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Apostila Completa História Contemporânea II

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
 
 
CURSO: Licenciatura em História
MODALIDADE: Ensino à Distância (EAD)
ANO: 2016_2
COMPONENTE CURRICULAR: História Contemporânea II
SEMESTRE: 5º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas
  
EMENTA
Análise da história contemporânea do século XX e XXI através dos acontecimentos mundiais. Abordagem dos aspectos relevantes da história da Europa e os impactos no mundo e no Brasil. Caracterização dos períodos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, o pós guerra e a Guerra Fria. Descrição e interpretação da trajetória da Segunda Guerra Mundial.  Estudo da divisão do mundo em blocos econômicos e políticos. Confronto de conceitos e ações da esfera socialista com o capitalismo na Europa, Ásia e América. Investigação sobre a Revolução Chinesa. Análise das desigualdades entre os países e o processo da descolonização e suas consequências.
  
OBJETIVO GERAL
Preparar os alunos para compreender o processo histórico de transformação das sociedades humanas na perspectiva da longa duração e para a construção autônoma do conhecimento histórico.
  
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Estudar os aspectos mais relevantes da história da Europa nos século XX e XXI e seus impactos nas demais regiões do mundo e, mais especificamente, no Brasil. Estudar para caracterizar os períodos anteriores à Segunda Grande Guerra, o pós guerra e a Guerra Fria. Estudar e interpretar o fenômeno histórico da Segunda Guerra. Estudar a configuração mundial  após a Segunda Grande Guerra. Estudar, comparar e confrontar os conceitos do socialismo e os do capitalismo. Estudar e analisar a Revolução Chinesa. Estudar e analisar o processo de descolonização pós- Segunda Guerra. Analisar as desigualdades existentes entre os países. Estudar a Europa depois da queda do Muro. Conhecer e estudar os conflitos políticos contemporâneos do Oriente Médio
  
UNIDADE I – Ascensão dos regimes totalitários/ A segunda Grande Guerra: Causas e consequências
Objetivos:
Estudar para caracterizar os períodos anteriores à Segunda Grande Guerra. Estudar e interpretar o fenômeno histórico da Segunda Guerra.
  
UNIDADE II – O mundo depois da Segunda Grande Guerra e a Guerra Fria
Objetivos:
Estudar para caracterizar a Guerra Fria. Estudar a configuração mundial  após a Segunda Grande Guerra. Estudar, comparar e confrontar os conceitos do socialismo e os do capitalismo.
  
UNIDADE III – A nova ordem mundial e mundo subdesenvolvido
Objetivos:
Estudar e analisar o processo de descolonização pós- Segunda Guerra. Analisar as desigualdades existentes entre os países. Estudar e analisar a Revolução Chinesa.
  
UNIDADE IV - O mundo depois da Guerra Fria – efeitos na Europa / Oriente Médio
Objetivos:
Estudar a Europa depois da queda do Muro. Conhecer e estudar os conflitos políticos contemporâneos do Oriente Médio.
  BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BRUNSCHIWIG, Henri. A partilha da África negra. São Paulo: Perspectiva, 2004.
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos – uma história do breve século XX. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
LEWIS, Bernard T.; OLIVEIRA, Maria Lucia T.  A crise do Islã - Guerra santa e terror profano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
  BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
BRENER, Jayme. O Mundo pós-guerra fria. São Paulo: Scipione, 1994.
FERRO, Marc. A revolução russa de 1917. São Paulo: Perspectiva, 2004.
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.
 ______(org.). História da Paz. São Paulo: Contexto, 2008.
THOMPSON, David. Pequena História do Mundo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
  METODOLOGIA
As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns, atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites, atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores.
  AVALIAÇÃO
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações à distância e Presencial, de acordo com a Portaria da Reitoria UNIMES 04/2014.
Caro aluno:
RECOMENDAÇÕES 
Consideramos fundamental, neste início de semestre e tendo como objetivo auxiliá-lo no melhor aproveitamento do curso e na construção de aprendizagens significativas, apontar alguns aspectos que devem ser observados em sua rotina de estudo. São eles:
• O acesso ao ambiente virtual de aprendizagem deve ser, no mínimo, semanal;
• A leitura das Aulas, assim como assistir as Videoaulas(VAs) que foram preparadas para complementar e aprofundar os temas estudados, é imprescindível para a sua formação;
• Seguir corretamente as orientações das atividades e realizar cada etapa delas é condição necessária para o melhor aproveitamento dos conteúdos nelas enfocados e para a construção de novas aprendizagens;
• As Verificações de Aprendizagens, VAPs, devem ser realizadas depois da leitura das Aulas e de assistir as Videoaulas, uma vez que o objetivo delas é verificar se você compreendeu e assimilou os conteúdos que as precedem;
• Você deve se preparar para todas as avaliações com o estudo das Aulas e Videoaulas previstas para cada uma delas;
• Não se apresse em suas atividades, caso queira efetivamente aprender e aproveitar o curso, aprofunde a sua formação e não se limite à superficialidade, isso acabará revertendo para você como formação deficitária e pouco consistente;
• Importante – só depende de você se empenhar e realizar o melhor curso que puder; a educação brasileira precisa melhorar e, para isso, cada um pode contribuir como estudante e como profissional bem preparado e adequadamente qualificado para as funções que pretende desempenhar.
Desejamos que o seu semestre de estudos seja produtivo e que o trabalho no componente curricular História Contemporânea II contribua, efetivamente, para o aprimoramento de sua formação.
Saudações,
Profª Clara e Prof Felipe.
Aula 01_A década de 1920
Nesta aula estudaremos os acontecimentos mais relevantes ocorridos na Inglaterra, na Alemanha e nos Estados Unidos, as principais potências mundiais, no início do século XX. 
Após a Primeira Guerra Mundial a Inglaterra estava passando por algumas dificuldades, principalmente na área econômica, que resultariam em problemas também no campo social. O pós-guerra fez com que as exportações inglesas diminuíssem, acarretando na década de 1920 o aumento do desemprego. A diminuição do mercado consumidor externo somado ao desemprego provocou uma onda de greves. Os grevistas reivindicavam a manutenção dos benefícios, mesmo com a crise, ou seja, os salários deveriam ser mantidos iguais juntamente com a jornada de trabalhado de oito horas diárias. 
Observando o agravamento da situação dos trabalhadores ingleses e a necessidade de manter o controle dos movimentos reivindicatórios, a Câmara dos Comuns concedeu assistência social aos trabalhadores. Em 1922 ocorreram eleições, saindo vencedores os conservadores que pretendiam tomar medidas que estimulassem a indústria e restabelecesse as condições existentes antes da guerra. 
Mas a ideia de medidas para retomar o crescimento da indústria acabou por prolongar a crise. Em 1925 o ministro da fazenda Winston Churchill resolveu tornar ilegal todas as greves que não fossem precedidas de um referendo. Ele tinha como objetivo conter a crise social, mas sua atitude teve um efeito contrário. Uma greve de caráter revolucionário paralisou por sete meses quase toda a indústria e contribuiu para o agravamento da crise. A partir desse momento o governo inglês não mais conseguiuretomar o crescimento e o desenvolvimento verificado no período anterior à Primeira Guerra Mundial. 
A Alemanha, por sua vez, não estava em situação muito diferente da Inglaterra em relação à economia, com um agravante no contexto social: a circulação de ideias bolchevistas entre os trabalhadores. A partir de 1917 — ano da revolução socialista que formou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na Rússia — formou-se uma massa proletária vinculada ao Partido Social Democrata. Os principais articuladores da esquerda alemã eram Liebknecht e Rosa Luxemburgo.
A derrota alemã na Primeira Guerra Mundial acarretou a abdicação do rei Guilherme II e a proclamação da República Alemã. O poder passou para as mãos dos sociais democratas sob a presidência de Ebert, que prometeu o direito de voto a toda a população, a garantia da jornada de trabalho de 8 horas diárias e a socialização das empresas. Seu objetivo real era implantar a República Constitucional Liberal e não a aplicação de programas sociais. O governo do presidente Ebert contava com o apoio das classes médias e baixas. 
Para que seu poder fosse garantido, o presidente Ebert se aproximou do exército com a justificativa de preservação da ordem. Ele apoiou a repressão ao movimento dos trabalhadores. Mas os socialistas persistiram, ameaçaram realizar um golpe em Berlim em dezembro de 1918 e foram massacrados em janeiro do ano seguinte. Após a tentativa frustrada de golpe, os líderes do movimento, Liebknecht e Rosa Luxemburgo, foram presos e fuzilados. 
Neste momento a Alemanha vivia uma situação econômica delicada. A derrota na Primeira Guerra Mundial trouxe consigo a miséria, o aumento do custo de vida, a desvalorização da moeda e uma grande insatisfação popular. Protestava-se, ainda, contra o Tratado de Versalhes — acordo de paz que impôs uma série de exigências a Alemanha, incluindo a perda de territórios. A derrota na guerra aprofundara o sentimento nacionalista. Começaram a ocorrer também as primeiras manifestações antissemitas.
 
Rosa Luxemburgo
 Em 1919 Anton Drexler liderou a fundação do Partido dos trabalhadores alemães (DAP). Dentre seus membros encontramos Adolf Hitler. Alguns anos mais tarde o DAP se transformou no Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei - NSDAP), mais conhecido como Partido Nazista. Em pouco tempo Hitler assumiu a liderança do partido. Em 1923 eclodiram várias greves na Alemanha. Em meio à instabilidade gerada, o Partido Nazista organizou a Revolução Nacional, mas os operários em greve não compactuaram, evitando o golpe. Hitler foi condenado a cinco anos de prisão sendo libertado após seis meses. 
A melhoria da situação econômica alemã ocorreu em 1924, com algumas medidas propostas pelo economista Schacht, como a criação de uma moeda forte e a captação de recursos no exterior, principalmente ingleses e americanos. Com isso houve uma estabilização monetária e a possibilidade de reconstruir a indústria alemã. No ano seguinte, em 1925, com a morte de Ebert, Hindenburg foi eleito presidente da Alemanha. O novo presidente conseguiu a estabilização política. 
Os Estados Unidos viveram uma situação diferente após a Primeira Guerra Mundial. A guerra possibilitou o seu enriquecimento. Ele passou a ser fornecedor de matéria prima e produtos industrializados para a Europa, além de conquistar os mercados latino-americanos e asiáticos.
A indústria americana cresceu consideravelmente, provocando um aumento dos salários dos trabalhadores e um extraordinário aumento da produção, como resposta ao aumento do mercado consumidor. Entretanto com a recuperação dos países europeus, após 1924, o interesse pelos produtos americanos sofreu uma queda e o mercado americano entrou em um desaquecimento. O resultado dessa situação foi uma crise marcada pela superprodução industrial e a saturação dos mercados. Em 1929 ocorreu a “quebra” da Bolsa de Valores de Nova York, provocando falências de empresas e bancos e a maior onda de desemprego que Estados Unidos viveram. Esta crise se refletiu no comércio internacional que sofreu um considerável declínio.
Em síntese, enquanto os países europeus como a Inglaterra e a Alemanha mergulharam em crises após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos enriqueceram. Paradoxalmente, esse enriquecimento levou à grande crise de 1929, uma crise de superprodução que provocou a queda da Bolsa de Nova York, com repercussões no mundo inteiro.
Aula 02_Regimes totalitários
Nesta aula estudaremos os regimes totalitários que se formaram na Europa no início do século XX. Daremos destaque ao nazismo, fascismo, franquismo e salazarismo. 
Após a Primeira Guerra Mundial a Europa enfrentava uma séria crise: aumento do desemprego, queda da produção, aumento da inflação que desencadearam vários conflitos sociais. As elites dominantes passaram a se preocupar com a situação, principalmente com os trabalhadores que estavam insatisfeitos e constantemente realizavam manifestações e greves, prejudicando a produção das indústrias. A fim de assegurar que seus rendimentos não fossem prejudicados e evitar uma possível convulsão social, as elites dominantes passaram a apoiar as lideranças políticas que prometiam o controle das massas trabalhadoras. Nesse contexto surgiram os governos fortes e autoritários, capazes de impor uma disciplina social pelo uso da força e também da propaganda ideológica. 
Esse apoio das elites dominantes provocou o recuo das democracias liberais que deram lugar aos regimes totalitários como o nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália, o salazarismo em Portugal e o franquismo na Espanha. 
Em Portugal o regime totalitário teve como líder Antonio de Oliveira Salazar, que assumiu a presidência do Conselho de Ministros em 1932 e permaneceu no cargo até 1968. Dentre as medidas tomadas por Salazar podemos citar o fim dos partidos políticos e a criação de um partido único – União Nacional. O Estado controlou severamente o movimento dos trabalhadores e sua proposta era de um Estado nacional e cristão fundamentado na família.
 
Posse de Salazar como Ministro das Finanças em 1928 
Francisco Franco foi o líder do regime totalitário na Espanha. Ele contou com o apoio da burguesia conservadora para tomar o poder e permanecer nele. A Espanha enfrentou uma guerra civil entre os anos de 1936-1939, de onde saíram vitoriosas as forças franquistas. Seu governo ditatorial foi sustentado pela Falange, que controlava vários setores sociais como a educação, o sindicalismo, os meios de comunicação e os órgãos de segurança. Franco se manteve no poder até o ano de 1976, quando a Espanha adotou o regime da monarquia parlamentar. 
 
Na Espanha o franquismo contou com o apoio de setores da Igreja Católica  
Na Itália o regime totalitário foi comandado por Benito Mussolini. Em 1921 foi fundado o Partido Nacional Fascista que apresentava soluções para resolver a crise social e econômica do país, além de prometer o controle das greves e agitações dos socialistas. O fascismo italiano foi aprovado pelos industriais. 
Em 1922, Benito Mussolini subiu ao poder. Seu governo pode ser dividido em duas fases. A primeira, entre 1922 e 1924, foi marcada pelos atos terroristas das milícias fascistas contra os políticos de oposição e pelo apelo ao nacionalismo extremado. Foi o período de formação do Estado autoritário. Na segunda fase, entre 1925-1939, implantou-se a ditadura fascista com a repressão aos protestos dos trabalhadores, a recuperação da economia e a reestruturação do ensino público moldada pelos ideais fascistas de formação da juventude. O ideal básico da educação fascista era submeter o indivíduo a total e irrestrita obediência ao Estado. 
  
Crianças educadas pelo fascismo
O governo totalitário de Mussolini foi marcado pela censura da imprensa, do cinema e do rádio — meios de comunicação de massa da época. Proibiu também os sindicatos e as organizações que não tinham cunho fascista. Mussolini elaborou, ainda, uma política externa voltada para a expansão dosdomínios da Itália, portanto, uma política externa agressiva. 
O regime totalitário que encontramos na Alemanha foi conduzido por Adolf Hitler. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a derrota alemã e as imposições do Tratado de Versalhes, a Alemanha passou a enfrentar uma grave crise econômica. Greves foram organizadas pelo Partido Comunista Alemão (KPD) e pelo Partido Social Democrata (SPD). A burguesia passou a apoiar o Partido Nazista, comandado por Hilter, que prometia resolver os problemas da Alemanha. 
Em 1925 Von Hindenburg tornara-se presidente da República Alemã, mas não conseguiu resolver os problemas políticos e econômicos. A crise norte-americana de 1929 agravou ainda mais a situação. Os nazistas não perderam a oportunidade de criticar os dirigentes alemães. Nas eleições 1932 os nazistas conquistam a maior bancada. 
Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler foi nomeado Chanceler da Alemanha. 
A partir desse momento podemos verificar a consolidação do Partido Nazista no poder. Os métodos utilizados para isso foram a violência e a propaganda intensiva para as massas populares. A Gestapo – polícia secreta alemã –, dirigida por Heinrich Himmler, cuidava de impedir a manifestações dos opositores ao governo, utilizando intimidação, difamação e violência.
 
Hitler discursando em Berlim, 1937 
A propaganda de massas coube ao ministro da Educação do Povo e da Propaganda, Joseph Goebbels que exercia severo controle sobre a educação e sobre os meios de comunicação. Em dezembro de 1933 o Partido Nazista se tornou o único partido na Alemanha. Em agosto de 1934 morreu o presidente Hindenburg e Adolf Hitler assumiu a presidência da Alemanha.
Em síntese, podemos verificar similaridades entre os governos totalitários. Todos se propuseram a resolver os problemas sociais e econômicos do país. Outro ponto em comum era o controle da educação e dos meios de comunicação a fim de doutrinar a população. Finalmente, podemos destacar a utilização da violência para acabar com os opositores e controlar as massas.
Aula 03_A ditadura de Hitler
Com a morte de Hindenburg em 1934, Hitler assumiu a presidência da República da Alemanha. A partir desse momento, os membros do governo e da nação foram obrigados a prestar fidelidade pessoal à Hitler, doravante denominado Führer (guia). 
O nazismo se caracterizou como uma doutrina nacional socialista com base no racismo e na suposta superioridade da raça ariana, cujos mais puros representantes eram os povos germânicos, que tinham a missão de dominar o mundo. Os historiadores questionam a origem dessas ideias e muitos as encontram no Sacro Império Romano de Nação Germânica — o império fundado por Oton I, em 962. 
Outro ponto da doutrina nazista era a outra face da crença na superioridade ariana: o antissemitismo. O racismo nazista se apoiava em teses do século XIX, desenvolvidas pelo francês Gobineau, pelo inglês Chamberlain e pelo músico alemão Richard Wagner. Os nazistas admiravam as obras do filósofo alemão Nietzsche que destacava o aspecto mítico do pangermanismo. 
O Estado totalitário estava fundado num nacionalismo fanático e no fervor racista. Em 1933 o anti-semitismo foi oficializado na Alemanha. Os judeus foram excluídos da administração, do ensino, da imprensa e das atividades literárias e artísticas. Neste mesmo ano, abriram-se os campos de concentração de Dachau, Buchenwald, Sachsenhause, nos quais os prisioneiros sofriam violências físicas e mentais e onde os judeus eram assassinados. 
Em 1935 foram criadas as Leis de Nuremberg que privaram ainda mais os judeus de seus direitos civis. Eles foram reduzidos a marginalidade, sendo proibidos de frequentar lugares públicos. Nessa época muitos judeus fugiram da Alemanha. Em 1938 a violência recrudesceu, formaram-se os pogroms – ações contra os judeus –, destruíram-se as sinagogas e as casas e tentava-se impedir as fugas. 
 
 Resumindo, o regime totalitário de Adolf Hitler se preocupou em controlar tudo e todos e aqueles que ousassem se opor às ideias nazistas. Os inimigos eram eliminados pela Gestapo. Com essa violência e com uma forte política de propaganda de massa, Hitler conquistou o apoio dos alemães. Pontos fortes da propaganda eram o nacionalismo e o racismo — que sustentava a teoria da superioridade ariana e a necessidade de eliminar os judeus.  
Aula 04_O Japão e a China
Na aula de hoje estudaremos a situação em que se encontravam o Japão e a China após a Primeira Guerra Mundial. 
No período anterior à Primeira Guerra Mundial o Japão enfrentava um grande crescimento populacional, o que representava um grave problema para um país de território pequeno. Outro problema era a formação do proletariado urbano e miserável que teve origem no final do século XIX com o progresso de suas indústrias. Mas mesmo com todos estes problemas os japoneses nutriam um sentimento de superioridade em relação aos outros países do continente asiático. 
Para o Japão o pós Primeira Guerra trouxe muitos benefícios. A concorrência desapareceu nesta região do mundo aumentando assim suas exportações. Ocorreu um rápido crescimento das indústrias metalúrgicas e químicas. A partir de 1914 o Japão passou a ocupar os territórios alemães na China (Xantung e o porto de Tchingtao) e também os arquipélagos de Marianas, Marshall e Carolina no Oceano Pacífico. Em 1918 havia estendido o domínio sobre a Sibéria Oriental e, no ano seguinte, reforçava sua autoridade sobre a Coréia. 
Mas todo esse expansionismo incomodava os Estados Unidos que tratou de tomar providências a fim de contê-lo. No ano de 1921 realizou-se a Conferência de Washington, na qual o Japão, encontrando-se isolado, foi obrigado a devolver Tching-tao aos chineses e a evacuar a Sibéria Oriental. 
Na década de 1920 teve início a restrição à imigração japonesa para alguns países. Em 1924 os americanos restringiram a sua entrada; em 1928 foi a vez do Canadá; e em 1934 o governo de Getúlio Vargas começou a barrar a entrada de japoneses no Brasil e também vigiar as colônias de japoneses que se encontravam em território brasileiro. 
A China por sua vez, vivia uma situação de anarquia em 1919. Em seu território havia dois governos, um em Pequim e o outro em Cantão. Mas quem na realidade governava o país eram os chamados senhores da guerra (governadores militares independentes em suas províncias) que faziam as vontades dos estrangeiros que, em troca, lhes assegurava privilégios econômicos. 
Em plena década de 1920, a China mantinha características antigas. Era um país semi-colonial, sua população era composta por milhões de camponeses miseráveis e submissos aos grandes latifundiários. Com a Primeira Guerra Mundial houve um considerável desenvolvimento de sua indústria localizada na Manchúria Meridional, em torno de Hankev e nos grandes portos de Cantão, Xangai e Tien-tsin. Estas províncias, devido à proletarização e à miséria, viviam em constante anarquia. Eram inúmeras e violentas as greves. Os principais beneficiários desta situação era a burguesia que almejava a unificação política e a independência da China. 
Em 1921 foi fundado o Partido Comunista chinês que possuía em suas fileiras trabalhadores, camponeses e intelectuais, dentre os quais Mao Tsé-tung. Com a morte de Sun Yat-sem em 1925 a China passou por um novo período de instabilidade. Os comunistas passaram a realizar manifestações reivindicatórias que culminaram com a sublevação de Xangai e Hankev contra os senhores da guerra. 
Com a ameaça de ver na China uma revolução nos moldes bolchevistas a elite chinesa tratou de tomar providências. O general Tchang Kai-chek impôs a unidade chinesa, estabelecendo a ordem social, como o apoio financeiro da burguesia. Em 1926 o general expulsou os conselheiros soviéticos de Cantão. No ano seguinte massacrou seus adversários e milhares de sindicalistas em Xangai. 
Vendo a situação se agravar os comunistas tentaram realizar uma insurreição, mas foram reprimidos e obrigados a se refugiarem nas colinas de Kiang, construindo aí um foco de resistência. Realizou-se então a eliminaçãodo Partido Comunista Chinês. Em 1928 Tchang Kai-Cchek foi proclamado presidente da República da China tendo como capital Nanquim.
 
 Verificamos assim como o Japão foi beneficiado com a Primeira Guerra tanto financeiramente quanto com a conquista de territórios. Isso acabou por incomodar os Estados Unidos que encontraram uma maneira de isolar o governo japonês e obrigá-lo a devolver os territórios que haviam conquistado. O expansionismo japonês será muito importante para a entrada do Japão na II Guerra Mundial e para os acontecimentos que vieram a seguir. 
No caso da China, a abertura provocada com a Primeira Guerra preparou o terreno para a revolução socialista. 
Aula 05_Crises internacionais
Nesta aula iremos estudar as crises internacionais que precederam a Segunda Guerra Mundial.
Após 1932 as relações internacionais entraram num novo período de instabilidade. Além das crises econômicas que atingiam os diferentes países, a situação foi agravada com o surgimento das ditaduras totalitárias, fundamentadas em um nacionalismo econômico que dificultava a aproximação entre os países. 
Diante dessa situação internacional verificamos novamente a corrida dos países a fim de se armarem contra seus vizinhos. Neste momento os países se organizavam em alianças, de um lado os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, detendo cerca de 80% do ouro mundial e exercendo influência sobre algumas regiões da América Latina, Ásia e África; de outro lado a Alemanha, a Itália e o Japão que não possuíam ouro e nem divisas e reivindicavam o direito de explorar matérias primas, territórios e mercados. 
A partir de 1929 a ditadura militar japonesa passou a reivindicar a China e o sudeste asiático como áreas de influência. Algumas dessas regiões foram ocupadas pelos japoneses. A Manchúria foi uma delas. Em setembro de 1931 o exército japonês invadiu esta região que pertencia à China. Vendo que poderia perder parte de seu território a China recorreu à Liga das Nações pedindo uma intervenção dessa organização a fim de resolver a questão. A Liga se limitou a condenar a ação japonesa. Em resposta, os japoneses tornaram a Manchúria independente, mas mantendo-a sob a sua proteção. Em 1933, o Japão abandonou a Liga das Nações. 
A Itália vivia sob o regime totalitário de Benito Mussolini que estava empenhado em pôr em prática sua política expansionista à força. Ele tinha como objetivo conquistar a Europa Danubiana, a região em torno do Mediterrâneo, a Líbia, a Eritréia e a Somália no continente africano. 
A Etiópia era um reino de fronteiras imprecisas, governado pelo soberano Hailé Selassié que não tinha autoridade sobre o país. O poder era disputado pelos grandes senhores. No ano de 1925 realizou-se um acordo entre a Itália e a Inglaterra, pelo qual dividiram a região africana entre si: a Inglaterra ficou com a Eritréia e a Itália com algumas regiões de considerável importância no Egito. O acordo desagradou ao soberano da Etiópia. Mussolini, então, ordenou a invasão da Etiópia em 1935. A Liga das Nações interveio, mas não conseguiu impor sanções contra a Itália. Em 9 de maio de 1936 a Itália anexou a Etiópia. Com isso a Liga das Nações acabou sendo desacreditada.
A Alemanha assim como a Itália estava sob a influência de um regime totalitário. Após se livrar dos entraves impostos pelo Tratado de Versalhes, passou a almejar a construção da grande Alemanha, começando com a reunião de todas as populações de origem alemã. Anexou a Áustria e várias regiões da Europa Oriental a fim de construir o espaço vital necessário para por em prática os planos de superioridade da raça alemã.
Hitler comandou o projeto de expansão, dando início a um intenso rearmamento e tornando a Alemanha um perigo em potencial para as outras potências. Em 1933, a Alemanha se retirava da Liga das Nações. 
 
(...) Após o término da primeira guerra mundial (...), os aliados criaram a Liga das Nações (...) , na esperança de evitar um novo confronto mundial. A Liga baseava- se no princípio da segurança coletiva, acertando as partes contratantes não recorrer à guerra, manter relações internacionais às claras, observar rigorosamente os preceitos do direito internacional e respeitar os tratados assinados. A Liga deveria exercer o papel de mediadora nas disputas internacionais, bem como o de fiscal do processo de desarmamento das nações. (...) Dissolvida ao despontar da segunda guerra mundial, ela foi substituída em 1946, com a paz restabelecida, pela ONU, que herdou em parte sua estrutura e métodos de trabalho1 . 
 Vendo o perigo que representava a Alemanha para o resto do mundo o ministro francês Barthou criou um sistema de alianças, reunindo a França, a Alemanha e os países da Europa Oriental, com a finalidade de garantir os territórios e suas fronteiras. Mas esta aliança foi rejeitada pela Alemanha. Em 1936, Hitler ordenou a invasão da Renânia, zona desmilitarizada pelo Tratado de Versalhes e situada entre a Alemanha e a França.
Verificamos que a partir da década de 1930, a relações internacionais tornaram-se tensas e a Liga das Nações teve dificuldade em exercer seu papel na manutenção da paz. As grandes potências mundiais estavam envolvidas nas disputas por territórios, dentro e fora da Europa, por mercados consumidores e por mercados fornecedores de matérias primas. 
1 AZEVEDO, A.C.do A. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.244.
Aula 06_Antecedentes de Conflito
Após 1938 as relações internacionais sofreram o impacto do regime nazista da Alemanha. Alguns países europeus, principalmente a França, começaram a se preocupara com a possibilidade de guerra. A União Soviética tratou de se precaver e, desde 1934, propôs uma política de unidade entre os partidos comunistas contra a ameaça nazista.
Todavia, outras grandes potências mantinham-se afastadas. A Inglaterra ainda não estava preocupada, pois não considerava as incursões alemãs na Europa Oriental um perigo para sua segurança. Os americanos, por sua vez, pregavam o isolacionismo, ou seja, não queriam se envolver, pois os nazistas estavam bem longe de seu território.
A Alemanha passou então a empreender seu plano de expansão. Inicia estabelecendo relações e aliança com algumas nações, dentre elas a Polônia. A Itália também estabeleceu relações com o regime nazista, após superar algumas divergências sobre a Áustria. Mussolini visitou Berlim em 1937 e aderiu ao Pacto Anti-Komintern, que havia sido firmado em 1936, entre a Alemanha e o Japão. Pelo pacto os dois países se comprometiam a não firmar acordos com a União Soviética e a prestar ajuda mútua em caso de invasão. Com a adesão da Itália, foi desenhada a tríplice aliança que, mais tarde, seria conhecida como o Eixo. 
Na Áustria crescia o movimento que defendia uma união com a Alemanha. 
Em 1938 Hitler invadiu a Aústria, como parte da estratégia de formação da grande Alemanha, conforme vimos em aula anterior. Em seguida, Hitler passou a reivindicar a anexação da região dos Sudetos na Tchecoslováquia que era habitada por alemães, sob o pretexto de que eles estavam sendo reprimidos pelo governo tcheco.
 
Mussolini com Hitler
Em setembro de 1938, realiza-se em Munique uma conferência com a participação de Hitler, Mussolini e os primeiros ministros da Inglaterra, Neville
Chamberlain, e da França, Édouard Daladier, com a finalidade de discutir a questão da região dos sudetos. Mas a Tchecoslováquia, país onde estava ocorrendo o problema, não foi convidada. À revelia do governo tcheco, os franceses e ingleses cederam aos nazistas a anexação dessa região. Mas o exército nazista não se conteve apenas em tomar este território, eles acabaram invadindo toda a Tchecoslováquia no ano de 1939.
A França e a Inglaterra pouco fizeram, apenas protestaram verbalmente.
Eles não acreditavam que os nazistas poderiam ser um inimigo perigoso. Quem representava perigo, segundo as ideias desses países, era o socialismo da União Soviética.  
Em 27 de agosto de 1939 a Alemanha assinou um pacto secreto denão agressão com a União Soviética. Estes dois países decidiram invadir a Polônia, dividindo o país entre eles. Em 1 de setembro de 1939 as tropas alemãs, sem prévia declaração de guerra, invadiram o território polonês. Em 3 de setembro de 1939 a Polônia, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha. Iniciava-se assim a segunda guerra mundial. 
	
	
	À beira do abismo
	A quebra da Bolsa de Nova York em 1929 lançou o mundo em uma depressão econômica que durou quase toda a década de 1930. Um fantasma do passado que volta a nos assombrar com a crise dos mercados financeiros e as recentes quedas nas bolsas de valores de todo o mundo
	
	
Dorothea Lange / Records of the Social Security Farm Administration / NARA
Idoso aguarda pela distribuição gratuita de sopa em São Francisco
por Osvaldo Coggiola
Há semelhanças e diferenças entre a atual crise financeira e a de 1929. Como hoje, o epicentro da crise de então foram os Estados Unidos, mas por razões distintas: naquele ano, os americanos estavam no ápice de um período de ascensão como potência capitalista. Entre 1870 e 1929, o produto industrial do país quadruplicou.
Na época, já eram conhecidas as “crises cíclicas” da economia, caracterizadas por movimentos de preços — depois de um período de crescente valorização dos produtos, seguia uma baixa, num contexto liberal em que os movimentos econômicos se faziam praticamente sem obstáculos.
As crises do século XIX se manifestaram como uma vigorosa baixa dos preços na economia. As empresas industriais reagiam baixando também os salários dos trabalhadores, e assim restabeleciam o seu equilíbrio num nível inferior. Era a fase de “depressão”, ou de “liquidação” da crise, antes que o sistema voltasse a uma dinâmica de crescimento.
Desde 1925, apesar da euforia da expansão, a economia norte-americana apresentava problemas. A produção se desenvolvia em ritmo acelerado, mas os salários, não. Em conseqüência da progressiva mecanização da indústria e da agricultura, os trabalhadores perdiam vagas, e o desemprego crescia.
Além disso, depois de se recuperarem dos prejuízos e da destruição da I Guerra, os países europeus passaram a concorrer nos mercados internacionais e a comprar cada vez menos dos Estados Unidos.
	
Franklin D. Roosevelt Presidential Library
Fila para restaurante com refeições a 1 dólar em Nova York
Com a falta de consumidores externos e internos, começou a “sobrar” enormes quantidades de mercadorias, caracterizando uma crise de superprodução.
As declarações otimistas dos homens de negócios continuavam, porém, a alimentar a corrente especulativa de alta no mercado. Os “capitães da indústria” reafirmavam sua esperança nos lucros futuros.
Em 12 de junho de 1928, verificou-se um primeiro recuo da Bolsa de Nova York: nesse dia, mais de 5 milhões de ações mudaram de mãos, com quedas de 23 pontos. A alta recomeçou a partir de julho.
Em suas Memórias, o presidente americano da época, Herbert Hoover, estigmatizou, posteriormente, a especulação: "Há crimes piores que o assassínio, pelos quais os homens mereceriam ser injuriados e castigados".
A animação com o aumento do preço das ações era tão grande que as pessoas tomavam empréstimos nos bancos para comprar títulos na Bolsa. Os estabelecimentos bancários de Nova York emprestavam a prazo curtíssimo, a juros de 12%, dinheiro que haviam tomado emprestado a 5% do Federal Reserve (o banco central americano).
Enquanto o valor das ações subia, os investidores lucravam, e a euforia difundia-se com a credulidade geral. Os agentes financeiros emprestavam a seus clientes aceitando como garantia ações da Bolsa.
O valor global das ações passou de US$ 27 bilhões a US$ 67 bilhões entre 1925 e 1929, com uma alta de US$ 20 bilhões só nos nove primeiros meses de 1929. Algumas carteiras de investimentos se valorizaram 700% em poucos meses. Havia crescimento cada vez maior — e totalmente descolado da produção.
	
Reprodução
Wall Street durante a "quinta-feira negra", em 29 de outubro de 1929
No início de outubro de 1929, alguns investidores começaram a apostar “na baixa”. Meses antes, em agosto, a taxa de juros havia sido elevada de 5% para 6%, numa tentativa de reduzir o volume de crédito, mas era tarde demais.
A orgia de lucros, finalmente, estourou no dia 24 de outubro de 1929: as cotações da Bolsa de Valores de Nova York afundaram 50% em um só dia. Estes preços estabilizaram-se ao longo do fim de semana, para caírem drasticamente na quarta feira seguinte, 28 de outubro.
Muitos acionistas entraram em pânico. Cerca de 16,4 milhões de ações subitamente foram postas à venda em 29 de outubro, a “quinta-feira negra”. O excesso de ofertas de venda, e a falta de compradores, fizeram com que os preços destas ações caíssem cerca de 80%. Até o fim do mês, seguiram-se novas derrubadas de preços e uma onda de falências (22.900 em 1929; 31.800 em 1932). Milhares de acionistas perderam grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham.
Os preços dessas ações continuariam a flutuar, caindo gradativamente nos próximos três anos. As pessoas decidiram cortar gastos, em especial os endividados. A recessão estendeu-se aos setores industrial e comercial americano, o que levou ao fechamento inúmeras empresas, o que elevou drasticamente as taxas de desemprego.
A venda a crédito quase desapareceu. A produção industrial caiu 45%. Os lucros afundaram. A renda nacional recuou de US$ 87,4 bilhões em 1929 para US$ 41,7 bilhões em 1932. A massa salarial, de US$ 50 bilhões para US$ 30 bilhões. Os preços encolheram 30%, na média.
Um aspecto original da crise de 1929 consistiu na amplitude da depressão no campo. A transformação capitalista o fez entrar em cheio na crise, com repercussões gerais. A situação dos bancos era agravada porque muitos deles haviam emprestado grandes somas aos fazendeiros. Com a crise, estes tornaram-se incapazes de pagar suas dívidas. Entre 1929 e 1933, os preços dos produtos industrializados não-perecíveis caíram 25%; os dos produtos agropecuários, 50%.
	As conseqüências sociais nos Estados Unidos foram espantosas. Os trabalhadores sofriam não só pelo desemprego, mas também pela redução salarial e dos horários de trabalho. Não havia seguro-desemprego, só caridade.
Surgiram as hoovervilles (cujo nome é uma “homenagem” ao presidente Hoover), verdadeiras favelas de “excluídos”. E também as sopas populares e os abrigos para sem-teto, sempre cheios. Em Chicago, o lixo era “revisado” e reaproveitado por uma enorme massa de pobres.
Em 1932, estimava-se que um milhão e meio de jovens faziam parte de “bandos de errantes”, sem destino. Muitos dos jovens das áreas rurais abandonaram suas fazendas e suas famílias, buscando a sorte nas cidades. Juntamente com os desempregados urbanos, viajavam de cidade a cidade, “pegando carona” em trens de carga, em busca de emprego.
A subalimentação produziu um surto de tuberculose. O número de matrimônios caiu 30%, e o de nascimentos, 17%. Os proventos dos trabalhadores experimentaram um retrocesso global, sem precedentes.
Grupos étnicos minoritários e imigrantes dos países mais atingidos passaram a ser discriminados porque, supostamente, competiam com a "população nativa" pelos empregos. A discriminação era alentada por grupos nacionalistas de direita. Isto fez com que as taxas de imigração caíssem sensivelmente no Canadá e nos Estados Unidos. Apenas nesses dois países, o número de desempregados elevou-se para 18 ou 20 milhões.
A crise de 1929 teve conseqüências inteiramente novas. Todo o aparelho de crédito sobre o qual vivia a economia americana se desestruturou. Esse processo chega ao pior momento no início de 1933, numa ameaça de bancarrota geral, no momento exato em que o democrata Franklin Delano Roosevelt chegava ao poder.
	
Biblioteca do Congresso, Washington D.C.
Franklin Delano Roosevelt (dir.), o presidente do New Deal ao lado de seu antecessor, Herbert HooverAo mesmo tempo, a retirada dos créditos americanos de curto prazo resultou, em 1931, no desmoronamento financeiro da Europa Central e na impossibilidade, para a Grã-Bretanha, de honrar seus compromissos externos.
A crise atingiu o mundo todo. Em 1932, a produção mundial tinha caído 33% em valor; o comércio mundial, 60%; o Birô Internacional do Trabalho, em um cálculo que pode ser considerado modesto, contabilizava 30 milhões de desempregados. Os países mais atingidos pela crise, além dos Estados Unidos, foram a Alemanha, Austrália, França, Itália, o Reino Unido e o Canadá.
Não se tratava da primeira quebra da Bolsa, depois de uma grande alta especulativa. Desta vez, porém, as conseqüências foram tais que se achou que a quebra fosse a causa da crise propriamente dita. Mas certos índices econômicos já haviam mudado de sentido antes de outubro, embora muito ditos entendidos de então julgassem ter descoberto o segredo de uma prosperidade econômica contínua.
As conseqüências políticas não foram menores. Empossado em 4 de março de 1933, Roosevelt aumentou os poderes presidenciais. A “democracia americana” pendeu por um fio. A posse de Roosevelt, com seu “discurso da virada”, aconteceu exatamente um dia antes que Adolf Hitler, na Alemanha, conseguisse os “poderes totais” para governar por decreto. A crise parecia enterrar as “democracias”.
Diferente de uma crise cíclica de tipo clássico, a depressão econômica não se resolveria “sozinha”. As primeiras medidas eficazes foram adotadas a partir de 1932-1933, quase simultaneamente por Roosevelt nos Estados Unidos e por Hjalmar Schacht na Alemanha nazista, e foram, anos mais tarde, teorizadas pelo economista britânico John Maynard Keynes.
Segundo Michel Beaud, “a uma saída capitalista para a crise, que impunha enormes sacrifícios à classe operária e se arriscava assim a levar a inquietantes confrontos, Keynes propunha uma outra saída capitalista que, mediante uma retomada a atividade, possibilitasse reduzir o desemprego, sem amputar o poder de compra dos trabalhadores”.
	
(C) RDA / Rue de Archives / RDA
A crise econômica na Alemanha abriu caminho para a ascenção do nazismo
As políticas possuíam um fundo comum: a intervenção do Estado para a solução dos problemas econômicos. Embora as variantes da política intervencionista fossem de caráter nacional, algumas medidas foram comuns: protecionismo alfandegário, desvalorização monetária, subvenções governamentais a empresas privadas e aumento dos gastos públicos. Nos Estados Unidos, especificamente, o New Deal significou medidas intervencionistas visando a atenuar a crise, atuando com um caráter emergencial.
Foi com base na Lei de Guerra de 1917 que foi proclamado o fechamento de todos os bancos. Durante as férias bancárias, o Tesouro elaborou a #Emergency Banking Ac#t, negociada com os grandes monopólios, para contrabalançar o peso da ala intervencionista do governo, que reclamava a nacionalização de todo o sistema do crédito.
Roosevelt fez aprovar o #New Deal# (Novo Acordo, cujo nome foi inspirado no #Square Deal# do ex-presidente Theodore Roosevelt), fornecendo ajuda social às famílias e pessoas que necessitassem e criando empregos por meio de parcerias entre o governo, empresas e consumidores. Nos anos seguintes, diversas agências governamentais foram criadas para administrar os programas de ajuda social.
O papel do regime de Roosevelt consistiu em salvar temporariamente o capitalismo, abandonando o tradicional liberalismo econômico americano. Usou os recursos financeiros do Estado para socorrer as empresas bancárias e comerciais e fez votar as leis que restringiram a concorrência e permitiram a alta dos preços, favorecendo o capital monopolista. Manteve o descontentamento das massas trabalhadoras urbanas e rurais sob controle dentro de uma política de concessões, como um sistema de aposentadorias e de seguro-desemprego.
	
Biblioteca do Congresso, Washington D.C.
Hooverville, as favelas americanas do período, próxima à cidade de Portland
O capitalismo americano, auxiliado pelo Estado, aliviou-se da crise. A produção elevou-se acima do nível de 1932 e pode novamente proporcionar lucros em certos ramos. Essa retomada foi devida mais aos gastos governamentais do que a uma reativação da indústria privada.
Tudo isso fez a economia norte-americana retornar aos níveis anteriores a 1929 nas vésperas da Segunda Guerra, embora o desemprego jamais tenha sido extinto, persistindo a grande cifra de mais de oito milhões de desempregados em 1940. Isso só seria solucionado com a passagem para uma economia de guerra.
Na Alemanha, a crise de 29 agravou os resultados da hiperinflação de 1923. Às classes médias desesperadas, os nazistas propunham remédios contra a angústia: xenofobia, racismo e nacionalismo exacerbado, acompanhados de uma demagogia anticapitalista que culpava os judeus pela crise.
O partido nazista usava a violência e o terror contra seus “inimigos”, para demonstrar a seu “público” sua determinação em atingir seus objetivos. Os países democráticos não foram poupados pela onda: sem chegar à polarização da Alemanha, na Grã Bretanha tanto o Partido Comunista quanto o Partido Fascista britânico receberam considerável suporte popular.
Na segunda metade da década de 1930, depois da vitória do fascismo na Itália (1923) e do nazismo na Alemanha (1933), a Guerra Civil Espanhola resumiu o destino da Europa. A vitória de Franco, auxiliado por Hitler e Mussolini, selou o caminho para a Segunda Guerra Mundial. Nos diversos países, a economia de guerra pôs fim definitivo à crise. A “economia” (capitalista) se salvou, mas o mundo viveria o maior conflito da história da humanidade.
	
	O estopim da escalada nazista
	O incêndio no edifício do Reichstag, o parlamento alemão, foi um ardil usado por Adolf Hitler para fechar o regime e tomar o poder
	por Hersch Fischler
	
Um plano criado pelo ministro Hermann Goering atribuiu o atentado aos comunistas
Cinco dias antes das eleições legislativas de 1933, na noite de 27 de fevereiro, a sala de sessões do Reichstag, o parlamento alemão, inflamava-se como uma tocha.
Ardiam as chamas contra o céu de Berlim. No dia seguinte, a polícia, colocada sob a autoridade de Hermann Goering, ministro do Interior da Prússia, apresentava seu suspeito: um anarco-comunista holandês de 24 anos, o pedreiro Marinus van der Lubbe. Ele tinha sido "pego em flagrante", e "seus cúmplices comunistas, fugido". 
No dia seguinte, sob o pretexto de uma ameaça de complô de esquerda, Hitler impunha ao presidente Hindenburg um decreto de emergência abolindo todas as liberdades fundamentais da República. Nos dias que se seguiram, milhares de adversários dos nazistas foram presos. A imprensa socialista e comunista foi proibida. A Gestapo e a tropa diferenciada SS tinham plenos poderes. O incêndio do Reichstag, de alguma forma, foi o ato fundador do III Reich, e escancarou as portas do poder para Hitler. De fato, em 5 de março, os nacionais-socialistas e seus aliados obtiveram 51,8% dos sufrágios.
O processo de Van der Lubbe durou de setembro a dezembro de 1933, na Corte Suprema de Leipzig. A seu lado, no banco dos réus, encontravam-se o líder do grupo comunista do Reichstag, Ernst Torgler, e três correligionários búlgaros, um deles o responsável pelo Komintern, Georgi Dimitroff. No entanto, muitos duvidavam da culpa de Van der Lubbe. E não apenas os socialistas e comunistas. Até entre os que apoiavam Hitler, havia quem pensasse que o Partido Nazista, o NSDAP, estava envolvido na trama. Os autos dos interrogatórios - conduzidos pelo comissário Walter Zirpins sem a presença de intérprete, embora Lubbe falasse mal o alemão - foram assinados pelo acusado, que admitia o crime. O documento ainda aventava a hipótese de que ele agira por instigação dos comunistas - o que ele negara.
	Em menos de três meses, o caso de Marinus van der Lubbe foi encerrado. Ele não fez quase nada para se defender.Justamente. A foto tirada quatro dias depois de sua prisão mostrava um jovem forte e de boa saúde. Em contrapartida, durante todo o processo, ele se comportou como um autômato, arrasado, apático, de cabeça baixa, incapaz de enunciar uma única frase, senão para reiterar a culpa. Observadores estrangeiros afirmaram, então, que ele estava drogado. Durante sua prisão no Reichstag, na noite do incêndio, ele já parecia estar em estado alterado. Condenado à morte em 23 de dezembro, Lubbe foi decapitado em 10 de janeiro de 1934. Por falta de provas, Dimitroff e seus colegas búlgaros foram soltos.
Nos anos 50, a tese da culpa dos nazistas e da inocência do jovem holandês voltou a tomar consistência. Mas prova alguma permitia sustentá-la. O historiador Richard Wolff, oficialmente encarregado de esclarecer o caso, não pôde se pronunciar de forma definitiva: segundo ele, os documentos referentes ao processo tinham sido perdidos. Mas, no outono de 1959, houve um fato novo. A revista Der Spiegel, de Hamburgo, publicou uma série de artigos assinados pelo historiador Fritz Tobias, reforçando a tese de que Van der Lubbe era o único incendiário do Reichstag. 
Inocentava os nazistas e, extensivamente, os comunistas. No segundo artigo, o dr. Zirpins, que havia interrogado o réu em 1933 e fora promovido à diretoria da polícia judiciária de Hanover em 1951, confirmava essas informações. Rudolf Augstein, diretor da Spiegel, por sua vez, concluía que pouco importava saber quem fora o autor do incêndio. O "cínico golpe de mestre" dos nazistas foi, segundo ele, ter sabido explorar o caso o tempo todo.
Essa tese prevaleceu por muito tempo, embora fosse negada por um grupo de historiadores liderados pelo suíço Walther Hofer e pelo servo-croata Edouard Calic, que publicaram, nos anos 70, documentos vindos de Berlim Oriental questionando a culpa exclusiva de Van der Lubbe. Fritz Tobias, que em 1962 escrevera um livro a partir de seus artigos, acusou-os de utilizar fontes falsificadas, e eles não ousaram inquiri-lo judicialmente. Além disso, Tobias recebeu o aval do historiador Hans Mommsen, em 1964.
	Na verdade, ninguém podia restabelecer os fatos, porque os processos da polícia do Reich e da Corte Suprema de Leipzig haviam sido seqüestrados pelos soviéticos em 1945 e levados para Moscou. Imaginava-se que tivessem sido devolvidos à Alemanha Oriental somente nos anos 50. Na verdade, soube-se depois que os soviéticos restituíram esses processos - classificados como "fundos no 551" -, somente em 1982, aos arquivos do Partido Comunista da Alemanha Oriental, onde permaneceram fechados. Depois da reunificação, eles foram repassados à sucursal dos arquivos federais de Potsdam, que os declarou autênticos e os colocou à disposição dos historiadores no início de 1993. Deles se conclui que Marinus van der Lubbe não podia ter sido o incendiário do Reichstag e que o roteiro desse drama foi escrito da primeira à última linha pelos nazistas.
Hofer e Calic já haviam provado que Van der Lubbe não podia ter incendiado sozinho aquele imenso edifício com quatro pequenos acendedores utilizados para fogareiros a carvão. Segundo eles, Van der Lubbe teria sido drogado e conduzido, contra sua vontade, ao Reichstag. Vagando pelos corredores, sufocado pela fumaça e com as roupas pegando fogo, ele admitiu tudo que os policiais queriam fazê-lo confessar. Provavelmente, foi introduzido no prédio pelo portão 2 e impedido de sair. Outro ponto é que as reconstituições provaram que o pretenso culpado não conhecia o prédio nem o local onde se iniciou o incêndio. Há, portanto, indícios de manipulação.
Não se pode, aliás, excluir a hipótese de que Van der Lubbe tenha sido observado bem antes pelos nazistas, que, uma vez preparado o golpe, buscavam um culpado ideal. Na verdade, ele tinha sido designado, pelos anarco-comunistas holandeses, para atuar em um grupo de esquerda berlinense independente de Moscou, a AAU. O que ele não podia imaginar é que essas organizações estavam infiltradas pelos hitleristas, notadamente aquela em que ele se engajou, já que ela abrigava o estudante Wilfried van Oven, que mais tarde viria a ser assessor de imprensa de Goebbels.
Os arquivos soviético-alemães-orientais trouxeram outras revelações: por exemplo, o diário pessoal de Goebbels. O ministro da propaganda de Hitler declarou, diante do tribunal, que havia sido informado do incêndio por um telefonema do chefe da imprensa estrangeira do Partido Nazista, Ernst Hanfstaengl, que morava no palácio do presidente do Reichstag. Goebbels escreveu em seu diário que, a princípio, pensou tratar-se de uma brincadeira de mau gosto e só informou o Führer depois de um segundo telefonema, indicação repetida pelo mesmo Hanfstaengl em sua autobiografia publicada nos anos 50. Na realidade, o porteiro do Reichstag, Paul Adermann, que os juízes não julgaram oportuno citar no tribunal, atestara que Hanfstaengl não morava no palácio do presidente do Reichstag e não estava lá na noite do incêndio. Assim, os nazistas, com Goebbels à frente, não devem ter se surpreendido tanto como aparentavam.
Outro fato confuso: na tarde de 27 de fevereiro, portanto antes do incêndio, o conselheiro Rudolf Diels, a quem Goering confiara a diretoria da polícia, havia implantado um dispositivo que permitia a prisão de líderes políticos socialistas e comunistas alemães. Essas detenções foram apresentadas por Tobias e Zirpins na Spiegel como uma reação ao "atentado". Na realidade, tudo prova que eles estavam preparados havia tempo. Em seu livro Strafrecht leicht gemacht (O direito penal ao alcance de todos), publicado durante o III Reich, Zirpins já se pronunciara favorável às prisões preventivas e aos campos de concentração.
	Os arquivos de Berlim Oriental lembram também que dois outros personagens tinham sido presos com Van der Lubbe quando escapavam do Reichstag: Wilhem Heise, operário notoriamente de extrema-direita, e Albrecht, deputado nacional-socialista. Este foi posto imediatamente em liberdade e Heise foi solto às 4h45 da manhã, depois de uma tentativa de suicídio. Outro comparsa dos nazistas também se saiu bem, liberado após um breve interrogatório. Tratava-se de um certo F. C. A. Schoch, também holandês. Seu carro foi reconhecido por testemunhas quando ele estacionava na noite do incêndio perto de um dos portões do Reichstag.
Os historiadores Hofer e Calic formularam a tese de que os incendiários nazistas haviam entrado no edifício por um túnel que chegava até o palácio do presidente do Reichstag - nada mais, nada menos que o próprio Hermann Goering. Nada nos arquivos endossa essa hipótese. Mas faltam páginas nesses documentos. Há quem avente a hipótese de que fossem as páginas remetidas de Berlim Oriental sas. No entanto, não se pode afastar a idéia de que Goering também tenha utilizado o túnel, nem que fosse para confundir as pistas em caso de fracasso da operação. Os verdadeiros incendiários entraram - com grande tranqüilidade pelos portões 2 e 3, como sugerem os documentos - com a cumplicidade do pessoal do Reichstag.
Há também no "fundos no 551" outra informação, dada por um diretor de prisão chamado Brucks em texto escrito, em 22 de abril de 1938, ao procurador do Reich. O remetente admitia ter obtido, na época do processo de 1933, de um homem das SA (as sessões de assalto) encarcerado, um certo Rall, a confissão de que o incêndio fora perpetrado pela seção 17 das SA usando o subterrâneo. Brucks indicava que esse arquivo havia desaparecido. Rall foi assassinado pelas SA e Brucks morreu, em condições não elucidadas, pouco depois de ter escrito essa carta.
Os laudos da polícia confirmavam que o bando de incendiários era composto por nazistas e seus aliados. Von Papen, o líder dessa ação, teria desempenhado um papel muito mais ativo do que se pensava na própria ascensão de Hitler. Seu protegido, e também de Goering, Rudolf Diels, foi promovido em 1933 a primeiro chefe da Gestapo. O famoso Wilfried van Oven, chefe de imprensa de Goebbels até o fim do III Reich, reapareceu depoisda guerra com o nome de Wilfred van Oven como correspondente da Spiegel na Argentina. Primeiro, pretendeu-se que ele havia se refugiado ali em 1945. Mas depois se verificou que Rudolf Augstein, diretor da Spiegel, permitira que ele emigrasse legalmente para lá em 1951. Fiel a suas convicções, Oven criara uma revista germano-argentina de extrema-direita: La Plata Ruf (O chamado de La Plata). Também seria encontrado, entre os que cercavam Augstein nos anos 50, Georg Wolff, redator-chefe adjunto da Spiegel.
	Tudo isso leva a indagações como: um homem a serviço da segurança do Reich, dirigido por Reinhard Heydrich, seria Wolff aquele que, na entourage de Augstein favorecia os antigos nazistas? E quem abrira as páginas da Spiegel para Fritz Tobias e suas testemunhas nazistas como foi o caso do comissário Zirpins?
Estranho Zirpins. Tornou-se um dos auxiliares de Heydrich e era chefe da polícia criminal de Lodz, onde dezenas de milhares de judeus, encerrados em um gueto, foram liquidados. Em 1942, passou a ensinar na escola dos quadros da polícia de Reinhard Heydrich em Berlim-Charlottenburgo, por onde passaram numerosos homens que, nos anos 50, criaram a BKA, a polícia criminal da Alemanha Ocidental. A maior parte deles carregava milhares de mortos na consciência. Em 1945, ele foi o último chefe nazista da polícia de Hamburgo. E, em 1951, ou seja, seis anos depois da derrota do regime nazista, estava à frente da polícia judicial de Hanover. Em 19 de dezembro de 1951, a Spiegel publicou um longo artigo de Zirpins, dado como excelente policial. Naquele momento, a revista mantinha sua redação em Hanover.
Ele somente se mudou para Hamburgo um ano mais tarde. Pode-se indagar legitimamente sobre as conexões entre todos esses antigos nazistas, a Spiegel e o seu diretor. A revista nunca aceitou retificar sua afirmação sobre a culpa de Marinus van der Lubbe. A Stern, em 1992, desistiu de publicar os documentos sobre esse caso. Vale imaginar se não teria havido pressão, de que tipo e da parte de quem.
Da mesma forma, pode-se perguntar por que os soviéticos, que estavam em posse dos documentos do processo Van der Lubbe, não esclareceram o caso antes. Há quem acredite que, dessa forma, a União Soviética e a RDA conservavam um bom meio de chantagem contra altos funcionários da Alemanha Ocidental comprometidos com o antigo regime nazista.
-Tradução de Luciano Loprete
	
	Reencontro com a História
	Numa Alemanha reunificada, a restauração do Reichstag teve valor simbólico. Berlim voltou a ser a capital da República Alemã. Em 19 de abril de 1999, o parlamento alemão - o Bundestag - realizou sua sessão inaugural e, em 23 de maio, o sucessor de Roman Herzog na presidência da República federal foi eleito no edifício do Reichstag, restaurado sob os cuidados do arquiteto britânico Norman Foster.
O novo Reichstag passou a significar a Alemanha reunificada, apelidada de "República de Berlim". O imponente edifício neoclássico convidava os alemães a um encontro com sua história. Muitos ainda indagavam principalmente sobre os autores do incêndio do Reichstag na noite de 27 de fevereiro de 1933. Afinal, quem pôs fogo no prédio, os nazistas, os comunistas (como pretendiam os nazistas) ou aquele jovem holandês de Leyde, Marinus van der Lubbe, executado em janeiro de 1934 aos 24 anos? Despacho da Agência France Presse, de 15 de abril de 1999, informa que aquele incêndio criminoso foi "perpetrado em circunstâncias jamais esclarecidas".
No entanto, o enigma já estava resolvido. A revelação histórica, que coube ao historiador de Düsseldorf Hersch Fischler, não recebeu até aquele momento a relevância que merece. O processo do jovem anarquista holandês diante da Corte de Leipzig foi orquestrado nos bastidores por Hermann Goering, responsável pela polícia política. Goering organizou o incêndio, executado por um bando de nazistas, a fim de criar um pretexto para abolir as liberdades públicas e instaurar a ditadura.
Em 13 de janeiro de 1999, diante de uma representante do governo holandês e de uma vereadora de Leipzig, Elisabeth van der Lubbe e Adriane Derix-Sjardijn, inaugurou-se no cemitério da cidade um monumento em memória do primo das duas senhoras, Marinus. Dois artistas holandeses cinzelaram numa pedra semelhante às do Reichstag um poema escrito na prisão pelo condenado. Porém, nenhum funcionário alemão assistiu à reabilitação daquele que a Holanda considera como um resistente antinazista.
Por Jean-Paul Picaper - jornalista
A formação do pensamento político de Aldof Hitler
Voltaire Schilling
Acostumou-se a pensar ter sido Adolf Hitler, morto em 1945, uma vergonha dentro da civilização Ocidental e cristã, espécie de excrescência política sem raízes na nossa tradição. A indução a esse tipo de erro deve-se em parte à conceituação de ser essa civilização apresentada como um monopólio identificado com os princípios do humanismo, do liberalismo e da tolerância, omitindo-se discretamente sua latência colonialista, racista e agressiva, que germinava na cultura ocidental.
Antes de apresentarmos os argumentos necessários a refutar as considerações iniciais, acreditamos ser necessário alertar para as dificuldades que se antepõem àqueles que pretendem rastrear sua ideologia. Em primeiro lugar, Hitler sempre manifestou clara ojeriza ao intelectualismo, dando ênfase ao primado da vontade e da ação. Em segundo lugar, a totalidade da sua obra política ainda não foi reunida. Ele próprio empenhou-se em evitar uma edição dos seus discursos.
A razão disso é muito simples. Como todo e qualquer político de massas, ele foi é obrigado a realizar pronunciamentos muitas vezes contraditórios oscilando suas opiniões conforme o momento ou o público. Sendo crente no princípio da infalibilidade da liderança - o Führerprinzip - Hitler não admitia que encontrassem em seus pronunciamentos, incoerências ou idiossincrasias que causassem dúvidas ou lançassem sombras sobre sua integridade ideológica.
Portanto, enquanto não for realizado o levantamento completo de seus discursos, e boa parte deles se encontram transcritos no órgão oficial do partido nacional-socialista - o Völkischer Beobachter - devemos nos contentar com o Mein Kampf, publicado em 1925, ou as anotações feitas nas Tischgespraechen e ainda oAdolf Hitler in Franken.
Análises sobre Hitler
O papel de Adolf Hitler gerou uma bibliografia verdadeiramente pródiga e , em geral, de excelente nível; tais como as de Ernst Noite (Der Faschismus in seiner Epoche); a de Karl D. Bracher (Die deutsche Diktatur); a do historiador britânico Alan Bullock ( Hitler: a study of a tirany) e o mais recente trabalho de Joachim Fest (Hitler), que anteriormente já se havia consagrado com a notável Das Gesicht des Dritten Reiches.
Devemos lembrar ainda o livro do professor J.P. Stern (Hitler: the Führer and the people) editado a pouco menos de sete anos, caracterizado pelo seu esforço de síntese e brilho intelectual. Merecendo um especial destaque a imensa obra de Ian Kershaw editada em dois tomos: Hitler, 1889-1936 Hubris ; Hitler, 1936-1945 Nemesis, aparecidas em 1998 e 2000, e traduzidas para o português (Hitler, Companhia das Letras, 2009).
Quase todos esses trabalhos foram sob o prisma da interpretação liberal ou social-democratica, corrente que até agora se mostraram mais ativas na sua tentativa de compreensão do nacional-socialismo. Deve-se igualmente alertar que a personalidade de Hitler tem sido minuciosamente averiguada pelos adeptos da psico-história. No entanto basta passar os olhos sobre esse tipo de literatura para se ficar em dúvida sobre a sanidade, não de Hitler, mas a de seus psico-interpretes.
Hitler segundo o marxismo
Não deixa de parecer estranho que até os nossos dias o pensamento marxista foi incapaz de produzir um trabalho clássico sobre o seu principal e formidável inimigo, aquele que desejava exterminá-lo. A literatura marxista não tem sido feliz em suas análises, demonstrando uma impotência teórica abrumadora: repetem adnauseam os conhecidosditos de ter sido Hitler o representante máximo da "ditadura do capital financeiro" ou o "tirano do capitalismo monopolista", terminando por reduzir o nazismo a um epifenômeno da economia, não apresentando nenhuma razão mais contundente para as massas germânicas terem aderido às suas propostas.
Por outro lado, essa impotência é reveladora porque de sua derrota nos anos 1920 e 1930 frente ao nazi- fascismo. Um esforço recente foi aquele realizado pelo neomarxista Nicos Poulantzas (Fascisme et Dictadure), mas que deixou muito a desejar na medida em que encontrou muito mais preso à metodologia estruturalista do que ao maior legado de Marx, que foi a História.
O caminho prussiano
Enquanto os jacobinos e girondinos franceses destroçavam as amarras do Ancien Regime por meio de um processo revolucionário que sepultou a nobreza feudal, aos intelectuais alemães coube realizar uma "revolução pelo espírito", que produziu apenas excelentes tratados filosóficos. Não está longe da verdade a imagem de terem os pensadores alemães se debruçado sobre as margens orientais do Reno e assistido embevecidos às façanhas irreverentes de seus vizinhos.
Alguns mantiveram esperanças que o "espírito da razão" atravessasse as braçadas o rio e emancipasse a nação alemã. Mas não foi o "espírito" e sim o Grande Exército napoleônico quem se apossou da nação alemã. Não foram os argumentos iluministas os mais convincentes, mas sim a artilharia francesa. Assim, na Alemanha, o liberalismo vinculou-se inarredavelmente ao exercito de ocupação - a algo estranho a ser rejeitado pelos "verdadeiros alemães". E quando se deu o desabamento do império napoleônico, a vitória coube às forças conservadoras feudais da Santa Aliança, coligação tradicionalista e aristocrática que continuou a gozar de prestigio junto à população alemã.
Na medida em que se considerava impotente para derrubar o poderoso Estado militar-feudal prussiano, sediado em Berlim, a burguesia alemã resignou-se, escolhendo a capitulação. Ainda em 1848/9, na chamada Revolta dos Poetas, tentou inutilmente impor suas diretrizes de cunho liberal, mas fracassou. O medo que o populacho pudesse avançar politicamente refreou-lhe o desejo de emancipação.
Deste modo, frustrada a solução da unificação nacional pela via liberal, só restou ao capitão da progressista região do Reno seguir o junker, o guerreiro feudal e comandante das armas do exército prussiano. O resultado disso foi a ascensão do II Reich, fundado por Otto von Bismarck, o estadista prusssiano que consolidou o poder autoritário sobre o restante da Alemanha às custas de guerras.
A burguesia alemã submete-se ao Estado Feudal
Bem antes, o filósofo Hegel havia traçado o perfil desse peculiar acordo entre a burguesia alemã e o aparelho feudal-prussiano. "O Estado", disse ele "é o espírito como vontade substancial revelada clara para si mesma, que se conhece e se pensa e realiza o que sabe e porque (...) enquanto o individuo obtém sua liberdade substancial da sua atividade".
Quer dizer, a liberdade não se dá como ocorreu entre a burguesia inglesa e francesa, isto é contra o Estado, limitando-lhe o poder e a autoridade , mas sim por meio dele e sob a atenta proteção dele. Friedrich Engels, o companheiro de Karl Marx, furibundo sintetizou tal situação de conformismo afirmando que a gente de classe média alemã, estreita de pensamento, deixara a aristocracia prussiana no leme do Estado conquanto pudesse ganhar dinheiro.
Portanto, todo o roteiro de transformações por que a Alemanha passou no século 19 (basicamente sua unificação nacional e acelerada industrialização) se deu dentro dos "quadros de ferro" do estado feudal-militar com seu culto à disciplina e à ordem e com escassa tolerância para com a dissidência política, consagrando o dito "Gegen demokraen helfen nur soldaten", contra democratas só adianta soldados.
Esta contradição histórica e social, onde encontramos os meios de produção nas mãos de burgueses e as instituições políticas ocupadas pela casta militar dos junker, terminou mais tarde por conduzir o país à camisa-de-força do nacional-socialismo. A dolorosa gravidez da burguesia alemã não produziu um nascituro democrático, e sim um tirano expressionista.
O Social-Darwinismo
Hitler não se abeberou somente do passado nacional alemão, com seu culto ao militarismo e ao estado todo- poderoso. O social-darwinismo, extremamente difundido a partir da publicação da obra de Charles Darwin em 1859, teve um peso inequívoco em sua concepção ideológica.
A ideia básica dessa teoria era que, como na selva, os destinos dos povos e a evolução geral da sociedade eram regidos por fatores de ordem biológica. As mesmas leis que existiam na selva e nas savanas imperavam na sociedade humana.
No plano político, a ideologia social-darwinista conduzia a fazer uma apologia dos mais fortes, daqueles que conseguiam se impor perante o rebanho. Seriam eles, os ricos, os poderosos, os proprietários, os condutores naturais da sociedade humana da mesma forma que os leões se impõem sobre os demais animais da floresta.
Segundo esse raciocínio, qualquer ideia que propusesse a igualdade entre os homens não estaria apenas propagando uma quimera como igualmente cometendo um atentado contra a natureza.
Os social-darwinistas propunham um processo de seleção rigorosa por meio da eugenia, operação que exigia ao mesmo tempo a eliminação e a procriação de certos tipos humanos - um controle biológico qualitativo, que permitiria a supremacia de alguns sobre os demais.
Radicalizando-se com o tempo, defendiam a eliminação dos desajustados, o apelo ao dirigismo técnico para a política de colonização, o internamento forçado em silos e a esterilização dos elementos tidos como inferiores.
Essa doutrina trazia em bojo uma categórica rejeição tanto ao socialismo como à democracia na medida em que tanto um como outro se opõe ao domínio do mais forte, ao sucesso do mais apto e capaz, como era aceito pelos social-darwinistas.(*)
Não existe igualdade na selva nem se dá a partilha equitativa dos recursos materiais. Os leões não são iguais aos cordeiros nem eleitos por esses. Eles simplesmente se impõem aos demais. Como facilmente se observa, todo o programa nacional-socialista já se encontrava previamente esboçado nessas teorias que tinham ampla difusão e aceitação por toda Europa "respeitável" no período anterior à Primeira Guerra Mundial. Já Mussolini bradava a respeito do Movimento Fascista, Noi il leone! Nós os leões!
(*) o termo social-darwinismo surgiu em 1879 por obra de um artigo publicado na revista Popular Science por Oscar Schmidt. Seus antecedentes ideológicos prestam tributo ao demógrafo e economista inglês Thomas Malthus, ao sociólogo Herbert Spence, ao sobrinho de Darwin Francis Galton e ao biologista alemão Ernst Haeckel.
A visão conflitiva da humanidade
Em sua visão universal (Weltanchauung) havia uma luta permante entre dois tipos de humanidade. Uma, a desprezada por ele, a que denominou de "humanidade individualista", guiava-se por sentimentos de fraternidade e espírito de colaboração, influenciada por princípios morais religiosos ou inspirada em filosofias sociais que visavam a contenção dos instinto e da agressividade humana.
A outra, a qual ele se alinhava, era a "humanidade natural", que se aproximava com mais fidelidade das leis mais primárias, que justamente são as que "destroem a debilidade para dar lugar à força". Esta celebra a coragem, o destemor, deixando-se levar pelos impulsos originais mais chãos que lhe permitem a superação dos desafios e o empenho na liquidação dos mais débeis.
Este conflito entre estas duas humanidades se estende para os povos e os países. Dada a perspectiva de escassez futura das possibilidades materiais de reprodução da vida - visto que está em curso uma implacável disputa por espaço, - somente aquele "mais forte em coragem e em zelo", o que possui "a energia de o conquistar e o cuidado de o cultivar", é que receberá "o prêmio da existência", que sempre contempla omais resistente. A natureza "não conhece limites políticos".
Assim, somente a "cegueira pacifista" de certos povos faz com que desistam das conquistas necessárias à reprodução e ampliação das raças fortes. E, se fazem isto, incorrendo no erro, contribuem para limitar-se e debilitar-se e, por isto mesmo, condenando-se a desaparecer do cenário da vida.
Duas ordens disputam o futuro da humanidade. A primeira esta baseada na presença do número, regida pelo espírito da democracia que teima em representar e promover as inúmeras raças mais fracas (cuja vitória representaria fatalmente o sucesso da anemia e da covardia, projetando o definhamento geral da humanidade), a outra, ao contrário, será aquela em que as leis da "ordem natural" estarão no comando.
O conflito filosófico claramente se dava entre o ideário iluminista, repudiado por ele, e o darwinista, do qual se julgava intérprete e seguidor. Este embate não se dava pela luta de classes como os marxistas supunham, mas pela luta entre raças, um choque titânico pelo controle do mundo.
Neste caso, os reais vencedores serão "os povos de vontade brutal", aqueles que não exigirão nenhum limite dos seus, nem aos seus instintos naturais e nem ao desejo de expansão e conquista.
Esta luta fenomenal pela existência que cobre o planeta inteiro fará desaparecer as inibições inerentes "ao espírito de humanidade" (composto, segundo Hitler, por "palermice, covardia e pretensa sabedoria"), visto que o "instinto de conservação" é imensamente superior a tudo o mais e não se deixa prender por considerações de ordem ética ou moral. Tudo se move "numa luta perpétua, a paz eterna pô-la-á (a humanidade) no túmulo". (ver Adolf Hitler - Minha Luta, cap.IV).
Simultaneamente, embebido pela concepção heróica da história que ele absorvera de Thomas Carlyle (**), viu o choque entre as nações como embate entre seus líderes. Eram os super-homens ou titãs modernos quem entravam na liça e venciam a parada. As massas apenas os seguiam, obedientes e fiéis. A guerra era sempre uma atividade de gênios ou de gigantes, de personalidades excepcionais que saiam-se bem devido a sua férrea vontade e vocação para o sucesso.
Hitler tinha total confiança na sua estrela porque acreditava que o clarão da vitória iluminava aquele que tivesse a vontade de poder e seguisse a preponderância do mais forte, e não pelos que dispunham de quantidades materiais.
Era a personalidade não o número é que importava (mentalidade que de certa forma explica o desatino dele em, confiando nos alemães serem uma super-raça, manter guerras simultâneas contra o Império Britânico, contra a União Soviética e contra os Estados Unidos).
(**) Ele se impressionara com o famoso livro de Carlyle sobre a biografia de Frederico o Grande, publicado entre 1858 1868, no qual ele defende o primado do herói sobre tudo o mais.
O racismo
Outra poderosa vertente que fluirá para o caudal da ideologia nacional-socialista estava armazenada no pensamento racista do século 19. Deve-se observar que as teorias racistas apresentavam em comum um "lamento aristocrático", um fatalismo da nobreza européia que, apesar de ainda granjear respeito, sentia-se cada vez mais marginalizada do poder político pelo processo histórico.
Incapazes em poder explicar seu declínio social por meio racional, diziam que a "decadência da raça aristocrática" resultara de uma irresponsável miscigenação com grupos inferiores.
Justificaram o declínio da nobreza pela degradação biológica da sua espécie. Seu principal representante foi o francês José Artur , conde Gobineau, autor do Essai sur I¿inégalle dès races humanes, Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, de 1853/5, que determinou não só a superioridade da raça branca sobre os demais, como explicava as distinções sociais entre nobreza, burguesia e povo de acordo com sua maior ou menor participação no sangue ariano (raça superior mitológica, formadora da aristocracia europeia e dos brancos "puros" em geral).
Coube a outro francês, o antropólogo Vacher de Lapouge, autor do L¿ Arien, son role social, O ariano e seu papel social, levar o naturalismo às últimas consequências. Na medida em que o homem não é a imagem de Deus, só são válidas as leis do reino animal. O Ariano - rocher de bronze - que apresenta estabilidade do sangue e é o motor do progresso e da civilização humana e se encontra socialmente representado na classe dominante.
Por último, lembramos aquele que interpretou toda a história da humanidade sobre o prisma racista - o inglês Houston S. Chamberlain. Autor do famoso ensaio Die Grundlagen des Neunzehnten Jahrhunderts, Os Fundamentos do Século 19, aparecido em 1899, onde acentua à luta entre as raças, interpretando a História como um conflito entre elas.
Ele considerava os alemães como os últimos portadores de elementos sanguíneos puros na medida em que, graças à sua situação geográfica, não foram contaminados nem pelo decadentismo latino, nem pela barbárie asiática, como ocorrera com os eslavos. Esta crença na supremacia teutônica lhe foi inculcada pela convivência com o compositor Richard Wagner, de quem se tornou genro, quando passou a ser um integrante do Círculo Bayereuth, composto por escritores e intelectuais ultra-nacionalistas.
Quando foi apresentado a Hitler, então no início de sua carreira, afirmou "o fato de que a Alemanha tivesse dado á luz um Hitler, na hora de sua maior desgraça, demonstrava sua vitalidade como nação."
O antissemitismo
Se a difusão das ideias racistas poderia parecer uma novidade no contexto cultural europeu, o mesmo não se pode dizer em relação ao anti-semitismo (***), cujas origens datam no mínimo do tempo das Cruzadas. Deve-se observar, no entanto, uma radical modificação nos argumentos dos antissemitas. Até o século 18, o preconceito contra os judeus se fundamentava em razões de ordem religiosa ou teológica.
No século 19, com o enorme desenvolvimento das ciências naturais e positivas, os argumentos cristãos caíram em desuso. O moderno antissemitismo então vai se abeberar na corrente naturalista, dando o surgimento de um anti-semitismo secular que retira seus argumentos da fisiologia, da biologia, da genética e da bacteorologia.
A partir de então a literatura reacionária é pródiga na utilização de termos como "vírus judaico", "bactérias nocivas", aos quais contrapõe a política da eugenia, da preservação da raça branca ariana. Mas o anti-semitismo redobra suas forças não só pelos argumentos obtidos junto aos naturalistas.
O século 19, é o século do nacionalismo burguês, perante o qual o judeu foi visto como um elemento não assimilável, um cosmopolita incorrigível, um apátrida incapaz de aderir ou compreender o conceito de nação. Fato explicitado pelo famoso Caso Dreyfuss, ocorrido na França no final daquele século.
O mesmo tema, da impossibilidade de adaptação do judeu a uma outra cultura, foi abordado pelo famoso historiador Heinrich Treitchke, símbolo maior da Alemanha "respeitável", num ensaio de grandes repercussões, publicado em 1879. Um dos seus discípulos foi o professor Hans Gunther, autor da Pequena Etnologia do Povo Alemão, aparecido em 1929, no qual ele celebrou o Ariano Nórdico como a vanguarda da civilização, condenando com veemência a "introdução de sangue estrangeiro" na Europa.
Além disso, o anti-semitismo tomou impulso, segundo o historiador Robert Seltzer, por ser uma reação ao sucesso dos judeus emancipados em meio à sociedade europeia do século 19, situação que passou a causar mais temor ainda do que a imagem do antigo judeu de gueto que somente de vez em quando era assolado por violências e pogroms.
Por fim, sob o ponto de vista da direita feudal, a ascensão social dos judeus é a prova inconteste da decadência ocidental da sociedade capitalista, responsável pela extirpação dos valores aristocráticos.
(***) A expressão anti-semita ou anti-semitismo foi cunhada em 1873 por Wilhelm Marr, um escritor alemão, autor de O caminho da vitória do Germanismo sobre o Judaísmo, que teve larga

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