Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução Cesare Lombroso foi um homem de muitas faces, trabalhando ativamente como psiquiatra, antropólogo, professor universitário, médico e político. Conhecido como um profundo estudioso, escreveu livros em todas as suas áreas de conhecimento e, em um desses livros, especificamente em “L’Uomo Delincuente”, apresentou a tese do “Criminoso Nato”, tese a qual lhe rendeu notoriedade entre os cientistas sociais da época. Lombroso foi um dos principais expoentes da Escola Positiva, a qual se opôs a necessidade de defender mais enfaticamente o corpo social contra a ação do delinquente, priorizando os interesses sociais em relação aos indivíduos, contrapondo-se ao individualismo da Escola Clássica. Os positivistas rechaçaram totalmente a noção clássica de um homem racional capaz de exercer seu livre arbítrio. O positivista sustentava que o delinquente se revelava automaticamente em suas ações e que estava impulsionado por forças que ele mesmo não tinha consciência. A tese de Lombroso obteve sucesso e grande reconhecimento científico, sofrendo grande propagação devido à celeridade como ocorriam suas descobertas. Entretanto, a principal contribuição de Lombroso foi o método que ele utilizou para a elaboração de sua teoria criminológica: o método empírico. As ideias de Lombroso foram a base para um momento de rompimento de paradigmas no Direito Penal e o surgimento da fase científica da Criminologia (em grau mais específico, para a Antropologia Criminal). Lombroso e os adeptos da Escola Positiva de Direito Penal rebateram a tese da Escola Clássica da responsabilidade penal baseada no livre-arbítrio. Além disso, Lombroso foi fundamental por se um dos pioneiros na defesa na implantação de medidas preventivas ao crime. Por representar o surgimento de uma nova área sócio-científica e por elaborar uma tese que ainda hoje possui adeptos, Lombroso foi essencial para a compreensão dos motivos que levam pessoas a cometerem delitos e por estudar os crimes suas consequências para a sociedade. Lombroso fundamentou-se em inúmeras autópsias, buscando a diferença biológica entre o delinquente e o não delinquente, investigou durante cinco anos os delinquentes encarcerados no país e o comportamento agressivo de algumas crianças. Esse estudo permitiu a elaboração de sua teoria: O Criminoso Nato. Essa tese de caráter tipologicamente caracterológica – relação entre características físicas e mentais - mostrou a conclusão dos estudos de Lombroso e o fez conhecido e notório entre os cientistas sociais da época. A tese primeiramente foi abordada em “L’Uomo Delincuente”, livro de estilo antropológico. Através desse livro, Lombroso pode apresentar suas concepções e entendimentos sobre o que ele considerava ser a origem e as consequências do crime. “Lombroso entende o crime como um fato real, que perpassa todas as épocas históricas, natural e não como uma fictícia abstração jurídica. Como fenômeno natural que é, o crime tem que ser estudado primacialmente em sua etiologia, isto é, a identificação das suas causas como fenômeno, de modo a se poder combatê-lo em sua própria raiz, com eficácia, com programas de prevenção realistas e científicos. Para Lombroso a etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser buscada no estudo do delinquente. É dentro da própria natureza humana que se pode descobrir a causa dos delitos. Lombroso procura demonstrar que o crime, como realidade ontológica, pode ser considerado uma característica que é comum a todos os degraus da escala da evolução Lombroso parte da ideia de fazer uma distinção entre os delinquentes e os nãos delinquentes (chamados de honestos por ele). Segundo Lombroso, criminosos e não criminosos se distinguem entre si em virtude de uma rica gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa. O delinquente, na concepção lombrosiana, é vista como uma subespécie, um subtipo humano, ele é um ser de características próximas ao um humano primitivo, a um humano que não sofreu evolução ao longo do tempo, ou seja, ele não atingiu o grau de um homo sapiens: isso era o q Lombroso denominava de Atavismo. Lombroso chegou à conclusão de que o homem não é livre, e sim determinado por forças inatas, exteriorizadas nas características de certas anomalias (anatômicas, fisiológicas e psicológicas), impulsionando exagerada e desequilibrada conduta, ou seja, natos por paixão, loucos e de ocasião. “Os criminosos natos poderiam ser identificados por determinados traços físicos. Eles seriam propensos biologicamente a praticar determinados crimes, não são doentes, pois poderiam se curar, nem culpados, pois poderiam ser castigados. Entre as características que permitiam a identificação de um criminoso estavam: O homem criminoso estaria assinalado por uma particular insensibilidade, não só física como psíquica, com profundo embotamento da receptividade dolorífica (analgesia) e do senso moral. Como anomalias fisiológicas, ainda, o mancinismo (uso preferente da mão esquerda) ou a ambidestra (uso indiferente das duas mãos), além da disvulnerabilidade, ou seja, uma extraordinária resistência aos golpes e ferimentos graves ou mortais, de que os delinquentes típicos pronta e facilmente se restabeleceriam. Seriam ainda comuns, entre eles, certos distúrbios dos sentidos e o mau funcionamento dos reflexos vasomotores, acarretando a ausência de enrubescimento da face. Consequência do enfraquecimento da sensibilidade dolorífica no criminoso por herança seria a sua inclinação à tatuagem, acerca da qual Lombroso realizou detidos estudos. O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça sui generis, com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugidia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto pálido. Os estigmas psicológicos seriam a atrofia do senso moral, a imprevidência e a vaidade dos grandes criminosos. Assim, os desvios da contextura psíquica e sentimental explicariam no criminoso a ausência do temor da pena, do remorso e mesmo da emoção do homicida perante os despojos da vítima. Absorvidos pelas paixões inferiores, nenhuma relutância eles sentem perante a ideia dominante do crime.” A indiferença social somada à carência financeira tira seu senso moral, sua sociabilidade e sensibilidade ou quais quer características que os tornam humanos, transformando-os em, como dizem os mais radicais, lixos sociais. Outros aspectos muito estudados por Lombroso foi a “passagem da Criminalidade” por hereditariedade, a manifestação da delinquência na infância, o “outro papel da religião” e a educação como forma de mudança social. Em relação ao estudo da criminalidade como fator hereditário, Lombroso chegou à conclusão de que isso não era uma verdade absoluta, mas em parte apresentava ser verídico. Ele analisou e concluiu que havia criminosos de pais de boa origem, que nunca haviam cometido nenhum tipo de delito. Mas em contrapartida, ele também averiguou casos em que os pais eram criminosos e os filhos eram “bons”. Casos de diferentes gerações de uma mesma família envolvida com crimes também foram encontrados nas pesquisas com presos feitos por Lombroso. Quanto à manifestação da delinquência durante a fase infantil, Lombroso também demonstra que entre as crianças podem ser encontrados traços de delinquentes, que podem ser expressos com movimentos de mãos e sobrancelhas, com tendências a pratica de crueldades em animais, e também a preguiça intelectual o que não exclui as atividades prazerosas como o jogo. Quando se trata da religião, Lombroso dá um novo sentido para a forma de atuação nos criminosos, sendo este totalmente diferente do que se conhece habitualmente. Em suas próprias palavras: “[...] Casanova observa que todos aqueles que vivem de atividades ilícitas confiam na ajuda de Deus.” (LOMBROSO, 2010, p. 127). Ou seja, é possível observar que os criminosos chegam ao nível de pedirem para seu(s) deus(s) queos proteja e dê-lhes sucesso em seus delitos. Em relação à educação, Lombroso assume uma postura digna e que, até hoje, é vista como a medida mais eficiente na redução da criminalidade. “[...] A educação pode impedir os que nasceram bons de passarem da criminalidade infantil transitória para a habitual. Os que nasceram maus nem sempre se conservam maus.” (LOMBROSO, 2010, p. 86). Percebe-se por esse trecho retirado no livro de sua autoria que Lombroso admite que a educação seja a chave para que a delinquência seja reduzida e que, somente com ela, é possível mudar a nossa história, permanecendo sempre no caminho do bem. Conclusão A tese de Lombroso se apresenta, na minha concepção, como uma teoria muito generalista e feita em uma época em que não se tinha a quantidade de utensílios e métodos que hoje estão disponíveis. Facilmente, reconhece-se que para a época, a elaboração de uma teoria como essa, que envolveu grandes contingentes de pessoas e dados, é espetacular e primordial para saber como foi a evolução humana no campo do entendimento sócio-científico. Entretanto, Lombroso ao generalizar que todos aqueles que tenham as características fisionômicas, biológicas, psicológicas, físicas e emocionais são criminosos, ele acaba por causar histeria e provocar erros graves. Além disso, pode ocorrer um descrédito na teoria lombrosiano no sentido de que Lombroso foi o único pesquisador e, por isso, pode ter havido manipulação e mudança nos dados. Portanto, Lombroso foi inegavelmente um pioneiro e fundamental cientista social para a elaboração dos conhecimentos disponíveis atualmente, mas a sua teoria é “cientificamente desacreditada”, servindo não como fundamento para atualmente, mas sim, como essencial fonte de pesquisa para entendermos o pensamento da época e a sua importância na sociedade atual.
Compartilhar