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Credenciada pela Portaria Nº. 921, de 07/11/07, D.O.U. de 08/11/07 GESTÃO DE CUSTOS: curso prático Prof. Jorge Marcelo Wohlgemuth, Me. FACCAT [2012] [Essa obra é referência para as disciplinas Gestão de Custos e Contabilidade e Análise de Custos dos cursos de Administração e Ciências Contábeis das Faculdades Integras de Taquara - FACCAT] Faculdades Integradas de Taquara SUMÁRIO I. CONCEITOS INICIAIS DE CONTABILIDADE DE CUSTOS ............................................ 3 1) TERMINOLOGIA DA CONTABILIDADE DE CUSTOS ................................................... 3 2) FATORES DE PRODUÇÃO .......................................................................................... 5 A) MATERIAIS ............................................................................................................... 5 B) MÃO-DE-OBRA ...................................................................................................... 11 C) GASTOS GERAIS .................................................................................................. 11 D) DEPRECIAÇÃO: conceitos fiscais .......................................................................... 12 3) CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS ................................................................................ 15 4) SISTEMAS DE CUSTOS ............................................................................................. 16 II. ANÁLISE DA MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E DO PONTO DE EQUILÍBRIO ............ 18 III. DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE VENDA................................................................... 20 IV. ALAVANCAGEM OPERACIONAL E FINANCEIRA ..................................................... 24 I. CONCEITOS INICIAIS DE CONTABILIDADE DE CUSTOS Custo, na linguagem empresarial, significa o quanto foi gasto para produzir certo bem, objeto, propriedade ou serviço. Os sistemas de custos visam dois objetivos principais: a) um bom custeamento do produto e b) propiciar condições para avaliação do desempenho departamental. A Contabilidade de Custos teve como função inicial fornecer elementos para avaliação dos estoques de produtos prontos, produtos em elaboração e matérias-primas. Nas últimas décadas passou a prestar outras duas funções muito importantes, que evoluíram para a Contabilidade Gerencial: a geração de informações que auxiliam na formação do preço de venda e a utilização dos dados de custos para auxilio ao controle e para tomada de decisões. No que diz respeito ao controle, a função da Contabilidade de Custos é fornecer informações para o estabelecimento de padrões, orçamentos ou previsões e, a seguir, acompanhar o efetivamente acontecido com os valores previstos. Quanto a tomada de decisões os dados da Contabilidade de Custos servem para o administrador pesar as conseqüências dos atos necessários para a gestão das empresas. As operações essenciais das organizações comerciais, industriais e de prestação de serviços podem ser visualizadas a partir dos seguintes esquemas: 1) TERMINOLOGIA DA CONTABILIDADE DE CUSTOS Os custos são definidos como recursos sacrificados ou renunciados para conseguir um objetivo específico. Estes representam a quantia monetária que precisa ser paga para obtenção de produtos e serviços. Para dirigir suas decisões, os gestores precisam saber quanto custa cada elemento formador do produto ou serviço comercializado, bem como qual a soma desses elementos em todos os estágios da produção. Os gestores necessitam de sistemas de informação que relatem os custos de atividades, processos, produtos, serviços e clientes da empresa, que são usados para uma variedade de processos decisórios. É importante que a empresa estabeleça um processo que gere informações operacionais e financeiras, direcionado pelas necessidades informacionais dos decisores, principalmente no que tange a mensuração dos custos dos recursos usados para produzir, vender e entregar um produto ou serviço aos clientes. Dentro de tais exigências, a Contabilidade de Custos possui terminologia própria, que precisa ser compreendida pelos gestores. Todas as empresas que têm o lucro por fim (sejam elas comerciais, industriais ou de prestação de serviços) apresentam a seguinte estrutura: LU C R O = R >D R E C E IT A = P V u n * Q T D S .V E N D . IN V E S T IM E N T O G A S T O S T AN G ÍV E IS IN T AN G ÍV E IS D E S P E S AS C U S T O S P E R D A S INVESTIMENTOS Aplicação de recursos em elementos (tangíveis ou intangíveis) que gerarão produção em uma determinada vida útil. São valores ativados em função de sua vida útil ou benefícios futuros. GASTOS Aplicação de recursos em elementos que serão consumidos no processo produtivo ou nas demais atividades da organização. CUSTOS Gastos necessários para a produção do bem ou serviço. DESPESAS Gastos necessários para a obtenção de receita. PERDAS Consumos no processo produtivo que não se agregam aos bens ou serviços. Podem ser decorrentes do processo produtivo ou involuntários. DESEMBOLSOS Pagamentos efetuados pela organização. RECEITAS Representam os ganhos que a entidade aufere num determinado período e tendem a aumentar seu Patrimônio Líquido. LUCRO Ocorre quando as receitas são maiores que os gastos num determinado período. PREJUÍZO Ocorre quando as receitas são menores que gastos num determinado período. Um sistema de custeio típico trabalha em dois estágios básicos: o acúmulo seguido pela apropriação dos custos aos produtos ou serviços produzidos pelas empresas. O acúmulo dos custos se dá de uma forma organizada de coleta de dados junto aos fatores de produção. Já a apropriação se constitui na distribuição dos custos para os elementos de custo designados, a fim de ajudar na tomada de decisão sobre eficiência, rentabilidade e precificação. 2) FATORES DE PRODUÇÃO Os fatores de produção são todos os elementos que as empresas utilizam para a obtenção dos produtos ou serviços destinados à comercialização. Para fins didáticos, eles serão divididos e trabalhados em quatro categorias: a) materiais; b) mão-de-obra; c) gastos gerais; e d) depreciação. A) MATERIAIS O tipo de operações com materiais que uma entidade possui depende fundamentalmente do seu ramo de atividade. Se a entidade for uma empresa comercial, sua atividade será a compra e venda de mercadorias. A entidade adquirirá mercadorias de fornecedores e as revenderá para seus clientes, não agregando nenhum tipo de trabalho a essas mercadorias. As mercadorias adquiridas e não vendidas formam o estoque da empresa comercial. Se a entidade for uma empresa industrial, sua atividade será a aquisição de materiais que serão transformados em outros produtos e, somente nesse momento, serão revendidos aos clientes. Finalmente, se a entidade for uma empresa de serviços, os materiais serão adquiridos visando a execução de atividade e não com o objetivo de comercialização material. As empresas de prestação de serviços possuem as seguintes características, que as diferenciam das demais: a) intangibilidade: os serviços não são materiais; b) inseparabilidade: os serviços são produzidos e consumidos no mesmo momento; c) perecibilidade: os serviços não podem ser estocados; e d) variabilidade: os serviços estão sujeitos, sempre, à variações de quem/local de execução. Os estoques representam aplicação de recursos e, na maioria das vezes, tem uma elevada significânciapara a entidade. Os estoques devem ser controlados e avaliados pelas entidades, de tal maneira que seja possível verificar os resultados advindos de sua transformação em produtos e comercialização. Os estoques de materiais são classificados no ativo circulante e são adquiridos tanto com pagamento a vista quanto a prazo. As empresas devem acompanhar o saldo dos itens em estoque, tanto em quantidades, quanto em valores. O levantamento dos estoques de materiais é providência integrante dos procedimentos para apuração do resultado do exercício e elaboração das demonstrações contábeis. A apuração quantitativa dos estoques depende da existência de controles analíticos adequados e mantidos atualizados e agregados a um eficaz sistema de controles internos. Para o controle físico, a empresa comercial fará o inventário que pode ser realizado de duas formas: INVENTÁRIO PERIÓDICO Esse sistema não permite que a empresa tenha, a qualquer momento, contabilmente o registro do estoque de materiais, sendo este encontrado apenas periodicamente pela contagem física das quantidades existentes. INVENTÁRIO PERMANENTE A empresa mantém controle contínuo sobre as entradas e saídas de materiais de forma que a qualquer momento pode dispor da posição atualizada das quantidades em estoque e dos consumos na produção (custos). Um aspecto importante na ciência contábil refere-se à apuração e determinação dos valores dos estoques. Tal situação se deve ao fato de que os estoques representam um ativo significativo para as empresas e, também, porque a determinação de valores por um ou outro método tem reflexo direto na apuração do custo de produção. Segundo a legislação vigente, os valores que integram e não integram o custo dos estoques nas empresas, são os seguintes: INTEGRAM O CUSTO DOS ESTOQUES a) o valor dos materiais; b) despesas de transporte e seguros incorridas até a entrega; e c) o valor dos impostos não recuperáveis devidos na aquisição. NÃO INTEGRAM O CUSTO DOS ESTOQUES a) o valor dos impostos recuperáveis mediante crédito fiscal do adquirente. Nessa situação, existem, essencialmente, três formas de avaliar monetariamente os estoques de mercadorias: a) PEPS ou FIFO; b) UEPS ou LIFO ou c) Média móvel. Para esse controle, é necessário que as empresas mantenham fichas de controle de estoque (mecânicas ou através de sistemas de processamento eletrônico de dados) para cada item de materiais, produtos prontos e em elaboração, conforme modelo abaixo: Através da simulação de três operações com materiais (uma de compra e duas requisições de materiais para produção) pode-se constatar a importância dos conceitos apresentados. Ressalte-se que nessa simulação não serão contemplados aspectos tributários. DATA NFISCAL QTD.TOTAL VLR.UN. VLR.TOTAL QTD.TOTAL VLR.UN. VLR.TOTAL QTD.TOTAL VLR.MÉDIO VLR.TOTAL 3/abr 10 10,00 100,00 10 10,00 100,00 4/abr 20 12,00 240,00 30 11,33 340,00 5/abr 25 11,33 283,25 5 11,33 56,75 ENTRADAS SAÍDAS ESTOQUE Imagine-se a empresa MODELO LTDA que no dia 01/03/2000x possuía estoque zero de matéria-prima. No dia 02/03/2000x são adquiridas 100 unidades de matéria-prima A ao custo total de R$ 1.000,00. No dia 03/03/2000x são adquiridas mais 150 unidades de matéria-prima A ao custo total R$ 3.000,00. No dia 04/03/2000x são requisitadas pelo setor de produção 200 unidades de matéria-prima A para início do processo produtivo. AVALIAÇÃO DE ESTOQUES PELO MÉTODO PEPS OU FIFO O nome desse método represente primeira que entra é a primeira que sai ou, em inglês, first in first out. Consiste em utilizar o custo das entradas efetuadas por primeiro para valorizar as quantidades saídas e, dessa forma, obter o valor do custo. No momento em que as saídas ocorrem se procede a baixa das primeiras entradas, num raciocínio de que a ordem de saídas das materiais é a mesma das entradas. Esse método de avaliação de estoques é aceito pela legislação fiscal no Brasil. DATA NF ENTRADAS SAÍDAS SALDO qtd. vlr.un. total qtd. vlr.un. total qtd. total 02/03 - 100 10,00 1.000,00 100 1.000,00 03/03 - 150 20,00 3.000,00 250 4.000,00 04/03 - 100 10,00 1.000,00 - 100 20,00 2.000,00 50 1.000,00 Conforme o método PEPS, o custo de produção foi de R$ 3.000,00 e o estoque final está avaliado em R$ 1.000,00, que representa as 50 unidades de matéria-prima A adquiridas por último. AVALIAÇÃO DE ESTOQUES PELO MÉTODO UEPS OU LIFO O nome desse método represente última que entra é a primeira que sai ou, em inglês, last in first out. Consiste em utilizar o custo das compras efetuadas por último para valorizar as quantidades saidas e, dessa forma, obter o valor do custo de produção. No momento em que as saídas ocorrem se procede a baixa das últimas entradas, num raciocínio de que a ordem de saídas das materiais é o contrário das entradas. Esse método de avaliação de estoques não é aceito pela legislação fiscal no Brasil. DATA NF ENTRADAS SAÍDAS SALDO qtd. vlr.un. total qtd. vlr.un. total qtd. total 02/03 - 100 10,00 1.000,00 100 1.000,00 03/03 - 150 20,00 3.000,00 250 4.000,00 04/03 - 150 20,00 3.000,00 - 50 10,00 500,00 50 500,00 Conforme o método UEPS, o custo de produção foi de R$ 3.500,00 e o estoque final está avaliado em R$ 500,00, que representa as primeiras 50 unidades de matéria-prima A adquiridas. AVALIAÇÃO DE ESTOQUES PELO MÉTODO MÉDIA MÓVEL É o método aceito pela legislação fiscal mais utilizado pelas empresas no Brasil. Consiste em avaliar o estoque pelo custo médio de aquisição apurado a cada entrada de materiais, ponderado pelas quantidades adicionadas e pelas existentes anteriormente. Esse sistema implica que em cada entrada a um custo de aquisição diferente do custo médio anterior haverá um ajuste no custo médio. Como o custo médio é resultado da divisão do valor monetário do estoque pelo saldo em quantidades físicas, a cada saída, o custo é obtido pela multiplicação das unidades saídas pelo custo médio atual. Dessa forma, nas saídas o custo médio permanece inalterado, porém o fator de ponderação influenciará no cálculo do custo médio na próxima entrada de materiais. DATA NF ENTRADAS SAÍDAS SALDO qtd. vlr.un. total qtd. vlr.un. total qtd. µ total 02/03 - 100 10,00 1.000,00 100 10,00 1.000,00 03/03 - 150 20,00 3.000,00 250 16,00 4.000,00 04/03 - 200 16,00 3.200,00 50 16,00 800,00 Conforme o método Custo Médio, o custo de produção foi de R$ 3.200,00 e o estoque final está avaliado em R$ 800,00, que representa as 50 unidades de matéria-prima A avaliadas ao custo médio de R$ 16,00. COMPRAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE ESTOQUES Verifica-se que, independentemente do método utilizado, as quantidades físicas em estoque totalizam 50. O que se altera em razão do método utilizado é o valor do estoque final de matéria-prima e o valor do custo de produção. Considerando que todas as compras de matérias-primas foram pagas (desembolso financeiro), que a produção obtida foi de 200 unidades do produto Y, que todos os produtos Y estavam acabados e foram vendidos ao preço de venda unitário de R$ 50,00 e que todas as vendas de produto Y foram recebidas (ingresso financeiro) e considerando, ainda, que o lucro contábil gerado pelas operações é base de cálculo para tributação de (esse percentual é apenas um exemplo) 10%, percebe-se a diferença entre a utilização de um ou outro método através do seguinte quadro: PEPS UEPS MÉDIA Estoque Final 1.000,00 500,00 800,00 Receita Total 10.000,0010.000,00 10.000,00 Ingressos Totais 10.000,00 10.000,00 10.000,00 CPV 3.000,00 3.500,00 3.200,00 Desembolsos Totais 4.000,00 4.000,00 4.000,00 Lucro Contábil 7.000,00 6.500,00 6.800,00 Impostos 700,00 650,00 680,00 Saldo Financeiro 5.300,00 5.350,00 5.320,00 Conclui-se que a receita total é sempre a mesma, independentemente do método de avaliação de estoques utilizado. Isso se deve ao fato de que a receita total é obtida pela multiplicação do preço de venda unitário pelas quantidades vendidas. Da mesma forma, caso todas as vendas sejam recebidas, os ingressos financeiros serão os mesmos, independentemente do método de avaliação de estoques utilizado. O mesmo ocorrerá com os desembolsos financeiros dos materiais adquiridos. As 250 unidades de matéria-prima A deverão ser pagas, independentemente da venda do produto Y. B) MÃO-DE-OBRA Os custos com mão-de-obra são todos os gastos nos quais incorre uma entidade para contratar, treinar, manter, remunerar e desligar seus empregados. Normalmente, o custo total de mão-de-obra (MOD) se compõe de duas partes: a) unidade salarial e b) encargos sociais. A unidade salarial é o valor que a empresa gasta para que o empregado execute as atividades para as quais foi contratado. Tal valor terá como base de cálculo o salário-hora; salário-mês ou salário (horário ou mensal) com ou sem a remuneração complementar. Os encargos sociais são todos os gastos com MOD exceto a unidade salarial considerada. São os custos excedentes à unidade salarial. Os encargos sociais podem ser classificados, de maneira geral, em cinco grandes grupos: a) remuneração complementar (prêmios; adicionais; bonificações; etc.); b) ausências remuneradas (repousos semanais remunerados; feriados; ausências por motivos pessoais; ausência por motivos cívicos; etc.); c) remuneração suplementar (férias; 13º salário, gratificações; etc.); d) remuneração indireta (direito de uso de automóvel; assistência médico-dentária-hospitalar; transporte; cesta básica; etc.) e d) contribuições sociais (previdência social; FGTS; seguro de acidente do trabalho; etc.). As formas de avaliação dos encargos sociais podem ser através de valores reais (históricos) quando são utilizados dados da contabilidade e dos controles internos da área de recursos humanos. É uma avaliação dos custos incorridos no passado. Também são aceitas avaliações a partir de valores estimados. Neste caso, faz-se uma avaliação estimada ou teórica, isto é, consiste na tentativa de prever os gastos com encargos sociais para determinado período futuro. C) GASTOS GERAIS São os gastos incorridos no ambiente de produção, incluindo aqueles necessários para manter e operar os equipamentos utilizados nas atividades industriais. Incluem-se nesse fator de produção a energia elétrica, aluguéis de prédios e equipamentos fabris, serviços de terceiros para manutenção e limpeza, etc. D) DEPRECIAÇÃO: conceitos fiscais A Lei 6.404/76 conceitua depreciação como a perda de valor dos direitos que têm por objeto bens físicos sujeitos a desgastes ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência. Mais do que aceitar um preceito legal, o profissional da contabilidade deve entender o raciocínio do fato que origina a depreciação. Quando uma organização é constituída por empreendedores, esses têm por objetivo o lucro. O lucro é a remuneração do capital investido na organização pelos empreendedores. Para que a organização gere lucros (que é a diferença entre receitas totais e custos totais) é necessária obtenção de receitas através da venda de produtos, mercadorias e serviços. Para que a receita pela venda de produtos, mercadorias e serviços seja contabilizada é necessário que haja a produção ou comercialização. Para que haja produção ou comercialização as empresas fazem investimentos (em elementos materiais) e executam gastos (custos ou despesas). Os investimentos realizados pelas organizações em elementos materiais que serão utilizados no processo de produção são classificados no Ativo Permanente Imobilizado, pois são aplicação de recursos. Essas aplicações de recursos gerarão produção ou proporcionarão a comercialização por um período longo de tempo, diferentemente dos gastos que se consumirão no processo. O período de tempo em que as aplicações de recursos classificadas no Ativo Permanente Imobilizado proporcionarão produção ou comercialização denomina-se vida útil. O conceito de vida útil não determina que, transcorrida a vida útil do bem, esse não possa mais continuar em operação. O conceito de vida útil preconiza que, transcorrida a vida útil, o bem deve ter gerado receita suficiente para a obtebção de um lucro capaz de remunerar o investimento inicial. Dessa forma conclui-se que a depreciação é a forma contábil de se transferir uma parte do valor de um investimento feito em elementos classificados no Ativo Permanente Imobilizado para os custos. Por essa lógica, verifica-se que a depreciação é um custo. Porém é um custo que não exige uma contrapartida financeira, ou seja, a empresa não necessita pagar a depreciação a ninguém. A empresa precisa pagar o investimento e não a depreciação desse investimento. Por esse motivo não é correto pensar que a depreciação é um fundo que as organizações constituem para a aquisição de um novo bem. Verifica-se, ainda, que a depreciação não está relacionada com os gastos de manutenção dos bens, mas sim com o valor do investimento e sua vida útil. ASPECTOS FISCAIS Por se tratar de um custo (que diminui o valor do lucro e, conseqüentemente, reduz o valor dos tributos a serem recolhidos) o cumprimento à legislação fiscal é essencial para o cálculo e contabilização das depreciações. Dessa forma o Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99) determina que a cota de depreciação somente será considerada dedutível a partir do mês em que o bem for colocado em funcionamento e se calculada com base na vida útil pré-determinada pelo fisco através de regulamentação própria. A legislação fiscal admita, porém, que a empresa adote taxas diferentes de depreciação, desde que suportadas por laudo pericial de entidade oficial de pesquisa científica ou tecnológica. Serão aceitos, também, segundo opção das empresas, aceleração nas depreciações de bens móveis, em função do número de horas diárias em operação, conforme modelo a seguir: JORNADA DE TRABALHO DO BEM COEFICIENTE 01 turno de trabalho de 08 horas 1,0 02 turnos de trabalho de 08 horas 1,5 03 turnos de trabalho de 08 horas 2,0 BENS DEPRECIÁVEIS E NÃO DEPRECIÁVEIS Podem ser depreciados todos os bens físicos sujeitos ao desgaste pelo uso ou por causas naturais ou obsolescência normal. Também são depreciáveis, em função do prazo de vida útil, os custos das construções ou benfeitorias realizadas em bens locados ou arrendados de terceiros. Segundo o RIR/99, não podem ser depreciados os terrenos, bens não utilizados na produção dos rendimentos da empresa, bens que normalmente aumentam de valor com a passagem do tempo (obras de arte e antiguidades) e os elementos sujeitos a amortização e/ou exaustão. Segundo Instrução Normativa nº 103 de 17/10/84, da Secretaria da Receita Federal (SRF) é admissível a depreciação de bens adquiridos usados. Nesses casos, as empresas devem optar entre o maior dos seguintes prazos: 1) metade do prazo de vida útil admissível para o bem adquirido novo; ou 2) restante da vida útil do bem, considerada em relação a primeira utilização do mesmo. BASE DE CÁLCULO A base de cálculo para a depreciação do bem será o respectivocusto de aquisição acrescido, se for o caso, do valor decorrentes de reavalições. A Ciência Contábil preconiza que para ser objeto de estudo no patrimônio das entidades, um elemento precisa possuir valor econômico. Após transcorrer toda a vida útil do bem e, conseqüentemente, esse bem ser todo depreciado, seu valor contábil (valor contábil = custo de aquisição (+ / -) reavaliações (- ) depreciações) será zero. Objetivando evitar que um elemento fique registrado no patrimônio de uma entidade por valor zero, a contabilidade pode definir um valor residual que o bem terá após totalmente depreciado. Na prática esse procedimento não tem sido adotado pelas empresas, pois é bastante difícil estimar o valor residual e devido ao fato das empresas desejaram aproveitar todo o valor da depreciação como custo do período. CÁLCULO E CONTABILIZAÇÃO DAS DEPRECIAÇÕES Existem vários métodos para calcular as depreciações. Para fins dessa obra, será apresentado, apenas, o método das quotas constantes. A depreciação por esse método é calculada a partir da obtenção taxa anual de depreciação (fornecida pela SRF ou encontrada a partir da vida útil do bem). Aplica-se a taxa anual de depreciação sobre o valor a ser depreciado e apura-se a cota anual de depreciação. As empresas podem contabilizar as depreciações anualmente, semestralmente, trimestralmente ou mensalmente. Não existe parcela menor de depreciação do que a depreciação mensal (independentemente do dia em que o bem foi colocado em operação dentro do mês). Exemplo do cálculo: DATA DE AQUISIÇÃO CUSTO DE AQUISIÇÃO DO BEM R$15.000,00 VALOR RESIDUAL DO BEM R$ 0,00 VALOR A SER DEPRECIADO R$ 15.000,00 VIDA ÚTIL DO BEM 20 anos TAXA ANUAL DE DEPRECIAÇÃO 5 % COTA ANUAL DE DEPRECIAÇÃO R$ 750,00 COTA MENSAL DE DEPRECIAÇÃO R$ 62,50 Exemplo de contabilização da depreciação: D – custo com depreciação (conta de resultado) – 62,50 C – depreciação acumulada de ... (conta redutora do ativo) – 62,50 3) CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS Os custos podem ser denominados de diretos, indiretos, fixos, variáveis, controláveis ou não controláveis. Contudo, esses termos não terão nenhum significado, a menos que primeiro se identifique algo (uma atividade, um produto, um setor, um serviço etc.) para o qual os custos possam ser relacionados. Os elementos de custos podem ser classificados quando: a) aos produtos (diretos ou indiretos); b) ao volume produzido (variáveis ou fixos); e c) ao controle das operações (controláveis ou não- controláveis). Os custos diretos são aqueles que podem ser identificados diretamente a um segmento particular sob consideração. Os custos diretos podem ser diretamente apropriados aos produtos ou serviços, bastando haver uma medida de consumo. Já os custos indiretos são aqueles que não podem ser alocados de forma direta e objetiva, sendo necessário critérios de alocação para atribuí-los ao segmento sob consideração. Os custos indiretos não oferecem condição de uma medida objetiva e qualquer tentativa de alocação tem de ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária. Essa falta de condição de alocação direta, por parte dos custos indiretos, se dá pela impossibilidade ou pela desmotivação de mensura-lo por conta da relação custo-benefício desfavorável. Os custos variáveis são aqueles que sofrem alterações monetárias em relação ao volume total produzido. Um elemento de custo será considerado variável quando um incremento nas quantidades produzidas do bem ou serviço determinar um incremento (proporcional ou não) naquele elemento de custo. Os custos fixos são aqueles que não sofrem alterações monetárias em relação ao volume total produzido. Importante destacar que os custos fixos só podem ser considerados fixos dentro de uma estrutura de produção. Quando as empresas alteram sua estrutura de produção, seus custos fixos sofrem modificações. Custos controláveis são aqueles que estão direta e hierarquicamente sob a responsabilidade e controle de uma pessoa cujo desempenho se quer analisar e controlar. Os custos não controláveis são aqueles fora dessa responsabilidade, porém eles serão controláveis por alguma pessoa em determinado nível hierárquico da empresa. 4) SISTEMAS DE CUSTOS O esquema básico da contabilidade de custos consiste, então, na apropriação dos custos diretos e na alocação dos custos indiretos mediante rateio aos produtos e serviços da empresa. Este rateio dos custos indiretos deve ser feito segundo os critérios julgados mais adequados e justos para relaciona- los aos produtos e serviços em função dos fatores mais relevantes que se conseguir. Dessa forma, destacam-se os seguintes sistemas de custeio: CUSTEIO DIRETO OU VARIÁVEL O sistema de acumulação de custos só coletará, para apuração do custo de produção, os custos diretos relacionados aos produtos. CUSTEIO PADRÃO É o sistema de acumulação de custos que mensura de forma científica, considerando que todas as condições técnicas pré-estabelecidas de fabricação sejam alcançadas, o valor dos produtos ou serviços. CUSTEIO ABC Sistema de acumulação de custos que identifica e avalia monetariamente um conjunto de eventos ou transações de cada atividade na empresa necessárias para a produção de determinado produto ou serviço. CUSTEIO POR ABSORÇÃO É o método tradicional de custeamento, onde, para se obter o custo de produção, consideram- se todos os gastos industriais, diretos ou indiretos, fixos ou variáveis. Os gastos industriais indiretos ou comuns são distribuídos aos produtos por critérios de rateio. II. ANÁLISE DA MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E DO PONTO DE EQUILÍBRIO A margem de contribuição propicia informações aos gestores para decisão sobre se deve diminuir ou expandir uma linha de produção, para avaliar as alternativas provenientes da produção, de propagandas especiais, etc. Também é possível decidir sobre estratégias de preço, serviços ou produtos e principalmente, avaliar o desempenho da empresa. Um dos aspectos gerenciais mais importantes da contabilidade de custos está relacionado à identificação de quanto vender e quanto faturar para se alcançar a lucratividade desejada. Para se responder a essas duas questões é necessário que a organização tenha conhecimento da sua Margem de Contribuição e do seu Ponto de Equilíbrio. Margem de Contribuição por unidade é a diferença entre a receita e a soma dos custos variáveis de cada produto, mostrando como cada produto contribui para, primeiramente, amortizar os gastos fixos e, depois, formar o lucro. MCU= PV - CV; onde PV: Preço de Venda CV: Custos Variáveis Totais MCU: Margem de Contribuição Unitária A informação do ponto de equilíbrio é de grande importância porque identifica o nível mínimo de atividade em que a empresa ou cada divisão deve operar conseguindo cobrir todos os custos variáveis das unidades vendidas ou produzidas, e também cobrir todos os custos fixos. Ponto de equilíbrio é aquele ponto em que a receita total se iguala ao custo total, graficamente este ponto é detectado no cruzamento das linhas de receita total e custo total. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PONTO DE EQUILÍBRIO CUSTO FIXO CUSTO VARIÁVEL CUSTO TOTAL RECEITA TOTAL A definição formal para ponto de equilíbrio é aquele nível de atividade, expresso em unidades físicas e valores monetários, no qual os custos se igualam às receitas totais. Neste ponto não há lucro ou prejuízo. O Ponto de Equilíbrio, também denominado ponto de ruptura ou break-even-point, nasce da conjugação dos custos totais com as receitas totais. O ponto de equilíbriotradicional tem por objetivo apurar um determinado número na escala produtiva de uma atividade, expresso em quantidade de produtos ou em equivalentes em dinheiro. O ponto de equilíbrio representa o ponto neutro de resultado, ou seja, abaixo dos valores ou de uma certa quantidade de produtos demandados, a empresa terá prejuízo; acima, lucro. Sua obtenção deriva da seguinte fórmula: PE = (CF + DF) / MCU; onde PE: Ponto de Equilíbrio CF: Custos Fixos DF: Despesas Fixas MCU: Margem de Contribuição Unitária III. DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE VENDA A formação do preço de venda é um assunto amplamente discutido também pela teoria econômica, pois na análise da melhor maneira de se calcular o preço de um produto, é preciso que se conheça variáveis como o tipo de mercado em que a empresa atua e características do produto. A competitividade tem exigido das empresas a busca contínua em aprimorar a qualidade em todos os processos e atividades que executam, buscando obter a aceitação dos seus produtos e/ou serviços e alcançar não apenas a permanência no mercado que atuam, mas também, outros objetivos desejados. Alguns dos aspectos que impactam fortemente a obtenção desses objetivos são aqueles que dizem respeito à análise dos custos e suas influências nas decisões que impactam a formação do preço de venda. Estas decisões que objetivam a definição do preço de venda envolvem aspectos muitas vezes analisados de forma empírica, baseadas em dados e informações históricas ou subjetivas, apenas com alguma base científica. Entende-se como preço de venda o valor monetário que a empresa cobra de seus clientes em uma transação comercial. Este valor deverá ser suficiente para que a empresa cubra todos os gastos que foram necessários para colocar o produto, mercadoria ou serviço, à disposição do mercado, até a transferência da propriedade e da posse destes, incluindo o lucro desejado ou possível. Pode-se assumir, para fins didáticos, que o preço de venda contempla dois aspectos: a) aspecto externo ou mercadológico e b) aspecto interno ou de estrutura. Quando se fala no aspecto mercadológico do preço de venda, deve-se entender que o atual de competitividade em que as organizações estão inseridas, tem exigido a busca contínua em aprimorar a qualidade em todos os processos e atividades que executam, buscando obter a aceitação dos seus produtos e/ou serviços e alcançar não apenas a permanência no mercado que atuam, mas também, outros objetivos desejados. Nos métodos de formação de preço de venda para o mercado, a empresa poderá decidir pela fixação com base nos preços praticados pelo mercado, deixando, como prioridade, uma menor atenção aos seus próprios custos ou à procura de seus produtos. Desta forma, o preço de venda praticado pela empresa poderá ser igual, menor ou maior do que o praticado no mercado, dependendo dos objetivos e das inferências que deduz sobre as possíveis influências que podem lhe causar os componentes do sistema que está inserida. Organizações que determinam seus preços com base no mercado devem conhecer os demais atributos que levam os consumidores a adquirem seus produtos. Dentre esses atributos pode-se citar a elasticidade do produto e os demais componentes dos 4 P’s (produto, place e promoção). Quando a empresa decide adotar este procedimento, ou desconhece quase por completo sua estrutura interna ou aparenta confiar nesta estrutura, ou então, seu sistema de informações baseia-se apenas nos custos integrais e históricos em lugar dos custos incrementais (aumento de volume), ou futuros (derivados dos planos existentes). O aspecto estrutural do preço de venda mostra os elementos que formam o seu valor monetário. Os elementos que formam o preço de venda são, essencialmente, o custo total de produção, as despesas incorridas para comercialização, os impostos incidentes sobre a venda e o lucro e a margem de lucro desejada. Existem diversos modelos para determinação do preço de venda de produtos e serviços. Pode- se dividi-los em duas categorias: a) os que estão voltados para os custos e b) os que estão voltados para a lucratividade. Nas empresas que possuem sistema de custos e, adotando-os como base na formação dos preços de vendas, o processo desta formação poderá se tornar prática e simples, evidenciando os seguintes aspectos: preço e continuidade, competitividade, rotinização das decisões e estrutura formal do preço. Nesse procedimento, o conhecimento da estrutura do processo produtivo poderá se constituir como vantagem competitiva. Colocado em processos rotineiros, qualquer alteração para reavaliação do preço de venda torna-se fácil e estruturada, economizando tempo e esforços. A estruturação formal é simplificada, bastando apenas a definição de um mark-up (taxa de marcação). Desta forma, quando os preços de venda utilizam o custo como base de sua formação, o objetivo passa a ser a definição de um mark-up divisor ou multiplicador. Esse mark-up é um valor ou percentual que aglutina os elementos que compõem o preço de venda, ou seja, o custo, as despesas e o lucro. Supondo a seguinte estrutura de preço de venda, de forma percentual tem-se o exemplo a seguir: Preço de Venda 100,00 % ICMS da Venda 17,00 % PIS / COFINS 3,65 % Despesas 10,00 % Lucro Antes dos Tributos 15,00 % TOTAL 45,65 % O mark-up divisor será: 100 % - 45,65 % = 0,5435 100 O mark-up multiplicador será: 1 = 1,8399264 0,5435 Como exemplo, têm-se o valor de $100,00 como custo unitário e o preço de venda, utilizando o mark-up divisor, será $183,99, e pelo mark-up multiplicador será também de $183,99, resultando em lucro de $27,60, ou seja, 15% do preço de venda. Destaca-se que o custo unitário pode ser obtido a partir de qualquer metodologia de custeio (absorção, variável, ABC etc.). Outra forma das organizações determinarem o preço de venda de seus produtos e serviços está relacionada à lucratividade desejada, construída com base em percentual previamente estabelecido no planejamento. Para calcular o preço de venda dessa forma é necessária a identificação dos custos e despesas totais padronizados para o período e a identificação do total investido para o período. Utilizando- se estes elementos com seus respectivos valores: Despesas + (% Retorno x Capital Investido) Custo Total despesas: $400.000,00 capital investido: $4.000.000,00 retorno definido: 20% custo total: $1.500.000,00 Então: 400.000,00 = (20% x 4.000.000,00) = 0,80, ou 80% 1.500.000,00 Multiplicando 1,80 sobre os Custos Totais, têm-se: Vendas: $2.700.000,00 Custos: $1.500.000,00 Despesas: $ 400.000,00 Lucro: $ 800.000,00, ou seja, 20% de $4.000.000,00, ou ainda 29,62% das vendas. Obviamente que este percentual de 20% deverá ser médio para toda a empresa, podendo alternar um percentual específico para cada produto. IV. ALAVANCAGEM OPERACIONAL E FINANCEIRA
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