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SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

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SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
 O Brasil é signatário de praticamente todos os tratados e convenções mundiais e regionais. A atual Constituição é a primeira que estabelece a prevalência dos direitos humanos como principio do Estado Brasileiro em Relações Internacionais. A dignidade da pessoa humana pode ser considerada como fundamento último do Estado Brasileiro. Assim sendo, para alguns doutrinadores, os direitos humanos são considerados quando positivados pelo Estado, direitos fundamentais. Em virtude da importância e de sua função basilar, surgiram dois tipos de sistemas que objetivam proteger, implementar e fiscalizar os direitos humanos: o Global e o Regional.
 Inicialmente, tem-se que o sistema denominado de Global dos Direitos Humanos corresponde àquele titularizado pela Organização das Nações Unidas. Em 26 de junho de 1945, após tamanhas desgraças ocasionadas pelas duas Guerras Mundiais, foi aprovada a Carta da ONU a qual trata das relações entre os Estados e os mecanismos de convivência harmoniosa deles. 
Não obstante, apesar de sua aprovação em Junho/1945, as Nações Unidas somente existiram efetivamente no plano nacional, em 24 de Outubro de 1945, momento no qual 51 países a reconheceram e ratificaram seus documentos.
Portanto, o objetivo primordial era a criação da Organização das Nações Unidas, regulamentar seu funcionamento e atuação e evitar novas barbáries e desrespeitos aos direitos fundamentais do homem, com base nos princípios da igualdade soberana de todos os membros, boa-fé no cumprimento das obrigações, solução pacífica das controvérsias, abstenção do uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, e não intervenção de assuntos essencialmente internos dos Estados. 
Revela-se que sua elaboração levou em conta o fato de que os direitos humanos são condições imprescindíveis para o bem estar e bom convívio em sociedade, inclusive no âmbito mundial. Com isso, o artigo 103 do referido documento prevê a cláusula de supremacia da Carta da ONU ao informar que em caso de conflito entre obrigações contraídas em função da Carta pelos Estados-Membros das Nações Unidas e àquelas contraídas com base em qualquer outro documento internacional, há prevalência do que dispõe a Lex Maxima da ONU.
Quanto à organização interna da ONU, existe a previsão dos seguintes órgãos no artigo 7º da Carta: Assembleia-Geral, Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela e Secretariado. Destaca-se o Conselho Econômico e Social que trata sobre as implementações das melhorias de condições de vida, redução das desigualdades econômicas e sociais. Todavia, apesar da grande importância da Carta, o referido documento não trazia, de forma efetiva, a proteção dos direitos humanos, em especial, os direitos sociais, econômicos e culturais. Em consequência, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em 10 de dezembro de 1948, com o auxílio e elaboração do Conselho Econômico e Social, foi aprovada e proclamada a Declaração Universal de Direitos Humanos através da Resolução 217(A). Portanto, o Conselho Econômico e Social é o mais importante órgão da ONU quando se trata da proteção dos direitos humanos posto que sua competência é a promoção da cooperação em questões econômicas, sociais e culturais, inclusive os direitos humanos. 
Não obstante, da mesma forma que os demais órgãos da ONU, o referido Conselho atua de forma a emitir Recomendações aos membros das Nações Unidas, à Assembleia Geral e às entidades especializadas interessadas. Ou seja, não há qualquer extranacionalidade/supranacionalidade nos documentos por ele criado, o que afasta sua aplicabilidade direta e imediata nos Estados-Membros.
Destaque-se que dentro do Conselho Econômico e Social da ONU existem diversas comissões que atuam como auxiliadoras no desempenho das funções do órgão. Assim, destaca-se a criação da Comissão de Direitos Humanos da ONU, em 1946, que, em virtude de sua grande atuação, foi convertida no atual Conselho de Direitos Humanos em 15 de Março de 2006 e passou a ser órgão subsidiário da Assembleia Geral. Porém, da mesma forma que os demais, o CDH somente emite recomendações. Ressalta-se ainda que a ONU apresenta, em seu corpo, Organismos Especializados que a auxiliam na persecução de seus objetivos com destaque para os Organismos Internacionais de Cooperação Social (Organização Internacional do Trabalho OIT, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -UNESCO e Organização Mundial da Saúde -OMS) que buscam a cooperação entre os Estados-Membros na implementação dos direitos humanos fundamentais.
Dessa maneira, o sistema global de proteção aos direitos humanos possui os instrumentos positivados para a proteção e efetivação da dignidade da pessoa humana. Não obstante, conforme descrição anterior de alguns órgãos, da sistemática da ONU e dos princípios norteadores, verifica-se que as Nações Unidas não são uma entidade supranacional. Consequentemente, seus atos (decisões, resoluções, recomendações, por exemplo) não possuem a capacidade de integrar imediata e diretamente o ordenamento jurídico dos Estados-Membros nem mesmo revogar as normas pátrias desses Estados que com elas são incompatíveis. Além disso, as decisões da ONU não são capazes de modificar a sentença proferida pelo órgão competente interno do Estado ou mesmo produzir efeitos sem o reconhecimento anterior.
Por conta disso e da existência de características peculiares em cada região do mundo, surgiram os Sistemas de Proteção Regionais. Entretanto, merece destaque que, apesar da ausência de órgão específico, o Sistema Global apresenta instrumentos positivados que defendem a dignidade da pessoa humana. Assim, além dos documentos citados, têm-se ainda os Pactos de Nova York de 1966.
Como mencionado acima, em 10 de Dezembro de 1948, foi proclamada pela Assembleia Geral da ONU em Paris a Declaração Universal dos Direitos do Humanos (DUDH), através da Resolução 217 A (III) da, como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos. 
A partir de sua declaração, começa a se desenvolver o Direito Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de inúmeros instrumentos internacionais de proteção. A Declaração de 1948 confere lastro axiológico e unidade valorativa a este campo do Direito, com ênfase na universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. 
A DUDH comtempla direitos como à vida; liberdade e segurança pessoal; Proibição de escravidão e servidão; proibição de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante; reconhecimento como pessoa; igualdade; proibição arbitrária; justa e pública audiência perante um tribunal independente e imparcial; presunção de inocência; vida privada; liberdade de locomoção; direito de asilo, que não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crime de direito comum; direito a ter uma nacionalidade; contrair matrimônio e fundar uma família; propriedade; liberdade de pensamento, consciência e religião; liberdade de opinião e de expressão; liberdade de reunião e associação pacífica; fazer parte do governo do país; acesso ao serviço público do país; segurança social; trabalho; repouso e lazer; recursos judiciais. 
Cabe aqui destacar seu artigo final (XXX): “Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado â destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.” Esse último dispositivo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, tem a finalidade de reafirmar seus postulados, de afiançar direitos que, no Brasil, via de regra, são constitucionalizados no Parágrafo Segundo do artigo 50 da Constituição Federal. Visa essencialmente rechaçar qualquer pretensão de legitimidade que possa, de algummodo, se contrapor aos princípios e normas consignados naquele diploma internacional, impedindo a interpretação e, em conseqüência, a legalização de quaisquer atos que possam, sob qualquer pretexto, violar tais disposições.
Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais de 360 idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados e democracias recentes. A DUDH, em conjunto com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos.
O processo de universalização dos direitos humanos permitiu a formação de um sistema internacional de proteção destes direitos. Este sistema é integrado por tratados internacionais de proteção que refletem, sobretudo, a consciência ética contemporânea compartilhada pelos Estados, na medida em que invocam o consenso internacional acerca de temas centrais aos direitos humanos, na busca da salvaguarda de parâmetros protetivos mínimos - do “mínimo ético irredutível”. Eles incluem a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras.
SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
Conforme fora explanado anteriormente, apesar da grande importância da Organização das Nações Unidas, ainda era necessária a criação de sistemas regionais de proteção e com especificidade nos direitos humanos posto que os continentes apresentam suas peculiaridades culturais e históricas e a ONU não possui mecanismos eficazes para dirimir os conflitos e descumprimentos. Nesse sentido aponta Rhona K. M. Smith, destacando que: “na medida em que um número menor de Estados está envolvido, o consenso político se torna mais facilitado, seja com relação aos textos convencionais, seja quanto aos mecanismos de monitoramento. Muitas regiões são ainda relativamente homogêneas, com respeito à cultura, à língua e às tradições, o que oferece vantagens”.
Os sistemas global e regional não são dicotômicos, mas complementares. Inspirados pelos valores e princípios da Declaraçåo Universal, compõem o universo instrumental de proteção dos direitos humanos, no plano internacional. Nesta ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos protegidos. Ao adotar o valor da primazia da pessoa humana, estes sistemas se complementam, somando-se ao sistema nacional de proteção, a fim de proporcionar a maior efetividade possível na tutela e promoção de direitos fundamentais. Esta é inclusive a lógica e principiologia próprias do Direito dos Direitos Humanos. 
Consolida-se, assim, a convivência do sistema global da ONU com instrumentos do sistema regional, por sua vez, integrado pelos sistemas Europeu (a organização matriz é o Conselho da Europa (CE), fundado em 1949); Americano (Organização dos Estados Americanos (OEA), fundada em 1948) e Africano (Organização da Unidade Africana (OUA), substituída pela União Africana (UA) em 2002). 
2.1- Europeu:
Em breve exame ao sistema europeu, podemos dizer que, a exemplo da própria disciplina do Direito Internacional dos Direitos Humanos, também ele surgiu, no pós-guerra, como resposta às atrocidades praticadas pelo regime nazifacista, buscando estabelecer padrões mínimos de respeito à dignidade da pessoa humana. 
O principal instrumento de proteção dos direitos humanos no sistema europeu é a Convenção Europeia de Direitos Humanos (1950/1953), que previa, como reflexo do ideário liberal e democrático da época, apenas direitos civis e políticos. Com o advento da Carta Social Europeia (1961/1965), foi incorporado ao sistema um amplo rol de direitos sociais, econômicos e culturais.
Originalmente, a Convenção previu a Comissão e a Corte Europeias como meios de proteção. Com o advento do Protocolo nº 11 (1994/1998), contudo, instituiu-se uma Corte única, denominada Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH), que não é órgão da União Europeia, mas sim o braço judiciário do Conselho da Europa (CE).
O acesso à Corte é franqueado a indivíduos, grupos de indivíduos ou organizações não governamentais na defesa dos direitos humanos. A CEDH possui competência contenciosa e restrita competência consultiva, tendo sua jurisdição sido determinada por cláusula obrigatória. Suas decisões são juridicamente vinculantes e possuem natureza declaratória, podendo determinar compensação financeira à vítima e/ou alterações legislativas no direito interno dos Estados a fim de dar maior proteção aos direitos fundamentais previstos na Convenção. Em caso de descumprimento das decisões da Corte, é possível a expulsão do Estado violador do Conselho da Europa. A responsabilidade política principal pelo monitoramento do cumprimento das decisões da CEDH cabe ao Comitê de Ministros, principal órgão político do Conselho da Europa. 
De maneira geral, porém, não se verificaram, até hoje, grandes problemas no enforcement das decisões da CEDH, o que talvez possa ser explicado pela grande integração dos países europeus e por sua cultura de respeito aos direitos humanos. Nesse sentido Flavia Piovesan aponta, como razão do sucesso do sistema europeu de proteção dos direitos humanos, "uma efetiva cooperação entre Estados, no sentido de fortalecer o sistema regional que confere guarida a estes valores e princípios, impondo censura a Estados violadores". Acrescenta, ainda, que o sistema incide sobre uma região, a Europa, relativamente homogênea, com sólido regime democrático e respeito ao Estado de Direito.
2.2- Americano: 
Com relação ao sistema interamericano, sua análise deve considerar o contexto histórico e as peculiaridades da região, muito bem expostos por Flavia Piovesan: "Trata-se de uma região marcada por elevado grau de exclusão e desigualdade social, ao que se soma o panorama de democracias em fase de consolidação. A região ainda convive com as reminiscências dos regimes ditatoriais passados, com uma cultura de violência e de impunidade, com a baixa densidade de Estados de Direitos e com a frágil e precária tradição de desrespeito aos direitos humanos no âmbito doméstico."
O instrumento central do sistema interamericano é a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969/1978), firmada na cidade de San José da Costa Rica. Inspirada na Convenção Europeia, prevê um amplo catálogo de direitos civis e políticos, contemplando como meios de proteção a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Direitos econômicos, sociais e culturais foram incorporados pelo Protocolo de San Salvador (1988).
A Comissão tem a relevante função de receber petições de vítimas de violações de direitos humanos (indivíduos, grupos de indivíduos ou ONGs), fazendo um juízo de admissibilidade das denúncias. Admitida a petição, são solicitadas informações ao Estado denunciado, após o que, se necessário, faz-se uma investigação dos fatos, seguida de tentativa de conciliação. Não havendo êxito na conciliação, a Comissão elaborará relatório conclusivo, eventualmente fazendo recomendações ao Estado violador, que terá prazo de 3 (três) meses para atendê-las. Expirado esse prazo, o caso será submetido e apreciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
A CIDH possui competência contenciosa e consultiva ampla, mas sua jurisdição é prevista por cláusula facultativa. Suas decisões possuem força jurídica vinculante. Podem estabelecer compensação financeira à vítima, tal como no sistema europeu.
A responsabilidade política pelo monitoramento do cumprimento das decisões da Corte compete à Assembleia Geral e ao Conselho Permanente da Organização dosEstados Americanos (OEA). A Corte encaminha relatório anual de suas atividades à Assembleia Geral da OEA. Mas os órgãos políticos da OEA não têm, como adverte Piovesan, prestado efetivo suporte à Comissão e à Corte.
Diferentemente do sistema europeu, que conta com o Comitê de Ministros do Conselho da Europa, no sistema interamericano a própria CIDH tem desenvolvido mecanismos de supervisão do cumprimento de suas próprias decisões. De acordo com Bicalho, essa legitimidade foi expressamente reconhecida no caso Benavides Cevallos vs. Ecuador (1996), como poder inerente às funções jurisdicionais da Corte.
Trata-se, contudo, de verdadeira "lacuna de coercibilidade" no sistema interamericano, além de consumir considerável quantidade de atenção e energia da Corte. 
2.3- Africano:
 Por último, o sistema africano é considerado o mais incipiente.
Seu tratado básico é a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1981/1986). Nos dizeres de Piovesan, diferentemente das Convenções Europeia e Americana de Direitos Humanos, apegados ao ideário liberal-individualista na formulação de direitos civis e políticos, "a Carta Africana contempla uma agenda de direitos humanos própria, que congrega, ao lado de direitos civis e políticos, os direitos sociais, econômicos, culturais e ambientais". Prevê, também, os direitos dos povos e deveres dos indivíduos em relação à família, à comunidade e ao Estado.
No sistema africano cumpre papel de destaque a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, com funções e procedimentos semelhantes aos da Comissão Interamericana, possuindo atribuição consultiva e contenciosa. Somente a Comissão Africana, os Estados-partes e organizações intergovernamentais têm acesso direto à Corte Africana, criada por meio do Protocolo à Carta Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos no Estabelecimento da Corte Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos (1998/2004). O acesso das ONGs e de indivíduos, porém, dependerá de declaração expressa do Estado-parte para tal finalidade.
A competência da Corte é consultiva e contenciosa ampla, primando sempre pela solução amigável dos conflitos. Cabe ao Conselho Executivo e à Assembleia da União Africana (UA), órgãos políticos do organismo regional, a responsabilidade pelo monitoramento do cumprimento das decisões da Corte Africana. Esta encaminhará à Assembleia, anualmente, relatório indicando os Estados que descumpriram suas decisões.
Piovesan observa que, assim como o sistema interamericano e diversamente do sistema europeu, o sistema africano não conta com a retaguarda da consistente e sólida rede de cooperação entre Estados na afirmação dos direitos humanos, tampouco conta com elevado grau de respeito aos direitos humanos no plano interno dos Estados.
Vistas as principais semelhanças e diferenças entre os sistemas regionais, podemos concluir que o europeu é, por razões históricas, o mais eficiente, isto é, aquele que logra maior grau de proteção dos direitos humanos e encontra menos resistência na implementação das decisões de seu órgão jurisdicional.
2.4- Possível sistema islâmico/árabe:
Também não se pode deixar de comentar acerca do sistema de Proteção aos Direitos Humanos no mundo árabe e os atos que tem sido feitos para o surgimento deste sistema. A Declaração Islâmica Universal dos Direitos Humanos foi proclamada em 19 de Setembro de 1981, pelo Conselho Islâmico em Paris, trazendo em seu teor características bastantes peculiares adaptativas em relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de 1948, havendo ambos os textos, em uma análise superficial muitas semelhanças, mas em uma análise mais aprofundada percebe-se que se trata de uma adaptação da declaração original voltada aos princípios da fé-islâmica, invocados constantemente ao longo da declaração.
Entretando, Como diz Sidney Guerra em seu livro “Direito Internacional dos Direitos Humanos”, o sistema árabe de proteção aos direitos humanos ainda não passa de uma “grande aspiração” e isto se torna bastante evidente ao longo do estudo sobre este sistema, em função das inúmeras divergências interpretativas sobre as normas de direitos humanos islâmicos. A raiz divina dos direitos humanos islâmicos tem sido o principal ponto de controvérsia interpretativa, considerando que no mundo árabe, nem todos os países enfrentam a mesma realidade social e econômica, o que dificulta bastante o consenso sobre a interpretação das normas islâmicas de direitos humanos.
O desejo de fazer valer os direitos humanos islâmicos pelas camadas mais pobres da sociedade, fez com que a Primavera Árabe trouxesse consigo a possibilidade de instituição de novas constituições baseadas com importantes instrumentos assecuratórios destes direitos, tendência que deverá prosseguir, com o tempo, caso sejam bem sucedidos estes novos regimes, por todo o Mundo Árabe, promovendo um cenário de unidade que sempre aspirou à região. Desta forma, torna-se possível acreditar que, em médio prazo, após a consolidação destes regimes, podemos imaginar a possibilidade do surgimento efetivo de um Sistema Árabe de Proteção dos Direitos Humanos envolvendo estes países, graças à unidade histórica, cultural e ideológica que envolverá estes países, se assemelhando bastante com o que ocorre com a América Latina, onde os países signatários do Pacto de San José da Costa Rica e que aceitam a jurisdição da Corte Internacional de Direitos Humanos possuem forte semelhança histórica, cultural e ideológica entre si, pois em sua maioria são países que conviveram com regimes militares ditatoriais, possuem uma raiz latina e convivem com um cenário de desigualdade social elevado, que tornam a América Latina bem peculiar em relação ao restante do globo, ocorrendo o mesmo com esta porção do Mundo Árabe, onde a Primavera Árabe triunfou, instituindo regimes que aspiram à constituição de um estado democrático, islâmico e protetor dos direitos humanos, como aspiram às camadas marginalizadas da população destes países, que mantem o sonho histórico de não alinhar-se aos interesses ocidentais, mas rejeitam as ideias antigas que culminaram com a opressão da população durante décadas.
Reflexos no Brasil:
Com o fim das ditaduras militares da América Latina e Caribe, o Sistema
Interamericano de Direitos Humanos e Comissão Interamericana de Direitos Humanos ganharam força e maior representatividade. Passando receber relatórios e petições de estados membros, e principalmente petições individuais e de organizações da sociedade civil.
 O Brasil já respondeu e continua respondendo por denúncias praticadas de violações de direitos humanos, e em muitos casos sofremos condenações: A Comissão responsabilizou o Brasil nos casos do assassinato de 111 detentos no presidio Carandiru em São Paulo em 1992. A comissão solicitou que o Estado compensasse as famílias das vitimas e tomasse medidas para prevenir novas ocorrências.
 O caso Candelária do assassinato de oito crianças e adolescentes nas proximidades da Igreja Candelária RJ em 1993. A denúncia apontou para autoria de policiais militares.
 O caso Maria da Penha 1998, por motivação da demora da justiça penal brasileira  em julgar a tentativa de homicídio intentado contra Maria da Penha, por seu ex esposo. A Comissão solicitou ao Estado, que completasse rápidos e efetivamente o processamento penal, investigasse as irregularidades do processo ou a irregularidades que levaram a demora injustificada, e indenizasse a vítima.   
 Peticionários capixabas apresentaram um relatório a CIDH com graves denuncias de violações de direitos de crianças e adolescentes em instituições do Estado. Acatado o relatório e CIDH procedeu ao encaminhamento de Medidas Cautelares que até hoje foi reiterada pela 7ªvez, sem uma solução satisfatória.
 Internacionalmente é o Brasil que responde, mas as violações foram praticadas no âmbito do poder executivo estadual, o que não isenta os demais poderes; Judiciário e Legislativo.Considerações finais:
Conforme dito por Cançado Trindade:
“Graças aos esforços e atuação dos órgãos internacionais de supervisão dos direitos humanos nas últimas décadas tem-se efetivamente logrado salvar inúmeras vidas, reparar muitos dos danos denunciados e comprovados, por fim a práticas administrativas violatórias dos direitos garantidos, alterar medidas legislativas impugnadas, adotar programas educativos e outras medidas positivas por parte dos Estados. Mas nem por isso têm cessado as ameaças aos direitos humanos; cabe, assim, continuar a lutar para que se assegure a proteção do ser humano em todas e quaisquer circunstâncias. Neste propósito, vêm-se impulsionando em nossos dias as convergências entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Refugiados. 
Assim, ante as novas ameaças aos direitos humanos em distintas partes do mundo, já não se pode invocar a vacatio legis levando à total falta de proteção de tantas vítimas inocentes. Com efeito, a doutrina e a prática contemporâneas admitem a aplicação simultânea ou concomitante das normas de proteção das referidas três vertentes, em benefício do ser humano, destinatário das mesmas. 
	Há que manter em mente o amplo alcance das obrigações convencionais de proteção, que vinculam não só os governos, mas os Estados (todos os seus poderes, órgãos e agentes); a responsabilidade internacional destes últimos sobrevive assim aos governos, e se transfere a governos sucessivos, precisamente por se tratar de responsabilidade do Estado. 
Assim, ao Poder Executivo incumbe tomar todas as medidas (administrativas e outras) a seu alcance para dar fiel cumprimento às obrigações convencionais; ao Poder Legislativo incumbe tomar todas as medidas cabíveis para harmonizar o direito interno com a normativa de proteção dos tratados de direitos humanos, dando-lhes eficácia; e ao Poder Judiciário incumbe aplicar efetivamente as normas de tais tratados no plano do direito interno, e assegurar que sejam respeitadas. O descumprimento das obrigações convencionais engaja prontamente a responsabilidade internacional do Estado, por ato ou omissão, seja do Poder Executivo, seja do Legislativo, seja do Judiciário.
As iniciativas no plano internacional não podem se dissociar da adoção e do aperfeiçoamento das medidas nacionais de implementação, porquanto destas últimas, depende em grande parte a evolução da própria proteção internacional dos direitos humanos. No presente domínio de proteção se verifica uma interação dinâmica e constante entre o direito internacional e o direito interno, em benefício das pessoas protegidas. Há que ter presente que os próprios tratados de direitos humanos significativamente consagram o critério da primazia da norma mais favorável aos seres humanos protegidos (seja ela de origem internacional ou interna). Mas a ênfase na premência das medidas nacionais de implementação para o futuro da proteção internacional não pode deixar de reconhecer que os padrões internacionais de proteção do ser humano não podem ser rebaixados; devem eles, ao contrário, ser preservados e elevados.
A referida interação entre os ordenamentos jurídicos internacional e interno, no presente domínio de proteção, desvenda duas facetas, a saber, a "internacionalização" do direito público interno (ou, mais especificamente, do Direito Constitucional), e a "constitucionalização" do Direito Internacional. O primeiro aspecto tem sido objeto de atenção da doutrina há várias décadas.
Este aspecto é complementado pela interação, em nível internacional, nos planos hermenêutico e operacional, dos instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos inter se. A segunda faceta, a da "constitucionalização" do Direito Internacional, igualmente importante, tem sido bem menos examinada na doutrina jurídica até o presente, e requer hoje maior sistematização. Se, neste início do século XXI, representa ainda um ideal a inspirar-nos, dele nos aproximaremos na medida em que identificarmos as questões que dizem respeito à humanidade como um todo, entendida esta como sujeito do Direito Internacional. Há que ter sempre presente ambas facetas, essencialmente complementares, ou seja, a da "constitucionalização" do Direito Internacional, a acompanhar pari passua da "internacionalização" do direito público interno. 
As jurisdições internacional e nacional são co- partícipes no labor de assegurar a plena vigência dos direitos humanos, e, a fortiori, em matéria de proteção e garantias judiciais, o direito interno dos Estados se enriquecerá na medida em que incorporar os padrões de proteção requeridos pelos tratados de direitos humanos.”
Referências bibliográficas:
- PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 14. ed., rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2013.
- ESSE, Luis Gustavo. Aspectos gerais sobre o sistema árabe de proteção aos direitos humanos. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 116, set 2013. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13606>. Acesso em jun 2016.
- CIPRIANO, Perly. Sistema global e regional de direitos humanos. In: Século Diário, 18/08/2015. 
Disponível em: http://seculodiario.com.br/24333/14/sistema-global-e-regional-de-direitos-humanos
- DE MELO, Brielly Santana. Os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos. 
Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=d1f2767f75c7a38b
- TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Desafios e conquistas do Direito Internacional dos Direitos Humanos no início do Século XXI. Cachapuz Medeiros (Org.) Desafios do Direito Internacional Contemporâneo. Brasília: Funag, 2007. 
- PIOVESAN, Flavia. Brasil e os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos. University of Oxford: Working Paper.
Disponível em: http://www.area-studies.ox.ac.uk/sites/sias/files/documents/Piovesan77WP2006.pdf

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