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Ciência Política Bloco 2

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Ciência Política e Teoria do Estado
Prof. M.Sc. Fernando-Rogério Jardim
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Filosofia política em Aristóteles
O contexto histórico de Aristóteles;
A herança do pensamento platônico;
A recusa à teorização de governos ideais;
A política como busca pelo bem comum;
O homem racional como animal político;
Governos das leis e governos dos homens;
A relação entre a sociedade e os governos;
A tipologia da autoridade política baseada no objetivo ao qual ela estaria voltada;
A tipologia dos governos virtuosos e corruptos com base no número de soberanos;
As relações estreitas entre a ética (prática privada) e a política (atividades públicas).
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Aristóteles (384-322 a.C)
Contexto histórico do pensador
384 a.C. Aristóteles nasce em Estagira na Macedônia.
Ingressa na Academia criada por Platão, tornando-se seu principal discípulo, assistente e pretenso sucessor;
347 a.C. Com a morte de Platão, Aristóteles candidata-se a substituí-lo na Academia, mas é recusado por ser estrangeiro;
Decepcionado, abandona a Academia e isola-se na Ásia Menor;
É convidado por Felipe II, imperador da Macedônia, para ser preceptor (professor particular) de Alexandre, seu filho;
340-335 a.C. Alexandre conquista as frágeis cidades gregas;
Aristóteles aproveita e retorna a Atenas, criando o Liceu;
323 a.C. Após a morte de Alexandre e expulsão dos invasores, os sentimentos xenófobos forçam Aristóteles a fugir de Atenas.
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Aristóteles / Macedônia
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Os erros dos outros autores
Ao começar a tratar do tema da política, Aristóteles afirma que os escritores políticos cometem dois erros mais comuns:
Definir governos perfeitos e ignorar totalmente sua possibilidade real entre os homens.
Definir os governos mais comuns e ignorar totalmente a existência dos demais.
Para o autor, como os governos são formados por homens, acabam se tornando contextuais e dependentes da natureza humana. (172§3)
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Questão prática
O governo mais adequado será o mais:
prático;
compatível;
simples.
É mais fácil reformar que instituir um novo Estado.
Para reformar ou instituir, o filósofo precisa conhecer as variações e combinações possíveis de governos.
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Formas de governo
Aristóteles também definia a existência de governos virtuosos e governos corruptos.
Nos governos virtuosos, os detentores do poder o exercem em benefício do bem comum.
Nos governos corruptos, os detentores do poder o exercem em benefício de si mesmos.
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Formas de governo
Aristóteles também definia as diferentes constituições de governo conforme o número de indivíduos que exerciam a soberania.
A realeza (ou tirania) = um só indivíduo é soberano.
Aristocracia (ou oligarquia) = a minoria é soberana.
República (ou democracia) = a maioria é soberana.
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Formas de governo
GOVERNOS
Virtuosos
bem geral
Corruptos
benefício próprio
Um só
Realeza
(nobreza)
Tirania
(paixões)
A minoria
Aristocracia
(virtude)
Oligarquia
(riqueza)
A maioria
República
(dever)
Democracia
(liberdade)
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O melhor possível é o menos ruim
O pior de todos os governos corruptos (a tirania) é um desvio do melhor de todos os governos virtuosos (a realeza).
O melhor dos governos corruptos (democracia) é um desvio do pior dos governos virtuosos (república). (173§1)
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O meio-termo
Na impossibilidade teórica do absoluto bem e na impossibilidade prática do absoluto mal, a saída proposta por Aristóteles é a busca do meio-terno (equilíbrio) na política.
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O melhor possível é o menos ruim
Platão chegou à mesma conclusão de Aristóteles, mas por uma perspectiva diferente:
No melhor dos governos (realeza) o rei é filósofo.
No pior dos governos (tirania) as paixões dominam.
A democracia é o centro da escala da decadência.
Platão chega a isso através duma escala de decadência de governos.
A diferença é que:
Aristóteles chega a isso por meio dum esquema de pares de opostos.
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A relação governos virtuosos e sociedade
	 Realeza.
Na Aristocracia. quem governa são as leis.
	 República.
As leis são constantes e estáveis;
São a expressão da vontade geral;
Até os soberanos se submetem a ela;
Temos então governos virtuosos.
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A relação governos corruptos e sociedade
	 Tirania.
Na Oligarquia. quem governa são os homens.
	 Democracia.
As leis são variáveis e inseguras;
São expressão de interesses e caprichos;
Os governantes estão acima das leis;
Temos então governos corruptos.
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Corruptos e corruptores
Conforme Aristóteles, nos governos virtuosos, soberanos e cidadãos são guiados pela virtude. Já quando a virtude perde seu valor, surge:
O adulador > que corrompe os reis > criando tiranos > que se impõem pelo arbítrio.
O mercenário > que corrompe os guerreiros > criando oligarcas > que governam por interesse.
O demagogo > que corrompe o povo > criando massas incultas > que imperam por decretos. (181§4-6;182)
O melhor governo é o governo das leis. (182§7;187§3)
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Por que há diferentes governos
Há diferentes governos porque as cidades são compostas por diferentes partes:
Os mais ricos, a classe média, os mais pobres.
Os trabalhadores, agricultores, os comerciantes.
Os governos são diferentes porque as cidades são dotadas duma diferença social intrínseca. (175§3)
Os governos, ao serem instituídos ou reformados, penderão para esta ou aquela classe social.
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A relação governo-sociedade
A diversidade interna entre os pobres e interna entre os ricos, assim como a predominância dos primeiros ou dos segundos produzirá as diferenças e variações entre democracia e oligarquia.
 Democrático quando os soberanos são pobres e livres.
O governo é
 Oligárquico quando os soberanos são poucos e ricos.
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Relação entre renda e poder
No início da república ateniense:
Só os mais ricos tinham tempo de se dedicar à política.
Restava aos pobres seguirem as leis criadas pelos ricos:
porque precisavam trabalhar;
porque não tinham tempo livre;
por isso não atuavam na política.
Resultado: a república era governada pelas leis.
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Relação entre renda e poder
Porém, chegando a riqueza às cidades:
Mesmo os pobres passam a ter conforto e tempo livre.
Os ricos passaram a encarar a política como um ônus:
ela atrapalha a condução dos negócios;
ela invade e perturba o tempo de lazer;
ela é vista como obrigação a ser delegada.
Resultado: a democracia é governada pelos homens. (183§3)
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Relação entre ética e política
É t i c a na esfera privada.
 é a condução da vida virtuosa
Política na esfera pública.
Nos governos virtuosos, há a coincidência entre ética e política, o homem bom (privado) é o bom cidadão (público):
porque são os melhores homens da vida privada que são recrutados a participar da vida pública na política.
porque, nessa época, a própria vida privada e a vida pública eram indiferenciadas e se complementavam.
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E depois?
A prosperidade econômica das cidades da Grécia Antiga atirou os homens à busca de riquezas e ao cuido dos negócios privados.
Os cidadãos retiraram-se da esfera pública (política) para a esfera privada (negócios).
Com isso, o homem privado vai se separando e se definindo em oposição ao homem público, em extinção: e a ética se separa da política.
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O melhor governo possível
Na ética, a virtude é a mediania, o equilíbrio entre dois extremos viciosos.
A ausência de virtude é má.
O excesso de virtude é mau.
Exemplos:
A prudência é uma virtude:
A ausência de prudência é a temeridade;
O excesso de prudência é a negligência.
A coragem é uma virtude:
A ausência de coragem é a pusilanimidade;
O excesso de coragem é a irresponsabilidade.
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O melhor governo possível
A prudência e a coragem são virtudes porque são a mediania, o equilíbrio entre dois extremos
que são igualmente maus.
Da mesma forma que na ética, as virtudes políticas devem procurar o equilíbrio, porque a política é reflexo dos homens.
A excelência é impossível;
A mediania é sempre possível;
O melhor possível é o menos pior. (p191§2)
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O equilíbrio encontrado na sociedade
Assim como os homens e os valores, as sociedades também são compostas por extremos (ricos e pobres) e duma mediania ou equilíbrio que é a classe média.
As sociedades com predomínio da classe média tendem à maior estabilidade e moderação por mediar as paixões políticas extremas: dos ricos e dos pobres.
A mediação das paixões sociais anula as virtudes e os defeitos extremos;
A estabilidade das sociedades permite o predomínio da razão na política. (p191§3§4)
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Classes sociais na Grécia Antiga
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Os malefícios da desigualdade
A presença de ricos e de pobres faz a cidade se dividir entre “senhores” e “escravos”;
Uns são inflados de desprezo; outros são cheios de inveja ou ódio; ambos conspiram;
Disso pode seguir:
Uma oligarquia desenfreada;
Uma tirania total e oportunista;
Uma democracia desabusada.
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Elogios à classe média
Confirme Aristóteles, para que governos sejam estáveis:
Os cidadãos devem ter riqueza média e o bastante à dignidade;
Devem ser evitadas a extrema pobreza e a extrema riqueza;
Os melhores legisladores eram provenientes da classes média. (p193-194§8§9§10)
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Como e por que os governos mudam
Há na cidade duas facções políticas:
Aquela que deseja conservar a constituição;
Aquela de deseja modificar a constituição.
Para haver estabilidade na constituição, é necessário que a primeira parte predomine à segunda parte, embora os primeiros possam não ser melhores que os segundos em virtudes.
A virtude não está na força nem no número;
Nem sempre a estabilidade é preferível;
A classe média pode estabilizar os interesses.
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Participação facultativa ou obrigatória
Nas oligarquias, ilude-se os pobres tornando a participação nas assembléias facultativa, mas punindo os ricos que delas se furtam.
Isso não incentiva os pobres, e obriga os ricos à política;
Nas democracias, ilude-se os ricos oferecendo pagamento aos pobres nas assembléias, mas não punindo os ricos que delas se ausentam.
Isso incentiva os pobres, e não obriga os ricos à política. (p196§6 p197§8)
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Comparativo entre Platão e Aristóteles
Aristóteles:
Propunha governos reformados, adaptados e possíveis;
Os melhores governos eram os das leis;
A democracia não era tão negativa;
Adotava uma postura objetiva e distanciada;
Postulava a ocorrência ciclos nos governos.
Platão:
Teorizava sobre governos instituídos, ideais e perfeitos;
Os melhores governos eram os dos homens;
Era bastante hostil à democracia;
Adotava uma postura subjetiva e militante;
Os governos estavam fadados à decadência.

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