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Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Prof. Celius A. Magalha˜es Ca´lculo III Notas da Aula 05∗ Limite & Continuidade Intuitivamente, o limite limP→P0 f(P ) = L significa que f(P ) pode ser tornado ta˜o pro´ximo de L quanto se queira, desde que P esteja suficientemente pro´ximo de P0. No entanto, apesar de importante, em muitos casos a noc¸a˜o intuitiva na˜o e´ suficiente para decidir quanto a` existeˆncia do limite. Em outros, e´ preciso tornar mais clara a noc¸a˜o de proximidade, como no exemplo do comprimido dado anteriormente. Da´ı a necessidade de uma definic¸a˜o precisa do limite, dada a seguir. Definic¸a˜o 1. Sejam f : D → R uma func¸a˜o definida no do- mı´nio D ⊂ R2 e P0 ∈ R 2 um ponto dado. Dizemos que limP→P0 f(P ) = L se, dado ǫ > 0 qualquer, existe δ > 0 tal que P ∈ D e 0 < ‖P − P0‖ < δ =⇒ |f(P )− L| < ǫ A figura ao lado ilustra a definic¸a˜o. Em palavras, dada a margem de toleraˆncia ǫ > 0, deve existir uma margem de seguranc¸a δ > 0 com a propriedade de que, se o ponto P ∈ B(P0, δ), com P 6= P0, enta˜o a imagem f(P ) esta´ dento da margem de toleraˆncia, isto e´, L− ǫ < f(P ) < L + ǫ. Nesse caso, considerando o domı´nio como sendo a bola B(P0, δ) me- nos o ponto P0, o gra´fico da func¸a˜o resultante deve estar todo contido no cilindro ilustrado ao lado. x0 y0 δP L − ǫ f(P ) L L+ ǫ Figura 1 Usando a definic¸a˜o, pode-se mostrar que o limite tem as propriedades indicadas abaixo. Essas propriedades sa˜o bastante naturais, e podem ser entendidas a` luz da noc¸a˜o intuitiva. Por exemplo, a primeira delas significa que, se f(P ) pode ser tornado pro´ximo de L e g(P ) pro´ximo de M , enta˜o a soma f(P )+g(P ) pode ser tornada pro´ximo de L+M . Interpretac¸a˜o ana´loga vale para as outras propriedades. Propriedades do Limite: Suponha que limP→P0 f(P ) = L e limP→P0 g(P ) = M . Enta˜o i) limP→P0(f(P ) + g(P )) = L+M ; ii) limP→P0 f(P )g(P ) = LM ; iii) limP→P0 1 f(P ) = 1 L se L 6= 0. Essas propriedades podem ser usadas no caso de um limite complicado poder ser decom- posto na soma, produto ou quocientes de limites mais simples, como no pro´ximo exemplo. Exemplo 1. Considere a func¸a˜o h(x, y) = 3x3 x2 + 2y2 definida nos pontos P = (x, y) 6= (0, 0). Decidir quanto a existeˆncia do limite limP→P0 h(P ) no caso em que P0 = (2, 1). ∗Texto digitado e diagramado por Yuri Santos a partir de suas anotac¸o˜es de sala Soluc¸a˜o. Observe que a func¸a˜o h e´ um quociente entre dois polinoˆmios, cada um deles sendo a soma e o produto de func¸a˜o ainda mais simples. Por exemplo, a func¸a˜o g(x, y) = 3x3 pode ser decomposta no produdo g(x, y) = (3x)(x)(x), onde cada fator e´ fa´cil de se estudar. Assim, pode-se usar a definic¸a˜o para mostrar que, se k(x, y) = 3x, enta˜o lim P→P0 k(P ) = 6. De fato, para P = (x, y) tem-se que |k(P )− 6| = |3x− 6| = 3|x− 2| = 3 √ (x− 2)2 ≤ 3 √ (x− 2)2 + (y − 1)2 = 3‖P − P0‖ . Logo, dado ǫ > 0, basta escolher δ = ǫ/3 para se ter que P 6= O e 0 < ‖P − P0‖ < δ =⇒ |k(P )− 6| ≤ 3‖P − P0‖ < ǫ. Isso mostra que lim P→P0 k(P ) = 6, como afirmado acima. De forma inteiramente ana´loga mostra-se que, se kˆ(x, y) = x, enta˜o lim P→P0 kˆ(P ) = 2. Desses limites e da propriedade ii) acima segue-se que, se g(x, y) = 3x3, enta˜o lim P→P0 g(P ) = lim P→P0 (3x)(x)(x) = (6)(2)(2) = 24. Desses mesmos argumentos e das propriedades i) e ii), e´ claro que, se f(x, y) = x2 + 2y2, enta˜o lim P→P0 f(P ) = lim P→P0 x2 + lim P→P0 2y2 = (2)(2) + 2(1)(1) = 6. Finalmente, usando as propriedades ii) e iii) segue-se que lim P→P0 h(P ) = lim P→P0 g(P ) f(P ) = 24 6 = 4. � O valor do limite acima coincide com o valor da func¸a˜o no ponto P0, uma vez que h(P0) = h(2, 1) = 3·23 22+2·12 = 24 6 = 4. Essa propriedade, de que o limite coincide com o valor da func¸a˜o no ponto, e´ dita de continuidade da func¸a˜o, de acordo com a definic¸a˜o a seguir. Definic¸a˜o 2. Uma func¸a˜o f : D → R e´ cont´ınua em P0 ∈ D se limP→P0 f(P ) = f(P0). Se a func¸a˜o for cont´ınua em todos os pontos de D ela e´ dita cont´ınua em D. A continuidade e´ um dos conceitos fundamentais do Ca´lculo, e esta´ intimamente ligada aos problemas de otimizac¸a˜o, como se vera´ logo a seguir. Da definic¸a˜o de continuidade e das propriedades do limite segue-se que a soma e o produto de func¸o˜es cont´ınuas e´ cont´ınuo. Tambe´m o quociente de func¸o˜es cont´ınuas e´ cont´ınuo nos pontos em que o denominador na˜o se anula. Nos pontos em que o denominador se anula o quociente pode ou na˜o ser cont´ınuo, como ilustra o pro´ximo exemplo. Exemplo 2. Determinar os pontos de continuidade da func¸a˜o h : R2 → R dada por h(x, y) = 3x3 x2 + 2y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). Soluc¸a˜o. A menos da origem O = (0, 0), essa e´ a mesma func¸a˜o estudada no exemplo acima. Assim, de maneira ana´loga ao que ja´ foi feito, mostra-se que, se P0 = (x0, y0) 6= O, enta˜o lim P→P0 h(P ) = 3x30 x20 + 2y 2 0 = h(P0) e portanto a func¸a˜o e´ cont´ınua nesses pontos. Ca´lculo III Notas da Aula 05 2/4 Na origem, ja´ foi visto no Exemplo 1 da aula passada que limP→O h(P ) = 0. Como h(O) = 0, segue-se que a func¸a˜o e´ tambe´m cont´ınua nesse ponto. Assim, a func¸a˜o e´ cont´ınua em todos os pontos do seu domı´nio. � Nesse exemplo, se fosse escolhido um valor h(O) 6= 0, enta˜o existiria o limite limP→O h(P ), mas a func¸a˜o na˜o seria cont´ınua nesse ponto. Pode aconter tambe´m do limite na˜o existir, como no caso da func¸a˜o h(x, y) = 2x2y x4 + y2 se (x, y) 6= (0, 0) 0 se (x, y) = (0, 0). Nesse caso, como foi visto no Exemplo 3 da aula passada, na˜o existe o limite limP→O h(P ), e portanto a func¸a˜o na˜o e´ cont´ınua nesse ponto. Aqui, o valor de h(O) = 0 na˜o e´ importante: a func¸a˜o continuaria a ser descont´ınua nesse ponto qualquer que fosse a escolha de h(O). Continuidade e Otimizac¸a˜o Um problema interessante de otimizac¸a˜o consiste em determinar o maior valor assumido por uma dada func¸a˜o f : D → R. Dito de outra forma, deve-se obter um ponto P0 ∈ D com a propriedade de que f(P ) ≤ f(P0) para todo P ∈ D. Um ponto com essa propriedade e´ dito ponto de ma´ximo absoluto da func¸a˜o. Outros pontos de interesse sa˜o os de ma´ximo local, que sa˜o aqueles pontos P0 em que a func¸a˜o assume o maior valor entre todos os pontos P pro´ximos a P0. Assim, P0 e´ ponto de ma´ximo local se existe δ > 0 com a propriedade de que f(P ) ≤ f(P0) para todo P ∈ D ∩B(P0, δ). Analogamente se define ponto de mı´nimo absoluto e ponto de mı´nimo local. Esses pontos especiais, ilustrados na figura ao lado, podem ou na˜o existir, dependendo tanto da func¸a˜o quanto de seu domı´nio. max abs max local min local min abs Figura 2 Por exemplo, e´ claro que f : R2 → R, f(x, y) = x2 + y2 (ver Figura 3 abaixo), na˜o possui ponto de ma´ximo absoluto. Isso porque podem ser escolhidos pontos P ∈ R2 ta˜o afastados da origem quanto se queira, e portanto f(P ) = ‖P‖2 pode ser tornado ta˜o grande quanto se queira. Isso mostra que, se o domı´nio for ilimitado, a func¸a˜o pode na˜o ter ponto de ma´ximo absoluto. Mesmo se limitado, o ponto de ma´ximo pode na˜o existir se o domı´nio na˜o for fechado. E´ o caso da func¸a˜o g(P ) = 1 1−‖P‖2 definida em D = {P ∈ R2; ‖P‖ < 1} (ver Figura 4 abaixo). E´ claro que o domı´nio e´ limitado, mas podem ser tomados pontos P ∈ D com 1− ‖P‖2 ta˜o pro´ximo de zero quanto se queira, e portanto g(P ) = 1 1−‖P‖2 pode ser tornado ta˜o grande quanto se queira. Outra questa˜o importante para a otimizac¸a˜o e´ a continuidade. Mesmo que o domı´nio seja fechado e limitado, o ponto de ma´ximo pode na˜o existir se a func¸a˜o na˜o for cont´ınua. Por exemplo, no domı´nio D = {P ∈ R2; ‖P‖ ≤ 2}, que e´ fechado e limitado, a func¸a˜o h(P ) = 0 se ‖P‖ ≤ 1 2 ‖P‖2 se 1 < ‖P‖ ≤ 2. Ca´lculo III Notas da Aula 05 3/4 na˜o possui ponto de ma´ximo absoluto (ver Figura 5 abaixo). De fato, tem-se que h(P ) ≤ 2, e a func¸a˜o assume valores ta˜o pro´ximos de 2 quanto se queira, mas na˜o existe P0 ∈ D com a propriedade de que h(P0) = 2, e portanto a func¸a˜o na˜o possui ponto de ma´ximo absoluto. E´ claro aqui que o problema e´ que a func¸a˜o na˜o e´ cont´ınua em todos os pontos de seu domı´nio. Figura 3: gra´fico de f Figura 4: gra´fico de g Figura 5: gra´fico de h Pode-se mostrar, entretanto, que se uma func¸a˜o na˜o possui ponto de ma´ximo absoluto, enta˜o ocorre um dos motivos mencionados acima, isto e´, o domı´nio na˜o e´ limitado ou na˜o e´ fe- chado, ou enta˜o a func¸a˜o na˜o e´ cont´ınua em seu domı´nio. Esse e´ o conteu´do do surpreendente resultado enunciado a seguir. Teorema 1. Suponha D ⊂ R2 fechado e limitado e f : D → R uma func¸a˜o cont´ınua em D. Enta˜o existem P0 e P1 em D tais que f(P0) ≤ f(P ) ≤ f(P1) para todo P ∈ D. E´ dif´ıcil imaginar toda a variedade de situac¸o˜es poss´ıveis para as func¸o˜es de duas varia´veis. Ale´m da diversidade de relac¸o˜es entre o ponto e sua imagem, deve-se considerar a diversidade dos domı´nios, que podem assumir as mais variadas formas. No entanto, qualquer que sejam os casos, apenas as treˆs condic¸o˜es acima (domı´nio fechado e limitado e func¸a˜o cont´ınua) sa˜o suficientes para assegurar a existeˆncia tanto de ma´ximo como de mı´nimo absolutos. Esse e´ mesmo um resultado surpreendente, e ponto de partida de uma grande a´rea da Matema´tica conhecida como Ca´lculo das Variac¸o˜es. O´timo! Esse e´ um crite´rio eficiente para decidir sobre a existeˆncia de ma´ximos e mı´nimos absolutos. Mas como localizar esses pontos? O teorema acima na˜o fornece pistas de como encontra´-los. De fato, esse e´ um outro problema, que sera´ resolvido por meio das derivadas parciais. E este e´ o assunto da pro´xima aula. Ca´lculo III Notas da Aula 05 4/4
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