Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESTRUTURAS DE MADEIRA DIMENSIONAMENTO À TRAÇÃO Aulas 10 e 11 Eder Brito 2.3. Tração Conforme a direção de aplicação do esforço de tração, em relação às fibras da madeira, pode-se ter a madeira submetida à tração paralela ou à tração normal. A resistência da madeira a esforços de tração paralela às fibras é muito alta, enquanto que a resistência à tração normal às fibras é muito baixa e freqüentemente desprezada. A resistência da madeira a um esforço de tração aplicado em uma direção inclinada, em relação às fibras, apresenta um valor intermediário entre as observadas na tração paralela e normal. Tração paralela às fibras Tração normal às fibras a) Tração paralela às fibras Segundo a NBR 7190, da ABNT (2012), os esforços resistentes das peças estruturais de madeira devem ser determinados com a hipótese de comportamento elastofrágil do material, isto é, com um diagrama “tensão X deformação” linear até a ruptura tanto na compressão quanto na tração. Assim, o Estado Limite (Último) de peças submetidas à tração paralela às fibras é o de ruptura, na seção menos resistente, por tensões de tração e as bases para o dimensionamento são as estudadas em “Resistência dos Materiais” Efeito da Força Normal (N) Tensões normais uniformemente distribuídas A N Força normal Área da seção transversal Tensão normal (“sigma”) Segurança à ruptura material máx máx f A N Resistência do material (à tração ou compressão) N f A descontinuidade do material, causada por furos ou cortes para entalhes, impedirá a transmissão do esforço de tração, portanto, a área da seção transversal a ser considerada deve ser a área efetiva (descontados os furos e entalhes). Assim, o dimensionamento de peças estruturais de madeira submetidas à tração paralela às fibras pode ser feita aplicando-se o seguinte roteiro. Roteiro - Tração paralela às fibras 1 – Obter a força normal de cálculo (Nd), se necessário, traçando o(s) diagrama(s) de força(s) normal(is). 2 – Obter a área da seção transversal da barra (A). 3 – Obter a área efetiva (Aef) de madeira, da seção transversal. a) Se conhecida a ligação. mentosenfraquecief AAA Na qual, em geral: entalhesfurosmentosenfraqueci AAA Furos para colocação de pregos e parafusos. .bAfuro Entalhes para colocação de dentes. e.bAentalhe b) Se desconhecida a ligação. A.70,0Aef 4 – Obter a tensão atuante, de cálculo, máxima (td). ef d td A N 5 – Verificar e concluir sobre a seção. d,0t ef d td f A N Resistência à tração paralela às fibras Se td << ft0,d (td / ft0,d << 1) a madeira resiste com folga ao esforço, pode-se diminuir a seção. Se td > ft0,d (td / ft0,d > 1) a madeira não resiste ao esforço, é necessário aumentar a seção. Se td ft0,d (td / ft0,d 1), mas ainda menor a madeira resiste, praticamente no limite, ao esforço, é a seção ideal. , opcionalmente: 1 f.A N f d,0tef d d,0t td Exemplo de aplicação 10 Obter a seção da barra 1-3, da tesoura esquematizada abaixo, construída com madeira de uma folhosa da classe D30. Sabe-se que para facilidade na montagem das ligações, a barra deve ter largura de 6,00 cm e que os esforços característicos na barra (obtidos em Planos Cremona) são os listados abaixo (positivos se de tração, negativos se de compressão). Considere: edificação do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), classe de umidade 1, carregamento de longa duração e que, em princípio, não se sabe qual a ação variável principal. ♦ Peso próprio (telhas, madeiramento e ligações) 17000 N ♦ Peso de água absorvida pelas telhas 2500 N ♦ Vento de pressão 15000 N ♦ Vento de sucção -1000 N Note que o carregamento deve ser considerado em conjunto. Solução: Acompanhando o roteiro apresentado, obtém-se: 1 – Obter a força normal de cálculo (Nd), se necessário, traçando o diagrama de força normal. Os esforços característicos podem ser classificados como: ♦ Permanente Peso próprio N17000Ng ♦ Variáveis Água N2500N a,q Vento de pressão N15000N VP,q Vento de sucção N1000N VS,q Esforços solicitantes, como a forca normal, podem causar ruptura de seções, portanto, causar um Estado Limite Últimos. Estes estados são verificados com combinações últimas, para o carregamento de longa duração (carregamento normal) usa-se a Combinação Última Normal. Da existência de três carregamentos variáveis, um caracterizando esforço de compressão e dois esforços de tração, percebe-se, ao observar a expressão de Combinação Última Normal, a possibilidade de três diferentes combinações: 1) Ng e Nq,VS possibilitando Nd de compressão; 2) Ng, Nq,a (como variável principal) e Nq,VP, fornecendo Nd de tração; 3) Ng, Nq,a e Nq,VP (como variável principal), fornecendo outro Nd de tração. Assim, devem ser obtidos esses três valores de Nd, identificando a hipótese adotada, e: 1) se existir Nd de compressão, com ele verificar a barra à compressão; 2) com o maior valor obtido para Nd de tração, identificar a variável principal assumida e verificar a barra à tração. Como a direção das fibras da barra 1-3 (ao longo do comprimento) é a mesma dos esforços Nd (nos três casos), as duas verificações descritas acima devem ser feitas na direção paralela às fibras. Procurando valores de compressão para Nd (-) Nesta situação devem ser consideradas todas as cargas permanentes (entram sempre) e apenas as cargas variáveis com mesmo sinal de Nd (portanto, de compressão). Assim, aplicando-se a combinação obtém-se: 75,0.N.4,1N.0,1N )(VS,q)(g)(d 75,0.1000.4,117000.00,1N )(d N15950N )(d Não existe compressão na barra 1-3 Procurando valores de tração para Nd (+) Nesta situação devem ser consideradas todas as cargas permanentes (entram sempre) e apenas as cargas variáveis com mesmo sinal de Nd (portanto, de tração). Assim, existem duas possíveis variáveis principais. Adotam-se, por hipótese, as duas possibilidades e o maior valor de Nd será utilizado no cálculo. Hipótese 1 Assumindo a água como variável principal: )(VP,q)(a,q)(g)(d N.6,0N.4,1N.4,1N 15000.6,02500.4,117000.4,1N )(d N39900N )(d Hipótese 2 Assumindo o vento de pressão como variável principal: )(a,q)(VP,q)(g)(d N.5,075,0.N.4,1N.4,1N 2500.5,075,0.15000.4,117000.4,1N )(d N41300N )(d Portanto, deve-se assumir o vento de pressão como variável principal e utilizar para dimensionamento da barra uma força normal de cálculo, Nd = 41300 N, de tração. 2 – Obter a área da seção transversal da barra (A). 3 – Obter a área efetiva (Aef) de madeira, da seção transversal. Para ligação desconhecida. h.bA 2mmh.60A A.70,0Aef 2 ef mmh.42A h.60.70,0Aef 4 – Obter a tensão atuante, de cálculo, máxima (td). ef d td A N h.42 41300 td MPa h 33,983 td 5 – Verificar e concluir sobre a seção. d,0t ef d td f A N DICA Quando se carrega incógnita pode-se impor a solução ideal. Para as condições especificadas no enunciado, a resistência da madeira esta tabelada, portanto: Folhosa classe D30 MPa50,10fd,0t Assim: d,0t ef d td f A N 50,10 h 33,983 50,10 33,983 h mm65,93h A solução ideal para o problema é a seção comercial de largura 6 cm (dada no enunciado) e altura imediatamente superior a 93,65 mm 9,4 cm. Das seções encontradas no comércio, recomenda-se: Utilizar a seção comercial 6cm x 12cm (vigota). Exemplo de aplicação 11 Qual a máxima força normal de cálculo, de tração, a que pode resistir uma peça de madeira classe D60 (dicotiledônea), de seção 6,00 cm x 12,00 cm, sendo que 3,00 cm de sua altura são utilizados em entalhes e colocação de parafusos (figura abaixo)?. Considere: edificação do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), classe de umidade 1, carregamento de longa duração e que, em princípio, não se sabe qual a ação variável principal. Procura-se uma força de tração, a direção do esforço normal é a mesma da barra da treliça, que é disposta ao longo do comprimento (direção das fibras). Assim, o problema é de tração paralela as fibras, portanto, pode-se acompanhar o roteiro correspondente. 1 – Obter a força normal de cálculo (Nd), se necessário, traçando o diagrama de força normal. 2 – Obter a área da seção transversal da barra (A). É a incógnita do problema NNN dd h.bA 2mm7200A 120.60A Solução: 3 – Obter a área efetiva (Aef) de madeira, da seção transversal. Para ligação conhecida. mentosenfraquecief AAA , com entalhesfurosmentosenfraqueci AAA No caso, observando-se a figura dada, tem-se: .bAfuro 2 furo cm2,72,1.6A 2 furo mm720A e.bAentalhe 2 entalhe cm8,108,1.6A 2 entalhe mm1080A + )e.(bA .enfraq 2 .enfraq cm0,18)8,12,1.(6A 2 .enfraq mm1800A { Altura utilizada mentosenfraquecief AAA 18007200Aef 2 ef mm5400A 4 – Obter a tensão atuante, de cálculo, máxima (td). ef d td A N MPa 5400 Nd td 5 – Verificar e concluir sobre a seção. d,0t ef d td f A N DICA Quando se carrega incógnita pode-se impor a solução ideal. Para as condições especificadas no enunciado, a resistência da madeira esta tabelada, portanto: Dicotiledônea classe D60 MPa00,21f d,0t Assim: d,0t ef d td f A N 00,21 5400 Nd 5400.00,21Nd N400.113Nd A máxima força normal de cálculo de tração, que poderá ser usada, é Nd = 113.400 N. b) Tração normal às fibras Quando as tensões de tração normal às fibras puderem atingir valores significativos, deverão ser empregados dispositivos que impeçam a ruptura decorrente dessas tensões. A segurança das peças estruturais de madeira, em relação a estados limites últimos, não deve depender diretamente da resistência à tração normal às fibras do material (NBR 7190, da ABNT (2012)). Quando não for possível atender essa recomendação, a verificação de peças tracionadas na direção normal às fibras pode ser feita de maneira semelhante a apresentada para tração paralela, utilizando- se a resistência de cálculo à tração normal às fibras (ft90,d). c) Tração inclinada às fibras Sempre que o ângulo entre o esforço aplicado e a direção das fibras for superior a 6o, segundo a NBR 7190 da ABNT (2012), deve-se considerar a correspondente redução de resistência. Assim, a verificação de peças tracionadas em uma direção inclinada às fibras pode ser feita de maneira semelhante a apresentada para tração paralela, utilizando-se a resistência de cálculo à tração inclinada às fibras (ft,d). A NBR 7190, da ABNT (2012), recomenda a utilização da expressão de Hankinson, apresentada a seguir, para obter a resistência à tração inclinada às fibras. 2 d,90t 2 d,0t d,90td,0t d,t cos.fsen.f f.f f Ângulo entre o esforço aplicado e a direção das fibras. Resistência à tração inclinada Resistência à tração paralela Resistência à tração normal Exercício proposto 18 Obter a seção de uma barra da tesoura de um telhado, construída com madeira de uma folhosa da classe D60. Sabe-se que para facilidade na montagem das ligações, a barra deve ter largura de 6,00 cm e que os esforços característicos na barra (obtidos em Planos Cremona) são os listados abaixo (positivos se de tração, negativos se de compressão). Considere: edificação do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), classe de umidade 1, carregamento de longa duração e que, em princípio, não se sabe qual a ação variável principal. ♦ Peso próprio (telhas, madeiramento e ligações) 30420 N ♦ Peso de água absorvida pelas telhas 3960 N ♦ Vento de pressão à barlavento 17990 N ♦ Vento de pressão à sotavento 15314 N d) Exercícios propostos ♦ Vento de sucção à barlavento -9291 N ♦ Vento de sucção à sotavento -10758 N Note que o carregamento deve ser considerado em conjunto. Exercício proposto 19 Obter a seção de uma barra da tesoura de um telhado, construída com madeira de uma folhosa da classe D60. Sabe-se que para facilidade na montagem das ligações, a barra é composta por duas tábuas (ou sarrafos) de espessura 2,50 cm e afastados entre sí de 6_cm, que os esforços característicos na barra (obtidos em Planos Cremona) são os listados abaixo (positivos se de tração, negativos se de compressão). Considere: edificação do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), classe de umidade 1, carregamento de longa duração e que, em princípio, não se sabe qual a ação variável principal. ♦ Peso próprio (telhas, madeiramento e ligações) 5577 N ♦ Peso de água absorvida pelas telhas 726 N ♦ Vento de pressão à barlavento 4946 N ♦ Vento de pressão à sotavento 2003 N Note que o carregamento deve ser considerado em conjunto. ♦ Vento de sucção à barlavento -1740 N ♦ Vento de sucção à sotavento -3342 N Exercício proposto 18 Obter a seção da barra 1-2 da treliça, esquematizada na figura abaixo, construída com uma folhosa da classe D30. Sabe-se que para facilidade na montagem das ligações, a barra é formada por duas tábuas com 2,5 cm de espessura cada. Considere: edificação do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), classe de umidade 1 e carregamento de longa duração. Exercício proposto 19 Obter a seção da barra 5-7 da treliça esquematizada na figura acima, construída com uma folhosa da classe D30. Sabe-se que para facilidade na montagem das ligações, a largura da barra é de 6,00 cm. Considere: edificação do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), classe de umidade 1 e carregamento de longa duração. Exercício proposto 20 Um carpinteiro (inexperiente) utilizou dois pedaços de tábua, de seção 2,5 cm x 30 cm, com 12 cm cada, como cobrejuntas na emenda (figura abaixo) de uma barra tracionada com 62000 N (valor de cálculo). Sabendo-se que: a madeira é uma folhosa classe D40, a edificação é do tipo 2 (cargas acidentais inferiores a 5 kN/m2), o carregamento é de longa duração e a classe de umidade 1. A emenda resistirá ao esforço? Exercício proposto 21 Na construção de um telhado, percebeu- se que a madeira de uma das barras tinha 10o de inclinação das fibras (defeito). Considerando os dados do “exercício proposto 19”, será necessário substituir a barra?
Compartilhar