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Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário Sumário ........................................................................................................................... 1 1. Benefícios destinados aos dependentes ................................................................ 2 1.1 Pensão por morte ............................................................................................. 2 1.2 Auxílio-reclusão ................................................................................................. 7 2. Regras finais sobre os benefícios.......................................................................... 12 2.1 Decadência ...................................................................................................... 12 2.2 Prescrição ........................................................................................................ 13 2.3 Recebimento de parcelas não auferidas em vida ........................................... 15 3. Custeio da Seguridade Social ................................................................................ 15 3.1 Contribuições da União ................................................................................... 16 3.2 Outras receitas ................................................................................................ 17 3.3 Contribuições para a seguridade social .......................................................... 18 3.3.1 Limitações constitucionais ao poder de tributar ....................................... 19 3.3.2 Contribuições ordinárias ou nominadas .................................................... 21 3.3.3 Contribuições residuais ............................................................................. 22 Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Benefícios destinados aos dependentes 1.1 Pensão por morte Fundamento de validade constitucional no artigo 201, inciso V, da CRFB. CRFB, Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. Na Lei 8.213/91, o tema é tratado a partir do artigo 74: Lei 8.213/91, Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: I – do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; II – do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; III – da decisão judicial, no caso de morte presumida [com ou sem declaração de ausência]. 1º. Necessidade social Consiste na morte comprovada e na morte presumida. Exemplo: aventou-se em alguns veículos de comunicação a história de um pescador que permaneceu doze meses à deriva, em seu pequeno barco, em alto-mar. Imagine-se que o mesmo não tivesse retornado ao convívio familiar. Trata-se de hipótese de morte presumida com declaração de ausência. Nada obstante, caso seu sumiço houvesse acontecido após seu barco ter sido destruído por uma tormenta, uma catástrofe qualquer, estar-se-ia perante o fenômeno da morte presumida sem declaração de ausência. 2º. Exigências pessoais Como regra padrão, está a qualidade de segurado. Isto é, no momento do evento morte, o indivíduo deve ostentar essa qualidade perante o Regime Geral de Previdência Social. Sem embargo, tal exigência é flexibilizada, na medida em que existe a possibilidade de indivíduo não mais detentor de qualidade de segurado deixe em prol de seus dependentes uma pensão por morte. Dá-se quando, à época de seu falecimento, ele faz jus (goza de direito adquirido) ao beneplácito de aposentadoria. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br Exemplo1: segurado, inválido, requereu benefício de aposentadoria por invalidez ao INSS. A autarquia, fundada em uma perícia mal elaborada, denega administrativa a concessão. O indivíduo, então, sem forças para o trabalho, permanece em sua residência e, com o passar do tempo, perde a qualidade de segurado. Posteriormente, vem a óbito, cuja causa pode, ou não, ser o fator incapacitante. Nesse cenário, seus dependentes poderão manejar ação judicial, porquanto esse indivíduo possuía direito adquirido à pensão por morte. Exemplo2: indivíduo laborou dos 20 aos 35 anos de idade. Durante os 15 anos de atividade laborativa, verteu 180 contribuições mensais ao RGPS. Cumpriu, então, a carência necessária para a aposentadoria por idade. Morreu aos 67 anos. Seus dependentes, apesar de o indivíduo ter parado de contribuir há mais de 30 anos, farão jus à pensão por morte. Isso porque possuía ele, quando de seu falecimento, direito adquirido à aposentadoria. Fundamenta-se tal lógica de raciocínio no artigo 102, §2º, da Lei de Benefícios: Lei 8.213/91, Art. 102. [...] § 1º A perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sido preenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que estes requisitos foram atendidos. § 2º Não será concedida pensão por morte aos dependentes do segurado que falecer após a perda desta qualidade, nos termos do artigo 15 desta Lei, salvo se preenchidos os requisitos para obtenção da aposentadoria na forma do parágrafo anterior. Após alguns embates sobre a melhor interpretação do dispositivo supra, prevaleceu entendimento estampado no verbete nº 416 do Superior Tribunal de Justiça: Enunciado nº 416 – Súmula do STJ É devida a pensão por morte aos dependentes do segurado que, apesar de ter perdido essa qualidade, preencheu os requisitos legais para a obtenção de aposentadoria até a data do seu óbito. 3º. Carência Não há. Lei 8.213/91, Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações: I – pensão por morte, auxílio‑reclusão, salário‑família e auxílio‑acidente; 4º. Valor Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br Atualmente, a pensão por morte corresponde a 100% da aposentadoria do segurado. Na hipótese de o segurado ter morrido em pleno exercício das atividades laborativas, o valor da pensão por morte corresponderá a 100% da aposentadoria por invalidez. Registre-se que o fator previdenciário somente repercutirá na pensão por morte se a aposentadoria do falecido houver sofrido sua aplicação. Com base nisso, e fazendo raciocínio análogo ao da desaposentação, tem-se confeccionado tese em favor de uma ‘despensão’. Exemplo: indivíduo aposentou-sepor tempo de contribuição com incidência do fator previdenciário num percentual muito baixo. Continuou, porém, a trabalhar por mais dez anos, quando, então, veio a falecer. Caso o mesmo estivesse vivo, poderia discutir sua desaposentação. Os defensores da tese da despensão transportam esse direito para os dependentes, os quais poderiam, então, pedir a desaposentação do morto para que seja calculada uma nova aposentadoria, na qual se incluiria o tempo de contribuição mais recente, para, assim, influenciar o valor da pensão por morte. Nota: pode-se dizer que despensão é a desaposentação aplicada aos dependentes. Essa sistemática de um valor de 100% da aposentadoria ingressou na Lei de Benefícios com a Lei 9.528/97. Com a Lei 9.032/95, o quantum era de 100% do salário de benefício, situação que se apresentava mais benéfica ao dependente, eis que, em caso de aposentadoria proporcional, o valor da pensão seria de 100%, maior, portanto, que o benefício recebido pelo próprio segurado. Antes da Lei 9.032/95, a pensão por morte era proporcional ao número de dependentes. O percentual variava de 60% até 100% e benefícios foram concedidos nesse período. Os dependentes, então, requereram, com o advento da Lei 9.032/95, a aplicação imediata do novel diploma para a regulação dos efeitos futuros do ato concessivo do beneplácito. Todavia, tal como ocorrido com o auxílio-acidente, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça decidiram pela inexistência de direito à aplicação imediata da lei previdenciária, ainda que seja mais benéfica. Dessa forma, conclui-se que a pensão por morte deve ser regida pela lei vigente na data da morte. É o enunciado nº 340 da Súmula do STJ: Enunciado nº 340 – Súmula do STJ A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do óbito do segurado. 5º. Data de início do benefício (DIB) Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br Vide o artigo 74 da Lei 8.213/91: Lei 8.213/91, Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: I – do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; II – do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; III – da decisão judicial, no caso de morte presumida [com ou sem declaração de ausência]. Como regra geral, tem-se que a pensão será devida desde a morte. Passados mais de 30 desde o evento morte, a data de início do benefício será aquela do requerimento. A redação original do dispositivo em comento apontava que a DIB seria a data da morte. Nesse bojo, se o óbito ocorreu antes da Lei 9.528/97, por força do brocardo tempus regit actum, vaticina-se que não havia um prazo para o requerimento da pensão por morte, de maneira que, se o dependente o fizesse quatro anos depois do óbito, a DIB seria a data do próprio óbito; não, do requerimento como é hodiernamente. Imagine-se que o indivíduo morre hoje e deixa um dependente com 10 anos de idade, cujo representante legal, por leniência, só requeira a pensão por morte 5 anos mais tarde, aos 15 anos de idade. A natureza jurídica do prazo de 30 dias é prescricional, haja vista estar-se a discutir a pretensão ao recebimento das parcelas havidas entre o óbito e o requerimento. A criança de 10 anos é absolutamente incapaz, contra a qual os prazos, quer prescricionais, quer decadenciais, não corre. Daí, ainda que o requerimento tenha sido feito 5 anos depois da morte, a DIB será a data do óbito; não, o requerimento. Quando esse filho completar 16 anos, o prazo prescricional de 30 dias volta a fluir. Assim, se fizer o requerimento com 16 anos e 31 dias, a DIB será a data do requerimento. Celeuma surge no tocante ao dependente habilitado tardiamente. Imagine-se que o segurado vem a falecer e deixa filhos em famílias diferentes. O filho de uma das famílias fez o requerimento e já percebe o benefício. O filho da outra família, então com 17 anos, somente dois anos após o falecimento do pai pleiteia a pensão por morte. Aponta a lei que a habilitação tardia produz efeitos só a partir de sua realização. Isso porque a concessão da pensão não fica suspensa à espera da habilitação dos eventuais dependentes. Sem embargo, o habilitado tardiamente começará a perceber o beneplácito a partir do ato de habilitação, não havendo que se falar em direito a parcelas atrasadas. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br No ponto, vide o artigo 76 da Lei 8.213/91: Lei 8.213/91, Art. 76. A concessão da pensão por morte não será protelada pela falta de habilitação de outro possível dependente, e qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só produzirá efeito a contar da data da inscrição ou habilitação. Exemplo: segurado morre e deixa filho e mãe que dele dependa economicamente. A mãe realizou o requerimento e, apesar de ser de segunda categoria, uma vez que comprovou a dependência econômica, começou a auferir a pensão por morte. Mais tarde, o filho se habilita, hipótese na qual passa a receber o benefício a que faz jus, implicando a cessação do direito da mãe. No entanto, não terá ele direito ao percebimento de parcelas anteriores à sua habilitação. Considere-se a seguinte situação, na qual habita uma sensível problemática: Segurado morre e deixa dois filhos, um de 10 e outro de 5 anos, um com cada mulher. A mãe do filho de 10 anos faz o requerimento, e o menino de imediato recebe a pensão. Em contrapartida, o representante legal da criança de 5 anos confecciona o pedido administrativo, apenas, dois anos após a morte. Se se aplicar a regra do artigo 76, o filho de 5 anos recebe apenas a partir do requerimento. Valendo-se do Código Civil, chega-se à conclusão de que o prazo de 30 dias não tem a contagem iniciada, cenário no qual a DIB será a data de óbito. Que regra aplicar? R. Há numerosas decisões judiciais, notadamente do Superior Tribunal de Justiça, assentando que, quanto ao absolutamente incapaz, incide o regramento previsto no Código Civil. Entretanto, de uns tempos para cá, aquela Corte tem modificado seu entendimento, propalando a necessidade de aplicação da regra do artigo 76 da Lei 8.213/91, o que, também, é encampada pelo INSS. O tema, pois, está notoriamente controvertido. Ventila-se que o artigo 76 em nada se relaciona com o prazo prescricional. Ademais, não se pode prejudicar o direito de quem fez requerimento antes, em prol de quem se habilitou posteriormente. Observação: o professor Fábio Souza discorda desse último posicionamento (mais prejudicial ao incapaz). 6º. Outras observações (i) Em ocorrendo pluralidade de dependentes, imperiosa a observância de duas regras: [1ª] a existência de dependente de uma classe exclui o direito do dependente de outra; Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br [2ª] havendo mais de um dependente damesma categoria, fracionar-se-á em partes iguais o beneplácito. Lei 8.213/91, Art. 16, § 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes. Lei 8.213/91, Art. 77. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em parte iguais. Exemplo: segurado com dois filhos menores de 21 anos, um enteado, menor de 21 anos, um irmão, menor de 21 anos, e um pai, os quais dele dependam economicamente. Esse segurado morre (já era viúvo). Os filhos e o enteado são de primeira categoria e, por isso, excluem o pai (2ª categoria) e o irmão de 21 anos (3ª categoria). Receberão a pensão por morte no quinhão de 1/3 para cada um. Conforme o benefício for cessando em relação a cada um, seu quinhão divide-se entre os demais. Registre-se que, quando cessar o benefício para o último dependente da primeira categoria (ou segunda, conforme o caso), inexiste falar em transmissão de sua cota ao dependente de segunda categoria. (ii) O filho com deficiência, intelectual ou mental, que esteja a perceber pensão por morte e passe a exercer atividade remunerada não perderá o benefício. Na verdade, sofrerá uma redução de 30% em seu quantum, a qual cessará em face da extinção referida atividade remunerada. Lei 8.213/91, Art. 77, § 4º A parte individual da pensão do dependente com deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente, que exerça atividade remunerada, será reduzida em 30% (trinta por cento), devendo ser integralmente restabelecida em face da extinção da relação de trabalho ou da atividade empreendedora. Observação: até o momento, a pensão por morte para a pessoa com deficiência não está regulamentada, de maneira que, à consecução de tal benefício, deve o individual socorrer-se às vias judiciais. 1.2 Auxílio-reclusão Aprioristicamente, alerta-se que esse benefício não foi criação de qualquer governo. Ao revés, foi o próprio povo, por meio da Assembleia Nacional Constituinte, quem o estabeleceu no artigo 201, inciso IV, da CRFB, donde se extrai seu fundamento de validade. Ainda, diz-se que o constituinte originário não inovou no cenário jurídico mundial ao estatuir Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br um benefício destinado aos dependentes do segurado preso. É que há tratados internacionais prevendo tal possibilidade. De plano, então, sepultam-se as informações mentirosas que, vez por outra, circulam na internet acerca do auxílio-reclusão. CRFB, Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: IV – salário‑família e auxílio‑reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; Na Lei 8.213/91, o tema é tratado no artigo 80: Art. 80. O auxílio‑reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio‑doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. Parágrafo único. O requerimento do auxílio‑reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a apresentação de declaração de permanência na condição de presidiário.. Também merece destaque o artigo 2º da Lei 10.666/2003: Lei 10.666/2003, Art. 2º O exercício de atividade remunerada do segurado recluso em cumprimento de pena em regime fechado ou semiaberto que contribuir na condição de contribuinte individual ou facultativo não acarreta a perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão para seus dependentes. § 1º O segurado recluso não terá direito aos benefícios de auxílio-doença e de aposentadoria durante a percepção, pelos dependentes, do auxílio-reclusão, ainda que, nessa condição, contribua como contribuinte individual ou facultativo, permitida a opção, desde que manifestada, também, pelos dependentes, ao benefício mais vantajoso. § 2º Em caso de morte do segurado recluso que contribuir na forma do § 1o, o valor da pensão por morte devida a seus dependentes será obtido mediante a realização de cálculo, com base nos novos tempo de contribuição e salários-de-contribuição correspondentes, neles incluídas as contribuições recolhidas enquanto recluso, facultada a opção pelo valor do auxílio-reclusão. Como pano de fundo ao auxílio-reclusão erige-se o princípio da intranscendência da pena, segundo o qual a pena não poderá ultrapassar a pessoa do condenado. Idealiza-se a Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br redução do impacto da prisão do segurado na vida dos dependentes (uma vez que o próprio Estado foi o autor do ergástulo, ainda que justamente), mediante a substituição da renda lícita do segurado encarcerado no sustento desses últimos. 1º. Necessidade social Não é a condenação, mas, sim, a prisão. Prescinde-se, pois, da necessidade de uma sentença penal condenatória transitada em julgado. É dizer, o fato gerador do beneplácito consubstancia-se já nas prisões cautelares (temporária ou preventiva). Existe, por parte do INSS, resistência em conceder auxílio-reclusão aos dependentes do segurado preso civilmente por dívida de pensão alimentícia. A jurisprudência não trata do assunto, ao passo que a doutrina encontra-se fracionada. A lei, em si mesma, não positiva a obrigatoriedade de ser uma prisão penal, motivo por que, em princípio, inexistiria óbice à concessão. Todavia, assevere-se que, em provas, revela-se, no mais das vezes, seguir o entendimento administrativo. Com o advento da Lei 10.666/2003, sepultaram-se as discussões sobre se o cumprimento de pena em regime semiaberto ensejaria a concessão de auxílio-reclusão, haja vista o artigo 2º do diploma ter previsto expressamente essa possibilidade. Quanto ao regime aberto, porque o indivíduo cumpre a pena fora do cárcere, a seus dependentes não será concedido o benefício em tela. Por fim, saliente-se que as prisões cautelares, dado o seu modo de cumprimento, equiparam-se ao regime fechado. 2º. Exigências pessoais De pronto, a qualidade de segurado, exigência que elimina um percentual gigantesco da população carcerária. Exemplo: indivíduo que, durante o dia, exerce a atividade de porteiro e, à noite, assume a função de integrante de uma quadrilha de roubo de cargas, cuja descoberta enseja sua prisão. A concessão do auxílio-reclusão aos seus dependentes visará a substituir a renda proveniente de seu trabalho como porteiro; não a decorrente do roubo de cargas. Note-se a obrigatoriedade de o indivíduo ser segurado no momento da prisão. Ademais, deverá ser de baixa renda; atualmente, R$ 1.025,81. CRFB, Art. 201. [...] IV – salário‑família e auxílio‑reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudoem livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br No ponto, cumpre mencionar que a defensoria pública formulou uma tese, que chegou até o Supremo Tribunal Federal, na qual argumentava que a baixa renda tinha de ser aferida em relação aos dependentes; não, ao segurado. A Suprema Corte, todavia, rejeitou tal tese. O que fazer para delimitar se desempregado que é preso, ainda no período de graça, é de baixa renda? R. A TNU, por jurisprudência não sumulada, em consonância com o entendimento do INSS, afirma que a baixa renda será aferida de acordo com o último salário de contribuição. Observação: o professor Fábio Souza discorda desse entendimento. Ainda como exigência pessoal, agora de cunho negativo, tem-se a necessidade de o segurado preso não estar recebendo auxílio-doença, aposentadoria ou remuneração da empresa. Isso porque, nessas hipóteses, a prisão não estará a impedir a produção de renda lícita por parte do indivíduo, que continuará a realizar o sustento de sua família. Aclare-se que a efetiva destinação desse dinheiro ao sustento dos dependentes pelo segurado não é uma questão afeta ao INSS. 3º. Carência Não há. Lei 8.213/91, Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações: I – pensão por morte, auxílio‑reclusão, salário‑família e auxílio‑acidente; 4º. Valor A lei é silente. Nada obstante, o próprio artigo 80 ressalva a aplicação subsidiária das regras atinentes à pensão por morte ao auxílio-reclusão. Como visto, a pensão por morte corresponde a 100% da aposentadoria do segurado. Contudo, como ao segurado preso, para fins de concessão do benefício a seus dependentes, veda-se a fruição de aposentadoria, utiliza-se como parâmetro o valor correspondente a 100% da aposentadoria por invalidez. In casu, 100% do salário de benefício pago conforme as regras de pluralidade de dependentes (categoria, quantidade, etc.). 5º. Data de Início do Benefício (DIB) Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br Aplicam-se todas as regras da pensão por morte. Requerimento feito em até 30 dias da segregação, haverá retroação. Passado esse prazo, a DIB será a data do requerimento. Incidem, também, aqui as regras atinentes à (não) fluência do prazo prescricional contra incapazes e as demais já faladas. 6º. Outras observações (i) O trabalho exercido durante a prisão não prejudica o recebimento do auxílio- reclusão pelos dependentes. Lei 10.666/2003, Art. 2º O exercício de atividade remunerada do segurado recluso em cumprimento de pena em regime fechado ou semiaberto que contribuir na condição de contribuinte individual ou facultativo não acarreta a perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão para seus dependentes. Avive-se que, se o preso exercer atividades laborativas durante sua prisão, haverá recolhimento de contribuições previdenciárias pela empresa (transferência de responsabilidade tributária), o que servirá à contagem como tempo de contribuição. Tal raciocínio aplica-se, igualmente, ao preso que contribua na qualidade de segurado individual (o que é de visualização prática mais difícil). Observação: a contribuição realizada durante a segregação não terá direito à percepção de qualquer benefício (auxílio-doença, aposentadoria, etc.), enquanto seus dependentes estiverem na fruição do auxílio-reclusão. Sem embargo, caso nesse período prisional ele preencha os requisitos para a consecução de um benefício mais vantajoso, v.g., aposentadoria por idade, ser-lhe-á permitida a escolha pelo mais vantajoso, contanto que se materialize a anuência dos dependentes. Isso por um motivo muito claro: passando o preso a receber uma aposentadoria, opera-se, de imediato, a cessação do auxílio-reclusão aos seus dependentes. (ii) O auxílio-reclusão será pago enquanto o segurado estiver preso. Em caso de liberdade ou fuga1, será suspenso. O egresso do sistema penitenciário tem um período de graça de 12 meses, a contar, também, da sua soltura ou da fuga. Sendo ele recapturado dentro desse período, 1 Existem vozes a manifestar-se pela continuidade do pagamento mesmo no caso de fuga, porquanto, por estar foragido, o indivíduo não terá como trabalhar e, logo, não poderá sustentar sua família. Cuida-se de raciocínio isolado e que não deve ser adotado. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br restabelece-se o beneplácito; se após, terá perdido qualidade de segurado, e seus dependentes não terão direito ao benefício. Lei 8.213/91, Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições: IV – até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso; (iii) Pertence aos dependentes o ônus de comprovar a continuidade de necessidade social (prisão do segurado). Trimestralmente, deverão apresentar uma certidão da unidade prisional à autarquia previdenciária. Observação: apresentada a certidão, cuja validade é de 03 meses, ao INSS, mas tendo o segurado sido posto em liberdade no dia seguinte, seus dependentes não mais farão jus ao auxílio-reclusão, haja vista o fato gerador (prisão) ter desaparecido. Nesse contexto, se, por um erro da autarquia o benefício continuar a ser pago, os dependentes não poderão recebê-lo, sob pena de terem sua conduta enquadrada como estelionato previdenciário. 2. Regras finais sobre os benefícios No artigo 103 da Lei 8.213/91, preveem-se dois prazos. No caput, decadencial de 10 anos; no §1º, prescricional de 5 anos. 2.1 Decadência Esse prazo destina-se ao tempo que segurado ou beneficiário têm para pleitear a revisão do ato de concessão do benefício. Tal prazo inicia-se a partir do instante em que se tem a ciência do equívoco no cálculo do benefício, ou seja, a primeira prestação. A lei estatui como termo inicial o primeiro dia do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação. Exemplo: primeira parcela recebida em fevereiro/2014. Prazo inicia-se em 01 de março de 2014. Lei 8.213/91, Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br Ocorrendo o requerimento administrativo a revisão, o prazo passa a fluir a partir da ciência da decisão administrativa de indeferimento. Vide o enunciado nº 74 da TNU, no qual se plasma a melhor interpretação, para fins de prova, do artigo 103 da Lei 8.213/91: Verbete nº 74 – Súmula da TNU O prazo de prescrição fica suspenso pela formulação de requerimento administrativo e volta a correr pelo saldo remanescente após a ciência da decisão administrativafinal. Estampa o artigo 103, caput, que o prazo a que se refere diz respeito à “revisão do ato de concessão”. Nada obstante, a TNU, conferindo-lhe interpretação elástica, assenta que tal prazo concerne, também, ao ato de indeferimento. Verbete nº 64 – Súmula da TNU O direito à revisão do ato de indeferimento de benefício previdenciário ou assistencial sujeita-se ao prazo decadencial de dez anos. Esse prazo decenal foi criado em 1997. Em 1998, foi reduzido para 5 anos. Em seguida, em 2003, por uma medida provisória convertida em lei em 2004, volta a ser de 10 anos. Surgiram duas correntes acerca da revisão dos benefícios. Para a primeira, estava-se diante de uma situação de direito material (tempus regit actum); logo, não haveria qualquer prazo para se pleitear a revisão dos benefícios concedidos antes de 1997, de maneira que tal revisão poderia ocorrer hoje, em 2014. Contudo, o Supremo Tribunal Federal encampou o entendimento que sustentava a aplicação imediata do prazo decadencial. A Corte afirmou não haver direito adquirido à inexistência de prazo decadencial; entretanto, esse prazo conta-se a partir do advento do diploma que o estabeleceu. Daí, os benefícios concedidos antes de 1997 têm sua contagem de prazo iniciada nesse mesmo ano; decaindo, pois, em 2007. 2.2 Prescrição O prazo a que se refere o §1º do artigo 103 da Lei de Benefícios correlaciona-se à busca pela percepção de parcelas. Sua contagem dá-se mês a mês. Lei 8.213/91, Art. 103. [...] Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quais quer restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do Código Civil. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br Nas ações em que se pleiteia a revisão do benefício, cumulam-se dois pedidos: uma obrigação de fazer (rever o benefício) e uma obrigação de pagar (parcelas atrasadas). Assim sendo, aquela é de natureza decadencial (prazo decenal), e esta, prescricional (prazo quinquenal). Exemplo: segurado ajuíza ação requerendo a revisão de benefício concedido em 2005. Como se pode perceber, não decaiu de seu direito, eis que se encontra albergado pelo prazo de 10 anos. Todavia, em sendo julgada sua pugna procedente, fará direito somente às parcelas dos últimos 5 anos, porquanto as parcelas anteriores a esse período foram fulminadas pelo prazo prescricional. Tais prazos têm incidência sobre as pretensões/direitos do segurado. Para o INSS rever seus atos, há prazo de 10 anos, consoante artigo 103-A da Lei 8.213/91. Excetua-se a má-fé, que, se comprovada, resultará na ausência de qualquer prazo para o INSS rever o ato concessivo. Avente-se ser viável a caracterização da má-fé sem a demonstração de fraude. Exemplifica-se com o segurado que, durante toda sua vida, contribuiu com base no salário mínimo e recebe uma aposentadoria no valor-teto. Transcorridos 10 anos ou mais do ato concessivo da aposentadoria, terá o INSS, a qualquer tempo, o direito de revê-lo. Lei 8.213/91, Art. 103‑A. O direito da Previdência Social de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os seus beneficiários decai em dez anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má‑fé. § 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo decadencial contar‑se‑á da percepção do primeiro pagamento. § 2º Considera‑se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato. Revela-se imperiosa instauração de processo administrativo por parte do INSS, a fim de que se instalem contraditório e ampla defesa, antes de a autarquia proceder ao corte ou revisão do benefício. O artigo 11 da Lei 10.666/2003 estabelece o procedimento a ser adotado nesse caso. Observação: é defesa a suspensão cautelar do benefício pelo INSS. Lei 10.666/2003, Art. 11. O Ministério da Previdência Social e o INSS manterão programa permanente de revisão da concessão e da manutenção dos benefícios da Previdência Social, a fim de apurar irregularidades e falhas existentes. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br § 1º Havendo indício de irregularidade na concessão ou na manutenção de benefício, a Previdência Social notificará o beneficiário para apresentar defesa, provas ou documentos de que dispuser, no prazo de dez dias. § 2º A notificação a que se refere o § 1º far-se-á por via postal com aviso de recebimento e, não comparecendo o beneficiário nem apresentando defesa, será suspenso o benefício, com notificação ao beneficiário. § 3º Decorrido o prazo concedido pela notificação postal, sem que tenha havido resposta, ou caso seja considerada pela Previdência Social como insuficiente ou improcedente a defesa apresentada, o benefício será cancelado, dando-se conhecimento da decisão ao beneficiário. 2.3 Recebimento de parcelas não auferidas em vida Cuida-se de regra especial de sucessão para parcelas previdenciárias prevista no artigo 112 da Lei 8.213/91. Lei 8.213/91, Art. 112. O valor não recebido em vida pelo segurado só será pago aos seus dependentes habilitados à pensão por morte ou, na falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil, independentemente de inventário ou arrolamento. Diversos segurados vêm a óbito no curso do processo. Conjeture-se que um segurado houvesse direito ao recebimento de valores atrasado e morre. Deixou um filho de 19 anos e outro de 23 anos. In casu, o filho de 19 anos tem direito à pensão por morte e, por conseguinte, faz jus ao pagamento dessas verbas atrasadas. Caso não exista nenhum dependente habilitado à pensão, parte-se para a análise dos sucessores da lei civil, sem a obrigatoriedade de abertura de inventário. 3. Custeio da Seguridade Social O orçamento da seguridade social é destacado do orçamento fiscal. Isso porque existem, além de despesas específicas, fontes peculiares de receitas da seguridade social. Vide o artigo 165, §5º, da Carta da República. CRFB, Art. 165, § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 16 www.cursoenfase.com.br Dentro das atividades estatais, saúde, previdência e assistência mereceram, por parte do constituinte, o estabelecimento de um orçamento destacado. O dispositivo constitucional que trata sobre o tema é o 195: CRFB, Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - doempregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. No plano infraconstitucional, esse preceptivo, dentre outros diplomas, regulamenta- se na Lei 8.212/91. Analisando-se ambas as normas, veem-se três grandes grupos de fontes custeio: (i) contribuição da União (dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios); (ii) contribuições da seguridade social; (iii) outras receitas. 3.1 Contribuições da União Regulamenta-se tal contribuição no artigo 16 da Lei 8.212/91: Lei 8.212/91, Art. 16. A contribuição da União é constituída de recursos adicionais do Orçamento Fiscal, fixados obrigatoriamente na lei orçamentária anual. Parágrafo único. A União é responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de benefícios de prestação continuada da Previdência Social, na forma da Lei Orçamentária Anual. Essas contribuições materializam-se por meio de uma destinação do orçamento fiscal para o da seguridade. Trata-se de recursos oriundos de tributos não vinculados. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 17 www.cursoenfase.com.br Avive-se, ainda, a responsabilidade subsidiária da União por eventuais déficits no custeio de benefícios previdenciários, consoante o parágrafo único do mencionado artigo 16.2 3.2 Outras receitas Plasmam-se, em rol exemplificativo3, no artigo 27 da Lei 8.212/91: Lei 8.212/91, Art. 27. Constituem outras receitas da Seguridade Social: I - as multas, a atualização monetária e os juros moratórios; II - a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança prestados a terceiros [exemplo: comissão recebida pela Receita Federal do Brasil pelos serviços de cobrança prestados a terceiros]; III - as receitas provenientes de prestação de outros serviços e de fornecimento ou arrendamento de bens; IV - as demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras; V - as doações, legados, subvenções e outras receitas eventuais; VI - 50% (cinqüenta por cento) dos valores obtidos e aplicados na forma do parágrafo único do art. 243 da Constituição Federal; VII - 40% (quarenta por cento) do resultado dos leilões dos bens apreendidos pelo Departamento da Receita Federal; VIII - outras receitas previstas em legislação específica. Parágrafo único. As companhias seguradoras que mantêm o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres, de que trata a Lei nº 6.194, de dezembro de 1974, deverão repassar à Seguridade Social 50% (cinqüenta por cento) do valor total do prêmio recolhido e destinado ao Sistema Único de Saúde- SUS, para custeio da assistência médico-hospitalar dos segurados vitimados em acidentes de trânsito. Lei 8.213/91, Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis4. 2 Nota do professor: apesar de, constantemente, a imprensa propalar, a plenos pulmões, sobre o déficit da Previdência, o que implicaria a realização de reformas, recentemente, publicou-se por meio de nota oficial que a Previdência urbana é superavitária, ou seja, ganha mais do que gasta. 3 Exemplo: rendas provenientes de alugueis de imóveis, doações, dinheiro proveniente das ações regressivas ajuizadas pelo INSS contra os causadores de dano (empresas, entre outros) que ensejaram incapacidades, mortes, etc., de terceiros que, em consequência, passaram a perceber benefícios, etc. Vide o artigo 120 da Lei 8.213/91. 4 Cita-se, como exemplo, ação regressiva em face do marido que agrediu a esposa, a qual, em decorrência, ficou em gozo de auxílio-doença. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 18 www.cursoenfase.com.br 3.3 Contribuições para a seguridade social Consoante aventam a doutrina e, bem ainda, a jurisprudência pacífica, no Brasil, encampou-se a teoria quinquipartite dos tributos, fracionando-se os tais em cinco espécies: impostos, taxas, empréstimos compulsórios, contribuições de melhoria e contribuições. Por sua vez, as contribuições cindem-se em: sociais, de intervenção no domínio econômico; de interesse de categorias profissionais/econômicas e para iluminação pública (vide artigos 149 e 149-A, CRFB). Como cediço, a classificação de um tributo como contribuição é a destinação legal da receita. No ponto, vale lembrar que o Código Tributário Nacional, ao falar em fato gerador, mostra-se anacrônico, próprio de uma época em que se utilizava a classificação tripartite dos tributos. A seu turno, as contribuições sociais dividem-se em: gerais e para a seguridade social (saúde, assistência e previdência). Para fins didáticos, essas últimas fracionam-se em: contribuições para a previdência dos servidores públicos (artigos 40 e 149, §1º, CRFB); residuais (artigo 195, §4º, CRFB, c/c artigo 154, inciso I, CRFB) e nominadas/ordinárias. Vejamos pequeno quadro demonstrativo: CLASSIFICAÇÃO QUINQUIPARTITE DOS TRIBUTOS 1. Impostos 2. Taxas 3. Empréstimos compulsórios 4. Contribuições de melhoria 5.1. Sociais 5.1.1. Gerais --/-- 5.1.2. Para a seguridade social (saúde, assistência e a. Previdência dos Servidores Público b. Residuais c. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 19 www.cursoenfase.com.br 5. Contribuições previdência) Nominadas/ordinárias 5.2. De Intervenção no Domínio Econômico 5.3. De interesse de categorias profissionais/econômicas 5.4. Para iluminação pública As contribuições para a seguridade social caracterizam-se como uma subespécie tributária. Por conseguinte, as limitações constitucionais ao poder de tributar a elas são aplicadas. Debrucemo-nos sobre as tais. 3.3.1 Limitações constitucionais ao poder de tributar Neste tópico, ver-se-ão os princípios incidentes no campo tributário que se aplicam as contribuições sociais para a seguridade social. CRFB, Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; II - instituirtratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; 1º. Legalidade tributária Incide perfeitamente na seara previdenciária. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 20 www.cursoenfase.com.br 2º. Isonomia tributária De sorte a se promover uma distribuição tributária justa, afigura-se viável realizar tratamentos díspares. Vide o artigo 195, §9º. CRFB, Art. 195, § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. Exemplifica-se a materialização desse princípio com a alíquota adicional paga pelas instituições financeiras. Tal alíquota foi declarada constitucional pelo STF5. Lei 8.212/91, Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: § 1º No caso de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas, além das contribuições referidas neste artigo e no art. 23, é devida a contribuição adicional de dois vírgula cinco por cento sobre a base de cálculo definida nos incisos I e III deste artigo. 3º. Irretroatividade da lei tributária Aplicável na seara das contribuições para a seguridade social. 4º. Anterioridade Não aplicável às contribuições para a seguridade social. Entretanto, incide nas contribuições de forma geral. Vide artigo 195, §6º, CRFB. CRFB, Art. 195, § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no artigo 150, III, b. 5º. Anterioridade nonagesimal Aplicável. 5 Exemplo extraído de outra aula ministrada pelo próprio professor. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 21 www.cursoenfase.com.br Observação: em decisão recentíssima do Supremo Tribunal Federal entendeu-se que a contribuição para o PIS é contribuição para a seguridade e submete-se ao princípio da anterioridade nonagesimal. 6º. Liberdade de locomoção Aplicável. 7º. Proibição da utilização de tributo como forma de confisco Aplicável. 8º. Imunidade recíproca e imunidades Não aplicáveis, pois exclusivos dos impostos. Exemplo: incide contribuição no pagamento vertido ao pastor de uma igreja evangélica. Nota: existem limitações específicas ao poder de tributar para as contribuições da seguridade social. Para as contribuições de forma geral, veda-se a cobrança sobre a exportação. No tocante às contribuições para a seguridade social, existem duas vedações peculiares: (i) artigo 195, inciso II, parte final, CRFB; (ii) artigo 195, §7º, CRFB. CRFB, Art. 195. [...] II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o artigo 201; CRFB, Art. 195. [...] § 7º São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. 3.3.2 Contribuições ordinárias ou nominadas Preveem-se no artigo 195 da Lei Maior e compreendem: (i) as contribuições da empresa (sobre folha de pagamento (conceito mais amplo do que ‘salário’), sobre faturamento ou receita (COFINS – contribuição para o financiamento da seguridade) e sobre Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 22 www.cursoenfase.com.br lucro (CSLL – contribuição social sobre o lucro líquido); (ii) do segurado, (iii) sobre o concurso de prognósticos e (iv) do importador. CRFB, Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. Observação1: apenas as contribuições sobre folha de pagamento e do segurado são contribuições previdenciárias (financiarão exclusivamente a Previdência Social). As demais são para a seguridade. Observação2: as contribuições sobre a receita do concurso de prognósticos (loteria) são conhecidas como “tributo dos pobres”. A bem da verdade, não se constituiriam como um tributo, eis que lhes falta um elemento essencial dos tributos, qual seja: compulsoriedade. 3.3.3 Contribuições residuais Criou o Constituinte a possibilidade de se estabelecerem outras contribuições (alcunhadas de residuais) para o caso de as previstas no seio da Lex Mater revelarem-se insuficientes. CRFB, Art. 195. [...] § 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. Tal expediente, conquanto viável, tem de obedecer aos requisitos insertos no artigo 154, inciso I, da CRFB, quais sejam, instituição por lei complementar, não-cumulatividade, fato gerador ou base de cálculo próprios, isto é, diferentes de outra contribuição; nada obstante, pode haver o mesmo fato gerador e a mesma base de cálculo de impostos. Direito Previdenciário Aula 07 O presente material constituiresumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 23 www.cursoenfase.com.br CRFB, Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; Observação: revolvendo o dispositivo em questão, o STF chegou à conclusão de que os três requisitos resumem-se em um, qual seja, a lei complementar, porquanto não existe vedação ao bis in idem entre contribuição e imposto.
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