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SEMIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR Anamnese Valorizar os dados da identificação: 1- Idade e sexo Lúpus eritematoso sistêmico - mulheres jovens em idade reprodutiva; Artrite reumatoide – mulheres de meia-idade; Osteoartrose e arterite temporal – os idosos; Espondilite anquilosante – homens jovens; Osteoporose – mulheres idosas; Esclerodermia – sexo feminino; Gota e poliarterite nodosa – sexo masculino; Febre reumática e osteomielite – crianças e adolescentes. 2- Cor O lúpus eritematoso sistêmico e a espondilite anquilosante acometem com maior frequência os brancos; O lúpus eritematoso sistêmico é mais grave nos negros do que nos brancos. 3- Profissão Trabalhadores que carregam peso e executivos – lombociatalgia; Esportistas – desarranjos internos de joelhos, lesões musculares e entorses; Tenistas – epicondilite. Antecedentes Pessoais e Familiares Há maior agregação familiar de espondiloartropatias, gota e outras doenças reumáticas; Faringite de repetição, cardite e coreia – Febre Reumática; Secreção uretral e conjuntivites – espondiloartropatias soronegativas; Alergia e fotossensibilidade – lúpus eritematoso sistêmico; Passado de doença venérea – artrite gonocócica; Passado de cirurgias ortopédicas (meniscectomia) – osteoartrose. Sinais e Sintomas - A principal queixa dos portadores de doenças que comprometem o sistema osteomuscular é a dor articular (artralgia). - Pode ser isolada ou acompanhada de elementos inflamatórios como dor, calor, rubor e edema (artrite). - É fundamental tentar discriminar, durante a história clínica, se a dor é decorrente de uma doença sistêmica ou de um comprometimento puramente local. Características da dor - Localização; - Modo de início; - Duração; - Ritmo; - Irradiação; - Intensidade; - Presença de rigidez matinal; - Fatores de melhora e piora. Dor óssea A exata localízação é importante para o diagnóstico. Dor óssea Dor na epífise – mais comum nas doenças inflamatórias e degenerativas (artrites infecciosas, artrite reumatoide, artroses avançadas). Dor na metáfise – neoplasias, artrites infecciosas e traumáticas. Dor na diáfise – fraturas, posturais e alterações mecânicas. Localização em um segmento (osteomielite) ou em múltiplos segmentos (metástases, doenças metabólicas, neoplasias do tipo mieloma múltiplo). Dor óssea Caráter da dor: “profunda”, “surda” e “intensa”. Grande intensidade: processos traumáticos e infecciosos; Moderada intensidade: doenças metabólicas, neoplasias benignas e alterações posturais. Em geral, é contínua, sem irradiação, podendo ser intensificada pela palpação do local. Dor óssea A dor óssea das fraturas aumenta com os movimentos, ao contrário da dor dos processos inflamatórios da coluna vertebral (espondilite anquilosante), que se atenua quando o paciente se movimenta. As dores das doenças degenerativas pioram no início dos movimentos e melhoram com o decorrer deles, voltando a piorar com o exercício prolongado. Dor articular Distribuição articular - Monoarticular: gota aguda, bursite aguda, osteoartrose; - Oligoarticular: osteoartrose, algumas formas de artrite crônica da infância; - Poliarticular: artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, febre reumática. Modo de início - Insidioso: maioria das artrites reumatoides, osteoartroses e LES; - Agudo ou subagudo: gota, bursite aguda, febre reumática, artrite séptica. Dor articular Envolvimento articular As doenças reumáticas possuem padrões preferenciais de envolvimento articular, apesar de nada haver de específico. Artrite reumatoide: punhos, metacarpofalangeanas, interfalangeanas proximais das mãos, joelhos e tornozelos; Gota: primeiras metatarsofalangeanas, podendo ter evolução ascendente para tornozelos e joelhos; Espondiloartropatias soronegativas e condrocalcinose: joelhos, no início da doença. Dor articular Duração - Contínua: gota, febre reumática, bursite aguda; - Intermitente: artrite reumatoide, LES, osteoartrose, espondilite anquilosante. Intensidade - Leve: osteoartrose, artrite reumatoide compensada; - Moderada: artrite reumatoide, LES, osteoartrose; - Intensa: LES, gota e bursite aguda. Dor articular Ritmo Patologias inflamatórias (espondilite anquilosante, artrite reumatoide): pioram pela manhã e à noite; Patologias degenerativas ou mecânicas (osteoartrose): pioram à tarde, com o uso da articulação. Irradiação Frequentemente, a dor da coluna vertebral lombar irradia-se para os membros inferiores e da coluna cervical para os membros superiores. Sinais e Sintomas - Deformidades; - Rigidez pós-repouso (matinal): aparece em geral em enfermidades inflamatórias. Resulta do acúmulo de substâncias produzidas pelo processo inflamatório nos locais acometidos. A duração é proporcional à intensidade da doença; - Crepitação articular: sensação vibratória produzida pelo atritar de superfícies irregulares, o que significa que a superfície articular, antes lisa e deslizante, tornou-se áspera pelo desgaste. Sinal de comprometimento da cartilagem (degeneração) – artroses e artropatias neurogênicas; - Crepitação óssea: sinal de fratura. Sinais e Sintomas - Estalos: decorrentes do deslizamento de tendões e ligamentos sobre superfícies ósseas ou da separação brusca das superfícies articulares, não tendo significado patológico; - Manifestações sistêmicas: febre, astenia, anorexia e perda de peso. - Frequentes nas doenças difusas do tecido conjuntivo e nos processos neoplásicos. Sinais e Sintomas Envolvimento de outros sistemas: - Cefaleia e dolorimento na área temporal – arterite temporal; - Conjuntivite recidivante, episclerite e uveíte – artrite reumatoide, espondilite anquilosante; - Secura oral e/ou ocular – síndrome de Sjogren; - Disfagia – esclerose sistêmica progressiva e dermatopolimiosite. Sinais e Sintomas Envolvimento de outros sistemas: - Colite – enteroartropatias; - Uretrite – artrite gonocócica e síndrome de Reiter; - Lesões orais ou vaginais, tipo aftosas – síndrome de Behcet, LES. Exame Físico - Determinação do peso e altura; - Posições de pé, sentado e deitado; - Inspeção; - Palpação; - Movimentação; - Músculos: mensuração e avaliação da força muscular. Inspeção - Boa iluminação; - Comparar articulações homólogas; - Pesquisar aumento de volume, rubor, atrofia, desalinhamento articular, deformidades, fístulas e nódulos. - Verificar a postura e a marcha Palpação - Possibilita determinar a causa do aumento do volume; - Detecta pontos hipersensíveis; - Detecta a presença de tumorações (nódulos, ossificações, neoplasias); - Detecta o aumento da temperatura local (dorso da mão); - Permite caracterizar as crepitações. Movimentação - Possibilita a verificação de dor, crepitação articular e do grau de impotência funcional. - A movimentação da articulação deve ser feita com máxima delicadeza; - É necessário pesquisar os movimentos ativo e passivo, comparando articulações homólogas. Caso Clínico 1 O Sr. HDF, 58 anos, sexo masculino, negro, caminhoneiro, procurou o ambulatório do Pronto Socorro queixando-se de forte dor no hálux direito. O paciente chegou ao ambulatório calçando umchinelo no pé direito porque não conseguia colocar o sapato. O paciente relata que o problema se iniciou há três dias. No primeiro dia tomou Tylenol que não fez nenhum efeito. Passou então a tomar um comprimido de Melhoral de 6 em 6 horas. A dor aliviou um pouco, mas notou que o pé também estava ficando inchado e quente. Continuou tomando Melhoral 3x/dia.Procurou atendimento porque acordara de madrugada com muita dor e que até o toque das cobertas o incomodava demais. Sentia muita dor no dedo e o pé estava muito inchado, vermelho, o que o impedia de calçar o sapato. O paciente relata também que sente dores nas articulações desde os 40 anos de idade e que nunca procurou atendimento achando que deveria ser um reumatismo e que se tratava tomando Aspirina, Melhoral, chás que alguém recomendava, mas que desta vez a coisa ficou feia. O paciente relata que bebe “socialmente (gosta de cerveja). Tem um histórico de hipertensão e que toma um diurético (clorotiazida) e um anti-hipertensivo (Enalapril). Ao exame físico o paciente apresentava temperatura axilar de 37º C; frequência cardíaca de 98 bpm e pressão arterial de 155 x 100 mmHg; altura 1,70m; peso 89kg. Além do edema observado no hálux direito o paciente também apresentava discreto edema nas demais articulações metatarsofalengeanas e nas articulações dos dedos da mão. Dados laboratoriais: Hemograma normal; Cálcio 9,2mg/dl; Fosfato 4,3 mg/dL; Prova de função hepática e renal normais; Urinálise normal; Fator reumatóide normal; Ácido úrico 10,4mg/dL Caso Clínico 2 Masculino, 38 anos, branco, executivo, refere dor nas costas há seis meses, sem irradiação; nota melhora à noite e com repouso. É sedentário e tem obesidade progressiva. Relaciona o sintoma com má postura (fica várias horas no computador). Há dois dias, após esforço arrumando móveis, iniciou com dor na nádega direita, com irradiação para face posterior da coxa, panturrilha e região plantar homolaterais. O exame físico revela dificuldade à marcha (impossibilidade de caminhar na ponta dos dedos a direita), hipoestesia plantar, reflexo aquileu abolido e Lasègue positivo à direita. Caso Clínico 3 Mulher, 63 anos vem à consulta com dor articular em mãos com início há 06 meses. Os sintomas são piores pela manhã e tem rigidez matinal de 10 minutos. Sem outros sintomas. Ao exame tem 1.60 m, 72 kg, pequenos nódulos dolorosos à palpação em algumas interfalangeanas proximais e distais. Discreta crepitação em joelhos, maior à esquerda, onde apresenta pequeno varismo. Caso Clínico 4 Mulher, branca, com 65 anos de idade consulta em serviço de emergência devido a uma dor aguda e intensa no 1/3 médio da região dorsal que surgiu após ajudar a erguer um botijão de gás. Deambula com muita dificuldade e referiu piora importante da dor durante o ato de deitar-se para ser examinada. Exame físico: fácies de dor, taquipneica com respiração superficial, afebril, normotensa, FC 96 bpm, baixa estatura e magra. Ausculta cardíaca e pulmonar normais. Articulações periféricas sem alterações. Coluna dorsal com cifose importante. Dor intensa à palpação de T7 e musculatura paravertebral satélite. A paciente não permitiu que sua coluna fosse mobilizada. Radiografia em perfil da coluna dorsal mostra fratura com colapso de T7 e diminuição do eixo longitudinal anterior de T5 a T9, causando importante cifose. Radiografia na posição antero-posterior mostra pedículos vertebrais íntegros. Caso Clínico 5 I. S. B., 14 anos, sexo feminino, natural do gama, residente em Valparaíso-GO. Acompanhante: mãe. Data de internação: 05/06/2012 Data da alta: 11/07/2012 QUEIXA PRINCIPAL “febre + dores nas juntas + adenites há 14 dias” HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL • Mãe refere que adolescente há 14 dias iniciou quadro de linfonodomegalias dolorosas não associada à eritema e calor local em regiões cervical anterior, bilateralmente, região axilar direita e em regiões inguinais associado à picos febris de 38ºc – 39ºc que ocorriam pela manhã e à tarde. Associado ao quadro refere dor nas articulações dos joelhos e cotovelos sem sinais inflamatórios e dorsalgia de moderada intensidade que prejudicavam a movimentação. Relata ainda aparecimento de manchas eritematosas, com bordas elevadas e região central esbraquiçada, indolores e não pruriginosas difusas pelo corpo, porém, predominando em tronco, face e MMSS, medindo inicialmente 1x1cm e evoluíam para cerca 2x2cm. Há 10 dias refere que associou-se ao quadro disfagia devido a compressão da área de linfonodomegalia em região cervical. Brasília, 18 de julho de 2012 Brasília, 18 de julho de 2012 Brasília, 18 de julho de 2012 HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL • Procurou serviço do HRAS há cerca de 5 dias e não foi atendida devido a idade (sic). Buscou então atendimento no posto de saúde próximo a sua casa e lhe foi prescrito amoxicilina por via oral. Fez uso desta medicação por 5 dias, porém sem apresentar melhora do quadro interrompeu seu uso. Há 1 dia, retorna ao HMIB com mesmo quadro: febre, artralgia, manchas na pele, adenites e disfagia. REVISÃO DE SISTEMAS • Refere alimentação pouco diminuída devido a desconforto para deglutição. • Refere eliminações fisiológicas normais. • Sem mais queixas ANTECEDENTES PESSOAIS • Nascida de parto normal, a termo (não se lembra de peso ou comprimento e não trouxe cartão da criança) • Nega intercorrências na gestação e no parto. • Vacinação em dia segundo relato da mãe (não apresentou cartão de vacina) • Apresentou menarca no dia 27.05.2012. ANTECEDENTES PATOLÓGICOS Refere cerca de 5 internações prévias. Em 2010 esteve internada em investigação para Síndrome de Evans, na ocasião apresentou púrpura trombocitopênica idiopática associada à anemia hemolítica. Recebeu terapêutica com corticoterapia. Em 2011 refere internação por quadro semelhante ao atual (febre, adenite, manchas na pele e artralgias) melhorando após uso de antibioticoterapia. Nega trauma, alergias, cirurgias prévias e uso de medicações. ANTECEDENTES FAMILIARES • Pai saudável. • Família do pai com histórico de câncer (de mama e útero em tias) e também de diabetes mellitus. • Mãe saudável. • Irmãos: quatro irmãs por parte de pai saudáveis (27 anos, 21 anos, 18 anos e 11 anos) e três irmãs por parte de mãe saudáveis (16 anos, duas gêmeas de 11 • Anos). HÁBITOS DE VIDA • Reside em casa de alvenaria, sem mofo e sem forro no teto, com saneamento básico completo. Possui animal doméstico (gato) em casa. • Alimentação: equilibrada. • Frequenta escola com bom rendimento escolar. Está cursando o 9ºano. EXAME FÍSICO ECTOSCOPIA: Paciente em bom estado geral, corada, nutrida, hidratada, anictérica, ativa, reativa, acianótica, eupneica, febril(Temperatura axilar: 38,8ºC) ASPECTOS ANTROPOMÉTRICOS: - peso: 43.3kg - estatura: 164,3cm OROFARINGE: sem hiperemia com ausência de placas purulentas. ApResp.: murmúrio vesicular fisiológico presente bilateralmente sem ruídos adventícios. FR=15irpm ACV: ritmo cardíaco regular em 2 tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros. FC= 99bpm. Abdome: plano, flácido, indolor, sem visceromegalias, sem sinais de irritação peritoneal. PELE: presença de lesões palpáveis de cerca de 2x2cm, eritematosas, com região central empalidecida, não dolorosas ou pririginosas, localizadas em tronco, face, MMSS e poucas em MMII. Não desaparecem a digitopressão. EXTREMIDADES: bem perfundidas (tempo de enchimento capilar menor que 2 segundos) e sem edema. NEUROLÓGICO: ausênciade sinais meningeos. EVOLUÇÃO • Na admissão foi firmada a hipótese diagnóstica de adenite e iniciado ampicilina com sulbactam que usou por 12 dias e, posteriormente, foi substituída por amoxicilina + clavulanato por mais 7 dias totalizando 19 dias de antibioticoterapia. Entretanto, durante internação, adolescente evoluía com persistência do quadro, sem melhora clínica com a terapêutica instituída. Passou a apresentar variação do aspecto das lesões de pele, que se tornaram mais hiperemiadas, algumas adquiriram aspecto violáceo, com piora das lesões na vigência de febre. Apresentava ainda oscilação de tamanho das linfonodomegalias relatadas e presença de fenômeno de Raynaud. EVOLUÇÃO No 25º dia de internação, a menor apresentou uma crise de ansiedade e evoluiu com alteração notória do seu humor basal, tornando-se introspectiva, pouco comunicativa e passou a se negar a comer e ingerir os medicamentos propostos, sem nenhuma explicação. No 28º dia apresentou um episódio convulsivo. Realizado TC de crânio após o quadro, cujo laudo não mostrou anormalidades. Evoluiu ainda com surgimento de úlceras aftóides orais, eritema malar e perda ponderal progressiva de cerca de 4 kg no período. EVOLUÇÃO • Apresentou melhora do quadro neurológico após terapêutica instituída (metilprednisolona). • Entretanto, paciente seguiu com padrão de piora da artralgia que passou a acometer também as articulações interfalangianas distais e proximais, metacarpofalangianas, punhos, cotovelos, ombros, quadril, tornozelos e dedos dós pés. • Foi transferida para serviço de reumatologia pediátrica do HBDF para dar seguimento ao tratamento com pulsoterapia.
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