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Obrigação de dar representa a entrega de alguma coisa pelo devedor ao credor. Obs. Tecnicamente dar = entregar coisa certa DAR coisa incerta restituir (devolver) Obrigação de dar coisa certa: O devedor fica adstrito a fornecer ao credor determinado bem, perfeitamente individuado, móvel ou imóvel. A coisa certa consta de objeto preciso, que se possa distinguir por características próprias de outros da mesma espécie. (coisa específica, determinada, individualizada). Ex. o devedor deve entregar um animal de corrida, o credor tem que receber aquele animal. A obrigação de dar coisa certa, só confere ao credor direito pessoal (um crédito) e não real (sobre as coisas), pois não transfere de logo o domínio, apenas obriga-se a transmiti-lo. Logo, não cabe ao credor reivindicar a coisa, mas tão somente mover ação de indenização. O domínio só acontece com a tradição (transmissão, transferência de posse) Ex: contrato de compra e venda (obrigação de dar). O contrato gera o direito pessoal. O fim do contrato gera o direito real. O direito real acompanha a coisa, já o direito pessoal, não! Se a primeira pessoa passou para outras pessoas, o direito a perdas e danos será cobrado do último. Ex. Se A vende um cavalo a B, e B vende a C. O juiz não vai exigir de B a entrega para C, mas de A (do primeiro que deu a coisa), porque a obrigação de dar a coisa é pessoal. A tem o direito a perdas e danos contra B. As obrigações de dar podem vir aglutinadas com outras obrigações de fazer e não fazer. Por exemplo: o vendedor além de se comprometer a entregar a coisa vendida, contrai, simultaneamente, salvo pacto em contrário, obrigação de responder pelos vícios redibitórios (que estão ocultos e diminuem o valor do produto, por ex. quadro com polia) e pela evicção (direito de regresso, ex: compro um carro e o Banco toma de mim porque o antigo dono estava devendo, eu tenho o direito de regresso contra o antigo dono). Princípios: 1. Identidade, “aliud pro alio” (art. 313 CC) – A coisa não poderá ser substituída unilateralmente pelo devedor. O credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa, como também não pode exigir coisa diferente, ainda que menos valiosa. Não é lícito o devedor entregar coisa diversa da ajustada, pois estaria alterando unilateralmente o objeto da prestação. O adimplemento é específico, sem possibilidade de sub-rogação ou substituição por prestações diferentes, salvo com anuência do credor. Se fosse permitido aos devedores entregar coisa diversa da pactuada, geraria impugnações dos credores, perícias, comprometendo a distribuição da justiça. A dação em pagamento não é exceção à regra, pois nesta há o expresso consentimento do credor em receber uma coisa por outra (art.356). O art. 3713, II exclui a possibilidade de compensação nos casos de comodato e depósito (art. 373, II). O credor tem o direito de receber, de volta, a própria coisa emprestada ou depositada. (exceto depósitos tratados nos arts. 636 e 638). “Art.636 O depositário, que por força maior houver perdido a coisa depositada e recebido outra em seu lugar, é obrigado a entregar a segunda ao depositante, e ceder-lhes as ações que no caso tiver contra terceiro responsável pela restituição da primeira.” A entrega parcelada só é permitida mediante pacto expresso. Exceção: o portador da letra de cambio é obrigado a receber o pagamento parcial, ao tempo do vencimento. 2. Acessoriedade (art.233) – O acessório segue o destino do principal. Se eu não quiser que o acessório acompanhe a coisa, terei que fazer uma ressalva, salvo se resultar de uma circunstância. Essa regra se aplica aos frutos, produtos e benfeitorias. Ex. 1- a entrega de terreno com suas árvores frutíferas inclui os frutos acaso pendentes. 2- quem aliena um imóvel transmite o ônus do imposto as servidões existentes e direito de cobrar do inquilino o aluguel atrasado. São acessórios da coisa e seus acrescidos o direito real de usufruto. 3. Direito aos melhoramentos, frutos e produtos acrescidos (art.237) Melhoramentos: Até a entrega, a coisa com seus melhoramentos e acréscimos (pelos quais poderá exigir aumento do preço) pertence ao devedor, após a entrega, ao credor. Ou seja, o devedor deve entregar os acessórios, mas se houver acréscimos, os chamados cômodos, pode o devedor cobrar por eles a respectiva importância. Frutos: Pendentes (frutos na árvore) pertencem ao devedor, percipiendos (podiam ser colhidos, mas não foram) pertencem ao credor. Ex. o objeto da obrigação é um animal, este enquanto estava com o devedor gera um filhote ainda para nascer, o devedor não será compelido a entregar o animal com seu fruto. Ao devedor cabe o direito de exigir aumento de preço pelo acréscimo que teve a coisa. Produtos: Idem aos frutos. Obs: Se uma fazenda é vendida (ou locada), e antes da entrega a estrada onde ela está situada é asfaltada, há uma benfeitoria da qual o devedor (vendedor ou locatário) não participou, então ele não pode aumentar o preço (no caso do locatário, receber o valor da melhoria). 4. Perda (extinguir)/Deterioração (avariar) - arts 234 e 238 Perda é o desaparecimento completo da coisa para fins jurídicos (incêndio, furto). Obs. Deve-se identificar se houve culpa do devedor. Se a coisa se perde, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva => resolve-se a obrigação (o devedor devolve o dinheiro ao credor). O único prejudicado é o devedor (proprietário). No entanto, se houver culpa do devedor, esse responderá pelo equivalente mais perdas e danos. Ex. (perda sem culpa do devedor): A deveria entregar um determinado boi, antes da entrega eu já recebi o dinheiro, mas na noite anterior a da entrega cai um raio na cabeça do boi e ele morre, neste caso eu apenas devolvo o dinheiro e resolve-se a obrigação, sem pagamento de indenização a título de perdas e danos. Perda da coisa com culpa do devedor: culpa do devedor no sentido amplo, para fins obrigacionais, que engloba o dolo: que é a intenção de prejudicar outrem e no sentido stritum, que é a culpa relacionada com negligência, imperícia e imprudência. Neste caso, se a coisa se perder com culpa do devedor, resolve-se a obrigação com perdas e danos. Ex1: deveria entregar um determinado boi e já recebi o dinheiro, eu mato o boi intencionalmente; só que este boi iria participar de um rodeio, neste caso eu terei que devolver o dinheiro que foi pago pego boi e ressarcir os eventuais lucros cessantes que seriam recebidos com a exposição deste boi no rodeio em forma de indenização a título de perdas e danos. Ex 2. antes da tradição por imperícia eu deixo o carro cair no penhasco. A perda será o que o credor deixou de ganhar sem poder trabalhar, por falta de carro. E danos o valor correspondente a destruição do carro. Se a coisa se perde após a tradição, o risco é do credor (comprador). Com a entrega o devedor ficou coberto de todo risco. Se a coisa estava à disposição do adquirente, por conta deste correm os riscos, salvo se houve fraude ou negligência do devedor. Quando a coisa sofre danos sem desaparecer temos a deterioração. Deterioração da coisa sem culpa do devedor (art.235 CC): se não há culpa do devedor não podemos falar de perdas e danos, neste caso o credor tem duas opções; ou resolve-se a obrigação (o devedor devolve o dinheiro ao credor sem perdas e danos), ou o credor fica com a coisa, no estado em que se encontrar, abatendo o valor do que se perdeu. Ex: eu vendo um carro e devido a um alagamento a lataria do carro fica prejudicada, com ferrugens e arranhada; ou devolvo o dinheiro, ou, o credor fica com o carro no estado que ficou (deteriorado), ou eu abato o valor da desvalorização.Deterioração da coisa com culpa do devedor: (art. 236 CC) neste caso, se a deterioração da coisa foi por culpa do devedor, o credor terá a opção de exigir o equivalente à coisa, ou ficar com a coisa no estado que se encontrar, abatendo o preço da desvalorização em ambos os casos com perdas e danos. Obrigações de restituir: Diferença entre a obrigação de dar e restituir: Na obrigação de dar a coisa pertence ao devedor até a tradição, e o credor recebe o que não lhe pertence; na obrigação de restituir a coisa pertence ao credor mesmo antes do ato gerador da obrigação, ou seja, a coisa estava legitimamente em poder do devedor (para seu uso), pertencendo, porém ao credor , que tinha sobre ela o direito real. Ex: em um contrato O Dono do Imóvel= Obrigação de Dar O Inquilino= Obrigação de Restituir Obs: a diferença interfere na questão do risco. Obrigação de restituir: é a obrigação que tem como objetivo a transferência temporária da coisa para uso ou fruição (gozo). Sem trabalho (Art. 241 CC) – lucro para o credor. Ex. se o devedor não participou das reformas do terreno, se quem asfaltou foi a Prefeitura, o lucro é para o credor. Com trabalho (Art. 242 CC) – lucro para o devedor. Perda (desaparecer/extinguir) e Deterioração (danificar/deteriorar): Nos interessa a questão indenizatória. Perda da coisa sem culpa do devedor na obrigação de restituir coisa certa: (art. 238 CC) o credor suportará a perda da coisa, ele nada poderá exigir do devedor (a coisa perece para o dono - “res perit domino”) Ex: eu empresto um veículo com contrato de comodato expresso a uma pessoa e na vigência desse contrato ela é assaltada a mão armada, neste caso eu perco a coisa, terei que suportar o prejuízo sem exigir nada do devedor. Se na vigência de uma locação o imóvel for destruído sem culpa do devedor, o credor não será restituído, porém se existirem débitos referentes a valores locatícios estes valores terão que ser pagos ao locador (art. 238 CC). Perda da coisa com culpa do devedor na obrigação de restituir coisa certa: (art. 239 CC) o devedor responderá pelo equivalente (sem restituir a coisa no estado que se encontrar) da obrigação mais perdas e danos. A resolução acontece com perdas e danos. Ex. se eu causei um acidente na vigência do comodato e a coisa se perdeu eu terei que pagar um carro novo e outros prejuízos que você suportou porque eu não cumpri com a obrigação de restituí-lo. Deterioração da coisa sem culpa do devedor na obrigação de restituir: (art. 240 CC) segue o mesmo raciocínio da perda sem culpa, a coisa perece para o credor, a única possibilidade que o credor tem será a de exigir a coisa no estado em que se encontrar. Deterioração da coisa com culpa do devedor na obrigação de restituir: o art. 240 CC diz que se aplica o art. 239 CC: responderá o devedor pelo equivalente à coisa mais perdas e danos. O credor pode exigir o equivalente ou aceitar a coisa no estado que se encontrar, com direito a reclamar, em qualquer das duas hipóteses, indenização das perdas e danos.(cfe. enunciado 15 CJF, aprovado na primeira jornada de direito civil no conselho da justiça federal no STJ, que manda aplicar ao artigo art. 240 CC as disposições do art. 236 CC). Sobre Perdas e Danos: Perdas= aquilo que se deixou de ganhar. Danos= o prejuízo. Ex: caso uma pessoa bata num táxi (com culpa) causando perda total neste veículo e o taxista se machucar precisando passar 04 meses sem trabalhar o causador do acidente terá que arcar com perdas e danos: a perda se dará pelo tempo que o taxista deixar de trabalhar e os danos pelo prejuízo causado no táxi. Obs: Hoje no direito civil procura-se buscar a conservação máxima do negócio jurídico (Princípio da conservação do negócio jurídico ou do contrato). Obrigação de dar coisa incerta: Conceito: Consiste da relação obrigacional cujo objeto (que é o conteúdo da prestação) é indeterminado, sendo indicado ao menos pelo gênero e quantidade (e aí está a razão de ser chamada de obrigação genérica). Obs: O ponto de referência para que possamos questionar a coisa é a escolha. Escolha ou concentração: é o fato pelo qual a coisa incerta se transforma em coisa certa, determinada e específica, dessa forma, a obrigação que era de dar coisa incerta se transforma em obrigação de dar coisa certa, só podendo ser entregue o objeto escolhido. Ex: Eu comprei cinco cabritos com 06 meses de vida para receber e não escolhi ainda, é coisa incerta, quando eu chego na fazenda e estou escolhendo os cinco cabritos esta é a fase da concentração/escolha, após a escolha ser feita a coisa passa a ser certa, determinada. Artigo 244 CC: este é um dispositivo que sempre desperta dúvida, porque em regra a escolha, a concentração da dívida cabe ao devedor, salvo previsão em contrário do instrumento, porque, dependendo do que estiver determinado no instrumento, a escolha pode ser feita pelo credor e até por um terceiro. Este dispositivo legal ainda traz que o devedor quando escolhe não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. Levando em conta a Vedação do Enriquecimento sem causa, pelo princípio da equivalência das prestações, temos que a escolha, no caso do devedor, sempre deve recair no termo médio, no gênero médio. Ex: Se tenho cinco cavalos de raças diferentes, nem posso dar o pangaré, nem sou obrigada a dar o alazão premiado. Terei que escolher um dos outros três cavalos levando em conta a boa fé objetiva. Art. 246 CC: Não se fala em inadimplemento na obrigação de dar coisa incerta porque antes da escolha não pode o devedor alegar deterioração da coisa ainda que decorrente de caso fortuito, evento totalmente imprevisível e força maior. Antes da escolha se houver perda ou deterioração, de quem é a culpa? Do devedor. Antes da escolha o devedor responde pela perda ou deterioração, mesmo que por caso fortuito ou força maior. A responsabilidade é do devedor, independente de culpa. O credor é eximido de qualquer culpa. Obs: O gênero nunca perece “genus nunquam periti”, ou seja, o gênero não se perde. A coisa incerta não poderá se perder ou deteriorar, mesmo por caso fortuito ou força maior, porque não foi individualizada. Descumprimento de dar a coisa certa (art.461-a CPC): Coisas móveis: busca e apreensão; Coisas imóveis: emissão da posse.
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