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Brasília-DF. Direito Notarial e registral imobiliário Elaboração João Pedro Ribeiro Sampaio de Arruda Camara Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 5 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 6 introdução.................................................................................................................................... 8 unidAdE i ObjetO dO direitO registral imObiliáriO........................................................................................ 11 CAPÍtuLo 1 COnCeituaçãO ................................................................................................................... 11 CAPÍtuLo 2 direitOs reais versus direitOs pessOais ............................................................................. 13 CAPÍtuLo 3 direitOs reais em espéCie .................................................................................................... 14 CAPÍtuLo 4 COnstituiçãO, transferênCia e extinçãO dOs direitOs reais imObiliáriOs .................... 17 unidAdE ii sistemas de registrO de imóveis nO mundO ................................................................................. 19 CAPÍtuLo 1 ClassifiCaçãO dOs sistemas registrais ............................................................................ 19 unidAdE iii evOluçãO dO registrO de imóveis nO brasil ............................................................................... 23 CAPÍtuLo 1 prOpriedade imObiliária e dO registrO de imóveis nO brasil ........................................ 23 CAPÍtuLo 2 registrO tOrrens ................................................................................................................ 27 CAPÍtuLo 3 sistema dO fóliO pessOal e dO fóliO real ....................................................................... 30 unidAdE iV estrutura dO registrO de imóveis brasileirO ................................................................................ 34 CAPÍtuLo 1 previsãO legal e funções dO registrO de imóveis ........................................................ 34 CAPÍtuLo 2 prinCípiOs infOrmadOres dO direitO registral imObiliáriO ........................................... 36 CAPÍtuLo 3 títulOs sujeitOs aO registrO imObiliáriO .......................................................................... 39 unidAdE V QualifiCaçãO registral e prOCedimentO de registrO ................................................................ 41 CAPÍtuLo 1 COnCeitO, previsãO legal e CaraCterístiCas da QualifiCaçãO .................................... 41 unidAdE Vi dúvida registrária ........................................................................................................................... 46 CAPÍtuLo 1 natureza jurídiCa e prOCedimentO da dúvida ................................................................ 46 PArA (não) FinALizAr ..................................................................................................................... 50 rEFErênCiAS .................................................................................................................................. 51 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução O Registro de Imóveis compõe um setor destacado dentro dos registros públicos, tanto é assim que a Lei no 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos) dedica metade de seus artigos à regulação do registro imobiliário. Existe uma gama de situações juridicamente relevantes que são tuteladas pelo sistema registral imobiliário, nem sempre relacionadas com bens imóveis propriamente ditos, mas invariavelmente com a finalidade de garantir autenticidade, segurança e eficácia a atos e fatos juridicamente relevantes. Para cumprir suas finalidades, o Direito Registral imobiliário conta com normas e princípios próprios, que necessitam ser estudados não de maneira isolada, estanque, mas à luz do Direito Civil- Constitucional, inclusive para a concreção dos princípios da dignidade da pessoa humana, da funçãosocial do contrato, da função social da propriedade, do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e outros. Não é difícil perceber que em determinados tipos contratuais, como aqueles que constituem os direitos reais imobiliários, a publicidade registral é indispensável para a eficácia erga omnes desses direitos, gerando presunção absoluta de conhecimento para toda a sociedade, que poderá, se assim desejar, fiscalizar o cumprimento da função social desses contratos em todas as suas vertentes (econômica, ambiental, urbanística etc.). O Registro de Imóveis é o guardião daquilo que foi, tem sido, e, provavelmente, sempre será, um dos pilares da economia mundial – a propriedade imóvel. É impossível estudar a propriedade e todos os outros direitos reais que recaem sobre os imóveis sem se aprofundar no Direito Registral Imobiliário. E a recíproca é verdadeira. Ao mesmo tempo em que é instrumento de defesa da sociedade, o serviço registral protege e realça os direitos individuais fundamentais, especialmente a segurança jurídica, a liberdade e a propriedade de bens imóveis e outros direitos, gerando diversas consequências na órbita dos direitos subjetivos de todas as pessoas. Compreender o objeto de estudo do registro de imóveis, evolução e sistemática, os atos inscritíveis e o procedimento de registro, inclusive o procedimento de dúvida registrária, é fundamental para qualquer operador do Direito, pois uma infinidade de atos e fatos jurídicos oriundos ou relativos às mais diversas áreas do conhecimento jurídico (família, sucessões, das coisas, empresarial, administrativo, urbanístico, ambiental, trabalhista, falimentar, tributário, previdenciário etc.) desembocam nos livros da serventia imobiliária. Há também, nesta mesma disciplina, a abordagem àquela que é a caçula das serventias registrais, qual seja, o Ofício de Registro de Distribuição. Este é um serviço bastante contestado, porém, como se verá, tem sua razão de ser no princípio da publicidade. 9 Esta disciplina pretende dar uma visão ampla do que vem a ser o Registro de Imóveis e o Registro de Distribuição no Brasil, lançando os fundamentos para uma reflexão crítica dos mesmos, com vistas não só à compreensão do sistema registral, como também à identificação de suas vicissitudes e possibilidades de aperfeiçoamento. objetivos » Compreender o universo conceitual do Direito Registral Imobiliário. » Examinar criticamente os institutos de direito relacionados com a atividade registral. » Identificar os atos e os fatos jurídicos que têm ingresso no sistema de registro de imóveis; aqueles que deveriam tê-lo; e, porventura, aqueles que não precisariam da formalidade e da publicidade registral. » Compreender os efeitos jurídicos dos atos registrados pelos Oficiais de Registro. » Entender os procedimentos registrais, identificando seus acertos e desacertos, com vistas ao aperfeiçoamento do sistema. » Identificar e compreender as interfaces do Direito Registral com as várias áreas da Ciência Jurídica. » Identificar a função do Ofício de Registro de Distribuição. 10 11 unidAdE i objEto do dirEito rEgiStrAL imobiLiário CAPÍtuLo 1 Conceituação O Direito Registral Imobiliário – ou Direito Imobiliário Registral como é tratado por alguns autores – é um ramo do Direito Civil que vem galgando seu lugar como área específica dentro da Ciência Jurídica, e com certa autonomia. Angel Cristóbal Montes (2005) ensina que a distinção dos bens em móveis e imóveis e a existência de regimes jurídicos diversos para esses bens propiciaram a formação de um poderoso movimento doutrinário orientado a considerar e a estudar separadamente, dentro do genérico direito das coisas, o conjunto organizado das normas jurídicas relativas aos bens imóveis, tanto no que diz respeito aos direitos reais sobre os mesmos constituíveis, quanto pelo que corresponde aos momentos e aos efeitos da constituição, aquisição, modificação ou extinção desses direitos. Dessa forma, Montes (2005, p.123) destaca os seguintes conceitos de Direito Registral Imobiliário: » Roca Sastre: “aquele que regula a constituição, transmissão, modificação e extinção dos direitos reais sobre bens imóveis, em relação ao Registro da Propriedade, assim como as garantias estritamente registrais”. » Cossío: “direito regulador da forma de constituição, modificação, transmissão e extinção das relações jurídicas reais que têm por objeto um bem imóvel, uma propriedade territorial”. » Hernández Gil: “conjunto de normas que regulamentam a publicidade registral dos atos de constituição, transmissão, modificação e extinção dos direitos reais sobre propriedades territoriais”. » Sanz Fernández: “conjunto de normas de Direito Civil que regulamentam as formas de publicidade dos atos de constituição, transmissão, modificação e extinção dos direitos reais sobre propriedades territoriais e as garantias de certos direitos pessoais ou de crédito, por meio do Registro de Propriedade”. Trazendo esses conceitos para a realidade do ordenamento jurídico brasileiro, pode-se definir o Direito Registral Imobiliário como o conjunto de normas materiais e formais que tratam da constituição, transmissão, modificação e extinção dos direitos reais sobre bens imóveis por 12 UNIDADE I │ ObjEtO DO DIrEItO rEgIstrAl ImObIlIárIO natureza, assim como dos direitos pessoais que possuem relação com esses bens ou que a lei quis dar publicidade mediante o sistema registral, e suas implicações administrativas e fiscais. Decorrendo daí a necessidade de se diferenciar as duas categorias fundamentais do direito subjetivo, que são os direitos reais e os pessoais, para bem entender o Direito Registral Imobiliário. 13 CAPÍtuLo 2 direitos reais versus direitos pessoais Apesar de serem contestadas a importância e o interesse científico na divisão dicotômica1 dos direitos subjetivos em reais e pessoais, é certo que várias teorias procuram explicar as diferenças entre esses dois tipos de direito, e até hoje a teoria clássica – também chamada de “realista” – é a mais aceita, tendo sido adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Basta ver que a parte especial do Código Civil reservou livros distintos para o direito das obrigações (ou direitos pessoais) e para o direito das coisas (ou direitos reais). Segundo a teoria clássica ou realista, que se foi aperfeiçoando ao longo dos tempos, as principais diferenças entre os dois direitos são as seguintes: DIREITOS REAIS DIREITOS PESSOAIS Relação pessoa – coisa. Relação pessoa – pessoa. O titular do direito real exerce um poder direto sobre a coisa, sem intermediários. O titular do direito pessoal pode exigir da outra parte uma determinada prestação (dar, pagar, fazer ou não fazer). Oponibilidade erga omnes (obrigação passiva universal). Oponibilidade apenas contra pessoa determinada, ou seja, o outro contratante. Só são considerados direitos reais aqueles que a lei assim diz. Cabe ao legislador criá-los (taxatividade). Os direitos pessoais podem assumir várias formas, depende da vontade das partes, desde que não contrarie a lei (não taxatividade). Assim, de acordo com Orlando Gomes (1994), é possível destacar as seguintes características dos direitos reais. » Taxatividade: o direito real é criação exclusiva da lei (princípio do numerus clausus). » Elasticidade: aquisição restitutiva, ou seja, o titular do direito pode tomar o bem das mãos de quem injustamente o detenha (direito de sequela). » Publicidade: a constituição ou a transferência do direito deve ser acessível ao conhecimento de todos. » Especialidade: o objeto do direito há de ser coisa certa e determinada. 1 “Trabalhar com a dogmática jurídica exige a criação de diversas classificações que agem como pontosde organização coerente da matéria. Assim, surgem as tradicionais dicotomias envolvendo direito público e privado, direito objetivo e subjetivo, assim por diante.” (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. 6. ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009, p.2) 14 CAPÍtuLo 3 direitos reais em espécie Tendo em vista o princípio do numerus clausus2, vê-se que os direitos reais são aqueles elencados no art. 1.225 do Código Civil e em leis especiais diversas, das quais destaca-se a Lei no 9.514/1997, que tratou da propriedade fiduciária imobiliária. São eles: » Propriedade: É o direito de usar, fruir e dispor de um bem, e de reavê-lo de quem injustamente o possua. Direito “absoluto” do qual todos os outros direitos reais derivam (art. 1.228 do CC). » Superfície: É o direito de construir ou plantar, por tempo determinado, em imóvel alheio. Caso a propriedade superficiária seja adquirida já com construção ou plantação, estas passam para o superficiário (art. 1.369 do CC e art. 21 da Lei no 10.257/2001). » Servidões: É o direito do proprietário do imóvel dominante utilizar o imóvel serviente para determinado fim, ou exigir do proprietário do imóvel serviente que se abstenha de utilizá-lo para certa finalidade (art. 1.378 do CC). » Usufruto: É o direito de possuir, usar, administrar e perceber os frutos de bem alheio (repartição da propriedade em nua propriedade e usufruto). Pode ser instituído a título gratuito ou oneroso, sobre a totalidade do bem ou parte dele. É intransferível, mas seu exercício pode ser cedido, também a título gratuito ou oneroso (arts. 1.393 e 1.394 do CC). » Uso: É o direito de possuir, usar e administrar bem alheio, com percepção dos seus frutos se assim exigirem as necessidades do usuário e sua família. Não se pode dividir nem ceder o uso (art. 1.412 do CC). » Habitação: É o direito de uso gratuito de bem alheio com destinação certa e invariável, ou seja, somente para fins de moradia (art. 1.414 do CC). » Direito do Promitente Comprador: É o direito à aquisição do imóvel. Confere ao seu titular, após cumprir todas as suas obrigações contratuais, o direito de exigir do proprietário a transferência da propriedade do imóvel para si, sob pena de adjudicação compulsória. Impede a alienação do imóvel a outrem (art. 1.417 do CC). » Penhor: É o direito do credor sobre bem móvel por natureza pertencente ao devedor, com a finalidade de garantia, conferindo àquele a posse do bem (na maioria das vezes) e a possibilidade de aliená-lo para quitação da dívida, caso o devedor não a satisfaça. Existem várias modalidades de penhor. Ele pode ser comum; rural, 2 O princípio do numerus clausus não está positivado em lei, ou seja, não há norma expressa que institua tal princípio. Na verdade, como ensina GONDINHO (2000, p.8), no ordenamento jurídico brasileiro esse princípio prevaleceu por questões históricas relacionadas ao direito romano e à influência das demais codificações latinas e germânicas. 15 ObjetO dO direitO registral imObiliáriO │ UNidade i que pode ser agrícola ou pecuário; industrial; mercantil; de direitos; de títulos de crédito; de veículos; e, por último, o penhor legal, cada um com regras próprias, inclusive quanto ao modo de constituição (art. 1.431 e seguintes do CC). » Hipoteca: É o direito do credor sobre bem imóvel do devedor, com a finalidade de garantia, conferindo àquele a possibilidade de alienar o bem para quitação da dívida, caso o devedor não a satisfaça. Existem três tipos de hipoteca, a convencional, a legal e a judicial (arts. 1.473 e 1.489 do CC e art. 466 do CPC). » Anticrese: É o direito do credor sobre bem imóvel do devedor, com a finalidade de garantia, em virtude do qual aquele obtém a posse do bem a fim de perceber-lhe os frutos e imputá-los no pagamento da dívida (art. 1.506 do CC). » Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia: É o direito de usar imóvel público urbano, de até 250m², para fins de moradia, mediante o preenchimento de determinados requisitos legais (posse ininterrupta e pacífica por cinco anos; não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural). Recebeu o status de direito real com o advento da Lei no 11.481, de 31/05/2007, que alterou o art. 1.225 do Código Civil. Principais características: gratuito; transmissível inter vivos e mortis causa; prazo determinado ou indeterminado; título hábil pode ser termo administrativo ou título judicial; pode ser objeto de hipoteca ou alienação fiduciária (arts. 10 e 11 da Lei no 11.481/2007; art. 1.473 do CC; art. 22 da Lei no 9.514/1997). » Concessão de Direito Real de Uso: É o direito de usar imóvel urbano, público ou particular, para fins de regularização fundiária de interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse social. Tem por objetivo dar cumprimento ao princípio constitucional da função social da propriedade. Recebeu o status de direito real com o advento da Lei no 11.481, de 31/05/2007, que alterou o art. 1.225 do Código Civil. » Principais características: gratuito ou oneroso; transmissível inter vivos e mortis causa; prazo determinado ou indeterminado; título hábil pode ser termo administrativo, título judicial, instrumento público ou particular; pode ser objeto de hipoteca ou alienação fiduciária (arts. 10 e 11 da Lei no 11.481/2007; art. 1.473 do CC; art. 22 da Lei no 9.514/1997). » Propriedade Fiduciária: É a propriedade resolúvel que é dada ao credor, chamado de fiduciário, com escopo de garantia, até que uma determinada obrigação seja cumprida pelo devedor, chamado de fiduciante (art. 1.361 do CC para bens móveis e art. 22 da Lei no 9.514/1997 para bens imóveis). Dos direitos reais elencados apenas o penhor não se aplica a imóveis, portanto todos os outros são direitos reais passíveis de incidir sobre imóveis. Há que se destacar, ainda, que, além dos direitos reais assim declarados por lei, existem alguns direitos que, embora de natureza pessoal, possuem prerrogativas de direito real, são os chamados 16 UNIDADE I │ ObjEtO DO DIrEItO rEgIstrAl ImObIlIárIO direitos pessoais com eficácia real, como é o caso das rendas constituídas sobre imóveis (arts. 803 a 813 do CC), do direito de preferência do locatário (arts. 27 a 34 da Lei no 8.245/1991) e do comodato (arts. 579 a 585 do CC), dentre outros. Na seara dos direitos reais há uma grande confusão entre o que vem a ser o princípio do numerus clausus e o princípio da tipicidade. André Pinto da Rocha Osório Gondinho (2000, p.16) discorre com maestria sobre o assunto, explicando a diferença entre um e outro princípio, asseverando que o princípio do numerus clausus refere-se à impossibilidade de criação, pela autonomia da vontade, de outras categorias de direitos reais que não as estabelecidas em lei, ou, ainda, que os direitos reais não podem resultar de uma convenção entre sujeitos jurídicos. Por outro lado, o princípio da tipicidade dos direitos reais significa, em síntese apertada, que o estabelecimento destes direitos não pode contrariar o conteúdo estrutural dos poderes conferidos, pelo ordenamento, ao titular da situação jurídica de direito real. Esta necessidade de respeito à estruturação dos poderes conferidos ao titular decorre do conteúdo típico dos direitos reais previstos em lei. A tipicidade é assim um corolário necessário do princípio do numerus clausus, pelo qual há competência exclusiva do legislador para a criação de categorias de direitos reais. Em outras palavras, enquanto o princípio da tipicidade se refere ao conteúdo estrutural do direito real e, portanto, à modalidade de seu exercício, o princípio donumerus clausus diz respeito única e exclusivamente à fonte do direito real. 17 CAPÍtuLo 4 Constituição, transferência e extinção dos direitos reais imobiliários A regra geral para a constituição, transferência e extinção dos direitos reais imobiliários está expressa no art. 1.227 do CC, que reza que os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos (negócios) entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos, salvo os casos expressos no Código. No mesmo sentido, o art. 1.245 do mesmo diploma legal estabelece que a transferência entre vivos da propriedade se dá mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis, realçando que enquanto não houver o registro desse título o alienante continua como dono do imóvel. Isso pode ser resumido no brocardo: “quem não registra não é dono”. Entretanto, conforme o próprio art. 1.227 informa, existem exceções à regra geral. Assim, os casos expressos no Código que excepcionam a regra do registro como elemento constitutivo do direito real imobiliário são os seguintes. » Usucapião (arts. 1.238 a 1.244 do CC) – A constituição do direito acontece no instante em que se dá o prazo prescricional. A aquisição da propriedade acontecerá no exato momento em que o possuidor completar os 15, 10 ou 5 anos na posse do imóvel (dependendo do tipo de usucapião em que se enquadrar). Destarte, a sentença na ação de usucapião, que necessariamente será prolatada em momento posterior à aquisição da propriedade, apenas declarará que esta se deu naquele dia em que se verificou o prazo prescricional. » Acessão (arts. 1.248 a 1.259 do CC) – A constituição do direito acontece no momento em que acontece fisicamente a acessão (formação de ilhas, aluvião, avulsão, abandono de álveo e plantações ou construções). » Herança (art. 1.784 do CC) – A transferência do direito acontece no momento da abertura da sucessão (morte)3 » Abandono, Perecimento e Desapropriação/Confisco (art. 1.275, parágrafo único, do CC; art. 243 da CF/1988) – No primeiro caso, a perda da propriedade se dá com a constatação do abandono (para alguns doutrinadores) ou com a arrecadação (para outros) pelo município, em caso de imóvel urbano, ou pela União, em caso de imóvel rural4. No segundo, a perda dá-se com o fato ensejador do perecimento (ex.: submersão do imóvel). Não é ato constitutivo de direito real, apenas extintivo. 3 “Aberta a sucessão, o patrimônio do falecido, com o nome de herança, transmite-se aos herdeiros legítimos e testamentários. A mudança é automática, sem haver vácuo nas relações jurídicas. Dito fenômeno decorre da consagração do chamado princípio de saisine. Para não ser interrompida a cadeia dominial e o patrimônio do falecido reste sem titular, a lei determina sua transferência imediata aos herdeiros.” (DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.97) 4 Conforme enunciado aprovado na III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal – CJF, “a aplicação do art. 1.276 depende do devido processo legal em que seja assegurado ao interessado demonstrar a não cessação da posse”. 18 UNIDADE I │ ObjEtO DO DIrEItO rEgIstrAl ImObIlIárIO No último caso, há grande polêmica doutrinária quanto ao momento em que se dá a transmissão da propriedade ao ente expropriante, alguns defendendo que essa transmissão acontece com o decreto expropriatório; outros com a sentença da ação de desapropriação; outros com o pagamento da indenização; e outros com a imissão na posse do imóvel pelo ente expropriante. Certo é que todos, sem exceção, entendem que não é o registro da sentença de desapropriação que transmite o direito, pois este efetivamente já foi transferido em momento anterior5. Há, ainda, uma última hipótese de constituição de direito real independente de registro, que não foi expressamente ressalvada pelo Código, mas que não deixa de ser uma exceção à regra, que é o casamento sob o regime da comunhão universal de bens, já que no momento da concretização do matrimônio há uma comunicação imediata entre os bens e os direitos dos cônjuges, passando cada um a ser proprietário do patrimônio do outro, formando um condomínio perfeito e indiviso. Nesses casos, o registro será meramente declaratório, mas necessário para dar publicidade à constituição, transferência ou extinção do direito real imobiliário, bem como para conferir disponibilidade a esse direito. 5 Exclui-se dessa polêmica a transmissão na desapropriação amigável, pois nesta o poder público não se vale de seu jus imperium, ou seja, não há uma expropriação forçada, mas um acordo de vontades, como numa compra e venda, pelo qual poder público adquire de maneira derivada a propriedade de um particular. Assim, a desapropriação amigável deve ser formalizada por escritura pública, e o seu registro é que transmite a propriedade para o ente público expropriante. 19 unidAdE ii SiStEmAS dE rEgiStro dE imóVEiS no mundo CAPÍtuLo 1 Classificação dos sistemas registrais Objetivando dar segurança e eficácia aos direitos reais imobiliários, grande parte dos países do mundo desenvolveu um sistema jurídico de publicidade desses direitos, criando assim cada qual seu sistema de registro imobiliário. Não se pode olvidar que os direitos reais imobiliários têm eficácia erga omnes, e não apenas entre as partes que o instituíram, modificaram ou extinguiram, portanto sua existência e especificação, tanto com relação ao objeto do direito, quanto aos seus titulares, devem ser do conhecimento de todos, ou, pelo menos, acessível ao conhecimento de todos. Entretanto, em virtude das peculiaridades de cada país, suas tradições, seu ordenamento jurídico e sua realidade socioeconômica, surgiram vários tipos de sistema registral. O estudo desses sistemas permeia a obra de muitos doutrinadores do Direito Registral Imobiliário no mundo (Roca Sastre, Besson, Jerônimo González, Bienvenido Oliver, Agustín Aguirre etc.), cada um criando sua própria classificação, levando em consideração uns e outros aspectos da publicidade registral. Tais classificações podem até não ter muita valia no campo da Ciência do Direito, contudo é interessante o estudo comparado dos diversos sistemas, com a finalidade de aperfeiçoamento da técnica e da legislação pertinente. Dessa forma, Guerreiro (1994, pp.30-32) destaca os seguintes critérios de classificação dos sistemas registrais imobiliários6: 6 Há que se ressaltar que as classificações não são excludentes, portanto dependendo do critério de classificação (quanto aos efeitos; quanto à organização; quanto ao modo; e quanto à proteção), o registro de imóveis de um país pode muito bem se enquadrar em vários tipos de sistema. Exemplificando, o registro de imóveis brasileiro pode ser classificado quanto aos efeitos como de inscrição constitutiva; quanto à organização como de fólio real; quanto ao modo como de inscrição; e quanto à proteção como de presunção relativa. 20 UNIDADE II │ SIStEmAS DE REgIStRo DE ImóvEIS No mUNDo quanto aos efeitos do registro (ou inscrição) Sistema de inscrição constitutiva: » Nos países que adotam esse sistema, os direitos reais imobiliários só se constituem com o registro, em regra7. O título enquanto não registrado só produz efeitos obrigacionais. Ex.: Alemanha, Áustria, Austrália, Suíça e Brasil. Sistema de inscrição declarativa: » Nesse sistema os direitos reais imobiliários se constituem pelo título (acordo de vontades ou fato jurígeno – morte, prescrição aquisitiva etc.), independentemente de registro, que serve apenas para conferir ao titular do direito real a oponibilidade a terceiros. Ex.: França, Espanha, Itália e Portugal8. quanto à organização do registro Sistema de fólio real:» É aquele sistema cuja organização tem como base o imóvel. Para se efetuar um registro primeiro se identifica o imóvel, independentemente das pessoas que figuram no título a ser inscrito. Ex.: Alemanha, Áustria, Austrália, Suíça, Portugal e Brasil. Sistema de fólio pessoal: » É o sistema cuja organização tem como base os titulares dos direitos. Primeiro se identificam as pessoas e os direitos envolvidos no negócio imobiliário. Os livros de registro não têm como primeira referência o imóvel. Ex.: França e Itália. 7 São exceções à regra, por exemplo, no Brasil: a aquisição da propriedade por herança, usucapião, acessão, desapropriação, abandono e matrimônio. Na Alemanha: a aquisição por sucessão e os chamados “atos do Estado” (Staatakte), como a expropriação ou a arrematação judicial. 8 Nesses países o registro da hipoteca é constitutivo, sendo que em Portugal existem ainda outros casos em que o registro é constitutivo, em situações específicas descritas em lei. 21 SiStemaS de RegiStRo de imóveiS no mundo │ unidade ii quanto ao modo de efetuar o registro: Sistema de transcrição: » Por esse sistema o título (documento) é copiado na íntegra para o assentamento registral, ou seja, transcreve-se seu conteúdo para o registro. Ex.: França. Sistema de inscrição: » O registro corresponde a um “extrato” do título, mencionando apenas os elementos essenciais do negócio jurídico e/ou do direito registrado. Ex.: Itália, Espanha, Alemanha e Brasil9. quanto à proteção conferida pelo registro Sistema de presunção absoluta (iuris et de iure): » Por esse sistema, uma pessoa que adquire de boa-fé um direito real com base no registro anterior, registrando sua aquisição no álbum imobiliário, tem para sempre seu direito garantido, mesmo que as aquisições anteriores sejam nulas ou anuláveis. O registro tem “efeito saneador” dos vícios porventura existentes nos negócios anteriores. Diz-se que nesse sistema existe o genuíno princípio da “fé pública registral”. Ex.: Alemanha, Espanha e Austrália. Sistema de presunção relativa (iuris tantum): » Já nesse outro sistema, mesmo que o adquirente tenha agido de boa-fé, adquirindo um direito real com base no registro do imóvel, se os negócios anteriores estiverem maculados de nulidade, poderá ele vir a perder seu direito. Por isso, diz-se que o registro é valido até prova em contrário. Ex.: Portugal, França e Brasil. Por outro lado, Afrânio de Carvalho (1982, pp.18-19) tráz uma classificação mais simples, fundada na necessidade ou não da existência de um título para constituição do direito real, classificando os sistemas em: 9 Na Itália, o registro da hipoteca é feito por meio da transcrição do título. Quanto ao Brasil, vê-se claramente que o seu sistema é de inscrição pelo disposto no art. 176, §1o, III, da LRP. 22 UNIDADE II │ SIStEmAS DE REgIStRo DE ImóvEIS No mUNDo » Sistema Publicista (Alemão): os direitos reais imobiliários constituem-se com o registro, independentemente do título, tendo a publicidade registral eficácia iuris et de iure (presunção absoluta de validade). » Sistema Privatista (Francês): os direitos reais imobiliários constituem-se pelo título, independentemente de registro, tendo a publicidade registral apenas efeito declaratório, para fins de oponibilidade perante terceiros. » Sistema Eclético (Brasileiro): os direitos reais imobiliários constituem-se pelo título (forma) aliado ao registro (modo), tendo a publicidade registral eficácia iuris tantum (presunção relativa de validade). A adoção por tal sistema fica patente pela leitura do disposto no art. 1.245, §2o, do CC e art. 252 da LRP (exceção: Registro Torrens). 23 unidAdE iii EVoLução do rEgiStro dE imóVEiS no brASiL CAPÍtuLo 1 Propriedade imobiliária e do registro de imóveis no brasil Tendo o Direito Registral Imobiliário como área de atuação os direitos reais sobre imóveis, e também alguns direitos pessoais que possuem relação com imóveis, faz-se necessário estudar a evolução da propriedade imobiliária no Brasil, e, concomitantemente, perceber o surgimento de um sistema visando a dar segurança e publicidade aos direitos sobre esses imóveis, ou seja, o Sistema Registral Imobiliário brasileiro. EVOLUÇÃO DA PROPRIEDADE EVOLUÇÃO DO SISTEMA REGISTRAL 1500 – Descobrimento do Brasil » Todas as terras existentes 370 léguas a Oeste das Ilhas de Cabo Verde passaram a pertencer ao Reino de Portugal (Bula Papal inter coetera, Tratado de Tordesilhas10 e Bula Papal bono pacis). » A Coroa Portuguesa adquiriu originariamente a propriedade das terras brasileiras. 1530 – Início da ocupação efetiva das terras do Brasil » Capitanias Hereditárias – Divisão do território em 15 partes, cuja administração era passada aos “donatários” (Capitães-mores), com determinados e limitados poderes sobre a terra, dentre os quais o de conceder sesmarias no interior das Capitanias. » Sesmarias – Concessão de terras a particulares para que as ocupassem num prazo de 6 anos. Confirmada a ocupação, o sesmeiro recebia o título de domínio pleno e perpétuo (início da propriedade privada). Não confirmada a ocupação das terras concedidas, elas eram devolvidas à Coroa (origem das “terras devolutas”). » Título como instituidor da propriedade privada, tanto aquele outorgado pela Coroa ao particular, quanto aquele outorgado por particular a particular. 1822 – Independência do Brasil » Transmissão das terras não ocupadas ou titularizadas ao Império do Brasil. » Fim das concessões de sesmarias. » Regime de posses (até 1850). 10 O Tratado de Tordesilhas foi assinado pelos reinos de Portugal e Espanha, mediante a intervenção do poder papal. Por esse instrumento, ficou acordado que todas as terras descobertas numa faixa que ia de um meridiano que passava sobre as Ilhas de Cabo Verde até um meridiano a 370 léguas a oeste dessas ilhas seriam de Portugal, enquanto que as terras descobertas após esse limite seriam da Espanha. Por isso, esse Tratado pode ser considerado o título original de propriedade das terras brasileiras, tendo como adquirente originário o Reino de Portugal. 24 UNIDADE III │ EvolUção Do REgIstRo DE ImóvEIs No BRAsIl EVOLUÇÃO DA PROPRIEDADE EVOLUÇÃO DO SISTEMA REGISTRAL Observações importantes: » Até então, não havia um lugar onde pudesse ser registrada a propriedade imobiliária. » A propriedade era transmitida por simples contrato, posse ou herança. Bastava o título de compra e venda, doação, permuta etc., ou a comprovação da partilha em herança, ou comprovação de posse, para que a propriedade fosse transmitida. » Porém, começaram a perceber que esse sistema de transmissão da propriedade era bastante inseguro. A falta de publicidade formal dos direitos imobiliários, impedindo que todos pudessem saber quem era o verdadeiro proprietário, causava insegurança para as relações comerciais, que necessitavam dos imóveis para dar garantia ao crédito. » Então, se pensou na criação de uma “repartição” ou “instituição” onde se registrasse e desse publicidade não à propriedade propriamente dita, mas às garantias hipotecárias instituídas sobre ela, ou seja, primeiramente surgiu um interesse na proteção do crédito, e não da propriedade em si. 1843 – Lei Orçamentária no 317 (21/10/1843) » Criou o Registro Geral de Hipotecas (imóveis, móveis e semoventes), a cargo de Tabeliães nomeados pelos presidentes das Províncias. » Alguns consideram essa lei como o início do sistema registral imobiliário brasileiro. 1850 – Lei no 601 (18/9/1850) » Chamada de “LEI DE TERRAS”. » Estabeleceu critérios para a legitimação das posses antigas, e separação das terras públicas das privadas (discriminação). » Proibiu a aquisição de terras públicas por outro título que não o de compra (exceto as situadas até 10 léguasdas fronteiras do país, que poderiam ser concedidas gratuitamente). » Instituiu o “Registro Paroquial” ou “Registro do Vigário”, que tinha finalidade cadastral para comprovação da posse e identificação, por exclusão, das terras públicas. 1864 – Lei no 1.237 (24/9/1864) » Criou um Registro Geral de Imóveis em cada Província, a cargo dos Tabeliães (unificou com o antigo Registro Geral de Hipotecas). » Determinou a obrigatoriedade do registro (transcrição) dos títulos de transmissão da propriedade por atos entre vivos, bem como o registro (inscrição) dos títulos de constituição de ônus reais para ter eficácia perante terceiros. » Instituiu a prenotação do título para garantir a preferência das hipotecas que necessitassem de especialização. » Grandes falhas da Lei: › Ficaram de fora da obrigatoriedade do registro os atos de aquisição mortis causa e os atos judiciários. › O registro não era prova bastante de domínio, existindo até registro de aquisições de um mesmo imóvel a mais de uma pessoa. » A maioria dos doutrinadores considera esta lei como a que deu origem ao sistema registral imobiliário brasileiro. 1889 – Proclamação da República » As terras públicas sem destinação e as devolutas passam ao patrimônio dos Estados, exceto aquelas indispensáveis à defesa das fronteiras, fortificações e construções militares e estradas de ferro federais (art. 64 da Constituição Republicana de 1891). » Situação que permanece praticamente a mesma até os dias atuais (ver arts. 20 e 26 da CF/1988) 25 Evolução do REgistRo dE imóvEis no BRasil │ unidadE iii EVOLUÇÃO DA PROPRIEDADE EVOLUÇÃO DO SISTEMA REGISTRAL 1890 – Decreto no 169-A (19/1/1890) e Decreto no 370 (02/5/1890) » Substituem a Lei no 1.237 (Registro Geral), trazendo maior organização aos livros e procedimentos de registro. » Criou a nomenclatura de “Oficial do Registro”. 1890 – Decreto no 451-B (31/5/1890) e Decreto no 955-A (5/11/1890) » Estes decretos instituíram o “Sistema Torrens” ou “Registro Torrens” no Brasil, inspirado no sistema australiano, cuja principal característica é gerar presunção absoluta de validade do registro (iuris et de iure). » Aplicável a imóveis urbanos e rurais (somente a partir do CPC de 1939 é que o Torrens se limitou aos imóveis rurais). » Constituía o direito real de propriedade (somente até o CC/1916). » Era faculdade do proprietário, não obrigatório. » O procedimento do registro se iniciava no “Registro Geral de Imóveis” e era submetido ao Juiz de Direito competente para que fosse autorizado ou não o registro. 1916 – Lei no 3.071 – Código Civil (1/1/1916) » Determinou a obrigatoriedade do registro (transcrição) das transmissões de propriedade não só por atos entre vivos, mas também por atos judiciais e mortis causa, assim como o registro (inscrição) da constituição de ônus reais para ter eficácia plena, não só perante terceiros. » Instituiu a presunção de domínio daquele que possui o registro da propriedade (QUEM NÃO REGISTRA NÃO É DONO). » Trouxe os princípios básicos para o sistema registral imobiliário brasileiro, os quais estudaremos mais adiante. 1924 – Decreto no 4.827 (7/2/1924) » Reorganizou os registros públicos, não só o imobiliário, de acordo com o Código Civil, sem inovações de direito. 1937 – Decreto-Lei no 58 (10/12/1937) » Trata dos loteamentos de terras e venda de terrenos (lotes) a prestação. » Criou um livro próprio para registro desses loteamentos no cartório imobiliário. 1939 – Decreto no 4.857 (9/11/1939) » Considerada a primeira “Lei” de Registros Públicos. » Instituiu os antigos livros registrais, num total de 10 (dez). » Adotou um sistema de registro chamado de “FÓLIO PESSOAL”, que não era prático e bastante propício a erros e fraudes. 1967 – Decreto-Lei no 167 (14/2/1967) » Criou o Livro de Registro de Cédula Rural. 1969 – Decreto-Lei no 413 (14/2/1967) » Criou o Livro de Registro de Cédula Industrial. 26 UNIDADE III │ EvolUção Do REgIstRo DE ImóvEIs No BRAsIl EVOLUÇÃO DA PROPRIEDADE EVOLUÇÃO DO SISTEMA REGISTRAL 1971 – Lei no 5.709 (7/10/1971) » Regula a aquisição de imóvel rural por pessoa física ou jurídica estrangeira. » Criou um livro novo no Registro de Imóveis, o Livro Auxiliar das Aquisições de Terras Rurais por Pessoas Estrangeiras. 1973 – Lei no 6.015 (31/12/1973) » Atual Lei de Registros Públicos. » Reduziu os livros registrais a 5 (cinco), mais o Livro Auxiliar acima referido (pessoas estrangeiras). » Adotou um sistema de registro chamado de “FÓLIO REAL”, trazendo mais segurança aos atos registrais e ao próprio sistema. » Possibilitou a substituição dos livros (físicos) pelo sistema de fichas. » Criou a MATRÍCULA (principal inovação da lei). » Alterou a nomenclatura dos atos de registro. O quadro acima dá um panorama de como foi se desenhando a propriedade imobiliária no Brasil e sua regulamentação, cuja síntese pode ser expressa nas palavras de Laura Beck Varela (2005, p.231): A propriedade privada imobiliária brasileira é, assim, fruto de um longo processo que marca a saída dos bens do patrimônio público régio, um esforço gradativo de delimitação da esfera privada, em oposição ao que era público – as terras do rei. A cristalização do direito de propriedade privada foi, certamente, o resultado de uma complexa “construção”, forjada em meio às tensões sociais e às condicionantes da infraestrutura econômica. Hoje, o sistema registral está regulamentado por um emaranhado de normas jurídicas, todas sob a regência infraconstitucional da Lei de Registros Públicos. 27 CAPÍtuLo 2 registro torrens O Registro Torrens advém de um sistema peculiar de registro de imóveis, com presunção absoluta de validade do ato registrado, criado pelo irlandês Robert Torrens, inspirado no sistema de registro de navios ingleses. Foi implantado pela primeira vez na Austrália, em 1858, por isso é também chamado de “Sistema Australiano”. Consiste no registro do título de propriedade mediante um procedimento que admite contraditório, onde ao final, expurgadas as dúvidas acerca da real titularidade do imóvel, o título aquisitivo é registrado em duplicata, ficando uma via arquivada na serventia imobiliária, e a outra entregue ao proprietário. Uma vez registrado o título, a propriedade torna-se inatacável, fazendo prova absoluta de domínio. O Registro Torrens foi instituído no Brasil pelo Decreto no 451-B, de 31/5/1890, regulamentado pelo Decreto no 955-A, de 5/11/1890. À época vigorava o sistema do “registro geral de imóveis”, criado pela Lei no 1.237, de 24/9/1864, depois aperfeiçoado pelos Decretos nos 169-A e 370, de 19/1/1890 e 2/5/1890, respectivamente. Pelo sistema de então, o registro não conferia a certeza da propriedade, apenas era obrigatório para fazer prova perante terceiros. Surgiu o Torrens como uma faculdade àquele que quisesse dar ao seu título de propriedade um caráter absoluto, livre de ataques reivindicatórios de quem quer que seja. Originariamente, o Registro Torrens brasileiro teve as seguintes características: Facultativo: » O proprietário não era obrigado a inscrever seu título no Sistema Torrens, porém, uma vez inscrito ficaria para sempre submetido a ele (art. 3o do Dec. no 955-A). A exceção à facultatividade ficava por conta das alienações de terras públicas, que obrigatoriamente tinham de ser inscritas no Sistema Torrens, sob pena de nulidade. Constituído pelo procedimento administrativo-judicial: » O procedimento do registro iniciava-se no “Registro Geral de Imóveis” e era submetido ao Juiz de Direito competente para que fosse autorizado ou não. Aplicável a imóveis urbanos e rurais: » Tanto imóveis urbanos quanto os rurais podiam ser inscritos no Sistema Torrens. 28 UNIDADEIII │ EvolUção Do REgIstRo DE ImóvEIs No BRAsIl Constituía o direito de propriedade: » Como o sistema do registro geral não era constitutivo do direito real de propriedade, mas apenas servia de prova em face de terceiros, foi conferido ao Registro Torrens a característica que faltava ao registro comum, ou seja, de efetivamente constituir, de pleno direito, a propriedade imobiliária. transmissível por endosso: » Os direitos reais imobiliários podiam ser transmitidos por endosso na via do título que ficava com o proprietário. Quando o direito real transmitido era a propriedade, o título endossado era levado à serventia imobiliária, que o substituía por outro, fazendo o registro pertinente no Livro Matriz. Por outro lado, quando o direito real transmitido era de garantia, especialmente a hipoteca, o título era entregue ao credor, que o restituía ao proprietário assim que a dívida fosse resgatada. registrado no Livro matriz: » O registro era feito num livro chamado “Matriz”, do qual se extraía o “extrato” para entregar ao proprietário (art. 63 do Dec. no 451-B). Com o advento do Código Civil, em 1916, foi criado um novo sistema de registro de imóveis, obrigatório para a constituição dos direitos reais imobiliários, que vige até os dias atuais, chamado de sistema de registro comum. Assim, a constituição dos direitos reais ficou condicionada ao registro nesse sistema, e só nele. Polêmicas à parte a respeito da revogação do Sistema Torrens pelo Código Civil de 1916, certo é que ele continuou existindo, como faculdade do proprietário, só que não tinha mais a qualidade de constituir a propriedade, mas apenas de conferir ao título nele registrado a presunção absoluta de validade, sendo obrigatório o registro desse mesmo título no sistema comum para a constituição do direito real de propriedade. É por isso que, a partir do CC/1916, diz-se que o Registro Torrens deixou de constituir a propriedade e passou a qualificá-la, conferindo-lhe uma garantia a mais, um “plus”. É importante destacar que, além da instituição do sistema registral comum, o CC/1916 estabeleceu que os direitos reais sobre imóveis somente pudessem ser constituídos por meio de escritura pública, salvo exceções expressas em lei (art. 134). Daí resultou que a transmissão da propriedade e outros direitos reais por endosso, que era uma das características do Torrens, não podia mais ser aceita, até porque a constituição desses direitos estava subordinada ao registro comum. O Código de Processo Civil, de 1939, trouxe nova disciplina ao procedimento de inscrição no Torrens, serenando de uma vez por todas as discussões a respeito da sua revogação pelo CC/1916. Contudo, introduziu importante modificação no sistema, que passou a ser exclusivo para imóveis rurais, sendo ratificado pelo Código de Processo Civil de 1973. 29 Evolução do REgistRo dE imóvEis no BRasil │ unidadE iii Por fim, a Lei de Registros Públicos revogou, por meio dos arts. 277 a 288, o Código de Processo Civil de 1973 quanto ao procedimento de registro no Sistema Torrens. Destarte, atualmente o Registro Torrens brasileiro possui as seguintes características: Facultativo: » O proprietário não é obrigado a inscrever seu título no Sistema Torrens, nem mesmo quando a aquisição for de terras públicas. Constituído pelo procedimento administrativo-judicial: » O procedimento do registro inicia-se no “Registro de Imóveis” e é submetido ao Juiz de Direito competente para que seja deferido ou não. Aplicável somente a imóveis rurais: » A partir do CPC/1939 somente os imóveis rurais passaram a ser passíveis de ingressar no Registro Torrens, porém aqueles urbanos que já estavam inscritos no Torrens continuaram. não constitui a propriedade: » O registro no Torrens não confere o direito de propriedade, que só se constitui com o registro no sistema comum, mas acrescenta à propriedade registrada no sistema comum a presunção absoluta de validade (presunção iuris et de iure). registrado na matrícula do imóvel: » A LRP não menciona o antigo “Livro Matriz” no elenco dos livros registrais (art. 173), determinando em seu art. 288 a inscrição na matrícula do imóvel do julgado que determinou a sua submissão aos efeitos do Registro Torrens. não é transmissível por endosso: » Como não há mais registro em duplicidade, tendo em vista a inscrição apenas na matrícula do imóvel, não há que se falar de transmissão do Torrens por endosso, mesmo porque desde o CC/1916 a transmissão dos direitos reais só se faz mediante escritura pública (regra geral). 30 CAPÍtuLo 3 Sistema do Fólio Pessoal e do Fólio real Sistema do Fólio Pessoal O Decreto no 4.857/1939 foi o primeiro diploma legal brasileiro que normatizou, de maneira exaustiva, os registros públicos em geral (registro civil, títulos e documentos, imóveis e propriedade literária, científica e artística), deixando claro em seu art. 1o que sua finalidade precípua foi dar autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos sujeitos ao seu regime. Especificamente com relação ao registro imobiliário, que é o objeto de nosso estudo, o Decreto no 4.857/1939 instituiu um sistema de registros que usou se chamar “sistema do fólio pessoal”, exatamente porque seu foco estava na transação imobiliária e seus atores, ou seja, no tipo do negócio jurídico celebrado e nas pessoas dos contratantes. Por esse motivo, os livros registrais foram assim instituídos (art. 182 do Dec. no 4.857/1939): » LIVRO No 1 – Protocolo (prenotação dos títulos) » LIVRO No 2 – Inscrição Hipotecária (direito real de hipoteca) » LIVRO No 3 – Transcrição das Transmissões (direito real de propriedade) » LIVRO No 4 – Registros Diversos (demais direitos reais e outros direitos expressos em lei, inclusive penhor agrícola e industrial de bens móveis) » LIVRO No 5 – Emissão de Debêntures » LIVRO No 6 – Indicador Real (dados do imóvel envolvido no título) » LIVRO No 7 – Indicador Pessoal (dados da pessoa envolvida no título) » LIVRO No 8 – Registro Especial (inscrição de loteamento e convenções de condomínio) » LIVRO AUXILIAR – Para inscrição de pacto antenupcial e outros atos relativos aos outros livros, mas que o apresentante quisesse, também, a inscrição no Livro Auxiliar. » LIVRO TALÃO – Para cópia resumida de todos os atos feitos nos Livros nos 2, 3, 4, 5, 8 e Auxiliar, existindo um Livro Talão específico para as cédulas pignoratícias, independente do lançamento da inscrição do penhor agrícola ou industrial feito no Livro no 4 e sua cópia no Livro Talão correspondente. 31 Evolução do REgistRo dE imóvEis no BRasil │ unidadE iii Posteriormente, o Decreto-Lei no 167/1967 criou o livro chamado “LIVRO DE REGISTRO DE CÉDULA RURAL”, e o Decreto-Lei no 413/1969 o “LIVRO DE REGISTRO DE CÉDULA INDUSTRIAL”, para a inscrição de cédulas rurais ou industriais – que são títulos de crédito – que instituíssem garantias reais sobre bens móveis ou imóveis. Caso a garantia recaísse sobre bens móveis (penhor), a cédula seria inscrita no serviço registral da circunscrição do imóvel onde se encontrassem localizados aqueles bens, sendo que essa inscrição seria feita apenas e tão somente no correspondente Livro de Registro de Cédula (rural ou industrial, conforme o caso); se recaísse sobre bens imóveis, ela seria inscrita no referido livro especial, e também no Livro no 2 (sendo a garantia hipoteca). E havia, ainda, um último livro registral, que até hoje permanece em uso, criado pela Lei no 5.709/1971, para inscrição das aquisições de terras rurais por pessoas estrangeiras (físicas ou jurídicas), chamado de “LIVRO AUXILIAR DAS AQUISIÇÕES DE TERRAS RURAIS POR PESSOAS ESTRANGEIRAS”, sendo certo que a inscrição feita nesse livro não afasta, obviamente, a obrigatoriedade da transcriçãoda aquisição no Livro no 3, que era o livro de transcrição das transmissões de propriedade. A nomenclatura dos atos registrais praticados nos diversos livros do cartório era assim definida. » Transcrição somente para atos que transmitissem o direito real de propriedade (só se fazia transcrição no Livro no 3). » Inscrição para os atos de transmissão e constituição de todos os outros direitos reais, bem como dos direitos pessoais sujeitos ao registro imobiliário (se fazia em todos os livros, exceto os Livros nos 1, 3, 6 e 7). » Averbação para atos acessórios e cancelamentos. Eram atos feitos “à margem” de uma transcrição ou inscrição (se fazia em todos os livros, exceto os Livros nos 1, 6 e 7). A transcrição, a inscrição e a averbação eram os três tipos de atos registrais propriamente ditos do Sistema do Fólio Pessoal, contudo os atos praticados nos Livros nos 1, 6 e 7 eram chamados de Lançamento, Anotação ou Apontamento. No Livro no 1 (Protocolo), lançava-se todos os títulos que eram apresentados diariamente ao cartório, mediante numeração contínua e ininterrupta (prenotação), constando o nome do apresentante, a natureza do título, a data e a hora da prenotação. No Livro no 6 (Indicador Real), lançava-se os dados de todos os imóveis, um a um, pertencentes à circunscrição do cartório (endereço, características etc.), fazendo-se remissão às transcrições, inscrições e averbações relativas ao imóvel constantes dos outros livros. No Livro no 7 (Indicador Pessoal), lançava-se os dados de todas as pessoas que, ativa ou passivamente, individual ou coletivamente, figurassem nos livros do cartório, também se fazendo as remissões acima mencionadas. E no Livro Talão, como já dito acima, se lançava resumidamente as transcrições, inscrições e averbações feitas nos Livros nos 2, 3, 4, 5, 8 e Auxiliar. Percebe-se pelo excesso de livros e dispersão dos atos registrários, que o sistema do fólio pessoal, utilizando-se de uma sistemática complexa e pouco prática, facilitava o cometimento de erros e fraudes, tais como registro em livro errado, lançamento incompleto ou inexistente nos Livros nos 1, 6, 7 e Talão etc., ocasionando muitas vezes transtornos e prejuízos para os interessados e o próprio registrador. 32 UNIDADE III │ EvolUção Do REgIstRo DE ImóvEIs No BRAsIl Sistema do Fólio real A Lei no 6.015/1973, mais conhecida como “Lei de Registros Públicos”, revogou expressamente o Decreto no 4.857/1939, e está em pleno vigor até os dias de hoje. É ela a “lei maior” dos registros públicos no Brasil, e, por consequência, do registro imobiliário brasileiro. Tal qual o decreto revogado, a LRP diz, claramente, em seu primeiro artigo, que os registros públicos, e, por conseguinte, o registro de imóveis, tem a finalidade de conferir Autenticidade, Segurança e Eficácia aos atos jurídicos sujeitos ao regime da lei. Essa lei aperfeiçoou bastante o registro imobiliário brasileiro, instituindo um novo sistema registral, ao qual foi dado o nome de sistema do fólio real, pois colocou o imóvel no centro do sistema, e não mais as pessoas ou os negócios jurídicos a ele relativos, como acontecia do sistema anterior. E isso se deu com a criação da matrícula do imóvel, ou seja, o fólio real ou “folha do imóvel”. A matrícula é como se fosse o curriculum vitae do imóvel, porque junta todos os atos a ele relativos num documento só, num livro só, numa “folha” só. Quanto aos livros registrais, vê-se uma drástica mudança, com a diminuição para cinco livros, mais o “Livro Auxiliar das Aquisições de Terras Rurais por Pessoas Estrangeiras”, ficando assim formatada a biblioteca registral (art. 173): » LIVRO No 1 – Protocolo (prenotação do título) » LIVRO No 2 – Registro Geral (matrículas) » LIVRO No 3 – Registro Auxiliar (atos que não digam respeito diretamente a imóvel ou que o apresentante requeira o seu registro nesse livro, sem prejuízo do registro no Livro no 2) » LIVRO No 4 – Indicador Real (dados do imóvel envolvido no título) » LIVRO No 5 – Indicador Pessoal (dados da pessoa envolvida no título) » LIVRO AUXILIAR DAS AQUISIÇÕES DE TERRAS RURAIS POR PESSOAS ESTRANGEIRAS (a LRP não faz menção a esse livro, mas a Lei no 5.709/1971 continua em vigência) A nomenclatura dos atos registrais foi alterada, aglutinando numa só denominação o que antes era “transcrição” e “inscrição”, os quais passaram a ser “Registro” (art. 169 da LRP). Portanto, estes são os atos registrais hoje: » Matrícula é o ato de criação do fólio real, ou seja, a abertura da folha do imóvel, contendo o número de ordem, a identificação do imóvel, o nome do proprietário e sua qualificação, o número do registro anterior e a data de abertura (só se faz no Livro no 2). » Registro para os atos de transmissão e constituição de todos os direitos reais (se faz nos Livros nos 2 e 3). 33 Evolução do REgistRo dE imóvEis no BRasil │ unidadE iii » Averbação para atos acessórios, cancelamentos e direitos pessoais. Não são feitos “à margem da matrícula”, mas sim “na matrícula” ou no Livro no 3 (se faz nos Livros nos 2 e 3). Essa é a posição doutrinária acerca dos atos registrais, entretanto, na prática legislativa a orientação doutrinária é esquecida, levando o legislador a determinar muitas vezes o registro de atos que não correspondem à transferência ou constituição de direitos reais (exemplo: registro de penhora; registro de arrolamento de bens pela Receita Federal; registro de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias etc.), e, em contrapartida, determinar a averbação daquilo que configura transferência ou constituição de direito real (exemplo: averbação de partilha em separação ou divórcio onde o imóvel passa a pertencer a apenas um dos cônjuges; averbação de incorporação societária quando um imóvel passa da empresa incorporada para a incorporadora etc.). Se tanto o ato de registro quanto o de averbação possuem a mesma estrutura, ou seja, ambos são praticados na matrícula, recebem numeração sequencial ininterrupta, geram os mesmos efeitos de publicidade erga omnes, e a prática de um no lugar do outro não gera nulidade (conforme jurisprudência hoje pacífica). O quê justifica a permanência dessa diferenciação entre registro e averbação? Quanto aos atos pertinentes aos Livros nos 1, 4 e 5, permanece a nomenclatura de Lançamento, Anotação ou Apontamento. Em contrapartida, o ato registral chamado “Inscrição” deixou de existir, sendo que hodiernamente esse vocábulo é usado como designação genérica para todos os atos efetuados no Registro de Imóveis, da mesma forma que a própria palavra “registro”, que muitas vezes é usada com essa conotação genérica. Fato é que a Lei no 6.015/1973 trouxe mais praticidade e segurança ao registro imobiliário, especialmente em razão da criação da matrícula, que foi sua principal inovação, acabando com a diversidade de livros contendo atos registrais (transcrições, inscrições e averbações) sobre o mesmo imóvel. 34 unidAdE iV EStruturA do rEgiStro dE imóVEiS brASiLEiro CAPÍtuLo 1 Previsão legal e funções do registro de imóveis Previsão legal O Registro de Imóveis está previsto constitucionalmente no art. 22, XXV, e 236 da CF/1988, além de constar expressamente em vários dispositivos do Código Civil, especialmente os arts. 1.227 e 1.245, e regulado principalmente pela Lei no 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos – LRP). A Lei no 8.935/1994, mais conhecida como Lei dos Notários e Registradores – LNR, regulamenta o exercício das atividades notariais e registrais, definindo suas atribuições, competências, responsabilidades, direitos, deveres e fiscalização, sendo esta última exercida pelo Poder Judiciário. Fora essas leis que tratam especificamente dos registros públicos, inúmeros diplomas legais tratam pontualmente damatéria registral, tais como a Lei no 4.591/1964 (condomínios e incorporações); Decreto-Lei no 58/1937 (parcelamento do solo rural); Lei no 6.766/1979 (parcelamento do solo urbano); Lei no 9.514/1997 (alienação fiduciária de imóveis); Lei no 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) etc. Dentro desse arcabouço legislativo, o art. 3o da LNR é de suma importância para se entender a atividade registral, pois dispõe sobre a independência funcional dos registradores (e também dos notários), deixando claro que os mesmos são profissionais do direito, e, como tais, possuem a prerrogativa do livre convencimento na interpretação da lei no exercício de suas funções. Por isso que a jurisprudência tem entendido que não há crime de desobediência quando um registrador se recusa a registrar um ato judicial, cujo acesso ao fólio real foi considerado indevido pelo mesmo. E é por isso que existe o procedimento da dúvida registral, o qual será objeto de estudo em unidade específica. E é ainda pelo mesmo motivo que se verifica, na prática, o ingresso de um determinado título nos assentamentos de um serviço registral, e sua negativa de acesso em outro. 35 Estrutura do rEgistro dE imóvEis BrasilEiro │ uNidadE iv Funções do registro de imóveis Seguindo a melhor doutrina, é possível definir três funções primordiais do Registro de Imóveis. São elas. » Função Jurídica – dar vida e segurança aos direitos reais imobiliários, proporcionando sua oponibilidade erga omnes; e, ainda, recepcionar e publicizar direitos obrigacionais aos quais a lei quis dar maior segurança jurídica (art. 1.227 do CC e art. 1o da LRP). » Função Administrativa – publicizar atos administrativos relativos a imóveis (art. 167, II, 4, 13 e 18 da LRP). » Função Fiscal-Tributária – fiscalizar tributos incidentes sobre as transações imobiliárias e outros, sob pena de responsabilidade solidária (art. 289 da LRP; art. 30, XI, da LNR; art. 257 do Decreto no 3.048/1999; Lei no 7.433/1985 e Decreto no 93.240/1986; emissão de Declaração de Operações Imobiliárias – D.O.I. etc.). 36 CAPÍtuLo 2 Princípios informadores do direito registral imobiliário O direito registral imobiliário brasileiro é regido por alguns princípios normativos, que orientam a aplicação dos dispositivos legais relativos ao registro de imóveis, a fim de que seja alcançado o objetivo institucional deste, qual seja, dar segurança, autenticidade e eficácia aos atos jurídicos imobiliários, por meio da publicidade registral. Para Montes (2005, p.202), “um sistema imobiliário registral não é outra coisa que um conjunto harmonizado de princípios”. E princípio, enfim, nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello (1981, p.230), pode ser definido como mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. Em vista disso, o próprio Bandeira de Mello asseverou que infringir um princípio é pior que infringir um dispositivo legal, pois a infração a um princípio fulmina toda a estrutura do sistema jurídico, aniquilando a harmonia do ordenamento, enquanto que o malferimento a um dispositivo legal só a ele macula, permanecendo íntegra a construção jurídico-doutrinária do ordenamento. Portanto, com relação ao sistema registral imobiliário, cada doutrinador elenca uma quantidade variável de princípios registrais; uns mais outros menos, porém, na verdade, essas diferenças decorrem do desmembramento de princípios maiores (mais abrangentes) em princípios menores (mais específicos). Todavia, os princípios mais consolidados na doutrina são os seguintes: » Inscrição: Os direitos reais imobiliários só se constituem ou se transmitem ou se extinguem com o registro (inscrição) no serviço imobiliário respectivo, salvo as exceções legais (usucapião, acessões, herança, abandono, perecimento, desapropriação e casamento sob o regime da comunhão universal de bens). Pode ser resumido pela máxima: “QUEM NÃO REGISTRA NÃO É DONO” ou “QUEM NÃO REGISTRA NÃO TEM DIREITO REAL SOBRE O IMÓVEL”. Este princípio pode ser visto nos arts. 167, I e II, 168, 169 e 172 da LRP e 1.227 e 1.245, §1o, do CC. » Legalidade: O registrador tem a obrigação de examinar a legalidade, validade e eficácia dos títulos apresentados à inscrição imobiliária, obstando aqueles que porventura possuam vícios materiais ou formais (art. 198 da LRP). “A validade da 37 Estrutura do rEgistro dE imóvEis BrasilEiro │ uNidadE iv inscrição depende da validade do negócio jurídico que lhe dá origem e da faculdade de disposição do alienante” (Afrânio de Carvalho, 1982, p. 269). » Publicidade: O ato registral gera presunção absoluta de que todas as pessoas têm conhecimento de sua existência (ficção de conhecimento), garantindo a oponibilidade erga omnes dos direitos inscritos (art. 172 e 16 da LRP e art. 1o da LNR). » Fé Pública (ou Legitimação): Os registros efetuados e as certidões expedidas pelo registrador são garantia da existência e autenticidade dos atos praticados na serventia (art. 3o da LNR). » Presunção: A presunção de validade e eficácia dos atos jurídicos inscritos no registro de imóveis – regra geral – é iuris tantum (registro comum), ou seja, até prova em contrário, nos termos do art. 252 da LRP e art. 1.245, §2o, do CC. A exceção é o Registro Torrens, que tem presunção de validade e eficácia iuris et de iure, impossibilitando que o registro seja atacado (art. 277 e seguintes da LRP). » Prioridade: O título que primeiro ingressar no Livro Protocolo terá a prioridade e preferência à inscrição. É um princípio que afasta a contradição entre títulos, que pode ser resumido no brocardo: “prior in tempore, portior in iure”11. Está estampado nos arts. 182, 186, 189, 190, 191, 192 e 205 da LRP. » Especialidade: Para que a inscrição possa ser efetuada, tanto a descrição do imóvel (especialidade objetiva) quanto a do sujeito do direito (especialidade subjetiva) devem guardar perfeita correlação com o registro anterior (art. 176, §1o, II, 3 e 4, e arts. 222 e 225 da LRP). » Continuidade (ou Trato Sucessivo): Deve existir uma cadeia de atos e de titularidade de direitos, sequencial e ininterrupta, gerando uma coerência jurídica e cronológica dos atos inscritos, sendo os mais recentes apoiados nos mais antigos (arts. 195 a 197, 222, 225, 228, 229, 236 e 237 da LRP). A exceção a este princípio fica por conta da usucapião. » Disponibilidade: Ninguém pode transferir mais bens ou direitos do que efetivamente possui (arts. 172 da LRP). » Rogação (ou Instância): Em regra, o ato registral é de iniciativa do interessado (arts. 13 e 217 da LRP), vedado ao registrador atuar ex officio, à exceção dos casos previstos no art. 167, II, 13, e art. 213, I, da LRP. » Territorialidade: O registrador imobiliário só pode praticar atos relativos a imóveis da sua circunscrição, que é definida por lei, sob pena de nulidade, salvo as exceções previstas no art. 169 da LRP. 11 Primeiro no tempo, mais forte no direito. 38 UNIDADE IV │ EstrUtUrA Do rEgIstro DE ImóVEIs BrAsIlEIro » Retificação: O ato inscrito pode ser retificado ou anulado, se não exprimir a verdade dos fatos (art. 213 da LRP e art. 1.247 do CC). » Cindibilidade: Um título que contenha mais de um ato a ser inscrito poderá ser objeto de inscrição parcial, desde que um não dependa do outro, porém, o apresentante deverá solicitar expressamente a cisão do título (Ex.:formal de partilha que contenha mais de um imóvel). » Unitariedade Matricial: Para cada imóvel só deve haver uma matrícula, e a cada matrícula só corresponde um imóvel (art. 176, §1o, I, da LRP). » Concentração: Nenhum fato ou ato jurídico que diga respeito ao imóvel ou às pessoas com ele envolvidas deve ficar de fora do sistema registral, mesmo que seja apenas para dar publicidade ao referido fato ou ato jurídico (art. 167, II, 5, e art. 246 da LRP). 39 CAPÍtuLo 3 títulos sujeitos ao registro imobiliário Já foi visto que o ordenamento jurídico brasileiro exige para a constituição, transmissão e extinção dos direitos reais imobiliários a conjugação de duas coisas: título e registro. O título é a forma sob a qual deve estar revestido o direito, é o invólucro que contém o direito real; enquanto que o registro é o modo pelo qual esse direito se constitui e se torna válido juridicamente. Dessa forma, o título registral pode ser definido, no seu aspecto formal, como o documento que autoriza a inscrição de um direito, ato ou fato jurídico no registro de imóveis. E, de acordo com o art. 221 da LRP, os títulos aptos à inscrição imobiliária podem ser: Públicos a. Escrituras públicas12 (lavradas em serviço notarial ou consulado brasileiro). b. Títulos administrativos (ex.: carta de habite-se, declaração de numeração predial, declaração de tombamento etc.). c. Títulos judiciais (ex.: formal de partilha, carta de arrematação, carta de adjudicação, certidões, mandados etc.). É muito comum o recebimento de ofícios judiciais na serventia imobiliária com determinações de transferências de propriedade, penhoras, indisponibilidades, sequestros, arrestos etc. Como o art. 221 da LRP diz que somente serão admitidos a registro os títulos judiciais denominados cartas de sentença, formais de partilha, certidões e mandados, seria correto a recusa desses ofícios apenas pela sua denominação ou poderia ser invocado o “princípio da instrumentalidade das formas”, insculpido nos arts. 244 e 250 do CPC? Particularidades » Todo e qualquer documento particular autorizado em lei, como por exemplo, instrumento particular de compra e venda lavrado por instituição do SFH (art. 221, II, da LRP), ou do SFI (art. 38 da Lei no 9.514/1997), ou de imóvel de valor menor ou igual a 30 salários mínimos (art. 108 do CC), memorial de incorporação imobiliária (art. 32 da Lei no 4.591/1964) etc. 12 São por excelência os títulos hábeis à transmissão, constituição, modificação e renúncia dos direitos reais imobiliários, conforme dispõe o art. 108 do CC/2002. 40 UNIDADE IV │ EstrUtUrA Do rEgIstro DE ImóVEIs BrAsIlEIro Estrangeiros » Os documentos estrangeiros para surtirem efeito no Brasil precisam ser legalizados (chancelados pelo consulado ou embaixada brasileira), traduzidos por tradutor público (Decreto no 13.609/1943) e registrados em Serviço Registral de Títulos e Documentos, tanto os públicos quanto os particulares, observando- se o disposto nos arts. 221, III; 129, §6o; e 148 da LRP, arts. 9o, §1o; 13; e 14 da LICC e art. 224 do CC. Atos, fatos e direitos sujeitos ao registro imobiliário Os títulos, em seu sentido formal, são invólucros onde se aninha um ou mais direitos, sendo que nem todos os direitos têm acesso ao registro imobiliário, mas apenas os direitos reais imobiliários, ou direitos obrigacionais determinados em lei, ou, ainda, outros direitos, atos e fatos jurídicos que de qualquer modo influenciem o imóvel ou as pessoas a ele relacionadas (títulos em sentido material). Assim, o ponto de partida para a verificação da inscritibilidade de um ato, fato ou direito no sistema registral é o art. 167 da LRP, já que lá estão previstos os principais atos, fatos e direitos registráveis ou averbáveis. Todavia, não é só nesse artigo que se encontram os atos passíveis de inscrição, mas em vários outros diplomas legais, tais como: Lei das Sociedades Anônimas (Lei no 6.404/1976), Lei dos Fundos de Investimento Imobiliário (Lei no 8.668/1993), Lei do Patrimônio de Afetação (Lei no 10.931/2004), Estatuto da Cidade (Lei no 10.257/2001) etc. Por fim, vale lembrar que ainda há divergência entre doutrinadores quanto à taxatividade ou não dos atos registráveis e averbáveis, havendo os que dizem ser taxativos (numerus clausus) ambos os incisos do art. 167; os que dizem ser ambos enunciativos (numerus apertus); e os que afirmam ser taxativos os atos registráveis e enunciativos os atos averbáveis. Fato é que o art. 167, II, item 5, e o art. 246, caput, da LRP deixam clara a possibilidade de se averbar outros atos não previstos expressamente na LRP ou qualquer outra lei, bastando que tenha relação ou influência no imóvel, nas pessoas ou no registro (princípio da concentração). 41 unidAdE V quALiFiCAção rEgiStrAL E ProCEdimEnto dE rEgiStro CAPÍtuLo 1 Conceito, previsão legal e características da qualificação A qualificação registral é a atividade fim do registrador. É através dela que ele busca garantir o cumprimento da finalidade precípua do registro de imóveis, que é dar autenticidade, segurança e eficácia aos atos e fatos jurídicos relativos a imóveis. Para Ricardo Henry Marques Dip (2005, p.168), qualificação registral é “o juízo prudencial, positivo ou negativo, da potência de um título em ordem a sua inscrição predial, importando no império de seu registro ou de sua irregistração”. Em outras palavras, é o exame jurídico do título apresentado com vistas à emissão de um juízo de valor sobre a possibilidade ou impossibilidade de seu registro. A previsão legal da qualificação registral está no art. 198 da LRP, e seu pressuposto lógico-jurídico é a independência funcional do oficial (art. 3o e 28 da LNR), por ser ele um profissional do direito, ao qual a lei impôs o dever de zelar pela legalidade dos atos e fatos jurídicos imobiliários, tem ele a prerrogativa de examinar e qualificar o título, decidindo pela efetivação ou recusa do registro, segundo suas convicções jurídicas, sendo fiscalizado no exercício dessa atividade pelo Poder Judiciário. Na esteira do pensamento de Dip (2005), pode-se elencar algumas características marcantes da qualificação registral, quais sejam: » Obrigatoriedade – O registrador não pode deixar de proceder à qualificação, sob qualquer pretexto, nem mesmo alegando lacunas ou ausência de lei, não podendo ser dispensada ao argumento de ter havido qualificação jurídica anterior por quem elaborou o título. » Caráter Personalíssimo – Não importa quem examinou (qualificou) o título, se um auxiliar registral ou um escrevente, a responsabilidade será sempre do registrador (civil e administrativamente). A responsabilidade criminal será individualizada (arts. 22 a 24 da LNR). Significa dizer, ainda, que o registrador não pode transferir a qualificação para outrem, notadamente o juiz de registros públicos ou corregedor. 42 UNIDADE V │ QUAlIfIcAção REgIstRAl E PRocEDImENto DE REgIstRo » Independência – A qualificação está adstrita somente à legalidade e à convicção do registrador. Não está preso à jurisprudência ou orientações de órgãos de classe, nem mesmo às suas próprias decisões em casos anteriores. Segundo Hernández Gil, citado por Dip (2005, p.178), é a mesma independência que tem o juiz para ditar suas resoluções. » Caráter Jurídico – O juízo qualificador é jurídico, na medida em que decide, nos limites da lei, sobre a aptidão de um título para produzir efeitos de direito por meio da publicidade registrária. » Integralidade – É dever do registrador proceder ao exame exaustivo do título, em todos os aspectos relevantes para a registração ou seu indeferimento, e, se for o caso, indicar de uma só vez todas as “exigências” para a sua inscrição. qualificação em Espécie
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