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CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL REAL Plácido Zoega Táboas II�III íllll �III ilílllili lílr P-IEOI-PIE-SS-Sl6 NaS! CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL REAL Reitora Vice-reitor Diretor-presidente Presidente Vice-presidente Diretora Editorial Edito ras -assistentes UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Suely Vilela Franco Maria Lajolo EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Plinio Martins Filho COMISSÃO EDITORIAL José Mindlin Carlos Alberto Barbosa Dantas Benjamin Abdala Júnior Carlos Augusto Monteiro Maria Arminda do Nascimento Arruda Nélio Marco Vincenzo Bizzo Ricardo Toledo Silva Silvana Biral Marilena Vizentin Carla Fernanda Fontana CÁLCULO EM UMA VARIÁVEL REAL Plácido Zoega Táboas Copyright © 2008 by Plácido Zoega Táboas Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP Táboas, Plácido Zoega. Cálculo em uma Variável Real/Plácido Zoega Táboas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. 344 p.; 19,5 x 27 em. - (Acadêmica; 70). Inclui referências bibliográficas. Inclui índice remissivo. ISBN 978-85-314-1031-4 I. Cálculo absoluto. 2. Cálculo de variações. 3. Mate mática. I. Título. Direitos em reservados à Edusp - Editora da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 6° andar - Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Universitária 05508-900 - São Paulo - SP - Brasil Divisão Comercial: Te!. (11) 3091-4008 / 3091-4150 SAC (lI) 3091-2911 - Fax (lI) 3091-4151 www.edusp.com.br- e-mail: edusp@usp.br Printed in Brazil 2008 Foi feito o depósito legal CDD-5 1 5.3 À memória de Mário Tourasse Teixeira, amigo e mestre inspirador. PREFÁCIO 1 FATOS BÁSICOS 1. 1 A reta real . 1. 2 Funções . 1. 3 Exercícios . 2 LIMITE E CONTINUIDADE 2. 1 Limites . . . . . . . . SUMÁRIO 2. 2 Propriedades dos limites . . . . . . . 2. 3 Limites no infinito e limites infinitos 2. 3 . 1 Seqüências convergentes 2.4 Continuidade 2 . 5 Exercícios 3 A DERIVADA 3 . 1 O conceito d e derivada 3.2 Diferenciabilidade e continuidade 3 . 3 Regras de derivação . 3 .4 Velocidade . . . . . . . . . . 3 . 5 A Regra da Cadeia . . . . . 3 . 6 Derivada da função inversa . 3 . 7 Derivadas de ordem superior 3.8 Derivadas de funções definidas implicitamente 7 1 1 11 21 38 41 41 48 56 66 69 80 87 87 92 97 100 102 105 109 111 4 • Sumário 3 . 9 O Teorema do Valor Médio . 1 13 3 . 10 A Regra de L 'Hópital . 121 3 . 1 1 Funções convexas e pontos de inflexão . 1 23 3 . 1 1 . 1 Funções convexas deriváveis 128 3 . 1 2 Máximos e mínimos . 1 33 3 . 1 2. 1 Esboço do gráfico de funções . 1 39 3 . 1 3 A diferencial e a fórmula de Taylor 142 3 . 1 3 . 1 A diferencial . 143 3 . 1 3 . 2 A Fórmula de Taylor 147 3 . 14 Exercícios 152 4 A INTEGRAL 161 4 . 1 Integrabilidade e definição de integral 162 4 .2 Propriedades da integral 1 73 4 .3 Teoremas clássicos 1 76 4 .4 O logaritmo e a exponencial 1 88 4 .4 . 1 A função logaritmo 1 90 4 .4 .2 A função exponencial . 1 92 4 .4 . 3 As funções hiperbólicas . 202 4 . 5 Algumas técnicas do Cálculo Integral 206 4 . 5 . 1 Substituições trigonométricas 207 4 . 5 . 2 Completamento do quadrado 209 4 . 5 . 3 Potências de funções trigonométricas 213 4 . 5 . 4 Funções racionais 214 4 .6 Definição alternativa de integral 21 8 4 . 7 Algumas aplicações da integral . . 219 4 . 7 . 1 Área de conjuntos planos . 219 4 . 7 .2 Comprimento de arco . 227 4 . 7 . 3 Volume de um sólido de revolução . 234 4 .7 .4 Área de uma superfície de revolução 236 4 .7 . 5 Massa de um líquido , conhecida a função densidade 241 4 . 8 Integrais impróprias 242 4 . 8 . 1 Integrais em intervalos não-limitados 243 4 . 8 . 2 Convergência absoluta 254 4 . 8 . 3 Integrais com integrandos não-limitados 255 4 .9 Exercícios 263 5 SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS 271 5 . 1 Seqüências . 271 5 . 2 Séries 28 1 5 . 3 Séries de termos não-negativos . 286 5 .4 Séries alternadas . . . . . . . . . . . 5 . 5 Convergências absoluta e condicional 5 . 6 Séries de potências 5 . 7 Exercícios . . . . . . . . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÍNDICE REMISSIVO RESPOSTAS DE ALGUNS EXERcícIOS Sumário • 5 292 295 30 1 3 1 3 319 321 325 PREFÁCIO Até meados da década de 1960 , os cursos de Cálculo no Brasil , em geral di rigidos à formação de engenheiros , superavam no rigor e na extensão grande parte dos de hoje em dia, proporcionando aos alunos boa compreensão dos conceitos e habilidade em calcular . Tanto a precisão quanto a abrangência foram sendo relegadas ao longo dos anos , dando lugar a alguns cursos extre mamente informais . Entre as crenças que muito fortaleceram essa tendência está a de que conceitos como ponto de acumulação e até mesmo os argumen tos dos epsilons e deltas são muito sofisticados ou desprovidos de interesse para a média dos alunos de engenharia, o que , convenhamos , não se ajusta à verdade. Mesmo admitindo a necessidade de realizar adequações naqueles cursos , é preciso reconhecer que eles proporcionavam uma boa formação ao estu dante . Também não se pode negar que um profissional das ciências exatas , mesmo as mais voltadas às aplicações, necessita bom domínio dos conceitos fundamentais do Cálculo e esta necessidade não tem diminuído com o passar dos anos . Estas ponderações nos levaram a escrever esta introdução ao Cálculo , que procuramos situar mais próxima do rigor que do informalismo. Foi pla nejada inicialmente como texto para disciplinas do campus de São Carlos , da Universidade de São Paulo, mas , considerando as semelhanças curriculares de nossas universidades , pensamos que pode ser útil além dos limites deste campus. Cobre o que entendemos necessário no tocante às funções de uma variável real . Incluímos , entretanto , trechos em caracteres diferenciados , en tre barras horizontais , ocasionalmente descartáveis , mas indispensáveis a 8 • Prefácio estudantes que vão se dedicar profissionalmente à matemática. Referindo-se a aspectos interessantes ou a fatos mais refinados da teoria, esses apêndices estão longe de tornar exaustivo o texto, nem mesmo chegam a representar substancial acréscimo de conteúdo . Esperamos apenas que possam estimular o estudante a ir mais longe nesta sua primeira incursão pelo Cálculo . Este livro deve ser um ponto de partida para iniciativas pessoais do es tudante . Acreditamos que os textos didáticos , assim como as aulas , não se esgotam em si mesmos e nem devem ter essa pretensão . Aulas são boas não só pelo conhecimento que transmitem, mas , principalmente , pelo despertar da curiosidade , o acender da motivação para o estudo . Pode ser muito o que se aprende em sala de aula, mas isso nem se compara ao que podem ser as conquistas do esforço persistente e solitário do trabalho individual . O pro cesso de aprendizagem que se inicia nas aulas depende fundamentalmente do esforço pessoal do estudante e deve envolver outras leituras . Alguns títulos da bibliografia apresentada no final podem ser um bom começo dessa prá tica; observamos que livros de Cálculo não comportam os requintes de obras sobre análise real , mas há exceções , como o livro Calculus, de M . Spivak, ou o antigo livro Advanced Calculus, de D. Widder , por exemplo. Ultimamente , algumas escolas têm envidado esforços para implantar o uso dos computadores no ensino do Cálculo . Este recurso pode ser útil na busca de caminhos para soluções de um ou outro problema ou para a compre ensão de algum fato . Na verdade tornou-se indispensável em praticamente todas as áreas da atividade humana. Pensamos, entretanto , que as práticas computacionais devem ser paralelas às disciplinas de Cálculo e não parte delas , mesmo porque o uso dos computadores deve ser estimulado não só como apoio ao Cálculo , mas também a outras áreas da matemática e, em geral , do conhecimento. Sendo o primeiro curso de Cálculo , em poucas palavras , uma introdução a processos- limite para funções reais de uma variável real , o mais natural seria iniciarmos com as funções mais elementares: as seqüências . Ao es colhermos aqui uma outra ordem estamos nos rendendo a uma razão de natureza puramente curricular: muito cedo o aluno precisa aplicar as deri vadas e as integrais em outras disciplinas ; convém, portanto , não retardar a apresentação desses assuntos. O capítulo 1 é pré-requisito para os que se seguem. Visa, principalmente , delinear uma linguagem e deixar estabelecidos alguns conceitos básicos . En tendemos que partes dele podem ser tratadas de modo ligeiro , mas , dado seu caráter fundamental , o capítulo como um todo deve permanecer como refe rência durante todo o desenvolvimento do Cálculo . Conhecimentos básicos de geometria analítica plana são admitidos . O Cálculo propriamente tem início no capítulo 2, com o estudo dos Prefácio • 9 conceitos de limite e continuidade . O capítulo 3 é dedicado ao cálculo dife rencial e algumas de suas aplicações . No capítulo 4, apresentamos a integral de Riemann , introduzimos algumas técnicas do cálculo integral e fazemos algumas aplicações. Nele também definimos as funções logaritmo e expo nencial . No capítulo 5 , apresentamos as seqüências e séries numéricas e as séries de potências . No final de cada capítulo há uma lista de exercícios e no final do livro , uma lista de respostas de boa parte deles . Uns , mais práticos, visam treinar a manipulação de técnicas ; outros , mais conceituais, firmar os fundamentos e idéias da teoria. O estudante deve se sentir desafiado por qualquer um que lhe provoque dificuldades . No desenvolvimento do livro pudemos manter alguns diálogos extre mamente profícuos , em especial com os colegas José Luis Arraut Vergara , Alexandre Nolasco de Carvalho , Janey Antonio Daccach , Luiz Augusto da Costa Ladeira, Selma Helena de Jesus Nicola e Miguel Vinícius Santini Frasson que , na fase de diagramação , também colocou a nosso dispor seu bom gosto e seu conhecimento do programa �TEX. É um prazer deixar-lhes aqui registrado o nosso agradecimento. Agradecemos ainda a Vanda Biazi , Ires Dias e Benito Pires Frazão , por contribuições numa versão preliminar e por fim, mas não menos , ao Departamento Editorial da Edusp nas pessoas de Marilena Vizentin , editora assistente , e Silvana I3iral , diretora editorial , por sua disponibilidade, profissionalismo e simpatia. Obviamente , nenhuma das pessoas aqui mencionadas é responsável pelas imperfeições remanescentes . 1 FATOS BÁSICOS Neste capítulo acertamos alguns pontos de linguagem e introduzimos alguns conceitos fundamentais . Seu conteúdo é referência para os subseqüentes . Deve-se dar especial atenção ao Axioma da Completeza, página 1 8 , e não seguir em frente sem entender o que vem a ser um ponto de acumulação, definição 1 . 1 . 2 1 , página 1 9 . Estes assuntos são cruciais no desenvolvimento do Cálculo e envolvem certa sutileza, mas não chegam a ser complicados . 1 . 1 A RETA REAL o conjunto dos números reais será denotado por ]R. e, como pode ser re presentado por uma reta orientada, será também chamado de reta real ou, simplesmente , reta. Em ]R. consideramos conhecida a relação de ordem " � " , menor ou igual. A notação a < b significa a � b e a =1= b . A notação a > b é a negação de a � b e a ;? b é a negação de a < b. Dados a , b , c E ]R., a relação " � ", por ser de ordem, goza das três pro- priedades a seguir: ( 1 ) a � a, [reflexiva] (2) Se a � b e b � a, então a = b , (3 ) Se a � b e b � c, então a � c. [ anti-simétrica] [transitiva 1 Valem também: (4) Para quaisquer a , b E ]R., tem-se a � b ou b � a , (5 ) Se a � b e c � d, então a + c � b + d, (6) { ca � cb , quando c> O , a � b =? cb � ca , quando c < o. 1 2 • Fatos Básicos Em outras palavras , (4) quer dizer que dois elementos , a, b E IR, são sem pre comparáveis . Diz-se que a ordem " � " é total por valer essa propriedade . A propriedade (5 ) é chamada invariância por translação. Como conseqüência de (6) , se a, b E IR temos : a < b ::::} -a > -b. Agregam-se à reta real dois símbolos : +00 [a breviado por 00] e -00, que não são números. Isto é, fica definida por IR* = IR U { -00, +oo} a reta real estendida. Neste caso , para qualquer x E IR está satisfeita a relação -00 < x < 00. DEFINIÇÃO 1.1.1. Dados a, b E IR, a � b e -00 < c � 00, os seguintes subconjuntos de IR são chamados intervalos: (a, b) = {x E IR I a < x < b} [a, b] = {x E IR I a � x � b} [a, b) = {x E IR I a � x < b} (a, b] = {x E IR I a < x � b} (-00, a] = {x E IR I x � a} (-00, c) = {x E IR I x < c} [a, 00) = {x E IR I x ;? a} (a, 00) = {x E IR I x > a} Observe que , ao admitirmos a possibilidade a = b, estamos considerando que o conjunto vazio é um intervalo [(a, a] = 0] e que qualquer subconjunto unitário da reta é um intervalo [ [a, a] = {a}] , chamado intervalo degenerado. Note também que , se c = 00, temos o intervalo (-00,00) = IR. DEFINIÇÃO 1.1.2. Para todo x E IR, o módulo, ou valor absoluto, de x é o número I x l definido por I x l = { x , -x , se x ;? O se x < O . A definição 1 . 1 . 2 implica as seguintes propriedades : 1.Ixl=l-xl, VxElR, 2 . I x l ;? O , V x E IR, 3 . x � I x l , 'í/x E IR, 4 . Ixy l = I x l l y l , 'í/ x , y E IR, cujas demonstrações são deixadas como exercício. A reta real • 1 3 ------<011111111111111111111111111111111111111111111111IIO>-------+- -a O a Figura 1.1.1: {x E IR Ilxl < a} = (-a,a) EXEMPLO 1 . 1 . 3. ( 1 ) Dado a E IR, temos : I x l < a {:} -a < x < a , como está indicado na figura 1 . 1 . 1 . ( 1 . 1 . 1 ) De fato , multiplicando a desigualdade -a < x < a por - 1 , obtemos a equivalência -a < x < a {:} -a < -x < a . Logo -a < x < a :::::} -a < -x < a e -a < x < a :::::} I x l < a , uma vez que , sempre , I x l = x ou I x l = -x. Reciprocamente , de acordo com as propriedades 1 e 3, acima, podemos escrever Ix l < a :::::} l -x l < a e I x l < a :::::} -x < a e x < a :::::} -a < x < a . (2) Dado a E IR, temos I x l > a {:} x < -a ou x > a . De fato , como I x l = x ou I x l = -x, temos I x l > a {:} -x > a ou x > a . Faça uma figura do tipo da figura 1 . 1 . 1 para este caso . (3) Resolver uma desigualdade como , por exemplo, I x - 31 < 2, é descrever o conjunto dos x E IR que a satisfazem. Vamos resolvê-la . Do item anterior temos -2 < x - 3 < 2, logo 1 < x < 5 . ---....,If---------<OlllllllllllllllllllllllllllllllllllllllIIIIIIIIIIO>-----____+_ O a-E a a+E Figura 1.1. 2: {x E IR I I x - a I < E} = (a -E, a + E) De um modo geral , se c é um número positivo e a E IR é dado , temos : I x - a i < c {:} a - c < x < a + c, 1 4 • Fatos Básicos isto é, X E (a - c, a + c) , veja a figura 1. 1.2. (4) Se c é um número positivo e a E lR é dado , temos : I x - a i > c {::} x < a - c ou x > a + c. Isto é, x E ( -00, a - c) U (a + c, 00) = lR \ [a - c, a + c] Use o item (2) para justificar esta afirmação e faça uma figura análoga à figura 1. 1.2 para este caso . [Se A e B são dois subconjuntos de um conjunto U, a notação A \ B, lê-se "A menos B ", tem o significado A \ B = {x E U I x E A e x ti:- B}]. Cada um dos ítens de (1) a (4) do exemplo 1. 1. 3 tem uma versão óbvia com "::;;" e " ;? " em vez de " < " e "> ", respectivamente . DESIGUALDADE TRIANGULAR. Para quaisquer a, bE lR: l a + bl ::;; la l + I bl· (1. 1.2) Demonstração. Pela propriedade 3 subseqüente à definição 1. 1.2, página 12, valem as seguintes desigualdades : -I a l ::;; a::;; la l , -I b l ::;; b::;; I b l . Somando membro a membro vem -(I al + I b l ) ::;; a + b ::;; l a l + I b l e , d e acordo com a equivalência (1.1.1) com "::;;" em vez de " < ", temos la + bl ::;; l a l + I bl· O A razão do nome desigualdade triangular é que , no cálculo vetorial , se a e b são vetores e se as barras I . I denotam o módulo de vetores , então , em geral , o s números l a l , I b l e l a + b l são os comprimentos dos lados de um triângulo e vale a desigualdade (1.1.2) . Nesse contexto , ela significa que o comprimento de um lado de um triângulo é sempre menor ou igual à soma dos comprimentos dos outros dois [a igualdade ocorre apenas em casos de triângulos degenerados, quando o vetor b é múltiplo de a]. A desigualdade triangular tem a seguinte conseqüência: PROPOSIÇÃO 1.1.4. Para quaisquer a, b E lR: l a l - I bl ::;; l a - b l · (1. 1. 3) A reta real • 1 5 Demonstração. Dados a , b E IR, pela desigualdade triangular , temos 10,1 = I (a - b) + b l � l a - b l + I b l , ou sej a, 1 0,1 - I b l � l a - b l · D Trocando os papéis de a e b em ( 1 . 1 . 3) , temos I b l - I a l � I b - 0,1 , ou sej a, - ( I a l - I b l ) � l a - b l · (1. 1. 4) Assim, pela definição de módulo , juntando (1. 1. 3) e (1. 1. 4) , temos o seguinte melhoramento da proposição 1. 1. 4: I l a l - l b l l � l a - b l , \j a , b E ]R. (1.1. 5) DEFINIÇÃO 1.1. 5. Diz-se que um subconjunto A de IR é limitado, se existe um número L > ° de modo que x E A:::} I x l � L. Se vale a condição mais fraca: x E A :::} x � L, diz-se que o conjunto A é limitado superiormente e o número L é chamado cota superior ou limitante superior de A. Analogamente , diz-se que o con junto A é limitado inferiormente quando existe um número fJ tal que e neste caso fJ é chamado cota inferior ou limitante inferior de A. Observação 1.1.6. Um conjunto A C IR é limitado se e somente se A for limitado superior e inferiormente. O conjunto vazio, 0, é limitado . EXEMPLO 1.1.7. (1) A = (0, 1] é um conjunto limitado , portanto limitado superior e inferiormente. (2) O conjunto dos números naturais N = {O, 1, 2, . . . } não é limitado , mas é limitado inferiormente. Qualquer número real não positivo é uma cota inferior de N. O conjunto Z = { . . . , -2, -1, 0, 1, 2, . . . } dos números inteiros não é limitado inferiormente nem superiormente . (3) B = {(2n -1)/2n I n E N} é limitado , pois para todo n E N, tem-se: [ O que ocorre quando tomamos n muito grande ?] (4) C = {(2n-l)/n I n = 1, 2, . . . } é limitado. Justifique esta afirmação. 1 6 • Fatos Bás'lco8 DEFINIÇÃO 1.1.8. Seja A C IR, A i=- 0, um conjunto limitado superior mente . Diz-se que um número L é o supremo de A se L é urna cota superior de A e, para toda cota superior !v! de A, tem-se L � !v!. Denota-se L = supA. Por exemplo, 1 é o supremo do conjunto B = { (2T! - 1 ) /2T! I n E N}, considerado no item (3) do exemplo 1.1.7. Portanto qualquer número maior ou igual a 1 é urna cota superior de B. Em outras palavras, a definição 1.1.8 diz que o supremo de A é a sua menor cota superior . Isto sugere a seguinte reformulação da definição 1. 1.8 que, embora sej a apenas urna reformulação, vamos adotar corno definição alternativa por ser, em rrmitas situações, a mais adequada: DEFINIÇÃO 1.1. 9. Seja A C IR, A i=- 0, um conjunto limitado superior mente. Diz-se que o número L é o supremo de A se estiverem satisfeitas as seguintes condições : ( a) L é uma cota superior. (b) Dado é > ° qualquer, existe a E A tal que a > L - é. Observação 1.1.10. O item (b) da definição 1.1. 9 diz que, subtraindo-se de L um número positivo qualquer, por menor que ele sej a, o número obtido não será urna cota superior de A. O supremo de um conjunto A não necessariamente pertence a A . Este é o caso nos exemplos 1.1.7 - (3) , (4) e no exemplo 1. 1. 13 a seguir . DEFINIÇÃO 1.1.11. Se o supremo AI de um conjunto A C IR pertence a A, ele é chamado máximo de A, e denota-se M = max A. EXEMPLO 1.1.12. Em relação aos conjuntos A = (0, 1], N = {O , 1 , 2 , . . . }, B = { (2T! - 1 ) /2T! I n E N} e C = { (2n - 1 ) /n I n = 1 , 2 , . . . }, dados no exemplo 1.1.7, página 15, valem as seguintes afirmações : 1 = max A; não existe sup N; 1 = sup B e 2 = sup C [Na verdade a gamntia da inexistência de sup N é o teorema 1.1.18, apresentado mais adiante, conhecido como "propriedade arquimediana dos números reais", e as duas últimas afirmações seguem do corolário 1.1.19 desse teorema]. EXEMPLO 1.1.13. Sempre denotaremos com Q o conjunto dos números racionais . Sej a A = Q n [O , J2]. O número L = J2 satisfaz as condições (a) e (b) da definição 1. 1. 9 e é, portanto, ° supremo de A, mas J2 ti:- A. A reta real • 1 7 É imediato que a condição (a) está satisfeita . Para verificar (b ) , podemos aplicar um algoritmo da raiz quadrada para obter aproximações sucessivas de v'2 por falta: ro = 1, rI = 1,4, r2 = 1,41, . . . , rn , . . . , que , por terem expansão decimal finita, são números racionais . Essas aproximações satisfa zem: v'2 - lO-n < rn < v'2, n = 0 , 1 , 2 , . . . . Dado E > 0 , existe n tal que lO-n < E. Assim, rn > v'2 - lO-n > v'2 - E e, como r n E A, a condição (b ) está satisfeita [Aqui, uma vez que lO-n < l/n, n = 1 , 2 , . . . , voltamos a usar um argumento que depende da propriedade arquimediana, mais exatamente, de seu corolário 1.1.19]. Estamos rondando um ponto muito delicado. De nossas considerações deve ter ficado, ao menos inconscientemente, a impressão de que todo subconjunto da reta não vazio e limitado superiormente tem um supremo. Por exemplo, na discussão do exemplo 1.1.13, acima, admitimos tacitamente que o número real J2 existe. Isto não é óbvio. É conseqüência do fato da reta real ser completa, o que quer dizer, grosso modo, que ela não tem furos. Este fato só foi estabelecido rigorosamente com a definição precisa dos números reais, no final do século XIX. Admitimos também que o número J2 não está no conjunto Q dos racionais. Isto é, que a reta racional não é completa. Já a descoberta deste fato é bem antiga, tem mais de dois milênios. Na Grécia antiga, antes do século V a.c., os números conhecidos eram os racionais e aceitava-se que dois segmentos quaisquer eram sempre comensuráveis. Isto é, dados dois segmentos, U e r, U podia ser dividido em q segmentos congruentes, UI, U2, ... , uq, de modo que cada um destes coubesse exatamente p vezes em r. Assim, tomando se U como unidade de comprimento, os segmentos Ui C U, i = 1, 2, . . . , q, teriam comprimento l /q e o comprimento de r seria o número racional p/q. Por exemplo, na figura 1.1.3 temos q = 3, p = 5. Em outras palavras, dados dois segmentos quaisquer, acreditava-se que o comprimento de um era sempre múltiplo racional do comprimento do outro. U UI Figura l . l . 3 : Segmentos comensuráveis Atribui-se a Pitágoras a descoberta de que o comprimento J2 da diagonal de um quadrado de lado unitário não se exprime como uma fração p/q, isto é, a diagonal e o lado de um quadrado são incomensuráveis. O ponto correspondente ao número J2 na reta real não tem representante na reta racional. Diz-se que J2 é um número irracional, isto é, J2 E IR \ Q. Vejamos uma prova simples e pouco conhecida desta afi rmação, extra ída do I ivro de G. H. Hardy [3J. 1 8 • Fatos Básicos "Suponhamos temporariamente que exista uma fração positiva p/q, irredutível, de modo que (p/q? = 2, isto é, p2 = 2q2. Isto implica (2q - p) 2 = 2 (p - q) 2. Logo 2q - p p-q também é a raiz quadrada de 2. Mas, claramente, q < p < 2q, logo p- q < q. Assim, encontramos uma outra fração igual ao número p/q com um denominador menor, o que contraria a hipótese de p/q ser irredutível e encerra a prova." Além desta prova, encontram-se no livro de Hardy outros fatos interessantes, como a seguinte generalização: "Se a fração m/n é irredutível e ao menos um dos números m e n não é um quadrado perfeito, então Jm/n é irracional. Por conse guinte, dado um número inteiro positivo k, ou k é um quadrado perfeito ou Jk é um número irracional." Como não vamos nos aprofundar nas fascinantes questões relativas ao texto entre barras , acima, encerramos o assunto com o seguinte axioma: AXIOMA DA COMPLETEZA. Se A C � é um conjunto não vazio e limitado superiormente, então existe L = sup A E K Por exemplo , J2 é o supremo do conjunto A = {r E Q I r 2 < 2 } . S e A C �, A =1= 0 é limitado inferiormente , seu ínfimo, denotado por inf A, é a maior cota inferior de A. Em outros termos , DEFINIÇÃO 1.1.14. Seja A C �, A =1= 0, limitado inferiormente. O número f é chamado ínfimo de A se goza das duas seguintes propriedades : ( a) f é uma cota inferior . (b) Dado um número c > O qualquer , existe a E A tal que a < f + c. Adaptações óbvias podem ser feitas no que foi apresentado sobre o supremo para se estabelecerem propriedades e conceitos análogos relat ivos ao ínfimo de um conjunto A. DEFINIÇÃO 1.1.15. Se o Ínfimo fi. de um conjunto A C � pertencer a A, diz-se que fi. é o mínimo de A e se denota fi. = min A. Do axioma da completeza decorre que todo conjunto A C � não vazio e limitado inferiormente tem Ínfimo . As duas proposições seguintes estabelecem relações importantes entre os números racionais e irracionais : A reta real • 1 9 PROPOSIÇÃO 1.1.16. O produto de um número racional r #- O por um irracional é um número irracional. Demonstração. De fato , suponhamos por um momento que existam núme ros r E Q, r #-O, e x E � \ Q tais que rx = q E Q. Então :r: = q/r é racional , uma contradição . O PROPOSIÇÃO 1.1.17. A soma de um número racional p com um irracional é um número irracional. Demonstração. Suponhamos temporariamente que existam números p E Q e x E � \ Q de modo que p + x = q E Q. Este fato nos leva à contradição x = (q � p) E Q. O o teorema abaixo é chamado propriedade arquimediana de R TEOREMA 1.1.18. Se x, y E �, x > O, então existe n E N tal que nx > y. Demonstração. Consideremos o conjunto A = {nx I n = 0,1, . . . } e supo nhamos temporariamente que o teorema sej a falso. Então y é uma cota supe rior de A. Como A#-0, pelo axioma da completeza existe L = sup A. Pelo item (b) da definição 1.1. 9, página 16, existe mx E A tal que L � x < mx. Então L < (m + l ) x E A, uma contradição . O Denotando x = E e tomando y = 1, temos imediatamente o corolário COROLÁRIO 1.1.19. Para todo número E> O, existe n E N tal que l /n < E. DEFINIÇÃO 1.1.20. Uma vizinhança de a E � é qualquer intervalo aberto contendo a. Se a vizinhança for da forma (a � 5, a + 5) , 5 > O, é chamada vizinhança de raio 5 de a e denotada por Vb (a) . DEFINIÇÃO 1.1.21. Diz-se que a E � é um ponto de acumulação de B C � se toda vizinhança de a contém um ponto de B distinto de a . Analisando o exemplo a seguir, vemos que um ponto de acumulação de um conjunto não precisa pertencer a ele . Pontos que pertencem a um conjunto também não são necessariamente pontos de acumulação . 20 • Fatos Básicos EXEMPLO 1.1.22. (1) A = (a, b) , a < b. O conjunto dos pontos de acumu lação de A é o intervalo fechado [a , b]. (2) B = Z, o conjunto dos números inteiros. Não existem pontos de acumulação de B. (3) C = Q. Todo número real é ponto de acumulação de C [veja o corolário 1. 1. 24 a seguir]. (4) D = { l/n I n = 1, 2, . . . }. O número O é o único ponto de acumula ção do conjunto D. Qualquer vizinhança de um ponto de acumulação de um conjunto B C IR contém infinitos pontos de B [por que ?]. Conseqüentemente , os subconjuntos finitos de IR não podem ter pontos de acumulação . Observação 1. 1. 23. Dizer que a é ponto de acumulação de B C IR significa que a pode ser aproximado por pontos de B. Precisamente , dado um número 6 > O , por menor que seja, sempre existe x E B, x -# a, tal que I x - a i < 6. Costuma-se dizer que os pontos de B podem tender a a . O seguinte corolário da propriedade arquimediana de IR, revela como os números racionais se espalham por toda a reta IR: COROLÁRIO 1.1.24. Qualquer intervalo (a, b) C R, a < b, contém um nú mero racional. Demonstração. Seja a � O com a < b. Pelo corolário 1.1. 19 da propriedade arquimediana, existe n E N tal que O < l/n < b - a. Sej am q = l/n e A = {m E N I mq > a} e tomemos k = min A [existe k, pois A -# 0 é limitado inferiormente e, como A não tem pontos de acumulação, inf A E A. Veja o exercício 18. ] Afirmamos que o número racional kq pertence a (a, b) . De fato , kq > a e , pela escolha de k, (k - l )q :::;; a logo kq - a :::;; q < b - a, ou seja , kq < b. Portanto kq E (a, b) . Suponhamos agora a < o. Pela propriedade arquimediana podemos es colher n E N de modo que - a < n. Como a + n > O, pela primeira parte da prova existe um racional p E (a + n, b + n) . Então p - n é um racional pertencente a (a, b) . O Uma conseqüência do corolário 1.1.24 é que todo intervalo aberto (a, b) , a < b, contém infinitos números racionais [por que ?]. Pelo fato de Q ter a propriedade estabelecida no corolário 1. 1.24 diz-se , numa linguagem mais técnica, que o conjunto Q dos números racionais é denso na reta IR. Os números irracionais gozam da mesma propriedade : todo intervalo (a, b) , a < b, contém um irracional . De fato , tomemos (a, b) , a < b. Se a ti:- Q, Funções • 21 sej a n E N tal que n(b - a) > l al . Neste caso , a + ( I al /n) = a(n ± 1)/n é um irracional pertencente a (a , b) . Se a E Q, sej am x > ° um irracional e n E N tal que n ( b - a) > x. Então a + (x / n) é um irracional pertencente a (a, b) . 1.2 FUNÇOES DEFINIÇÃO 1.2.1. Dados dois conjuntos A, B #-0, uma função f definida em A com valores em B ou, simplesmente , de A em B, que se denota f : A -----+ B, é uma lei que associa a cada x E A um único elemento de B, indicado por f (x) . Às vezes uma função f : A -----+ B é denotada por x E A 1-----+ f(x) E B. DEFINIÇÃO 1.2.2. Dada uma função f : A -----+ B, os conjuntos A e B são chamados , respectivamente , domínio e contm-domínio de f . Os elementos x do domínio são chamados variáveis independentes e os elementos y do contra-domínio , variáveis dependentes. Se Yo = f(xo ) , então Yo é chamado imagem de Xo por f. Para quaisquer D C A e C C B definem-se f (D) C B e f-1(C) C A por f(D) = {y E B I y = f(x) , para algum x E D}, f-1(C) = {x E A I f (x) E C}. o conjunto f(D) é chamado imagem de D por f e f-1(C) é chamado imagem inversa de C por f. EXEMPLO 1.2.3. Denotaremos sempre com �+, o conjunto dos números reais não negativos , isto é, �+ = [0, 00) . (1) Se A = B, um exemplo simples de função é f : A -----+ A tal que f (x) = x, para todo x E A. Esta função é chamada identidade de A e é usualmente denotada por I, ou IA. Assim, I(x) = x, '\Ix E A. ( 2 ) Se 2Z C Z é o conjunto dos números inteiros pares , isto é , 2Z = { . . . , -6, -4, -2 , 0, 2 , 4, 6 , ... }, podemos definir a função f : 2Z -----+ Z por f(n) = n/2 , para todo n E 2Z. (3) Seja c E � um número fixado. A função f : � -----+ � dada por f (x) = c, para todo x E �, é chamada função constante. (4) Podemos definir f: � -----+ �+ por f(x) = x2 , para todo x E R (5) Um exemplo relacionado com o anterior é a função g : �+ -----+ �, dada por g (x) = Vi, '\Ix E �+. (6 ) Observe que a lei que associa a cada número real positivo x as suas raízes quadradas ±Vi não define uma função , pois a cadaelemento do 22 • Fatos Básicos domínio deveria ser associado um único elemento do contra-domínio , o que não é o caso aqui. Pode ocorrer , entretanto, de um ponto Yo do contra domínio de uma função ser imagem de dois ou mais elementos distintos do domínio , como em (4) , onde , por exemplo, f(-l) = 1 = f(l) . (7) h: IR \ {I, -I} � IR, dada por h(x) = 1/(x2 - 1) . (8) Se a função f : IR � [1, (0 ) é dada por f(x) = 2X2 + 1, para todo x E IR, se D = (-1, 2) e C = (2, 9], então f(D) = [1, 9) e f-1(C) = [-2 , -V2/2) U (V2/2 , 2]. (9) As funções f : IR � IR da forma f(x) = cx , para todo x E IR, onde c E IR é uma constante , são chamadas funções lineares. Observação 1.2.4 . Como vimos , para definir uma função é preciso especi ficar três entes : o domínio , o contra-domínio e uma lei que associa a cada elemento do domínio um único do contra-domínio. As funções aqui consi deradas , com poucas exceções , serão definidas em subconjuntos de IR com valores em IR [funções reais de uma variável real ]. Assim , vamos adotar a atitude simplificadora de especificar somente a lei de associação. Numa lin guagem um tanto imprecisa, corriqueiramente podemos dizer "função f" ou "função y = f(x)" ou ainda "x 1---+ f (x)". A menos de menção explícita em contrário , ficará subentendido que o domínio é o maior subconjunto de IR onde a lei faz sentido. Assim, por exemplo, para a função f (x) = V2 - x2 , entendemos que o domínio é [- y2, y2 ]. Para g (x) = 1/ (2x - x:{) , o domí- nio é IR \ {O , ±y2}. DEFINIÇÃO 1.2.5. Dados uma função f : A � B e D C A, a restrição de f a D é urna função de D em B, denotada por f I D e definida por \:Ix E D. Ou sej a, a restrição de f ao conjunto D é a função dada pela mesma lei de associação f, só que o seu domínio é o subconjunto D de A. DEFINIÇÃO 1.2.6. Dadas duas funções f : A � B e 9 : D � B , com e A C D, diz-se que 9 é urna extensão de f ou, mais precisamente , urna extensão de f a D, se Dada urna função f : A � B e um conjunto D C IR, com A C D, a frase estender a função f ao conjunto D significa especificar urna função 9 nas condições da definição 1.2.6. Neste caso, para todo x E D \ A, costuma-se definir f(x) = g (x) . Funçôes • 23 EXEMPLO 1 . 2 .7 . As funções gl : ffi. -----+ ffi. e g2 : ffi. -----+ ffi., definidas por g1 (x) = x e g2(X) = Ixl , são extensões da função f dada por f(x) = �, cujo domínio é [0, (0) . Em geral , os domínios das funções estudadas até o capítulo 4 são reuniões de intervalos não-degenerados [isto é, corn extr-ernos distintos ]. No entanto , há uma classe de funções importantes no Cálculo que não se enquadram nessa categoria. Elas têm como domínio o conjunto N = { O , 1, 2 , . . . } ; são as seqüências . Mais exatamente, temos a seguinte definição : DEFINIÇÃO 1 . 2 .8 . Uma seqüência é uma função cujo domínio é o conjunto N dos números naturais , f : N -----+ R Há uma terminologia própria associada às seqüências f. A imagem f (n) de n E N é denotada por Xn [ou anJ YnJ etc. ] e se chama ter-rno da seqüência, enquanto a própria seqüência f é denotada por { xrJ , ou {xn} nEN' ou {xn} n=O,1,2 , ... · A variável independente n é chamada índice e diz-se que a sequencia é indexada em n E N. Também se usa a expressão : a seqüência xo, Xl, X2 , . . . , ou ainda: a seqüência Xn E ffi., n = 0, 1, . . . . Talvez por influência das notações , é comum pensar-se erroneamente que uma seqüência é o conjunto formado por seus termos , { xn E ffi. I n = 0, 1, . . . } . Note-se , entretanto , que a seqüência { ( - l )n} , por exemplo , é diferente da seqüência { (_l )n+l} e , apesar disso , ambas têm o mesmo conjunto de termos , { 1, -1} . EXEMPLO 1 . 2 . 9 . ( 1) Se 1 f(n) = n + l ' n E N, denota-se (2) Podemos usar 0, 1, 4, 9, . . . , n2 , . . . , para denotar {n2 } nEN' (3) Para { n + 2 } pode-se usar : 2, 3/2, 4/3, . . . . n + 1 nEN' DEFINIÇÃO 1.2.10. Dadas f : A -----+ ffi. e 9 : A -----+ ffi., definem-se a função sorna, f + g, a função pmduto, fg, e a função q uociente, f /g , por : (f + g)(x) = f (x) + g(x), x E A (fg)(x) = f(x)g(x) , x E A L(x) = f(x) x E A com g(x) =/: O. 9 g(x)' 24 • Fatos Básicos EXEMPLO 1 . 2 . 11 . Se f(x) = .yx e g(x) = x tem-se , para todo x E ]R., f .yx (f + g)(x) = .yx + x, (fg)(x) = x.yx e , para x -I- 0, -(x) = -. 9 x DEFINIÇÃO 1 . 2 . 12 . O gráfico de uma função f : A -----+ B , A, B C ]R., é o subconjunto C(f) de A x B C ]R.2 dado por: C(f) = {(x, f(x)) E]R.2 I x E A}. As figuras 1. 2 . 1, 1. 2 . 2 e 1. 2 . 3 mostram gráficos de algumas funções conheci das . Se x E ]R., o símbolo [xl indica o maior número inteiro menor ou igual a x que é chamado parte inteira de x. Figura 1 . 2 . 1 : f (x) = x2 e f (x) = Vx c Figura 1 . 2 . 2 : f (x) = Ixl e f (x) = c (constante ) Figura 1 . 2 . 3 : y = [xl Em geral , ao traçar o gráfico de uma função não se busca a precisão , mas um desenho qualitativo contendo características essenciais da função . Isso facilita o entendimento de muitos problemas . Observação 1.2.13. A cada elemento de A uma função f : A -----+ ]R. associa um único número . Assim , cada reta vertical x = c, com c E A, cruza o gráfico de f em um único ponto. Por exemplo , o conjunto mostrado na figura 1. 2 . 4 não pode ser gráfico de uma função . Funções • 25 c Figura 1 . 2.4 : Um conjunto que não é gráfico de função DEFINIÇÃO 1.2.14. Quando f(A) = B, a função f : A -----+ B se diz sobreje tom ou sobre. Quando a elementos distintos de A estão associados elementos distintos de B, isto é, a função f se diz injetom ou biunívoca ou , ainda, um-a-um. Quando f for biunívoca e sobre , também será chamada bijetom. Observação 1.2. 15. Seja f : A -----+ B, com A, B C R Se f é inj etora, toda reta horizontal y = d, com d E B, tem no máximo um ponto em comum com o gráfico de f. Se f é sobrejetora, toda reta horizontal y = d, com d E B, cruza o gráfico de f. Se f é bijetora, toda reta horizontal y = d, com d E B, tem um único ponto em comum com o gráfico de f. Esboçando os gráficos das funções do exemplo 1. 2. 3 podemos conferir as observações acima. A função do item (2) e as funções do item (9) com c i- O [em particular, a função identidade 1 são bijetoras. No item (4) , a função f é sobrejetora e não injetora, mas a restrição f l [o,oo) é bij etora. No item (5) , 9 é injetora, mas não sobre . No item (7) , h não é biunívoca nem sobre . DEFINIÇÃO 1.2.16. Dadas f : A -----+ B e 9 : B -----+ C, define-se a função composta, 9 o f : A -----+ C, por (g o 1) (x ) = 9 (J (x ) ) , para todo x E A. Em outras palavras , obtém-se a imagem de x por 9 o f aplicando-se f a x e , depois , 9 a f(x). Nem sempre se pode definir a função composta 9 o f. Para se definir a função 9 o f : A -----+ C foi necessário que a imagem de A por f estivesse contida no domínio de g. Dadas funções f : A -----+ B, 9 : B -----+ C e h : C -----+ D , tem-se (f o g) o h = f o (g o h), 26 • Fatos Básicos gof Figura 1 . 2 . 5 : Composição de f e 9 isto é , vale a propriedade associativa para a composição . Qualquer dos mem bros da igualdade acima é denotado por fogo h. Sob convenientes condições , pode-se aplicar sucessivamente a associatividade para definir a composição de um número finito qualquer de funções. EXEMPLO 1 . 2 . 17 . ( 1 ) Sej am f : IR. � ( 0 , 1 ] , 9 : (O, 1] � [1, (0 ) , tais que f (x) = 1/( 1 + x2 ) e g(x) = l/x. Então , (g o f) (x) = 1 + x2 . Daria para definir f o g7 Em caso afirmativo , defina-a. (2 ) Se f : IR. � IR. e 9 : [- 1 , (0 ) � IR. são dadas por f (x) = x2 + 2x - 2 e g(x) = Vx+1, então a composição 9 o f não pode ser definida porque f (IR.) = [- 3, (0 ) não está contido no domínio [- 1 , (0 ) de g. (3) Se f : IR.� [O , (0 ) , 9 : IR. � IR. e h : IR. � IR. são dadas por f (x) = x2 , g(x) = X + 1 e h(x) = ex, e E IR. constante , temos h o 9 o f (x) = e(x2 + 1 ) . DEFINIÇÃO 1 . 2 . 18 . Diz-se que f : A � B é invertível se existe uma função f-I: B � A tal que f-I o f = IA e f o f-I = IB. Neste caso , diz-se que f-I é a inversa de f . Em outros termos , f-Io f (x) = X e f o f-I(y) = y, para quaisquer x E A e y E B. É claro que , se a definição 1 . 2 . 1 8 está satisfeita , então a função f-I também é invertível e (f-I rI = f . . Figura 1 . 2 .6: Simetria dos gráficos de funções inversas Funções • 27 Uma conseqüência da definição 1 . 2 . 18 é que f : A -'> B será invertível se e somente se for bij etora. Ou sej a, f será invertível se e só se cada reta y = d, com d E B, t iver exatamente um ponto em comum com o gráfico de f . Para visualizar o gráfico de f-I podemos considerar o gráfico de f e imaginar o eixo y como o da variável independente. Para representá-lo da forma usual basta considerar a reflexão do gráfico de f em relação à diagonal y = x, como representa a figura 1 . 2 . 6 , pois C(j-l) = { (y, f-1(y) ) 1 y E B} = { (j(x) , x) 1 x E A}. EXEMPLO 1.2.19. ( 1 ) Sej am a =I- O e b E � dados . Se f(x) = ax + b, então f é invertível e 9 = f-I é dada por g(x) = (x - b)ja . (2 ) Se tivermos f : � -'> �+ tal que f(x) = x2 , para todo x E �, como no item (4) do exemplo 1 . 2 . 3 , página 2 1 , e considerarmos a restrição f l [o,oo) e se para 9 : �+ -'> �, dada por g(x) = y'x, Vx E �+, como no item (5) daquele exemplo , for tornado �+ corno contra-domínio de g, teremos dois exemplos de funções invertíveis , sendo cada uma a inversa da outra. DEFINIÇÃO 1.2.20. Uma função f : A -'> � se diz monotônica, ou mo nótona, se puder ser classificada corno crescente , estritamente crescente , decrescente ou estritamente decrescente, segundo as definições abaixo: Crescente, se x, y E A x < y � f (x) � f (y) . Estritamente crescente, se x, y E A x < y � f (x) < f(y) . Decrescente, se x, y E A x < y � f (x) � f(y) . Estritamente decrescente, se x, y E A x < y � f(x) > f (y) . Uma função constante , g(x) = c, para todo x E � é crescente e de crescente ao mesmo tempo. Se f (x) = x2 , então função f não é crescente nem decrescente , mas a função fl[o,oo) é estritamente crescente . A função h(x) = y'x é estritamente crescente . Se k(x) = 2 (x - I? + 3 , a função kl[l.oo) é estritamente crescente . As funções lineares u(x) = cx, onde c E � é uma constante , são estritamente crescentes se c > O e estritamente decres centes se c < O. A função v(x) = [xl é crescente . As funções lineares , f : � -'> �, definidas na página 22 , no item (9) do exemplo 1 . 2 . 3 , são aquelas que têm a propriedade ilf (ax) = af(x) , x E �, para todo a E � li. Veja o exercício 29. Se f for estritamente crescente , a condição de f satisfazer esta propriedade apenas nos a inteiros é suficiente para que ela sej a linear , como garante a proposição a seguir . PROPOSIÇÃO 1.2.21. Seja f : � -'> � estritamente crescente e suponhamos que f (nx) = nf (x) , para quaisquer x E � e n E Z. Então existe c > O tal que f (x) = cx, x E �. 28 • Fatos Básicos Demonstração. Se f satisfaz as hipóteses , tomando n = O vem f (O ) = O . Dado q = (m/n) E Q, temos nf (qx) = f(nqx) = f (mx) = mf(x) , para todo x E IR, portanto m f (qx) = -f (x) = qf(x) , n x E IR, q E Q. Sej a e = f ( l ) > f (O) = O . Se q E Q, temos f (q) = f (q . 1 ) = qf ( l ) = eq. Suponhamos temporariamente que exista x E IR com f(x) i- ex, digamos, f (x) < ex [o caso f (x) > cx é análogo]. Tomemos um racional q tal que f(x) < q < x, e donde f (x) < eq = f (q) , uma contradição , pois f é estritamente crescente . Logo f (x) = cx, para todo x E IR. O COROLÁRIO 1.2.22. Seja f : [O , ()() ) -----+ IR uma função estritamente cres cente com f (nx) = nf (x) , para x � O, n E N. Então existe e > O tal que f (x) = ex, para todo x � O . Uma prova pode ser feita definindo a função g : IR -----+ IR por g(x) = f(x), para x � O , e g(x) = -g( -x) , para x < O, e aplicando a proposição 1 . 2 . 2 1 . EXEMPLO 1.2.23. Dada uma circunferência de raio r , um seu arco d e com primento s determina um setor circular cuja área gf é 1 gf = -sr. 2 ( 1 . 2 . 1 ) Para fixar um contexto , seja uma circunferência de centro n a origem O e raio r, A = (r, O ) e o arco AB de comprimento s de acordo com a figura 1 . 2 . 7 [na seção 4.7.2, página 227, definiremos o que vem a ser o comprimento de um arco]. Antes de tudo, é preciso entender bem a fórmula ( 1 . 2 . 1 ) . Se s > 27fT, partes do setor se sobrepõem. Neste caso , as áreas dessas partes são con tadas multiplamente , dependendo de quantas vezes elas se sobrepõem. Por exemplo , se s = 57f /2 , a área do primeiro quadrante é computada duas vezes . Segundo (1. 2 .1) , sz1 = (57f)4)r2, ou seja, sz1 é 5/4 da área do círculo . Provemos a fórmula ( 1 . 2 . 1 ) . A área gf = gf(s) é função não negativa estritamente crescente de s e gf(ns) = ngf(s) , para n E N. Logo , pelo corolário 1 . 2 . 22 , existe c > O tal que gf(s) = es, s � O . Admitindo que a área do círculo é 7fT 2 , podemos escrever gf (27fr) = 7fT 2 , ou seja , e27fT = 7fT2 , donde e = 1'/2 . O Funções • 29 o Figura 1 . 2 .7: O setor circular OAB Vamos definir agora as funções trigonométricas . Como o conceito de comprimento de arco é preponderante em nossa abordagem, ela é intuitiva , mas aceitável neste momento . Na página 261, damos definições precisas das funções seno e cosseno . Seja C a circunferência de raio 1 e centro na origem do plano xy, a chamada circunferência unitária. Definamos a função c : IR -+ C de modo que o ponto O E IR seja levado no ponto A = (1, O) E C e cada t E IR, t > O, no ponto c(t) E C, extremo do arco de C de extremo inicial A e comprimento t, medido no sentido anti-horário . Se t < O a construção de c( t) E C é análoga, tomando c( t) o extremo do arco de extremo inicial A e comprimento I tl medido no sentido horário . Veja a figura 1. 2 . 8 a seguir . Como o comprimento da circunferência C é 27f, temos para todo t E IR, c(t + 2n7f) = c(t) , n E Z. t o Figura 1 . 2 .8: A função t E � f--+ c(t) E C 30 • Fatos Básicos DEFINIÇÃO 1.2.24. Para cada número real t, cos t e sen t são as coordena das de c( t) , isto é , c(t ) = (cost, sent) , t E IR. As funções cos e sen são chamadas , respectivamente , cosseno e seno. Seguem imediatamente desta definição a identidade fundamental , cos2 t + sen2 t = 1, t E lFt, e as propriedades cos (t + 2mr) = cost e sen (t + 2mr) = sent, t E lFt, n E Z, cos -t = cos t e sen -t = - sen t, t E lFt. Figura 1 . 2 .9: Gráficos do seno [acima] e do cosseno [abaixo] Deixamos como exercício a tarefa de determinar os valores que cos e sen assumem nos pontos t + 7r, t + �, 7r - t e � -t em termos de cos t ou sen t, t E IR. A figura 1.2.9 apresenta esboços do gráficos do seno e do cosseno . Dados x, y E lFt, valem as seguintes fórmulas : sen (x + y) = sen x cos y + cos x sen y, cos (x + y) = cos x cos y - sen x sen y, em particular , para todo x E lFt ternos sen 2x = 2 sen x cos x, cos 2x = cos2 X - sen2 x e esta, combinada com a identidade fundamental fornece , para todo x E lFt, 2 cos2 X = (1 + cos 2x) , 2 sen 2 x = (1 - cos 2x) . Funçôes • 31 Figura 1 . 2 . 10: Gráficos da tangente e da secante Observação 1.2.25. Um radiano é o ângulo central determinado por um arco de C de comprimento 1. Assim, o arco de extremos A e c ( t) define um ângulo central e de t radianos [figura 1.2.8]. Por isso , o seno e o cosseno são às vazes entendidos como funções do ângulo e em vez da variável real t. Definem-se as funções tangente, cotangentc, sccantcc cossccante , res pectivamente , por sen t tant = -- , cost cos t cott = -- , sen t 1 sect = - cos t ' 1 csct = -- , sen t para todo t E IR onde os denominadores não se anulam. Os gráficos da cotangente e da cossecante são análogos aos da tangente e da secante , res pectivamente , apresentados na figura 1.2. 10 [e podem ser obtidos por uma translação horizontal destes]. DEFINIÇÃO 1.2.26. Diz-se que f : A � IR é par se f ( -x) = f (x) , para todo x E A e que é ímpar se f( -x) = -f(x) , para todo x E A. A definição 1.2.26 presume que A tem a seguinte propriedade de simetria: x E A =} -x E A. Por exemplo , os conjuntos IR , [-1,1], Z e IR \ Z têm essa propriedade. Como conseqüência direta da definição 1.2.26, o gráfico de uma função par , y = f (x) , é simétrico com relação ao eixo y e o gráfico de uma função ímpar é simétrico com relação à origem do plano xy. Vej a a figura 1.2. 11. EXEMPLO 1.2.27. A função seno e a função y = x3 são ímpares . A função cosseno e a função y = Ixl são pares . 32 • Fatos Básicos Figura 1.2 . 1 1 : Simetrias de funções pares e ímpares Examine os exemplos anteriores desta seção , procurando classificar as fun ções como pares ou ímpares , quando isto for possível . DEFINIÇÃO 1.2.28. Sej am f : A ---+ IR e w > O. Diz-se que f é uma função periódica de período w ou, abreviadamente , w-periódica, se f(x) = f(x + w) , x E A. Dado w > O, a definição 1 . 2 . 28 presume que A satisfaz x E A =} (X±W) E A. Os conjuntos IR, wíZ = {wn I ±n = 0 , I , 2 , . . . } e IR \ wíZ, por exemplo , possuem essa propriedade. Se uma função é w-periódica, então ela é nw-periódica, n = 1 , 2 , 3 , . . . . Se f é periódica e se existe Wo = min { w > O I w é período de f }, então Wo é chamado período mínimo de f . EXEMPLO 1.2.29. ( 1 ) As funções f(x) = sen x e g(x) = cos x são 27r periódicas e 27r é seu período mínimo. (2 ) A função g(x) = cos 27rX é l-periódica. Mais geralmente , pode-se verificar que se f : IR ---+ IR é w-periódica e c > O é um número real dado , então a função 9 dada por g(x) = f(cx) , x E IR, é (wjc)-periódica. (3 ) As funções tan x e cot x são 7r-periódicas . Ambas são quocientes de funções 27r-periódicas , mas 27r não é seu período mínimo . (4) Sejam f : IR ---+ IR uma função w-periódica e p/ q um número racional , com p, q E íZ+ . A função g: IR ---+ IR dada por g(x) = f((p/q) x), para todo x E IR, é qw-periódica. De fato, para todo x E IR temos g(x + qw) = f((p/q) (x + qw) ) = f((p/q)x + pw) = f((p/q)x) = g(x) . Funções • 33 Conseqüentemente , a função cos [ (3/5)x] é 107r-periódica [qual é seu período mínimo? Compare com o item (2)]. (5 ) Para todo x E lR, lembrando que [x] indica o maior número inteiro menor ou igual a x, a função f dada por f(x) = x - [x] é l-periódica. A figura 1 . 2 . 1 2 mostra o gráfico desta função . Figura 1 . 2 . 1 2 : f (x) = x - [xl (6) A função f(x ) = { I , O , s e x E Q se x E lR \ Q é periódica de período q , para qualquer racional q > O , portanto não tem período mínimo. DEFINIÇÃO 1.2.30. Uma função f : A ----7 lR se diz limitada se o conjunto f(A) for limitado ou, equivalentemente, se existirem números f e L tais que f � f(x) � L, para todo x E A. Neste caso, f é chamado uma cota inferior , ou limitante inferior , de f e L, uma cota superior , ou limitante superior . Diz-se que f : A ----7 lR é limitada superiormente se f(A) for limitado superiormente e que f é limitada inferiormente se f (A) for limitado inferiormente . Observe que f : A ----7 lR ser limitada é equivalente a dizer-se que existe um número K > O tal que I f(x) 1 � K, para todo x E A . DEFINIÇÃO 1.2.31. Sej am f : A ----7 lR e B C A. Diz-se que a função f é limitada em B se a restrição f I B for uma função limitada. EXEMPLO 1.2.32. ( 1 ) A função f(x) = x/ ( l + I x l ) , cujo gráfico é esboçado na figura 1 . 2 . 1 3 , é limitada. (2 ) É claro que uma função limitada f : A ----7 lR é limitada em qualquer subconjunto B de A. A função f(x) = l /x , definida em lR \ { O } , não é limitada, mas é limitada em ( 1 /2 , 3] , pois 1/3 � f (x) � 2 , se 1 /2 < x � 3 . 34 • Fatos Básicos 1 - 1 Figura 1 . 2 . 13: f (x) = x/ ( l + I x l ) DEFINIÇÃO 1.2.33. Se f : A ---+ ffi. é limitada superiormente e L é a menor cota superior de f, isto é, L = sup f (A) , então L é chamado supremo da função f e escreve-se L = sup f (x) . xE A Se existir Xo E A de modo que L = f(xo ) , isto é , L diz-se que L é o máximo de f e se escreve L = max f(x) . XE A max f (A) , então Se L = f (xo ) = maxA, então f(xo ) é chamado o valor máximo de f e Xo é chamado um ponto de máximo. Para uma função f : A ---+ ffi. limitada inferiormente , definem-se ana logamente o seu ínfimo e o seu mínimo, bem como o seu valor mínimo e o seu ponto de mínimo. Esta tarefa consiste basicamente em inverter as desigualdades e é deixada como exercício . Observe que , se f : A ---+ ffi. é limitada inferiormente , inf f (x) = - sup (-f (x) ) . xE A xE A Por exemplo , se f (x) = x2 - 1 , então f é limitada inferiormente e inf f (x) = - sup ( -f(x)) = - sup{ _x2 + I } = - 1 . Assim, f : A ---+ ffi. tem mínimo se -f tem máximo e Por exemplo , min f (x) = - max(-f (x) ) . x E A x E A min ( cos x - I ) = - max ( - cos x + 1 ) = - 2 . x E � xE� Funções • 35 1 Figura 1.2.14 : y = ( Ixl - l ) / lxl EXEMPLO 1 . 2 . 34 . ( 1 ) A função f (x) = cos x é uma função limitada, sendo os valores de máximo e de mínimo: 1 = max f (x) , -oo<x<oo - 1 = min f (x) . -oo<x<oo Os números Xk = 2br, ±k = 0 , 1 , . . . , são os pontos de máximo . Quais são os pontos de mínimo? (2) Usualmente se define a função arco tangente , denotada por arctan , como a inversa da função tangente restrita ao intervalo (-1["/2 , 1["/2 ) . Assim, a função f (x) = arctan x é limitada, com 1[" 2 sup f (x) , -oo<x<oo 2 inf f(x) , -oo<x<oo mas não existem máximo ou mínimo de f. (3) f (x) = l/x não é limitada, mas podemos escrever sup f (x) = O = inf f (x) . x<ü x>ü Veja a figura 2 . 2 . 1 do próximo capítulo , página 5 1 . (4) f (x) = x2 não é limitada, mas é limitada inferiormente com valor de mínimo O = mÜLoo<x<oo f (x) . (5 ) A função f(x) = ( I x l - l)/ l x l é limitada superiormente e I xl - 1 sup I x l = 1 . Mas não existe o máximo . A figura l . 2 . 14 mostra o gráfico desta função . 36 • Fatos Básicos 1f "2 � 2 Figura 1 . 2 . 1 5 : y = I tan x l e y = I x2 - 2 1 Para esboçar o gráfico de y = I f (x) I , uma boa estratégia é esboçar o gráfico de y = f (x) e depois , lembrando que Iy l = -y, se y < 0 , refletir em torno do eixo x da parte do gráfico que fica abaixo do eixo x. A figura 1 . 2 . 1 5 mostra os gráficos de y = I tan x l , para -1f/2 < x < 1f/2 , e y = I x2 - 2 1 . EXEMPLO 1 . 2 . 35 . ( 1 ) Vamos resolver a desigualdade x2 - 2 � I x - 1 1 . Considerando os gráficos das funções f (x) = x2 - 2 e g (x) = I x - 1 1 sobrepostos como na figura 1 . 2 . 1 6 , fica fácil visualizar o conjunto S dos x E ffi. tais que f (x) � g (x) . Este conjunto é a solução do nosso problema. Assim , S = [a , b] , onde a é a raiz negativa de x2 - 2 = - (x - 1 ) e b é a raiz positiva de x2 - 2 = x - 1 , ou seja, S = [ - ( 1 + V13)/2 , ( 1 + )5)/2] . Figura 1 . 2 . 16: x2 - 2 :s; I x - 1 1 Funções • 3 7 ( 2 ) Vejamos agora um outro exemplo mais envolvente . Resolvamos a seguinte desigualdade: 1 + v'Í7 -2 - 3 + v'Í7 -2 - Figura 1 . 2 . 17: I x2 - 2x - 3 1 ::::; I x - 1 1 Procedendo analogamente ao item ( 1 ) , sobrepondo os gráficos das fun ções f (x) = I x2 - 2x - 3 1 e g(x) = I x - 1 1 , como na figura 1 . 2 . 1 7 , vê-se facilmente o conjunto S dos x E ffi. para os quais f (x) � g (x) x E [ ( 1 - vl7)/2 , (3 - vl7)/2] U [ ( 1 + vl7)/2 , (3 + vl7)/2] . Os extremos dos intervalos envolvidos na expressão acima são determinados na análise da figura 1 . 2 . 1 7 para definir o conjunto dos pontos x onde o gráfico da função y = I x2 - 2x - 3 1 está abaixo do gráfico de y = I x - 1 1 , ou seja , os extremos dos intervalos são dados pelas interseções dos gráficos das funções f e g , (a) ( 1 - V17)/2 é a raiz negativa de x2 - 2x - 3 = -x + 1 ; (b) (3 - V17)/2 é a raiz negativa de -x2 + 2x + 3 = -x + 1 ; (c) ( 1 + V17)/2 é a raiz positiva de -x2 + 2x + 4 = x - 1 ; (d) (3 + v'I7)/2 é a raiz positiva de x2 - 2x - 3 = x - 1 . 38 • Fatos Básicos 1.3 EXERCÍCIOS Resolva as desigualdades 1) - 12) 1) 12 - 13xl � 39 7) Ix + 1 1 � l x - 2 1 2 ) 1 20x - 3 1 > 5 8) I x I < 1 2x - 1 1 3 ) 1 (5 - 2x)/3 1 � 3 9) I x2 - 4x - 5 1 � 1 4) I (x + 3 )/4 1 < 5 10 ) 1 36x - 27 1 > 5 5) 1 2x - 5 1 < I x + 3 1 1 1 ) I x2 - 4x - 5 1 � Ix - 1 1 6 ) 1 3x + 5 1 > 1 2x - 1 1 1 2 ) I x2 - 4x - 5 1 � 1 2x + 1 1 13 ) Dê exemplo em que a , b E ]R. e l a + b l < l al + I bl . O que dizer dos sinais de a e b? Se a , b , c E ]R., mostre que l a + b + cl � l al + Ib l + l e i - 14) Se r é um número racional , r i=- O , e x um irracional , mostre que rx é irracional e , por conseqüência, não existe racional cujo quadrado sej a 32 . 1 5 ) Indique sup , inf , max e min dos seguintes conjuntos , s e existirem : A = {n E Z I I nl < l O } , B = {n E Z I l n l � l O } , C = {x E Q I l xl � y'3} , D = [- 1 , 1 ) U (y'3, 4) , E = {x E ]R. I x2 - 4x + 4 > O e x2 - 3x < O } , F = { x E ]R. I I x l = m + ( l/n) , m, n = 1 , 2 . . . } , G = { x E ]R. I x = l/(m + n) ; m, n = 1 , 2 , . . . } , H = {x E ]R. I x = ( l/m) + ( l/n) ; m, n = 1 , 2 , . . . } , I = { x E Q I l x - )21 < 2 } , 16 ) Se A, B C ]R. e a E ]R., defina A + B = {z I z = x + y, x E A, y E B} , I A I = { z I z = I x l , x E A} , aA = { z I z = ax, x E A} . o que se pode dizer de sup(A + B) , sup IA I , sup aA, em termos de sup ou inf de A e B? Considere separadamente os casos , a > O, a < O e a = O . 1 7) Dado um conjunto P C ]R., denota-se com P' o conjunto de todos os seus pontos de acumulação . Considerando os conjuntos abaixo : A = [- 1 , 1 ) U (y'3, 4) , B = {n E Z I I nl < lO } , C = {n E Z I Inl � l O } , D = {x E Q I I x I � y'3} , E = {x E � I I x l = m + � , m, n = 1 , 2 . . . } , F = {x E � 1 x = m�n ' m, n = 1 , 2 , . . . } , G = {x E � 1 x = � + � , m, n = 1 , 2 , . . . } , Exer"CÍcios • 39 indique quais são os conjuntos A' , B' , C' , D' , E' , F' e G' 18 ) Sejam A C �, A #- 0, limitado superiormente , e L = sup A . Mostre que L = max A ou L é ponto de acumulação de A. Formule uma propriedade análoga para o caso em que A é limitado inferiormente . 19 ) Em cada caso abaixo , qual é o domínio da função f? ( a) f ( x) = J x2 / (x - 2) (b) f (x) = J2x/(x + 1 ) (c) f (x) = J( 1 + 3x) ( 2 - x) (d) f (x) = vx=--I/ (x + 2 ) 20 ) Verifique que qualquer função monotônica definida num intervalo fe chado e limitado é limitada. O intervalo precisa ser fechado? 2 1 ) Se fl , h : A � � são duas funções limitadas , demonstre que sup [fl (x) + 12 (x) ] :(: sup fl (x) + sup h (x) x E A x E A xE A e inf [Jl (x) + 12 (x) ] ?: inf fl (x) + inf 12 (x) . xE A x E A x E A Mostre através de exemplos que as desigualdades estritas podem ocorrer . 22) A função seno não é monotônica, mas a sua restrição a convenientes intervalos é . Quais são os maiores intervalos onde sen x é estritamente decres cente? [o termo "maiores " significa que esses intervalos não estão contidos propriamente em intervalos onde o seno é estritamente decrescente]. 23) Esboce o gráfico das seguintes funções : ( a) f ( x) = sen ( 1 / x ) (b) f (x) = x sen ( l /x) ( c) f ( x) = x2 sen ( l /x) (d) f (x) = x + x/ l x l (e) f (x) =-- V1=X (f) f (x) = [x2 ] . 24) Classificar as funções abaixo , quando possível , quanto a serem monotô nicas , limitadas , pares ou ímpares , sobrejetoras , injetoras , ou bijetoras : (a) f : � � � tal que f (x) = I x l . Considerar também o caso em que o contra-domínio é �+ . (b) f ( x) = x + l/x . (c) f : ( -7r/2 , 7r/2) � � tal que f (x) = tan x . ( d) f (x) = sen 2 x + cos x . ( e ) f ( x) = sen ( 1 / x4 ) . 40 • Fatos Básicos 25) O produto de duas funções pares , f, 9 : A � lR, é par? O que se pode dizer do produto de duas funções ímpares? E do produto de uma par por uma ímpar? 26) Suponha que a função f (x ) dependa somente de potências de x com expoentes pares . Mostre que f é uma função par . E se depender apenas de potências de x com expoentes ímpares? A função f (x ) = cos (x3 + x7 ) é par ou ímpar? E a função f (x ) = x3 + I ? 27 ) Se f , 9 : lR � lR são ambas pares , verifique que f o 9 e 9 o f são funções pares. Mostre também que se f e 9 são ambas ímpares , então f o 9 e 9 o f são ímpares . O que se pode dizer das composições f o 9 e 9 o f se f é par e 9 é ímpar? 28) Sej a f : A � B (A , B C lR) uma função sobrej etora. Mostre que se f é estritamente crescente (ou estritamente decrescente) , então f é invertível . Vale a recíproca? Isto é : se f é invertível , então poder-se-ia afirmar que ou f é estritamente crescente ou f é estritamente decrescente? 29) Nos termos do exemplo 1 . 2 . 3 em seu item (9) , página 22, mostre que uma condição necessária e suficiente para que uma função f : lR � lR sej a linear é que , dada qualquer constante a E ]R, tenhamos f (ax ) = af (x ) , qualquer que sej a x E ]R. 2 LIMITE E CONTINUIDADE o conceito de limite é o mais fundamental do Cálculo ; a derivada e a integral, seus principais objetos de estudo , às quais se dedicam os capítulos 3 e 4 , são , ambas , formas de limite . Além disso , a idéia de limite permeia nossos argumentos em todo o transcorrer dos cursos de Cálculo e de suas aplicações . 2.1 LIMITES Antes de entrarmos no assunto propriamente , vamos fazer uma pequena digressão bem informal . Tomemos uma função f : B ---+ IR. , B C IR. , e sej a a E IR. não necessariamente pertencente a B. Suponhamos que exista I! E IR. tal que f (x) se aproxima de I! , quando fazemos x se aproximar de a, embora x #-a . Quando isto ocorre , dizemos que I! é o limite de f em a [ou o limite de f (x) quando x tende a a] e escrevemos lim f (x) = t x -+ a Por exemplo, suponhamos que f sej a dada por 2X2 � 4x f (x) = x2 � 3x + 2 ' logo o domínio é B = IR. \ { I , 2 } . Vemos que f coincide em seu domínio com a função g (x) = 2xj (x � 1) , definida em IR. \ { I } . Observamos que f (x ) pode ficar arbitrariamente próximo de 4 = g (2 ) tomando-se x suficientemente 42 • Limite e Continuidade próximo de 2. Então escrevemos 2X2 � 4x lim = 4 . x-->2 x2 � 3x + 2 Note que , ao considerar o limite de f em a, estamos vendo se é possível saber para onde vai f(x) , quando x se aproxima de a. Não estamos interessados em quanto vale f (a ) , nem mesmo em saber se f (a) existe . Estando por trás dos conceitos centrais do Cálculo , a noção de limite está por trás de muitos conceitos das ciências . Não podemos nos conformar , portanto , com uma "definição" tão precária como a que temos até aqui . Não é claro , por exemplo , o significado de uma variável aproximar-se de a E ]R.. É necessário colocar as coisas em termos precisos . DEFINIÇÃO 2.1.1. Dados f : B � ]R. e um ponto de acumulação a do conjunto B, diz-se que g E ]R. é o limite de f em a se está satisfeita a seguinte condição : Para todo E > O , existe um número 6 = 6 (E) > O tal quex E B , O < I x � a i < 6 => I f(x) � gl < E . Escreve-se : lim f(x) = g ou f(x) � g , com x � a . x-->a Damos preferência à primeira notação . (2. 1. 1) Observação 2.1.2. (1) A definição 2.1.1 traduz a idéia de pontos próximos , mas distintos, de a serem levados por f a pontos próximos de g . (2) No contexto da definição 2.1.1 não importa quão pequeno seja E > O ; é possível encontrar 6 > O tal que a frase (2. 1. 1) sej a verdadeira. (3 ) Dada f : B � ]R., a notação limx-->a f(x) = g presume que a é ponto de acumulação de B. Mesmo que este fato não esteja mencionado , não se abre mão de a ser ponto de acumulação de B, pois (2. 1. 1) é imposta sob a condição de existir x E B tal que O < I x � a i < 6 . Analisemos a definição 2.1. 1 num caso concreto . Seja , por exemplo, f (x) = 2 (x2 � 1) . (x � 1) Note que f não está definida em x = 1. No entanto , para x =1= 1 temos f(x) = 2(x + 1) , o que sugere limx-->l f(x) = 4. Mostremos que este é o caso [veja a figura 2.1.1.]. Se x =1= 1 podemos escrever I f(x) � 4 1 = 1 2(x + 1) � 4 1 = 2 1 x � 1 1 - = 4 a = 1 Figura 2.1 .1 : lirnx-tl 2 (x2 - l ) / (x - 1) = 4 [ o = c/2] Assim, dado c > O, se escolhermos 6 = c/2 obtemos Limites • 43 O < Ix - 1 1 < 6 =? 2 1 x - 1 1 < 26 =? I f (x) - 4 1 < 26 = c . Com esta discussão e o s exemplos que damos a seguir , visamos exclusiva mente aclarar a definição de limite . Logo veremos , por exemplo , que algumas propriedades permitem mostrar que limx-t2 (x2 + 1 ) = 5 de um modo muito mais direto do que o apresentado no item (4) do exemplo a seguir . EXEMPLO 2 . l . 3 . ( 1 ) Se considerarmos f (x) = c (constante) , temos talvez o exemplo mais simples deste capítulo : lim c = c. x-ta Conferindo com a definição 2 . 1 . 1 , dado c > O , qualquer 6 > O nos serve , pois sempre ternos I f (x) - cl = O < c . (2 ) Se f (x ) = x , temos limx-ta x = a. De fato , dado c > O , se tornarmos 6 = c temos O < I x - a i < 6 =? I f (x) - a i = I x - a i < 6 = c . ( 3 ) limx-t2 (3x + 4) = 10 . Antes de iniciar , é útil observar que nos termos da definição 2.1.1 , acima, a = 2 e I f (x) - fi = 1 ( 3x + 4) - 10 1 = 3 1 x - 2 1 . Sej a c > O dado , tornando 6 = c/3 , ternos : O < I x - 2 1 < 6 =? I f (x) - f I = 3 1 x - 2 1 < 36 = c . ( 4 ) limx-t2 (x2 + 1 ) = 5 . 44 • Limite e Continuidade De fato , dado e > O qualquer , vamos procurar um 6 > O sob a restrição 6 � 1 . Assim, I x - 2 1 < 6 implica 1 < x < 3 e, portanto , I x + 2 1 < 5 , ou seja I (x2 + 1 ) - 5 1 = I x + 2 1 1 x - 2 1 < 5 1 x - 2 1 · Logo , tomando O < 6 � min{ l , e/5 } , O < I x - 2 1 < 6 =? I (x2 + 1 ) - 5 1 < 5 1 x - 2 1 < 56 � e . ( 5 ) limx--->a cos x = cos a . Observe inicialmente que I COS Xl - cos x2 1 < I X l - x2 1 , s e X l , X2 E IR, Xl #-X2 , pois I X l - x2 1 é o comprimento do arco de extremos Xl e X2 ; vej a a figura 2 . 1 . 2 [estamos admitindo que o comprimento do arco XlX2 é maior do que o da corda Xl X2 ] . Dado e > O , tomando 6 = e vem O < I X - a I < 6 =? I cos x - cos a I < I x - a I < 6 = e . ( 6 ) limx--->a sen x = sen a . Pode ser provado de modo análogo ao caso do cosseno. PROPOSIÇÃO 2.1.4. Suponhamos que exista o limite de f : B ----+ IR em um ponto a . Então ele é único. Demonstração. Suponhamos que limx--->a f (x) = fI , limx--->a f (x) = f2 e sej a e > O dado . Tomando c/2 no papel de e , de acordo com a definição 2 . 1 . 1 , página 42 , existem 61 , 62 > O de modo que , se x E B : O < I x - a i < 61 =? O < I x - a i < 62 =? I f (x) - fl l < e/2 , I f (x) - f2 1 < e/2 . Limites • 45 Escolhendo 6 = min{ 61 , 62 } , se x E B e O < I x - a i < 6 , temos O � I l \ - R2 1 = I R l - f (x) + f (x) - R2 1 � I f (x) - Rl l + I f (x) - R2 1 < c/2 + c/2 = c . Assim , O � I R1 - R2 1 < c , qualquer que seja c > 0 , o que equivale a I Rl - R2 1 = O portanto RI = R2 . O Observação 2.1.5. Dados f : B -----+ 1Ft e D C B , sej a a um ponto de acu mulação do conjunto D. Se limx---+a f (x) = R, é claro que também para a restrição de f a D temos pois na definição 2 . 1 . 1 , página 42 , se vale a implicação ( 2 . 1 . 1 ) , ela tem de valer com a variável x restrita a D . Para s e compreender um conceito é bom entender sua negação . Damos a seguir dois exemplos em que não existe o limite . . x FIgura 2 . 1 . 3 : f (x) = R x EXEMPLO 2 . 1 . 6 . ( 1 ) limx---+o � não existe . De fato , sej a f (x) = x/ l x l , x E 1Ft \ { O } . Veja a figura 2 . 1 . 3 . Como f (x) = 1 , para x > O, e f (x) = - 1 , para x < 0, se existisse limx---+o f (x) , de acordo com a observação 2 . 1 . 5 , acima, teríamos lim f (x) = limf l (o ) (x) = 1 , x---+o x---+o , 00 l im f (x) = limfl(� O) (x) = - 1 , x---+O x---+O 00 , o que leva à contradição 1 = limx---+o f (x) = - 1 . 46 • Limite e Continuidade 1 (2 ) limx--+() sen - não existe . x 1 De fato , suponhamos , por contradição , que exista f! = limx--+o sen - . x Dado qualquer [ > O , digamos , [ = 1 , deve existir 6 > O tal que O < I x I < 6 =? I sen l - f! I < 1 . ( 2 . 1 . 2 ) Considerando Xn = 2/ (4n + 1 )1f e Yn = 2/ (4n - 1 )1f , n = 1 , 2 . . . , temos . 1 FIgura 2 . l .4 : Y = sen x sen ( l /xr J = 1 e sen ( l /Yn ) = - 1 . Se n é suficientemente grande , temos O < Xn , Yn < 6 e de (2 . 1 . 2 ) segue a contradição 2 = I sen � - seu � I = I sen � - f! + f! - sen � I � Xn Yn Xn Yn � I sen � - E I + I f! - sen � I < 1 + 1 = 2 . Xn Yn Por inspiração do item ( 1 ) do exemplo 2 . 1 . 6 , vamos tratar agora dos limites laterais. Necessitamos da seguinte definição : DEFINIÇÃO 2 . 1 . 7. Um número a é chamado ponto de acumulação à direita para B C IR se a é ponto de acumulação de B n (a, (0). O número a é ponto de acumulação à esquerda para B, se é ponto de acumulação de B n ( - 00 , a) . EXEMPLO 2 . 1 . 8 . O ponto a é ponto de acumulação à direita para o in tervalo [a, b) , a < b, [embora ele se localize à esquerda de [a, b) ; é que os pontos de [a, b) se acumulam em a pela direita de al o O ponto b é ponto de acumulação à esquerda para [a, b) . Os pontos c, a < c < b, são tanto pontos de acumulação à esquerda como à direita para [a, b) . Limites • 4 7 DEFINIÇÃO 2.1.9. Consideremos uma função f : B -----+ IR, B C IR, e a um ponto de acumulação à esquerda para B. Diz-se que € E IR é o limite lateral à esquerda de f em a se limx--+a f I Bn( -oo , a ) (x) = € e denota-se: lim f (x) = € ou f(a- ) = t x----+ a - o encargo de definir limite lateral à direita de f , quando x tende a a , em termos de f I Bn (a , oo ) ' é deixado como exercício . Neste caso a notação é lim f (x) = € ou f (a+) = t x--+a+ Às vezes , ao nos referirmos a limites do tipo acima, omitimos , por brevi dade , o adjetivo lateral. A figura 2 . 1 . 5 mostra como é tipicamente o gráfico de uma função que tem limites laterais distintos num ponto a . f (a+ ) f (a- ) a Figura 2 . 1 . 5 : Limites laterais distintos Observação 2. 1. 10. Suponhamos que a sej a ponto de acumulação à esquerda e à direita para o domínio de f. Neste caso, existe o limite € de f em a a se e somente se existem os dois limites laterais e ambos são iguais a € , isto é , lim f (x) = € {::} lim f(x) = € = lim f (x) . x --+ a x --+ a - x--+a+ Embora possa ser considerada óbvia, a observação 2 . 1 . 1 0 é um bom recurso em muitas situações. No item ( 1 ) do exemplo 2 . 1 . 6 temos x x lim - = - 1 e lim -I I = 1 , x--+o- I x I x--+o+ x por isso concluímos que o limite em questão não existe . EXEMPLO 2.1 . 1 1. A função f (x) = max{O , x2 + (xl l x l ) } , definida em IR \ {O } , cujo gráfico émostrado na figura 2 . 1 . 6 , tem limites laterais em O distintos , limx--+o- f (x) = O e limx--+o+ f (x) = 1 , portanto não existe limx--+o f (.T ) . 48 • Limite e Continuidade Figura 2 . 1 . 6 : f (x ) = max{O, x2 + (x/ l x l ) } , x i- O 2.2 PROPRIEDADES DOS LIMITES Veremos a partir de agora algumas propriedades que , em muitos casos , tor nam desnecessário recorrer-se à definição de limite para o cálculo . São pro priedades muito úteis , uma vez que freqüentemente a definição de limite não é muito manej ável . N a seguinte proposição está subentendido que as funções f e 9 têm o mesmo domínio e que a variável independente x sempre pertence a esse domínio . Adotamos essa prática em geral para não carregar os enunciados com condições óbvias . PROPOSIÇÃO 2.2.1. Se limx->a f (x) = e e limx->a g (x) = m, então 1. limx->a (J (x) + g (x) ) = e + m, 2. limx->a f (x)g (x) = em, 3. limx->a f(x )/g (x) = e/m, se m -I o. Demonstração. Seja c > O dado e tomemos 61 , 62 > O tais que O < I x - a i < 61 ==? O < I x - a I < 62 ==? Tomando 6 = min { 61 , 62 } > O , temos I f (x) - el < c/2 , I g (x) - m l < c/2 . O < I x - a i < 6 ==? I f (x) + g (x) - (e + m) 1 � I f (x) - e l + I g (x) - m l < c/2 + c/2 = c, o que prova o item 1 . Tomemos agora k max{ l e l , Im l } e suponhamos k > O , isto é , pelo menos um dos números e e m é não nulo. Usaremos a identidade f (x)g (x) - em = (J (x) - e) (g (x) - m) + e (g (x) - m) + m ( .t (x) - e) . ( 2 . 2 . 1 ) Propriedades dos limites • 49 Seja c > O dado e tomemos 61 , 62 > O de modo que O < Ix - a i < 61 =? O < I x - a i < 62 =? I f (x) - R I < min{ v03, c/3k} , I g (x) - m l < min{ v03, c/3k} . Em ( 2 . 2 . 1 ) , a condição O < I x - a i < 6 = min{ 61 , 6d implica J f (x)g (x) - Rm l � I f (x) - R l l g (x) - m J + k l g (x) - m l + + k l f (x) - R I < v03v03 + kc/3k + kc/3k = c , o que prova o item 2 a menos do caso R = m = O , que é muito mais simples e deixamos como exercício . Para provar o item 3 é suficiente mostrar que limx-->a ( l /g (x ) ) = l/m e usar o item 2 , com f (x) /g (x) = f (x) ( l/g(x) ) . Vem da definição 2 . 1 . 1 , de limite, página 42 , que existe 61 > O tal que O < I x - a i < 61 =? I g (x) - m J < Im l / 2 , portanto Im l - l g (x) 1 � Im - g (x) 1 < Im l /2 , ou sej a, I g (x) l > Im l /2 . ( 2 . 2 . 2 ) Dado c > O , existe 6 > O , que pode ser tomado menor do que 61 , tal que O < I x - a i < 6 =? I g (x) - m l < I m I 2c/2 . Portanto, de acordo com ( 2 . 2 . 2) e ( 2 . 2 . 3) , O < I x - a i < 6 implica 1 1 /g (x) - l /m l = I (g (x) - m) /mg(x) 1 < 2 I g (x) - m l / lm J 2 < c . Ou seja , limx-->a ( l /g (x ) ) = l /m. ( 2 . 2 . 3 ) o Observação 2.2.2. ( 1 ) O item 1 e o item 2 da proposição 2 . 2 . 1 , acima, se estendem para um número qualquer de funções . Assim , por exemplo , se limx-->a f (x) = R , tem-se limx-->a [f(x)r = Rn , n E N. ( 2 ) Dado um polinômio P(x) = anxn + an_ 1xn- 1 + . . . + ao , notando que limx-->a x = a e combinando o item ( 1 ) acima com as propriedades enuncia das na proposição 2 . 2 . 1 , tem-se lim P(x) = P(a) . x-->a 50 • Limite e Continuidade Mais ainda, os ítens (5) e (6) do exemplo 2.1.3 nos dão: lim P ( cos x) = P ( cos a) , x----+a lim P(sen x) = P(sen a), x---+a lim tan x = tan a, se cos a =I- O, x-+a lim cot x = cot a, se sen a =I- O, x-+a lim sec x = sec a, se cos a =I- O e x-+a lim csc x = csc a, se sen a =I- o. x-+a o item (4) do exemplo 2.1.3, página 43, onde o limite limx-+2(x2+1) = 5 é calculado, decorre imediatamente da observação 2.2.2, não sendo necessário o uso direto da definição de limite. PROPOSIÇÃO 2.2.3. Seja 1 : B � ]R tal que exista f = limx-+a 1(x) . Então existe uma vizinhança V (a) de a tal que 1 é limitada em V (a) n B. Demonstração. Seja E = 1. Como limx-+a 1(x) = f, existe 6 > O tal que x E B, O < Ix - 0,1 < 6 :::} 11(x) - fi < I :::} 11(x) I - lfl < 1 :::} 1 1(x) 1 < I fl + 1. Logo, se V(a) = (a - 6, 0, + 6) , x E V(a) n B \ {a} implica 1 1(x) 1 < Ifl + 1. Assim, 11(x) 1 :S; Ifl + I + 11(0,) 1 , para todo x E V(a) n B. Ou seja, 1 é limitada em V(a) n B. D Seja 1 : B � ]R uma função, e seja a um ponto de B ou um ponto de acumulação de B. Se existe uma vizinhança V (a) de a tal que 1 é l imitada em V (a) n B [ou seja, vale a conc lusão da proposição 2.2.3], diz-se que 1 é localmente limitada no ponto a. Diz-se que uma função é localmente limitada em um conjunto B C ]R se for localmente limitada em cada ponto de B. Neste contexto, a proposição 2.2.3 poderia ser enunciada: "Seja 1 : B � ]R e suponhamos que exista fi = limx-+a 1 (x). Então 1 é localmente limitada em a. " Observação 2.2.4. Obviamente, qualquer função limitada 1 : A � ]R é lo calmente limitada em A. Entretanto, não vale a recíproca desta afirmação pois, pelo que já sabemos, a função identidade !(x) = x, x E ]R, é local mente limitada em ]R [pois existe o limite em cada ponto de ]R], mas é claro que a função identidade não é uma função limitada. A função 1(x) = l/x é localmente limitada em B = (0, 00) [pois O � B], mas não é limitada em B. Propriedades dos limites • 51 ;ti = l/x Figura 2.2.1: Não existem os limites para x ---t O A proposição 2.2.3, acima, pode ser vista como um critério de não exis tência do limite: "Se uma função não é localmente limitada num ponto a, então não existe limx---+a f (x) . " EXEMPLO 2.2.5. (1) Não existem limx---+o(l/x) e limx---+o(1/x2 ) , pois l/x e 1/x2 não são funções localmente limitadas em O. Veja as figuras 2 . 2 . 1. (2) Com o mesmo argumento vê-se que as funções csc x e cot x não têm limite nos pontos a = k7r, ±k: = 0, 1, . . . . (3) A função f(x) = sen(l/x) é localmente limitada no ponto x = O, mas, como já vimos, não existe limx---+o sen(l/x) . Isto é, não vale a recíproca da proposição 2.2.3. Quando uma função f satisfaz limx---+a f(x) = O, usa-se dizer que f é um infinitésimo em a. A proposição abaixo diz, em outros termos, que o produto de uma função limitada por um infinitésimo é um infinitésimo. PROPOSIÇÃO 2.2.6. Sejam f, h : B --+ IR, limx---+a f(x) = O e h localmente limitada em a, então limx---+a h(x) f(x) = O. Demonstração. Sejam 61 > O tal que h é limitada em V'h (a) n B e K > O tal que Ih(x) 1 � K, para todo x E 1181 (a) n B. Seja c > O qualquer e tomemos 6, 61 > 6 > O, tal que x E B, O < Ix - a i < 6 =} If(x) 1 < c/ K. Assim, se x E B, O < Ix - a i < 6 c =} Ih(x)f(x)1 = Ih(x) llf(x) 1 < K K = c. Isto é, limx---+a h(x) f(x) = O. D 52 • Limite e Continuidade 1 Figura 2.2.2: g(x) = x sen x EXEMPLO 2.2.7. (1) limx-->ox sen � = 0, pois este é o limite do produto de uma função limitada, h(x) = sen � , por um infinitésimo em 0, f(x) = x. A figura 2.2.2 mostra o gráfico da função par g(x) = x sen � . (2) limx-->o x2 sec x cos3 � = 0, pois a função considerada é o produto de uma função localmente limitada em 0, h(x) = secx cos3 � , por um infinité simo em 0, f(x) = x2 . (3) A hipótese de h ser localmente limitada na proposição 2.2.6 é es sencial. Por exemplo, se tivermos f(x) = x [portanto limx-->o f(x) = O] e h(x) = l/x, que não é localmente limitada em 0, será inválida a conclusão da proposição 2.2.6, pois limx-->o f(x) h(x) = 1. Na verdade, quando essa hi pótese não é imposta nada se pode dizer, pois se tomarmos agora f(x) = x2 e mantivermos h( x) = l/x, teremos limx-->o f(x) h(x) = O. TEOREMA DA COMPARAÇÃO. Sejam f,g : B -----t IR com f(x) � g(x) , para todo x E B . Se existem limx-->a f (x) e limx-->a 9 (x) , então lim f (x) � lim 9 ( x ) . x----+a x----+a Demonstração. Suponhamos por contradição que Se fi = fil - fi2 , temos fil = lim f(x) > lim g(x) =
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