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APOSTILA CND - Curso Normal à Distância (21) 3347-3030 / 2446-0502 Didática 2 SUMÁRIO Introdução................................................................................................................... 3 1 – Didáticas algumas definições............................................................................... 4 2 – Didática e Fracasso Escolar................................................................................ 8 3 – Didática e o processo de ensino-aprendizagem............................................... 11 4 – Escola, para quê?............................................................................................... 14 5 – Sala de aula: lugar de convergências e divergências....................................... 18 6 – O ensino e aprendizagem na vida humana........................................................ 26 7 – Planejamento da ação educativa...................................................................... 30 8 – Plano: materialização do planejamento............................................................ 33 9 – Saberes e fazeres docentes necessários a uma prática reflexiva................... 39 Referências Bibliográficas........................................................................................ 51 3 INTRODUÇÃO Caro aluno e futuro professor, Nesta nossa jornada de construção do conhecimento profissional é necessário que tenhamos subsídios teóricos e práticos que orientem a nossa caminhada. Este material foi escrito no sentido de levar a pensar/repensar, construir/reconstruir, aprender/desaprender e desatar as amarras que, por tanto tempo, nos impuseram a ponto de sermos apontados como os principais culpados pelo insucesso escolar dos nossos alunos. Não podemos esquecer que a aprendizagem é uma relação que se estabelece entre sujeitos que aprendem/ensinam e, que pela busca do conhecimento deverão estabelecer um vínculo positivo para que essa aprendizagem efetivamente ocorra. Ao longo do nosso material de Didática traremos conceitos e informações que permitirão refletir sobre: a nossa prática educacional, o processo ensino-aprendizagem, o papel da escola frente a novas demandas, a sala de aula: espaço de diversidades, o planejamento da ação educativa os saberes e fazeres docentes necessários a uma prática reflexiva. Para melhor prepará-lo o material constante desta apostila será dividido ao longo do curso, de forma a ajudá-lo a embasar conhecimentos. Esperamos que ao final dos módulos do CND, aliado aos conhecimentos adquiridos ao longo da sua vida, a sua sensibilidade e comprometimento com a educação você possa encontrar um caminho que lhe permita tornar-se um Professor/Educador: "equilibrista de emoções e um mediador de sonhos." 4 1 – DIDÁTICA: ALGUMAS DEFINIÇÕES A preocupação com ensinar vem de longa data. No entanto Comênio, filósofo tcheco, é considerado o pai da Didática Moderna. Ele escreveu em 1649, a sua primeira obra intitulada “Didactica Magna”, livro que marca o início da sistematização da Pedagogia e da Didática no Ocidente. Nessa obra ele define a Didática como sendo a arte de ensinar tudo a todos. Ao final desta unidade você deverá ser capaz de : Elaborar seu próprio conceito de didática. Entender as posições de diferentes pensadores da educação sobre esse tema. Valorizar a didática como a base do seu trabalho tornando a prática educativa mais eficiente e minimizando os problemas encontrados. Para que possamos definir o que é Didática e compreendermos a sua contribuição para a nossa formação enquanto professores que seremos ou somos, leiamos algumas informações . Libâneo(2002) nos traz o conceito de Didática, segundo a visão de vários autores. Dentre esses se destacam: Karl Stocker, alemão (1964): Compreendemos por doutrina geral do ensino, estruturação didática ou didática, a teoria da instrução e do ensino escolar de toda natureza em todos os níveis. (...) trata das questões gerais de todo ensino, comuns a todas as matérias e procura expor os princípios e postulados que se 5 apresentam em todas as disciplinas. (...) O processo didático (...) tem seu centro no encontro formativo do aluno com a matéria de ensino. Renzo Titone, italiano (1974): A Didática é a ciência que tem por objeto especifico e formal a direção do processo de ensinar, tendo em vista fins imediatos e remotos de eficiência instrutiva e formativa. Klimgberg, alemão (1978): A Didática é uma disciplina cientifica da Pedagogia que se refere às relações regulares entre o ato de ensinar e a aprendizagem. Danilov, russo (1978): A Didática estuda o processo de ensino, em cujo envolvimento ocorre a assimilação dos conhecimentos sistematizados, o domínio dos procedimentos para aplicar tais conhecimentos na prática, e o desenvolvimento das forças cognoscitivas do educando. Vicente Benedito, espanhol (1987): A didática é - está a caminho de ser - uma ciência e tecnologia que se constrói a partir da teoria e da prática, em ambientes organizados de relação e comunicação intencional, nos quais se desenvolvem processos de ensino e aprendizagem para a formação do aluno. Contreras Domingo, espanhol (1991): A Didática é a disciplina que explica os processos de ensino-aprendizagem para propor sua realização conseqüente com as finalidades educativas. Para Candau (1998) A Didática é uma reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica Dê a sua contribuição preenchendo as linhas abaixo com a definição de Didática encontrada em um dicionário a que você tenha acesso. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Agora releia estas informações e elabore a sua própria definição: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 6 ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Assim como você, também relemos as informações anteriores e de acordo com a nossa experiência, o conceito apresentado por Candau é o que mais se aproxima da nossa maneira de abordar o tema. Leiamos então, novamente, o conceito apresentado por Candau: Reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica. Agora vamos entender esses aspectos. Para que seja possível uma reflexão que traga melhoria na prática pedagógica, a Didática busca conhecimento nas diversas áreas do saber: Filosofia, Sociologia, Psicologia, Antropologia e outros. Esses conhecimentos permitirão por exemplo,, entender o desenvolvimento humano nos seus aspectos social, histórico, cognitivo e emocional. Pense agora um pouco: Qual a importância de nós professores termos conhecimentos, acerca dos processos de desenvolvimento, dos nossos alunos? O que isto tem a ver com a nossa prática diária? A que tipos de questionamentos esses saberes nos remetem? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Desde a sua origem a Didática vem sistematizando os conhecimentos ora para potencializar o processo ensino aprendizagem ora para buscar alternativas outras que permitam que este ocorra apesar das dificuldades surgidas. Então já foi possível ter uma idéia inicial da contribuição da Didática no processo ensino - aprendizagem?7 “Deve-se começar a formação muito cedo, pois não se deve passar a vida a aprender, mas a fazer”. Comênio, Pai da Didática Moderna. A formação profissional para o magistério requer, assim, uma sólida formação teórica e prática. Muitas pessoas acreditam que o desempenho satisfatório teórico- prático do professor na sala de aula depende de vocação natural ou somente da experiência prática, descartando-se a teoria. É verdade que muitos professores manifestam especial tendência e gosto pela profissão, assim como se sabe que mais tempo de experiência ajuda no desempenho profissional. Entretanto, o domínio das bases teórico-científicas e técnicas, e sua articulação com as exigências concretas do ensino, permitem maior segurança profissional, de modo que o docente ganhe base para pensar sua prática e aprimore sempre mais a quantidade do seu trabalho. Entre os conteúdos básicos da Didática figuram os objetivos e tarefas do ensino na nossa sociedade. A Didática se baseia em uma concepção de homem e sociedade e, portanto, subordina-se a propósitos sociais, políticos e pedagógicos para a educação escolar a serem estabelecidos em função da realidade social brasileira. O processo de ensino é uma atividade conjunta de professores e alunos, organizado sob a direção do professor, com a finalidade de prover as condições e meios pelos quais os alunos assimilem ativamente conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Este é o objetivo de estudo da Didática. Os elementos constitutivos da Didática, o seu desenvolvimento histórico, as características do LEITURA COMPLEMENTAR 8 processo de ensino e aprendizagem, e a atividade de estudo como condição do desenvolvimento intelectual. Os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino especialmente a aula, constituem o objeto da mediação escolar. LIBÂNEO (1998, p.29) 2 – DIDÁTICA X FRACASSO ESCOLAR Ainda hoje, quando se pensa em fracasso escolar, atribui-se à falta de preparo dos Educadores e à precariedade socioeconômica da população. Há ainda uma corrente que confere grande parte desse insucesso a problemas individuais dos alunos. Qual o seu posicionamento com relação a isso? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Ao final desta unidade você deverá ser capaz de : Identificar as principais causas apontadas para o fracasso escolar e aplicar e reconhecer a importância da didática para melhorar a qualidade do ensino. Entender que só uma ação conjunta do governo, da escola, dos meios de comunicação e da família, pode atenuar as situações em que ocorre o fracasso escolar. Estamos no século XXI, já não dá mais para continuarmos atribuindo a esse ou a aquele a culpa pelo fracasso escolar. O que podemos então fazer? Melhorar continuamente a nossa prática diária, onde quer que estejamos e com os recursos que possamos contar. A Didática, desta forma, nos servirá como ferramenta de trabalho, disponibilizadora de variados recursos que possibilitam a interação professor-aluno, com objetivo de transformar informação em conhecimento. 9 Após mais esta conversa surge a pergunta que não quer calar: De que modo a Didática pode contribuir para a melhoria da qualidade de ensino? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ __________________________________________________________________ De quem é a bola?* De quem é a bola? É de Adão e Eva? É do governo? É do pai... Ou é da mãe? É da escola? Afinal de quem é a bola? Adão e Eva... No princípio do mundo, Adão e Eva cometeram a primeira falta contra Deus. Os homens passaram atribuir todos os maus do mundo (as doenças, as crises, os sofrimentos) a falta cometida por Adão e Eva. Acontece que as crises foram aumentando, o mundo evoluindo e o homem conscientizando-se de que a bola não era de Adão e Eva. Jogou-se a bola para o governo. Governo... O governo passou a ser responsável por todos os problemas, por todos os males que envolvem a humanidade. O povo passa fome por causa do governo... A educação não vai bem por causa do governo responsabilizando-o dos pequenos aos grandes problemas. Justifica-se, então, o governo remetendo a bola ao sistema. Sistema... Quem é o “Senhor Sistema”? O que ele fez? Onde ele fica? LEITURA COMPLEMENTAR 10 Todas as famílias acusam o “Senhor Sistema” como responsável pelos problemas. Pais e educadores responsabilizam-no pelo elevado número de marginais adolescentes, que aparecem cada vez mais nas grandes capitais. Culpam o “Senhor Sistema” de não ter educado, de não possuir família... Afinal, a bola é do Sistema? O povo continua a questionar. “De quem é a bola?” E a resposta é de que a bola é do pai e da mãe... O pai e a mãe entram em polêmica. O pai joga a bola para a mãe, acusando-a como responsável pela educação dos filhos. Se os filhos vão mal ele diz: “Você não para em casa, você não os acompanha,quer ter os mesmos direitos que os homens. Só pensam em emancipação, trabalham em dois horários, por isso a família vai mal...” A mãe, por sua vez, sentindo-se injustiçada joga a bola para o pai, acusando-o de não estar presente no lar nos momentos mais difíceis de educar, pois só tem tempo para o futebol, o trabalho, os amigos e a cerveja no bar... Essa família vai mal... Acontece que os dois em crise resolvem justificar o erro de responsabilidade jogando a bola para a escola. Escola... A Escola recebe os reflexos dos problemas familiares e sociais, trazidos em alunos carentes de sentimentos bons, de carinhos e afetos, de aprendizagem lenta com exemplos e modelos da TV. Com tantas dificuldades, a escola resolve se isentar desta responsabilidade e diz que o problema, “a bola”, é do pai e da mãe, do Sistema, do governo... Diz que vai fazer só aquilo que lhe compete. Acontece que a bola continua solta. O mundo em decadência, as crises aumentando, homens se violentando, crianças se degenerando, famílias se desentendendo, jovens confusos. E o mundo, que foi criado para ser paraíso passa a ser um campo de concentração, onde a guerra e o desamor predominam... a bola está sendo jogada para lá e para cá. O problema não chega a uma solução, porque todos se omitem e se tornam alheios diante do amor e da responsabilidade. 11 Portanto, deixamos agora com você a bola. A responsabilidade está nas mãos de cada um, portanto, compete a todos nós. E a pergunta é: VAMOS SEGURAR ESSA BOLA JUNTOS??? *http://georgemdia.blogspot.com/2009/03/de-quem-e-bola-reflexao-consciencia- e.html 12 3-DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Para que a Didática possa servir de base para nossa ação educativa é necessário que ela entenda como o processo ensino-aprendizagem ocorre. Os debates a respeito da forma como aprendemos serão aprofundados em Psicologia da educação. Entender a importância da relação professor-aluno no processo de aprendizagem. Buscar através das indagações didáticas as alternativas para contemplar as atuais exigências na prática educativa. A preocupação didática apresenta ao professor uma série de questionamentos que dizem respeito a: Como os alunos aprendem? Como o vínculo professor/aluno se estabelece? Como alunos e professores interagem no processo de aquisição do conhecimento? Como tornar a aula interessante? Como nos fazer entender? Como inserir os saberes dos alunos na sala de aula? Como tornar os conteúdos significativos? Como transformar informaçãoem conhecimento? Qual a influência da relação de poder estabelecida entre governo, sociedade e escola na nossa prática docente? Que visão de mundo? Que visão de escola? Que visão de homem? Escola inclusiva ou escola seletiva? Escola... É a Didática, na sua busca de alternativas para uma prática educativa e reflexiva, que busca contemplar as exigências atuais. 13 Vamos pensar mais um pouco. Voltando aos nossos tempos de escola, nas séries iniciais, como o nosso professor se posicionava perante a turma? Como nós nos posicionávamos em relação a ele? O que era esperado de nós? O que era esperado dele? Já terá ocorrido alguma mudança frente às novas exigências apresentadas? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Tropeços da inteligência Há a história dos dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para um circo. Um deles, com certeza mais inteligente que o outro, aprendeu logo a ser equilibrar na bola e andar no monociclo. Seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto, e por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender. Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. o QI é muito baixo...” Ficou abandonado num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro, sem serventia... O tempo passou. Veio a crise econômica e o circo foi à falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que se poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido tirados. E assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta. Estranho que em meio à viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, LEITURA COMPLEMENTAR 14 enquanto que seu amigo de QI alto brincava tristemente com a bola, último presente. Finalmente, chegaram e foram soltos. O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca se esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que sabia tão bem. Era só o que sabia fazer. Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos de crianças, cheiro de pipoca, música de banda, saltos de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver. Para exibir sua inteligência ele tivera de se esquecer de muitas coisas. E este esquecimento seria sua morte. E podemo-nos perguntar se o desenvolvimento da inteligência não se dá, sempre, à custa de coisas que devem ser esquecidas, abandonadas, deixadas para trás... ALVES, Rubem (1993, p.12) Apresente seu comentário sobre o texto Tropeços de inteligência ( p.13) e a partir do enfoque ensino aprendizagem , faça uma comparação com a prática pedagógica que se observa nas escolas. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 15 4 – ESCOLA, PARA QUÊ? Para que possamos entender a importância de nossa ação educativa é preciso que tenhamos uma resposta bem fundamentada para esta pergunta: Escola para quê? Ao final desse capítulo você deverá ser capaz de : Identificar o papel social da escola, integrando alunos entre si e com professores e funcionários. Entender que a visão de escola dos especialistas varia de acordo com a época e com a sociedade que eles idealizam. Perceber que a prática educativa pode se basear numa filosofia de condicionamento ou de reflexão. Assim as indagações se seguem: Escola para formar, colocar em fôrmas, condicionar ou Escola que leve a conscientização crítica reflexiva? Escola “do um atrás do outro que nem um gafanhoto” ou Escola que possibilita práticas cidadãs? Na busca por uma resposta sedimentada, refletida, sentida vamos conhecer a visão de alguns especialistas acerca do papel da Escola. J.H. Pestalozzi (1746-1827), educador suíço A escola por ele idealizada deveria ser não só uma extensão do lar como um ambiente familiar que deveria oferecer segurança e afeto. Quanto aos professores, deveriam respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa. John Dewey (1859 – 1952), filósofo norte americano Segundo Dewey o papel da escola é reproduzir a comunidade em miniatura apresentando o mundo de uma 16 forma organizada e simplificada, e aos poucos conduzir as crianças à compreensão das coisas mais complexas. Ou seja, o objetivo da escola deveria ser ensinar a criança a viver no mundo. De acordo com as suas palavras “as crianças não estão, num dado momento sendo preparadas para vida, e em outro vivendo”. Anton Makarenko (1888 -1938), educador ucraniano Makarenko queria formar crianças capazes de dirigir a própria vida. A escola tinha que permitir o contato com a sociedade e com a natureza, ou seja, ser um lugar para o aluno viver a realidade concreta e participar das decisões sociais. Antonio Gramsci (1891 -1937), filósofo italiano Segundo ele a escola tem a função de dar acesso à cultura das classes dominantes para que todos pudessem ser cidadãos plenos. Celestin Freinet (1896 -1966), educador francês Para Freinet a escola tem por objetivo final formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, capaz de dominar e transformar o meio e emancipar- se. Skinner (1904 -1990), psicólogo norte-americano Segundo Skinner a função da escola é planejar a educação passo a passo, de modo a obter os resultados desejados na modelagem dos alunos. 17 Paulo Freire (1921 – 1997), educador brasileiro Freire defendia como objetivo da escola ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo. Você percebeu que cada autor idealizou ou atribuiu funções à escola, de acordo com a visão de mundo de sua época e também da sociedade por ele idealizada. E quanto a você? De acordo com os seus valores, ideias, pensamentos qual deveria ser a função da Escola? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Escola é ... o lugar que se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, Programas, horários, conceitos... Escola é sobretudo, gente Gente que trabalha, que estuda Que alegra, se conhece, se estima. O Diretor é gente, LEITURA COMPLEMENTAR 18 O coordenador é gente, O professor é gente, O aluno é gente, Cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor Na medida em que cada um se comporte Como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados” Nada de conviver com as pessoas e depois, Descobrir que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, É também criar laços de amizade, É criar ambiente de camaradagem, É conviver, é se “amarrar nela”! Ora é lógico... Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer, Fazer amigos, educar-se, ser feliz. É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo Paulo Freire Disponível em http://www.mundojovem.com.br/poesias-poemas/professor/a-escola- paulo-freire. Acesso em maio de 2014 195 - SALA DE AULA: LUGAR DE CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS Busque nas lembranças o seu passado estudantil. Revisite as escolas pelas quais passou, lembre-se dos professores que teve como amigos, os não tão amigos assim, as grandes alegrias e tristezas. Quais marcas, positivas ou negativas, essa escola deixou em você? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Imagine uma pessoa bem mais velha, aposentada rememorando a sua passagem pela escola: Fazendo também esta viagem volto ao meu passado. As lembranças são inúmeras. O cheiro de arroz com peixe me faz salivar. Ah, mas lembrar da professora de Matemática, isto nos causa arrepios. A rigidez da disciplina imposta pela escola, o pavor das provas orais e ainda bem, não mais a palmatória: um grande avanço para aquela época. Ao final da unidade você deverá ser capaz de : Identificar as 4 maiores linhas de tendências pedagógicas trazidas pelos PCN's. Caracterizar as tendências pedagógicas do ponto de vista da função atribuída à escola, aos conteúdos valorizados, a metodologia , a relação professor aluno e a aprendizagem. Identificar as tendências pedagógicas transformadoras, cuja principal intenção é a transformação social para diminuição das desigualdades. Reconhecer a disciplina, a partir da sala de aula, como um valor indispensável à convivência humana. 20 Pensando nas relações de poder dentro da escola hoje o que efetivamente mudou? Que relações de poder ainda continuam sendo estabelecidas entre professores e alunos? Qual o papel do aluno? Qual o papel do professor? Quais recursos pedagógicos utilizados? Que tipos de avaliação podem ser encontradas? Estes questionamentos nos levam a pensar sobre que tendência pedagógica orientará a nossa prática. Mas o que são mesmo as TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS? Enquanto professores, mesmo que inconscientemente, a nossa prática educativa explícita a concepção de ensino-aprendizagem que temos. O relacionamento professor- aluno, bem como a metodologia, papel da escola e conteúdos a serem trabalhados expressam que tipo de tendência pedagógica está ou estará orientando a nossa ação educativa. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) editados pelo Ministério da Educação (MEC), em 1997, são quatro, as grandes tendências pedagógicas brasileiras. Tendo por base este documento listaremos as principais características de cada uma delas. 1 – Pedagogia Tradicional – É uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. Função da Escola: Preparação Intelectual e moral do aluno para assumir sua posição na sociedade. Conteúdos: Conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. Metodologia: Exposição verbal da matéria e ou demonstração, ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas e na memorização para disciplinar a mente e formar hábitos. São correntes teóricas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática pedagógica educacional, em diferentes momentos e circunstâncias da história humana. 21 Relação professor-aluno: Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. Aprendizagem – A aprendizagem é receptiva e mecânica. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. 2 – Pedagogia Renovada – O centro da atividade escolar não é o professor nem os conteúdos disciplinares, e sim o aluno. O que mais importa é o processo de aprendizagem e não mais o ensino. Função da escola: Adequar as necessidades individuais ao meio social, retratando, o quanto possível a vida. Conteúdos: Estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Metodologia: “Aprender fazendo”. Valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas. Relação professor-aluno: Não há lugar privilegiado para o professor. O seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança. Aprendizagem: Aprender é uma atividade de descoberta, é uma auto- aprendizagem, sendo o ambiente apenas o meio estimulador. 3 – Pedagogia Tecnicista – O que tem valor nessa tendência não é o professor, mas a tecnologia. O professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais. Função da escola: Modelar o comportamento humano através de técnicas específicas e organizar o processo de aquisição de habilidades e atitudes. Conteúdos: Informações, princípios científicos, leis estabelecidos e ordenados numa sequencia lógica. Metodologia: Procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições ambientais que assegurem a transmissão-recepção de informações. Relação professor-aluno: Estruturada e objetiva com papéis bem definidos: o professor administra as condições de transmissão da matéria e o aluno recebe, aprende e fixa as informações. 22 4 - Tendências marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas Estas tendências mostram a mobilização dos educadores, principalmente no final dos anos 70 e início dos 80 do século XX, por uma educação crítica que visa transformações sociais, econômicas e políticas, tendo como objetivo principal a superação das desigualdades existentes no interior da sociedade. Optamos por caracterizar as três principais representantes dessa tendência, pois apesar de pertencerem, em linhas gerais, à corrente transformadora, possuem singularidades. Progressista Libertadora Função da escola: Questionar concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com outros homens visando à transformação. Conteúdos: Temas geradores são extraídos da problematização da prática de vida dos estudantes. Metodologia: Diálogo, engajando ativamente ambos os sujeitos do ato de conhecer. Relação professor-aluno: Horizontal, onde educador e educando se posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. Aprendizagem: Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. Progressista Libertária Função da escola: Instituir com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança, de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições “externas”, leve para lá tudo que aprendeu. Conteúdos: Resultam da necessidade e interesses manifestos pelo grupo e que não são necessariamente as matérias de estudo. Metodologia: Vivência grupal na forma de autogestão. Relação professor-aluno: O professor é um orientador e um catalisador. Ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum. Aprendizagem: A ênfase na aprendizagem informal via grupo, e a negação de toda forma de repressão visam ao desenvolvimento de pessoas mais livres. 23 Progressista “crítico social dos conteúdos” Função da escola: Difundir conteúdos, garantindo a todos, um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida do aluno. Conteúdos: Universais que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, incorporados pela humanidade, mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais. Metodologia: Deve favorecer a correspondência dos conteúdos com o interesse dos alunos e como possibilidade de auxílio na compreensão da realidade. Relação professor-aluno: Sendo o professor mediador,a relação pedagógica consiste no provimento das condições em que alunos e professores possam colaborar para fazer progredir essas trocas. Aprendizagem: Aprender é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente organizando os dados disponíveis da experiência. Para você qual tendência que está mais próxima da sua maneira de pensar a Educação? Explique. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Qualquer das tendências adotemos nos leva à necessidade de pensarmos o espaço da sala de aula como um espaço de convívio, construção e trocas. Surge então um tema permanentemente debatido entre educadores : a questão da disciplina para se desenvolver as atividades. Assim apresentamos um texto de Celso Antunes que serve para debate e reflexão. 24 A disciplina em sala de aula Outro dia esperava pacientemente na fila minha vez de ser atendido, quando outro cidadão, sem mais nem menos, se interpôs à frente e pretextando ser amigo de um dos “pacientes” que a minha frente aguardavam, insurgiu-se e ali se instalou, deixando lá trás um mundo de resmungos. Minutos depois, esperávamos todos o elevador chegar e mal a porta se abriu uma matilha alvoroçada ingressou no mesmo, atropelando os que de lá saiam. Não demorou muito, aguardava a hora de embarque e tão logo foi feita a chamada para o vôo, uma porção de passageiros desesperados amontoaram-se à frente, deixando crianças, idosos e deficientes, com suposta preferência, entrarem por último. Sorte que os lugares eram marcados e assim não coube aos primeiros o privilégio da escolha. Entrei no vôo por último, suspirando aliviado e pensando minha sorte em não estar buscando lugar no metrô, que disputa, com maior sofreguidão, bem mais passageiros. Confesso que não me habituo a essa rotina agressiva e acho muito estranho tudo isso, recordando-me de tempos atrás quando havia uma coisa civilizada chamada “fila” que, agora, parece ter desaparecido. Nada de surpreendente no que acima se relata. Não há morador de cidade grande ou média que não percebe essa evidência, que não sabe de pai que vai a escola reclamar da falta de disciplina e atira cascas de frutas pela janela ou estaciona em mão dupla. Ser empurrado, levar cotovelada, tapa na orelha e xingamento tornou-se comum e quem desejar ficar livre desses assédios que não tente sair de casa. Ou se aprende a empurrar ou se é empurrado cada vez mais. Nada disso parece causar estranheza, mas por paradoxal que possa parecer, existem os que ficam surpreendidos com o avolumar da indisciplina em sala de aula. A sala de aula é e sempre foi um espaço que expressa continuidade da vida, reflexo do entorno. Se assim não for, não será sala de aula verdadeira, não permitirá LEITURA COMPLEMENTAR 25 que o aluno contextualize em sua existência os saberes que ali aprende. Ora se a sala de aula é reflexo da sociedade e se a sociedade urbana perdeu noção de compostura e disciplina, como esperar que a escola transforme-se em um aquário social, tornando-se diferente da rua? Se aqui se fechasse esta crônica, ficaria por certo uma questão essencial. Quer dizer então que não adianta combater a indisciplina em sala de aula, uma vez que este espaço reproduz a ausência de disciplina que campeia pelas ruas? A resposta é claramente negativa. É essencial que se restaure a disciplina em sala de aula, que se faça desse valor um objetivo a se perseguir, não para que a sala se isole da sociedade e também não para que a aula do professor fique mais confortável, mas antes para que ali ao menos se aprenda como tentar modificar o caos urbano que o desrespeito social precipitou. Mas, como fazer isso? Em primeiro lugar transformando-se a disciplina em um “valor”. Isto é, fazendo com que seja a mesma vista como uma qualidade humana, imprescindível à convivência e fundamental para as boas relações interpessoais. A disciplina não pode, jamais, chegar ao aluno como uma ordem, um castigo, um imperativo que partindo do mais forte, dirige-se ao oprimido em nome de seu conforto pessoal, mas como “produto” de debate, reflexão, estudo de caso e análise onde se descobre a hierarquia de povos disciplinados sobre clãs sem mando ou sobre sociedades oprimidas. A Literatura, a História e a Geografia podem se transformar em espelhos que refletem que a disciplina que se busca não é apenas a que se vê na relação professor x aluno, mas toda aquela que leva um povo à vitória, um ideal à concretização. Depois de uma ampla sensibilização sobre a disciplina enquanto valor humano cabe uma franqueza cristalina na discussão de regras, princípios, normas e fundamentos que são essenciais a todos, ainda que funções diferentes impliquem em regras não necessariamente iguais. Qual a disciplina ideal na opinião dos alunos? Qual na opinião dos professores? Quais regras são boas para todos e quais sanções cabem a quem não as cumpre? Esse diálogo não deve valer somente para se sensibilizar a classe sobre o valor da disciplina, mas para formalizar verdadeiro “contrato” que unindo interesses, exigirá reciprocidade. Em terceiro lugar um sincero convite para que todos os membros da comunidade – alunos, pais, professores, inspetores, serventes, etc. – ajudem a escola a construir os 26 valores que objetiva. Que se mostre o que a sala de aula está fazendo e o que espera que faça o cidadão, que se busque algumas simples regras para a comunidade que uniformizando a solidariedade, sinaliza, para a construção de um ideal. É a oportunidade para mostrar que o belo e o bom não são questão de preço, mas ação comportamental de uma comunidade. É possível imaginar o efeito de um boicote de clientes contra a instituição pública ou privada que menospreze a disciplina? A construção de regras implica tacitamente na proposição de sanções quando de sua infringência, tal como no esporte o descumprir da regra implica na falta, e estas sanções necessitam menos castigar que orientar menos punir e bem mais relevar o sentido e a significação de se viver em grupos. Isto mudará o mundo fora da escola, além do entorno e de sua comunidade? Ocorrerá a restauração da fila e o voltar do respeito? Impossível ter certeza, mas ainda sem ela fica a convicção de que se a comunidade não fizer da sala de aula o seu espelho, ao menos os alunos e mestres desta sala a transformarão em abrigo sereno que sonha transformar-se em pequenino modelo para uma comunidade melhor. Celso Antunes Disponível em http://www.celsoantunes.com.br/pt/textos_exibir.php?tipo=textos&id=18- acesso em maio de 2014 27 6 – O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA VIDA HUMANA No nosso dia a dia profissional as palavras ensino e aprendizagem são comumente utilizadas. Ao final do estudo do capítulo você deverá ser capaz de : Citar a principal diferença na concepção de ensinar no passado e atualmente. Identificar a importância de aprender a aprender, processo no qual o professor orienta e o aluno é o sujeito ativo da aprendizagem. Entender a necessidade da motivação e da boa relação professor-aluno para o sucesso da aprendizagem. Mas será que sabemos exatamente o que cada uma quer dizer? Comecemos por ensino. Etimologicamente ensinar é “colocar dentro”. Desse conceito nasceu a conceituação tradicional de ensino: ensinar é transmitir conhecimento. As aulas são expositivas e explicativas. O professor “dá” aula sobre um determinado assunto e espera-se que o aluno seja capaz de reproduzir exatamente o que lhe foi passado. Fica a imagem de páginas em branco a serem preenchidas. As tendências renovadas e progressistas da Educação criticam esse tipode ensino e elaboram então uma nova definição: ensinar é criar condições de aprendizagem. O importante não é aprender, mas aprender a aprender. O professor é o estimulador e orientador da aprendizagem e o aluno, sujeito ativo da prática educativa. Se o objetivo do ensino é a aprendizagem, o que é efetivamente aprendizagem? Vamos pensar em nós mesmos como aprendizes. Quando é que temos certeza de que aprendemos algo? Em quais situações nos foi possível confirmar que adquirimos esse ou aquele conhecimento? Como nos sentimos? 28 Aprender não significa somente adquirir informação. Aprender é um processo de aquisição e assimilação de novas idéias e modos de perceber, ser, pensar e agir. Desse modo podemos dizer que aprender é mudar de comportamento, passar a ter outra visão a partir de então. Aprendizagem Conjunto de atividades que conduz a pessoa a transformar-se, adquirindo novos hábitos, atitudes e habilidades decorrentes da construção do conhecimento.(ANTUNES,2001,P81) Há uma classificação sobre tipos de aprendizagem largamente utilizada e que nos ajuda a valorizar igualmente todos os caminhos que usamos para aprender: aprendizagem motora,aprendizagem cognitiva, aprendizagem afetiva. Dessa forma podemos entender como sendo aprendizagens motoras aquelas que se referem a aprender a andar de bicicleta ou aprender a escrever. Quando estamos aprendendo um idioma, adquirindo informação e conhecimento sobre uma nova língua, podemos dizer que o predomínio é da aprendizagem cognitiva. Para apreciarmos uma obra de arte entram em cena aspectos ligados aos sentimentos e emoções. Podemos considerar essa com aprendizagem como afetiva. 1. Para que aprendamos é necessário que queiramos aprender. 2. Só aprendemos com quem permitimos nos ensinar. Por isso é extremamente importante que nós, professores, saibamos motivar nossos alunos e saibamos também estabelecer vínculos positivos com eles. Mas como conseguiremos? Criando situações favoráveis à aprendizagem por meio de uma variedade de recursos, métodos e procedimentos de ensino. IMPORTANTE 29 Trabalho docente como trabalho interativo, a aula como processo comunicacional Os processos de ensino e aprendizagem sustentam-se em formas de relação e comunicação intencional entre o professor e os alunos. Não é novidade dizer que a escola, a sala de aula são os espaços onde se possibilita a comunicação educativa. O novo talvez seja a multiplicação e autonomia de meios de informação, para muito além da escola, instituindo uma escola paralela mais poderosa que a sala de aula. Isso significa que a aula e o livro didático deixaram de ser as únicas fontes do conhecimento. É inquestionável o fato de que vem aumentando dia a dia a presença dos meios de comunicação e a participação dos computadores na aprendizagem. Assim como surgem facilidades de acessar, selecionar e processar informações. Entre os meios de comunicação, a TV se destaca como prática educativa, intervindo na construção da nossa subjetividade. Ela constrói uma imagem do mundo e produz significados para o real, ela oculta processos de produção de sentido, de modo que a atenção do telespectador mantém-se no que é mostrado e não no modo como é apresentado. A formação de professores precisa incluir no currículo a alfabetização tecnológica e o conhecimento e utilização dos meios de comunicação. É preciso preparar professores e alunos não só para utilizarem esses equipamentos, de modo que usufruam de suas possibilidades, mas, principalmente, que aprendam a fazer intervir o conhecimento, a cultura elaborada, para atribuir significado à informação vinda das mídias. Parece fundamental que tomemos consciência de que, quanto mais se desenvolve a informação e a comunicação, mais competência cognitiva se requer. LEITURA COMPLEMENTAR 30 As perguntas didáticas que devemos nos fazer são as seguintes: como o aluno pode aprender a reordenar e reestruturar a informação que lhe chega fragmentada e em mosaico pelos meios de comunicação de massa? Como trabalhar em sala de aula para preencher as lacunas do que não foi apreendido, ensinar os alunos a estabelecer distâncias críticas com o que é veiculado pelos meios de comunicação? A par disso, os professores precisam aprimorar as técnicas de comunicação docente: buscar formas mais eficientes de expor e explicar conceitos e de organizar a informação, de mostrar objetos ou demonstrar processos, postura corporal, controle da voz, uso de meios de comunicação na sala de aula. Importante, também, considerar o ambiente ou contexto físico da comunicação educativa, como é o caso da organização do espaço da sala de aula. LIBÂNEO,. (2002, p.40) 31 7 – PLANEJAMENTO DA AÇÃO EDUCATIVA Planejar é uma das ações que mais praticamos no nosso dia a dia. Planejamos a hora de dormir, de acordar, o que vestir o que comer e quais atividades a executar. Mas na Educação onde entra o planejamento? Ao final do estudo do capítulo você deverá ser capaz de : Identificar a necessidade de um planejamento no sistema, na escola, num curso e em cada aula. Entender que o planejamento torna o ensino mais eficiente, evita a rotina e a perda de tempo bem como a improvisação Na área educativa, há vários níveis de planejamento: Planejamento de um sistema educacional – O planejamento é feito em nível nacional, estadual, municipal. Cabendo aos órgãos públicos competentes a sua elaboração. Planejamento Escolar É o processo de escolhas dos objetivos a serem alcançados e a previsão das ações pedagógicas e administrativas que devem ser executadas por toda a equipe escolar. Planejamento Curricular É formulação dos objetivos educacionais gerais expressos na legislação específica. Planejamento de Ensino É a elaboração das ações e procedimentos que o docente realizará visando atingir os objetivos educacionais estabelecidos. 32 Existem três tipos de planejamento de ensino: Planejamento de curso: É a previsão dos conhecimentos a serem desenvolvidos e das atividades a serem realizadas em uma determinada turma,em geral durante um ano letivo. Planejamento de unidade: É uma especificação maior do plano de curso onde se escolhe uma temática abrangente para ser desenvolvida. Planejamento de aula: É a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo ou num tempo de aula. Pelo exposto até aqui, nem é preciso enfatizar o quanto as atividades de planejamento são importantes e essenciais para a realização da nossa prática educativa. De maneira bem simples podemos apontar algumas vantagens de um trabalho planejado. A improvisação e a rotina são afastadas, sendo assim, temos maior possibilidade de conduzir com segurança a direção do ensino, com economia de tempo e energia. Um planejamento bem feito também possibilitará a eficiência do ensino contribuindo para a realização dos objetivos estabelecidos e tornando mais provável a aprendizagem dos educandos. 33 Uma pequena fábula Certa vez um cavalo-marinho pegou suas economias e saiu em busca de fortuna. Não havia andando muito, quando encontrou uma águia que lhe disse: - Bom dia, amigo. Para onde vai? - Vou em busca de fortuna – respondeu o cavalo-marinho com muito orgulho. -Esta com sorte – disse a águia. Pela metade do seu dinheiro deixo que leve esta asa, para que possa chegar mais rápido. - Que bom! Disse o cavalo-marinho. Pagou-lhe, colocou a asa e saiu como um raio. Logo encontrou uma esponja, que lhe disse: - Bom amigo. Para onde vai com tanta pressa? - Vou em busca da fortuna – respondeu o cavalo marinho. - Está com sorte – disse a esponja. Vendo-lhe este scotter de propulsão por muito pouco dinheiro para que chegue mais rápido.Foi assim que o cavalo-marinho pagou o resto do seu dinheiro pelos scotter e sulcou os mares com velocidade quintuplicada. De repente encontrou um tubarão que lhe disse: - Para onde você vai, meu bom amigo? - vou em busca da fortuna – respondeu o cavalo-marinho. - Está com sorte. Se tomar este atalho – disse o tubarão, apontando par a sua imensa boca – “ganhará muito tempo”. - Está bem, eu lhe agradeço muito – disse o cavalo-marinho, e se lançou ao interior do tubarão, sendo devorado. MAGER (1972 , p.11) LEITURA COMPLEMENTAR Moral da história: Se o professor não tem certeza para onde vai, isto é, sem se planejar, pode acabar não indo onde pretendia. 34 8 – PLANO: MATERIALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO Para que possamos efetivamente executar o que foi proposto é necessário que tenhamos um plano de ação, isto é, um documento escrito que torne real um determinado momento do planejamento, apresentando de forma organizada um conjunto de decisões. Ao final do estudo do capítulo você deverá ser capaz de : Elaborar um plano com seus principais componentes tais como identificação, objetivos, conteúdo, estratégias, formas de avaliação. Compreender os diversos tipos de objetivos para traçá-los com eficácia . Estabelecer conteúdos mínimos para cada ano escolar e cada unidade, independente do livro didático adotado. Usar a avaliação como orientação para os próximos passos na prática docente. Vejamos então, os componentes de um plano: 1 – Identificação – Como o próprio nome diz é identificar, relacionar as principais características, como a disciplina a que se refere, para quantas turmas, e etc. 2 – Objetivos – É a descrição do que se pretende alcançar como resultado da ação docente indicando aquilo que se espera que o aluno seja capaz de realizar como conseqüência da atividade proposta. Os objetivos podem ser: - gerais: são aqueles mais abrangentes que poderão ser alcançados ao final de uma série. - específicos: são aqueles alcançáveis em menor tempo, como por exemplo, ao final de uma aula. Num plano também devem ser observados três categorias de objetivos: - objetivos de conhecimento: referentes ao conteúdos mis específico a ser adquirido pelos alunos. - objetivos de habilidades: referem-se a tudo que o aluno aprenderá a fazer intelectualmente. 35 - objetivos de atitudes: São aqueles que visam ao desenvolvimento de comportamentos éticos. 3 – Conteúdos – É o conjunto de proposições ou assuntos que serão estudados durante o curso em cada disciplina. Os conteúdos, por sua vez, podem ser organizados em unidades, com duração em torno de duas a quatro semanas. Em grande parte de nossas escolas o livro didático é ainda utilizado como base para a escolha dos nossos conteúdos, ou até, os conteúdos nele inseridos são a única fonte de informação. Por isso, colega professor, é importante que tenhamos conhecimentos dos conteúdos mínimos necessários a cada ano escolar para que não sejamos nós a impedir que o nosso aluno tenha acesso a toda informação necessária a seu desenvolvimento. Já que entendemos que o livro didático não pode ser a única fonte de informação, o que mais podemos utilizar? Que tal buscarmos artigos de revista, jornais, charges, tirinhas de história em quadrinhos, novelas, blogs e todo tipo de diversidade textual que faz parte da nossa prática social. 4 – Estratégias – São os meios de que o professor se utiliza para facilitar a aprendizagem. Esses meios incluem as técnicas de ensino, recursos audiovisuais, físicos, humanos e tecnológicos. Quais as melhores estratégias? Aquelas que sejam significativas para os nossos alunos, que os desafiem, que os façam pensar, refletir. 5 – Avaliação – Momento crucial da aprendizagem. Para alguns, sinônimo de testes, provas aos quais se atribui uma nota. Conceito tradicional de avaliação. Modernamente diz-se que a avaliação acompanha todo o processo de aprendizagem, servindo como um diagnóstico desse mesmo processo. Fique atento 36 Avaliar é momento chave na atividade do professor e implica em dizer que a avaliação serve como um guia orientador das futuras ações. O desempenho da turma orientará o rumo da nossa prática docente. O que eles já sabem em relação a esse conteúdo? O que falta para eles assimilarem as idéias propostas? Use variadas formas de avaliação e lembre-se que a prova é só uma delas. Outras técnicas avaliativas: trabalhos e pesquisas (individuais ou em grupo), soluções de casos, entrevistas, debates e outras formas de expressão adequadas ao nível da turma. 6 – Cronograma – Indica o que será feito com a carga horária semanal, semestral e anual de que se dispõe. 7 – Bibliografia – Se refere aos textos que serão utilizados tanto os do professor quanto o dos alunos.para serem estudados na sala de aula. IMPORTANTE 37 Modelo plano de curso Identificação Escola:______________________________________Série/período:_____________ Disciplina:____________________________________Ano letivo:________________ Curso:_______________________________________Professor:________________ Número previsto de aulas:____________ Objetivos gerais ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Objetivos específicos ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Conteúdo:_____________________________________________________________ Estratégias Procedimentos de ensino:________________________________________________ _____________________________________________________________________ Recursos_____________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Tempo provável________________________________________________________ Formas de avaliação____________________________________________________ _____________________________________________________________________ Bibliografia_____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 38 Modelo de Planejamento de unidade Identificação Escola:______________________________________Série/período:_____________ Disciplina:____________________________________Ano letivo:________________ Curso:_______________________________________Professor:________________ Número previsto de aulas:____________ Tema central ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Apresentação ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Desenvolvimento ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Integração ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 39Modelo plano de aula Identificação Escola:______________________________________Série/ano/período:____________ Disciplina:____________________________________Ano letivo:__________________ Curso:_______________________________________Professor:__________________ Número previsto de aulas:____________ Tema central ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Objetivos específicos ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Conteúdo:_____________________________________________________________ Estratégias Procedimentos de ensino:_________________________________________________ ______________________________________________________________________ Recursos:______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Tempo provável: ________________________________________________________ Formas de avaliação:_____________________________________________________ Bibliografia ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 40 9 - SABERES E FAZERES DOCENTES NECESSÁRIOS A UMA PRÁTICA REFLEXIVA Além de conhecermos as diversas possibilidades didáticas descritas ao longo do módulo, se faz necessário também que conheçamos os caminhos que alguns autores, especialistas da Educação, nos apontam como sendo caminhos para que possamos agir de maneira crítica e reflexiva. .Ao final da unidade você deverá ser capaz de : Identificar os conhecimentos indispensáveis à prática docente consciente Entender a importância do domínio do conteúdo, do conhecimento pedagógico e dos princípios éticos e políticos Valorizar o trabalho em equipe na escola com seus companheiros de caminhada e na sala de aula permitindo que seus alunos desenvolvam a consciência crítica em relação à vida, ao ambiente e a si próprios. 9-1-Os saberes docentes necessários a uma prática reflexiva Muitos autores abordam os Saberes necessários para aplicação de uma boa prática docente. Apresentamos a visão de duas autoras : Alarcão e Aranha. Para Alarcão (2004),autora de muitas obras dentro dessa temática os saberes necessários a uma prática docente reflexiva são: 41 Fonte: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/133/artigo233320- 1.asp Acesso em maio de 2014 o conhecimento científico pedagógico – Saber organizar o conteúdo de maneira a torná-lo compreensível para o aluno. o conhecimento do conteúdo disciplinar – Domínio da matéria a ser ensinada. o conhecimento do aluno e das suas características – Compreender o passado e presente do seu educando, como sujeito histórico e aprendente que ele é. o conhecimento do contexto – Conhecer o espaço social, com suas regras e valores, na qual o seu aluno está inserido. o conhecimento dos fins educativos – Consciência plena dos objetivos educativos a serem alcançados. o conhecimento de si mesmo – A necessidade que o professor, profissional do humano, tem de ter conhecimento do que faz, do que pensa e do que diz. o conhecimento da filiação profissional – Conhecer os sabores e dissabores, lutas e conquistas travadas ao longo da história do processo de profissionalizaçãoda ação educadora. De acordo com Alarcão (2004) para que o educador construa sua fundamentação teórica e desenvolva a aprendizagem poderá apoiar-se em três atividades: na pesquisa- ação, na aprendizagem experiencial e na abordagem reflexiva. Na pesquisa-ação deverá solucionar um problema, e como tal, terá que caracterizá-lo, conceituá-lo, enfim, adquirir conhecimentos que possibilitem a resolução desse. A aprendizagem experiencial, por sua vez, compreende quatro fases: experiência concreta, observação reflexiva, conceitualização ativa e experimentação também ativa. Tendo em mente 42 esses conceitos, os mesmos servirão de orientação numa pesquisa-ação cada vez mais eficaz e que culminará com uma abordagem reflexiva. Aranha (2006) destaca três aspectos importantes na formação do professor: qualificação, pelo qual se busca garantir a competência do professor por meio do domínio do conteúdo, dentro da área escolhida; formação pedagógica, através da qual o professor terá acesso às contribuições das ciências auxiliares da educação bem como aos recursos tecnológicos que lhe permitam potencializar a prática docente e por último a formação ética e política que lhe permita desenvolver um trabalho transformador que viabilize a construção de um mundo melhor. 9-1-1 Desaprendendo a lição Para Santos (2006) além de aprender os saberes essenciais à ação educativa, o professor também precisa desaprender. Desaprender hábitos que foram sedimentados, há séculos, por crenças provenientes do senso comum. São oito, os hábitos que deverão ser desaprendidos pelos docentes: 1º Ensinar é falar – O professor que melhor fala é o que melhor ensina; 2º Professor fala e aluno ouve – A aprendizagem é maior quanto mais atenciosamente os alunos ouvem o professor; 3º Aprender é reproduzir – Aprender é reproduzir o que está pronto; 4º Errar é o contrário de acertar – Quando ocorre o erro é porque não houve alguma aprendizagem; 5º Bom aluno é aluno obediente – O aluno deve fazer, sem questionar, tudo o que o professor ordenar; 6º Só se ensina seguindo-se a fórmula: início, meio e fim – Não seguir a estrutura “lógica” do conhecimento impede o aluno de aprender; 43 7º Avaliação é instrumento de manutenção do poder – Se o aluno não for submetido à tensão de uma avaliação, ele não dá o valor merecido ao processo de aprendizagem; 8º Indisciplina é sempre falta de respeito – Indisciplina é sempre sinal de desinteresse infundado. É ainda Santos (2006) que ressalta que a mudança de hábitos é dolorosa, mas ela se faz necessária. Sendo assim, é preciso a aprender a “desaprender” este modelo de ensinar que não atende mais a demanda da sociedade atual. Atividade Você pensa como o autor a respeito da necessidade de desaprender a lição? Em que aspecto você se coloca de forma discordante em relação às propostas desse autor? 9-2 Fazeres Docentes em Paulo Freire Colocar em prática aspectos da reflexão que estamos desenvolvendo trazem ,por outro lado ,algumas recomendações. Segundo Freire (2001) o pressuposto básico da prática educativa é que ensinar não é transferir conhecimento, mas sim criar possibilidades para a sua produção ou construção. No entanto o autor pontua que cabe ao professor, no seu processo de formação, perceber-se como alguém construtor do seu próprio conhecimento e, não simplesmente um sujeito inserido na relação professor - formador aquele que forma, e objeto-aluno, aquele que foi formado. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, 2001, p.25). 44 De acordo com Freire (2001) as exigências do ato de ensinar são: Rigorosidade metódica entendida como um rigor no método que possibilite aprender criticamente situando-se como “sujeitos da construção da reconstrução do saber ensinado”. Depreende o autor ainda que a tarefa docente não se limite apenas aos conteúdos, mas também ensinar a pensar certo.. Pesquisa- Freire aponta que não há ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino. Assim o ato de pesquisar tem como objetivo conhecer o que não é conhecido e comunicar o que foi descoberto. Respeito aos saberes do educando acrescentando que mais do que respeitar os saberes dos educandos, é necessário levá-los a refletir sobre a condição que vivem e o que podem fazer para melhorá-la. Estética e ética - postula que o ato educativo não se dá alheio a formação moral do educando, desta forma a ética deverá dirigir esta relação. A corporeificação das palavras pelo exemplo - nesse ponto Freire enfatiza que as ações do educador devem ter ligação com a sua fala, pois caso contrário cai no descrédito e o vínculo ensino-aprendizagem se desfaz. Segundo o mesmo autor o ato de ensinar envolve risco, necessidade de aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, isso leva a pensar e repensar sobre a importância da tolerância . O fazer pedagógico prevê ainda a convicção de que a mudança é possível e que o educador precisa ter segurança, competência profissional, generosidade, alegria e confiança. Por fim e como mais forte argumento completa : Ensinar exige querer bem aos Educandos Não sendo superior nem inferior a outra prática profissional, a minha, que é a prática docente, exige de mim um alto nível de responsabilidade ética de que a minha própria capacitação científica faz parte. É que lido com gente. Lido, por isso mesmo, independente do discurso ideológico negador dos sonhos e das utopias, como os sonhos, as esperanças tímidas, às vezes, mas às vezes, fortes, dos educando. Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro negar a quem sonha o direito de sonhar. Lido com gente e não com coisas. (FREIRE, 1996, p.163) 45 9-3 As competências para ensinar de acordo com Perrenoud Para Perrenoud (1999) a prática reflexiva deve estar aliada à participação crítica e à profissionalização docente. Segundo o autor, estas são orientações prioritárias para a formação dos professores, pois supõe que o saber docente implica no desenvolvimento de dez competências que sejam capazes de dar suporte a prática reflexiva. Perrenoud (1999) relaciona então o que é imprescindível saber para ensinar bem, numa sociedade em que a informação está cada vez mais acessível às pessoas. 46 Para que você melhor conheça as competências abordadas pelo autor apresentamos exemplos, em forma de objetivos . 1. Organizar e coordenar as situações de aprendizagem Objetivos específicos Conhecer, para uma dada disciplina, os conteúdos a ensinar e sua tradução em objetivos de aprendizagem, Trabalhar a partir das representações dos alunos; Construir e planificar dispositivos e seqüências didáticas; Engajar os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento. 2. Gerir a progressão das aprendizagens Objetivos específicos Conceber e gerir situações-problemas adequadas aos níveis e possibilidades dos alunos; Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino; Estabelecer vínculos com as teorias subjacentes de aprendizagem, segundo uma abordagem formativa; Fazer balanços periódicos de competência e tomar decisões de progressão; 3. Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação Objetivos específicos Gerir a heterogeneidade no interior do grupo classe; Superar barreiras, ampliar a gestão da classe para um espaço mais vasto; Praticar o apoio integrado, trabalhar com os alunos com grande dificuldade; Desenvolver a cooperação entre alunos e algumas formas simples de ensino mútuo. 4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e seu trabalho Objetivosespecíficos Suscitar o desejo de aprender e desenvolver a capacidade de auto-avaliação Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno. 47 5. Trabalhar em equipe Objetivos específicos Elaborar um projeto de equipe; Confrontar e analisar juntos situações complexas, práticas e problemas profissionais. 6. Participar da gestão escolar Objetivos específicos Elaborar e negociar um projeto da escola. 7. Informar e envolver os pais Objetivos específicos Envolver os pais na valorização da construção de saberes. 8. Servir-se de novas tecnologias Objetivos específicos Explorar as potencialidades didáticas de programas com relação aos objetivos das várias áreas de domínios do ensino. 9. Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão Objetivos específicos Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais; Analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em classe. 10. Gerir sua própria formação contínua. Objetivos específicos Fazer seu próprio balanço de competências e seu programa pessoal de formação contínua. Atividade Dentre as competências para ensinar abordadas por Perrenoud (p.46 e 47) , selecione a que você julga mais importante e exponha seu ponto de vista determinando o porquê da sua escolha. 48 9-4 Outras ideias sobre a formação do professor De acordo com Libâneo (2004) o docente precisa assumir-se como mediador entre o aluno e o conhecimento e sempre considerando os conhecimentos e a experiência que esse traz para sala de aula. Ressalta alguns tópicos : o trabalho interdisciplinar, é a melhor forma para se compreender a realidade e tornar-se capaz de transformá-la. é essencial que o professor conheça estratégias de como ensinar a pensar. é necessário reconhecer o impacto das novas tecnologias da comunicação e trazê-las para dentro do ambiente escolar. também que se faz necessário atender a diversidade cultural respeitando as diferenças/subjetividades próprias de todo ser humano. a dimensão afetiva do processo ensino-aprendizagem e conclui ressaltando que é preciso saber orientar os discentes em relação aos valores. Segundo Moretto (2004) professor competente é aquele que : é conhecedor dos conteúdos relativos ao fato abordado. é capaz de desenvolver habilidades. A referida habilidade estará sempre associada a uma ação física ou mental, indicadora de uma capacidade adquirida, num campo especifico. faz uso da linguagem adequada, embasada na teoria e na prática, é conhecedor dos valores culturais que orientam a vida dos seus educandos. O quinto recurso, além de ser interiorizado e explicitado através das ações, a serem desenvolvidas, é aprender a administrar as emoções. Martins (2006) afirma que o professor do século XXI é aquele que, além da competência, habilidade interpessoal e equilíbrio emocional, tem juntamente com todas essas características, a consciência de que mais importante do que o desenvolvimento cognitivo é levar em conta que o respeito às diferenças está acima de toda pedagogia. 49 Para o referido autor são dez os passos para uma pedagogia do desenvolvimento humano: 1º - Aprimorar o educando como pessoa humana; 2º - Preparar o educando para o exercício da cidadania; 3º - Construir uma escola democrática; 4º - Qualificar o educando para progredir no mundo do trabalho; 5º - Fortalecer a solidariedade humana, 6º - Fortalecer a tolerância recíproca; 7º - Zelar pela aprendizagem dos alunos; 8º - Colaborar na articulação da escola com a família; 9º - Participar ativamente da proposta pedagógica da escola; 10º - Respeitar as diferenças. Será que estamos prontos para desenvolver todas essas capacidades, habilidades e competências? Nenhum profissional nasce pronto. A competência se estabelece através da experiência, da prática reflexiva e da busca contínua pela formação. Por isso não se esqueça este curso deve ser somente o primeiro passo da grande jornada de construção e exercício da sua prática docente. Atividade 1- Releia as ponderações de Alarcão e Freire ( p.41 a 47 do nosso material). Aponte um aspecto de semelhança entre as propostas deles, transcrevendo-os e explicando-os. 2- A partir das proposições de Moreto e Martins (p.48a 50 do nosso material) Transcreva um aspecto comum na proposta dos autores. 50 O essencial da didática e o trabalho de professor Os alunos mais velhos comentam entre si: “Gosto dessa professora porque ela tem didática”. Os mais novos costumam dizer que com aquela professora eles gostam de aprender. Provavelmente, o que os alunos querem dizer é que essas professoras têm um modo acertado de dar aula, que ensinam bem, que com eles, de fato, aprendem. Então, o que é ter didática? A didática pode ajudar os alunos a melhorarem seu aproveitamento escolar? O que uma professora precisa conhecer de didática, para que possa melhorar o seu trabalho docente? Acredito que a maioria do professorado tem como principal objetivo do seu trabalho conseguir que seus alunos aprendam da melhor forma possível. Por mais limitações que uma professora possa ter (falta de tempo para preparar aulas, falta de material de consulta, insuficiente domínio da matéria e dos métodos de ensino, desânimo por causa da desvalorização profissional etc.), quando a professora entra na sua classe, ela tem consciência de sua responsabilidade em proporcionar aos alunos um bom ensino. Apesar disso, saberá ela fazer um bom ensino, de modo que os alunos aprendam melhor? Há diversos tipos de professores no Ensino Fundamental. Os mais tradicionais contentam-se em transmitir a matéria que está no livro didático. Suas aulas são sempre iguais, o método de ensino é quase o mesmo para todas as matérias, independentemente da idade e das características individuais e sociais dos alunos. Pode até ser que esse método de passar a matéria, dar exercícios e depois cobrar o conteúdo numa prova, dê alguns bons resultados. O mais comum, no entanto, é o aluno memorizar o que o professor fala decorar o livro didático e mecanizar fórmulas, definições etc. Esse tipo de aprendizagem (vamos chamá-la de mecânica, repetitiva) não é duradoura. Na verdade, aluno com uma aprendizagem de qualidade é aquele que desenvolve raciocínio próprio, que sabe lidar com os LEITURA COMPLEMENTAR 51 conceitos e faz relações entre um conceito e outro, que sabe aplicar o conhecimento em situações novas ou diferentes, seja na sala de aula seja fora da escola, que sabe explicar uma idéia com suas próprias palavras. Há professores tradicionais que sabem ensinar os alunos a aprender assim, mas a maioria deles não se dá conta de que a aprendizagem duradoura é aquela pela qual os alunos aprendem a lidar de forma independente com os conhecimentos. Os professores que se julgam mais atualizados (vamos chamá-los de progressistas) variam bastante os métodos de ensino. Preocupam-se mais com as diferenças individuais e sociais dos alunos, costumam fazer trabalho em grupo ou estudo dirigido, tentam usar mais diálogo no relacionamento com as crianças, são mais amorosos. Essa forma de trabalho didático é, sem dúvida, bem mais acertada do que a tradicional. Entretanto, quase sempre acabam tendo um entendimento de aprendizagem parecido com o tradicional. Na hora de cobrar os resultados do processo de ensino, pedem a memorização, a repetição de fórmulas e definições. Mesmo utilizando técnicas ativas e respeitando mais o aluno, fica a atividade pela atividade. Ou seja, muitos professores não sabem como ajudar o aluno a, através de uma atividade, elaborar de forma consciente e independente o conhecimento. Em outras palavras, as atividades que organiza para os alunos
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