesiana, no monismo de Spinoza e no vitalismo de Leibniz.
Com a hegemonia macedônica, já não havia ambiente para a grande filosofia. A Pólis foi substituída pelo Império. No lugar da cultura helênica, a helenística. O homem da cidade política deu lugar ao cosmopolita.  A Filosofia estóica compreenderia três partes, em uma analogia com o ovo: casca = lógica; clara = física; gema = ética A ética é o centro. Todas as questões colocam em causa o mundo onde o homem vive (física), a razão de que ele dispõe (lógica) e a felicidade a que tende (ética). O Logos requer uma matéria sobre a qual se exerça, exprimindo uma relação com o mundo. Para os estóicos o Universo é tudo o que é corpóreo e semelhante a um ser vivo, no qual existiria um sopro vital (pneuma), cuja tensão explicaria a junção e interdependência das partes.
O Universo está animado por um princípio absoluto que é o Logos = Razão Universal = Alma = Ratio = Verbum. OLogos invade e move a matéria, com ela se identificando, como havia dito Heráclito. A visão é Panteísta. Os estóicos rejeitaram os deuses antropomórficos do Olimpo, identificando-os com determinadas realidades físicas; desaguaram em um monoteísmo, que é uma maneira de descrever a Unidade do Universo dominado por um princípio ativo. Deus se identifica com o Cosmo, enquanto artesão e gerador eterno do organismo cósmico; por outro lado, o mundo é distinto de Deus, já que o organismo cósmico está sujeito a um movimento de absorção e de regeneração no fogo primordial.
A lei racional que governa o mundo é o destino, mas a Providência estóica é diferente da Providência Divina do Cristianismo (razão subsistente ordenada a um fim, através da ação movida por amor).
O homem (microcosmo que reproduz a estrutura do mundo) é uma totalidade psicossomática. A alma é um corpo, fogo, sopro, parcela do Logos. Tudo é corpóreo (o incorpóreo contém meios inativos e impassíveis, como o espaço vazio ou aquilo que se pode pensar as coisas e não elas próprias).  A divindade é imanente ao mundo. Deus é o princípio animador do universo, cuja causa intrínseca é a lei reguladora do cosmo e  também do homem. O ser e o dever ser se confundem.
Para os estóicos, a divindade que prescreve para a natureza seu comportamento é a própria natureza. Lei é a expressão do próprio ser. O fim do homem é viver conforme a natureza, comum e própria dos homens, vale dizer conforme a razão. A irracionalidade é banida tanto na natureza como na conduta humana. Nem acaso nem desordem. O processo cósmico é dotado de racionalidade.
A doutrina panteísta da racionalidade imanente do Ser, princípio e essência do universo, permite aos estóicos dar sólido fundamento à idéia de um “justo por natureza”. O direito natural encontra no estoicismo a sua primeira formulação precisa. Os estóicos desenvolvem a tese de Platão relativa a uma lei ditada por uma reta razão (lógos alethés, lógos orthós), identificando esta razão com uma natureza que é a própria Realidade, Deus, dando ao direito natural um fundamento metafísico, que justifica seu valor absoluto.
A natureza governada pelo Logos é justa e divina. Deus governa o universo com justiça. Para os estóicos o Direito deve ser a tradução em termos positivos da lei da Razão universal.
 
AULA6
HOBBES: O Estado como garantia da Segurança Jurídico – Política para ordem econômica.
1588-1679-Obra + conhecida O leviatã.
Para Hobbes a vida na cidade não é uma tendência humana natural. Consequentemente, o homem não é um animal político e a cidade não é natural. A cidade é artificial, isto é, produto da escolha e da decisão dos homens ao fazerem o acordo de convivência.
Hobbes diz:
1- que o homem não é um animal apto para a sociedade, mas um ser autointeressado que vida primeira o próprio beneficio e não da vida em comunidade; 
2- Que a cidade não é natural, mas artificial, isto é, produto da escolha e da decisão dos homens ao fazerem o pacto social.
3- Que a cidade não é um fim em si mesmo, mas um meio para que os homens possam promover de maneira + segura o seu próprio benefício.
Para Hobbes, o homem não nasce apto para a sociedade, mas assim pode se tornar pela disciplina. A aptidão para a vida social é, portanto, uma característica, adquirida, e não natural, Consequentemente, a sociedade é produto artificial da vontade humana fruto de uma escolha e não da obra da natureza.
Na sociedade há obrigações para que a sociedade exista, é preciso que a haja um poder comum capaz de obrigar os homens a cumprirem as leis e os acordos entre si. Para que o acordo seja feito é preciso que se conclua pela necessidade de limitação do direto natural e pela necessidade da instituição de um poder comum.
Hobbes tenta provar que o homem procura primeiramente o seu próprio benefício.
Hobbes diz que a sociedade civil do medo é o meio + duradouro e eficaz que encontraram os homens para se livrarem do medo generalizado que os acompanha no estado de natureza (mede de ser ferido, morto).
O Estado da natureza é um Estado de Guerra.
Para Hobbes o estado de natureza é um estado de guerra. Se 2 homens desejam a mesma coisa ao mesmo tempo, é impossível ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos.
No estado de natureza todos os homens tem direito ilimitado sobre todas as coisas. É o estado em que os homens vivem sem um poder político capaz de obrigá-lo a se respeitarem mutuamente e a obedecerem às regras comuns.
No estado de natureza, os homens competem entre si e se atacam mutuamente visando à própria conservação, a satisfação dos seus desejos e ao aumento dos seusdomínios. Mas isso não significa que eles sejam maus por natureza. Fazem isso porque não há Estado este é o único que se dispõe para protegê-los.

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