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RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

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RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL (ART. 789 AO 796) 
 
1. Conceito. Quando o sujeito passivo não realiza a prestação (conduta), que pode ser 
um fazer, um não-fazer, ou um dar coisa (dinheiro ou coisa distinta de dinheiro), 
voluntariamente, configura-se o inadimplemento ou lesão, pressuposto de toda e qualquer 
atividade executiva. 
lnadimplida a prestação, o patrimônio do devedor e de terceiros previstos em lei (ex.: seu 
cônjuge ou seu sócio) responderão pelo seu cumprimento, mediante execução forçada. 
Responsabilidade patrimonial (ou responsabilidade executiva) é o estado de sujeição do 
patrimônio do devedor, ou de terceiros responsáveis, às providências executivas voltadas à 
satisfação da prestação devida. 
OBS. A execução indireta e a responsabilidade patrimonial: Viu-se, no capítulo sobre a teoria 
da execução, que em algumas situações a execução não recai sobre o patrimônio; é o caso da 
execução indireta. Relembrando: 
A responsabilidade executiva assume hoje um caráter híbrido: coerção pessoal + sujeição 
patrimonial. A coerção pessoal incide sobre a vontade do devedor, usando medidas coercitivas 
de execução indireta (art. 536, § 1º, e art. 523). Se descumprida a obrigação de coerção 
pessoal, tem –se a sujeição patrimonial recaindo sobre bens do devedor ou de terceiro 
responsável. Estes responderão pela própria prestação in natura ou por perdas e danos!! 
Mas é correto afirmar que a regra é a de que a execução de prestação patrimonial tem 
como garantia básica o patrimônio do devedor ou do responsável. 
OBS. 2. Legitimidade passiva na execução e os terceiros responsáveis. (art. 779) Nos termos 
desse artigo, inciso I, é legitimado passivo, o devedor, reconhecido como tal no título 
executivo. Porém há aqueles legitimados supervenientes, ambos tratados pelos incisos 
restante (II ao VI). 
2. Responsabilidade primária e responsabilidade secundária. 
 2.1. Obrigação e responsabilidade: O estudo da responsabilidade patrimonial e, 
sobretudo, a distinção entre responsabilidade e obrigação, deve-se à teoria formulada pelo 
alemão ALOIS BRINZ. Dela nasce uma visão dualista do vínculo obrigacional, decomposto 
em dois elementos: o débito (Schuld) e a responsabilidade (Haftung). 
Os adeptos dessa doutrina defendem que o débito (Schuld) e a 
responsabilidade/garantia (Haftung) coexistem na relação obrigacional, mas a 
responsabilidade/garantia só emerge com o inadimplemento. 
O débito (Schuld) é o dever de prestar, de realizar uma atividade em beneficio do credor. 
Uma vez inadimplido, autoriza o credor a ativar a máquina judiciária para dar cumprimento 
à prestação (impor a sanção executiva), respondendo os bens do devedor (e dos terceiros 
previstos em lei) pelo seu adimplemento. 
O débito (Schuld) seria uma situação de desvantagem que gera a expectativa de que algum 
bem do devedor (ou outrem) venha satisfazê-lo. No entanto, seria situação jurídica estática, 
pois não conferiria ao credor qualquer força ou permissão para trazer ao seu patrimônio o que 
lhe é devido, não autorizaria movimentos em prol de sua satisfação. Já a responsabilidade 
(Haftung) seria eminentemente dinâmica, pois viria instrumentalizar a efetivação da obrigação, 
determinando quais bens (do sujeito passivo/devedor ou de terceiro) responderão pelo seu 
adimplemento. 
 
A dívida é vínculo pessoal; a responsabilidade é patrimonial. O devedor obriga-se; seu 
patrimônio responde. 
Inúmeros juristas, contudo, mantêm uma visão unitarista da obrigação, sem conseguir 
dela destacar débito e responsabilidade. Seriam faces de um mesmo vínculo e vínculos 
distintos. 
O dever jurídico traz consigo a coação. A dívida (débito) é o dever de prestar sob coação 
da ordem jurídica, que pode conduzir ao adimplemento voluntário ou forçado. Assim, a 
responsabilidade é decorrência do vínculo obrigacional. 
O débito (poder de exigir prestação) e ação executiva são peças que integram um mesmo 
sistema obrigacional - ainda que vinculados por relação instrumental, quando a execução é 
instrumento de efetivação da prestação. Ambos estariam abrangidos pelo processo 
obrigacional. 
As teorias unitarista e dualista são formas distintas de descrever um mesmo fenômeno. A 
concepção dualista visualiza dever e responsabilidade como elementos distintos, sem 
perceber que integram um mesmo processo obrigacional. A visão unitarista, que parte da 
percepção dinâmica da obrigação, acentua o vínculo entre a responsabilidade e o dever: 
uma é sanção ao descumprimento de outro, sendo que ambos são fenômenos de uma 
mesma relação obrigacional. 
Parece indiscutível, qualquer que seja a teoria adotada, que há duas situações jurídicas 
muito distintas: a dívida e a responsabilidade. E esse é o grande mérito da concepção 
dualista. Cada uma dessas situações pode ser titularizada por um sujeito distinto, razão pela 
qual se distinguem as figuras do devedor e do responsável. Ambos, porém, são sujeitos 
de uma situação jurídica material passiva e fazem patie de um mesmo vínculo obrigacional, 
examinado sob uma perspectiva dinâmica, sendo esse o grande mérito da visão unitarista. 
A confusão parece concentrar-se no seguinte aspecto: é preciso distinguir as diversas 
funções que as regras sobre responsabilidade patrimonial podem exercer. É o Direito 
material que determina quem é o responsável pela obrigação. As regras que estabelecem 
limitações à responsabilidade patrimonial, impedindo que determinados bens sirvam à 
garantia da obrigação, são, porém, regras processuais, pois servem de controle ao exercício 
da função jurisdicional executiva. 
A partir da constatação de que o vínculo obrigacional contém o débito e a responsabilidade 
(Schuld and Haftung), identificam-se dois tipos de responsabilidade patrimonial: a primária 
e a secundária. 
 
 2.2. Responsabilidade primária. 
A responsabilidade primária seria aquela que recai sobre bens do devedor obrigado, como 
previsto nas hipóteses do art. 789 e do art. 790, I, III e V, ambos do CPC. 
2.2.1. Bens do devedor da obrigação principal (Art. 789): Na forma do art. 789, CPC, o 
devedor responde, pela obrigação, com todos os seus bens, salvo restrições legais. Mas a 
submissão do seu patrimônio não é absoluta, afinal: 
i) nem todos os bens do devedor respondem pela dívida (o próprio texto legal ressalva 
as "restrições legais"), a exemplo dos casos de impenhorabilidade. (art.832) 
ii) nem só os seus bens respondem pela obrigação, pois, como se viu, a responsabilidade 
patrimonial secundária recai sobre bens de terceiro. 
 
Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o 
cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. 
 
São passíveis de execução os bens presentes e futuros do executado. 
a) Bens "futuros" do devedor obrigado: respondem pela execução bens que integrem o 
patrimônio do devedor quando da sua realização - pouco importando quando foram 
adquiridos, se antes ou depois da constituição da obrigação, se antes ou depois de iniciada a 
atividade executiva 
 
b) Bens dados em garantia real ao credor (Preferência na constrição - Art. 793): Acrescentam 
à letra da lei que também respondem os bens pretéritos (transferidos para terceiro 
antes da execução), que tenham sido dados em garantia real (penhor ou hipoteca) ao 
credor ou alienados em fraude à execução ou fraude contra credores. Veja que tais bens são 
passados em relação à execução, mas presentes em relação à data de constituiçãoda 
obrigação. 
Art. 793. O exequente que estiver, por direito de retenção, na posse de coisa pertencente ao 
devedor não poderá promover a execução sobre outros bens senão depois de excutida a coisa 
que se achar em seu poder. 
 
 
c) Alienados em fraude à execução e fraude contra credores (Art. 790, V): exige estudo 
comparativo das três espécies de alienação/oneração fraudulentas existentes em nosso 
direito (e não só a fraude à execução aí referida): i) fraude contra credores (menos grave); 
ii) fraude à execução; iii) alienação/oneração de bem já penhorado (mais grave). O estudo 
do tema é feito em capítulo próprio, dedicado à análise do princípio da boa-fé na 
execução. 
 
d) Bens em poder de terceiros: detentor/possuidor (Art. 790, III): O texto do art. 845 do 
CPC é bastante claro: “Efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda 
que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros". Existem situações em que o credor 
pode reter, de forma legítima, bens do devedor para garantir o cumprimento da obrigação. 
O bem continua pertencendo ao devedor (proprietário ou possuidor indireto), só que se 
encontra na posse ou detenção de terceiro (sem título de domínio), corno o locatário, 
comodatário, depositário, rendeiro. 
Art. 790. Ficam sujeitos à execução os bens: 
III - do devedor, quando em poder de terceiros; 
 O terceiro possuidor de boa-fé. 
Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição 
sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, 
poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. 
§ 1o Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou apenas 
possuidor. 
 
2.2.2. O fiador: devedor da obrigação. 
 Benefício de ordem (Art. 794 + 827/CC): ônus de indicar bens do devedor à penhora: O 
que chama a atenção, no teor do art. 794 do CPC, que disciplina responsabilidade do fiador, 
é o benefício de ordem (ou beneficio de excussão, beneficium excussionis) previsto na 
legislação civil (art. 827, Código Civil') e confirmado no texto do CPC. Quando executado o 
fiador judicial ou extra judicial (negocial), é dada a ele a prerrogativa de nomear bens 
livres e desembargados do devedor, na tentativa de deixar a salvo os seus próprios. Mas 
esta nomeação deve ser feita na primeira oportunidade que tiver para falar nos autos (art. 
827, Código Civil) - na execução de título extra judicial, por exemplo, no prazo de três dias a 
contar da sua citação (art. 829 do CPC). 
Exceções.: Há outras regras que mitigam ou afastam o beneficio de ordem (afasta-se 
a proteção do patrimônio do fiador): 
 
 a) Insolvência- afasta-se a proteção do 
patrimônio do fiador. 
 b) Solidariedade- se o fiador prestou a fiança 
obrigando-se como devedor principal ou solidário. 
 c) Renúncia (sempre expressa!) 
 
2.2.3. Herdeiros e espólio. (art. 796): Falecendo o devedor, seu espólio responderá pela 
obrigação (art. 796, CPC). O espólio adquire, assim, legitimidade passiva para a execução, 
permitindo-se, contudo, que os herdeiros atuem como litisconsortes. 
A princípio, pelas dívidas da herança responderão os bens da própria herança (do 
espólio); não respondem os bens dos herdeiros. "As dívidas da herança executam-se nos 
bens da herança, e não nos outros bens dos herdeiros". Com isso, projeta-se a 
responsabilidade patrimonial do devedor para além de sua morte. 
Feita a partilha da herança entre seus herdeiros e sucessores, eles responderão 
proporcionalmente pelas dívidas do de cujus e passarão a ter legitimidade passiva exclusiva 
para a execução. Respondem na proporção da parte da herança que lhe couber. 
Mas a responsabilidade dos herdeiros não se restringe aos bens herdados. Os seus bens 
próprios e pessoais respondem pela dívida do de cujus, na proporção do que foi herdado. É 
por isso que se diz que, se os bens herdados pereceram, foram alienados para terceiro ou 
eram, desde a origem, impenhoráveis (exemplo: bem residencial), isso não exime o 
herdeiro de responder pela execução com seus bens particulares. 
 
2.2.4. Sucessor a título singular da coisa litigiosa (Art. 790, I): A Lei nº 11.382/2006 alterou a 
redação do dispositivo, para torná-la mais ampla: 
a) de um lado, por abranger tanto a execução de título judicial, como também a 
execução de título extra judicial. Afinal, limita-se a referir-se à "execução fundada em 
direito real ou obrigação reipersecutória"; 
b) de outro, além de execução fundada em direito real, passa a abarcar a execução fundada 
em obrigação reipersecutória (de entregar coisa). 
2.3. Responsabilidade secundária. 
 2.3.1. Sócio (Art. 790, II), pela dívida da sociedade: As sociedades têm 
personalidade juridica própria, que não se confunde com aquela dos seus sócios/acionistas 
(art. 20, Código Civil de 1916). Assim, em regra, respondem pelas obrigações sociais com 
seu próprio patrimônio, e não com o dos seus instituidores. 
Mas existem exceções a essa regra. A primeira exceção diz respeito à "sociedade em comum" 
(sociedade irregular, de fato ou a não-personificada). Tratando-se de sociedade em comum 
(art. 986, Código Civil), todos os sócios respondem pessoalmente, de forma solidária e 
ilimitada, pelas obrigações sociais (art. 990, Código Civil12º). A segunda exceção diz respeito 
às sociedades regularmente constituídas, mas cuja personalidade jurídica e o respectivo 
patrimônio autônomo são utilizados pelos seus sócios, de forma abusiva ou fraudulenta, para 
satisfazer seus interesses ou obter vantagens particulares. 
Beneficiam-se à custa de terceiros, o que justifica que se desconsidere a pessoa jurídica, 
para responsabilizar pessoalmente o sócio que obteve o beneficio indevido. É teoria da 
desconsideração da pessoa jurídica, consagrada no artigo 50 do Código Civil. 
Há, ainda, uma terceira situação excepcional. Em determinados tipos de sociedade, por 
imposição legal, o patrimônio pessoal dos sócios responde pelas obrigações sociais, 
independentemente de desconsideração da pessoa jurídica. 
A partir deste sistema normativo, o inciso II do art. 790 do CPC determina que bens do sócio 
podem ser executados, por dívidas da sociedade, na forma da lei civil e do respectivo ato 
constitutivo. Atribui-se responsabilidade patrimonial direta ao sócio, nas hipóteses em que 
a própria lei, ao determinar o regime jurídico do tipo societário, já imputa ao sócio a 
responsabilidade por dívidas da pessoa jurídica. 
Nada tem a ver esse inciso com a aplicação da desconsideração da personalidade 
jurídica, que é uma sanção aplicada ao sócio, uma vez verificada a ocorrência de ilícitos que a 
autorizem (art. 50 do CC, por exemplo). 
 Benefício de ordem (Art. 795, §1º) - devedor subsidiário. 
O art. 795 do CPC, por sua vez, estabelece um beneficio de ordem para o sócio (bene ficium 
excussionis personalis) que vê seus bens submetidos à execução, nos seguintes termos: "Os 
bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos 
previstos em lei; o art. 795, §1º: o sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da 
sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade. 
Daí se constata que a responsabilidade da sociedade é principal e a dos sócios, subsidiária. Só 
na ausência de bens da sociedade, é possível partir-se para o patrimônio particular de seu 
sócio. Relembre-se, porém, que, na sociedade em comum, o sócioque contratou em nome 
da sociedade não tem esse beneficio de ordem. 
O §2° do art. 790 complementa a regra, dispondo que incumbe ao próprio sócio do §1º, 
devidamente citado, alegar este beneficio (beneficium excussionis personalis) e nomear bens 
da sociedade, situados na mesma comarca (livres e desembargados) e suficientes para pagar 
a dívida. 
O beneficio de ordem é instituído por norma dispositiva e é, por isso, renunciáve (tácita ou 
expressamente). Nada impede que o sócio indique bem de sua propriedade à penhora, 
quando ocorrerá a preclusão lógica do seu direito de invocar o beneficio, em respeito ao 
princípio da boa-fé processual. 
Junto a isso, o artigo 795, §3°, garante que o sócio cujos bens vierem a responder pela 
execução, pagando a dívida, possa executar a sociedade devedora nos mesmos autos. 
 
 Incidente de desconsideração da personalidade - devedor principal. O art. 50 do 
Código Civil consagrou a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, nos seguintes 
termos: "Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade, ou pela confusão patrimonial, o juiz pode decidir, a requerimento da parte ou 
do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas 
e determinadas relações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou 
sócios das pessoas jurídicas". 
Na verdade, quer-se, com essa técnica, impedir a utilização fraudulenta da pessoa 
jurídica. FÁBIO ULHOA COELHO bem sintetiza a questão: haverá propósito fraudulento 
sempre que, encoberto pela "máscara" da pessoa jurídica, o sócio vise a prejudicar 
interesse de terceiros, em nome de anseios próprios. 
A teoria da desconsideração da pessoa jurídica, veio como forma de evitar os abusos que se 
vinham cometendo com as manipulações do instituto da pessoa jurídica - basta que se 
verifiquem as hipóteses clássicas que autorizavam o manejo desta técnica de 
responsabilização patrimonial dos sócios (abuso e fraude). 
A desconsideração, é sanção aplicada a ato ilícito (no caso, a utilização abusiva da 
personalidade jurídica). 
A teoria da desconsideração não tem por finalidade extinguir a pessoa jurídica - trata-se 
de uma técnica de suspensão episódica da eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, de 
modo a buscar, no patrimônio dos sócios, bens que respondam pela dívida contraída. 
A personalidade jurídica é desconsiderada quando não se puder imputar diretamente o ato 
fraudulento ao sócio; o ato era aparentemente lícito. 
Não se deve falar em desconsideração da personalidade jurídica quando o sócio já for 
responsável pela dívida societária, de acordo com o regime de responsabilidade 
patrimonial do tipo de sociedade de que faz parte (limitada ou ilimitada, por exemplo). 
Além disso, não cabe discutir beneficio de ordem (art. 795 do CPC) na desconsideração da 
personalidade jurídica, como visto acima. Não importa se a pessoa jurídica tenha ou não 
bens passíveis de ser executados. O sócio responde sozinho. Não se pode admitir aplicação de 
sanção sem contraditório. 
O sócio, ou a sociedade (em caso de grupo de empresas), pode ser chamado em 
litisconsórcio eventual com a pessoa jurídica devedora. O litisconsórcio eventual, aplicado 
à hipótese em comento, permite atacar o patrimônio pessoal dos sócios, apenas e tão-
somente, se for impossível liquidar o débito por intermédio do capital social da pessoa 
jurídica. 
Admite-se como lícita, também, a citação do sócio já no processo de execução, desde que 
se instaure um incidente cognitivo no procedimento executivo, para que se apure, em 
contraditório, o preenchimento dos pressupostos legais que autorizam a aplicação da 
teoria, bem como se lhe permita o exercício da sua ampla defesa . 
GILBERTO Bruschi, que segue a corrente que reputa desnecessária a prévia instauração do 
contraditório, vale-se de argumento por analogia, para fundamentar o seu posicionamento. 
Afirma o autor que, assim como a ineficácia relativa da alienação do bem em fraude à 
execução pode ser decretada por simples decisão nos autos, a desconsideração também 
poderia sê-lo, dispensado o processo autônomo de conhecimento com esse objetivo. O 
mesmo autor, porém, defende a criação de um incidente de desconsideração da personalidade 
jurídica no processo de execução, de modo a viabilizar o contraditório (15 dias, por analogia 
ao art. 432 do CPC). Discorda-se do autor em apenas três pontos, que não são essenciais: 
a) o incidente faria parte do processo de execução; não seria um processo autônomo, como 
afirma; b) em razão disso, o sócio ou sociedade empresária tomar-se-iam partes do processo 
de execução; c) a decisão judicial que resolvesse o incidente seria uma decisão interlocutória, 
pois não encerraria o processo, e não uma sentença, como afirma. 
Seja pelo litisconsórcio eventual, seja pela instauração de um incidente cognitivo no 
processo de execução, o que importa é dar oportunidade ao debate, não sendo lícita a 
aplicação da sanção sem o prévio contraditório. 
 
 Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para 
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. 
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão 
interlocutória. 
 Efeito do acolhimento do pedido sobre execução. 
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida 
em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente. 
 
 2.3.2. Cônjuge (Art. 790, IV): Sujeitam-se, ainda, à execução, os bens do 
cônjuge, "nos casos em que os seus bens próprios ou de sua meação respondem pela sua 
dívida" (art. 790, IV, CPC). 
Cabe à legislação cível definir "os casos" em que seus bens vão submeter-se à exe-cução, 
considerando, sempre, o tipo de dívida cobrada e a modalidade de regime de bens em vigor. 
Partindo dessas premissas, existem duas diferentes situações a serem analisadas 
(considerando o objeto da garantia): 
 Bens próprios: Os bens próprios ou particulares de cada cônjuge são aqueles 
incomunicáveis, que não entram em qualquer comunhão. Não há direito de meação 
sobre eles. 
 Bens da meação.: O Código Civil é bastante claro ao determinar que a meação (metade 
do patrimônio comum) do cônjuge responde pelas dívidas contraídas pelo outro 
em proveito da família. 
A regra geral sobre o tema está prevista nos arts. 1.643 e 1.644 do Código Civil. Ao 
mesmo tempo em que submete o cônjuge à necessidade de consentimento prévio do 
outro para a prática de certos atos jurídicos, a legislação cuidou de especificar 
alguns atos que podem ser praticados sem a vênia conjugal. 
Esta permissão aplica-se a qualquer regime de bens . Cria-se uma presunção legal 
iure et de iure de que o cônjuge está, nesses casos, autorizado pelo outro cônjuge a 
contrair dívidas. O art. 1.644 do Código Civil cria uma regra de solidariedade legal 
(art. 265 do CC-2002) entre os cônjuges, com relação às dívidas contraídas para os 
fins de administração da economia doméstica.

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