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Filosofia da Educação

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o Filosofia da educação
Seja bem-vindo! 
 No curso de Pedagogia, a disciplina Filoso-
fia da Educação objetiva desenvolver o pensa-
mento crítico diante das diversidades dos métodos 
e objetivos educacionais. Ao mesmo tempo, almeja 
propiciar uma visão questionadora do mundo que nos 
permita superar as barreiras colocadas pelo senso comum, 
cujas concepções são fragmentárias e simplistas. 
 A Filosofia da Educação é uma disciplina que tem por 
objetivo o esclarecimento das teorias pedagógicas, ou seja, a 
elucidação da influência do contexto histórico e filosófico na 
elaboração das diferentes correntes e ideais da pedagogia, uma vez 
que é da natureza da educação buscar fundamentos e orientações nas 
concepções oriundas das teorias filosóficas e sociológicas. Assim, a 
história do pensamento filosófico, como veremos neste módulo, ofe-
rece elementos necessários para pensarmos na educação, pois permite 
o reconhecimento dos problemas, métodos e perguntas que marcaram 
diferentes períodos da humanidade e, consequentemente, do pensar sobre 
a educação.
Bons estudos!
 
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Introdução à filosofia antiga
Na primeira unidade, iremos estudar 
a definição de Filosofia, bem como seu 
contexto de origem e suas principais questões. 
Também iremos discutir as ideias centrais dos prin-
cipais filósofos da Antiguidade e suas reflexões acerca 
da educação.
Objetivos da sua aprendizagem
 Que você seja capaz de compreender a essência do pensa-
mento filosófico e suas discussões acerca do conhecimento, as 
questões fundamentais da Filosofia em sua origem e o pensamento 
dos principais representantes da Filosofia Antiga. 
Você se lembra?
 Você se lembra da última vez em que pensou sobre as razões de 
nossa existência? De como podemos conhecer o mundo e para qual fina-
lidade? Agora é o momento de você problematizar suas ideias, juntamen-
te com os filósofos da Antiguidade, perguntando o porquê de tudo o que 
conhecemos! 
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Filosofia da educação
DefUnUção e orUgem Ua FUlosofUaU.U 
A palavra Filosofia é composta por dois termos gregos: philo e 
sophia. O primeiro termo significa amizade, amor; o segundo, sabedo-
ria. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, a busca do 
saber. 
Filosofia é o pensamento sistematizado e fundamentado que busca o 
verdadeiro significado das coisas, a verdade sobre a existência do homem 
e de todas as coisas do mundo. O que caracteriza uma reflexão filosófica? 
O movimento de indagar e de questionar as coisas que já conhecemos e as 
que ainda iremos conhecer. Filosofar é também o pensar crítico a respeito 
das diversas concepções (ideais) que podemos construir acerca do mundo 
e das ações que efetivamos no mundo. 
Na filosofia, o problema é ela mesma; além disso, esse problema se 
formula em cada caso segundo a situação histórica e pessoal em que 
se encontra o filósofo, e essa situação está, por sua vez, determinada 
em grande medida pela tradição filosófica em que se encontra inse-
rido. (MARÍAS, 2004, p. 7)
 A Filosofia também analisa os valores éticos e os juízos morais; 
mas, diferentemente do senso comum, que apenas formula opiniões sim-
plistas, a Filosofia almeja a compreensão dos nossos atos e valores. Espe-
cificamente, o objeto de investigação da Filosofia se resume nas seguintes 
questões:
É possível conhecer a realidade, isto é, o mundo tal qual ele é?1. 
Como adquirimos o conhecimento?2. 
Qual a validade de nossas certezas? 3. 
 A Filosofia surgiu entre o final do século VII a.C. e o início do 
século VI a.C., nas colônias gregas da Ásia Menor, com o propósito de 
conhecer racionalmente o mundo e as questões em torno da relação entre 
o homem e os elementos da natureza. Antes do seu surgimento, as expli-
cações da realidade provinham do pensamento mítico, um modo mágico 
de explicar a realidade que não permite críticas, questionamentos ou cor-
reções.
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O 
discurso mítico 
fica evidente nos poemas 
épicos fundadores da cultura grega 
que chegaram até nós. A Ilíada e a Odis-
seia de Homero (séc. IX a.C.), por exemplo, 
captam a sensibilidade mitológica da Grécia 
Antiga, cujos eventos da existência humana 
eram concebidos como consequências das 
ações dos deuses. 
Introdução à filosofia antiga - Unidade 1
 Nesse contexto, todas as 
explicações para a realidade 
eram propiciadas pelo mito. 
Um dos elementos centrais 
do pensamento mítico é a 
referência ao sobrenatural, 
ao mistério e ao divino. 
O próprio termo grego 
mythos denota um discur-
so fictício. Trata-se de uma 
narrativa imaginária, de lin-
guagem poética, que invoca uma 
série de deuses e heróis para explicar 
a existência humana. 
Brand X Pictures / Getty im
aGes
Narrativa lendária que busca explicações do funcionamento 
da natureza através do “apelo ao sobrenatural, ao divino e ao miste-
rioso” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 189).
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Filosofia da educação
O pensamento filosófico nasce de uma insatisfação em relação à 
explicação mítica do real. O mito deixa de satisfazer às necessidades da 
nova organização social, preocupada com a realidade 
concreta, com a atividade política e com as tro-
cas comerciais. O aspecto regulador e coletivo 
da cidade-Estado, isto é, da pólis, foi um 
fator decisivo para o surgimento da filosofia 
como uma visão ordenada do mundo. Os 
gregos instituíram a política e passaram a 
organizar as cidades a partir das leis e insti-
tuições públicas, cujas decisões eram tomadas 
por meio de debates e votos em assembleias que 
preservavam a ideia de justiça, de coletividade e de cidadão.
As viagens marítimas propiciaram a desmistificação do mundo, que 
passou a exigir, então, uma explicação da realidade que o mito já não era 
capaz de oferecer. O tempo passou a ser organizado segundo as estações 
do ano e as horas do dia, sendo concebido como algo natural e não mais 
como um poder divino fora da compreensão dos homens. O surgimento 
da moeda, a invenção da escrita alfabética e o aparecimento de uma classe 
forte de comerciantes também são aspectos que favoreceram a origem da 
filosofia na Grécia Antiga. 
Principais fatores que favoreceram o surgimento da filosofia no 
mundo grego:
a estabilização da sociedade grega; –
a consolidação das cidades-Estado e da política (pólis); –
o surgimento da vida urbana e do cidadão; –
o desenvolvimento da atividade comercial propiciado pela –
expansão das viagens marítimas;
a invenção do calendário, da moeda e da escrita alfabética. –
Noções funUamentaUs Ua fUlosofUa nascente U.2 
A filosofia nascente formulou um conjunto de noções para explicar 
racionalmente a origem e a ordem do universo. Aqui iremos destacar os 
 
Conexão: 
Filmografia indicada:
A Odisseia (Francis Ford 
Coppola, 1997)
Troia (Wolfang Petertsen, 2004)
Termo grego que significa cidade organizada por leis e instituições; 
reunião dos cidadãos em território e leis próprias (CHAUI, 2002, p. 509).
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termos que mais aparecem nas discussões filosóficas do Período Antigo, 
que são: princípio ou arqué; natureza ou physis; ordem universal ou kós-
mos (cosmos); e o termo logos, que tanto pode significar razão, pensa-
mento ou discurso. 
O termo arqué surgiu na tentativa de os primeiros filósofos pos-
tularem, a partir da observação dos fenômenos naturais, a existência de 
um elemento primordial e gerador de tudo o que existe. Arqué significa 
origem ou princípio, o fundamento de toda a existência natural das coisas. 
O primeiro filósofo-cientista que formulou essa noção foi Tales de Mileto, 
afirmando ser a água o elemento primordial de toda a existência. 
Outrapalavra essencial na constituição do pensamento filosófico 
é physis, traduzida para o português como natureza. O termo surge para 
designar a manifestação de uma força que cresce, desenvolve-se e se 
renova incessantemente; é a realidade primeira e última porque abarca a 
totalidade de tudo o que é. Por isso, os primeiros filósofos são chamados 
de estudiosos ou teóricos da natureza. 
A palavra kósmos é entendida como a ordem da natureza ou do 
mundo, o oposto de caos. O cosmo é o mundo natural, uma realidade 
ordenada de acordo com certos princípios racionais; está relacionado às 
ideias de ordem, harmonia e beleza. A cosmologia “é a explicação da or-
dem do mundo, do universo, pela determinação de um princípio originário 
e racional que é origem e causa das coisas e de sua ordenação” (CHAUI, 
2002, p. 37).
Na linguagem grega clássica, logos significa “palavra”, “discurso”, 
“argumentação”, “pensamento” e “razão”. É o discurso racional e argu-
mentativo que objetiva explicar o real por meio de causas justificadas, 
diferentemente do discurso mítico, que, como vimos na seção anterior, 
recorre aos deuses na descrição do real. Logos é um conceito que possui 
diversos sentidos em diferentes correntes da filosofia, como veremos na 
sequência de nossos estudos. 
Atente-se para os principais aspectos da filosofia nascente aponta-
dos por Chaui (2002, p. 39): 
tendência à racionalidade, e não ao pensamento mítico; –
busca de respostas concludentes de um problema; –
elaboração de princípios universais (princípios lógicos); –
ausência de explicações preestabelecidas; –
exigência de investigação para responder aos problemas pos- –
tos pela natureza;
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Filosofia da educação
tendência à generalização, isto é, a oferecer explicações de –
alcance geral (e mesmo universal).
Os fUlósofos pré-socrátUcosU.3 
O pensamento filosófico, como vimos na seção anterior, foi des-
pertado pela busca de uma explicação racional dos fenômenos naturais, 
levando à relação entre physis (natureza), arqué (elemento primordial), 
kósmos (ordem da natureza) e logos (pensamento). Nesta seção, iremos 
estudar os pré-socráticos, filósofos assim chamados por terem vivido 
antes ou no mesmo período que Sócrates (470-399 a.C.) e que se empe-
nharam na busca pelo conhecimento racional. 
Apresentaremos aqui um quadro geral dos filósofos pré-socráticos – 
os estudiosos da natureza – e de suas principais ideias, procurando destacar 
a importância desse movimento para o desenvolvimento da filosofia antiga. 
Tales de Mileto
Os historiadores da filosofia apresentam Tales de Mileto (623-543 
a.C., aproximadamente) como o primeiro pensador a tratar de modo siste-
mático e racional do problema da origem e da transformação do mundo. 
Tales fez algumas descobertas astronômicas, como a previsão do eclipse 
solar e a identificação da constelação da Ursa Menor. Em busca da arqué, 
Tales afirmou ser a água o princípio de todo o universo, por considerá-la 
um elemento natural diretamente vinculado à vida.
Anaximandro de Mileto
Anaximandro (610-547 a.C.) defendeu o pensamento como princi-
pal meio de explicação do mundo e apresentou o ápeiron como o elemen-
to primordial da natureza: o que é sem fim, imenso, ilimitado, infinito e 
indeterminado. Nesse aspecto, a physis não poderia ser nenhum dos ele-
mentos materiais percebidos e definidos na natureza. 
Anaxímenes de Mileto
Partindo da ideia de que a physis é determinada ou qualificada, pois 
o pensamento só pode pensar o que possui determinações, Anaxímenes 
(588-524 a.C.) considerou o ar o elemento essencial da natureza, uma vez 
que ele é incorpóreo e se encontra em toda parte do mundo. 
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Pitágoras de Samos
Assim como todos os primeiros filósofos, Pitágoras (570-490 a.C.) 
se empenhou na busca da physis, afirmando que o princípio de tudo é o 
número, por considerar que as coisas são ritmos, proporções, relações, so-
mas, subtrações, combinações e dissociações ordenadas e reguladas. Essa 
concepção do número como elemento primordial reflete-se na tetractys 
(ver figura abaixo), símbolo da relação perfeita que resulta da soma (10) 
dos quatro primeiros algarismos (1, 2, 3, 4): 
Heráclito de Éfeso
Entre os pré-socráticos, Heráclito (500 a.C., aproximadamente) é 
considerado o principal representante do mobilismo, concepção segun-
do a qual a realidade natural se caracteriza pelo movimento, isto é, pela 
“pluralidade do real”. O caráter dinâmico da realidade é simbolizado 
pelo fogo, concebido por Heráclito como o elemento primordial da na-
tureza. O fragmento mais conhecido de Heráclito é o que diz que “não 
podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque suas águas não são 
nunca as mesmas e nós não somos nunca os mesmos”. Esse fragmento 
expressa a ideia defendida por Heráclito de que a principal característica 
do mundo é a mudança contínua de todas as coisas. Entre os principais 
fragmentos do pré-socrático Heráclito a favor do mobilismo, destaca-
mos os seguintes:
[...] Tudo se faz por contraste, da luta dos contrários nasce a mais 
bela harmonia.
[...] Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas 
águas. Mas também almas são exaladas do úmido. 
[...] Descemos e não descemos para dentro dos mesmos rios; somos 
e não somos.
 Doutrina segundo a qual o fundamento das coisas é o mo-
vimento, a transformação contínua: a realidade está em contínua 
mudança.
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Filosofia da educação
[...] Todos os homens podem conhecer a si mesmos e pensar sensa-
tamente.
[...] O frio torna-se quente, o quente frio, o úmido seco, e o seco 
úmido.
 In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Filosofia: dos pré-
socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 15-17.
Demócrito de Abdera
Dizemos que Demócrito (490-430 a.C.) defendeu uma doutrina 
atomista por sustentar que a realidade consiste em átomos e no vazio. 
Segundo Demócrito, os átomos se atraem e se repelem, gerando com isso 
os fenômenos naturais e o movimento. Marcondes (2002, p. 35) observa 
que a doutrina de Demócrito antecipa a física atômica contemporânea, 
que deriva sua noção de átomo dessa tradição, embora haja profundas di-
ferenças entre ambas. 
 
Parmênides de Eleia
Ao contrário dos mobilistas, Parmênides (570-470 a.C.) defendeu 
uma posição monista, doutrina que afirma a existência de uma realidade 
única, que “busca aquilo que é único, permanente, estável, eterno, per-
feito” (MARCONDES, 2002, p. 38). O argumento inicial formulado por 
Parmênides contra o mobilismo descreve o movimento como um aspecto 
superficial e aparente das coisas, pois a realidade consiste no ser imóvel, 
imutável, uno, indivisível e pleno. Parmênides introduziu umas das distin-
ções mais básicas da filosofia: a dissociação entre realidade e aparência. 
Conheça um trecho do poema de Parmênides intitulado As duas vias:
[...] Pouco me importa por onde eu comece, pois para lá sempre 
voltarei novamente. Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois 
o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: afirmação que bem deves 
considerar. Desta via de investigação, eu te afasto; mas também da-
quela outra, na qual vagueiam os mortais que nada sabem, cabeças 
duplas. Pois é a ausência de meios que move, em seu peito, o seu 
espírito errante. Deixam-se levar, surdos e cegos, mentes obtusas, 
massa indecisa, para a qual o ser e o não-ser é considerado o mes-
Sistema filosófico que considera que o conjunto das coisas 
seja redutível à unidade, isto é, ao que não se transforma.
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mo e não o mesmo, e para a qual em tudo há uma via contraditória. 
(PARMÊNIDES. As duas vias. In: MARCONDES, Danilo. Textos 
básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de 
Janeiro: JorgeZahar, 2009. p. 13.)
Zenão de Eleia
Zenão (488-430 a.C.) foi considerado por Aristóteles o criador da 
dialética, tipo de argumentação que se caracteriza pelo confronto entre 
duas teses opostas ou contrárias empregadas para provar que nenhuma 
das teses em exposição é verdadeira ou que uma delas é contraditória. 
Discípulo de Parmênides, Zenão argumentou a favor do monismo. Seu 
fragmento mais conhecido afirma que uma flecha disparada em direção 
a um alvo, na verdade, permanece imóvel, pois, a cada ponto em que se 
encontra, a flecha deve percorrer uma distância igual a seu comprimento.
Os sofUstasU.4 
O movimento sofista surgiu em Atenas no século V a.C., num perí-
odo em que a filosofia deixou de ocupar-se unicamente com explicações 
da natureza e passou a analisar temas da política, da ética e da teoria 
do conhecimento. Muito do que sabemos dos sofistas foi relatado por 
Platão, que os definiu como falsificadores da filosofia. Como veremos 
no decorrer da disciplina, as acusações dirigidas por Platão aos sofistas 
reduziam-se a duas: que eles não eram pensadores sérios e não tinham 
papel nenhum na história da filosofia e que seus ensinamentos eram pro-
fundamente imorais.
Mas desde o final do século XIX, segundo observa Chaui (2002), 
os historiadores da filosofia antiga passaram a considerar os sofistas os 
fundadores da pedagogia democrática, mestres da arte da educação do 
cidadão. A natureza e a finalidade da educação, o papel do professor 
na sociedade, o que e como ensinar já eram problemas formulados e 
discutidos pelos sofistas, cuja reflexão incluía discussões sobre a teoria do 
conhecimento e da percepção e sobre a natureza da verdade, criando uma 
sociologia do conhecimento dirigida a problemas teóricos e práticos da 
vida em sociedade.
Os sofistas surgiram no momento de transição da tirania e da oligar-
quia para a democracia, forma de governo que evocava a igualdade de leis 
para todos e a extinção dos privilégios aristocráticos. Mestres de oratória, 
os sofistas ensinavam a arte de argumentar e persuadir por meio do dis-
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Filosofia da educação
curso, ou seja, de técnicas para argumentar e tornar efetivo um discurso 
diante de opiniões contraditórias, habilidades estas necessárias para a par-
ticipação da vida política. Também investigavam temas relativos à ação 
do homem em sociedade (moral e ética), ensinando o caminho da areté, 
palavra que na filosofia antiga indica um conjunto de valores (físicos, 
morais, éticos, políticos) que expressa um ideal de excelência e de valor 
humano para os membros da sociedade.
A educação era concebida pelos sofistas como a solução para todos 
os problemas sociais e políticos. Ademais, eles consideravam possível 
ensinar a virtude para todos os homens. De acordo com Kerferd (2003, p. 
12), os seguintes temas prevaleceram nos ensinamentos dos sofistas: “a 
necessidade de aceitar o relativismo nos valores e noutras coisas, sem re-
duzir tudo ao subjetivismo; e a crença de que não há área da vida humana, 
ou do mundo como um todo, que seja imune à compreensão alcançada por 
meio de debate racional”. 
 A sofística também despertou dúvidas quanto à pretensão da filo-
sofia de conhecer a verdade absoluta, favorecendo com isso o surgimento 
do relativismo e do humanismo. O fragmento mais importante que co-
nhecemos do sofista Protágoras (490-421 a.C., aproximadamente) afirma 
que “o homem é a medida de todas 
as coisas, das que são e das que 
não são”. Protágoras valori-
zava as explicações do real 
a partir dos fenômenos e 
das circunstâncias, aproxi-
mado-se dos mobilistas e 
afastando-se dos monistas. 
O sofista Górgias (485-380 
a.C., aproximadamente), 
por sua vez, defendeu a im-
possibilidade do conhecimento 
definitivo. 
Na 
visão defendida 
por Platão, os sofistas foram 
os falsos filósofos, vendedores de 
um falso conhecimento, mestres em 
enganar com as palavras. Na realidade, sem 
intenção pejorativa, entende-se por sofista 
aquele que tem como profissão ensinar a 
sabedoria. A crítica de Platão aos sofistas se 
concentra no seguinte aspecto: para Platão, a 
virtude (sabedoria) dos filósofos é um bem 
inato, isto é, presente no indivíduo 
desde seu nascimento, não 
podendo ser ensinada.
Humanismo, no contexto dos sofistas, significa a valoriza-
ção do homem na explicação da realidade. Relativismo é a verdade 
circunstancial, isto é, que depende de um determinado contexto ou 
ocasião.
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FUlosofUa e eUucação em SócratesU.5 
Sócrates nasceu em Atenas por volta de 469 a.C. e foi condenado à 
morte em 399 a.C., aos 70 anos de idade, acusa-
do de ter corrompido a juventude ateniense com 
seus questionamentos (a figura ao lado retrata 
o busto de Sócrates). Filho de um escultor e de 
uma parteira, Sócrates não deixou nada escrito, 
pois valorizava o debate e os ensinamentos orais 
em lugares abertos e públicos. Muito do que sa-
bemos do pensamento de Sócrates foi divulgado 
por Platão, seu principal discípulo, especialmen-
te a partir dos diálogos socráticos, nos quais Só-
crates é o personagem central e defensor de suas 
próprias ideias. Esses diálogos também são classificados de aporéticos (de 
aporia) devido ao impasse que causam e por serem inconclusivos.
É importante observar que o pensamento de Sócrates marca o nasci-
mento da filosofia clássica, também representada por Platão e Aristóteles, 
por aprofundar questões em torno das práticas políticas da época e moti-
var a independência do pensamento na formação do homem. Visto como 
um fenômeno pedagógico da história ocidental, Sócrates se preocupava 
com o “bem-estar físico e espiritual” das pessoas com quem conversava. 
Pelo diálogo, Sócrates desejava conduzir todos homens à virtude política 
e à descoberta de novos caminhos para conhecer a verdadeira essência das 
coisas. 
Pagni e Silva (2007, p. 26) observam que a forma adotada por Só-
crates na efetivação da prática filosófica não é a mesma da dos sofistas. 
Enquanto estes adotavam a “postura do professor” de técnicas, estratégias 
e conhecimentos que consideravam necessários para o convívio social na 
pólis, aquele apresentava o diálogo como forma de buscar a verdade. E, 
por essa via, o filósofo fez da filosofia uma pedagogia da razão, condição 
fundamental para a compreensão do cotidiano de ações e pensamentos.
Duas epígrafes parecem ter orientado a filosofia e a educação so-
crática: “conhece-te a ti mesmo” e “sei que nada sei”. Segundo retrata 
a historiografia, Sócrates teria ido ao templo de Apolo Delfo para saber 
quem era o homem mais sábio de Atenas, recebendo a confirmação de que 
ele era o mais sábio dos homens não devido à sua sapiência, mas por re-
conhecer que nada sabia. De fato, Sócrates concebia a filosofia como um 
editora coc
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Filosofia da educação
meio para se buscar a verdade e a sabedoria diante do reconhecimento da 
nossa ignorância.
O método educativo e filosófico de Sócrates tem como fundamento 
a maiêutica, um procedimento dialético que envolve um questionamen-
to do senso comum e que objetiva revelar a fragilidade do entendimento 
humano sobre as coisas, mas sem deixar de apontar para a possibilidade 
de se aperfeiçoar as ideias mediante a reflexão. No diálogo Teeteto, Pla-
tão explica que Sócrates define sua tarefa filosófica por meio da analogia 
com ao trabalho de uma parteira, para afirmar que o papel do filósofo é a 
arte de fazer o “parto das ideias”. Sócrates, partindo das opiniões de seu 
interlocutor sobre algo, pautado na discussão dialética, procurava fazê-lo 
cair em contradição de modo que reconhecesse sua ignorância a respeito 
daquilo que julgava saber. 
A definição correta nunca é dada pelo próprio Sócrates, mas é atra-
vés do diálogo, e da discussão, que Sócrates fará com que seu inter-
locutor– ao cair em contradição, ao hesitar quando parecia seguro 
– passe por todo um processo de revisão de suas crenças e opiniões, 
transformando sua maneira de ver as coisas e chegando, por si 
mesmo, ao verdadeiro e autêntico conhecimento. (MARCONDES, 
2002, p. 47-48.)
 
Conexão: 
Para conhecer melhor o método 
filosófico e educativo de Sócrates – a 
maiêutica socrática –, leia o diálogo socrático 
retratado por Platão no Mênon. Nesse diálogo, o 
objetivo principal de Platão é mostrar que a virtude 
não pode ser ensinada, por consistir em algo que já 
trazemos conosco desde o nosso nascimento. Você 
encontra esse diálogo em: MARCONDES, Danilo. 
Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a 
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 
p. 32-33. 
Um trecho desse diálogo também 
encontra-se disponível no 
AVA.
 Do grego maieutiké, que significa a arte de realizar um parto. 
Segundo Chaui (2002, p. 505), Platão criou a palavra maieutiké para 
referir-se ao “parto das ideias” realizado pelo método socrático.
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FUlosofUa e eUucação no pensamento Ue PlatãoU.6 
Platão nasceu em Atenas em 427 a.C. e 
faleceu em 347 a.C. Durante sua formação, ad-
quiriu os ensinamentos da retórica dos sofistas, 
necessária à sua participação da vida política. 
Discípulo de Sócrates, Platão foi o principal 
divulgador do pensamento e da vida de seu 
mestre, personagem central da maioria de seus 
diálogos. Em 387 a.C., após seu retorno da 
Sicília, Platão fundou sua escola filosófica em 
Atenas, a Academia, e passou a desenvolver sua 
teoria do conhecimento – por ele chamada de 
Teoria das Formas ou Ideias.
A filosofia platônica almejava a educação (paideia) do homem e a 
solução dos problemas éticos e políticos de seu tempo a partir da forma-
ção de filósofos governantes, uma vez que Platão via na sabedoria, mais 
especificamente na filosofia, a condição para a constituição da pólis justa. 
Os diálogos O Banquete e A República são essenciais para compreender a 
concepção filosófica defendida por Platão e o seu ideal do filósofo como 
educador no Estado justo. No primeiro diálogo, Platão apresenta a filoso-
fia como pedagogia do homem sábio e virtuoso; no segundo, explicita o 
fundamento dessa pedagogia, a teoria da alma (psykhé), a fim de concre-
tizar as bases éticas da educação e da filosofia. A tese defendida por Pla-
tão é a de que a solução dos problemas na formação do homem virtuoso 
estaria na relação entre o poder político e o espírito filosófico, cabendo à 
filosofia desvelar o caminho certo para governar e educar a cidade. 
A teoria platônica sobre a natureza dos conceitos envolve, ao mes-
mo tempo, o “abandono” do mundo sensível e a busca do mundo das 
ideias; vejamos o porquê disso: 
Platão supôs que temos um conhecimento prévio de que a alma traz 
consigo, desde o seu nascimento e como resultado do conhecimento das 
formas, as essências das coisas, às quais contemplou no mundo das ideias 
antes de encarnar no corpo material. No mundo sensível, o homem só 
possui uma visão obscurecida das formas, e o papel do filósofo é fazer 
despertar esse conhecimento esquecido. 
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Filosofia da educação
É importante observar que, em Platão, a tarefa da filosofia é essen-
cialmente teórica, contemplativa e dirigida para uma realidade abstrata e 
ideal. Sobre esse assunto, considera-se que Platão defende uma visão dua-
lista da realidade, uma vez que afirma existirem dois mundos: um mundo 
real ou inteligível, no qual se encontram as essências do conhecimento; e 
o mundo ilusório ou sensível, o mundo no qual vivenciamos nossas expe-
riências sensíveis e ilusórias. Você deve observar que, para Platão, o ver-
dadeiro conhecimento não está no “mundo sensível”, mas sim no “mundo 
inteligível”.
A teoria das ideias é apresentada por Platão em A República, espe-
cialmente no capítulo dedicado à alegoria da caverna, texto que sintetiza 
alguns dos temas centrais da filosofia platônica. Veja um trecho deste 
diálogo: 
(...) Imagine homens que vivem em uma espécie de morada sub-
terrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda 
largura da fachada. Os homens estão no interior desde sempre, 
acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem 
mudar de lugar e nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja 
diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, 
ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que 
sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, 
semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem 
entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e 
apresentam o espetáculo. (PLATÃO. A República. In: MARCON-
DES, Danilo. Textos básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a 
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 39-43.)
Como podemos observar, a visão de Platão 
acerca do conhecimento é uma visão inatista, 
uma vez que o filósofo acredita que a alma 
traz consigo, ao encarnar-se em um corpo, 
ideias que contemplou no mundo inteli-
gível, das quais agora apenas se recorda. 
Inatismo é a concepção segundo a qual 
as ideias ou os princípios nascem com os 
indivíduos, independentemente de qualquer 
experiência. 
 
Conexão: 
Como atividade comple-
mentar, assista ao filme Truman, 
o show da vida (Peter Weir, 1998), 
atentando-se às possíveis relações 
que podem ser feitas com a alegoria da 
caverna de Platão. Leia também o texto 
e os comentários disponibilizados no 
Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem (AVA) sobre esse tema.
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Introdução à filosofia antiga - Unidade 1
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A teorUa Uo conhecUmento e a eUucação Ua U.7 
vUrtuUe em ArUstóteles
Aristóteles nasceu em 384 a.C. na 
cidade de Estagira e morreu aos 63 anos na 
Ilha de Eubeia (322 a.C.). Foi para Atenas 
aos 18 anos de idade e se integrou à Acade-
mia de Platão, lugar que permaneceu por 19 
anos. Depois disso, atuou como preceptor de 
Alexandre, filho do rei Felipe. Sob o reinado 
alexandrino (335 a.C.), Aristóteles retornou 
a Atenas e fundou sua própria escola filosó-
fica, o Liceu.
A produção intelectual de Aristóteles 
efetivou-se em dois tipos de escritos: exoté-
ricos, sobre retórica e dialética, dedicados 
ao público em geral; e esotéricos ou acroa-
máticos, de caráter didático, destinados ex-
clusivamente aos frequentadores do Liceu, 
abordando assuntos como física, matemática, 
ética e política.
Aristóteles também sistematizou os saberes 
de acordo com as seguintes categorias:
saber teorético•	 (epistéme), que inclui a filosofia primeira (Metafísi-
ca), a filosofia segunda (Física) e a Matemática; 
saber prático•	 (práxis), conhecimento relacionado à ética e à política; 
saber produtivo•	 (poiésis), dedicado à poética e à retórica.
Na Metafísica, uma das mais importantes obras de Aristóteles, o 
filósofo nos diz que as coisas (o ser) podem ser definidas por:
essência e acidente•	 : essência é tudo aquilo que faz com que a coisa 
seja o que é, e os acidentes são as características mutáveis da coisa;
necessidade e contingência•	 : as características essenciais são neces-
sárias, enquanto as contingentes são variáveis e mutáveis;
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Conexão: 
Sobre a educação de 
Alexandre exercida por Aristó-
teles, assista ao filme Alexandre, 
o Grande (Oliver Stone, 2004)
282
Filosofia da educação
ato e potência•	 : uma coisa pode ser una e múltipla. A semente, por 
exemplo, é, em ato, semente, mas contém em potência a árvore.
Aristóteles também elaborou o Órganon, obra que reúne seus prin-
cipais tratados sobre a lógica. O objeto principal de estudo da lógica é o 
silogismo, um raciocínio pelo qual, de determinadas premissas, chega-se 
a uma conclusão. Vejamos umexemplo de silogismo: 
Premissa maior: “Todo homem é mortal.”
Premissa menor: “Sócrates é homem.”
Conclusão: “Logo, Sócrates é mortal.” 
Determinadas concepções de Platão permaneceram em Aristóteles. 
Por exemplo, a filosofia aristotélica não se opôs à prioridade da razão (lo-
gos) sobre as experiências vivenciadas no mundo sensível defendida por 
Platão. No entanto, ao contrário de Platão, segundo explica Cunha (2007, 
p. 64), Aristóteles defendeu a tese de que o conhecimento se inicia pelos 
sentidos e culmina numa sabedoria superior que diz respeito à compreen-
são da natureza do real, ou seja, dos princípios que regem o ser enquanto 
ser. Isso significa dizer que o conhecimento decorre do “esforço sistemá-
tico de pensar sobre o que é experienciado, não consistindo num mundo à 
parte do que é captado por intermédio dos sentidos”.
A “escada” do conhecimento, segundo Aristóteles
 Sabedoria (sophia) ⇒
 Ciência (epistéme) ⇒
 Arte (tékhne) ⇒
 Experiência (empeiria) ⇒
 Memória (mnemosýne) ⇒
 Sentidos (aísthesis) ⇒
CUNHA, Marcus Vinicius. O conhecimento e a formação humana no 
pensamento de Aristóteles. In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José 
(Org.). Introdução à filosofia da educação. São Paulo: Avercamp, 2007. p. 64. 
“De um modo geral, a lógica é o estudo da estrutura (silogis-
mo) e dos princípios relativos à argumentação válida” (JAPIASSÚ; 
MARCONDES, 2008, p. 171).
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Introdução à filosofia antiga - Unidade 1
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O quadro anterior ilustra a teoria do conhecimento defendida por 
Aristóteles, elaborada a partir de uma crítica ao pensamento de Platão, es-
pecialmente à teoria das ideias. Em Aristóteles, o processo do conhecimen-
to se inicia com os sentidos, não aceitando a proposição de Platão de que 
os sentidos são pouco confiáveis, aparências ou ilusões. A memória é ne-
cessária para retermos os dados sensíveis e para que o processo de conhe-
cimento se prossiga. Com os dados que recebemos dos sentidos, os quais 
guardamos na memória, constituímos a experiência. Esta, por sua vez, é 
quem fornece os elementos de que precisamos para adquirir a arte e a ci-
ência. O objetivo próprio da tékhne é descobrir o porquê das coisas, isto é, 
as suas causas; este é o nível em que temos a possibilidade de ensinar, ex-
plica Marcondes (2002, p. 81), “já que o ensinamento envolve a determina-
ção de regras e de relações causais, que transmitimos quando ensinamos”. 
Ciência é conhecimento sistematizado dos conceitos e princípios que re-
gulam as leis da natureza. A última etapa do conhecimento é a sabedoria, 
o conhecimento das causas primeiras e universais: a metafísica. 
Aristóteles não concordava com a teoria das ideias platônicas e com 
o dualismo entre o mundo das formas e o mundo natural. Outra importante 
diferença entre Aristóteles e Platão diz respeito ao ensino da virtude. En-
quanto Platão defendia a ideia de que não era possível ensinar a virtude, 
por consistir em algo que já trazemos conosco desde o nosso nascimento, 
Aristóteles afirmava ser a virtude um hábito. Em Ética a Nicômaco, texto 
dedicado à ética, Aristóteles nos diz que a virtude é um hábito possível 
de ser ensinado e um dos objetivos mais importantes da educação do ho-
mem: 
Há duas espécies de excelência: a intelectual e a moral. Em grande 
parte a excelência intelectual deve tanto o seu nascimento quanto o 
seu desenvolvimento à instrução (por isto ela requer experiência e 
tempo); quanto à excelência moral, ela é o produto do hábito, razão 
pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da pala-
vra “hábito”. [...] As coisas que temos de aprender antes de fazer, 
aprendemo-las fazendo-as – por exemplo, os homens se tornam 
construtores construindo [...]; da mesma forma, tornamo-nos justos 
Metafísica é definida como “filosofia primeira” que exami-
na os princípios e as causas primeiras das coisas (JAPIASSÚ; MAR-
CONDES, 2008, p. 185).
284
Filosofia da educação
praticando atos justos, moderados agindo moderadamente, e corajo-
so agindo corajosamente [...]. Com efeito, se não fosse assim, não 
haveria necessidades de professores, pois todos os homens teriam 
nascido bem ou mal dotados para as suas profissões. (ARISTÓTE-
LES. Ética a Nicômaco. In: MARCONDES, Danilo. Textos bási-
cos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2009. p. 53.) 
 
De um modo geral, a educação defendida por Aristóteles visava a 
promover o bem supremo entre os membros da sociedade, conferindo à 
amizade um valor político e pedagógico. Segundo Cunha (2007, p. 64), a 
amizade assume valor pedagógico na visão de Aristóteles na medida em 
que as “virtudes podem ser aprendidas numa relação, seja numa relação 
entre iguais, seja entre diferentes, tornando-se a confiança o pressuposto 
da verdadeira educação e da verdadeira Filosofia”. 
O PeríoUo HelenístUcoU.8 
O Período Helenístico vai do século IV 
a.C. até o século VII d.C. Durante o helenismo, 
foram fundadas diversas cidades sob a influência 
da cultura grega, entre elas, Alexandria, grande 
centro político e cultural projetada por Alexan-
dre (332 a.C.). No século I a.C., Alexandria era 
uma cidade cosmopolita, onde conviviam várias 
culturas: egípcia, grega e romana. O ecletismo 
foi um traços fundamentais do helenismo, o que 
favoreceu a aproximação entre a cultura judaica 
e a filosofia grega, possibilitando, mais tarde, o 
surgimento da filosofia cristã (Idade Média). 
A produção filosófica helenística preocupou-se, sobretudo, em de-
senvolver comentários sobre as obras clássicas de Platão e Aristóteles e de 
conservá-las. A biblioteca de Alexandria, formada a partir da biblioteca e do 
acervo de Aristóteles, chegou a ter mais de 500.000 volumes de papiros. 
O helenismo foi um período marcado pelas discussões sobre ética e 
pelo surgimento das seguintes escolas filosóficas: o estoicismo, o epicu-
rismo e o pirronismo ou ceticismo.
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A •	 escola estoica foi fundada em Atenas em 300 a.C. por Zenão de 
Cítio (332-262 a.C.). Nessa perspectiva, a filosofia era concebida de 
forma sistemática e composta de três partes fundamentais: a física, 
a lógica e a ética. As virtudes almejadas eram a inteligência – o co-
nhecimento do bem e do mal; a coragem – o conhecimento do que 
temer e do que não temer; e a justiça – o conhecimento do que é 
próprio de cada um. 
O •	 epicurismo foi fundado por Epicuro (341-270 a.C.) em Atenas, 
por volta de 306 a.C. Entre suas principais características, podemos 
destacar a defesa da física materialista, atomista e mobilista. 
O •	 pirronismo, originalmente decorrente de Pirro de Élis (360-275 
a.C.), assegurava a impossibilidade de afirmar, seja em favor de 
que podemos, seja em favor de que não podemos conhecer. A prin-
cipal característica dessa escola filosófica encontra-se na proposta 
de suspender o juízo (époche) diante dos conflitos filosóficos. Nos 
séculos seguintes, vários pensadores seguiram alguns dos princí-
pios pirrônicos em defesa da investigação (sképsis) sem apego a 
dogmas.
AtUvUUaUes
Questões e temas para discussão relacionados à unidade 1
O que é Filosofia?01. 
O que diferencia o pensamento mítico do pensamento filosófico?02. 
286
Filosofia da educação
Qual a contribuição dos filósofos pré-socráticos para o desenvolvi-03. 
mento do pensamento filosófico?
O que significa mobilismo e monismo na filosofia dos pré-socráticos?04. 
Qual a finalidade dos ensinamentos sofistas?05. 
Qual o objetivo da filosofia e da educação em Sócrates?06. 
Como Platão descreve a realidade na alegoria da caverna?07. 
Quais os principais pontos de divergência entre a filosofia de Platão e 08. 
a de Aristóteles?
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Introdução à filosofiaantiga - Unidade 1
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Qual a visão de Aristóteles em torno da educação e da virtude?09. 
Quais são as principais escolas filosóficas do helenismo?10. 
Desfecho Ua unUUaUe
Reflexão
Nesta unidade, vimos o contexto de origem do pensamento filosó-
fico e sua crítica aos discursos míticos. Também conhecemos um pouco 
sobre os principais representantes da filosofia antiga, começando com os 
pré-socráticos, Platão, Aristóteles, chegando até o helenismo. Como você 
pode perceber, a questão do conhecimento é assunto-chave para todos 
aqueles filósofos que também viam na educação a base para a construção 
de um novo ideal de sociedade.
LeUturas recomenUaUas
Você pode se aprofundar nos temas discutidos na unidade 1! 
Sobre os ensinamentos sofistas, leia o tema “A educação na filosofia •	
de Sócrates”, em PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José (org.). 
Introdução à filosofia da educação: temas contemporâneos e his-
tória. São Paulo: Avercamp, 2007, p. 23-24. Trata-se de um texto no 
qual os autores explicam com mais detalhe a relação entre a edu-
cação oferecida pelos sofistas e a formação do homem virtuoso. O 
mesmo tema é cuidadosamente abordado por KERFERD, G. B. O 
movimento sofista. Tradução Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 
2003.
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Filosofia da educação
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Ua
Ue
 2
 
Recomenda-se a leitura do texto •	 Apologia de Sócrates, disponível 
no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), para que você possa 
reconhecer a importância do diálogo e da argumentação no pensa-
mento de Sócrates.
Para ter um conhecimento específico sobre a teoria do conhecimento •	
de Aristóteles, leia o texto Metafísica, também disponível no AVA. 
ReferêncUas
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. v.1. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2002.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de fi-
losofia. 5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
KERFERD, G. B. O movimento sofista. Tradução Margarida Oliva. 
São Paulo: Loyola, 2003.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 2002. 
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráti-
cos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 
PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José (Org.). Introdução à 
filosofia da educação: temas contemporâneos e história. São Paulo: 
Avercamp, 2007.
Na próxUma unUUaUe
Na próxima unidade, daremos continuidade à história da filosofia, 
conhecendo as principais características da Filosofia Medieval e da Re-
nascentista, bem como seus dilemas a respeito da formação/educação do 
homem e da busca do conhecimento verdadeiro. Vamos em frente!
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 A filosofia medieval e a filo-sofia renascentista 
Na segunda unidade, iremos estudar o Perí-
odo Medieval da filosofia, buscando reconhecer 
suas principais discussões e fundamentos teológi-
cos, bem como seus objetivos no tocante à educação 
dos homens. 
 Objetivos da sua aprendizagem
Que você seja capaz de compreender a importância dos escritos 
filosóficos e a contribuição da Filosofia Medieval e Renascen-
tista para os estudos educacionais; a teoria do conhecimento de 
Agostinho e Tomás de Aquino; as mudanças sociais e o papel da 
Igreja na Idade Média; a visão renascentista do mundo e as críticas à 
escolástica; os ideais humanistas e o papel do professor na educação 
das crianças, segundo Montaigne.
Você se lembra?
Você se lembra de algum filme ou livro que retrata a força do cristianis-
mo no Período Medieval? Você já apreciou alguma obra renascentista, 
como os quadros de Leonardo da Vinci, por exemplo, a Mona Lisa? Você 
conhece a história dos principais representantes desses dois períodos da 
humanidade, tão divergentes um do outro no tocante aos seus ideais? 
Aqui, iremos conhecer as principais características da Filosofia Medie-
val e da Filosofia Renascentista e suas discussões sobre o funciona-
mento do universo.
 
290
Filosofia da educação
Contexto hUstórUco Ua FUlosofUa MeUUeval2.U 
A Filosofia Medieval corresponde ao período que vai do final do helenis-
mo (séc.VII) até o Renascimento (final do séc. XIV). Com a queda do Império 
Romano (séc.V), já então cristão, e as invasões dos bárbaros pagãos, a Igreja 
buscou na conciliação do conhecimento greco-romano com as doutrinas cristãs 
um caminho oportuno para combater as diversas formas de recusa à visão cris-
tã. Foi um período propício para o surgimento da escolástica, para a sistemati-
zação do saber teológico e para o monopólio da Igreja nos campos da educação 
e da cultura, principalmente a partir da criação das universidades (séc. XII).
O sistema escolar foi constituído neste período, primeiramente com 
o surgimento de conventos, escolas catedrais e mosteiros (com a finalida-
de de instruir os noviços). Normalmente, essas escolas não dispunham de 
um lugar adequado; o mestre recebia o aluno em diferentes lugares, como 
na igreja ou na sua casa, por exemplo. Em 1200 aproximadamente, sur-
gem as primeiras universidades. 
Sob os auspícios da Igreja, as universidades evoluíam, tornando-se 
notáveis centros de aprendizado onde se reuniam os estudantes de 
todos os pontos da Europa para aprender e assistir a palestras públi-
cas e discussões entre mestres. Conforme se desenvolvia o aprendi-
zado, a atitude dos eruditos em relação ao cristianismo tornava-se 
menos irracional e mais refletida. 
(TARNAS, 2005, p. 198)
Na transição entre o perío-
do clássico e a Filosofia Moder-
na, pensadores cristãos como 
Santo Agostinho e São Tomás 
de Aquino se aproximaram 
das obras clássicas da filosofia 
grega e selecionaram aspectos 
que diziam ser compatíveis com 
a religião cristã para explicarem 
Na 
época medieval, 
as universidades ofereciam 
dois conjuntos principais de dis-
ciplinas: trivium, ensino de gramática, 
retórica e dialética; e o quadrivium, 
ensino de música, geometria, astronomia 
e aritmética.
Escolástica significa os ensinamentos de filosofia e teologia 
ministrados nas escolas e universidades eclesiásticas durante o Perí-
odo Medieval, principalmente entre os séculos IX e XVII, sob os princí-
pios do cristianismo (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 90).
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A filosofia medieval e a filosofia renascentista - Unidade 2
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racionalmente a fé. Santo Agostinho privilegiou a filosofia de Platão, es-
pecialmente seu dualismo entre mundo espiritual e material; São Tomás 
de Aquino, por sua vez, valorizou a lógica aristotélica e seus recursos 
demonstrativos e sistemáticos. Para ambos os filósofos, o cristianismo era 
a representação última da verdade irrefutável. Nesta unidade, teremos a 
oportunidade de conhecer um pouco da história de cada um desses repre-
sentantes, ressaltando seus ideais e estratégias.
Santo AgostUnho2.U.U 
Aurélio Agostinho, bispo de Hipona, 
nasceu em 354 numa província romana no nor-
te da África; aos dezesseis anos foi para Car-
tago estudar. Anos mais tarde, visitou Roma, 
Milão e Hipona, local onde faleceu em 430. 
Embora cronologicamente pertença ao Período 
Antigo, Agostinho é considerado o primeiro 
pensador medieval a elaborar uma síntese en-
tre a tradição filosófica grega e o cristianismo, 
retomando temas centrais da filosofia de Pla-
tão, principalmente o dualismo e a natureza do 
bem, interpretando-os sob a visão da doutrina 
cristã. Vivendo em tempos conturbados, como 
a decadência do Império Romano, Agostinho 
procurava interpretar os eventos históricos à luz da revelação. Assim 
como os grandes nomes da Patrística, o filósofo dedicou-se ao elogio da 
fé cristã e à tentativa de explicar racionalmente a doutrina cristã.
Santo Agostinho afirmava que a verdadeira ciência era a teologia, 
devendo os homens, por isso, dedicarem-se aos ensinamentos da fé cristã 
para obter a salvação desuas almas. Para o filósofo cristão, a “verdade 
vem de Deus, de quem a alma humana carrega diretamente a marca cria-
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Termo que designa a filosofia dos “Padres da Igreja” (sécs. 
I-VIII) que busca a união da fé com a razão (JAPIASSÚ; MAR-
CONDES, 2008, p. 213).
A teologia é a ciência que investiga “tudo o que diz respeito a Deus e 
à fé” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 266).
A filosofia medieval e a filosofia renascentista - Unidade 2
292
Filosofia da educação
Santo Agos-
tinho buscou “aprimorar 
a catequese cristã, à luz de Platão”, 
concebendo “o conhecimento como o desper-
tar da alma para os princípios depositados por Deus 
no intelecto humano”. Para o filósofo, “conhecimento 
e fé são indissociáveis: assim como o conhecimento, a 
fé brota do interior”. Agostinho também levantou elementos 
importantes para a educação moderna, como a “importância 
de pensar o ensino a partir das condições particulares do 
educando, a necessidade de cultivar a subjetividade e a 
preocupação com o caráter humanizador da cultura”. 
In: SILVA, Marcos Roberto Leite. Sobre o papel do mestre 
e do ensino em Agostinho e Tomás de Aquino. In: 
PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José (Org.). 
Introdução à filosofia da educação. 
São Paulo: Avercamp, 2007. p. 
100.
dora” (CAMBI, 1999, p. 136). No diálogo De magistro, escrito provavel-
mente em 389, o tema principal desenvolvido por Santo Agostinho indaga 
sobre o que é ensinar e aprender, o que fez desse diálogo um dos textos 
clássicos da pedagogia. 
Vejamos uma passagem do diálogo: 
No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos, não 
consultamos a voz de quem fala, a qual soa por fora, mas a verdade 
que dentro de nós preside à própria mente, incitados talvez pelas pa-
lavras a consultá-la. Quem é consultado ensina verdadeiramente e 
este é Cristo, que habita, como foi dito, no homem interior. (AGOS-
TINHO. De magistro. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação à his-
tória da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 112.) 
A possibilidade de co-
nhecer, nos diz Agostinho 
em De magistro (sobre 
o mestre), supõe um 
conhecimento prévio 
que torna inteligível a 
própria linguagem do 
homem. Na mesma 
direção da filosofia de 
Platão – inatista –, o 
filósofo defende a ideia 
de que o conhecimento 
não deriva da apreensão 
sensível ou da experiência, 
exigindo um elemento prévio para o 
seu desenvolvimento, o qual chamou, por sua vez, de “luz interna”. Para 
Santo Agostinho, “antes de Deus ter criado o mundo, as ideias já existiam 
dentro da sua cabeça. Ele atribuiu a Deus as ideias eternas e com isto sal-
vou a concepção platônica das ideias eternas” (GAARDER, 1995, p. 194)
Agostinho concordava com a visão platônica de que aprender é re-
cordar, “mas não a partir de um mundo inteligível, o das ideias, e sim de 
um despertar do intelecto para os conteúdos da iluminação divina” (SIL-
VA, 2007, p. 89). Segundo Agostinho, para entender as coisas do mundo, 
é preciso ultrapassar os objetos sensíveis e mutáveis. É preciso ir além do 
próprio homem, que é também mutável. É preciso transcender a razão, pois 
há algo acima da inteligência do homem: a realidade inteligível (Deus).
293
A filosofia medieval e a filosofia renascentista - Unidade 2
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A teoria da iluminação divina de Santo 
Agostinho, isto é, sua teoria do conhecimento 
com ênfase na questão da subjetividade e da 
interioridade, assim como a sua visão cristã 
dos fatos históricos, foi fundamental para 
a consolidação da Igreja na Idade Média, 
permitindo, por exemplo, que ela se preocu-
passe em converter os bárbaros pagãos e cris-
tianizasse a Europa ocidental. 
São Tomás Ue AquUno2.U.2 
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Tomás de Aquino nasceu em Nápoles em 1224 e viveu até 1274. 
Membro de uma família nobre, em 1245 foi estudar em Paris, lugar onde 
entrou em contato com o pensamento dos filósofos gregos sob a orienta-
ção de Alberto Magno. O sistema filosófico elaborado por São Tomás de 
Aquino, no auge da Idade Média, buscou fundamentados na filosofia de 
Aristóteles, e não mais em Platão, o que despertou o seu interesse pelas 
ciências naturais. Por isso podemos dizer que Tomás de Aquino está entre 
os filósofos que buscaram “conciliar” a filosofia de Aristóteles com o cris-
tianismo, efetivando uma síntese entre a fé e o conhecimento. Acreditava na 
existência de dois caminhos que levavam a Deus, sendo que o primeiro pas-
sava pela fé e pela revelação, e o segundo pela razão e os sentidos. Na visão 
de Tomás, o mais seguro desses caminhos era o da fé e o da revelação, pois 
facilmente o homem poderia enganar-se ao se confiar apenas na razão.
 
Conexão: 
Para saber mais sobre a 
filosofia de Santo Agostinho e 
sua visão cristã da filosofia, leia o 
tema Santo Agostinho: o mestre da 
pedagogia cristã, em: CAMBI, Franco. 
História da pedagogia. Tradução 
Álvaro Lorencini. São Paulo: 
Fundação Editora da UNESP, 
1999, p. 135-138. 
294
Filosofia da educação
São Tomás não acreditava num paradoxo irreconciliável entre aquilo 
que nos diz a filosofia ou a razão, de um lado, e a revelação ou a fé 
cristã, de outro. Muito frequentemente, o cristianismo e a filosofia fa-
lam da mesma coisa. Isto quer dizer que podemos sondar com a razão 
as mesmas verdades que lemos na Bíblia. (GAARDER, 1995, p. 199)
São Tomás acreditava poder provar a existência de Deus com base 
na filosofia de Aristóteles. Mediante a leitura das obras de Aristóteles, 
São Tomás desenvolveu as chamadas cinco vias da prova da existência 
de Deus, reunidas na obra Suma teológica, no intuito de demonstrar ra-
cionalmente a existência de Deus e de garantir a relação entre razão e fé. 
Analisaremos em seguida um trecho dessa obra:
A existência de Deus pode ser demonstrada por cinco vias. A primeira 
e a mais evidente é a que toma por base o movimento. [...] A segunda 
via baseia-se na causa eficiente, já que nada pode ser causa eficiente 
de si mesmo, pois se assim o fosse existiria antes de si mesmo, o que 
é impossível [...] A terceira via é baseada no possível e no necessário 
[...]. A quarta via tem por base os graus que se encontram nas coisas. 
[...] A quinta via é derivada do governo das coisas [...] é certo que existe 
algum ser inteligente que ordena todas as coisas da natureza para seu 
correspondente objetivo: a este ser chamamos de Deus. (TOMÁS DE 
AQUINO. Suma teológica. In: MARCONDES, Danilo. Textos bá-
sicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2009. p.70-72).
reProdução
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A filosofia medieval e a filosofia renascentista - Unidade 2
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A ideia fundamental implicada nas cinco vias de São Tomás é que 
“Deus, invisível e infinito, é demonstrável por seus efeitos visíveis e fini-
tos” (MARÍAS, 2004, p. 185). O que São Tomás realiza é uma adaptação 
da filosofia grega de Aristóteles ao pensamento cristão, sendo o dogmatis-
mo a base geral de seu pensamento. Por isso é possível afirmar que Tomás 
“cristianiza” a filosofia de Aristóteles, almejando demonstrar que “não há 
ponto de conflito entre fé e razão” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 
266).
Cabe ainda ressaltar os principais aspectos pedagógicos defendi-
dos por São Tomás. Na relação pedagógica, Tomás valorizava a ativida-
de pessoal do aluno no processo de aprendizagem, concebendo-o como 
centro do sistema educativo. O “educando não é passivo, ele participa 
do processo de ensino-aprendizagem”, sendo o professor (mestre) o 
responsável em despertar no aprendiz o interesse pelo conhecimento e 
de preservá-lo dos desvios de uma ciência imperfeita (SILVA, 2007, p. 
100). Tomás concebe a educação como instrumento para a realização 
das potências humanas como seres voltados para a crença religiosa, isto 
é, o principal objetivo da educação é formaro indivíduo para a fé e para 
a vida depois da morte, considerando o cristianismo como sinônimo de 
verdade absoluta.
No final da Idade Média, ocorre um “extraordinário crescimento 
social e econômico” incentivado pela consolidação da autoridade po-
lítica das monarquias leigas concorrentes da Igreja. Do modelo feudal, 
emergiram cidades, estados, o comércio internacional, além de novas 
estruturas contratuais e legais e o progresso do ensino “dentro e fora das 
universidades” (TARNAS, 2005, p. 97). Segundo observa Aranha (2006, 
p. 112), embora houvesse diferenças entre a educação do Período Antigo e 
a educação da Idade Média, ambas “tinham em comum a atuação de certa 
forma partilhada com a família, atribuindo-se à escola mais a instrução 
que a formação integral do aluno”. Desse modo, a escola não se apresen-
tava como um “instrumento de ação educacional preponderante nem uma 
instituição tão rigorosa quanto se tornaria mais tarde”.
296
Filosofia da educação
A FUlosofUa RenascentUsta2.2 
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No final da Idade Média, o homem vivia uma situação religiosa pro-
blemática devido às crises profundas da teologia. O Renascimento (séc. 
XIV-XVI) foi um período propício para o desenvolvimento de uma visão 
humanista do mundo, marcado por críticas à escolástica medieval e por um 
forte movimento artístico e cultural. Além disso, outros fatores históricos 
foram decisivos para o seu surgimento, como a descoberta do Novo Mundo 
(1492), o desenvolvimento do mercantilismo e a ascensão da burguesia com 
um novo modo de produção: o capitalismo. De acordo com Aranha (2006, 
p. 113), o Renascimento caracteriza-se por uma “nova era social, política, 
econômica, cultural representada pelo fortalecimento do Estado e das mo-
narquias nacionais, pela urbanização crescente, pela ascensão da burguesia, 
pela revolução científica e pelo racionalismo filosófico”.
 O Renascimento é considerado a época da descoberta do mundo e 
do homem, dos ideais de liberdade e de críticas ao domínio da Igreja. Di-
ferentemente do Período Medieval, o homem passa a ser visto como dono 
de seu destino, desenvolvendo novos conhecimentos técnicos e científi-
cos, como a astrologia, a magia, a alquimia, a medicina, a astronomia, a 
navegação, as artes etc. Também foi um período de retomada do pensa-
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mento grego – “imitação dos antigos”–, mediante descobertas de obras de 
Platão e de Aristóteles que ficaram desconhecidas durante a Idade Média. 
O mais importante produto do Renascimento foi uma nova visão do 
homem. Os humanistas do Renascimento desenvolveram uma crença 
totalmente nova no homem e em seu valor, o que se opunha frontal-
mente à Idade Média, período em que se enfatizou apenas a natureza 
pecadora do homem. O homem passa a ser visto agora como algo 
infinitamente grande e valioso. (GAARDER, 1995, p. 218)
Os fins da educação também sofrem mudanças nesse período, 
“destinando-se esta a um indivíduo ativo na sociedade, liberado de vín-
culos e de ordens” (CAMBI, 1999, p. 198). A escola institucionaliza-se 
a partir do Renascimento, passando a exigir “o confinamento dos alunos 
em internatos, separação por idades, a graduação em séries, a organiza-
ção de currículos e o recurso dos manuais didáticos” (ARANHA, 2006, 
p. 112). Aranha (2006, p. 113) destaca ainda as necessidades da classe 
burguesa em relação à educação, que começava a ver a família e a crian-
ça de maneira diferente, buscando proteger seus filhos “dos desvios do 
mundo e dar-lhes uma educação sólida”; o que levou à “rejeição da escola 
medieval, de inspiração religiosa e excessivamente contemplativa, e à 
reivindicação de uma escola realista, adaptada ao mundo moderno, que 
se encontrava em transformação”. Contudo, essas alterações ocorreram 
nas famílias burguesas especificamente, enquanto que as crianças do povo 
continuaram “vivendo misturadas aos adultos nos jogos e no trabalho” 
(ARANHA, 2006, p. 98).
Entre os principais humanistas desse período, destacam-se Giovanni 
Pico della Mirandolla (1463-1494), autor do discurso A dignidade do ho-
mem (1486); Erasmo de Rotterdam (1466-1533), autor do manual A edu-
cação de um príncipe cristão (1516); e Nicolau Maquiavel (1469-1527), 
autor de um dos clássicos da teoria política, O príncipe (1513, publicado 
em 1532). Vejamos um trecho do discurso A dignidade do homem, no qual 
Pico della Mirandola busca enaltecer a individualidade do homem: 
[...] Ó suprema liberdade de Deus Pai, ó suma e maravilhosa beatitu-
de do homem! A ele foi dado possuir o que escolhesse, ser o que qui-
sesse [...] nascemos com essa possibilidade se ser o que desejarmos! 
(PICCO DELLA MIRANDOLA, Giovanni. A dignidade do ho-
mem. 2. edição. Campo Grande: Solivros/Uniderp, 1999. p. 54-58.)
298
Filosofia da educação
 As obras renascentistas valorizavam, sobretudo, a liberdade hu-
mana e sua dignidade. Os retratos religiosos expressavam as proporções 
humanas; a beleza do corpo humano era a principal fonte de inspiração 
para os artistas, como é caso do retrato Homem vitruviano, de Leonardo 
da Vinci (1452-1519). 
Luc Viatour / W
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 O Renascimento também foi um período propulsor para novas 
descobertas científicas, como a tese defendida por Nicolau Copérnico 
(1473-1543) chamada Sobre a revolução das esferas celestes (1543), na 
qual o cientista defendeu matematicamente um modelo de cosmo em que 
o Sol é o centro do universo e a Terra, um astro que gira em torno do Sol 
(sistema heliocêntrico), rompendo com a visão antiga e cristã do universo 
que considerava a Terra o centro do universo. “O princípio vigente agora 
era o de que a investigação da natureza devia se construir fundamental-
mente na observação, na experiência e nos experimentos” (GAARDER, 
1995, p. 221), aspecto que muito contribuiu para o desenvolvimento da 
Filosofia Moderna, como veremos na unidade 3. 
 Comparado a seus antecessores medievais, o homem do Renasci-
mento, segundo Tarnas (2005, p. 246), parece ter subitamente saltado para 
uma situação virtualmente sobre-humana: 
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Agora era capaz de compreender os segredos da natureza e refletir 
sobre eles tanto na arte como na ciência, com inigualável sofistica-
ção matemática, precisão empírica e maravilhosa força estética. O 
mundo conhecido expandia-se imensamente; o homem descobriu 
novos continentes e deu a volta ao globo. Desafiava a autoridade 
e podia afirmar uma verdade com base em sua própria opinião. 
(TARNAS, 2005, p. 246) 
Os estudos de Copérnico foram demonstrados fisicamente no sé-
culo XVII, quando Galileu Galilei (1564-1642), mediante seu telescópio, 
comprovou a teoria heliocêntrica e a mutabilidade dos corpos celestes. 
Galileu Galilei, considerado o fundador da física moderna, foi processado 
pela Inquisição e obrigado a se retratar perante a Igreja em virtude de sua 
teoria heliocêntrica (MARÍAS, 2004). 
Giordano Bruno (1548-1600), filósofo mais importante do Renas-
cimento Italiano, também sofreu as acusações da Inquisição por ter sido 
visto como um desafiador das doutrinas da Igreja. Giordano Bruno foi 
preso pela Inquisição romana em 1592 e, em 1600, foi “queimado por não 
se retratar de suas doutrinas heterodoxas” (MARÍAS, 2004, p. 216).
O individualismo renascentista também chegou aos campos da 
teologia por meio da Reforma Protestante, um dos principais fatores his-
tóricos do Renascimento, que favoreceu 
o surgimento da Filosofia Moderna, tema 
da nossa próxima unidade. Liderada por 
Martinho Lutero (1483-1546), teólogo 
e reformador alemão, a Reforma foi um 
movimento que contestou a autoridade 
exercida pela Igreja Católica desde os 
últimos séculos da Idade Média. Contra 
a autoridade da Igreja,Lutero foi um de-
fensor da ideia de que qualquer indivíduo, 
mediante sua fé, era capaz de compreender as mensagens dos textos bíbli-
cos, não necessitando da intermediação da Igreja. Para os reformadores, a 
verdadeira cristandade advinha unicamente da fé nas Escrituras. 
Marcondes (2002, p. 148) destaca dois pontos fundamentais da Re-
forma Protestante:
a recusa por Lutero da autoridade institucional da Igreja (os papas e 1. 
os concílios), que não é digna de crédito;
roGer_VioLLet / aFP
300
Filosofia da educação
a valorização da consciência individual, como dotada de autonomia 2. 
e de uma autoridade que toma o lugar da Igreja e da tradição, por ser 
mais autêntica.
 
Entre as principais reivindicações da Reforma Protestante, destaca-
mos as seguintes: 
críticas à autoridade da Igreja sobre os homens;1. 
a ideia de que todo homem é livre e dotado de conhecimento para 2. 
compreender as mensagens bíblicas, não dependendo da interven-
ção da Igreja;
questionamentos acerca do padrão correto a ser adotado para com-3. 
preender as verdades da religião (o critério da verdade).
 
 As reivindicações de Martinho Lutero também atingiram o campo 
educacional, ao defender um ensino voltado a todos e a criação e manu-
tenção de escolas por autoridades públicas de frequência obrigatória. 
Lutero considerava importante que as pessoas aprendessem a ler, 
a fim de ver acesso à Bíblia, estendendo esse benefício também às 
mulheres. Nesse sentido, defendia intensamente a implantação da 
escola primária para todos e, de acordo com o espírito do humanis-
mo, repudiava os castigos físicos, o verbalismo oco da Escolástica 
decadente e a filosofia medieval. Propunha jogos, exercícios físicos, 
música, valorizava os conteúdos literários e recomendava o estudo 
de história e de matemática. (ARANHA, 2006, p. 113)
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Nas co-
lônias portuguesas, 
inclusive no Brasil, “os jesuítas 
estiveram presentes desde o início 
da colonização, marcando incrivelmente 
nossa formação: por uma lado, a educação 
dos colonos; por outro, a catequização dos 
indígenas” (ARANHA, 2006, p. 114).
Em resposta às acusações dos reformadores, a Igreja deu início 
à Contrarreforma para expandir a fé católica. Em 1545, convocou o 
Concílio de Trento (1546-1563), em resposta à Reforma Protestante, 
para estabelecer as bases doutrinárias e litúrgicas do catolicismo e re-
forçar a autoridade da Igreja. Na tentativa 
de deter a expansão do credo pro-
testante, a reação católica da 
Contrarreforma fundou seu 
principal órgão de educa-
ção dos ensinamentos do 
catolicismo, a Companhia 
de Jesus, além de retomar 
o movimento da Inqui-
sição. Tal ordem ficou 
conhecida por exigir uma 
“rígida disciplina” e por seus 
objetivos de propagação dos 
ensinamentos da fé, “a luta contra os 
infiéis e os heréticos”. 
Configuram-se aí as linhas mais rígidas da chamada escola tra-
dicional, que criou um universo exclusivamente pedagógico, 
separado da vida e preservado do mundo. Temperada pela clau-
sura, pela renúncia e pelo sacrifício, impunha a disciplina por 
meio da vigilância total. O esforço individual era estimulado por 
atividades competitivas, como torneios intelectuais e emulações 
constantes, incentivadas por prêmios e punições. (ARANHA, 
2006, p. 113)
O Concílio de Trento visava a confirmar os pontos prin-
cipais da doutrina católica, como a “essencialidade da Igreja e o 
valor dos sacramentos”, para assim combater o movimento protestante 
e “difundir a religião católica nos países do Novo Mundo” (CAMBI, 
1999, p. 256).
 
Doutrina contrária ao que foi definido pela Igreja Católica em relação 
à fé. 
302
Filosofia da educação
Aranha (2006, p. 114) também destaca ou-
tros pontos em relação aos colégios fundados 
pelas ordens religiosas, como a “formação 
de uma escola que absorvia a disponibili-
dade do tempo da criança, restringindo sua 
convivência com os colegas de mesma faixa 
etária”. O objetivo principal desses colégios 
era “controlar os impulsos naturais” e ensinar 
as “virtudes morais consideradas adequadas aos 
novos tempos”. 
FUlosofUa e eUucação em MUchel Ue MontaUgne2.2.U 
O filósofo renascentista Michel de 
Montaigne (1533-1592) defendeu o huma-
nismo e as reflexões individuais, criticando 
o saber dogmático e autoritário. Diante 
das discussões teológicas e das incertezas 
de seu tempo, o principal filósofo desse 
período levantou a seguinte questão: “Que 
sei eu?”. Esta simples questão mostra que 
Montaigne pôs em dúvida a possibilidade 
de o homem alcançar a verdade, negando 
a existência de qualquer modelo capaz de fornecer “a medida do próprio 
ser e, por conseguinte, da própria verdade” (SILVA, 2007, p. 105). Por de-
fender a influência dos fatores pessoais, sociais e culturais sobre as nossas 
ideias, alguns estudiosos afirmam que Montaigne retomou a argumenta-
ção do ceticismo dos antigos.
A meta montaigniana, portanto, era construir um ideal de sabedoria 
que contestasse o saber autoritário desvinculado da vida. O ceticis-
mo e a persistente dúvida mantidos pelo autor perante os saberes 
acabados revelam sua incessante preocupação com a formação do 
próprio entendimento – formação do espírito, que se contrapusesse 
aos dogmas e aos conceitos cristalizados. Tema que se tornará cen-
tral na filosofia iluminista do século XVIII e marcará fortemente 
o ideário educacional nos séculos posteriores, sob orientação da 
educação para a autonomia e perfectibilidade moral dos homens. 
(SILVA, 2007, p. 103) 
 
 
Conexão: 
Filmografia indicada:
Em nome de Deus (Clive Donner)
O nome da rosa (Jean-Jacques 
Annaud, 1986)
Lutero (Bart Gavigan e Camille Tho-
masson, 2003)
Giordano Bruno (Giuliano 
Montaldo)
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De fato, não há como negar que a filosofia de Montaigne marca uma 
certa “ruptura com a forma de pensar medieval, na qual a unidade entre 
o pensamento e o ser, entre pensamento e verdade encontrava justifica-
tiva na metafísica”. Montaigne põe em “dúvida essa possibilidade de o 
homem acessar a verdade nos termos postulados pelo dogmatismo medie-
val” (SILVA, 2007, p. 105).
Nos Ensaios, Montaigne descreve várias experiências sobre diver-
sos temas, possibilitando a “construção de uma nova subjetividade, não 
mais baseada na palavra da autoridade, mas no esforço do próprio indiví-
duo em elaborar a consciência de si e do mundo” (SILVA, 2007, p. 114). 
O objetivo do filósofo é mostrar que a verdade é relativa, pois todos os 
homens são capazes de formar opiniões sobre diversos assuntos. No tem-
po vivenciado por Montaigne, o “homem entrega-se a uma reflexão sem 
fim, na tentativa de encontrar uma verdade que pudesse orientá-lo neste 
mundo” (SILVA. 2007, p. 105).
Montaigne era um crítico das práticas educativas em uso nas escolas 
da época, tanto as que fomentavam posições escolásticas quanto as que se 
inspiravam sutilmente em concepções humanistas; em ambos os casos, o 
que prevalecia, na concepção de Montaigne, era “uma educação autoritá-
ria” e sem nenhum “vínculo com a experiência concreta (CAMBI, 1999, 
p. 268). A educação ideal, nos termos defendidos por Montaigne, deveria 
ter por parâmetro a família, mas ser submetida ao papel de um preceptor, 
ao qual não deveria faltar “uma sólida cultura e um bom método de ensi-
no, uma viva inteligência e uma sadia moral, além da capacidade de sus-
citar no aluno forte curiosidade e vontade de aprender” (CAMBI, 1999, p. 
270).
Ao descrever como deveria portar-se o preceptor, Montaigne critica 
o quanto a educação daquele momento valorizava a “memorização em de-
trimento da inteligência”. Na sua concepção, para “melhorcorresponder à 
tarefa de moldar a alma da criança, o professor deveria colocar-se no nível 
da criança” (SILVA, 2007, p. 115). Montaigne concebia a arte de edu-
car como uma das atividades humanas mais incertas, mas não deixou de 
descrever o papel ideal do professor (preceptor): 
para Montaigne, em vez da memorização, o professor deveria ensi-•	
nar o caminho da inteligência, dando espaço para a criança refletir 
sobre o porquê das coisas;
304
Filosofia da educação
 o professor também deveria se colocar no mesmo nível da criança, •	
levando em conta o universo do educando;
ele deveria desenvolver o sentido da observação nas crianças;•	
a escola, por sua vez, não deveria tratar todos os alunos da mesma •	
forma, sem considerar suas individualidades, e sim ocupar-se em 
atender às disposições de cada criança.
Montaigne se manifesta contrário a uma escola que trate todos os 
alunos da mesma forma, sem considerar que são espíritos diferentes 
uns dos outros, pelo temperamento, pela inteligência. Daí concluir 
não ser possível ensinar a mesma lição a todos igualmente. Antes, 
porém, a escola deveria ocupar-se em atender às disposições de 
cada aluno, de tal modo a possibilitar desenvolver suas capacidades 
e gostos. (SILVA, 2007, p. 117)
 O objetivo da educação, para Montaigne, “é formar o entendimen-
to, a capacidade do educando de julgar por si mesmo. Para isso, a pergun-
ta ‘Que sei eu?’ deve ser exercitada. Isso requer que o professor mude os 
métodos e favoreça o pensar por conta própria”. Montaigne combateu, 
assim, “a educação livresca nos moldes escolásticos”, na qual o aluno era 
submetido à “autoridade dos autores”, sem que lhe fosse apresentado uma 
“diversidade de juízos” a partir dos quais pudesse exercer sua própria es-
colha (SILVA, 2007, p. 116-117). 
AtUvUUaUes
Questões e temas para discussão relacionados à unidade 2
O que caracteriza a filosofia medieval? 01. 
Como era o sistema escolar no Período Medieval?02. 
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O que significa escolástica?03. 
Como se dá o conhecimento na visão de Agostinho e Tomás de Aquino?04. 
Quais os principais aspectos pedagógicos defendidos por São Tomás?05. 
Quais as principais características do Renascimento?06. 
Como a Reforma Protestante fortaleceu o ideal humanista do Renas-07. 
cimento? 
Quais as principais mudanças na visão de mundo do homem renas-08. 
centista?
306
Filosofia da educação
Que mudanças Montaigne propôs à educação das crianças. Por quê?09. 
Qual o papel ideal do preceptor segundo Montaigne?10. 
Desfecho Ua unUUaUe
Reflexão
Nesta unidade, vimos dois períodos da filosofia divergentes em 
relação às suas teorias. O primeiro período, a Filosofia Medieval, conside-
rava a verdade como sinônimo da existência de Deus. Já os renascentistas 
buscavam o sentido da verdade na própria existência dos homens, favore-
cendo o surgimento de um humanismo que marcou inclusive o campo das 
artes. As mudanças e os conflitos entre esses dois períodos da filosofia co-
locaram em questão o critério de verdade. Diante de tantas contradições, o 
homem passou a indagar sobre o modo como se dá nosso conhecimento, 
como sabemos se o nosso conhecimento é verdadeiro, e não uma ilusão, e 
sobre o que fundamenta nossas crenças. 
LeUturas recomenUaUas
Você pode se aprofundar nos temas discutidos nesta unidade! 
Sobre o poder da Escolástica no período da Idade Média, princi-•	
palmente em relação à educação, leia o artigo: ALMEIDA, Milton 
José. O triunfo da escolástica, a glória da educação. Educ. Soc. 
v. 26. n. 90. Campinas, jan./abr. 2005. Neste artigo, o autor busca, 
nas principais artes do Período Medieval, características essenciais 
307
A filosofia medieval e a filosofia renascentista - Unidade 2
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da escolástica e do poder da Igreja sobre o campo da educação. Este 
artigo encontra-se disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem 
(AVA), é só acessar!
Ainda sobre as principais características desse período e de suas •	
divergências, procure ler o artigo A civilização escolar como pro-
jeto político e pedagógico da modernidade: cultura em classes, 
por escrito, de Carlota Boto. O artigo encontra-se disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
32622003006100008&lng=pt&nrm=iso>.
Para que você possa aprimorar seu conhecimento sobre a Reforma •	
Protestante e sobre as propostas de Martinho Lutero para a educa-
ção, recomenda-se a leitura do texto de: BARBOSA, Luciane Mu-
niz Ribeiro. As concepções educacionais de Martinho Lutero. Edu-
cação e Pesquisa, São Paulo, v.33. n. 1, p.163-183, jan./abr. 2007. 
Você pode acessar este artigo no Ambiente Virtual de Aprendizagem 
(AVA). 
ReferêncUas
AGOSTINHO. De magistro. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação à 
história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 112. 
CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução Álvaro Lorencini. 
São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999, p. 135 a 138. 
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1995.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de fi-
losofia. 5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 2002. 
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráti-
cos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 
308
Filosofia da educação
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MARÍAS, Julían. História da filosofia. Tradução Claudia Berliner. 
São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
SILVA, Marcos Roberto Leite. Sobre o papel do mestre e do ensino 
em Agostinho e Tomás de Aquino. In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, 
Divino José (Org.). Introdução à filosofia da educação. São Paulo: 
Avercamp, 2007.
SILVA, Divino José. Filosofia, educação das crianças e papel do pre-
ceptor em Montaigne. In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José 
(Org.). Introdução à filosofia da educação: temas contemporâneos e 
história. São Paulo: Avercamp, 2007.
TARNAS, Richard. A epopeia do pensamento ocidental: para com-
preender as ideias que moldaram nossa visão do mundo. Tradução de 
Beatriz Sidou. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. In: MARCONDES, Danilo. 
Textos básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
PICCO DELLA MIRANDOLA, Giovanni. A dignidade do homem. 
2. ed. Campo Grande: Solivros/Uniderp, 1999. 
Na próxUma unUUaUe
Na próxima unidade, estudaremos as principais correntes da Filoso-
fia Moderna que surgiram em decorrência do humanismo do Renascimen-
to e das críticas à escolástica: o empirismo e o racionalismo. Veremos as 
principais divergências entre essas correntes em relação à busca e à con-
quista do conhecimento, bem como em relação aos meios para se alcançar 
a verdade. 
 
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 A filosofia moderna: racio-nalismo versus empirismo 
 Na terceira unidade, iremos estudar um dos 
principais períodos do pensamento filosófico: 
a Filosofia Moderna. Iremos conhecer suas prin-
cipais discussões, suas divergências e seus represen-
tantes desse período, bem como suas proposições para o 
campo da educação. 
Objetivos da sua aprendizagem
Que você seja capaz de compreender as principais diferenças 
entre a teoria do conhecimento racionalista e a teoria do conheci-
mento empirista; a importância do método na Filosofia Moderna e 
as formulações pedagógicas do pensamento moderno.
Você se lembra?
Você já parou para pensar como adquirimos conhecimento no mundo 
em que vivemos? Será que é pela razão ou pelas nossas experiências? 
Quais os critérios que devemos tomar para nossas certezas, de modo que 
saibamos que elas são reais e verdadeiras? Qual

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