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Caio Fabio - Brincadeira de Gente Grande

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Prévia do material em texto

Brincadeira 
 
de 
 
Gente Grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos que ainda podem desaprender o mau humor 
e abraçar com alegria as brincadeiras de gente 
grande. 
 
 
 Fábrica de Esperança 
 Rio de Janeiro 
 Outono de 1998 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
 
 
Capítulo 1 
A Doença da Insatisfação................................................................................5 
 
Capítulo 2 
Fuja das Formas, Siga Princípios....................................................................15 
 
Capítulo 3 
A Crise Pode Tornar-nos Mais Profundos......................................................24 
 
Capítulo 4 
Faça a Escolha Certa........................................................................................35 
 
Perguntas dos Meninos e das Meninas............................................................43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
 
 
 Você tem parado para brincar? 
 Muita gente cresce e se esquece de que a brincadeira é parte da vida. A brincadeira traz 
alegria, prazer, despe-nos de posturas produzidas e manipuladas e nos introduz um mundo de 
liberdade que pertence às crianças. 
 Neste livro, fruto da transcrição das palestras proferidas pelo Rev. Caio Fábio no V 
Congresso VINDE para Famílias, você vai ser desafiado a liberar a criança que está 
aprisionada no cárcere da sua maturidade e experimentar, quem sabe?, uma nova dimensão da 
vida. 
 Antes de começar a leitura deste livro, peça a Deus que derrame sobre você seu Espírito 
com graça, unção, luz e sabedoria. Que através desta leitura você possa encontrar-se com Ele e 
consigo mesmo, e assim também encontrar soluções, portas abertas para você como indivíduo; 
para você com o seu cônjuge, como casal; e para você com os seus mais próximos, com a 
família. 
 A brincadeira já começou! 
 Não fique de fora! 
 Venha brincar! 
 E o melhor é que neste jogo todos ganham! 
 Boa leitura! 
 
 Alda D’Araújo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
 
A Doença da Insatisfação 
 
 
 
 “Mas a quem hei de comparar esta geração? É 
 semelhante a meninos que, sentados nas praças, 
 gritam aos companheiros: 
 Nós vos tocamos flauta e não dançastes; 
 entoamos lamentações e não pranteastes. 
 Pois veio João, que não comia nem bebia, 
 e dizem: Tem demônio. 
 Veio o Filho do homem que come e bebe, e dizem: Eis aí 
 um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pescadores! 
 Mas a sabedoria é justificada por suas obras.” 
 
 Mateus 11:16-19 
 
 
 Este texto fala da doença da insatisfação. Apresenta-nos a pessoas incapazes de serem 
atendidas nos seus reclamos e necessidades interiores; é gente viciada num mau humor 
crônico, seres humanos que nos dias quentes desejam o frio e nos dias frios anelam pelo calor. 
São aqueles que na praia se queixam do mormaço desejando o clima fresco das montanhas, e 
nas montanhas reclamam da sensação de vertigem impressionável que experimentam. 
 Diante da extroversão, pessoas assim reclamam de que gostariam de que o extrovertido 
fosse mais discreto, e na introversão, que é impossível lidar com uma timidez tão grande. São 
criaturas para quem não há nada completo, nada satisfatório; são pessoas que fantasiam tanto 
alguns cenários que não conseguem apreciar a realidade à sua volta. 
 Tomemos como exemplo uma viagem: este tipo de gente planeja uma viagem, como vai 
ser, o que vai acontecer, mas se elas chegarem lá e os planos não forem como haviam 
fantasiado, mesmo que sejam melhores do que haviam planejado, ainda assim vão ficar 
insatisfeitas porque preferem a realização, embora menor, das suas fantasias, ao melhor fora 
delas. São assim as pessoas com as quais nos casamos! 
 Eu sei que durante esta leitura muitas mulheres estão pensando em seus maridos e muitos 
maridos visualizando suas esposas. São palavras capazes de agitar pessoas, pois são palavras 
que falam do dia-a-dia de um relacionamento. A fantasia é capaz de cegar as pessoas a ponto 
de não permitir que percebam a intenção, o gesto de carinho, a oportunidade, o momento 
precioso, a alegria, que o outro nos está proporcionando. 
 É como o exemplo da viagem: estou triste, chateada, esta viagem não foi o que eu planejei; 
é melhor, mas eu queria que fosse de acordo com meus sonhos, com meus planos. 
 Sonhar com um apartamento de 2 quartos perto da praia pode fazer-nos rejeitar, sem ver, 
uma mansão nas montanhas. 
 Esse pessoal do qual Jesus está falando no texto, sofre desta enfermidade, desta doença. 
São os líderes religiosos de Israel, que não tinham como se sentir agradados por nenhuma das 
revelações de Deus para eles. 
 Deus enviou João Batista, um tipo ermitão que se vestia com simplicidade, coberto de 
peles de camelo e de cabra; comia uma dieta frugal de gafanhotos e mel silvestre; não aparecia 
em praça pública nem em festas; vivia recluso no deserto e era ouvido pelo eco da sua voz que 
invadia a urbanidade, de onde as pessoas, atraídas e seduzidas pelo seu clamor profético, iam 
ao deserto para ouvi-lo. Mas, mesmo João, não conseguia agradar aos líderes religiosos de 
Israel, pois eles o contemplavam dizendo: este é um possesso, um esquizofrênico, tá cheio de 
demônios, um maluco, não vêem como ele se altera quando fala?! 
 Aí Deus resolveu dar a eles um outro prato, não era um prato de hortaliças sem sabor e 
tempero; ao contrário, Ele serve o prato mais fascinante que havia, a oferta mais deliciosa, o 
quadro mais bonito, a jóia mais preciosa; Ele invade a história dessas pessoas com a maior 
sedução religiosa que poderia haver. 
 Ele envia Jesus de Nazaré. E Jesus é o oposto. Seis meses mais novo que seu primo João 
Batista, mas totalmente diferente. Ele veste uma roupa que poderíamos chamar de griffe, tanto 
que na sua morte os guardas romanos disputaram para ver quem ficava com ela, era uma 
túnica especial que não tinha nenhuma costura. Gosta de festas, vai a banquetes, come de tudo 
que lhe servem e recomenda aos seus discípulos que façam o mesmo: 
 
 “Quando entrardes numa cidade e ali receberem, 
 comei do que vos for oferecido.” Lucas 10:7 
 
 Bebo vinho, e, mais do que isto: transforma água em vinho; não era suco de uva, era vinho 
mesmo e dos bons. 
 Não exige “vestibular espiritual” para as pessoas se aproximarem dele, qualquer ser 
humano pode ser incluído. Vai ao deserto apenas para orar, mas gosta mesmo é de estar nas 
ruas, nas esquinas, nas praças. É completamente diferente do anterior, do ermitão, do isolado, 
monástico, afastado primo. É urbano, presente, alegre, feliz, inclusivo, fascinante. 
 Mas chegam os líderes de Israel e dizem: “A gente não gostou deste também. Olhe só! Um 
comedor, amigo de publicanos e pecadores, bebedor de vinho, entregue à boêmia espiritual. 
Não queremos nada com Ele também.” 
 E diante disto Jesus diz: 
 
 “A quem compararei esta geração? É semelhante a 
 meninos sentados nas praças que gritam aos seus 
 companheiros. Nós vos tocamos e não dançastes...” 
 Mateus 11:16,17 
 
 
 O que Jesus está dizendo é: “Nem Deus sabe o que fazer com vocês. Gente do tipo devocês nem Deus consegue fazer feliz. Deus fica perplexo olhando gente assim e pensa: de João 
Batista a Jesus, Eu dei tudo e eles não gostaram de nada.” 
 Talvez sua pergunta agora seja: O que isto tem a ver com o casamento? O que tem a ver 
comigo? Com minha realidade? Com meu dia-a-dia? Este fenômeno que Jesus detectou na 
vida dos religiosos de Israel se repete na existência de muitos de nós. É como uma doença, 
uma incapacidade essencial de apreciar dádivas. É uma incapacidade de descobrir valores, 
uma limitação que não nos permite manter a mente aberta para coisas novas, de viajar 
tolerantemente de um extremo a outro da vida saboreando as ofertas que ela nos oferece. 
 E esta é uma doença que atinge não apenas líderes religiosos mas todos os seres humanos, 
e assim como ela se manifestou tão forte na experiência de Jesus, se manifesta agudamente em 
qualquer outra experiência da vida, especialmente na família e no casamento. 
 O que me deixa impressionado em relação a este fenômeno é a percepção de alguns 
elementos que são justamente aqueles que têm intensa conecção com a experiência familiar e 
conjugal. Se não, observem: 
 A primeira construção é a dos meninos nas praças. Jesus está descrevendo um episódio do 
cotidiano, uma situação rotineira, que tinha a ver com o fato de que os meninos se 
organizavam em grupos e iam brincar nas praças, no descampado, na aldeia, na vila, como 
fazem as crianças de todo o mundo, na urbanidade, nos playground dos prédios... Crianças 
brincam. Jesus as observava brincando e via que um determinado grupo não aderia à 
brincadeira. Alguém grita: “Vamos brincar de dançar? Vou tocar flauta e vocês dançam, hein? 
“Ele então toca sua flauta mas ninguém dança. Aí, um dos que não dançam pensa: “Vai ver 
que o negócio aqui hoje não está para dança mas para lamentações e choro, e propõe: Vamos 
brincar de enterro?, mas ninguém quer chorar também. 
 Jesus, vendo isto, diz aos religiosos: “Vocês sofrem de infantilismo emocional básico, 
vocês são como crianças nas praças, emburradas, tomadas por um mau humor crônico, 
incapazes de aproveitar a luz do dia.” 
 O que esta imagem dos meninos tem a ver com a relação conjugal? Eu lhes digo: no 
casamento como em qualquer outro lugar, somos profundamente meninos, porque a idade do 
casamento não é medida pela idade dos casados nem pela idade da relação. Frequentemente, 
eu vejo homens que estão quase entrando na terceira idade casando-se com mulheres mais 
jovens, porém, ambos, já na segunda ou terceira experiência conjugal. E, às vezes, os 
problemas que eles trazem são extremamente semelhantes aos problemas de meninos de 18 e 
19 anos. 
 É a mesma ciumeira, a mesma desconfiança, a mesma necessidade de afirmação. Digo, 
portanto, que não tem nada a ver com a idade, nem com o tempo de relação, porque a gente vê 
pessoas se deixando aos 25,28,30 anos de casados, e o inventário da problemática não tem 
nada a ver com as grandes e esmagadoras situações relacionadas à traição, violência e coisas 
do tipo. 
 É, sim, um amontoados de ninharias e caprichos que envenenaram o relacionamento. É um 
monte de gente cansada de dizer: “Eu toco flauta e ele não dança, eu choro e ela não pranteia 
comigo.” 
 
 
 
 
 A segunda imagem que Jesus usa é a da brincadeira. São os meninos brincando na praça. É 
o jogo. O casamento é um jogo e quem não sabe jogar não deve casar-se. 
 Às vezes fico vendo pessoas jogarem. Por acaso eu não gosto muito de jogos 
convencionais como cartas, war, banco imobiliário, dominó, damas, etc, não tenho paciência 
mas às vezes eu gosto de ficar de longe vendo a moçada jogar, e é interessante observar as 
atitudes daqueles que jogam. Uns jogam apenas para passar o tempo, outros com grande 
dedicação, outros com o propósito de se afirmarem sobre os companheiros etc. 
 Eu tenho um filho, por exemplo, que tinha grande dificuldade em perder um jogo. Ele 
ficava absolutamente desolado com esta possibilidade. A impressão é a de que ele era o 
Charlton Heston naquele filme O Planeta dos Macacos, quando a última mulher morreu, 
acabou a espécie humana, dando a sensação de um encurralamento cósmico. A humanidade 
está destruída depois deste ato de derrota. “Calma amigo, costumava dizer, você tem que 
aprender a jogar.” 
 A mesma coisa digo a você: se você não aprende a jogar, não se case, pois casamento é 
jogo, é jogo de alternâncias, de combinações, jogo de diferenças... Há hora da festa e hora do 
enterro, hora do samba e hora do fado, e você tem que jogar o jogo do parceiro. 
 Literalmente falando, você tem que entrar na do outro para manter o ciclo. Gente 
engessada, inflexível, intolerante não pode participar deste jogo, porque, sobretudo, tem que 
haver um respeito enorme pela hora do outro, pelo dia do outro, pelo humor do outro, pela 
vontade, desejo, oportunidade, que apareceu para o outro, e você deve ter a sensibilidade de 
deixá-lo passar. 
 E, por sua vez, o outro também deve perceber que você lhe deu passagem e que agora 
chegou a vez de ele abrir a porta para você. Sem este espírito não há casamento. Assim, é que 
Jesus nos ajuda a ver por que muitas vezes o casamento não dá certo. 
 
 
 
 Deve ser uma maravilha viver uma relação onde na hora de dançar o outro quer chorar e na 
hora de chorar o outro quer dançar. É uma coisa extraordinária esta dessincronia, faz um bem 
enorme à alma... 
 O que você acha desta dessolidariedade radical? Hoje ela amanheceu o dia tão contente que 
eu vou passar o dia inteirinho lendo lamentações de Jeremias para ela. Hoje ele amanheceu 
muito amargurado, então eu vou passar o dia todo lendo o Salmo 24:7 para ele. “...levantai-
vos, ó portais eternos”... 
 
 
POR QUE CASAMENTOS NÃO DÃO CERTO? 
 
 Porque na maioria das vezes os meninos se tornam sérios demais. Notem que esses 
meninos que Jesus descreve aqui estão sentados nas praças. Isto é pose de menino? Sentado na 
praça? Menino tem que estar correndo, pulando, brincando. Mas esses aqui estão sentados nas 
praças. Circunspectamente. Como o estereótipo que alguns crentes desejam que filhos de 
pastor tenham: engomados, paralisados, alienados, embonecados... a turma toda brincando, 
sujando-se na lama, e eles sentados nas praças. 
 Não há nada mais ridículo do que isto: o casamento acontecendo e o cara sentado na praça, 
a mulher sentada na praça. Em vez de estarem-se beijando, se cheirando, se lambuzando, eles 
estão sentados nas praças. A lua-de-mel é enxuta em vez de ser uma lua-de-mel melada, 
porque ele esta sentado. Fazem uma viagem maravilhosa e ela está ali com aquela vontade de 
amar como se fosse a última vez, e o cara diz: “Amada, vamos buscar o Senhor agora.” No 
íntimo, ela responde: “Agora não, agora me busque, por favor. Todo aquele que busca 
encontra. Vem aqui, pede e dar-se-vos-á. Pede para mim, que eu sou toda resposta.” Mas ele 
não ouve este clamor porque está sentado na praça. Esses meninos vão ficando muito sérios, e 
a vida, o casamento precisam de uma certa gaiatice, uma certa leveza, uma santa molecagem. 
Há horas em que as coisas ficam tão sérias que até Deus diz: “Fala uma besteira para ajudar.” 
Relaxe!!! Há gente que fica casada a vida inteira sentada na praça; não conseguiram discernir 
10% da profundidade da brincadeira. 
 Há gente que gosta de comprar cadeira numerada, sentar e assistir o jogo. Talvez você seja 
assim, mas, se lhe dessem uma oportunidade de jogar, você não quereria jogar? Você não 
gostaria de ser Ronaldinho por alguns segundos? Não iria gostar de chutar e ver a bola entrar e 
ouvir aquele esturro: 
 “ GOOOOOOOOOOL!!!!!!!!!!!!” 
 Não fique sentado na praça, entre que o jogo é seu. 
 Às vezes me dá pena ver uma mulher casada com um homem maravilhoso, mas ela não 
enxerga istoporque está sentada na praça. A vizinha vê o marido dela passar e pensa: “Como é 
que esta mulher pode ficar sentada na praça com um homem deste em casa?” Às vezes ele 
quer fazer uma surpresa, algo diferente, mas ela não aceita nada que não seja planejado 
cuidadosamente. Ele gosta do que é belo, gosta de esportes, de sair, de se divertir, mas ela está 
ligada na novela das oito. E assim vice-versa. 
 Eu às vezes vejo umas mulheres lindas, maravilhosas, cheias de energia, tão infelizes. 
Como é que pode esse cara deixar a bichinha assim? Aí você vai saber o que é: ele está 
sentado na praça. 
 A segunda razão pela qual nem Deus consegue ajudar certas pessoas, segundo Jesus, é 
porque para elas o jogo da vida se torna uma batalha campal. A relação se torna uma disputa e 
não um prazer, uma medição de forças. Quantas vezes eu dei, quantas vezes ela entregou, é a 
contabilidade conjugal! 
 
 
 
 
 Estamos falando de beijo, de ternura, de romantismo, de afeto, não é o beijo da mulher-
aranha, mortal, e não de trunfos de batalhas. Tenho visto muitos casamentos acabarem assim. 
Às vezes a mulher chega e se justifica: Estou terminando com ele porque a gente vem 
reduzindo... no início era todo dia, depois duas vezes por semana, após os filhos, 10 anos de 
casados, uma vez por mês, e agora, eventualmente, não há mais clima, não há 
espontaneidade... 
 Então, pergunto: Há quanto tempo isto está acontecendo? 
 “Há 17 anos, e tenho tudo mapeado.” Responde ela com certo orgulho. 
 E assim eles separam-se contando como as relações sexuais foram parando, como a relação 
conjugal foi-se esfriando, em vez de dizerem: VAMOS BRINCAR! NÃO! A brincadeira virou 
guerra. Não me digam que não é assim, pois eu vejo todo dia isto acontecendo, vejo como os 
instrumentos da brincadeira se transformam nas armas da guerra. 
 Talvez o casamento seja o único lugar onde as coisas têm o maior poder de nos fazerem 
felizes. Quando elas perdem o lúdico, a poesia, a brincadeira, o jogo, a molecagem, estas 
mesmas coisas se transformam nas armas que nos matam. 
 Jesus diz outra coisa impressionante. Estes meninos estavam sentados, gritando. Imaginem 
a cena: um monte de meninos sentados gritando. 
 - Não jogo! Não vou dançar, pára com esta flauta, que eu não aguento mais! 
 - Não choro! Não quero! 
 Eles estão gritando... 
 Tanta gente gritando em vez de estar gemendo o gemido da alegria; tanta gente cultivando 
hostilidade em vez de estar usando essa energia na brincadeira que faz a alma feliz. Tanta 
gente gritando, discutindo, reclamando... 
 A terceira razão pela qual as pessoas se viciam numa maneira de viver que as tornam mal-
humoradas para com a vida, Jesus diz: “Os meninos viviam na negatividade.” 
 A gente pode ser negativo até quando fala de coisas positivas, e positivo até quando fala de 
coisas negativas. 
 Eu dou o maior valor à gente que tem uma atitude positiva mesmo quando fala em lutas, 
aflições, dores, e fico apavorado quando vejo pessoas que falam negativamente até mesmo 
quando têm uma história de vitória para contar. 
 Jesus está falando, aqui, que esses grupos estão viciados na negatividade. Ouvem falar de 
flauta mas respondem com amargura ao som tão belo e poético da música. Para eles a vida é 
toda negativa. Não choram com solidariedade e não se juntam à alegria. 
 É necessário fazermos as conexões desta realidade na nossa vida. O que estou falando diz 
respeito aos grandes vícios que nascem dentro da gente e que destroem qualquer possibilidade 
de abundância interior. Quando isto acontece, não há nada que satisfaça tais pessoas e 
humanamente falando não há nada que possa salvá-las da amargura e do envenenamento da 
alma porque, habitualmente, elas classificam a tristeza como demoníaca e a alegria como 
leviandade. 
 A esposa está triste e ele amarra e manda sair, como se a tristeza fosse um demônio. É mais 
fácil do que dizer: “Meu amor, fala o que está incomodando.” É mais fácil do que ouvir aquela 
história longa, que às vezes passa por dentro dele, coisas que ele devia ter feito e não fez, 
sentido e não sentiu, visto e não viu, ouvido e não perceber, falado e esqueceu. É mais fácil 
dizer: “Tá amarrado!” Não tem nada mais demoníaco do que não dar às pessoas o direito de ter 
uma tristeza humana. Mas hoje em dia isto está na moda. Ninguém quer mais dar a si mesmo a 
chance de ouvir, a dor do outro e ninguém quer mais dar ao outro a chance de falar de sua 
própria dor. 
 Eu acho que há horas em que se precisa do “tá amarrado”. Acredito em certas tristezas 
crônicas que são obra do diabo, tanto quanto acredito em certas tristezas que são frutos de 
desequilíbrios hormonais, tanto quanto acredito que haja certas tristezas que se vão instalando 
porque problemas são mantidos cronicamente sem tratamento no coração. Mas quando a 
tristeza não é sinal de dor mas apenas alguma coisa que a gente superficialmente associa ao 
diabo, para esse tipo de gente, neste tipo de relação, Deus diz: “Meu filho nem eu estou 
podendo te ajudar. Porque você está viciado numa espiritualidade doentia.” 
 Quando a alegria é vista como leviandade, torna-se o outro oposto dessa mesma 
espiritualidade. Se o marido é alegre, mostra extroversão, prazer, apetite; se aprecia cores, 
cheiros, consegue manter relacionamentos abertos, é tolerante, livre, ela o considera mundano. 
Essa espiritualidade observadora é a mesma que aquela que julgou Jesus: “Este é um glutão, 
bebedor de vinho, amigo de quem ele não deveria ser.” 
 Chame agora estes conceitos para dentro do seu casamento. Assuma agora aqui uma 
posição autocrítica, e veja se em muitas situações a relação pendular não é esta em que você 
contrapõe um extremo ao outro, repudiando tudo que está pelo meio, tornando-se incapaz de 
chorar com os que choram, de se alegrar com os que se alegram, de brincar sabendo que há 
alternâncias no jogo. Se ele se alegra, eu me alegro com ele, se ela está triste, eu me entristeço 
com ela. Tem que haver tempo e hora para que todas as emoções sejam vividas nesta praça da 
vida. A praça é nossa! 
 O que fazer para preservar o jogo da felicidade dos meninos? O que fazer para salvar os 
meninos desta caduquice precoce? O que fazer para que os meninos não fiquem sérios demais, 
para que o jogo não se transforme numa batalha campal, e a negatividade se torne o estilo de 
vida? O que fazer para que eles não chamem a tristeza de demoníaca e a alegria de leviandade? 
O que fazer para construir espaços a fim de que a praça volte a ser praça deles, para que a 
cama deles seja uma praça, o quarto deles seja uma praça, a vida deles seja uma praça? O que 
fazer para que o jogo, a brincadeira, não acabem? 
 Primeiro, Jesus nos ensina que é preciso responder ao jogo com a emoção certa. Eu a cada 
dia me convenço de que no casamento a coisa que mais nos gera desencontro é essa 
incapacidade de ter time, de responder ao jogo com a emoção certa, de perceber a jogada, de 
entender as regras, de ser capaz de discernir que aquela é a hora e dar uma resposta adequada. 
 Constantemente vejo que as coisas que mais amarguram as pessoas é essa incapacidade de 
não ser solidário, e solidariedade é essa capacidade de entrar no ser do outro, na solidão do 
outro, na intimidade do outro, na singularidade do outro. O solidário é alguém que abraça o 
outro na alegria, no desequilíbrio e no equilíbrio. É aquele que chega junto. É aquele que dá a 
resposta certa. 
 Tá tocando flauta? Vamos dançar! Tá chorando? Vamos chorar! Mas não vamos chorar 
para sempre nem dançar para sempre, porque gente que toca flauta e dança o dia toda está 
doente de uma outra doença parecida com a daqueles que choram o dia inteiro e lamentam o 
tempo todo. Qualquer um dos dois extremos é doentio. Eles são sadios quandoalternantes. 
Quando são apenas expressões pendulares de uma vida que vive com muitas outras emoções. 
 Segundo, o que a gente faz para manter a felicidade dos meninos? É preciso manter a 
relação viva da dança ao cemitério. Outro dia estava conversando com uma senhora e ela me 
disse: 
 - Estou numa situação tão difícil, Reverendo. Estou casada há 17 anos e nunca tive um 
único orgasmo na minha vida. Eu nem sei o que é isto: Ouço falar mas nunca experimentei. 
 - Mas como? Perguntei, e ela falou; 
 - Eu casei com um homem que não sabe dançar. 
 - Desculpe, eu não estou entendendo a senhora, ele não sabe dançar? 
 - É ele não sabe dançar dança nenhuma. 
 A conclusão a que eu cheguei com esta conversa é a de que, se alguém não sabe dançar 
dança nenhuma, essa dança do sexo ele não vai saber também. Eu ouvi o que ela falou. A 
princípio, achei meio esquisito, mas depois achei que ela tinha razão. Porque uma boa 
satisfação sexual começa quando a gente aprende a dançar quando é pequeno. Ciranda-
cirandinha, jogo-da-velha... movimentos da poesia do corpo, movimentos lúdicos. 
 Não existem exemplos mais extremos, do que estes aqui narrados no texto, e ao mesmo 
tempo tão poéticos. Tocamos flauta e não dançaram, entoamos lamentações e não 
prantearam... Ambas as pontas são poéticas. Quais os extremos da vida que mais geram 
poesias? A música e o choro. 
 Tive o privilégio de conhecer, e, mais que isto, tornar-me amigo do psicanalista Eduardo 
Mascarenhas. Durante três anos conversamos sobre Cristo, e um dia ele me disse: “Eu não 
tenho religião, não sou religioso, a minha religiosidade daqui para a frente se associa às coisas 
que você prega. Gostaria de que você pastoreasse minha alma até morrer.” 
 E assim aconteceu: em 97, nas vésperas da sua morte, antes dele entrar em coma, mandou 
chamar-me pela última vez. Conversamos e no dia seguinte ele morreu. No seu enterro, no 
extremo da vida, no cemitério cheio de amigos, políticos, artistas, comunidade psicanalítica, 
vendo o corpo do Eduardo ali, eu comecei a falar sentindo uma poesia enorme do Evangelho 
em mim. A sensação era como se houvesse sido destampada uma fonte de poesia na minha 
alma, algo que jorrava de dentro para fora. Eu sinto isto em muitas ocasiões, em casamentos, 
em enterros, quando a flauta toca ou quando o lamento é gemido. 
 O que Jesus está dizendo é que de uma extremidade a outra da vida tudo é poesia. Ele diz 
que é preciso manter a nossa alma viva com poesias jorrando por ela. Você é um ser humano. 
Você tem uma alma. Eu sei que nós vivemos num mundo pragmático, computadorizado, 
internetiado, mas você tem alma. Tem o privilégio da construção poética, da ternura, da 
apreciação estética. 
 Se Deus não fosse assim, não teria inserido a troco de nada na Escritura Sagrada o livro de 
Cantares. Poesia pura! O que é maravilhoso na Bíblia é esse equilíbrio. Quando os salmistas 
escrevem salmos de angústia, escrevem com poesia; quando escrevem prazer físico, como em 
Cantares, é com poesia. Todas as parábolas narradas na língua original de Jesus, o aramaico, 
ganham simetria poética. O que Jesus fazia era um repente poético. Que coisa maravilhosa! É 
preciso manter a alma viva. 
 Por último, para manter nos meninos felizes é preciso preservar os meninos brincando. 
Deixe o menino existir em você. Minha mãe estava para perder os movimentos da perna, uma 
artrose violenta iria forçá-la a tirar a rótula e colocar uma prótese. Diante disto, ela começou a 
orar e pedir a Deus que a curasse, que a livrasse da intervenção cirúrgica, e milagrosamente 
isso aconteceu. Voltou a andar, dirigir o carro e estava feliz da vida. Depois deste episódio, 
estávamos num restaurante e ela ouviu falar que ia haver uma ópera no teatro municipal do 
Rio. Então disse: 
 - Vai ter uma ópera, quando vai ser? E meu filho Ciro lhe disse: 
 - Este final de semana, vó. 
 - Me leva, meu filho? Há, se eu morasse aqui no Rio, eu iria à ópera todo fim de semana. 
 Mas que velhinha assanhada, pensei, ficando orgulhoso dela, da sua vontade de aproveitar 
a vida, de sair, divertir-se, passear, ver coisas novas. Uma vez, perguntei à minha mãe: 
 - Como você está-se sentindo depois de 70 anos? 
 -Meu filho, disse ela, eu levo sustos quando vejo aquela velha no espelho, porque aqui 
dentro eu estou cheia de vontade, de apetite, de sonhos, eu sou uma menina. 
 - Deus te mantenha, mamãe, porque tem um bocado de menino que olha no espelho e leva 
um susto. O que ele queria ver era um velho e viu um gatão. 
 Há gente que tem um velho, uma velha dentro de si. Não é maravilhoso quando a velha 
leva um susto porque dentro dela está uma menina? De alguma forma isto nos mostra que 
nossa espiritualidade é séria demais. Mesmo aqueles que vivem dando pulos, que dançam, que 
brincam, pessoas que a gente pensa que são superleves, repentinamente, numa conversa, 
mostram-se pesados demais. 
 Quando falo de leveza não falo em sair plantando bananeira, mas, sim, de uma 
descomplicação , de uma vontade de brinca. Não de brincar desrespeitosamente, não me refiro 
à inconveniência, mas à vontade de curtir a vida. Há evangélicos que brincam o dia inteiro, e, 
no entanto, são uns chatos, uns inconvenientes. 
 Não é disso que estou falando, não. Estou falando de leveza, de alternância, é a hora dele, é 
a minha hora, vamos dançar, vamos alternar, vamos viver. Temos que manter o menino vivo 
dentro de nós, porque um casamento sem brincadeira acaba. Às vezes eu pergunto a algumas 
pessoas em crise conjugal: 
 - Ele respeita você? 
 - Muito. 
 - Compra presente para você? 
 - Sempre. 
 - Conversa com você? 
 - A gente faz contas, planeja as férias, fala sobre as crianças... 
 - E você está feliz? 
 - Não! Estou muito infeliz. 
 - E vocês brincam? Fazem pouco um do outro, assim na gozação? 
 - Nada! Deus me livre! 
 Diante disto, eu já sei o que acontece: o casamento acabou quando acabou o espaço para 
uma brincadeira. Outro dia uma senhora me falou que a coisa mais horrível que há para ela é ir 
de carro com o esposo para uma cidade do interior para onde eles vão sempre. 
 - Por quê? Perguntei. 
 - Porque é aquele silêncio, só se ouve o zummm do motor. 
 - Mas vocês não têm uma brincadeira, uma gozação, uma fofoca, nada? 
 - Nada, pastor. 
 Numa situação assim não dá nem para ouvir a música. Ele pensa: “Ela não fala, por que eu 
vou falar?” E ela: “Ele não falou nada até agora, por que eu vou falar?” Posso até imaginar a 
cena. O silêncio cortado pelos carros que passam na estrada e um único diálogo: 
 - A gasolina está acabando. - diz ela. 
 - Obrigado. - responde ele. 
 Quantos casais têm feito viagens assim, têm sentado à mesa para fazer as refeições assim, 
têm deitado na cama assim, têm passado pela vida assim. Não há conversa, não há brincadeira, 
não há riso, não há liberdade, não há espaço. 
 Há algum tempo, um casal pediu para falar comigo. Eles são amigos de muitos anos e 
fizeram uma longa viagem de avião para terem esse encontro. Assim que entraram na minha 
sala, vi que a situação era grave: ele chorando, ela chorando. 
 Perguntei: 
 - O que houve? 
 - Ela me traiu. 
 Ela é uma mulher muito bonita e envolveu-se com um rapaz que trabalhava para o marido. 
Ouvi a narrativa da situação e fiz umas perguntas para ele e para ela. No meio dessas 
perguntas, ele deu uma resposta engraçada e eu comentei: 
 “Assim também não há casamento que aguente, fulano.” 
 Ao falar isto, notei que ela sorriu, não era um riso cínico mas o riso de alguém com uma 
tremenda apreciação por ele. Então, propus: 
 - Se vocês querem salvar este casamento vocês têm tudo para fazer isto, porque apesar 
dessa espada atravessada, essa dor que vocês estão sofrendo, a coisa engraçada que você falouaqui gerou um riso nela e foi o melhor riso, o riso de quem acha você um cara interessante, de 
quem o admira, de quem tem prazer em sua companhia. O que eu sei é que um casal que é 
capaz de rir, de apreciar alguma coisa no outro, tem todas as chances do mundo de salvar a sua 
relação. 
 Você pode achar estranho, mas, ao acabar de ler este capítulo, vá para o quarto pensar. 
Quando eu falo que um casamento acaba quando acaba a brincadeira não me refiro 
propriamente ao divórcio. Há milhões de casamentos que nunca vão desembocar em separação 
mas que já acabaram há muito tempo. Eles vão ficar juntos até o fim, vão dividir a herança, 
mas a relação já acabou há tempo. Já estão separados na alma há anos. 
 Enquanto há chance de ser meninos com a capacidade de brinca, em vez de ficarem 
sentados nas praças, brinquem! Não façam batalha campal, mantenham as alternâncias, 
rejeitem a negatividade, cada um aprenda a ficar triste com o triste e alegre com o alegre, 
respondam ao jogo com a emoção certa, mantenham o menino vivo dentro de si e celebrem o 
jogo do amor. 
 
 
PALAVRA PARA OS MENINOS E MENINAS 
 
 Menino, vá atrás de sua menina. Dê um abraço nela, acaricie seus cabelos, beije-a com 
carinho. Menina, abrace seu menino, mostre seu amor, sua apreciação por ele. Se você está só, 
dê um abraço em você mesmo, no menino que está aí dentro de você, que está sozinho dentro 
de sua alma, sentado na praça solitária do seu interior. Chame-o para fora! 
 Se você teve um apelido na infância, chame a você mesmo pelo seu apelido, ou pelo nome 
ou forma mais carinhosa que alguém já o chamou: “Vem cá, Cadinho; o que você tem Lili?; 
sinto saudade de você, Tatá...” Abrace esse menino aí dentro. As pessoas vão ficando tão 
sérias, tão circunspectas, tão cheias de respeito que esquecem da criança dentro de si. 
 Uma coisa maravilhosa no livro de Cantares é este convite à brincadeira. Olhe que 
esposinha maravilhosa, quando diz: 
 
 “Vem, amado meu, saiamos ao campo, passemos as noites nas 
 aldeias. Levantemo-nos cedo de manhã para ir às vinhas: 
 vejamos se florescem as vides, se abre a flor, se já brotam as 
 romeiras; dar-te-ei ali o meu amor.” 
 Cantares 7:11,12 
 
 Em outras palavras: Vamos para o bosque sem medo do lobo-mau. Peçamos a Deus que o 
menino fique livre dentro de nós. Que sejamos as crianças do Reino, alegres, abertas, não os 
meninos mal-humorados da religião, emburrados, tomados pela compenetração da morte, da 
seriedade da tumba. 
 Que Deus possa curar- nos da doença da insatisfação, arrancado de nós a incapacidade de 
ver beleza nas coisas, e colocando dentro em nós a capacidade de responder aos tempos e às 
horas, aprendendo a jogar o jogo da vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
 
Fuja das Formas, Siga Princípios 
 
 
 “Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito não 
 aprendeu ainda como convém saber.” I Coríntios 8:2 
 
 “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos 
 pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual 
 seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” 
 Romanos 12:2 
 
 Aqui estão dois textos da Escritura que podem ter uma utilidade enorme em qualquer 
relacionamento, especialmente os familiares. O primeiro nos fala de que nós, como cristãos, 
somos chamados a não emitir conclusões absolutas jamais. Estranho, não? Porque temos sido 
historicamente o povo que faz o contrário. A gente emite com uma ousadia imensa algumas 
conclusões completamente definitivas, e frequentemente não estamos abertos para nenhuma 
outra consideração. 
 Mas o que Paulo fala em I Coríntios 8:2 é justamente o oposto. Aquele que pensa que 
sabe não sabe ainda como convém saber, ou seja, o indivíduo que acha que sabe não sabe 
nada, porque a primeira regra da verdadeira sabedoria é deixar uma porta aberta, é poder dizer: 
parece-me que é assim mas não sou Deus, o único que sabe tudo é Deus. A gente anda à 
procura da sabedoria, e sabedoria é uma tentativa de saber. Porque o único que sabe é o Todo-
Poderoso. E a coisa mais importante para mim é saber que, por mais que eu saiba, eu não sei 
tudo o que se deve saber. Porque a sabedoria consiste em saber, sabendo que a gente nunca vai 
saber tudo. Esta reflexão ajuda muito a vida em família. Na maioria das vezes a gente briga à 
beça porque os dois sabem tudo. Conclusões finais, fechadas, afirmações do tipo: é porque é, é 
porque tem que ser. Vovó disse que era assim. 
 No outro texto, em Romanos, Paulo faz uma evocação a fugirmos das formas fixas. 
Fujam da doença dos modelos, da tirania das fórmulas. Este mundo tiraniza formas todo dia, 
toda hora, impinge, impõe formatos para nós, constrói prisões douradas e quer aprisionar-nos 
dentro delas. 
 Paulo está dizendo: não aceitem a forma deste mundo, deste século. E, mais do que isto, 
está dizendo: não aceitem forma nenhuma. Parece que nosso problema como cristão é este: eu 
não quero conformar-me com este século, e aí conformo-me com outras formas só porque elas 
são formatadas em nome de Deus ou da Igreja. E é assim que a gente troca a conformação do 
mundo pela conformação da religião, o que é igualmente aprisionante. 
 Paulo diz: “Não vos conformeis com este século mas transformai-vos”, estejam em 
transmutação. A vida da gente é como uma crisálida que está evoluindo, crescendo, 
experimentando dinâmicas interiores, constantes, ininterruptas, é uma metamorfose, um 
apontar para uma forma que está ainda longe da gente, de modo que tudo o que sou hoje não é 
o que serei amanhã, pois eu estou sendo autofabricado, produzido pela graça de Deus, andando 
em direção desta meta. 
 Mas o que tudo isto tem a ver com família e casamento? Para mim tem tudo a ver porque 
a família é uma das instituições que mais sofrem a tirania da forma. Comumente, existem 
pessoas que a gente admira, algumas são líderes, outras são referências religiosas que nos 
apresentam forma. E aí fica todo mundo querendo ajustar-se, adaptar-se, àquela forma. A 
partir desta tentativa começam as angústias e os desencontros. Coisas do tipo: “Meu marido 
devia ser como o marido da fulana, que é um homem de Deus maravilhoso, pena que não o 
clonaram!” 
 É engraçado mas a clonagem poderia dar certo nas igrejas, pois há gente que está atrás de 
formas que o que elas realmente querem são clones. A forma idêntica. Acho que nós cristãos 
sofremos com muita força essa sedução da clonagem. Cada dia, mais pessoas querem famílias 
clonadas, casamentos clonados. Quero que meu casamento seja igual ao do fulano e da fulana. 
 Cada dia, lemos mais livros de clones, que nos ensinam a clonar, manuais bem 
fechadinhos, que ensinam nos mínimos detalhes sobre como se chega a casa, como se senta, 
como se serve, o que se faz, como se beija, como se abraça, como se tem relações, como se 
abre a porto do carro, como se ora, como se disciplina, como se adverte, como se abriga, como 
se perdoa etc. esse admirável mundo novo da clonagem. 
 Sei bem que a comunidade evangélica sofre disto, e o resultado é um monte de gente 
frustrada, mas que continua a procurar por mais formas, novas formas, diferentes formas. O 
que eu faço? Qual é a forma para eu ficar bem? Qual é a forma para eu salvar meu casamento? 
Qual é a forma para encontrar um marido cristão? Qual é a forma para que meus filhos nunca 
façam nada errado? Qual é a forma para ter uma esposa submissa? 
 E aí cumpre-se em nós o que a Bíblia diz que nós deveríamos fugir, que é o fato de que 
eu preciso ter a consciência de que eu não sei conclusivamente nada, a única coisa que eu seié 
que eu era cego e agora vejo. Eu sei de algumas coisas mas eu não formo saber conclusivo, 
estou aberto. Quero saber como convém saber. 
 Ainda refletindo sobre formas, poderíamos dizer que não somos seres amorfos, nem seres 
formados, mas, sim, seres em transformação. Especialmente quando acrescentamos isto na 
experiência da família observamos que estamos lindando com seres diferentes, singulares, 
único que vivenciam experiências íntimas e particulares, e assim como cada pessoa é única 
também é única cada família. As químicas, que se juntaram para formar sua família, são 
irrepetíveis, totalmente singulares. É por isto que na Bíblia não existe um modelo conjugal ou 
familiar. Quem tenta encontrá-lo encontra apenas modelos para infelicidade sua e de muitos 
outros, porque na Escritura não existe esse modelo fixo, rígido. 
 Se não, vejamos: Adão, o homem perfeito, não é modelo. Ele não teve nenhuma 
dificuldade em saber com quem iria casar-se. Crises existenciais de Adão eram de outra 
natureza, tanto que, quando a coisa ficou preta, ele não teve nenhuma dúvida em quem jogava 
a culpa: “Eu fiz isto porque a mulher que Tu me deste me enganou.” A família de Adão 
também não é modelo. Você conhece alguém que casou os filhos com as irmãs? Às vezes 
encontro algumas pessoas que me perguntam: “com quem os filhos de Adão se casaram?” 
 Por favor, gente, com as irmãs. Não estava começando a evolução ali e se a Bíblia diz 
que a humanidade começou com aquele casal é porque se casaram com os parentes mais 
chegados. Você não precisa ter atração pela sua irmã porque tem milhares de maninhas 
distantes, por quem é muito mais fácil de ter atração sem problema com o excesso de 
proximidade. 
 E a família dos patriarcas? A de Abraão, por exemplo. Se instituímos Abraão como 
modelo, seremos todos disciplinados na igreja. Você conhece alguma irmã triste que teve a 
idéia de convocar a empregada mais bonitinha para alegrar seu marido? Você conhece algum 
pai que está tramando trocar a filha mais velha pela mais nova na lua-de-mel da segunda? A 
mais nova é uma graça, a mais velha é feiosa à beça. “Deixa eu ver se eu empurro o bagulho e 
depois dou a sobremesa.” Foi isto que fez Labão com Jacó, que teve que levar Lia primeiro 
para depois ter acesso a Raquel. Você conhece algum marido ansioso para que algo assim 
aconteça, tipo: “Tomara que aconteça comigo, pego uma e levo duas.” 
 E se pensarmos no rei Davi? Quem quer ter aquela família linda dele? Incesto, homicídio, 
rebelião, irmão matando irmão, tragédia... Você conhece alguma senhora com o seguinte 
plano: “Quando meu marido ficar bem velho, já que a gente mora no sul do Brasil e é muito 
frio, eu vou arranjar uma viagem de 18 anos para dormir abraçada a ele, até que morra. Foi isto 
o que fizeram com Davi: trouxeram uma gatinha chamada Abisague. Ele porém não o possuiu. 
Em outras palavras: era natural que acontecesse alguma coisa, mas o velho Davi ficou na dele. 
 E os profetas, são modelos familiares para nós? Você conhece alguém que pediu: “Dá-me 
a experiência de Oséias, Senhor.” Já pensou em receber esta revelação: “Vai e casa com uma 
prostituta.” Com Oséias foi assim, e ele foi e casou com a Maria Batalhão. Ele já se vendia por 
passa, pão, qualquer coisa, e o profeta desesperado, porque foi Deus quem mandou. 
 Onde está o modelo? Poderia sair multiplicando exemplos. 
 E a família dos apóstolos é modelo: Há alguma senhora que gostaria de que o marido 
recebesse um chamado hoje, despedisse da família e fosse para longe, pregando o Evangelho 
do Reino e voltasse anos depois? A gente acha tudo isto muito bonito lendo a Bíblia, e quando 
o chamado de Deus é para o marido das outras. 
 O que sobra quando a gente, lendo a Bíblia, não encontra modelos? Sobram princípios. 
Nosso problema é que frequentemente a gente quer ter modelos sem princípios. A Bíblia, 
porém, ensina-nos princípios sem modelos. Porque o princípio cabe na diversidade humana; o 
modelo não, ele confina e aprisiona, tirando a nossa visão do princípio e colocando-a na 
forma. A forma mata o espírito: o princípio o vivifica. 
 Quando a palavra de Deus diz que eu não devo conformar-me mas devo transforma-me, 
está dizendo: “Caia a tirania do modelo e institua-se o compromisso com este princípio 
transformador, referências para o caminho, que não é fronteira confinadora para o qual a vida 
não possa encontrar suas próprias acomodações. “Que princípios são estes que a Bíblia 
menciona quando abordando de maneira geral, fala-nos de relacionamento conjugal e familiar? 
 O primeiro é o princípio que afirma seu companheiro ou companheira como projeção do 
seu interior. Quando você ficar muito chateado com ele ou com ela, pense assim: “Ele(a) saiu 
de dentro de mim. Eu estou com raiva de mim, estou com raiva da minha diferença vista 
nela(e).” 
 
 
 
 
 Porque é isto que Gênesis 2 nos diz quando Deus apresenta a Adão a companheira que é 
tirada dele. Este é um princípio psicológico poderoso, aquele(a) que eu vejo e chamo de o(a) 
outro(a) foi arrancado de mim, é projeção minha, como exclamou Adão: “Esta é carne da 
minha carne, ossos dos meus ossos, chamar-se-á varoa porque do varão foi tomada.” 
 Se você não foi amarrado numa esquina, laçado a uma outra pessoa e alguém os fez na 
marra marido e mulher; se esta não foi sua situação, se vocês teve chance de escolha, este é o 
resultado de sua projeção. Se você escolheu bem ou escolheu mal eu não sei. Se escolheu bem, 
escolheu o melhor de você, se escolheu mal, escolheu o pior de você, mas é seu(sua), aguente 
firme! 
 Acho que, quando a gente pensa um pouco nisto, desvia toda a problemática do 
relacionamento conjugal e traz para dentro de si. De alguma forma você abraçou a sua luz ou 
sua sombra nele ou nela, foi o braço de alguma coisa que encontrou em si conexão, contato. 
Pode haver sido a conexão, do amor, da atração, ou, ainda, a conexão da dependência que 
lembrou mamãe, da necessidade de afirmação, de segurança que buscava no pai, seja lá, qual 
houver sido, veio de dentro de você 
 A partir disto, quando você pensar nela(e), não pense mais como sendo esta coisa distante 
e diferente de você, pense nela(e) como sendo a pessoa que revela você a você mesmo. 
 O que é prazeroso e o que é desconfortável, suas afirmações e suas frustrações, suas 
expectativas e suas fantasias. 
 O segundo princípio que aprendemos na Bíblia que nos ajuda na relação familiar e 
conjugal é o princípio de uma independência grata. Por isto, deixa o homem pai e mãe... Por 
isso honrará seu pai e sua mãe... É a junção de dois princípios que significa: para honrar é 
preciso ficar, e para sair não é preciso abandonar. 
 É necessário haver uma independência grata. É independência porque deixa, é grata 
porque volta, honra, cuida. O que estou dizendo pode parecer abstrato mas traga isto dentro do 
contexto da sua experiência familiar e veja como o desequilíbrio da nossa relação com os pais 
traz reflexos poderosos na nossa relação conjugal. Frequentemente, vejo famílias desmontadas, 
desencontradas, porque esta dinâmica não foi instituída. 
 Um diz: “Para eu honrar tenho que ficar” e o outro; “Para eu sair tenho que abandonar.” 
E aí quem fica e não deixa pai e mãe, não consegue nunca ser uma só carne com a(o) 
companheira(o) e com aquilo que brota deles de imediato, que é a família. E quem sai e 
abandona, não consegue honrar, não matem para si nem para o outro referências de linhagens, 
sadiamente construídas, capazes de nos dar uma consciência de papel e pertencimento no 
mundo. 
 Você pode achar que isto não tem nada a ver com aqueles imensos e desgraçadamente 
pequeninos problemas do seu cotidiano. Mas se você prestar atenção na significação desta 
dinâmica e conseguir internalizá-la, vai perceberque só pode haver equilíbrio interior familiar 
quando se sabe lidar com as fronteiras mais claras de quem nós somos. E esta percepção traz 
saúde, a fim de que possamos enfrentar as coisas pequeninas e imensamente desagradáveis que 
passam pelo nosso caminho. 
 O que estou dizendo é que a problemática do cotidiano é muito mais fácil de resolver 
quando se sabe de onde vem e para onde está indo, quando se sabe o que deixou sem 
abandonar e o que a gente cuida sem depender. A saúde interior que vem daí gera consciência, 
consistência, equilíbrio, e nos fortalece no lidar do cotidiano da experiência familiar de cada 
um de nós. 
 O terceiro princípio é aquele que afirma que o prazer da sexualidade é a recompensa para 
a dureza da vida. O lugar onde esta recompensa se manifesta com saúde é na relação conjugal 
e familiar. Você estar-se perguntando: “onde está escrito isto, em que versículo? O prazer da 
sexualidade é a recompensa da vida, onde há isto na Bíblia? “Você acredita nisto? Talvez você 
pense: “Nunca vi isto na Palavra.” Mas pare um pouco e olhe para Salomão, uma pessoa que 
cria profundamente neste princípio, tanto que parece até que só cria nisto. Ele incita: 
 
 “Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida fugaz, 
 os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta 
 vida, pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol.” 
 Eclesiastes 9:9 
 
 Salomão está dizendo: dá duro o dia inteiro, chegar em casa e não rolar nada é um 
inferno. Você trabalha, engole sapos, enfrenta trânsito, vive sob pressão, quando chega em 
casa, meu filho, seja feliz! Goza a vida com a mulher que amas. Não diz que é três vezes por 
semana, mas todos os dias da sua vida. 
 Esta não é uma lógica diferente da lógica do cotidiano? O cara chega do trabalho, 
estende-se no sofá, joga o sapato num canto e quando a esposa chega com um beijo ele diz: 
“Hoje eu estou tão cansado, hoje não, benzinho, hoje não dá!” 
 Ou então é ela quem depois de um dia cheio joga-se na cama e, quando ele se aproxima 
para um carinho, ouve: “A faxineira não veio, tive que lavar os banheiros, fui ao 
supermercado, reunião da escola, briguei com a minha colega de repartição; hoje não, me 
deixa dormir”. 
 Salomão já pensava diferente: “Como foi o dia hoje, foi horrível? Então ótimo, vem que 
tem.” Porque esta é a paga, este é o salário, a recompensa com a qual Deus nos paga por nossa 
fadiga debaixo do sol. É necessário rompermos com as imposições do mundo. Não podemos 
conformar-nos com a idéia de que o cansaço acaba com o clima. Se os dois transformam-se 
pela renovação da mente, então, na hora do cansaço, relaxam, buscam um o outro, confortam-
se, amam-se... É massagem de Deus para a vida deles. 
 Aqui não se está falando apenas de sexo, e, sim, de gozar a vida com a mulher que amas, 
não apenas sexo, mas está-se falando da sexualidade permeando a vida. A mulher que tu amas 
é a transa existencial como um todo. Não é apenas o ato sexual mas o vazamento da 
sexualidade para os múltiplos segmentos da vida que lhe dão prazer na existência, é sentir-se 
desejando e desejado, protegendo e protegido, valorizando e valorizado, dando de si recebendo 
do outro. Em provérbios 5:18 está escrito: 
 
 “Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua 
 mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-se os seus 
 seios em todo o tempo: e embriaga-te sempre com as suas 
 carícias.” 
 
 Manancial é a fonte em que tu bebes, lugar onde matas tua sede... Alegra-te com a mulher 
da tua mocidade, corça de amores... Já viram no Discovery Channel os animais fazendo amor? 
Às vezes acho que falta um pouco de animalidade na nossa relação. Carícias, cheiros, toques, 
beijos, ritos longos que a nossa sociedade vai desaprendendo. 
 Vejamos com a referência do texto é bastante animal, a corça graciosa, a gazela de 
amores, isto sumiu da gente. É interessante pensar na mente dos homens da Bíblia. Salomão 
falando da Sulamita como aquela mulher ideal, que o seduziu até a profundidade da alma, e, 
para ela, ele diz: 
 
 “Os teus dois seios são como duas crias gêmeas de uma gazela”. 
 Cantares 7:3 
 
 “As éguas dos carros de Faraó te comparo, ó querida minha”. 
 Cantares 1:9 
 
 Esta é uma animalidade interessante. Nós ficamos politicamente corretos demais, 
perdemos esta coisa animal, lúdica, esta volúpia do bicho que na Bíblia está presente. 
“Saciem-te os teus seios em todo o tempo. “O teu filho tem que mamar rapidinho porque o 
resto é teu.”... Embriaga-te sempre com tuas carícias. “Isto é tudo, menos puritano. Não estou 
dizendo isto de mim, está escrito, se alguém quiser rasgar que rasgue, mas está na Palavra. 
 Talvez você possa estar-me achando exagerado mas estou apenas mostrando as imagens 
que Salomão está usando. Se você não aguenta, nada posso fazer. 
 
 “... Alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores, 
 gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e 
 embriaga-te sempre com as suas carícias”. Provérbios5:19 
 
 Em outras palavras: Fica bêbado, toma porre de carícias. Pensa na sexualidade como 
recompensa para a dureza da vida. De vez em quando, encontro pessoas que não conseguem 
ver este princípio como algo espiritual; no passado muito mais, porém ainda encontro estas 
espécimes vivas. É aquela senhora piedosa que diz: 
 - Ah, pastor, meu marido fica tão chateado comigo... 
 - Por que, minha irmã? 
 - Porque domingo ele passa o dia todinho em casa, e fica espreitando, mas eu não quero 
nada com ele porque domingo é o dia da consagração ao Senhor. E domingo de ceia então 
rejeito totalmente até este pensamento na minha cabeça. 
 É diante de colocações assim que me pergunto: que Bíblia esta irmãzinha lê? Não é a 
minha. A minha diz: “Em todo tempo, embriaga-te.” É um sacramento do prazer a dois. 
 O quarto princípio é aquele do prazer íntimo e da esperança exterior. Apresenta a mulher 
como videira e os filhos como rebentos da oliveira. Acho interessante essas duas árvores, seus 
frutos e o significado delas na Bíblia. A videira produz a vide, a uva; a oliveira, o óleo, a 
azeitona. No Salmo 128:2,3 nós lemos: 
 
 “Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás e tudo te irá bem, 
 tua esposa, no interior de tua casa será como a videira frutífera e 
 os teus filhos como rebentos da oliveira à roda da tua mesa.” 
 
 O que acho interessante é que ele diz que a esposa não será como a videira no jardim da 
casa mas sim no interior. É uva doce, muito doce! Já imaginou esta cena: você passa na sala, e, 
quando abre o seu quarto, há uma videira doce plantada ali dentro! É da videira que a gente faz 
o vinho.” ...Embriaga-te com tuas carícias.” Há marido que prefere que a videira dele fique 
plantada no portão para que os outros vejam como a videira dele é gostosa, até que um dia ele 
descobre que há um monte de gente comendo uva. 
 Eu às vezes encontro maridos que falam da videira, como ele sobe na videira, como ele 
poda a videira etc. Nas reuniões de homens ele fala tanto na videira que o outro pensa: “eu 
estou com aquela parreirinha mirrada lá em casa, quem me dera conhecer a videira do fulano!” 
 O que se fala aqui é de uma coisa íntima, a videira está no interior da casa, não se está 
falando de uma sexualidade proclamada, exibida de megafone, mas ela está no interior da casa, 
na privacidade da relação. Não é coisa para se fazer propaganda a respeito, e, sim, para se 
observar, proteger, usufruir, participar. Há gente que, em vez da videira, tem uma rocha de 
sabedoria em cima da cama, uma pedra gelada, com os 10 mandamentos escritos, ou então 
aquele poste indígena, o totem, com todosos dogmas e tabus, para tudo há lei, há juízo. 
 Se você é mulher, seja uma videira sem medo de ser doce, de ser prazerosa, seja uma 
videira frutífera no quarto, na cama, no interior do seu lar, não seja um espinheiro que 
machuca e repele, ou um pé de urtiga. Há muita gente querendo mudar de árvore pro causa 
disto. 
 Se você é homem, não tenha medo de usufruir, cuidar do que Deus te deu de modo 
precioso, é teu jardim fechado onde só tu entras e só tu comes os prazeres. Tua mulher é 
videira frutífera e todas as estações da vida são de fruto. Cuide da tua videira, com carinho, 
alimente-a com amor, regue-a com romantismo, adube sua terra com paixão. 
 Este princípio tem também a ver com os filhos, que são como rebentos da oliveira à roda 
da mesa. A videira no interior da casa, na intimidade, os filhos em volta da mesa. Eles são 
como o fruto da oliveira. Vendo este texto, vejo como é importante conhecer geografia bíblica. 
Quanto mais se conhece, mais estas coisas ficam simples de serem entendidas. 
 Quando eu leio um salmo como este, nem preciso consultar um comentarista para saber o 
que ele quer dizer, porque, já tendo ido tantas vezes a Israel, descobri o valor de uma oliveira. 
Em alguns cantos do país podemos ver oliveiras de 1800 anos. A oliveira é a árvore-símbolo 
da esperança, da continuidade, e aqui o salmista se refere aos filhos como esses símbolo, como 
brotos saindo da oliveira. 
 0,No jardim do Getsêmani há oliveiras quase contemporâneas de Jesus. Tenho ido lá 
quase todos os anos, há mais de 20 anos. Às vezes vejo aquelas oliveiras irem secando, e 
penso: “Ano que vem, quando eu votar aqui, esta oliveira já era”, mas na volta descubro que 
ela se renovou porque dela nasceu um broto. Ela se reverdeceu e certamente irá virar o 
milênio. 
 Com esta imagem, percebemos duas aplicações em relação à família. A primeira é: teus 
filhos são continuidade tua, dos teus sonhos, das tuas esperanças. A segunda é: teus filhos têm 
o poder de rejuvenescer você. O fato maravilhoso de ser pai e ser mãe é poder ir ficando mais 
jovem com a juventude dos filhos. 
 Quero compartilhar algo com você: há 10 anos, quando eu tinha apenas 32 anos, eu 
estava muito mais velho do que estou hoje com 42. Hoje me sinto mais jovem, porque me vejo 
nos rebentos da oliveira, começo a ver meus filhos mais sadios do que jamais fui, mais 
humanos do que eu jamais conseguiria ser, mais equilibrado do que eu jamais fora, e percebo 
com alegria que a geração que saiu de mim é melhor do que eu, carrega uma semente minha 
para além de mim, e esta visão melhora o tronco, que se torna mais generoso, mais vivo, 
permitindo que a juventude interior cresça. 
 Tua mulher é uma videira frutífera no interior da tua casa e teus filhos como rebentos da 
oliveira à roda da tua mesa. E mais ainda. 
 O quinto princípio nos fala da dinâmica da bondade como sendo fator essencial na 
relação familiar. Você está curioso para saber onde isto está escrito? Encontra-se naquele texto 
que as mulheres detestam e os homens também. Aquele texto de Efésios que a maioria das 
pessoas considera careta, mas só é careta porque é mal lido; se a gente lesse direito iria ver que 
não há nada mais precioso sobre relacionamento conjugal. Há gente que fica tão 
impressionada de ver a forma na leitura que deixa de ver o princípio na leitura. 
 
 “As mulheres sejam submissas aos seus próprios maridos como 
 o Senhor, porque o marido é o cabeça da mulher...” Efésios 5:22 
 
 Se a cabeça, tem que pensar, não pode ser bobo. 
 
 “... como Cristo é o cabeça da igreja sendo Este mesmo o salvador 
 do corpo. Como também a igreja está sujeita a Cristo assim 
 também as mulheres sejam em tudo submissas aos seus próprios 
 maridos... “Efésios 5:23.24 
 
 Neste ponto a irmã lê e diz: eh-eh! 
 
 “... Maridos, amai as vossas mulheres assim como Cristo amou a 
 igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse 
 por meio da lavagem de água pura pela Palavra, a fim de apresentá-la 
 sem mácula, nem ruga, como coisa sem defeito, assim também os 
 maridos amem suas mulheres como a seus próprios corpos porque 
 quem ama a sua esposa a si mesmo se ama porque ninguém jamais 
 odiou a sua própria carne antes a alimenta e dela cuida, como também 
 Cristo o faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo.” 
 Efésios 5:25-30 
 
 Se você está esperando que eu vá comentar o significado de cada uma destas palavras, eu 
lhe digo: Deus me livre! Certamente, você já ouviu muitos sermões sobre isto aqui, mas 
provavelmente nenhuma mensagem. Este é o texto perfeito para se fazer sermão: mulher, seja 
submissa! Marido, ame, cuide, alimente sua mulher! E você, mulher, respeite seu marido! 
 Eu quero livrar-me desta forma e pensar no que está escrito. E em relação a este texto a 
única coisa que posso pensar é: tanto faz como tanto fez! Qual a diferença de a mulher ser 
submissa ao seu marido como a igreja ser submissa a Cristo, em relação ao marido amar sua 
mulher como Cristo amou sua igreja e a si mesmo se entregou por ela? 
 O que está falando aqui é que a mulher deve amar o marido com submissão e o marido 
deve amar a mulher com submissão. Quem se submete ao marido não está em posição de 
desvantagem ao marido que ama a mulher e morre por ela. Qual a diferença entre se submeter 
e morrer? Não tem nada a ver com posição, quem é o maior, quem é que manda, porque 
ninguém manda, quem manda é o amor. Que adianta uma cabeça sem corpo e um corpo sem 
cabeça? De que vale a discussão? 
 
 
 
 Em outras palavras: ninguém manda em ninguém, o que temos aqui é uma dinâmica, uma 
grande sinergia patrocinada pelo amor, onde quem pode mandar não manda e onde quem 
poderia desobedecer obedece, e quem pode mandar não precisa mandar porque quem poderia 
desobedecer não desobedece, porque ambos estão tocados e geridos pelo amor. 
 
Em outras palavras, Paulo está dizendo: chega de papo! Parem com a estupidez! Aprendam o 
amor! Quando a gente dialoga, cuida, protege, não existe o estabelecimento de uma hierarquia 
de poder, o que se estabelece é uma dinâmica relacional. A grande desgraça deste texto é que o 
transformaram numa hierarquia de poder militarizada em vez de o terem lido como uma 
dinâmica de relacionamento onde o dogma é o amor. 
 Pegue este texto, leia-o com cuidado e aplique na sua família, não querendo saber quem 
manda em quem, mas dizendo: nós somos servos do amor. Ninguém aqui tem vantagem, 
porque o papel de ambas partes coloca cada parte a serviço da outra. Então, em vez de termos 
uma forma, temos um princípio operante, energizante, da dinâmica da família. 
 Outro dia uma senhora se encontrou comigo e falou de uma situação horrível que estava 
vivendo com o esposo. 
 - Mas o que é tão ruim assim? - perguntei. 
 - Nada há mais nada, restou apenas um vazio enorme entre nós. 
 - Mas não tem nada mesmo? 
 - Nada, pastor. O que eu faço? 
 - Você já falou para ele que não tem mais nada? 
 - Ah, eu não tenho coragem, ele não sabe, e se ele sabe não quer que eu saiba que ele 
sabe. 
 - Mas como? Um vazio assim e você não vai falar com ele? Há quanto tempo isto 
acontece? 
 - Há aproximadamente oito anos. 
 - Há oito anos que vocês vivem assim e não conversam a respeito? E este tempo todo o 
vazio crescendo e os separando... 
 Passados uns 10 dias depois da conversa, encontrei com eles por acaso numa reunião no 
Rio. Estavam abraçadinhos, carinhosos, felizes, e perguntei para ela: 
 - Resolveu? 
 - Nada!!!! 
 Meu Deus - pensei - como existem formas tão lindas de hipocrisia! 
 A conclusão a que chegamos é a de que nossa desgraçatem sido tentar criar modelos em 
vez de buscar e seguir princípios. O que é bom para mim pode ser horrível para você, e o que é 
bom para você pode ser horrível para mim. A felicidade de uma família não é ser feliz, é 
encontrar sua própria dinâmica e ter coragem de empurrar os limites para o máximo da sua 
capacidade, experimentando, com abundância, a graça de Deus. 
 Que o Senhor nos ajude a viver pela fé, ensine-nos a ser gente da sua Palavra e Espírito. 
Sabemos que viver pela fé não nos dá segurança, mas precisamos crer nos princípios e não em 
formas rígidas. As formas nos dão segurança, sensação de fronteiras claras, mas são grandes 
inibidoras da nossa criatividade interior e da expansão da alma. 
 Pedimos, Senhor, que Tu nos dês as referências da tua Palavra e os teus princípios para 
que andemos neles, mas nos livre das formas que tiranizam e dos modelos que podem tornar-
se os escravizadores do nosso ser, causando ansiedade e frustração no nosso espírito. Antes, 
ajuda-nos a celebrar diante de Ti que nós somos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 
 
A Crise Pode Tornar-nos Mais Profundos 
 
 
 
 “Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom 
 para o homem permanecer assim como está. 
 Estás casado? Não procure separar-te; estás livre de mulher? Não 
 procure casamento. 
 Mas se te casares, com isto não pecas; e também se a virgem 
 se casar, por isto não peca. Ainda assim tais pessoas sofrerão 
 angústia na carne, e eu quisera poupar-vos.” | Coríntios 7:26-28 
 
 Este é um texto que as mulheres detestam, e por mais que elas desejem entender, é difícil 
de aceitar. Acabam aceitando por uma questão de submissão espiritual. Especialmente para 
ouvidos modernos ou pós-modernos, este texto é insuportável. “Você está casado, não se 
separe; está livre de mulher? Que bom, não procure casamento. Se casar, não peca, e se a 
virgem se casar também não peca. Mas com isto vocês sofrerão angústias na carne e eu quisera 
poupar-vos.” 
 Interessante é que este texto, que aparentemente é tão difícil de compreender, para mim é 
dos mais simples. Sim, porque é completamente situacional. Não está fazendo nenhuma 
recomendação para a vida mas, sim, para um determinado contexto de vida. Se a gente lê o 
verso 26, fica claro: “Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom o homem 
permanecer assim como está.” Está falando de um determinado momento histórico no qual ele 
estava vivendo, e era um momento de crise, um momento em que rupturas poderiam acontecer 
como consequência de crises políticas e da perseguição que já se vislumbrava contra os 
cristãos, portanto era um momento difícil, de enormes angústias na carne; poderia haver 
necessidade de que pessoas se separassem forçadas pelas circunstâncias, que o contexto fosse 
tão hostil à experiência conjugal e familiar, que, em razão desta angústia instituída por 
contingências as mais diversas, a experiência do casamento fosse penosa. 
 Ele diz, se você está solteiro, não se case; se está casado, não se separe; se puder ficar 
assim como está, fique. Porque a angústia de você ficar só ainda é menor do que aquela que 
poderá sobrevir-lhe se você estiver casado e tiver que ver sua família separada pelas 
circunstâncias de perseguição e opressão. Paulo já vislumbrava estes problemas se 
avizinhando daquela geração. 
 O que isto tem a ver comigo? Aparentemente, nada, diria eu, mas prestemos atenção ao 
princípio inserido neste texto. Este é um daqueles textos que, mesmo quando perdendo sua 
validade situacional, específica, o princípio permanece válido para sempre. 
 O princípio afirma que eu e você precisamos ter modalidade interior, precisamos 
perceber nosso tempo, nossa hora, dar resposta ao nosso contexto de modo adequado, 
especialmente nesta área que tem a ver com família, com amor, entrega, laços, afeições, 
compromissos. Em cada momento e geração, Paulo está-nos recomendando que entendamos 
quais são as contingências, os fatores, os elementos e forças que se combinam para formar 
aquela situação, porque a gente não vive num mundo paralelo, nós existimos neste planeta, e 
elementos de natureza social, política, filosófica formam uma densidade psicossocial tão real 
que é impossível que eu e você não sejamos afetados e atingidos por ela. 
 Esta coisa de dizer que, porque somos cristãos, eu e você não somos do mundo e o que 
está acontecendo no planeta não nos afeta, é a maior idiotice. A menos que eu me refugie 
numa comunidade fechada, desconectada, desligada do resto do universo, não tenho a menor 
chance de viver uma situação urbana como a que vivemos, e dizer que passamos incólumes 
pelas mudanças da sociedade, que elas não nos dizem respeito, ainda que digamos isto, elas 
nos desrespeitam e nos afetam, sempre. Então, o princípio é este. 
 Vejamos agora à luz do tempo presente, baseados no que acontece na nossa geração, 
quais são as respostas, as mudanças, flexibilizações que eu e você precisamos fazer para 
melhor responder ao nosso tempo, quanto à família e ao casamento. 
 Eu diria que esta é uma hora angustiosa para nós todos que somos casados, que somos 
pais, porque as mudanças pelas quais nossa geração está passando são profundíssimas, 
conquanto as repercussões delas ainda não são percebidas pela maioria de nós. Fico 
imaginando como será o mundo dos meus filhos, especialmente os mais novos. O que vai 
acontecer com meu filho de 15 anos, com minha filha de 13 anos, daqui a 30 anos? 
 O planeta será este? As mudanças vão ser muito mais agudas e acentuadas do que 
podemos imaginar. Toda a arquitetura que chamamos de família está virando completamente 
ao contrário, as combinações familiares não são mais aquelas que nortearam e compuseram os 
vínculos de famílias durante milênios. Em pouco mais de 50 anos, isto tudo sofreu alterações 
impensáveis para meu avô no começo deste século. 
 Por exemplo: outro dia eu estava numa festa, e o anfitrião que me convidou para ir até ali 
fazer uma oração pela enteada me colocou na mesa da família. Lá me apresentou a sua 
primeira esposa com as três filhas deles, depois me apresentou a segunda esposa com o filho 
deles, o primeiro marido da segunda esposa com a filha de ambos, o segundo marido da sua 
segunda esposa, o marido da primeira com o filho dele, com uma outra... Quase pedi um 
Pentium para fazer todas as conexões! Todo mundo numa boa, beijo prá cá, beijo para lá, eu 
fiquei tentado montar uma árvore genealógica, cruzar os elementos todos... 
 Você pode imaginar seu avô nessa roda? Fico imaginando o meu avô ou minha avó 
sentados a uma mesa como essa. Certamente, iriam levantar-se escandalizados, chamando 
todos uns indecentes, uns imorais, ou, no mínimo, malucos. Eu não sei o quanto você convive 
com isto, mas eu trafego todos os dias por dentro dessa rede múltipla. 
 Especialmente se você não está protegido pela Igreja ou pela religião, se você se expõe na 
tentativa de ser sal da terra lá no mundo onde a vida acontece com todas as suas ambiguidades, 
você vê isto todos os dias. E é neste planeta que eu existo e você também. Por isto digo que 
este é um tempo angustioso, onde uma série de paradigmas foram alterados, referenciais 
abolidos, ícones relativizados e substituídos. No meio disto tudo, estou cansado, você está 
casado, nós temos família. 
 Como a gente vive? 
 Inicialmente precisamos entender, ao discernir este tempo, que o casamento e a família 
são realidades de duas dimensões: a dimensão divina, porque o casamento e a família são 
instituições divinas, pensadas e planejadas por Deus. Aoutra é a dimensão humana, pois tanto 
a família como o casamento vivem a natureza histórica, portanto é uma instituição divina que 
vive na história com todas as implicações da sociedade humana. 
 Esta é uma sociedade caída, formada por gente que está em processo, que às vezes se 
aproxima de idéias e às vezes se afasta de ideais, mas é esta sociedade onde estamos. Eu falo 
de Cristo e evangelizo pessoas neste planeta que não são encontradas em situações desejadas, 
mas encontradas arrebentadas pela vida. 
 O que quero dizer é que estamos entre duas dimensões: uma divina e uma histórica. Eu 
sei que a relação do homem com sua companheira é um projeto divino e sei que há outro lado 
nesta relação que é humano e histórico. O que acontece é que a dimensão divina é baseada em 
princípios imutáveis, já o processo histórico do casamento acontece em formas mutáveis em 
cada geração. Os princípios imutáveis, só para repetir três deles, seriam: 
 Primeiro: fidelidade. Em qualquer sociedade ou cultura deste planeta, quer seja ela 
afetada pelo povo da Bíblia ou não, em qualquer contexto cabe a fidelidade. Quando pensamos 
na variação bíblica do processo de casamento, vindo da monogamia de Adão, passando para as 
relações bígamas e polígamas, os hárens reais e depois o afunilamento gradual após o exílio de 
Israel quando a bigamia deu lugar novamente à monogamia, de modo que, nos dias de Jesus, a 
maior parte dos casamentos eram monogâmico mas havia tolerância quanto às relações 
bígamas e polígamas. 
 Mas, em todos esses momentos históricos, a fidelidade sempre se requereu. Quando você 
pensa na Bíblia, por exemplo, lembra do Sr. Elcana, gente boa, que tinha duas mulheres: 
Penina, que significa pérola, que era fértil mas chata, e Ana, que significa graça, mas era 
estéril. Esse homem estava em adultério? Não, nenhuma destas duas mulheres estava sendo 
traída, ele tinha um pacto com as duas. Naquela sociedade isto era perfeitamente admissível. 
Esse homem adulteraria se pegasse a mulher de outro, aí ele teria transgredido o pacto que 
fizera com a sociedade e com suas duas companheiras. 
 Naquele contexto, portanto, ele podia ser fiel apesar de bígamo. Se quisesse agregar uma 
terceira pessoa na relação, deveria comunicar às duas e ter um certo consenso, e essa terceira 
esposa deveria estar livre e desembaraçada de qualquer compromisso ou vínculo. Isto 
funcionava assim nos contextos bígamos, polígamos e também nos contextos monogâmicos. 
 Davi, quando adulterou com Bate-Seba, já tinha sete mulheres, e até ali a Bíblia não diz 
que ele estava em adultério porque as sete eram dele. Ele pecou quando possuiu a mulher de 
outro. Que observamos aqui? O princípio divino da fidelidade aplicado a um contexto humano, 
indo de uma experiência monógama à outra polígama. 
 Em segundo lugar, gostaria de abordar o princípio da mutualidade. Deus disse que a 
companheira é idônea para o homem e com isto estabeleceu troca, mutualidade, 
responsabilidade. Em qualquer lugar do planeta quando duas pessoas se unem num projeto, 
presume-se que haja mutualidade. Elas se servem, se alimentam, se sustentam, contribuem 
para a continuidade do projeto, da vida a dois ou em família. São parceiras de vida, de morte, 
de cama... Isto é mutualidade. 
 O terceiro princípio é honra. O que se pede em qualquer contexto é que homens e 
mulheres que se unam sejam capazes de se honrar. 
 Estes são princípios imutáveis mínimos aplicados em contextos de formas mutáveis. Por 
exemplo: como você imagina o casamento de Adão e Eva? Ela entrou numa catedral vestida 
de branco, um elefante tocava a marcha nupcial com a trompa, as aves do jardim paravam para 
olhar, enquanto duas rãs levavam as alianças... É assim que você imagina? 
 Como foi que Isaque se casou com Rebeca? O servo de Abraão foi até à casa do tio de 
Isaque, encontrou uma gatinha, falou de Isaque para ele, ela disse: “Eu quero ir”; e foi. Diz a 
Palavra que Isaque estava no campo quando viu aquela coisa linda se aproximando, e se 
enamorou, se apaixonou, se encupidou na hora por ela. E diz que ele a tomou, a introduziu na 
sua recâmara e a possuiu. Alguém quer este tipo de casamento para sua filha? Alguém quer 
que um homem abençoado a veja, e diga: é essa?! Leve-a para seu quarto e volte casado lá de 
dentro? Não desejamos que seja assim porque a sociedade mudou. 
 Quando você pensa na situação de Maria, desposada de José e fica grávida?! Este era um 
contexto onde o noivado já tinha força legal de um casamento consumado ainda que não 
tivesse havido relação sexual. Se você olhar na Bíblia, não vai encontrar um ritual padrão de 
união. 
 Há gente que pensa: vamos agradar a Deus. E a filha tem que entrar de véu e grinalda, 
aquela coisa épica, com pompas e circunstâncias, porque, se não for assim, parece que Deus no 
céu não estendeu a mão. Aí eu digo para mim mesmo: meu Deus, como somos burros; nem 
lendo a Bíblia a gente consegue ver estas coisas. Não é necessário nem ler outros livros sobre 
o assunto, a Bíblia mesma mostra as mudanças e variações no padrão relacional. 
 Significa dizer que a rito da união muda de geração em geração, varia. O princípio é que 
permanece. Deixará o homem seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma 
só carne. Este é o princípio que cabe em qualquer contexto, e em qualquer cultura do mundo 
tem a ver com seu tempo, com sua geração. Você pode dizer: é assim que eu quero que 
aconteça comigo. Isto tem que ter consenso do núcleo mais próximo, que é a família, e, uma 
vez que haja este consenso aplicado a este desejo - e as circunstancias permitam - este rito é 
válido. 
 O trato também muda de geração a geração. Abraão não tinha documento nenhum, não 
tinha certidão de casamento. Esta é minha mulher, dizia ele, porque era a mulher dele, nada 
além disto. O que estou tentando dizer é que estas formas vão mudando, e assim como mudam 
os ritos de união, os papéis também se alteram frequentemente. A Bíblia é tão fantástica que 
abre espaço para uma mulher como Débora aparecer. Numa época em que os machos estavam 
em baixa, faltava um cara de peito, de coragem na nação, é exatamente quando se levanta uma 
mulher que vai à luta, julga e liberta o povo de Israel. 
 Observem uma dinâmica acontecendo. Os papéis mudam de geração em geração. Hoje, 
nós vemos mulheres que são muito mais provedoras da casa de que os maridos. E encontramos 
maridos que são mais gerentes familiares do que as próprias esposas. Cada vez mais num 
mundo como o nosso esta dinâmica tende a acontecer. Estes elementos estão mais 
condicionados à economia social do que à ética moral. 
 Isto pode parecer um tanto teórico mas é fundamental para você entender seu tempo. 
Estas mudanças estão muito mais condicionadas à economia social do que à ética moral. 
Vejamos, por exemplo, a instituição da monogamia em Israel. A Bíblia começa monogâmica, 
torna-se bígama, polígama e volta a ser monogâmica em aproximadamente três mil anos de 
registro. 
 Que foi que fez começar assim e terminar assim? Foram os patriarcas ou os profetas? 
Não foram, porque mesmo os profetas e homens de Deus viveram cada um em seu tempo com 
estas alternâncias. Na maioria das vezes o que desencadeou estas mudanças foram aspectos de 
natureza econômica e social. 
 Depois de uma guerra, quando os homens morriam, a geração seguinte tendia a se tornar 
bígama ou polígama, porque só assim as mulheres não ficariam abandonadas. Depois de um 
período de abastança e de equilíbrio demográfico, a tendência era de outra vez a sociedade 
tornar-se nuclealizada. Quando Israel foi para o exílio na Babilônia, a vida era muito difícil e 
não havia espaço para a poligamia. Então, os casai se aproximaram, e, quando voltaram para 
Israel,

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