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Artigo 489, §1º, inciso IV do NCPC: vício lógico, dupla causa de pedir e nulidade da terceira via – é o que temos para agora! – Por Tiago Gagliano Pinto Alberto
Argumentação Jurídica, Justiça e Cotidiano
Colunas e Artigos
Hot Empório
Por Tiago Gagliano Pinto Alberto – 10/05/2016
Olá a todos!!!
O artigo 489, §1º, inciso IV do CPC/15 determina que o provimento judicial decisório que “não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador” será tido como inválido. O seu telos, evidente na intenção, porém nebuloso na escrita, é o de que a decisão judicial deve enfrentar, de maneira explícita, todas as teses deduzidas pelos integrantes da relação jurídico processual, ou terceiros, a exemplo de um amicus curiae admitido a participar do feito.
Há, contudo, pouca clareza em diversos pontos. Em primeiro lugar em relação a palavra “argumentos”, que representa a estrutura final de um pensamento delineado por intermédio de diversos passos. Assim é que, somente para ilustrar, um argumento dedutivo, alinhavado na formatação modus ponens, deverá conter, obrigatoriamente, premissas normativa e fática, além da conclusão lastreada em juízo de certeza ontológico-sintática; o argumento indutivo, por outro lado, não será embasado por certeza, estando atrelado à probabilidade de que a premissa fática tenha ocorrido; um argumento de fundo consequencialista deverá, obrigatoriamente, ser prospectivo e direcionado ao porvir de alguma premissa fática ou jurídica suscitada ao transcorrer do feito; e assim por diante.
Como se pode perceber, o argumento é o produto final, de maneira organizada, do pensamento, ou da linha argumentativa. Esta, por sua vez, está calcada na causa de pedir lançada pela Parte em seu respetivo polo, ou pela tese suscitada pelo terceiro que participe do processo. Há, portanto, diferença entre argumento e causa de pedir e, porque o inciso determina ao juiz analisar os argumentos, não o obriga, necessariamente, a examinar todas as causas de pedir, ou teses deduzidas nos autos, o que é um erro.
Imagine a seguinte situação: determinada pessoa questiona em juízo a constitucionalidade de um tributo, pontuando que o tributo é inconstitucional por violação ao princípio da capacidade contributiva e, assim não fosse, o fato gerador não ocorreu. Observe que são duas as causas de pedir, embora não necessariamente dois argumentos que as lastreiem. Para julgar a causa, poderá o juiz se utilizar de: i) argumentos dedutivos; ii) argumentos consequencialistas; iii) argumentos a fortiori; iv) argumentos tópicos; v) argumentos de derrotabilidade; vi) argumentos genéticos e assim por diante. O objetivo do inciso IV não é que o juiz exponha todos os argumentos que, em tese, gerariam uma decisão diversa da que produziu, porque se esta fosse a ideia, o inciso seria de impossível aplicação, já que sempre existiria algum argumento não apreciado, em tese, capaz de gerar uma solução diversa; mas sim que todas as causas de pedir deduzidas, pelos Litigantes ou terceiros atuantes no processo, sejam apreciadas.
Assim, onde se lê “argumentos”, leia-se “causas de pedir”. E a relevância dessa distinção é a seguinte: imagine agora que, não havendo o inciso IV do §1º do artigo 489, o juiz acolha apenas a tese da inconstitucionalidade, entendendo prejudicada a alegação de inocorrência do fato gerador. Considere que esta decisão venha, submetida a recurso, a transitar em julgado na forma como lançada. Posteriormente, ao requerer a instauração da fase de cumprimento de sentença contra a fazenda pública com amparo no artigo 535 do CPC/15, a Parte exequente é surpreendida pelo ente público que apresenta no feito, em impugnação (art. 535, inciso III e §5º), decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em ação direta de inconstitucionalidade declarando a constitucionalidade do tributo, tendo esta sido prolatada após o trânsito em julgado do feito em que, em sede intersubjetiva, reconheceu-se a pecha do tributo. Por ser vinculante, esta decisão deverá ser seguida pelo juiz que preside a fase executiva e, por isso, a execução não prosperará, o que levará o outrora vencedor à possibilidade de ter de arcar com o pagamento de tributo cujo fato gerador pode não ter ocorrido. Nesta perspectiva, jamais se terá a certeza de que o fato gerador ocorrera, já que a causa de pedir alusiva a este ponto não chegou a ser apreciada – e não havia a necessidade de tal análise, anteriormente ao novo CPC.
Esta é uma das situações que o inciso IV do §1º do CPC/15 procura obstar ao exigir que o juiz analise todos os “argumentos” (sic: causas de pedir) que possam, em tese, ensejar solução diversa da que adotou no provimento decisório, seja ele sentença, decisão interlocutória, ou votos, vencido ou vencedor.
Há uma outra questão interessante e afeta a esta mesma temática. Consagrou-se em ambiente doutrinário o chamado princípio da nulidade da terceira via, segundo o qual o juiz não pode, de maneira inédita, adotar uma postura decisória cujo pano de fundo seja um instituto/fato, ou qualquer outra circunstância fática ou jurídica que não foi explorada em âmbito argumentativo e probatório pelas Partes. Assim, por exemplo, sustentado um erro por uma das Partes e o dolo por outra, não estará o juiz autorizado a proferir decisão invocando a ocorrência de coação. Isso porque, conquanto todos sejam defeitos do negócio jurídico que ostentam inclusive a mesma classificação quanto ao vício (de consentimento), as Partes (e eventual terceiro) não tiveram a oportunidade de manifestação argumentativa e desenvolvimento do tema pela via probatória.
Um dos motes do CPC/15, como anunciado já nos primeiros artigos, é o que de o princípio da cooperação/colaboração seja observado e, com base nisto, o contraditório seja efetivo, de modo que a decisão dele resultante seja oriunda de um efetivo diálogo argumentativo-probatório realizado pelas Partes ao longo do tramitar processual. Dessa forma, se o decisor simplesmente apresenta algo inédito, fático ou jurídico, como produto final da decisão que deveria ser tida como a consagração última do embate argumentativo entre as Partes e terceiros (acaso existentes) atuantes no feito, estará atuando desprovido de legitimidade argumentativa, lançando decisão fruto de compreensão unilateral e monológica, não afeta ao necessário e imprescindível diálogo apresentado ao longo do tramitar processual.
Por isso, a compreensão decisória, por mais fundamentada e abalizada que seja, não se prestará enquanto veículo estatal de divulgação do ponto de vista do ordenamento jurídico por intermédio de agente público especialmente legitimado para esta função. Será apenas a opinião pessoal de um servidor que não se encontra legitimado a expô-la na forma como o fez.
Este é também o intento do inciso em comento. Recrudescendo o tratamento da legitimidade argumentativa, viabiliza que no processo o contraditório seja efetivamente respeitado, com argumentos e apreciações probatórias consideradas como aptas, efetiva e não potencialmente, a alterar o resultado final do julgamento do caso.
Por último, não posso deixar de considerar que o inciso, na forma como lançado, traz, ínsito a si, um vício lógico que o fulmina no plano sintático. É que em apenas uma situação o juiz deixará de considerar “argumentos” que poderão, em tese, alterar o resultado de seu provimento decisório: quando decidir em determinado sentido e, de maneira pouco sagaz e algo transloucada, apresentar, no corpo da fundamentação ou em nota de rodapé, qual ou quais foram os “argumentos” que deixou de apreciar e que, em tese, poderiam gerar uma decisão em sentido diverso da que efetivamente adotou. Em todas as outras hipóteses, em análise originária ou recursal, ao decidir, o juiz levou efetivamente em consideração todos os “argumentos” que poderiam tê-lo feito decidir no sentido que o fez, não havendo espaço para situações que, em tese, ensejassem solução diversa. Afinal, já decidiu…
De fora parte este vício lógico que, sobo aspecto sintático, fulmina o inciso, o seu telos é interessante e, especificamente no caso da chamada questão da dupla causa de pedir e da aplicação do princípio da nulidade da terceira via, produz efeitos interessantes no que toca à argumentação e ao efetivo contraditório.
Um grande abraço a todos. Compartilhem a paz!

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