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Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 27 MODELAGEM MATEMÁTICA DE SISTEMAS O objetivo geral da modelagem matemática de sistemas é habilitar o aluno a aplicar métodos científicos de forma obter um modelo matemático que descreva o comportamento de um sistema físico, bem como a utilizar equipamentos e dispositivos usuais da área de Engenharia para determinar e reconhecer as propriedades dos modelos dinâmicos de parâmetros concentrados. A primeira etapa para desenvolver um modelo matemático consiste em aplicar as leis físicas fundamentais de ciência e engenharia. Por exemplo, ao modelar circuitos elétricos, a lei de Ohm e as leis de Kirchhoff que são as leis básicas de circuitos elétricos, serão aplicadas inicialmente. Somaremos tensões ao longo de uma malha ou corrente em um nó. Ao estudar sistemas mecânicos, utilizaremos as leis de Newton com princípios-guia fundamentais. Somaremos, neste caso, forças e torques. Com base nestas equações iremos obter a relação entre a saída e a entrada do sistema. APLICAÇÕES DOS MODELOS MATEMÁTICOS • O modelo matemático é uma representação matemática de um processo real. • Modelos matemáticos podem auxiliar na análise do processo e controle. • As aplicações da modelagem na área de controle são as seguintes: 1. Aprimorar o entendimento do processo A simulação do processo pode ser usado para estudar o seu comportamento e explorar as regiões de operação. 2. Treinamento de operadores Os operadores podem ser treinados em várias regiões de operação do processo, inclusive em situações de emergência, através de simulação onde a interface é a própria plataforma de operação. 3. Projeto da estratégia de controle de um processo novo Os modelos de processo permitem que se teste diversas estratégias de controle, definindo inclusive a instrumentação necessária. Possibilita também testar estratégias de controle mais complexas. Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 28 4. Projeto do controlador Através de simulação ou análise direta do modelo dinâmico, podem-se encontrar os parâmetros do controlador ou até mesmo verificar e determinar se o controlador é aplicável ao caso. 5. Projeto da lei de controle As técnicas modernas de controle normalmente incluem o modelo do processo na lei de controle. Estas técnicas são comumente chamadas de controle preditivo ou controle baseado em modelo. 6. Otimização do processo Em muitos processos há a possibilidade de se operar uma planta em condições que maximize o lucro ou minimize os custos. Neste caso normalmente se utiliza modelo em estado-estacionário. CLASSIFICAÇÃO DOS MODELOS MATEMÁTICOS Os modelos matemáticos podem ser classificados em três tipos, em função da forma como é obtido: a ) Modelos teóricos - Desenvolvidos usando princípios físico-químicos. b ) Modelos empíricos - Obtidos através da análise matemática (estatística) do processo a partir de dados da operação. c ) Modelos semi-empíricos - É a combinação dos modelos teóricos e empíricos onde alguns parâmetros físico-químicos são determinados a partir dos dados da planta. Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 29 GRAUS DE LIBERDADE NA MODELAGEM O uso de modelos matemáticos para simulação de processo, deve nos fornecer uma única solução de todas as saídas em função das entradas, ou seja, o número de variáveis desconhecidas deve ser igual ao número de equações independentes do modelo. Uma forma equivalente é dizer que devemos ter grau de liberdade zero. Na forma de equação temos: N N N f v e = − = 0 Onde: Nf - grau de liberdade Nv - número total de variáveis desconhecidas (entradas não especificadas) Ne - número de equações independentes (diferenciais e algébricas) A análise do grau de liberdade separa os problemas de modelagem em três categorias: 1. Nf = 0 : Sistema exatamente determinado (exatamente especificado) O número de variáveis dependentes nas equações é igual ao número de equações, ou seja, o conjunto de equações fornece uma solução única . 2. Nf > 0 : Sistema subdeterminado (subespecificado) Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 30 O Nv > Ne , ou seja, tem mais variáveis dependentes do que equações. Conseqüentemente, as Ne equações tem infinitas soluções sendo que Nf variáveis podem ser especificadas arbitrariamente. O modelo do sistema é chamado de subespecificado. 3. Nf < 0 : Sistema sobredeterminado (sobrespecificado) Tem menos variáveis dependentes do que equações e conseqüentemente o conjunto de equações não tem solução.O modelo do sistema é chamado de sobrespecificado. Note que Nf = 0 é o único caso satisfatório. Se Nf > 0 então um certo número de variáveis tem que ser especificados. Se Nf < 0 então um conjunto de equações independentes adicionais tem de ser desenvolvida. Etapas da modelagem: 1) Estabelecer as constantes ou parâmetros conhecidos, tais como, dimensões de equipamentos, propriedades físico-químicas constantes, etc.. 2) Identificar o número de variáveis saída (Ne), obtido através da solução de equações diferenciais do modelo (por integração usando condições de contorno) e equações algébricas. 3) Identificar as variáveis especificadas, a entrada no modelo.Por exemplo: Vazão de carga ou especificado como variável manipulada numa estratégia de controle. Note que t não é uma das Nv pois não é entrada ou saída do sistema. ESTUDOS DE SISTEMAS Etapas da construção de modelos Para estudos de sistemas, têm-se as seguintes etapas para obter os modelos dinâmicos: Etapa 1: Desenhar o diagrama esquemático do processo e nomear todas varáveis de processo. Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 31 Etapa 2 : Listar todas as hipóteses usadas no desenvolvimento do modelo. O modelo deve ser o mais simples possível para obter os objetivos da modelagem. Etapa 3 : Determinar se há outra variável independente que não seja o tempo. Se a variável espacial é importante, é necessário utilizar equações diferenciais parciais. Etapa 4 : Escrever os balanços dinâmicos adequados (balanço global de massa, balanço de componentes, balanço de energia, etc.). Etapa 5: Introduzir equações de equilíbrio, e outras relações algébricas (termodinâmicas, estequiometria de reação, geometria de equipamentos, etc...). Etapa 6: Identificar os parâmetros do sistema (constantes). Etapa 7: Identificar as variáveis do modelo. Etapa 8 : Calcular os graus de liberdade. Etapa 9 : Especificar as Nf entradas para utilizar o grau de liberdade disponíveis. Se esta etapa não for realizável, então retorne à etapa 2 e realize as hipóteses do modelo. Etapa 10 : Simplificar as equações do modelo se possível. Por exemplo: Arranjar as variáveis dependentes no lado esquerdo das equações e variáveis de entrada no lado direito. Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 32 MODELOS MATEMÁTICOS DE CIRCUITOS ELÉTRICOS Os circuitos equivalentes às redes elétricas com as quais trabalhamos consistem basicamente em três componentes lineares passivos: resistores, capacitores e indutores. A Tabela 1 resume os componentes e as relações entre tensão e corrente e entre tensão e carga, sob condições iniciais nulas. Tabela 1 – Relações tensão-corrente, tensão-cargae impedância para capacitoers, resistores e indutores. Nota: ν( t ) = V (volts), i( t ) = A (ampères), q( t ) = Q (coulombs), C = F (farads), R = Ω (ohms), G =(mhos), L = H (henries) Componente Tensão-corrente Corrente-tensão Tensão-carga Impedância Z(s) = V(s)/I(s) Admitância Y(s) = I(s)/V(s) As equações de um circuito elétrico obedecem às leis de Kirchhoff, que estabelecem: • A soma algébrica das diferenças de potencial ao logo de um circuito fechado é igual a zero. • A soma algébrica das correntes em uma junção ou nó é igual a zero. A partir destas relações podemos escrever as equações diferenciais do circuito. Aplica-se, então, a Transformada de Laplace das equações e finalmente se soluciona a Função de Transferência. Exemplo: Obter a função de transferência relacionando a tensão, VC(s), no capacitor à tensão de entrada, V(s), da figura 1. Figura 1 - Circuito RLC. Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 33 Resolução: Utilizando as leis de Kirchhoff, obteremos a equação diferencial para o circuito. Somando as tensões ao longo da malha, supondo condições iniciais nulas, resulta a equação íntegro-diferencial. 0 1( ) ( ) ( ) ( ) tdi tL Ri t i d v t dt C τ τ+ + =∫ Fazendo uma mudança de variável, de corrente para carga, usando a relação ( ) ( ) /i t dq t dt= resulta: 2 2 1( ) ( ) ( ) ( ) d q t dq tL R q t v t dt Cdt + + = A partir da relação tensão-carga em um capacitor da Tabela 1: ( ) ( )Cq t Cv t= Substituindo: 2 2 ( ) ( ) ( ) ( )C C C d v t dv t LC RC v t v t dtdt + + = Aplicando Laplace: ( )2 1 ( ) ( )CLCs RCs V s V s+ + = Calculando a função de transferência, ( ) / ( )cV s V s : 2 1 1 ( ) ( ) cV s LC RV s s s L LC = + + Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 34 SISTEMAS MECÂNICOS EM TRANSLAÇÃO Os sistemas mecânicos obdecem à lei fundamental onde o somatório de todas as forças é igual a zero. Isto é conhecido como lei de Newton e pode ser dito da seguinte forma: a soma das forças aplicadas deve ser igual à soma das forças de reação. Iniciaremos arbitrando um sentido positivo para o movimento, por exemplo, para direita. Usando o sentido escolhido como positivo para o movimento, desenhamos em primeiro lugar um diagrama de corpo livre, posicionando sobre o corpo todas as forças que agem sobre ele no sentido do movimento ou no sentido oposto. Em seguida, utilizamos a lei de Newton para construir a equação diferencial do movimento somando as forças e igualando a soma a zero. Finalmente, supondo as condições iniciais nulas, aplicamos a transformada de Laplace à equação diferencial, sepramos as variáveis e chegamos à função de transferência. A Tabela 2 apresenta os elementos mecânicos comuns em sistemas de translação como suas relações. Tabela 2 – Relações força-velocidade, força-deslocamento, e impedância de translação de molas, amortecedores e massas. Componente Força- velocidade Força- deslocamento Impedância Zm(s)=F(s)/X(s) Mola Amortecedor viscoso Massa Nota: Os seguintes conjuntos de símbolos e unidades são usadas ao longo deste livro: f ( t ) = N (newtons), x( t ) = m (metros), ν( t ) = m/s (metros/segundo), K =N/ m (newtons/metro), f ν = N.s/ m (newton-segundo/ metro), M =kg (quilogramas = newton.segundo2 / metro). Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 35 Exemplo Obter a função de transferência, X(s)/F(s), para o sistema da figura abaixo: Resolução: Desenhando o diagrama de corpo livre para o sistema proposto e arbitrando o sentido do movimento para direta, obtemos: Utilizando a Lei de Newton escrevemos a equação diferencial do movimento. 2 2 ( ) ( ) ( ) ( )v d x t dx tM f Kx t f t dtdt + + = Aplicando Laplace, 2 2 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) v v Ms X s f sX s KX s F s Ms f s K X s F s + + = + + = . Resolvendo para obter a função de transferência, 2 1( ) ( ) ( ) v X sG s F s Ms f s k = = + + Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 36 Em sistemas mecânicos, o número necessário de equações de movimento é igual ao número de movimentos linearmente independentes. A independência linear implica que um onto de movimento em um sistema em movimento pode continuar a se mover mesmo se todos os outros pontos forem mantidos parados. A expressão linearmente independente também é conhecida por graus de liberdade. Desta forma podemos sugerir uma pequana equação. [Soma de Impedâncias]X(s) = [Soma de forças aplicadas] Quando utilizando a lei de Newton, somando as forças de cada corpo e fazemos a soma igual a zero, o resultado é um sistema de equações simultâneas do movimento. Estas equações podem ser resolvidas em função da variável de saída de interesse a partir da qual se calcula a função de transferência. Exemplo: Obter a função de transferência, X2(s)/F(s), para o sistema da figura abaixo. Usando o conceito apresentado anteriormente podemos solucionar o exercício por inspeção, escrevendo as equações de movimento do sistema, sem desenhar o diagrama de corpo livre. 1 2 1 1 2 1 Soma das Soma das impedâncias Soma das impedâncias conectadas ao forças aplicadas entre movimento em x x e x em x ( ) ( )X s X s ⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎢ ⎥ ⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ − = ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎣ ⎦⎢ ⎥⎣ ⎦⎢ ⎥⎣ ⎦ e Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 37 1 2 1 2 2 2 Soma das impedânciasSoma das Soma das impedâncias conectadas ao forças aplicadas movimentoentre x e x em x em x ( ) ( )X s X s ⎡ ⎤⎢ ⎥⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥− − =⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎢ ⎥⎣ ⎦ SISTEMAS MECÂNICO EM ROTAÇÃO As equações caracterizando os sistemas que apresentam movimento de rotação são semelhantes às dos sitemas com translação. Escrever as equações de conjugado é equivalente a escrever as equações de força, com os termos de deslocamento, velocidade e aceleração considerada agora como grandezas angulares. O torque substitui a força e deslocamento angular substitui deslocamento. O termo associado à Massa é substituído por inércia. O conceito de graus de liberdade também continua válido nos sitemas em rotação. O número de pontos de movimento que podem ser submetidos a deslocamentos angulares, enquanto se mantêm parados todos os demais, é igual ao número de equações de movimento ncessário para descrever o sistema. Os elementos relacionados ao movimento mecânico em rotação são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 – Relações torque-velocidade angular, torque-deslocamento angular, e impedância de rotação de molas, amortecedores viscosos e inércia. Nota: Os seguintes conjuntos de símbolos e unidades são usadas ao longo deste livro: f ( t ) = N (newtons), x( t ) = m (metros), ν( t ) = m/s (metros/segundo), K =N/ m (newtons/metro), f ν = N.s/ m (newton-segundo/ metro), M =kg (quilogramas = newton.segundo2 / metro). Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 38 Exemplo Obter a função de transferência, 2( ) ( ) s T s θ , para o sistema em rotação mostrado na figura abaixo. O eixo elástico é suspenso por meio de mancais em cada uma das extremidades e é submetido à torção. Um torque é aplicado à esquerda e o deslocamento angular é medidoà direita. Resolução: Embora a torção ocorra ao longo do eixo, aproximamos o sistema admitindo que a torção atua como uma mola concentrada em um ponto particular do eixo, com uma inércia, J1, à esquerda, e uma inércia J2 à direita. Usando o princípio da superposição notamos que o sistema apresenta dois graus de liberdade. Desta forma podemos solucionar o problema por inspeção, onde: 1 2 1 2 1 1 1 1 2 Soma das Impedâncias Soma das Impedâncias Soma dos torques conectas ao movimento entre e aplicados em em Soma das I Soma das Impedâncias entre e ( ) ( ) ( ) s s s θ θθ θ θθ θθ θ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎢ ⎥ − =⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎡ ⎤− +⎢ ⎥⎣ ⎦ 2 2 2 mpedâncias Soma dos torques conectas ao movimento aplicados em em ( )sθ θθ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎢ ⎥ = ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎣ ⎦⎢ ⎥⎣ ⎦ Ou ainda utilizando o diagrama de corpo livre para cada um dos torques. Modelagem Matemática MEC-442 – Sistemas de Controle Prof. Josemar dos Santos 39 Sentido Sentido Sentido Sentido Sentido Sentido E assim obtemos as equações do movimento: 2 1 1 1 2 2 1 2 2 2 0 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) J s D s K s K s T s K s J s D s K s θ θ θ θ + + − = − + + + = A partir das quais se obtém a função de transferência pedida: 2 2 1 1 2 2 2 ( ) ( ) ( ( ) s K T s J s D s K K K J s D s K θ = ∆ + + −∆ = − + +
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