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Scheila Maria 2016 1 ÚLCERAS DE PERNA Perda de substância da epiderme, derme ou hipoderme que pode ser fagedênica (quando cresce em extensão) ou terebrante (quando cresce em profundidade). É uma perda de substância abaixo do joelho que não cicatriza em um período de até 6 semanas. Não é uma doença, mas sim uma manifestação de problema subjacente que deve ser tratado. A doença venosa crônica é a principal causa e em seguida vem a doença arterial periférica e diabetes. Podem ocorrer em infecções, vasculites, neoplasias, doenças metabólicas, hematológicas, dermatológicas, entre outros. As mais comuns são as vasculares (75%) seguida das neuropáticas (15%). DIAGNÓSTICO: o Inicia com história e avaliação clínicas completas. o Investigar possibilidade de TVP prévia, indagando sobre quadros anteriores de edema em MMII após cirurgia ou gravidez, imobilização prolongada, hemoptise, história de TEP. o A presença de claudicação intermitente, angina, IAM ou AVC sugerem possibilidade de doença aterosclerótica com acometimento arterial periférico. o Comorbidades cardiovasculares, diabetes, hipertensão, doenças hematológicas hereditárias devem ser investigadas bem como uso de medicamentos, álcool, tabaco ou drogas. o Investigar o início da úlcera, sintomatologia, fatores agravantes e atenuantes, episódios anteriores, tempo de cicatrização e tto realizado. o Ao exame físico: avaliar presença de edema, uni ou bilateral, alterações tróficas, mobilidade de articulações, presença de varizes, localização e número de ulcerações, tamanho, características de borda e fundo. Os pulsos devem ser palpados para avaliar doença arterial. o Investigação laboratorial: hemograma, VHS, FAN; Cultura: avaliar presença bacteriana (S. aureus); Biopsia (pode ser feita quando não há resposta do tto); Radiografia simples (quando há suspeita de osteomielite, no entanto RM é o melhor exame nesse caso). o História clínica + exame físico + Doppler é o indicado para todos pacientes com lesão ulcerada. Outros exames vasculares podem ser feitos para planejamento da terapêutica. 1. Úlceras venosas São as mais frequentes, resultantes de hipertensão venosa crônica de longa duração (varizes e trombose venosa – síndrome pós trombótica) Os reflexos da hipertensão venosa crônica irão, em ultima instância refletir-se na microcirculação. Ocorre espessamento dos capilares, deposição de fibrina, aumento da viscosidade plasmática, agregação de hemácias, adesão leucocitária e esse meio favorece o aparecimento da úlcera. Ao exame clínico: dermatite, hiperpigmentação, atrofia branca. Eritema, dermatite ocre, dermatolipoesclerose (fibrose de derme e subcutâneo deixando a pele com aspecto esclerótico), exsudação, descamação e prurido decorrentes da insuficiência venosa podem ocorrer em todo o membro inferior. Scheila Maria 2016 2 Local: Ocorrem na face medial inferior da perna, nos maléolos. Características: Borda irregular, base exsudativa, camada espessa de tecido fibrinoso, não dolorosa geralmente, apenas quando há infecção, recorrentes. Em casos crônicos pode ocorrer infecção ou celulite acometendo o sistema linfático, podendo gerar linfedema. Diagnóstico: exame clínico e US com Doppler. TTT: compressivo, repouso com membros elevados e cirúrgico. Fisiopatologia: lesão valvular refluxo venoso estase venosa aumento da pressão nos capilares venosos aumento da resistência no capilar arterial edema e hipóxia tecidual eczema e dermatite úlcera venosa. 2. Úlceras arteriais As úlceras decorrentes de isquemia não oferecem dificuldade diagnóstica. São causadas por lesões tronculares ou microangiopatias. o Por lesões tronculares: ocorrem após trauma ou infecção sem localização preferencial. Diagnóstico clínico + ITB e angiografia. Tto cirúrgico (não debridar). o Por microangiopatia: úlcera hipertensiva de Martorell (associada a HAS diastólica, muito dolorosa); microangiopatia diabética (deposição de substância anormal na MB de capilares espessamento obstrução isquemia); Vasculites (infecciosas ou imunológicas, únicas ou múltiplas, associadas a nódulos, púrpuras, petéquias, livedo reticular. Diagnóstico clínico + laboratorial e histopatológico). Histórico de claudicação intermitente, dor de repouso, sintomas de doença vascular, ausência de pulsos e pressão reduzida ao Doppler podem firmar o diagnóstico. Ao exame clínico: o membro pode mostrar-se lívido ou cianótico, com pele seca e fria, descamativa, atrófica, alopecia, unhas frágeis e sem brilho. Local: Estão localizadas em locais sujeitos a maior pressão ou traumatismos: artelhos, proeminências ósseas, região pré-tibial, maleolar lateral. Caracaterísticas: borda delimitada e base seca, pode conter restos necróticos, muito dolorosas, especialmente a noite e com a elevação do membro. Diagnóstico: clínico + ITB Tratamento: o Tronculares = cirúrgico (não debridar) o Microangiopáticas = clínico Scheila Maria 2016 3 3. Fístulas arterio-venosas Podem ser congênitas (geralmente associada a nevus) ou adquiridas, localizadas ou difusas e são mais comuns nos MMII. São achados associados: edema periférico, temperatura da pele, veias proeminentes, pulsáteis, frêmitos, sopros. Aspecto semelhante ao das úlceras venosas, porém diferem quanto a localização. Fístulas difusas possuem tto bem mais difícil e a amputação é indicada quando há ICC ou úlceras dolorosas intratáveis. Tratamento: correção da FAV 4. Úlceras linfáticas Ocorrem em linfedemas avançados no entanto, são raras. O acúmulo de proteínas plasmáticas leva a dermatolipoesclerose e traumas ou infecções podem gerar a úlcera. Ao exame físico: edema linfático, pele espessada, ausência de varizes. 5. Vasculites. As úlceras por artrite reumatoide são comuns, frequentemente aparecem na região maleolar (DD com úlcera venosa) mas podem se localizar em qualquer região da perna. Alterações em mãos e articulações sem evidências de doença arterial ou venosa sugerem o diagnóstico. A esclerodermia é a mais comum no aparecimento de úlceras. Fenômeno de Raynaud, disfagia, artrites e alterações faciais sugerem diagnóstico que pode ser confirmado por FAN e hemossedimentação elevados. As úlceras são pequenas, múltiplas, dolorosas, profundas e com poucos sinais de cicatrização. Aparecem em artelhos podendo estender-se para o pé. No LES são úlceras mútiplas, pequenas, crônicas e recorrentes em qualquer local da perna. Associadas a aumento de anticorpos antilúpicos. Por fim, no pioderma gangrenoso a úlcera é não infecciosa, crônica, recidivante, destrutiva, necrosante. Se apresenta inicialmente como um nódulo, pústula ou bolha hemorrágica e que progride rapidamente para ulceração com bordas descoladas, halo Scheila Maria 2016 4 eritematoso, fundo granuloso e crosta necrótica. Deixa cicatriz atrófica sobre a qual pode recidivar (patergia). Diagnóstico essencialmente clínico. 6. Metabólicas Necrobiose lipoidica é condição encontrada em diabéticos com ocorrência de necrose de gordura subcutânea e com subsequente necrose de pele. Gota causa necrose da pele por compressão de tofo gotoso subjacente ocasionando úlceras persistentes nas quais os cristais de ácido úrico agem como corpo estranho dificultando a cicatrização. Calcinose cutânea: deposição de cálcio na pele. Porfiria: rara, por comportamento anormal das porfirinas (constituinte da Hb) 7. Neoplasias Doenças neoplásicas podem formar lesões ulceradas primárias em MMII (principalmenteCBC e sarcomas) ou estas podem ocorrer como transformação maligna de úlcera anterior de outra etiologia (tumor mais frequente é o CEC). Sarcoma de Kaposi: manchas púpuras que evoluem para nódulos e ulcerações. Diagnóstico: confirmação histológica de malignidade. 8. Infecções Podem causar ulcerações que geralmente são de difícil cicatrização por estarem associadas a patologias subjacentes como diabetes, edema, celulite ou doença vascular. Ectima: piodermite causada por estafilococos ou estreptococos. Forma uma pústula que evolui para úlcera. Geralmente deixa cicatriz após o tto. Desnutrição e higiene precária são fatores importantes na patogenia. Tuberculose: lesões simétricas em panturrilhas geralmente, iniciam com nódulos que ulceram e depois deixam cicatrizes. Histopatológico evidencia granulomas tuberculóides com necrose caseosa. Há vasculite, trombose e necrose. Hanseníase: podem ser decorrentes de processos isquêmicos secundários a oclusão capilar por deposição de imunocomplexos ou por expulsão de material necrótico pelo nervo acometido. São acompanhadas das manifestações da doença e ocorre no paciente virchowiano. Leishmaniose, esporotricose, sífilis terciária são outras causas de úlceras de pernas infectadas. Diagnóstico: clínico + cultura. 9. Hemoglobinopatias Hemácias falciformes presentes na anemia deste tipo formam grumos devido ao seu formato e estes ocluem pequenos vasos podendo causar úlceras de perna bem como outros acometimentos como nefropatias e retinopatias. Geralmente são resistentes ao tto e tendem a ser recorrentes. Scheila Maria 2016 5 10. Neuropáticas Ocorrem em áreas de pressão associadas à neuropatia. São frequentes sob a primeira articulação metatarsofalangiana, base do quinto metatarso e calcâneo. São calosidades que evoluem para ulceração. Indolores, profundas, com hiperceratose e são porta de entrada para infecções. São comuns do diabético ou de portadores de outras patologias neuropáticas como AVC, siringomielia, etilismo. Tratamento: cuidados locais e sapatos adequados. Considerar osteomielite. 11. Traumáticas Comuns nas pernas e tornozelos por traumas, queimaduras, pressão, iatrogênicas ou por exposição a radiação. 12. Drogas Warfarina: síndrome de oclusão microvascular que começa dois a cinco dias após o início do uso da varfarina sem terapêutica concomitante com heparina (hipercoagulabilidade transitória). Heparina: oclusão microvascular a partir da produção de auto-anticorpos contra o fator 4 das plaquetas (TIH) Hidroxiuréia: agente citoredutor utilizado em casos de policitemia, trombocitose, anemia falciforme. Úlceras dolorosas persistentes geralmente perto do maléolo ou parte inferior da perna anterior.
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