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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DE DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA ISABEL CRISTINA PEREIRA GABRIEL DE LIMA CORREIA PALOMA SOARES DOS SANTOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E MEMÓRIA COM ENFOQUE NOS NEUROTRANSMISSORES ENVOLVIDOS SEROPÉDICA 2016.2 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DE DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E MEMÓRIA COM ENFOQUE NOS NEUROTRANSMISSORES ENVOLVIDOS Trabalho desenvolvido como parte integrante da primeira avaliação da disciplina de Fisiologia Geral I – IB 312 – Apresentado à Prof. Magda Alves de Medeiros SEROPÉDICA 2016.2 1. Introdução O aprendizado é o processo que permite obter informações, enquanto a memória é o processo que permite armazenar essas informações. A memória é definida como a aquisição, formação, conservação e a evocação de informações. Existem várias classificações para a memória, de acordo com sua função, com o tempo de duração e com o seu conteúdo. Embora este trabalho tenha maior foco nos neurotransmissores envolvidos no processo de aprendizagem e memória, é importante que sejam apresentadas as áreas cerebrais envolvidas nestes processos para sua melhor compreensão. As áreas associativas do córtex cerebral são responsáveis por receber e analisar sinais simultâneos de múltiplas regiões, tanto dos córtices motores e sensoriais quanto das estruturas subcorticais. As áreas associativas importantes incluem a área associativa parieto-occipitotemporal, a área associativa pré-frontal e a área associativa límbica. Na área parieto-occipitotemporal, a área de Wernicke é a área mais importante de todo o cérebro que está envolvida com a função intelectual superior, uma vez que é a principal área envolvida na compreensão da linguagem. É local de confluência de diferentes áreas interpretativas sensoriais, que caso sofra dando, torna o indivíduo incapaz de agrupar palavras em um pensamento coerente, embora ainda possa ouvi-las/ lê-las e reconhecê-las. Atrás da área de compreensão da linguagem, encontra-se a área associativa visual, que supre informação visual, na forma de palavras lidas em um livro à área de Wernicke. Esta área, chamada de giro angular, é necessária para dar sentido às palavras percebidas visualmente Caso sofra dano, o indivíduo pode ser capaz de ver as palavras e até mesmo saber que são palavras, mas não será capaz de interpretar seu significado. A área de Broca é responsável pelo planejamento de padrões motores para a expressão de palavras individuais ou, até mesmo, onde frases curtas são iniciadas e executadas, atuando em associação íntima com a área de Wernicke. Ainda na região parieto-occipitotemporal, é localizada a área para a nomeação de objetos, que são aprendidos, principalmente, pela audição, enquanto a natureza física os objetos é aprendida em sua maior parte pela visão. A área associativa pré-frontal é, com frequência, descrita como sendo importante para a elaboração de pensamentos e é dita armazenar, a curto prazo, as "memórias de trabalho" que são usadas para combinar novos pensamentos enquanto eles estão sendo processados no cérebro. A área associativa límbica é relacionada a comportamento, emoção e motivação, e, não menos importante, fornece comando motivacional para o próprio processo de aprendizado. Especialmente o hipocampo e os núcleos mediodorsais do tálamo são importantes para tomar a decisão de quais pensamentos importam ou não na base de recompensa e punição para serem dignos de memória, figurando entre as vias de saída mais importantes do sistema límbico. Pessoas que tiveram o hipocampo retirado para tratamento de epilepsia não sofreram danos à memória previamente armazenada, mas ficam incapazes de estabelecer novas memórias a longo prazo, quadro este chamado de amnésia anterógrada. Em algumas pessoas que tiveram lesões hipocampais, algum grau de amnésia retrógrada ocorre junto com a amnésia anterógrada, o que sugere que estes dois tipos de amnésia sejam, pelo menos em parte, relacionados, e que lesões hipocampais possam causar ambos. De outro modo, as lesões hipocâmpicas não costumam alterar a capacidade de aprender habilidades motoras, que não envolvam verbalização ou formas simbólicas de inteligência. As principais estruturas implicadas para a aprendizagem de tarefa motora são o estriado, cerebelo e regiões motoras corticais. Danos em algumas áreas talâmicas podem levar especificamente à amnésia retrógrada, sem causar amnésia anterógrada significativa. Possível explicação para tal é que o tálamo pode ter papel em "procurar" as memórias e as "ler". 2. Acetilcolina Sabemos que a acetilcolina participa do controle central e periférico do movimento, do funcionamento do sistema nervoso autônomo, da regulação do sono e de múltiplos processos cognitivos como memória, atenção e aprendizado. O papel crucial do sistema colinérgico nas funções cognitivas foi demonstrado através de estudos onde foi observado que antagonistas dos receptores muscarínicos, como a escopolamina e a atropina, diminuíam as habilidades cognitivas em vertebrados. A ACh é sintetizada pela enzima colina acetiltransferase (ChAT), a partir dos substratos colina e acetato, sendo a colina provida principalmente da alimentação. A hidrólise da ACh é realizada pela enzima Acetilcolinesterase (AChE), metabolizada em acetato e colina. A colina, proveniente da hidrolise da Ach, é recaptada pelo transportador de colina de alta afinidade (CHT1) para neurônio pré-sináptico e utilizada para a síntese de novas moléculas de ACh. Considerando-se que os neurônios não produzem colina suficiente e que a maior parte da colina necessária para a síntese de ACh provem da dieta, sua recaptação para o interior neuronal é essencial. Os neurônios colinérgicos do prosencéfalo basal inervam uma grande parte do cérebro como o isocórtex, córtex peririnal, mas também algumas regiões mais profundas como o hipocampo, a amídala e o hipotálamo. Os neurônios colinérgicos dessa região parecem estar envolvidos na memória e na atenção. A intervenção da ACh na memória foi demonstrada com vários estudos farmacológicas em ratos e camundongos. O déficit de memória provocada por injeção de escopolamina (antagonista muscarínico), pode ser revertida com injeção de galantamina (inibidor de acetilcolinesterase). Os camundongos mutantes knock-down para VAChT (transportador de acetilcolina) apresentam um déficit de memória no teste temporal de reconhecimento de objeto, e esse déficit também pode ser revertido com inibidor de acetilcolinesterase. A ACh desempenha também um papel no processo de consolidação da memória no hipocampo - o bloqueio de receptores muscarínicos colinérgicos com escopolamina por injeção intra- hipocampal imediatamente após a tarefa de habituação causa amnésia retrógrada em ratos. A ACh é necessária para o processo de consolidação celular da memória de longo prazo, mas sua ausência não bloqueia a formação da memória remota que depende de algumas regiões corticais - a memória de longo prazo depende de regiões mais internas, como o hipocampo, mas em caso de memórias de memórias de dois a três meses após treino, o córtex posterior parietal é necessário para evocação em ratos. Embora haja um declínio generalizado de vários neurotransmissores nós corpos celulares na fase final da doença de Alzheimer, as perdas mais consistentes ao longo da progressão desta são observadas em neurônios com projeções compridas,dentre eles, os neurônios colinérgicos do prosencéfalo basal – entre a porção orbital do córtex frontal e o hipotálamo. Os neurônios colinérgicos do prosencéfalo basal e do complexo banda diagonal septal são a principal fonte de inervação colinérgica do córtex cerebral e hipocampo, respectivamente, e acredita-se que desempenham um papel fundamental na memória e atenção. Os pacientes com DA têm uma alteração das faculdades cognitivas, manifestando-se inicialmente por alterações da memória episódica. Estes déficits amnésicos agravam-se com a progressão da doença, e são posteriormente acompanhados por déficits de orientação espaciais e de linguagem. 3. Ácido Gama- Aminobutírico – GABA Até o momento, são conhecidos dois tipos de receptores para o GABA: GABAA, mais importante e o único relevante na ação dos benzodiazepinas e o GABAB, conhecido como sítio de ação do baclofen, um relaxante muscular de ação central. O receptor GABAA pertence à superfamília de receptores pentaméricos que é constituída por duas subunidades alfa (α), duas subunidades beta (β) e uma gama (γ), dispostos ao redor de um canal de cloro. Neste receptor GABAA, os canais de íons cloreto e os receptores benzodiazepínicos formam um complexo macromolecular, funcionando como sítio de modulação alostérica. Os ligantes dos receptores benzodiazepínicos são capazes de modular as funções de abertura dos canais mediados pelo GABA, mesmo interagindo com o sítio diferente no receptor GABAA. Esse fenômeno ocorre por que a ligação dos benzodiazepínicos com o sítio específico do receptor GABAA promove mudança do estado conformacional do receptor, produzindo aumento da afinidade deste receptor pelo próprio GABA. A ativação dos receptores GABAA pelo próprio GABA liberado na sinapse, provoca um aumento transitório da condutância dos canais de cloreto, que resulta em hiperpolarização da membrana e reduz a probabilidade de geração do potencial de ação. Para entender como o GABA afeta a memória, é preciso elucidar o processo de memória de médio e longo prazo. Memórias são armazenadas no cérebro pela variação da sensibilidade básica da transmissão sináptica, entre neurônios, como resultado da atividade neural prévia. A maioria das memórias que associamos a processos intelectuais é baseada em traços mnemônicos estabelecidos no córtex cerebral. O cérebro desenvolve processos de habituação - inibição das vias sinápticas para informações podem ser ignoradas – ou facilitação - realce e armazenamento dos traços mnemônicos - de acordo com a importância da informação recebida. A habituação não consiste em não-aprendizado, mas em uma aprendizagem não associativa em que ocorre uma diminuição automática da intensidade de uma resposta comportamental a um estímulo repetitivo. De modo simples, pode-se pensar em um mecanismo da memória da Aplysia, formado por um terminal de um neurônio sensorial que termina na superfície do neurônio que deve ser estimulado e um terminal que fica na superfície do terminal sensorial, chamado terminal facilitador. Quando o terminal sensorial é estimulado repetidamente, mas sem estimulação do terminal facilitador, a transmissão de sinal se torna cada vez mais fraca, até quase desaparecer. Essa é a habituação, memória negativa que faz o circuito neuronal perder sua resposta a eventos insignificantes. Em outro caso, se o estímulo excitar também o terminal facilitador, a transmissão de sinal se torna mais intensa com a repetição do estímulo, e permanecerá forte por minutos, horas, dias ou semanas, mesmo sem estimulação adicional do terminal facilitador. Esse é o processo de facilitação. A nível molecular, a habituação resulta do fechamento progressivo dos canais de cálcio na membrana terminal, lembrando que a entrada de cálcio é o estímulo principal para a liberação do neurotransmissor. O mecanismo da facilitação apresenta-se mais complexo, iniciando-se pela estimulação do terminal pré- sináptico facilitador a mesmo tempo em que o terminal sensorial estimulado causa liberação de serotonina na sinapse facilitadora. A serotonina age em receptores serotonérgicos na membrana do terminal sensorial. Receptores estes que ativam a adenilciclase, formando AMPc ainda no terminal pré-sináptico. O AMPc ativa uma proteinocinase que fosforila proteína integrante dos canais de potássio na membrana do terminal pré-sinaptico, bloqueando a condução de potássio por minutos ou semanas, levando à prolongação do potencial de ação da membrana pré-sináptica, e, consequentemente, a entrada de grande quantidade de cálcio, que culmina na liberação aumentada de neurotransmissor pela sinapse. O aumento prolongado da sensibilidade excitatória do terminal sensorial estabelece o traço de memória. Em condições apropriadas, ainda considerando a Aplysia como modelo experimental, estímulos de fontes diferentes convergindo a um mesmo neurônio podem levar a mudanças de longo prazo nas propriedades de membrana do neurônio pós- sináptico. A maioria dos receptores pós-sinápticos nas células que interagem com o GABA pertence à classe dos canais de íons com abertura para ligante. Quando o GABA (o ligante) se liga ao receptor, este altera sua conformação, abrindo temporariamente um canal que permite que íons de carga negativa entrem na célula. O aumento na concentração de íons gera um potencial negativo, impedindo que a célula seja capaz de produzir um pulso elétrico excitatório. As benzodiazepinas, uma classe de drogas que facilitam a ação do GABA, geralmente empregadas como ansiolíticos, anticonvulsivantes e relaxante muscular, prejudicam a memória: Logo após a introdução da benzodiazepina diazepam na prática clínica, surgiram vários relatos indicando a ocorrência de amnésia anterógrada em pacientes tratados com esta droga. Estudos têm demonstrado que os efeitos mnemônicos de drogas GABAérgicas são mediados, pelo menos em parte, na amígdala, e não o bastante, estudos anatômicos têm demonstrado que a amígdala, e em particular o núcleo basolateral, recebe informações de todas as modalidades sensoriais, e envia informações para diferentes áreas do cérebro como o tálamo, neocortex, hipocampo e septo, que estão intimamente relacionadas na elaboração e expressão de funções cognitivas. 4. Glutamato Principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central, é sintetizado a partir de glutamina, por ação da enzima glutaminase. Pode ser sintetizado, também, a partir do α-cetoglutarato, um intermediário do ciclo de Krebs, por ação da enzima GABA transaminase, que o converte em glutamato. Encontra-se amplamente distribuído no cérebro e demais regiões do SNC, e é armazenado em vesículas nas sinapses. Receptores: Entre os receptores para o glutamato, encontramos receptores ionotrópicos: ácido α- amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazol propiônico (AMPA), cainato e N-metil-D-aspartato (NMDA) e receptores metabotrópicos, acoplados a proteínas G, que são subdivididos em três grupos (mGlu I, II e III) e que possuem atividade mais expressiva em termos pré-sinápticos, para regulação por feedback da liberação do neurotransmissor. NMDA: Acredita-se que o glutamato atue na memória e cognição do indivíduo, fato que pode ser relacionado à participação do receptor NMDA na plasticidade sináptica (alteração da “força sináptica”, ou seja, da capacidade de excitação ou inibição da célula pós-sináptica) e na indução da potencialização de longo prazo (LTP), que se refere a um aumento prolongado (horas a dias) na magnitude de uma resposta pós-sináptica a um estímulo pré-sináptico. 5. Referências Bibliográficas DIEHL, Felipe. Plasticidade de Receptores Colinérgicos Muscrínicos M4 Hipocampais Decorrente de uma Consolidaçãoda Memória Como Possível Marcador Sináptico do Engrama: Ensaios Farmacológico- Comportamentais. Tese de Pós – Graduação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Julho de 2010. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/26580/000759727.pdf?sequence=1 Acesso em 18 de setembro de 2016 às 12:22h ORSER, Beverley A. Por Trás da Anestesia. Reportagem do Scientific American Brasil. Editora Segmento, 2016. Disponível em: http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/por_tras_da_anestesia.html Acesso em 18 de setembro de 2016 às 12:29h PEREIRA, Bárbara Caetano. Avaliação da Memória Emocional em Camundongos: Efeito da Injeção de Midazolam na Substância Cinzenta Periaquedutal. Exame Geral de Defesa ao Curso de Pós-Graduação. Universidade Federal de São Carlos. São Paulo, 2013. Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/1511/1/409596.pdf Acesso em 18 de setembro de 2016 às 12:32h TOMAZ, Carlos. Psicobiologia da Memória. Psciol. USP São Paulo , v. 4, n. 1-2, p. 49-59, 1993 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678- 1771993000100004&lng=pt&nrm=iso. Acessos em 18 de setembro 2016b às 12:37h HAAL, John E. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica/ John E. Hall. – 12.ed – Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. Tradução. LERNT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios? : Conceitos Fundamentais de Neurociências / Roberto Lernt – 2.ed. – São Paulo: Editora Atheneu, 2010. LANNES, Denise; VELLOSO, Andréa; VOLCHAN, Eliane; MAIA, Cristina. Memória de Longo Prazo. Revista Educação Pública, setembro de 2007. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/oficinas/ed_ciencias/neurocognicao/vermelho/ma06.html Acesso em 19 de setembro de 2016
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