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O TEMPO E O ESPAÇO ESCOLARES: ROMPENDO PARADIGMAS Adriana Cristina G. ROCHA UNINTER Resumo Este trabalho é uma reflexão de como o tempo e o espaço escolares têm sido modificados ao longo dos tempos e, pouco a pouco, têm sido organizados de forma mais moderna e de como os dirigentes procuram organizar de modo mais estimulante a aprendizagem, trazendo aos alunos um convívio mais eficaz com os conteúdos ensinados, fixando de maneira mais duradouro o aprendizado adquirido. Projetos e ações fora da sala de aula têm estimulado o ensino e revelado mais eficiência, agregando professores em torno de ideias interligadas e revelando que nada é solto, descontextualizado. Através dos dados colhidos em uma entrevista a uma diretora e em outra publicada na revista “Pensar a Prática”, de 2000, o trabalho propõe pensarmos sobre a prática docente em relação ao tempo e espaço da escola. Palavras-chave: Espaço. Tempo. Educação. Esforços significativos têm sido feitos para que construamos uma escola nova, que atenda a modernidade dos tempos, que leve em consideração a estrutura 2 humana apregoada pela psicologia e outras ciências que estudam, cada vez mais, o homem e seu meio. Avanços foram alcançados em escolas que abriram espaço para o novo e ousaram sair da estrutura engessada, dos modelos inflexíveis e irredutíveis que percebiam o aluno como mero vaso vazio disposto em uma sala/cela a ser preenchido pelos conhecimentos escolhidos e ditados pelos professores e para quem ninguém ousou olhar e perguntar: quais suas necessidades? Felizmente, o tempo e o espaço escolar têm sido olhados e revisados, levando em consideração as necessidades destes alunos e os novos conceitos educacionais trazidos por grandes profissionais da educação que despenderam esforços prodigiosos para que façamos da escola um lugar de aprendizagens realmente significativas para a vida. Uma de nossas moradas, a escola deixa transparecer, em suas atitudes de acolhimento e planejamento dos espaços e do tempo, o ambiente educacional e a vida que ali se estabelece e se desenvolve. Identidade de um grupo, ela representa um conjunto cultural que identifica um público e por isso os responsáveis por este espaço devem preocupar-se tanto com sua estrutura física quanto com sua organização. O início desta preocupação é levar em consideração que a escola, em todo o seu espaço físico, é também um espaço pedagógico. Pensar em espaço pedagógico pressupõe que nele há processos de ensino- aprendizagem, interações que se encerram em desdobramentos educacionais e que não se pode ter o pensamento simplista de que aproveitar esses espaços é perda de tempo, ou pior ainda, que nada se faz nas escolas que “inventam” aulas fora do “cercadinho” chamado sala de aula. A estrutura curricular da escola é dividida em anos letivos, fragmentados em séries ou ciclos, com seus bimestres e suas horas-aula. Daí muitos diretores, orientadores educacionais e professores terem a ideia de que, para cumprir esses ritos, é preciso otimizar o tempo, planejar bem cada aula, não desviando dos 3 objetivos e focos determinados e não “gastando tempo” saindo da sala de aula, e com isso, infelizmente, se apegando em demasia às burocracias, se esquecendo de teóricos importantes como Paulo Freire, que elucidou que educar é um processo dialogal, de permutas constantes e esse diálogo acontece entre o conteúdo formal (currículo) e os conteúdos individuais (as próprias vivências e a história pessoal). A escola, em sua organização de tempo e espaço, incluindo seus integrantes, sejam direção, supervisão, corpo docente e demais funcionários, precisa entender que encarcerar uma criança numa sala de aula é limitar o seu voo em busca de conhecimento e diminuir a capacidade dessa criança em ser agente de sua educação e de criar possibilidades infinitas de aprendizagem Numa lembrança feliz, numa observação em uma escola que estive, uma criança de seis anos, que havia saído de sala para ir ao banheiro, ao voltar, encontrou uma joaninha perto da porta da sala. A escola tem uma área verde em frente às salas de aula, com algumas plantinhas e flores, o que propicia a vida de alguns insetos. Ao deparar com a joaninha, o aluno ficou ali uns segundos tentando que a joaninha subisse em sua mão. A professora, vendo que o menino não entrava, chegou à porta e pediu que ele entrasse. Ele disse a ela que tinha uma joaninha ali, e, ainda bem, ela era uma professora observadora das situações de ensino- aprendizagem, ela pediu a ele para que a colocasse na grama e entrasse, pois ela ia falar um pouco sobre os insetos. Ela aproveitou a curiosidade, própria das crianças, e inseriu o tema Os seres Vivos que faz parte do ensino de Ciências. No outro dia, essa professora trouxe várias imagens de insetos e levou a turma para “passear” na escola para observação, com a finalidade de encontrarem outros insetos. A organização do espaço escolar está vinculada ao tempo previsto nos currículos e nos calendários escolares e, portanto, tempo e espaço estão na base da organização escolar e são elementos construtores das rotinas escolares e o que presenciamos, em maior escala, é a preocupação de que os conteúdos sejam ministrados dentro dos prazos estipulados por eles e que, ao final do ano letivo, os professores tenham esgotado todos os temas propostos para aquele ano. E, infelizmente, temos visto também, muito corriqueiramente, que os alunos não saem com o domínio dos conteúdos ensinados e entram no próximo ciclo ou série com 4 enormes dificuldades e defasagens. Definitivamente, a forma rígida de como a escola tem sido estruturada ainda na atualidade não condiz com a condição psicológica humana de que cada um tem o seu tempo e a real aprendizagem só acontece quando esse tempo é respeitado como individual e convergido em vivência do que foi ensinado. Ser conteudista, não levando em consideração a realidade, é transformar o processo de aprender em rotineiras e repetitivas atividades escolarizadas. Nas entrevistas que nos servem de embasamento para esse trabalho, podemos constatar que, enfaticamente, na primeira entrevista, a Prof.ª Dr.ª Acácia Zeneida Kuenzer, defende o redimensionamento do tempo, espaço e organização pedagógica da escola: O tempo, o espaço e a organização pedagógica, no meu entendimento, devem ser redimensionados, no exercício da autonomia da escola para construir seu projeto político-pedagógico, [...]. E, graças às demandas por flexibilidade, do ponto de vista do novo regime de acumulação, a atual legislação permite múltiplas modalidades de organização, flexibilizando tempos e espaços. O que precisamos é aprofundar esta discussão, a partir das características e necessidades da comunidade, dos alunos e da escola, para construir coletivamente estas novas formas, uma vez que nos acostumamos à comodidade de pensar rigidamente em disciplinas, conteúdos, formas de trabalho e de avaliação, [...]. (Disponível em http://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fef/article/view/25/2654 Acessado em 02/04/2016 às 20:37). É interessante observamos, na exposição da professora doutora Acácia Z. Kuenzer, que ela menciona o fator comodidade. Acostumarmos com o que já vem sendo praticado há anos parece ser um mal que precisamos interromper. Na entrevista colhida por mim, pude verificar que a diretora expõe, falando da demora das escolas em se adaptar às novas tendências, que: Normalmente, o desconhecido dá um pouco de medo e toda mudança requer comprometimento e necessidade de ajustamento constante e, não estando preparada para a adaptação às novas tendências pedagógicas, preferemse agarrar ao “velho e bom magistério, por motivo de segurança: “conheço e sei lidar com ele.” (Entrevista pessoal à Diretora Lucimar de 5 Almeida Simão – Escola Municipal Jair Noronha – Conselheiro Lafaiete – MG. Em anexo) O esforço de se modernizar e atender a essa nova pedagogia é, felizmente, observada na escola em questão que tem um processo de flexibilização, permitindo que professores executem projetos interdisciplinares, que atuem em espaços físicos diferenciados para atender certos objetivos de aprendizagem e que usem o espaço da sala de aula de forma criativa e diferenciada. Porém, ainda vemos a manutenção das salas com carteiras enfileiradas, em dar conta do livro didático no ano letivo, a tímida interação dos alunos nas aulas, que ainda tem as características de serem, quase completamente, expositivas e as verificações de aprendizagem ainda são os tradicionais exercícios e as provas, antecedidas por um questionário que direciona o caminho dos estudos que os alunos devem fazer para fazer uma boa avaliação. Reconhecemos que esse modelo de escola onde se prioriza que o tempo e o espaço sejam controlados e os alunos são ensinados para serem utilizados nas necessidades de mãos de obras que o mercado cria deturpou o sentido filosófico da educação em favor do modelo industrial e dos interesses de classes. Atualmente, voltamos a nos questionar sobre o tempo natural. E juntamente com essa pergunta temos visto pesquisadores e educadores buscando transformar os paradigmas cartesianos de controle nas escolas, que usam como embasamento para tais procedimentos uma idealizada ordem, em preocupações mais focadas na realização humana pessoal, Pedro Laudinor Goergen, professor e doutor em Filosofia, num artigo disponível em http://www.foruns.unicamp.br/magis/evento5/Texto%20PEDRO.doc, intitulado Espaço e tempo na escola: constatações e expectativas, à página 13, faz menção a esse modelo de controle, um quase adestramento: [...] a escola controla, separa, analisa, diferencia e regula os alunos que são configurados, adaptados, enquadrados. O educando não é estimulado a conquistar o seu espaço, a usar o seu tempo, mas a aceitar uma ordem já estabelecida que ela não sabe por quem nem por que foi instituído. Ele não é convocado a desenvolver-se, a expandir-se, mas a aceitar e respeitar o controle, a vigilância dos seus gestos, do seu corpo, de sua mente. O espaço e o tempo são separados e divididos não apenas para otimizar a 6 aprendizagem e menos ainda para libertar, agregar e solidarizar, mas para ‘vigiar e punir’ (Foucault), para segregar e submeter, para transformá-los em células solitárias, acuadas e fracas. Disponível em http://www.foruns.unicamp.br/magis/evento5/Texto%20PEDRO.doc, acesso em 03/04/2016 às 13:52) Ainda de formas isoladas, tomamos conhecimentos de escolas que ousam flexibilizar os currículos e estão interessadas em proporcionar um ensino que leve em conta as diversas realidades vividas pelos alunos em suas particularidades. Buscamos, portanto, nos dias atuais, a educação que liberta e agrega e uma organização de tempo e espaço que atenta essa nova perspectiva, esse novo olhar. A própria legislação na questão curricular e pedagógica é mais aberta aos novos conceitos e as tecnologias vêm apoiando, sobremaneira, modelos educacionais mais interativos. A tarefa que fica para todos os educadores e envolvidos na construção de uma educação que realmente faça diferença na vida dos alunos é coragem de romper modelos tradicionalmente instituídos e encontrar saídas para essa escola que não satisfaz o aluno, que não garante a fixação dos conteúdos e que tem se desgastado em “apagar incêndios disciplinares” todos os dias. Se não há envolvimento efetivo no processo ensino-aprendizagem, não há transformação nos seres humanos. E educação é movimento transformador. 7 Entrevistada: Lucimar de Almeida Simão Cargo/Escola: Diretora da Escola Municipal Jair Noronha - Conselheiro Lafaiete - MG Data: 01/04/2016 1 – A escola que a senhora atua como diretora atende aos modelos modernos de organização do espaço, abrindo-se para a produção do conhecimento de uma forma mais flexível, verificando as necessidades dos alunos e de suas realidades sociais? ( ) Discordo plenamente ( ) Discordo ( ) Concordo parcialmente (X) Concordo ( ) Concordo plenamente 2 – A senhora acredita que os espaços da escola podem ser aproveitados para os projetos pedagógicos, tornando-os assim em espaços pedagógicos propícios ao processo ensino-aprendizagem? ( ) Discordo plenamente ( ) Discordo ( ) Concordo parcialmente (X) Concordo ( ) Concordo plenamente 3 – O modelo formal de organização das salas em carteiras enfileiradas e da organização dos currículos em disciplinas que não se integram, fazendo com que os 8 professores trabalhem isoladamente, preocupados em atender os conteúdos é um modelo, em maior parte, que se vê na escola em que atua? ( ) Discordo plenamente (X) Discordo ( ) Concordo parcialmente ( ) Concordo ( ) Concordo plenamente 4 – Em sua opinião, qual o motivo de as escolas demorarem a se adaptar às novas tendências pedagógicas e ainda retratarem um magistério tradicional e rígido, mesmo observando o avanço rápido do mundo, principalmente no uso das tecnologias? LUCIMAR – Normalmente o desconhecimento dá um pouco de medo e toda mudança requer comprometimento e necessidade de ajustamento constante, e não estando preparada para adaptação às novas tendências pedagógicas, preferem se agarrar ao “velho e bom magistério”, por motivo de segurança “conheço e sei lidar com ele”. 5 – O trabalho com projetos tem sido uma experiência enriquecedora na sua avaliação? Ou um modismo que pouco acrescenta ao processo ensino- aprendizagem e ainda atrapalha o andamento curricular e o cumprimento do tempo destinado aos conteúdos? LUCIMAR – Sim. Acrescenta muito ao processo ensino-aprendizagem. 9 Mapa conceitual QUE QUANDO PROPICIA ONDE PODE HAVER NÃO DEVE TRANSFORMADA EM REVELA A ESCOLA “ENCARCERAR” EM SALA O PROCESSO DIALOGAL RIGIDEZ ESTRUTURAL IDENTIDADE DE UM GRUPO ESPAÇO PEDAGÓGICO TEMPO CURRICULAR MODERNIZANDO O EVITANDO A DE SIGNIFICAÇÃO ESPAÇO FÍSICO FLEXIBLIDADE INTERAÇÕES EDUCACIONAIS EXPLORA SEUS MÚLTIPOS ESPAÇOS ENGESSA A APRENDIZAGEM ONDE SE VIGIA CONTROLA POR ISSO CONSIDERA A COMUNIDADE ONDE ESTÁ INSERIDA A PARTILHA DE SABERES 10 QUE QUANDO PROPICIA ONDE PODE HAVER NÃO DEVE TRANSFORMADA EM REVELA A ESCOLA “ENCARCERAR” EM SALA O PROCESSO DIALOGAL RIGIDEZ ESTRUTURAL IDENTIDADE DE UM GRUPO ESPAÇO PEDAGÓGICO TEMPO CURRICULAR MODERNIZANDO O EVITANDO A DE SIGNIFICAÇÃO ESPAÇO FÍSICO FLEXIBLIDADE INTERAÇÕES EDUCACIONAIS EXPLORA SEUS MÚLTIPOS ESPAÇOS ENGESSA A APRENDIZAGEM ONDE SE VIGIA CONTROLA POR ISSO CONSIDERA A COMUNIDADE ONDE ESTÁ INSERIDA A PARTILHA DE SABERES ESPAÇO ESCOLAR Adriana Cristina G. ROCHA UNINTER Pôster 11 Referências http://gestaoescolar.abril.com.br/espaco/espaco-fisico-escola-espaco-pedagogico- 630910.shtml - Acesso em 01/04/2016 às 18:43http://www.ufjf.br/espacoeducacao/files/2009/11/cc07_1.pdf - Acesso em 02/04/2016 às 13:19 http://educacaointegral.org.br/glossario/ensino-aprendizagem/ - Acesso em 02/04/2016 às 13:47 http://www.dicio.com.br/intercambio/ - Acesso em 02/04/2016 às 14:08. http://michaelis.uol.com.br/ - Acessado em 02/04/2016 às 16:45 http://revistas.ufg.emnuvens.com.br/fef/article/view/25/265 - Acesso em 02/04/2016 às 20:37 https://dicionariodoaurelio.com/ - Acesso em 03/04/2016 às 10:02 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982011000100011 - Acesso em 03/04/2016 às 11:03 http://www.escavador.com/sobre/7346139/pedro-laudinor-goergen - Acesso em 03/04/2016 às 13:25 http://www.foruns.unicamp.br/magis/evento5/Texto%20PEDRO.doc - Acesso em 03/04/2016 às 13:52
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