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Capítulo 29 Direito do Idoso

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29. DIREITO DO IDOSO
29. DIREITO DO IDOSO
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29. DIREITO DO IDOSO
SUMÁRIO: 29.1 Tentativa conceitual – 29.2 Doutrina da proteção
integral – 29.3 Estatuto do Idoso – 29.4 Idoso na justiça – 29.5
Alimentos – 29.6 Direito de casar – 29.7 Alienação parental – 29.8
Tutela e curatela – Leitura complementar.
Referências legais: CF 230; CC 1.641 II e 1.736 II; L 10.741/03
(Estatuto do Idoso – EI); L 8.842/94 (Política Nacional do Idoso); CP
244; L 11.340/06 (Lei Maria da Penha – LMP) 13.
29.1 Tentativa conceitual
A palavra velho é considerada politicamente incorreta e dispõe de
conteúdo ofensivo. Daí o uso do vocábulo idoso que, no entanto,
também guarda conotação pejorativa. Por isso, há uma série de
expressões que tentam suavizar a identificação das pessoas que
somente deixaram de ter plena capacidade competitiva na sociedade:
terceira idade, melhor idade, adulto maduro, adulto maior etc. Até
parece que tal vai fazer alguns anos desaparecerem. Mas é quase
como a expressão usada com relação aos automóveis. Não mais se
usa carro usado e sim seminovo, ainda que o carro seja o mesmo!
Sempre foi alvo de questionamentos com que idade, afinal, alguém
se torna um idoso. Com o advento do Estatuto do Idoso esta dúvida
se dissipa, pois é reconhecido como idoso a pessoa com idade igual
ou superior a 60 anos (EI 1.º). Aliás, cabe lembrar que o
envelhecimento tornou-se um direito personalíssimo! (EI 8.º).
29.2 Doutrina da proteção integral
A Declaração Universal dos Direitos do Homem (XXV 1) proclama
o direito à segurança na velhice. A Constituição Federal, modo
expresso, veda discriminação em razão da idade (CF 3.º IV). Atribui à
família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar, ao idoso,
participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar,
bem como garantindo o direito à vida (CF 230). Não se refere, tal
preceito, apenas à assistência material ou econômica, mas também às
necessidades afetivas e psíquicas dos mais velhos.1
Assegurada assistência social à velhice, independentemente de
contribuição securitária, é garantido ao idoso um salário mínimo de
benefício mensal, quando comprovado não possuir ele ou sua família
condições de prover à própria manutenção (CF 203 V). Determinada a
adoção de políticas de amparo aos idosos, devem os programas ser
executados, preferentemente, em seus lares (CF 230 § 1.º). Também
é deferido, aos maiores de 65 anos, transporte gratuito nos coletivos
urbanos.
A doutrina da proteção integral ao idoso, de nítido caráter
assistencialista, é mais uma tentativa do Estado de desonerar-se de
seu dever de proteger seus cidadãos. Como adverte Alice Birchal,
outra não pode ser a postura estatal, pois o acanhado e lastimável
sistema de previdência social, completamente desestruturado e
injusto, não permite solução diferente, senão repassar à família e à
sociedade o encargo de cuidar dos idosos.2
29.3 Estatuto do Idoso
Para cumprir os desígnios do comando constitucional, o Estatuto
do Idoso, em 118 artigos, consagra uma série infindável de
prerrogativas e direitos às pessoas de mais de 60 anos, ou seja, aos
idosos. Porém, os maiores de 65 anos são merecedores de cuidados
ainda mais significativos.
O Estatuto se constitui em um microssistema e tem o mérito de
reconhecer as necessidades especiais dos mais velhos, estipulando
obrigações ao Estado. Deve ser considerado como um verdadeiro
divisor de águas na proteção do idoso. Não se trata de um conjunto de
regras de caráter programático, pois são normas definidoras de
direitos e garantias fundamentais que têm aplicação imediata (CF 5.º §
1.º).
Crianças e idosos encontram-se em polos opostos do ciclo
existencial, mas ambos, ainda que por motivos diversos, são
merecedores de tutela diferenciada. Da mesma forma como existe lei
protetiva da criança e do adolescente, também há lei para o idoso.
Ambos, avós e netos, recebem proteção diferenciada. E essa proteção
não dispensa criterioso exame da situação contextual em que se
inserem seus protagonistas.3 Os respectivos estatutos (ECA 98 e EI
43) identificam as mesmas situações que colocam crianças e idosos
em situação de risco: I – ação ou omissão da sociedade ou do
Estado; II – falta, omissão ou abuso da família, pais, responsáveis,
curador ou entidade de atendimento; e III – sua conduta ou condição
pessoal. Assim, como a criança, o idoso também é protegido
constitucionalmente.
Além de serem indicados os direitos dos idosos, o Estatuto
identifica os obrigados a dar-lhes efetividade (EI 3.º caput): É
obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Somente cabe
questionar se a comunidade, a sociedade, o poder público e até
mesmo a família estão prontos para assumir essa responsabilidade.
Mas não é só. Além de elencar as garantias de prioridade, também
o Estatuto veda qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade e opressão (EI 4.º). Gera a responsabilidade de pessoas
físicas e jurídicas que não observarem as regras de proteção ao idoso
(EI 5.º). Fora isso, são assegurados alguns benefícios de ordem
econômica: prioridade para aquisição de moradia própria (EI 38);
descontos em atividades culturais e de lazer (EI 23); bem como
isenção e redução de tarifas nos transportes coletivos públicos (EI 39).
Igualmente, é garantido direito à educação, cultura e lazer (EI 20);
direito à profissionalização (EI 28) e ao trabalho (EI 26). Quanto à
saúde, é deferida atenção integral (EI 15 a 19).
A Constituição prioriza o acolhimento do idoso em seu próprio lar
(CF 230 § 1.º), sendo-lhe assegurado o direito à moradia digna (EI
37), no seio de sua família natural ou substituta. Para identificar esses
conceitos é necessário recorrer ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, que define família natural como sendo a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes (ECA 25). Traz o
conceito de família extensa ou ampliada (ECA 25 parágrafo único). Já
a família substituta nasce da situação de guarda, tutela ou adoção
(ECA 28). Encontrando-se o idoso em situação de risco social, cabe
seu acolhimento por adulto ou núcleo familiar (EI 36), instituto que
equivale à guarda.4 Em vez de tutela, cabe a curatela, não havendo
qualquer impedimento para que ocorra a adoção, instituto que se
aplica ao idoso.5 Assim, está garantido à pessoa idosa o direito à
convivência familiar e comunitária, mesma prerrogativa de que
gozam crianças e adolescentes (CF 227 e ECA 19 ss.).
Nos programas habitacionais, o idoso goza de prioridade na
aquisição de imóvel para moradia própria, sendo-lhe reservados 3%
das unidades habitacionais, que devem preferentemente situar-se no
pavimento térreo (EI 38).
29.4 Idoso na justiça
O conteúdo abrangente do princípio da proteção integral, que
impõe à família garantir, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos do idoso, confere legitimidade a todos os parentes para
representá-lo e defendê-lo em juízo.
O Estatuto do Idoso sugere a criação de varas especializadas e
exclusivas ao idoso (EI 70), sendo garantida prioridade na
tramitação dos processos em que figure como interveniente (EI 71).
Tal preferência também é assegurada pelo estatuto processual (CPC
1.211-A a 1.211-C). Além do idoso, também são beneficiados os
portadores de doenças graves, na tramitação dos procedimentos
judiciais e extrajudiciais, em todas as instâncias. Mesmo com o
falecimento da parte, prossegue a prioridade em favor do cônjuge ou
companheiro sobrevivente.
Visando a facilitar acesso à justiça, é assegurado ao idoso foro
privilegiado – direito de demandar no foro do seu domicílio (EI 80).
Como se trata de competência territorial, inconvenientea definição da
competência como absoluta. Deve ser permitido ao idoso abrir mão
desta prerrogativa. A expressão legal não consegue afetar a natureza
da regra de competência, sob pena de sua intenção protetora ter
efeito contrário, podendo desatender aos interesses do autor. Nada
pode impedir que alguém, por ter mais de 60 anos, não tenha o direito
de propor a ação no domicílio do réu.
O Código de Processo Civil empresta duplo efeito aos recursos:
devolutivo e suspensivo (CPC 520). Mas, em se tratando de ação
envolvendo interesse de idoso, pode o juiz agregar efeito suspensivo
aos recursos que não o tenham (EI 85). Trata-se de faculdade
concedida ao juiz e não direito assegurado à parte de impedir o
cumprimento da sentença antes mesmo de seu trânsito em julgado.
Como existe a responsabilização pessoal de quem não observar as
normas de prevenção (EI 5.º), o eventual retardamento no julgamento
de uma ação pode gerar a responsabilidade pessoal do juiz.
É outorgada, ao Ministério Público, legitimidade para atuar como
substituto processual (EI 74 III) sempre que o idoso se encontrar em
situação de risco (EI 43), sendo obrigatória a sua intervenção em
todos os processos, sob pena de nulidade absoluta (EI 77). Ainda
aqui não há como afastar a tendência generalizada da jurisprudência
de não anular processos quando não evidenciado prejuízo à parte que
a lei protege.
O Estatuto tipifica um rol de delitos contra o idoso, inclusive o
crime de discriminação (EI 96). As ações foram deslocadas aos
Juizados Especiais Criminais (L 9.099/95). Nos crimes de ação
penal privada, ou pública condicionada à representação, cabe a
transação penal (LJE 76) bem como a composição de danos civis
(LJE 74).
Com relação à competência, para julgar os crimes cuja pena
máxima não exceda dois anos (EI 96, 97) – a não ser que o resultado
seja a morte (EI 99, caput, 100, 101, 103, 104 e 109) –, por força do
art. 61 da L 9.099/95, tratam-se, efetivamente, de infrações de menor
potencial ofensivo, a serem conhecidas e julgadas pelo Juizado
Especial Criminal.
Quanto aos crimes cuja pena máxima for superior a dois e não
exceda a quatro anos (EI 94), o procedimento é o da Lei dos
Juizados Especiais. São eles: omissão com resultado morte (EI 97,
parágrafo único, segunda parte) e os previstos nos arts. 98, 99 § 1.º,
102, 105, 106 e 108 do Estatuto do Idoso.
Apesar da grande discussão a respeito desse dispositivo (EI 94),
atualmente prevalece o entendimento no sentido de que somente o
rito da Lei do Juizado Especial foi emprestado a estas infrações. Ou
seja, não houve alteração do conceito de infração de menor potencial
ofensivo, nem mesmo nos crimes cuja pena máxima exceda a dois,
mas não ultrapasse quatro anos. Também não houve o deslocamento
da competência para os Juizados Especiais Criminais, devendo os
crimes ser julgados no juízo comum. Do mesmo modo, não são
devidos os benefícios da transação penal e da composição dos danos
(LJE 74 e 76), sob pena de subversão da mens legis, que é,
inegavelmente, a punição mais rigorosa e célere daqueles que
praticam, contra idosos, os crimes tipificados no Estatuto do Idoso.
Por fim, os crimes cuja pena exceda quatro anos, o juízo
competente também é o comum, bem como o procedimento a ser
seguido é o comum ordinário (CPP 394 § 1.º I). Quanto à ação penal,
sem dúvida, é sempre pública incondicionada (EI 95).
A Lei Maria da Penha (L 11.340/06) determina a aplicação
subsidiária da lei específica relativa ao idoso (LMP 13). Assim, quando
a vítima de violência doméstica contar com mais de 60 anos, não há
como aplicar a Lei dos Juizados Especiais. Prevalece sempre a Lei
Maria da Penha, em razão de seu caráter ainda mais protetivo.
Nesses casos, ainda que a pena máxima cominada ao delito seja
inferior a dois anos, jamais se aplica a LJE, nem seu procedimento,
nem seus benefícios.
29.5 Alimentos
Significativas as novidades introduzidas pelo Estatuto do Idoso no
que diz com os alimentos. Na ausência de condições do idoso bem
como de seus familiares de lhe proverem o sustento, a obrigação é
imposta ao poder público, no âmbito da assistência social (CF 203 e
EI 14). Inclusive o direito a alimentos é reconhecido como direito
social. (CF 6.º). Trata-se do dever de amparo, nada mais do que a
obrigação do Estado de lhe prestar alimentos. Aliás, o valor dos
alimentos – pelo menos a quem tem mais de 65 anos – está
previamente definido: um salário mínimo mensal (CF 203 V e EI 34).
A obrigação alimentar estipulada, mediante acordo referendado
pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, constitui título
executivo (EI 13), a autorizar o uso da via de executória. A
explicitação vem em boa hora. Apesar da clareza da norma
processual (CPC 585 II), resiste a jurisprudência, em outorgar aos
títulos assim constituídos força executiva para a cobrança pelo rito da
prisão (CPC 733). Essa postura é absolutamente contrária à lei, que
não faz qualquer ressalva quanto ao procedimento de cobrança.
Tratando-se de obrigação alimentar, constituída por título executivo
extrajudicial, possível o uso de qualquer dos meios executórios (CPC
732 a 735), sem nenhuma distinção quanto à natureza do título.
Portanto, é possível fazer uso da execução pelo rito da coação
pessoal (CPC 733) quando a obrigação alimentar decorrer de acordo
referendado pelo Ministério Público, Defensoria Pública e advogados
das partes.
A mais significativa alteração introduzida pela lei foi explicitar que a
obrigação de alimentos não é somente solidária, é conjunta,
podendo o credor optar entre os prestadores (EI 12). O idoso pode
acionar, indistintamente, seus parentes, ou seja, qualquer de seus
filhos, netos, irmãos, e até os sobrinhos. O limite é o parentesco
colateral de quarto grau. Apesar das críticas que vem recebendo, a
assertiva é de todo salutar, solvendo antiga controvérsia doutrinária.
Sempre prevaleceu o entendimento de que a obrigação alimentar
entre parentes é subsidiária, divisível e não solidária.6 Ainda que seja
encargo que tenha origem na solidariedade familiar (CC 1.695),
enorme é a dificuldade de considerar que a obrigação tem igual
natureza. O fato de estar condicionada à possibilidade de cada
prestador – o que decorre do princípio da proporcionalidade – não
muda a sua natureza. O que estabelece o Código Civil é a
subsidiariedade da obrigação concorrente (CC 1.696 e 1.697). Em
sede de alimentos ao idoso, como o credor pode eleger um dos
obrigados, o escolhido não pode chamar a juízo os demais obrigados
(CC 1.698).
Assegurada agora, de modo inquestionável, a solidariedade com
relação ao idoso, não há como deixar de invocar a mesma
prerrogativa, ao menos em face da obrigação alimentar a favor de
crianças e adolescentes. Emprestar tratamento distinto a idosos e
jovens, que gozam de proteção especial, principalmente com
referência ao mesmo direito – direito à subsistência –, é
absolutamente inconstitucional.
Passando a obrigação de alimentos a ser regida pela regra da
solidariedade (CC 275), necessário reconhecer que surge o direito de
regresso entre os alimentantes (CC 283). Por exemplo, acionado
somente um dos filhos, pode este buscar o reembolso dos demais
filhos pelas respectivas quotas-partes. Tal direito, no entanto, está
condicionado à possibilidade de cada um dos devedores solidários.
Ainda que a solidariedade ocorra entre todos os parentes, cabe
invocar a regra da proximidade (CC 1.696) e só admitir o exercício do
direito de regresso contra os parentes do mesmo grau de parentesco.
Assim, acionado um filho, pode ele exercer o direito de regresso
contra os seus irmãos, mas não, por exemplo, contra os netos do
autor. Desse modo, é de admitir-se a solidariedade no âmbito de cada
grau de parentesco para o efeito do exercício do direito ao reembolso.
29.6 Direito de casar
Ainda que sejam assegurados todos os direitos e garantias ao
idoso, mantém-se contra os mesmosinjustificável discriminação.
Quem pretender casar após completar 70 anos tem subtraída a
plenitude de sua capacidade, pois não pode eleger o regime de bens
que lhe aprouver. Absurdamente é imposto o regime da separação
legal, que gera a total incomunicabilidade para o passado e para o
futuro (CC 1.641 II). Em se tratando de norma protetiva, o mais correto
seria estabelecer, de forma obrigatória, o regime da comunhão parcial,
que é o vigorante quando os nubentes nada convencionam por meio
de pacto antenupcial. Impor o regime da separação obrigatória,
inclusive com referência ao patrimônio adquirido após o matrimônio,
dá ensejo à ocorrência de perversas injustiças.
A limitação à autonomia da vontade por implemento de
determinada idade, além de odiosa, é inconstitucional. A restrição à
escolha do regime de bens vem sendo reconhecida como clara afronta
ao cânone constitucional de respeito à dignidade, além de
desrespeitar os princípios da igualdade e da liberdade, consagrados
como direitos humanos fundamentais. Em face do direito à igualdade
e à liberdade, ninguém pode ser discriminado em função do seu sexo
ou da sua idade, como se fossem causas naturais de incapacidade
civil.7
Ao se falar no estado da pessoa, toda cautela é pouca. A plena
capacidade é adquirida quando do implemento da maioridade e só
pode ser afastada em situações extremas e através do processo
judicial de interdição (CPC 1.177 a 1.186). É indispensável não só a
realização de perícia, mas também é obrigatório que o interditando
seja interrogado pelo magistrado. Raros processos são revestidos de
tantos requisitos formais. Tal rigorismo denota o extremo cuidado do
legislador quando trata da capacidade da pessoa.
Diante do casamento, no entanto, tudo isso é olvidado. Quando
alguém, após atingir a idade de 70 anos, quiser casar, ainda que não
esteja impedido de fazê-lo, não pode dispor sobre questões
patrimoniais e escolher livremente o regime de bens.
A situação de absoluta injustiça levou o STF, já no ano de 1964, a
editar a Súmula 377,8 simplesmente alterando o regime imposto pela
lei. Ao ser autorizada a comunhão dos bens adquiridos durante o
casamento, acabou o Poder Judiciário tornando o dispositivo legal
letra morta, transformando o regime da separação total de bens no
regime da comunhão parcial. A reedição da mesma norma no atual
Código Civil, sem atentar à orientação da jurisprudência consolidada
na súmula, não significa que ela tenha sido revogada. Ainda que
algumas vozes tentem sustentar sua derrogação, a jurisprudência
continua a invocá-la em face da enorme dificuldade de conviver com o
enriquecimento sem causa.
Como é vedada a livre escolha do regime de bens quando do
casamento do idoso, não incide a mesma vedação com referência a
sua alteração do regime (CC 1.639 § 2.º), pelo fato de os cônjuges
terem atingido a idade de 70 anos já na vigência do casamento.
De qualquer modo, se restrição há no casamento, tal não ocorre na
união estável. Como não há qualquer previsão, às claras que os
conviventes “idosos” poderiam firmar contrato de convivência
elegendo o regime de bens que lhes aprouvesse. No entanto, a
jurisprudência vem impondo o regime da separação de bens também
na união estável.
29.7 Alienação parental
Idade avançada não implica em incapacidade ou deficiência. No
entanto, é inegável que traz limitações físicas e psíquicas relevantes.
Quando ocorre interferência indevida na livre consciência da pessoa
idosa, justifica-se a intervenção estatal. É necessário coibir que
alguém próximo ao idoso, que exerce sobre ele algum tipo de
influência, aproveite-se de sua fragilidade e passe a programá-lo para
que venha a ignorar ou até mesmo odiar seus familiares.
Este processo de desqualificação é geralmente praticado quando
alguém constitui nova família. O cônjuge, o companheiro ou os filhos
desta relação, que convivem com o idoso, tentam desqualificar os
filhos ou parentes do relacionamento anterior, evitando a convivência
entre eles. Com o passar do tempo, a tendência é de que o próprio
idoso acabe aderindo ao processo de desmoralização e descrédito
dos familiares e rejeite qualquer tipo de contato.
Trata-se do fenômeno chamado de alienação parental. Ainda que
tais práticas sejam objeto de lei especial frente a crianças e
adolescentes (Lei 12.318/10), flagrada a tentativa de construir
injustificável rejeição a alguém com quem o idoso tinha alguma
afinidade ou afeição, cabe a aplicação das mesmas sanções.
Possível, assim, buscar judicialmente o direito de convivência e,
inclusive, a penalização do alienador. Para a fixação do direito de
visitas não é necessária a prova da incapacidade do idoso ou o
decreto de sua interdição. A comprovação de sua vulnerabilidade e
do uso dessas práticas é o que basta.
Tanto levadas a efeito em relação a crianças e adolescentes, como
com idosos, configura severa violação ao direito fundamental à
convivência familiar, prejudicando a subsistência dos vínculos afetivos,
a evidenciar verdadeiro abuso moral.
Em ambas as circunstâncias, a atuação maliciosa do agente
alienador é facilitada em razão da condição de extrema
vulnerabilidade do outro, seja por ser criança, seja por ser idoso. A
alienação é normalmente provocada por alguém por quem a criança, o
adolescente ou o idoso nutre extrema confiança, como um familiar, o
cuidador ou pessoa que exerce algum tipo de influência em sua vida.
Com o propósito de provocar o afastamento do idoso do núcleo
familiar, muitas vezes são utilizados falsos argumentos, como o de
que ele está sendo abandonado ou enganado pela família. Como diz
Cláudia Barbedo, as manipulações podem vir de ordens diversas, seja
pela imputação falsa de crime a um dos familiares, seja pela
desmoralização deles. No primeiro caso, o cuidador implanta na
memória do idoso que determinado familiar ou familiares é ladrão e,
por isso, irá, inevitavelmente, roubar o patrimônio dele, acaso
existente e, no segundo caso, faz campanha desmoralizando os
outros familiares no sentido de cessar o interesse do idoso por eles e,
com isso, afastá-los da convivência em família.9
29.8 Tutela e curatela
É assegurado ao idoso um “privilégio”: pode escusar-se do
exercício da tutela e da curatela. Ainda que os ascendentes tenham
preferência para serem nomeados tutores (CC 1.731 I), quem tiver
mais de 60 anos pode declinar da nomeação (CC 1.736 II).
Igualmente, se estiver exercendo a tutoria, no prazo de 10 dias, a
contar da data em que atingir tal idade, pode eximir-se do encargo
(CC 1.738).
Quanto à curatela, na ausência de cônjuge ou herdeiro, estão
contemplados no rol legal os ascendentes para o desempenho desse
encargo (CC 1.775 § 1.º). No entanto, ao idoso aproveita o direito de
escusa, pois se aplicam à curatela as disposições concernentes à
tutela (CC 1.774).
Leitura complementar
BARLETTA, Fabiana Rodrigues. A pessoa idosa e seu direito
prioritário à saúde: apontamentos a partir do princípio do melhor
interesse do idoso. Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. Belo
Horizonte: IBDFAM, 2014, v. 6. nov./dez. p. 73-86.
BORGES, Alexandre Walmott; SANTOS, Eduardo Rodrigues dos;
MARINHO, Sergio Augusto. O estatuto do idoso – análise sobre a
autonomia dos direitos fundamentais da lei em relação aos direitos
fundamentais constitucionais. In: CORDEIRO, Carlos José; GOMES,
Josiane, Araújo (coords.). Temas contemporâneos de Direito das
Famílias. São Paulo: Editora Pillares, 2013. p. 265-286.
BRAGA, Pérola Melissa V. Direitos do idoso. São Paulo: Quartier
Latin, 2004.
CARVALHO JR., Pedro Lino. Da solidariedade da obrigação
alimentar em favor do idoso. Revista Brasileira de Direito de Família,
Porto Alegre, IBDFAM/Síntese, n. 25, p. 42-57, ago.-set. 2004.
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Pessoa idosa no direito de
família. In: CORDEIRO, Carlos José; GOMES, Josiane, Araújo
(coords.). Temas contemporâneos de Direito das Famílias.São Paulo:
Editora Pillares, 2013. p. 251-263.
______; CASTRO, Diana Loureiro. A releitura do instituto da
capacidade à luz da autonomia do idoso nas relações existenciais.
Revista IBDFAM: Famílias e Sucessões. Belo Horizonte: IBDFAM,
2014, v. 6. nov./dez. p. 35-60.
GODINHO, Robson Renault. A proteção processual dos direitos
dos idosos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
INDALENCIO, Maristela Nascimento. O termo de acordo
extrajudicial de alimentos em prol da pessoa idosa, seu referendo pelo
Ministério Público e aspectos de sua executividade: a possibilidade da
prisão civil. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões,
Porto Alegre, IBDFAM/Magister, n. 05, p. 51-62, ago.-set. 2008.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários ao Estatuto do Idoso.
3. ed. São Paulo: LTr, 2012.
OLIVEIRA, Katia Cristine Santos de. O papel do idoso no contexto
da família contemporânea. In:
PEREIRA, Tânia da Silva; OLIVEIRA, Guilherme de. Cuidado e
vulnerabilidades. São Paulo: Atlas, 2009.
1.
Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Das relações de parentesco, 127.
2.
Alice de Souza Birchal, A relação processual dos avós no direito de família:…, 54.
3.
Maria Aracy Menezes da Costa, Os limites da obrigação alimentar dos avós, 233.
4.
Oswaldo Peregrina Rodrigues, A pessoa idosa e sua convivência em família, 409.
5.
Oswaldo Peregrina Rodrigues, Estatuto do Idoso:…, 778.
6.
Yussef Said Cahali, Dos alimentos, 129.
7.
Rolf Madaleno, Do regime de bens entre os cônjuges, 223.
8.
Súmula 377 do STF: No regime de separação legal de bens comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento.
9.
Cláudia Gay Barbedo, A possibilidade de ser estendida a…, 153.

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