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Scheila Maria 2016 1 INFECTO – HIV/AIDS ETIOPATOGENIA E FISIOPATOLOGIA É causada por um retrovírus da família Retroviridae, e que, portanto apresenta RNA como material genético e a enzima transcriptase reversa e possui dois tipos biológicos: HIV-1 e HIV-2. O primeiro é responsável pela pandemia mundial e o segundo, mais restrito a algumas regiões, como a África e um pouco menos infectivo, de progressão mais lenta. Na matriz proteica do vírus encontra-se o antígeno p24, utilizado para diagnóstico. Externamente, apresenta envelope glicoproteico e as proteínas de superfície mais importantes são: gp120 e gp41 e possuem afinidade pelos receptores CD4 e vão permitir a entrada do vírus na célula. Estas proteínas também são utilizadas para diagnóstico por sorologia. As enzimas integrase e protease que participam, integrando o DNA viral no DNA da célula hospedeira e produzindo proteínas virais na maquinaria da célula hospedeira, respectivamente, são participantes ativas na infecção e são alvos de medicamentos antiretrovirais. Tropismo: Linfócitos TCD4, macrófagos, células precursoras da M.O e células da glia. Os primeiros são os mais importantes na destruição da imunidade. No entanto, quando encontramos carga viral baixa é necessário ter em mente que esses vírus continuam se replicando nessas outras regiões como SNC, são os “santuários”. Mecanismo de ação: ocorre a fusão vírus-célula através de co-receptores nos receptores CD4, o vírus então injeta seu material no interior da célula desencadeando o processo de replicação. Transcrição reversa, integração ao DNA da célula, produção de polipeptídeos e formação de novos vírus que emergem da superfície da célula levando um pedaço e atacando novas células. Esse mecanismo de ação de ataque repetido ao CD4 danifica membrana e material genético da célula até causar sua morte. Ocorre então redução do sistema imunológico e susceptibilidade a infecções oportunistas e complicações. TRANSMISSÃO Atualmente a principal forma é a sexual, mas há também via transfusional, vertical, compartilhamento de agulhas e seringas, instrumental não esterilizado e acidente com material biológico. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA “A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1, o HIV-1, cursa com um amplo espectro de apresentações clínicas, desde a fase aguda até a fase avançada da doença. Em indivíduos não tratados, estima-se que o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença esteja em torno de dez anos”. (Ministério da Saúde) Scheila Maria 2016 2 Primo-infecção pelo HIV: A primeira célula a qual o vírus tem contato é uma célula dendrítica (cél apresentadora de antígeno) que também expressa CD4 em sua superfície. Célula dendrítica liga-se ao HIV e apresenta o antígeno ao TCD4 (T-helper). Estas células migram para os linfonodos regionais tornando a infecção local em sistêmica. Dos linfondos há disseminação hematogênica e linfóide (baço, cérebro, entre outros..) O tempo desde o contato com a célula dendrítica à disseminação por todo o corpo é de cerca de 3 dias. Devido a isso, a profilaxia em casos de acidente com material biológico ou exposição ao vírus em casos sexuais deve ser feita nas primeiras 72H. Desde a generalização da infecção até o início da sintomatologia (síndrome retroviral aguda) temos um período de 2-3 semanas. ESTÁGIO I – INFECÇÃO AGUDA (Síndrome retroviral aguda) Sintomatologia em 50-90% dos pacientes. Sintomas: febre, linfadenopatia aguda febril, rash cutâneo, entre outros. Na linfadenopatia aguda febril diagnóstico diferencial é infecção por HIV – pesquisar epidemiologia para analisar a necessidade de investigar. Quadro mono-like com duração de 2-3 semanas e regressão espontânea. Carga viral e transmissibilidade altas. Raramente diagnóstico é feito nessa fase devido aos sintomas inespecíficos. Nessa fase não há sorologia positiva. Não há necessidade de exame sorológico. Para diagnóstico nessa fase: PCR RNA-HIV ou aguardar 30 dias para sorologia. É muito importante que o médico, diante de um quadro viral agudo, considere a infecção pelo HIV entre os diagnósticos possíveis e investigue potenciais fontes de exposição ao vírus. (Ministério da Saúde) ESTÁGIO II – SOROCONVERSÃO Ocorre torno de 4 semanas após a transmissão. Período em que o anticorpo já está detectável no sangue e é possível o diagnóstico por sorologia. ESTÁGIO III – INFECÇÃO CRÔNICA ASSINTOMÁTICA E SINTOMAS INICIAIS Equilíbrio entre a resposta imune específica e a replicação viral. Essa etapa dura anos (em média 8-10) e é variável de indivíduo para indivíduo devido a quantidade de vírus que causou a infecção e a capacidade do organismo criar uma resposta eficaz logo no começo. Durante essa fase, apesar da estabilidade clínica, a imunidade declina lentamente e a carga viral aumenta também lentamente. (ver gráfico1) Enquanto a contagem de linfócitos T-CD4+ (LT-CD4+) permanece acima de 350 células/mm3, os episódios infecciosos mais frequentes são geralmente bacterianos, como as infecções respiratórias ou mesmo tuberculose, incluindo a forma pulmonar cavitária. Com a progressão da infecção, apresentações atípicas das infecções, resposta Scheila Maria 2016 3 tardia à antibioticoterapia e/ou reativação de infecções antigas começam a ser observadas. A medida que a infecção progride (contagem LT-CD4+ entre 200-300 céls/mm3) podem surgir sintomas constitucionais, lesões orais, herpes-zóster, alterações neurológicas... ESTÁGIO IV – SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA Rompimento do equilíbrio: O paciente já está com uma imunodepressão suficiente para o aparecimento de sintomas secundário a infecção pelo HIV (secundários a imunodepressão) e infecções oportunistas. Entre as infecções oportunistas destacam-se: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptocócica e retinite por citomegalovírus. As neoplasias mais comuns são sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino, em mulheres jovens. Nessas situações, a contagem de LT-CD4+ está abaixo de 200 células/mm³, na maioria das vezes. O HIV pode também causar doenças por dano direto a certos órgãos ou por processos inflamatórios, tais como miocardiopatia, nefropatia e neuropatias. História natural da doença (contagem de CD4 x Tempo) Obs1: No gráfico o momento que marca o estabelecimento do CD4 de base e da carga viral de base (depois da infecção aguda) chama-se set point e tem valor prognóstico. Quanto pior o set point, ou seja, quanto maior a carga viral de base e menor a taxa de CD4, mais rápida a progressão da doença. O valor do set point depende do inóculo, genética e resposta imune do paciente e até mesmo cepa do vírus. DIAGNÓSTICO: (colocar fluxograma do ministério e outras informações) Sorológico – ELISA: teste mais utilizado na triagem Testes de triagem: ELISA, testes rápidos (ex. imunocromatografia) Testes confirmatórios: Imunofluorescência indireta, Western Blot. PCR só é recomendado para bebês filhos de mães HIV+. Scheila Maria 2016 4 Acidente com material biológico e exposição sexual ocasional não é indicado PCR, utiliza-se sorologia após 30 dias. O fluxograma aponta a conduta em relação a necessidade de mais de um teste de triagem e testes confirmatórios mais específicos: DEFINIÇÃO DE CASO DE AIDS: CLASSES DE MEDICAMENTOS: TRATAMENTO - TARV Objetivos do ttt: inibir a replicação viral, retardar a progressão da imunodeficiência e restaurar, quando possível a imunidade. O monitoramentodo ttt tem como objetivos: mensuração periódica da carga viral e contagem de CD4, avaliação metabólica, checar potenciais co-infecções, tratar a co- morbidade e manter a carga viral indetectável. Portanto deve-se INICIAR TARV IMEDIATAMENTE em pacientes: Sintomáticos (ver obs2), incluindo tuberculose ativa (ver obs3) Assintomáticos com CD4 ≤ 500 céls/mm³ Assintomáticos com CD4 > 500 céls/mm³ na coinfecção HIV-HBV (ver obs4) Pacientes sem contagem de LT-CD4+ disponível Gestantes Scheila Maria 2016 5 Obs2: Entende-se por sintomáticos os pacientes com: a. Manifestações clínicas associadas ao HIV como: nefropatia (proteinúria intensa e hipoalbuminemia); alterações neurológicas (perda da memória, lentificação psicomotora, déficit de atenção distúrbios da marcha, tremor); e cardiomiopatias. b. Imunodeficiência avançada (doença definidora de AIDS – ver todas no Quadro2.) ou moderada. Obs3: Tuberculose ativa – recomenda-se iniciar TARV para todas as PVHA com TB ativa, independentemente da forma clínica e contagem de LT-CD4+. Seu início deve ser precoce, entre a 2ª e 8ª semana após o início do tratamento da tuberculose. Obs4: HepatiteB – Pacientes com indicação de tratamento para hepatite B, e para os quais o interferon não esteja recomendado, devem iniciar mais precocemente a TARV, com esquema contendo TDF e 3TC. Obs5: HepatiteC – No caso de pacientes com contagens de LT-CD4+ ≤ 500 células/mm3, recomenda-se iniciar TARV e aguardar o aumento dos LT-CD4+ para o início do tratamento do HCV. Nos casos de LT-CD4+ superiores a 500 células/mm3 recomenda-se tratar inicialmente a hepatite C, protelando o uso de TARV, para evitar interações medicamentosas e sobreposição de toxicidades. Obs6: Carga viral – Em pacientes com contagem de LT-CD4+ > 500 células/mm3 e carga viral superior a 100.000 cópias/mL considerar início de TARV quando o LT-CD4+ estiver próximo a 500 células/ mm3. ESQUEMAS DE TTT A terapia inicial deve incluir combinações de três antirretrovirais, sendo dois ITRN/ITRNt associados a um ITRNN. O esquema de primeira linha É: Tenofovir + lamivudina + efavirenz Scheila Maria 2016 6 Obs: Genotipagem pré-tratamento: está indicada nas seguintes situações: • Pessoas que tenham se infectado com parceiro em uso de TARV (atual ou pregresso) • Gestantes infectadas pelo HIV FALHA TERAPÊUTICA A falha virológica é o principal parâmetro para a caracterização da falha terapêutica A falha virológica é caracterizada por carga viral plasmática detectável após seis meses do início ou modificação do tratamento antirretroviral, ou por detecção da carga viral nos indivíduos que a mantinham indetectável na vigência de tratamento. Causas de falha terapêutica Baixa adesão ao tratamento Potência virológica insuficiente Fatores farmacológicos Resistência viral DOENÇAS OPORTUNISTAS E AIDS DOENÇA Scheila Maria 2016 7 Obs: Na presença dessas doenças deve ser feito diagnóstico de imunodepressão, sorologia para HIV se ainda não houver diagnóstico. TUBERCULOSE Investigação da Tuberculose: Uma vez que a tuberculose é a principal causa de óbito por doença infecciosa com origem definida em PVHA, a TB deve ser pesquisada em todas as consultas mediante o questionamento sobre a presença dos seguintes sintomas: tosse, febre, emagrecimento e/ou sudorese noturna. A presença de qualquer um desses sintomas pode indicar TB ativa e deve ser investigada. A infecção pelo HIV eleva o risco de desenvolvimento de tuberculose ativa em indivíduos com tuberculose latente, sendo o mais importante fator identificado de risco para TB. O tratamento da infecção latente com isoniazida (na dose de 5 mg/kg a 10 mg/kg de peso, até a dose máxima de 300 mg/dia). é recomendado para todas as PVHA com PT ≥ 5 mm, desde que excluída tuberculose ativa. Scheila Maria 2016 8 HEPATITE C Pacientes assintomáticos com contagem de LT-CD4+ > 500 células/mm3, sem uso de TARV: recomenda-se priorizar o tratamento da hepatite C. Pacientes sintomáticos ou assintomáticos com contagem de LT-CD4+ ≤ 500 células/mm3, sem uso de TARV: há indicação de iniciar TARV. Iniciar o ttt da hepatite apenas após estabilização clínica e imunológica HEPATITE B MENINGITE POR CRIPTOCOCOS A criptococose é uma das infecções fúngicas sistêmicas mais comuns no paciente imunodeprimido pelo HIV. A meningite é a principal forma de acometimento da doença criptocócica. Sintomas: cefaleia e febre, sinais meníngeos (poucos casos) Diagnóstico: punção lombar, aglutinação com látex no líquor, tinta da China (confirma diagnóstico). Fatores que pioram prognóstico: Contagem de leucócitos <20 células/μL no líquor, alteração do estado mental, hipertensão intracraniana , titulação de látex para Cryptococcus sp superior a 1:1024 no líquor. Scheila Maria 2016 9 TRATAMENTO: o Anfotericina B – 0,7-1mg/kg, 4x/dia, por 14 dias, (Se a cultura vier (-) passa para manutenção, se vier (+) mantém anfotericina por mais 1 semana e faz teste de cultura novamente, mantém até vir (-). o Fluconazol 400mg, 1x/dia, por 7 dias, NEUROTOXOPLASMOSE A toxoplasmose é a causa mais comum de lesões neurológicas focais com efeito de massa em pacientes infectados pelo HIV e LT-CD4+ inferior a 200 células/mm3. Sintomas: cefaleia, febre, convulsões, sinais focais como hemiparesia, disfasia. Diagnóstico: devido ao fato do diagnóstico definitivo envolver a biopsia cerebral recomenda se que todas as PVHA que apresentem sinais clínicos compatíveis e exame de imagem sugestivo de NTX sejam tratadas empiricamente para essa infecção. TRATAMENTO: o Sulfadiazina 100 mg/kg/dia, 6/6h por 3-semanas o Pirimetamina 50-75 mg/dia por 3-6 semanas o Ácido folínico 15 mg/dia por 3-6 semanas o Obs: Utilizar dose de ataque de pirimetamina 75mg por 3 dias. PNEUMOCISTOSE Pneumonia por Pneumocystis jirovecii é a causa mais comum de doença pulmonar oportunista em imunodeprimidos pelo HIV. Sintomas: febre, tosse seca, dispneia progressiva, FR, fadiga e perda de peso (insidioso) Diagnóstico: Sinais focais no exame físico e imagens, além dos achados laboratoriais TRATAMENTO: o Sulfametoxazol 100mg/kg/dia o + Trimetroprima 20mg/kg/dia, IV, 6/6h, por 21 dias. CITOMEGALOVÍRUS Retinite por CMV: permanece como uma causa importante de morbidade ocular e um dos principais agentes causadores de cegueira em pacientes com AIDS. Tratamento: administração endovenosa de ganciclovir HISTOPLASMOSE Imunodeprimidos graves (LT-CD4+ < 150 células/mm3) apresentam risco mais elevado de evolução para histoplasmose disseminada, sendo os principais sinais e sintomas dessa forma clínica: febre, perda de peso, pancitopenia, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alterações pulmonares e lesões mucocutâneas numerosas, que se iniciam como pápulas, progredindo para pequenos nódulos umbilicados e úlceras. Tratamento: Anfotericina B e Itraconazol Scheila Maria 2016 10 HERPES Herpes Zóster: Aciclovir, 800mg, 4/4h [Retirar dose da madrugada, ficam 5 doses/dia] Herpes Simples (genital/oral): Aciclovir, 400mg 8/8h O ttt é o mesmo para pacientes com ou sem HIV. Deve ser feito até a formação da crosta Herpes zoster tem alta prevalência em pacientes com HIV DIARREIA Diarreia aguda: as principais causas são bactéria, protozoário e medicamento. DDI e IP podem causar diarreia decorrente de medicamento. Outros agentes: Shigella, Salmonella, Campylobacter jejuni. Diarreiacrônica: criptosporidiose e isosporíase (+ comum). O tratamento é o mesmo da pneumocistose: o Sulfametoxazol 100mg/kg/dia o + Trimetroprima 20mg/kg/dia, IV, 6/6h, por 21 dias. PROFILAXIA DE INFECÇÕES OPORTUNISTAS Primária: para evitar ter a doença Secundária: para evitar a recidiva Cessar quando CD4 > 200, após 3 meses Pneumocistose: fazer profilaxia para todo paciente com CD4 <200 o Sulfametoxazol 800mg, o + Trimetroprim 160mg, 3x/semana Toxoplasmose: profilaxia idem pneumocistose porém 1x/dia Mycobacterium tuberculosis: apenas quando elimina chance o Izoniazida 5mg/kg/dia Mycobacterium Avium o Azitromicina 3comprimidos 500mg = 1500mg/semana) Síndrome Inflamatória da Reconstituição Imune (SRI) ou Reação Paradoxal Durante o início do tratamento da tuberculose, a reconstituição do sistema imune pode levar a uma resposta TH1 exacerbada, a qual estimula a formação de granulomas, resultando em agravamento de lesões pré-existentes ou aparecimento de novos sinais, sintomas ou achados radiológicos de novas lesões, tais como linfadenomegalias com sinais flogísticos, que podem evoluir para fistulização e compressão de estruturas nobres ou levar à perfuração de órgãos (por exemplo, intestino). Esse fenômeno ocorre em resposta a antígenos micobacterianos e não caracteriza falha no tratamento da TB. A reação paradoxal é um diagnóstico que pressupõe a exclusão de fatores como resistência aos medicamentos anti-TB, baixa adesão ao tratamento e outros diagnósticos definidores de AIDS. Scheila Maria 2016 11
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