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Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos � ��������� �� �� �� �� � � � � � � ��� ���� ������� ��� ��� ������ � Sobre o autor Pablo Mourente Miguel, nascido em 1951, é engenheiro eletricista formado pela Escola de Engenharia da UFRJ em 1975. Obteve o grau de mestre em ciências pela COPPE-UFRJ em 1981 e o de doutor em ciências também pela COPPE-UFRJ em 1984. Desde 1987 mantém a Mourente Engenharia e Consultoria Ltda., escritório especializado em consultoria em engenharia elétrica. As principais áreas de atuação são consultoria em análise de sistemas de potência e estudos de coordenação de isolamento. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos i Índice 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1 2 MODELANDO OS COMPONENTES DO SISTEMA ELÉTRICO PARA O CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITOS .......... 2 2.1 VALORES BASE ...............................................................................................................................................2 2.1.1 CONVERSÃO ENTRE BASES DIFERENTES ........................................................................................................................2 2.2 COMPONENTES DE SEQÜÊNCIA.........................................................................................................................3 2.2.1 SEQÜÊNCIA ZERO .....................................................................................................................................................3 2.2.2 SEQÜÊNCIA POSITIVA...............................................................................................................................................3 2.2.3 SEQÜÊNCIA NEGATIVA.............................................................................................................................................4 2.2.4 TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA ABC PARA AS COMPONENTES DE SEQÜÊNCIA ..................................................................4 2.3 MODELO DE GERADOR OU MOTOR SÍNCRONO ...................................................................................................6 2.4 MODELO DE MOTOR ASSÍNCRONO ....................................................................................................................9 2.5 MODELO DE TRANSFORMADOR ......................................................................................................................10 2.5.1 TRANSFORMADOR COM TRÊS ENROLAMENTOS .............................................................................................................12 2.5.2 POLARIDADE DE UM TRANSFORMADOR ........................................................................................................................12 2.5.3 DEFASAGEM ANGULAR EM TRANSFORMADORES DELTA-ESTRELA...................................................................................13 2.5.4 IMPEDÂNCIA DE SEQÜÊNCIA ZERO DE TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS ........................................................................13 2.6 MODELO DE LINHA DE TRANSMISSÃO ..............................................................................................................14 2.7 REPRESENTANDO O CIRCUITO ELÉTRICO.........................................................................................................18 3 CÁLCULO DA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO .................................................................................. 20 3.1 TIPOS DE CURTO-CIRCUITO ............................................................................................................................20 3.2 ESCREVENDO AS EQUAÇÕES QUE REPRESENTAM O CURTO-CIRCUITO ..............................................................21 3.3 VALORES A CALCULAR NO CURTO-CIRCUITO ...................................................................................................23 3.3.1 CURTO FASE-TERRA..................................................................................................................................................24 3.3.2 CURTO FASE-FASE-TERRA .........................................................................................................................................25 3.3.3 CURTO FASE-FASE ....................................................................................................................................................25 3.3.4 CURTO TRIFÁSICO .....................................................................................................................................................26 3.4 EXEMPLO DE CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM UM SISTEMA...........................................................................27 3.4.1 DIAGRAMA UNIFILAR SIMPLIFICADO .............................................................................................................................27 3.4.2 COLETANDO OS DADOS .............................................................................................................................................28 3.4.3 CALCULANDO O CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO ...............................................................................................................34 3.4.4 INTERPRETANDO OS RESULTADOS DO CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO ................................................................................39 3.4.5 CALCULANDO O CURTO-CIRCUITO MONOFÁSICO ...........................................................................................................42 3.4.6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.............................................................................................................................44 3.5 ENERGIZAÇÃO DE TRANSFORMADORES ..........................................................................................................45 4 SOLICITAÇÕES IMPOSTAS PELA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO ....................................................... 53 4.1 COMPONENTES SIMÉTRICA E ASSIMÉTRICA .....................................................................................................53 4.2 EFEITO TÉRMICO ...........................................................................................................................................54 4.3 EFEITO ELETRODINÂMICO ..............................................................................................................................55 4.4 CORRENTE DE INTERRUPÇÃO .........................................................................................................................56 4.5 EFEITOS DA ASSIMETRIA NA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO ...........................................................................57 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos ii 5 TIPOS DE DISJUNTORES ................................................................................................................... 58 5.1 DISJUNTORES A ÓLEO....................................................................................................................................60 5.2 DISJUNTORES A AR........................................................................................................................................61 5.3 DISJUNTORES A SF6 ......................................................................................................................................62 5.4 DISJUNTORES A VÁCUO .................................................................................................................................64 5.5 NORMAS ANSI/IEEE E IEC/ABNT................................................................................................................65 5.5.1 CONDIÇÕES DE SERVIÇO............................................................................................................................................65 5.5.2 CARACTERISTICAS NOMINAIS .....................................................................................................................................65 5.5.3 TENSÃO NOMINAL E NÍVEIS DE ISOLAMENTO .................................................................................................................66 5.5.4 CORRENTE NOMINAL DE ESTABELECIMENTO E INTERRUPÇÃO .......................................................................................67 5.6 ENSAIOS DE CURTO-CIRCUITO EM DISJUNTORES .............................................................................................70 5.6.1 NUMERO DE AMOSTRAS .............................................................................................................................................70 5.6.2 SEQÜÊNCIA NOMINAL DE OPERAÇÃO ...........................................................................................................................70 5.6.3 TEMPOS DE OPERAÇÃO..............................................................................................................................................71 5.6.4 SEQÜÊNCIAS DE ENSAIOS DE CURTO-CIRCUITO ............................................................................................................71 5.6.4.1 Condicionamento dielétrico................................................................................................................................71 5.6.4.2 Seqüências T10, T30 e T60 e T100s.................................................................................................................72 5.6.4.3 Seqüência T100a...............................................................................................................................................72 5.6.4.4 Ensaios de corrente critica.................................................................................................................................72 5.6.4.5 Seqüência OP1..................................................................................................................................................72 5.6.4.6 Seqüência OP2..................................................................................................................................................72 5.6.4.7 Seqüência L90...................................................................................................................................................72 5.6.4.8 Seqüência L75...................................................................................................................................................72 5.6.4.9 Seqüência L60...................................................................................................................................................73 5.7 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DE CADA TIPO DE DISJUNTOR E SUA ADEQUAÇÃO AOS SISTEMAS ELÉTRICOS ..73 5.8 CÁLCULO DA TENSÃO DE RESTABELECIMENTO................................................................................................74 5.8.1 TENSÃO TRANSITÓRIA DE RESTABELECIMENTO ............................................................................................................74 5.8.2 TRV NO PRIMEIRO POLO A INTERROMPER UM CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO......................................................................76 5.8.3 CALCULO DA TRV DESPREZANDO AS RESISTÊNCIAS DO CIRCUITO .................................................................................78 5.8.4 CALCULO DA TRV CONSIDERANDO AS RESISTÊNCIAS DO CIRCUITO ...............................................................................79 5.8.5 TRV EM DISJUNTORES ASSOCIADOS A GERADORES .....................................................................................................81 5.8.5.1 Dimensionamento dos pára-raios para proteção de enrolamentos de máquinas ..............................................83 5.8.5.2 Efeito dos pára-raios na limitação da TRV.........................................................................................................87 5.8.5.3 Limitação da TRV com pára-raios entre fases...................................................................................................89 5.8.5.4 Limitação da TRV com circuito RC ....................................................................................................................90 5.8.5.5 Limitação da TRV com circuito ZORC ...............................................................................................................92 5.8.6 TRV EM DISJUNTORES NÃO ASSOCIADOS A GERADORES COM TENSÃO NOMINAL ABAIXO DE 100 KV.................................94 5.8.7 TRV EM DISJUNTORES COM TENSÃO NOMINAL ACIMA DE 100 KV ..................................................................................96 5.8.8 DISJUNTORES COM MÚLTIPLAS CÂMARAS DE INTERRUPÇÃO ..........................................................................................98 5.8.9 DEFEITO EM LINHA CURTA ........................................................................................................................................100 5.9 INTERRUPÇÃO DE PEQUENAS CORRENTES INDUTIVAS ....................................................................................103 5.10 MANOBRA DE BANCOS DE CAPACITORES ......................................................................................................105 6 DISPOSITIVOS LIMITADORES DA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO ..................................................... 108 7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 110 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 1 1 Introdução Em um sistema elétrico existem: a geração, a transmissão e as cargas. A energia deve fluir da geração para as cargas. Esse fluxo de energia deve ser feito de tal forma que a tensão que chega aos centros de consumo de carga esteja dentro de parâmetros adequados para o desempenho dos equipamentos. Dentro de certas situações podem ocorrer acidentes e defeitos, que fazem com que parte do circuito seja alterada e assim ocorrem distorções que fazem com que a energia que chega aos centros de carga não seja mais adequada. Entre esse tipo de acidente pode-se mencionar a ocorrência de curto-circuitos. Quando ocorre um curto- circuito originam-se elevadas correntes e quedas de tensão no sistema e assim além da perda de energia, a tensão que chega ao centro de carga é afetada. Por essa razão se faz necessário detectar a ocorrência desses curto-circuitos de modo a: • Eliminar o curto-circuito o mais rapidamente possível; • Especificar os componentes e equipamentos do sistema elétrico de forma que ao ocorrer um curto- circuito, após a sua eliminação os danos ao sistema sejam minimizados; Para esse fim deve-se efetuar o cálculo de curto-circuito em um sistema elétrico, de modo a: • Definir os esquemas de proteção necessários e ajustar os reles de modo que os curto-circuitos possam ser detectados; • Conhecidos os valores de curto-circuito poder especificar os equipamentos; No entanto, algumas situações operacionais tais como: a energização de transformadores pode provocar fenômenos que podem ser confundidos com um curto-circuito. Dessa forma se uma desconexão for efetuada a energia deixará de ser suprida para as cargas, sem que exista nenhuma razão para isso. Assim se faz necessário saber discriminar entre ocorrências que podem parecer um curto-circuito, mas são limitadas a um pequeno intervalo de tempo e um verdadeiro curto-circuito. Um ponto muito importante é a necessidade de conhecer os equipamentos que permitem eliminar os curto-circuitos, isolando trechos do sistema elétrico.Dessa forma o reparo pode ser feito no trecho afetado, enquanto o restante do sistema continua em operação. Este texto será dividido da seguinte forma: • Modelagem de sistemas elétricos; • Cálculo de curto-circuitos; • Solicitações impostas pelos curto-circuitos; • Comportamento de disjuntores frente a curto-circuitos; Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 2 2 Modelando os componentes do sistema elétrico para o cálculo de curto-circuitos No cálculo de curto-circuitos, na maior parte do tempo, os componentes do sistema elétrico são supostos lineares. Isso significa que se a tensão aplicada duplicar a corrente obtida irá também duplicar. Por isso se faz conveniente expressar as grandezas dos circuitos elétricos em porcentagem ou “por unidade” de um valor base. Dessa forma a impedância de um transformador ou de um gerador fornecida em termos de porcentagem varia em uma mesma faixa, qualquer que seja a tensão nominal e fica mais fácil efetuar uma critica dos dados coletados. 2.1 Valores base Usualmente escolhem-se os seguintes valores base: • Tensão base – baseV usualmente a tensão nominal do trecho do sistema sendo considerado, • Potência base – baseN no caso de equipamentos, usualmente escolhe-se a potência nominal do equipamento, no caso de sistemas pode adotar-se um nível de potência compatível, por exemplo 100 MVA A partir da tensão e potência base, derivam-se a base de corrente e de impedância. base base base V NI = base base base N VZ 2 = e dessa forma base abs Z ZZ ×=100% e base abs pu Z ZZ = 2.1.1 Conversão entre bases diferentes Eventualmente pode ser necessário converter dados de uma base para outra, por exemplo, ao calcular o curto-circuito em um sistema cuja base escolhida seja : MVANkVV basebase 1008,13 == e portanto ( ) Ω== 9044,1 100 8,13 2100 MVA kVZ MVAbase obtém-se dados de um motor expressos na base do próprio motor, %2158,13 === dmotormotor XMVANkVV Para introduzir os dados do motor nas equações do sistema elétrico os dados devem ser convertidos para a mesma base, ou seja para a base do sistema elétrico. Assim a reatância do motor será dada por: ( ) ( ) Ω=×= × × ×=×=×= 9985,70880,3821,0 105 108,13 100 21 5 8,13 6 232 555 MVA kVXZXX MVAd MVA base MVA d abs d motor baseMVA d base base motor motor MVA dMVA base MVA baseMVA dMVA base MVA base MVA d MVA base abs dMVA d N NX N V N V X Z ZX Z ZX Z XX ×=×=×=×== 52 2 5 100 5 5 100 55 100 100 pu N N XX motor baseMVA d MVA d 2,4%4205 100 100 215100 ==×=×= Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 3 2.2 Componentes de seqüência Os modelos discutidos anteriormente consideraram o sistema equilibrado, isto é, a tensão de cada fase sendo igual em modulo e defasada de 120º. Em um sistema real isso não ocorre, existem diferenças entre as impedâncias e nas tensões de uma e outra fase. Essa aproximação poderia ser razoável para o cálculo de curto- circuitos trifásicos, mas não no caso de um curto fase-terra. Em um sistema linear pode-se recorrer à representação dos fasores de tensão por meio de uma combinação de três outros conjuntos de fasores de tensão individualmente equilibrados, que somados representam exatamente a mesma solicitação 1. Sendo o sistema linear o resultado do curto-circuito será a soma do resultado obtido para cada uma das solicitações impostas. Esses conjuntos de fasores equilibrados são denominados Seqüência ZERO, POSITIVA E NEGATIVA. Com esses três conjuntos de fasores de tensão é possível representar qualquer condição do sistema de tensões aplicadas ao circuito elétrico. Assim o cálculo de curto-circuito de um circuito trifásico desequilibrado, pode ser feito resolvendo-se três circuitos elétricos monofásicos. 2.2.1 Seqüência ZERO Esta seqüência é formada por três fasores idênticos em modulo e ângulo girando com uma freqüência angular ω Figura 2.1 – Conjunto de fasores representando a seqüência ZERO 2.2.2 Seqüência POSITIVA Esta seqüência é formada por três fasores idênticos em modulo e defasados de um ângulo de 120 º girando com uma freqüência angular ω Figura 2.2 – Conjunto de fasores representando a seqüência POSITIVA 1 C.L. Fortescue – Method of Symmetrical Coordinates Applied to the Solution of Polyphase Networks – Transactions AIEE – vol 37 – pp 1027-1140 - 1918 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 4 2.2.3 Seqüência NEGATIVA Esta seqüência é formada por três fasores idênticos em modulo e defasados de um ângulo de 120 º girando com uma freqüência angular -ω. Figura 2.3 - Conjunto de fasores representando a seqüência NEGATIVA 2.2.4 Transformação do sistema ABC para as componentes de seqüência Os três circuitos de seqüência estão mostrados na figura, como os circuitos de seqüência positiva e negativa são equilibrados e defasados de 120º, não existirá circulação de corrente pelo neutro desses circuitos de seqüência. No circuito de seqüência ZERO no entanto as três correntes tem a mesma fase e assim a corrente através do neutro do circuito dessa seqüência será a soma das três correntes de fase, isto é, aon II 3= . Figura 2.4 – Representação dos circuitos de seqüência Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 5 Cada um dos fasores de cada seqüência se refere a uma fase ABC, e no sistema ABC o fasor da fase A será dado pela soma dos fasores da fase A de cada seqüência, 210 2 120 21 240 1210 210 11 CCCC ABABBBBB AAAA FFFF FFFFFFFF FFFF oo &&&& &&&&&&&& &&&& ++= ∠=∠=++= ++= Figura 2.5 – Determinação das tensões a partir dos componentes de seqüência e assim a transformação 012 para ABC é dada por = 2 1 0 2 2 1 1 111 F F F aa aa F F F C B A onde oo aea 2402120 11 ∠=∠= e a transformação inversa (ABC para 012) é dada por = C B A F F F aa aa F F F 2 2 2 1 0 1 1 111 3 1 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 6 2.3 Modelo de Gerador ou motor síncrono Uma máquina síncrona é usualmente representada, nos estudos de curto-circuito, como uma fonte de tensão atrás de uma impedância. Figura 2.6 – Representação de máquina síncrona para estudo de curto-circuito A corrente que se observa quando ocorre um curto-circuito é similar à que se obtém quando se fecha a chave sobre um circuito RL. Mas devido ao efeito da corrente na armadura sobre o campo (reação da armadura) o campo enlaçando os enrolamentos do estator será dado pela soma do campo produzido pelo rotor com o campo produzido pela corrente no estator (que se opõe ao campo do rotor). Conforme o campo resultante diminui a corrente diminui, mas essa variação não pode ser feita instantaneamente, daí essa variação gradual, conforme mostrada na Figura 2.7. Figura 2.7 – Contribuição de uma máquina síncrona ao curto-circuito A componente unidirecional foi removida (como se o curto acontecesse no instante em que 0=Φ−Θ ) e assim se pode analisar o efeito da variação da reatância mais facilmente. Nessa Figura podem ser identificadas três regiõesprincipais, uma logo no inicio da circulação da corrente (subtransitório), uma quando a corrente se estabiliza e uma região intermediaria (transitório). Isso é levado em conta nos cálculos usando-se uma reatância diferente para cada uma dessas regiões, a saber: Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 7 • Região subtransitória - Imediatamente após a ocorrência do defeito a máquina estará na região de comportamento subtransitório, definido pela reatância e constante de tempo subtransitórias ( )'''' , ddX τ da máquina. É nessa região que se encontra o maior pico de corrente, denominada corrente dinâmica. A corrente dinâmica será usada para o cálculo dos esforços eletrodinâmicos nos condutores. • Região transitória - Por volta do segundo ciclo entra-se na região de comportamento transitório da máquina, a duração dessa região dependerá da constante de tempo transitória da máquina, sendo geralmente considerada até o decimo ciclo. Nesta região serão consideradas a reatância e constante de tempo transitórias ( )'' , ddX τ da máquina. Caso sejam usados disjuntores com tempo de atuação curto a corrente de interrupção ocorrerá ainda nesta região. • Região de regime - Finalmente entra-se na região em que a máquina entra em regime, sendo a máquina caracterizada pela reatância de eixo direto ( )dX . Caso sejam usados disjuntores com tempo de abertura elevado (disjuntores a óleo) a corrente de interrupção cairá nessa região. A tensão a ser considerada no caso de maquinas síncronas deve ser obtida a partir da representação das condições operacionais da máquina no instante de ocorrência da falta. Ver figura 2.8. Figura 2.8 – Determinação das condições pre-falta Como trata-se da tensão pre-falta será usada a reatância dd LX ω= . Figura 2.9 – Condições da máquina logo após a ocorrência da falta Na figura 2.10 é mostrada a corrente de defeito incluindo o efeito da assimetria (componente unidirecional), que será importante quando se tratar mais adiante do dimensionamento de disjuntores para proteção de máquinas síncronas. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 8 Figura 2.10 – Contribuição de máquina síncrona para um curto-circuito nos terminais Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 9 2.4 Modelo de motor assíncrono Também os motores de indução apresentam uma contribuição para a corrente de curto-circuito. Mas como o campo magnético não é alimentado por uma excitação independente, esse campo é originado apenas pela reação da armadura e dura apenas o tempo equivalente ao subtransitório. Assim os motores de indução devem ser considerados no cálculo da corrente dinâmica (até 2 ciclos) mas não na corrente de curto-circuito em regime. O modelo do motor assíncrono consiste de uma fonte de tensão atrás de uma indutância, conforme mostrado na figura 2.11. Figura 2.11 – Modelo de motor assíncrono para o curto-circuito Pode-se observar no oscilograma de corrente na figura 2.12, que a duração da corrente é bastante curta, dependendo basicamente da constante de tempo do estator e assim apenas a corrente dinâmica é afetada pela contribuição dos motores assíncronos. Figura 2.12 – Contribuição de um motor assíncrono para um curto-circuito nos terminais Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 10 2.5 Modelo de Transformador Nos sistemas elétricos os transformadores são usados principalmente quando há necessidade de conectar dois trechos do circuito com tensões diferentes. O modelo do transformador será conforme mostrado na figura 2.13, um circuito T formado por três ramos, a saber: • impedância do enrolamento primário, • impedância do enrolamento secundário, • impedância do circuito de magnetização. Figura 2.13 – Modelo de transformador Do modelo estabelecido pode-se ver que não existe nenhuma transformação nos valores de tensão e corrente, tais como as que ocorrem num transformador real. Por isso é necessário transformar as impedâncias usadas no modelo para a mesma base. Escolhida, por exemplo, como base o lado de tensão mais elevada, trafobase primbase prim NN VV V V n = = = sec e portanto base base base V NI = e base base base N VZ 2 = para o enrolamento primário tem-se então pu I I I pu V V V base prim p base prim p 1 1 == == e assim as impedâncias localizadas no lado primário não precisam ser convertidas. para o enrolamento secundário tem-se Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 11 pun I II pu nV VV base s base s == == sec sec 1 e portanto ( ) prim base base base base Z nN VZ 2 2sec sec 1 == Assim para converter as impedâncias conectadas no lado secundário para a base do lado primário, punZZ baseprimbase 2secsecsec ×= Da mesma forma as tensões e correntes no lado secundário devem ser convertidas para a base do lado primário, pu n II punVV baseprimbase baseprimbase 1sec secsec sec secsec ×= ×= Figura 2.14 – Modelo simplificado do transformador para estudos de curto-circuito O modelo do transformador para o cálculo de curto-circuitos será então formado então apenas pela impedância série, sendo desprezada a impedância de magnetização. No entanto, quando for necessário a consideração da corrente de “inrush” na energização do transformador, a impedância de magnetização deverá ser levada em conta. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 12 2.5.1 Transformador com três enrolamentos Em um transformador com dois enrolamentos a potência dos dois enrolamentos será a potência do transformador, assim as impedâncias normalizadas dos enrolamentos serão expressas nessa base. Em um transformador com três enrolamentos, cada enrolamento pode ter uma potência diferente. Assim é necessário inicialmente converter todas as impedâncias para as mesmas bases de tensão e potência. Na figura 2.15 é mostrado o modelo do transformador com três enrolamentos, desprezado o ramo de magnetização. Ocorre que a impedância só pode ser medida entre cada dois enrolamentos, ou seja os valores fornecidos são a impedância primário-secundário, a impedância primário-terciário e a impedância secundário- terciário. A conversão entre os valores fornecidos de impedância de cada par de enrolamentos, para o modelo, será dada por: ( ) ( ) ( )psstptttsst ptstpsstppt stptpspspps ZZZZZZZ ZZZZZZZ ZZZZZZZ −+=+= −+=⇔+= −+=+= 2 1 2 1 2 1 Figura 2.15 – Modelo de transformador com três enrolamentos 2.5.2 Polaridade de um transformador A marcação de polaridade em um transformador monofásico é conforme mostrado na figura, note-se que no mesmo instante de tempo a corrente no enrolamento primário entra no terminal H1 e a corrente no secundário saí pelo terminal X1. Desprezadas as perdas e a magnetização a defasagem angular entre as tensões primária e secundária será nula em um transformador monofásico, marcado conforme a figura 2.16. Figura 2.16 – Marcação da polaridade de um transformador Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 13 2.5.3 Defasagem angular em transformadores delta-estrela A defasagem angular em transformadores trifásicos com ligação estrela-estrela ou delta-delta será nula. No caso de transformadores delta-estrelaou estrela-delta a tensão estará em fase entre cada par de enrolamentos, mas não entre os terminais de linha do primário e secundário do transformador, ver figura 2.17. Nesse caso a defasagem será de +30º ou –30º, dependendo da forma como os enrolamentos estiverem conectados. Figura 2.17 – Determinação da defasagem angular 2.5.4 Impedância de seqüência ZERO de transformadores trifásicos Os modelos mostrados anteriormente são aplicáveis aos circuitos de seqüência positiva e negativa, mas no caso da seqüência ZERO se faz necessário um modelo diferente. Como visto anteriormente a corrente no circuito de seqüência ZERO é relacionada com a corrente que circula pelo neutro. Assim tem-se que se a conexão do enrolamento do transformador não permite circulação de corrente, então também o circuito de seqüência ZERO não deve permitir. Na figura 2.18 é mostrado o modelo do transformador para o circuito de seqüência ZERO de acordo com o tipo de conexão dos enrolamentos do transformador. Figura 2.18 – Impedância de seqüência ZERO Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 14 2.6 Modelo de linha de transmissão Figura 2.19 - Modelo da linha de transmissão No cálculo de curto-circuito as capacitâncias podem ser desprezadas e assim apenas as impedâncias série precisam ser determinadas. 23 A resistência série expressa por unidade de comprimento, referida a 20 ºC, pode ser obtida por: mS R n Ω = ρ 1 onde S – seção nominal do condutor expressa em mm2, ACSRpara m mm ioalupara m mm cobrepara m mm 2 2 2 51 1 min 34 1 54 1 Ω = Ω = Ω = ρ ρ ρ No calculo do curto-circuito máximo as resistências são usadas na temperatura de referência de 20 ºC. No cálculo do curto mínimo deve ser aplicada a correção da temperatura dos cabos. A correção em função da temperatura será dada por: ( )[ ] 11 201 RR −+= θα onde C° = 1004,0α sendo valido tanto para cobre, como alumínio e ACSR. A reatância de seqüência positiva da linha, expressa por unidade de comprimento, será dada por: mr df r dfX Ω += += ln 4 1ln 4 1 2 2 001 pi µ pipi µ pi onde CABCAB dddd = - distância média geométrica entre os condutores da linha, r – raio do condutor ou em caso de feixes n nB Rrnr 1− = sendo R – raio do feixe; 2 IEC 60909-0 – Short-circuit currents in three-phase a.c. systems – Part 0: Calculations of currents - 2001 3 IEC 909-2 – Electrical quipment – Data for short-circuit current calculations in accordance with IEC 909 (1988) - 1992 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 15 m H7 0 104 −×= piµ Figura 2.20 – Representação das distâncias numa linha de transmissão A impedância de seqüência zero dependerá da resistividade do solo e da existência ou não dos cabos pára- raios. A corrente de retorno pelo solo se distribui em uma camada superficial do solo, em torno do trajeto dos condutores, sendo a espessura equivalente dessa camada dada por: mf µpi ρδ = assim para m.100 Ω=ρ Hzf 60= 0µµ = tem-se m7,64960 100 0 = ×× = µpi δ Figura 2.21 - Tipos de linhas Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 16 A impedância de seqüência zero por unidade de comprimento, será dada por: • Para uma linha com circuito simples e sem cabo pára-raios mdR j Sn Z n Ω +++= 3 2 0 0 ln34 1 8 3 δ pi ω µ ω ρ • Para uma linha com circuito simples e com cabo pára-raios mZ Z dR j Sn Z D LD n Ω − +++= 2 3 2 0 0 3ln34 1 8 3 δ pi ω µ ω ρ onde += 3 00 111 ln 28 CDBDAD LD ddd jZ δ pi µ ω µ ω , +++= D D DD r jRZ δµ pi µ ω µ ω ln 428 00 , DR - resistência, por unidade de comprimento do cabo pára-raios, Dµ - permeabilidade magnética do material do cabo pára-raios. • Para uma linha com circuito simples e dois cabos pára-raios Sejam os cabos pára-raios identificados por D1 e D2, tem-se então mZ Z dR j Sn Z DD DLD n Ω − +++= 21 21 2 3 2 0 0 3ln34 1 8 3 δ pi ω µ ω ρ onde += 6 00 222111 21 ln 28 CDBDADCDBDAD DLD dddddd jZ δ pi µ ω µ ω , +++= 21 21 ln 428 00 DDD D DDD dr jRZ δµ pi µ ω µ ω , 21DDd - distância entre os dois cabos pára-raios DR - resistência, por unidade de comprimento do cabo pára-raios, Dµ - permeabilidade magnética do material do cabo pára-raios. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 17 • Para uma linha com circuito duplo em paralelo e um único cabo pára-raios Sejam os cabos fase identificados por A1 B1 C1 e A2 B2 C2, o cabo pára-raios por D, tem-se então mZ Z Z dR j Sn Z D LD LM n Ω −+ +++= 2 3 2 0 0 63ln34 1 8 3 δ pi ω µ ω ρ onde += 3 00 111 ln 28 DCDBDA LD ddd jZ δ pi µ ω µ ω , +++= D D DD r jRZ δµ pi µ ω µ ω ln 428 00 , += 3 2 00 21 ln 28 DMDM LM dd jZ δ pi µ ω µ ω 3 1111 DCDBDADM dddd = 3 2222 DCDBDADM dddd = DR - resistência, por unidade de comprimento do cabo pára-raios, Dµ - permeabilidade magnética do material do cabo pára-raios. • Para uma linha com circuito duplo em paralelo e dois cabos pára-raios Sejam os cabos fase identificados por A1 B1 C1 e A2 B2 C2, o cabo pára-raios por D, tem-se então mZ Z Z dR j Sn Z DD DLD LM n Ω −+ +++= 21 21 2 3 2 0 0 63ln34 1 8 3 δ pi ω µ ω ρ onde += 6 00 222111 21 ln 28 CDBDADCDBDAD DLD dddddd jZ δ pi µ ω µ ω , +++= 21 21 ln 428 00 DDD D DDD dr jRZ δµ pi µ ω µ ω , 21DDd - distância entre os dois cabos pára-raios Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 18 2.7 Representando o circuito elétrico Para proceder ao cálculo de curto-circuitos em um sistema elétrico é necessário antes representar esse sistema elétrico, de modo a determinar as características dos componentes e a forma pela qual esses são interligados. Para isso procede-se inicialmente à elaboração do diagrama unifilar do sistema. Figura 2.22 - Unifilar de um sistema elétrico Posteriormente passa-se à modelagem de cada componente, inicialmente cada componente será considerado equilibrado. Figura 2.23 – Circuito elétrico modelando o sistema elétrico Como a corrente de magnetização de um transformador é muito menor do que a corrente nominal4, pode- se desprezar o ramo que representa a magnetizaçãono transformador. Adicionalmente pode-se remover as capacitâncias no modelo da linha de transmissão, posto que a corrente capacitiva será muito menor do que a corrente de curto-circuito. Finalmente as cargas, se a carga for eminentemente resistiva (aquecimento e iluminação) a corrente na carga será muito menor do que a corrente de curto-circuito e a carga pode ser desconsiderada. Porém se a carga for composta por motores deverá ser considerada, posto que durante o curto os motores se comportarão como geradores. 4 A corrente de inrush será considerada posteriormente em um tópico separado Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 19 Figura 2.24 – Elementos que podem ser desconsiderados no estudo de curto-circuito E assim o circuito a ser considerado para o cálculo do curto-circuito fica bastante simplificado. Figura 2.25 – Modelo simplificado a ser usado no estudo de curto-circuito Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 20 3 Cálculo da corrente de curto-circuito Atualmente o cálculo de curto-circuito é feito com a ajuda de programas computacionais. Existem diversos tipos de programas, mas basicamente a sua concepção é a mesma alterando-se apenas a forma de inclusão dos dados e da apresentação dos resultados. Neste texto será enfocado o uso de um programa elaborado pelo próprio autor, mas todos os procedimentos podem ser aplicados ao uso de outros programas. 3.1 Tipos de curto-circuito Figura 3.1 – Circuito representando a falta • Trifásico - Curto-circuito onde as três fases são envolvidas A impedância de falta é idêntica para as três fases. • Curto-circuito em que apenas duas fases são envolvidas sem circulação ou contato com a terra. • Fase-Fase-Terra - Curto-circuito em que estão envolvidas duas fases e a terra. • Fase-Terra - Curto-circuito em que apenas uma fase e a terra estão envolvidas. Selecione o curto-circuito que se quer calcular e os resultados serão indicados para esse tipo de curto- circuito. Desde que os dados de seqüência ZERO também tenham sido digitados, pois caso existam apenas os dados de seqüência POSITIVA apenas os curtos trifásico e fase-fase poderão ser calculados. O cálculo de curto-circuito usando-se as componentes de seqüência 012 torna mais simples o cálculo ao dividir o problema em 3 circuitos monofásicos que podem ser relacionados entre si dependendo do tipo de curto- circuito a considerar. As tensões e correntes serão obtidas por uma composição fasorial das tensões e correntes obtidas em cada circuito de seqüência. A transformação do sistema de referência 012 para o sistema de referência ABC é feito através da expressão: = = 2 1 2 2 1 1 111 I I I aa aa I I I I o c b a abc onde oo aea 2402120 11 ∠=∠= e do sistema ABC para o 012, = = c b ao I I I aa aa I I I I 2 2 2 1 012 1 1 111 3 1 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 21 O mesmo se aplica para as tensões, a conversão de impedâncias é feita por: aa aa ZZZ ZZZ ZZZ aa aa Z Z Z Z cccbca bcbbba acabaa 2 2 2 2 2 1 0 012 1 1 111 1 1 111 3 1 00 00 00 == 3.2 Escrevendo as equações que representam o curto-circuito Para resolver o circuito elétrico e calcular o curto-circuito se faz necessário primeiramente representa-lo em forma de equações matemáticas. O sistema elétrico com n barras será representado por uma equação matricial n x n da forma 5 [ ] [ ]abcbarraabcbarraabcbarra IZE = que pode ser reescrita, = abc n abc abc abc nn abc n abc n abc n abcabc abc n abcabc abc n abc abc I I I ZZZ ZZZ ZZZ E E E ... ... . ...... ............... ............... ...... ...... ... ... 2 1 21 22221 11211 2 1 Figura 3.2 - Modelo do sistema elétrico 5 Stagg G. W. , El-Abiad A. H. – Computer Methods in Power System Analysis – McGraw-Hill - 1968 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 22 Figura 3.3 - Modelo do sistema elétrico considerando a matriz Zbarra Uma vez montada a matriz abcbarraZ pode-se determinar o curto-circuito em qualquer barra. A corrente de curto-circuito na barra q, será dada por: [ ] abcqabcqqabcFabcFq EZZI )0(1)()( −+= e a tensão nessa mesma barra por: [ ] abcqabcqqabcFabcFqabcFqabcFabcFq EZZZIZE )0(1)()()()()( −+== e nas demais barras por: [ ] qpEZZZEE abcqabcqqabcFabcpqabcpabcFp ≠+−= − )0(1)()0()( A matriz Zbarra pode ser montada tanto em componentes de fase, como em componentes de seqüência 012. O procedimento para a montagem de Zbarra será o seguinte: • Incluem-se as impedâncias próprias das barras, isto é as impedâncias conectadas entre a barra e a referência, incluem-se as impedâncias ppZ , que entram na diagonal da matriz; • Nem todas as barras apresentarão uma impedância própria; • Incluem-se as impedâncias de conexão entre as barras, isto é, linhas, cabos, transformadores, etc. Essas impedâncias são representadas na forma pqZ e representam a impedância entre a barra p e a barra q; • A inclusão é feita da seguinte forma; • Se na barra q ainda não existe nenhuma conexão, isto é, 0=qqZ , o elemento que irá ser incluído forma um ramo e será incluído da seguinte forma, pqqppq zZZ == e pqpqqq zZZ += Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 23 • Se tanto na barra p, como na barra q, já há elementos conectados, isto é 00 ≠≠ qqpp ZZ , então será incluído um link. O procedimento requer a inclusão de uma linha adicional na matriz Zbarra que depois será reduzida. • Considere-se a linha adicional l, essa linha será formada por: pqlqlpll qkpklkkl zZZZ ZZZZ +−= −== • A linha adicional será agora eliminada (ou reduzida), alterando os demais elementos da matriz ll lklj kj novo jk novo kj Z ZZ ZZZ −== 3.3 Valores a calcular no curto-circuito Os seguintes valores de curto-circuito devem ser calculados para cada barra do sistema: • Curto-circuito inicial máximo – É o valor de corrente de curto-circuito obtido considerando-se a maior tensão de operação do sistema. A maior tensão de operação do sistema a ser considerada é definida na norma IEC 60909-0 6; • Curto-circuito inicial mínimo – É o valor obtido considerando-se a tensão nominal de operação do sistema, esse valor é utilizado para o dimensionamento de fusíveis e ajuste de proteção. Na tabela abaixo são definidos os valores do coeficiente de tensão c conforme IEC60909-0 para o cálculo das correntes de curto-circuito. Fator de tensão cTensão Nominal Un Curto máximo cmax (nota 1) Curto mínimo cmin De 1 a 35 kV 1,10 1 Acima de 35 kV (nota 2) 1,10 1 Notas: 1 - nUcmax não deve exceder a tensão máxima de operação dos equipamentos do sistema mU 2 – Deve-se usar mn UUc =max e mn UUc 90,0min = Note-se que em qualquer caso a tensão máxima a ser usada não deve ultrapassar a tensão máxima de operação dos equipamentos, por exemplo, em um sistema de 13,8 kV tem-se:kVUcekVUUcusarsedeve kVsetemkVUkVU nmn mn 80,1315 18,158,1310,10,158,13 minmax ===− =×−== Para cada curto-circuito calculado serão obtidos os seguintes valores: • Corrente simétrica inicial - ''kI • Corrente de crista - pi • Corrente simétrica de regime - kI • Componente unidirecional da corrente valor inicial - dci • Componente unidirecional da corrente valor no instante da interrupção - bdci • Corrente simétrica de interrupção - bI 6 IEC 60909-0 – Short-circuit currents in three-phase a.c. systems – Part 0: Calculations of currents - 2001 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 24 Na figura 3.4 pode ser vista a representação de cada uma dessas grandezas. Figura 3.4 - Correntes a determinar para cada curto-circuito 3.3.1 Curto fase-terra No caso de um curto-circuito fase-fase-terra tem-se que existe a contribuição de duas fases e ainda existe a circulação de corrente de seqüência ZERO. As condições impostas são 00 === VcVeI ba e isso é conseguido ligando-se os três circuitos de seqüência em série, conforme mostrado na Figura 3.5. Figura 3.5 – Curto fase-terra Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 25 3.3.2 Curto fase-fase-terra Figura 3.6 – Curto fase-fase-terra No caso de um curto-circuito fase-fase-terra existe a contribuição de duas fases e ainda existe a circulação de corrente de seqüência ZERO. As condições impostas são 00 === VcVeI ba e isso é conseguido ligando- se os três circuitos de seqüência em paralelo, conforme mostrado na Figura 3.6. 3.3.3 Curto fase-fase Figura 3.7 – Curto fase-fase No caso de um curto-circuito fase-fase apenas duas fases contribuem com corrente, logo 00 ==−== cbcba VVeIII e isso é conseguido ligando-se os circuitos de seqüência POSITIVA e NEGATIVA em paralelo, conforme mostrado na figura 3.7. O circuito de seqüência ZERO permanece desligado pois não havendo a participação da terra não há circulação da corrente de seqüência ZERO. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 26 3.3.4 Curto trifásico Figura 3.8 – Curto trifásico No caso de um curto-circuito trifásico a corrente nas três fases é igual, mas defasada de 120 º, a tensão em cada fase caí a zero durante a fase, e assim tem-se que, 00 20 ==→== IIIII cba ou seja existe apenas a componente de seqüência POSITIVA, e tem-se que 1 1 1 Z VI = e portanto = = 1 1 2 1 1 2 2 0 0 1 1 111 Ia Ia I I aa aa I I I c b a ou seja a corrente na fase B é a corrente na fase A com um deslocamento de fase de 240 º e a corrente da fase C é a corrente da fase A com um deslocamento de fase de 120 º. Note-se que isto atende às condições impostas inicialmente. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 27 3.4 Exemplo de cálculo de curto-circuito em um sistema Com o objetivo de fixar os conceitos expostos, será apresentado um exemplo a ser resolvido passo a passo. 3.4.1 Diagrama unifilar simplificado O primeiro passo é elaborar um diagrama unifilar simplificado do sistema a ser calculado. Nesse unifilar serão localizados os principais componentes do sistema. Figura 3.9 – Unifilar do caso exemplo Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 28 3.4.2 Coletando os dados Os dados de cada componente são coletados e incluídos no diagrama unifilar, afim de tornar a consulta às informações mais simples. • Valores base - MVANkVV basebase 100138 == • Concessionária – 138 kV Nível de curto circuito trifásico – 1817 MVA - X/R=4.3 Nível de curto-circuito monofásico – 1909 MVA - X/R=4.8 Seqüência positiva – puZ 0550,017,18 11 == considerando ( ) º908,763,43,4/ 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 0536,00125,01 += Seqüência ZERO - puZ 0524,009,19 10 == considerando ( ) º232,788,48,4/ 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 0513,00107,00 += Figura 3.10 – Fator X/R Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 29 • Gerador 1 – 13,8 kV – 35 MVA – valores saturados ssXXXX ddddd 35,102,0%22%19%32%190 '''2''' ====== ττ Perdas estator – 600 kW pu N P RIRP gerador estCU estgeradorestestCU 00571,035 6,0 3 1 3 13 2 =×==⇒= aterramento por meio de resistor 800 Ω -10 A Inicialmente convém converter os valores para a mesma base de potência, assim pu N V R pu N NRR pu N NXX pu N NXX pu N NXX pu N NXX base base aterr gerador base geradorestest gerador base gerador gerador base geradordd gerador base geradordd gerador base geradordd 0798,420 100 8,13 800800 0163,0 35 10000571,0 6286,0 35 10022,0 9143,0 35 10032,0 5429,0 35 10019,0 4286,5 35 10090,1 22 22 '' '''' === =×=×= =×=×= =×=×= =×=×= =×=×= Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 30 • Motor Equivalente 1 – kV 13,8=motorV - 102,05 '' === R XpuXMVAN dmotor pu N N XX motor base motordd 0000,45 10020,0'''' =×=×= ( ) º289,841010 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 9801,33980,01 += • Motor Equivalente 2 – kV 44,0=motorV - 1025,035 '' === R XpuXkVAN dmotor pu N N XX motor base motordd 2857,714035,0 10025,0'''' =×=×= ( ) º289,841010 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 7409,0710741,711 += • Motor Equivalente 3 – kV ,440=motorV - 102,05,1 '' === R XpuXMVAN dmotor pu N N XX motor base motordd 3333,135,1 10020,0'''' =×=×= ( ) º289,841010 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 2672,1303267,11 += Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 31 • Transformador 1 – 15 MVA – 138-13,8 kV – Z=8,5% - estrela-estrela aterrado seqüência positiva - pu N N ZZ trafo base trafo 5667,015 100085,0 =×=×= ( ) º690,7855 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 5557,01111,01 += Impedância de neutro - 00,84 =Ω= nn XR - aterrado por resistência pu N V R base base n 810,44 100 8,13 0,840,84 22 === • Transformador 2 – 35 MVA – 138-13,8 kV – Z=8,5 % - estrela aterrado - delta seqüência positiva - pu N N ZZ trafo base trafo 2429,035 100085,0 =×=×= ( ) º690,7855 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 2381,00476,01 += Impedância de neutro - 00 == nn XR - solidamente aterrado • Transformador 3 – 45 kVA – 13,8–0,48 kV – Z=2,5 % - delta-estrela X/R=5 seqüência positiva - pu N N ZZ trafo base trafo 5556,55045,0 100025,0 =×=×= ( ) º690,7855 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 4767,548953,101 += Impedância de neutro - 0=∞= nn XR - não aterrado • Transformador 4 – 2500 kVA – 13,8-0,48 kV – Z=7,5 % - delta-estrela seqüência positiva - pu N N ZZ trafo base trafo 0000,35,2 100075,0 =×=×= ( ) º690,7855 1 ==Θ⇒= −tgRX pujZ 9417,25883,01 += Impedância de neutro - 0=∞= nn XR - não aterrado Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos32 • Reator Limitador de Corrente – 0,300 Ω pu N V X X base base reator 1575,0 100 8,13 300,0 221 === • Linha 1 - 1,3km: %j0,340,13Z1 += %1,04j 0,34Z0 += • Linha 2 - 7,5km: %1,88j 0,53Z1 += %6,23j 1,44Z0 += • Linha 3 (barramento blindado) – comprimento 16 m – L=150 nH/m C=80 pF/m Ω=×××××== − 000905,016101506022 9pipi lLfX pu N V XX base base 4 221 10752,4 100 8,13 000905,0 −×=== Figura 3.11 – Dimensões do barramento blindado • Linha 4 (barramento blindado) – comprimento 16 m – L=150 nH/m C=80 pF/m Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 33 Figura 3.12 – Representação do caso exemplo com as impedâncias Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 34 3.4.3 Calculando o curto-circuito trifásico Em um sistema tão pequeno seria possível prosseguir convertendo as impedâncias para a mesma base de tensão e eliminar os transformadores e com isso resolver o curto-circuito manualmente. Mas atualmente existem diversos programas computacionais para o cálculo de curto-circuito e com isso será usado o procedimento de cálculo através de um programa computacional. Conhecidas as impedâncias do sistema passa- se a preencher os dados no programa de cálculo de curto-circuito, neste exemplo usaremos o programa WinCurto_32 da Mourente. Inicialmente são criadas as barras, ver figura 3.13 para verificar a entrada de dados típica de cada barra. Figura 3.13 - Inclusão da barra da concessionária Figura 3.14 - Inclusão de barra com carga de motores Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 35 Figura 3.15 - Inclusão de barra sem carga própria Figura 3.16 - Inclusão de barra com gerador Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 36 Assim será criada a lista de barras do sistema, ver figura 3.17. Figura 3.17 - Lista de barras do sistema Passa-se então à inclusão das linhas e alimentadores, cada linha ou alimentador é definido pela barra de partida e de chegada e pelas impedâncias. Adicionalmente a linha pode ser considerada ligada ou desligada. Figura 3.18 - Entrada das linhas e alimentadores Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 37 Após a entrada das linhas, passa-se à entrada dos transformadores. Figura 3.19 - Entrada dos transformadores Escolhe-se então a barra em que se deseja calcular o curto-circuito, o tipo de curto e o regime do curto desejado e se obtém então a corrente de curto-circuito nessa barra. Figura 3.20 - Corrente de curto-circuito na barra selecionada Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 38 Selecionando-se a aba de tensões, pode-se ver as tensões em cada barra para um curto-circuito na barra considerada. Figura 3.21 - Tensão nas demais barras para um curto-circuito numa barra selecionada Depois seleciona-se a aba de Corrente nas linhas e se obtém a corrente em cada linha ou alimentador, para o curto na barra considerada. Figura 3.22 - Corrente nas diversas linhas e alimentadores para um curto-circuito na barra selecionada E finalmente pode-se ver a corrente através de cada transformador. Figura 3.23 - Corrente nos diversos transformadores para um curto-circuito na barra selecionada Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 39 3.4.4 Interpretando os resultados do curto-circuito trifásico Escolhendo a barra onde o curto-circuito será considerado, obtém-se a corrente de curto-circuito nessa determinada barra. Obtém-se também o fator X/R da corrente de curto-circuito, nessa mesma barra. Figura 3.24 - Curto-circuito trifásico subtransitório na Barra 4 Figura 3.25 - Curto-circuito trifásico transitório na Barra 4 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 40 Figura 3.26 - Contribuições para o curto-circuito trifásico na Barra 4 Marcando as contribuições, pode-se verificar a corrente que circula em cada trecho do circuito, a corrente que passa pelo barramento e a corrente que atravessa o disjuntor. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 41 Figura 3.27 - Corrente de curto-circuito trifásico na Barra 4 Note-se que apesar de no instante da interrupção a corrente na Barra 4 ser a indicada por bI , a corrente que passa pelo disjuntor não tem esse valor. Na realidade a corrente que passa pelo disjuntor corresponde à contribuição vinda através da Linha 3, sendo bastante menor do que a corrente que circula na Barra 4. Daí a importância de o programa de curto-circuito fornecer as diversas contribuições de corrente. Figura 3.28 - Corrente através do disjuntor da Linha 3 para um curto-circuito trifásico na Barra 4 Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 42 3.4.5 Calculando o curto-circuito monofásico Para efetuar o cálculo de curto fase-terra é necessário considerar as impedâncias de seqüência zero e também as impedâncias de aterramento dos transformadores e das máquinas. Figura 3.29 - Correntes de curto fase-terra em diversas barras Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 43 Note-se que o curto-circuito fase-terra na barra Gerador 1 é limitada a 10,5 A, devido à presença do resistor de aterramento do neutro do gerador. O angulo de fase dessa corrente é de 2,46 ° exatamente devido ao efeito do resistor de aterramento. Figura 3.30 - Resultados do curto fase-terra na barra Gerador 1 Figura 3.31 - Resultados do curto fase-terra na Barra 2 Já na Barra 2 o curto fase-terra é de 756 A e o angulo de fase é de 70,6 °, posto que a limitação está sendo feita apenas pela impedância das linhas e dos transformadores. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 44 3.4.6 Apresentação dos resultados A apresentação dos resultados pode ser feita na forma de uma tabela, conforme mostrado a seguir. Curto Trifásico máximo (1,05 pu) Tempo de abertura = 50 ms Barra Tensão (kV) Ik’’ (kArms) Ip (kAcrista) X/R Idc (%) Ib sim (kArms) Curto Fase-Terra (kArms) Concessionária 144,9 8,176 22,1 4,296 17,3 9,091 11,893 Barra 2 144,9 1,303 3,5 3,075 8,6 1,190 0,756 Carga 1 14,5 5,821 15,7 4,448 61,8 4,703 0,099 Barra 3 144,9 0,747 2,0 7,521 36,7 0,562 0,149 Barra 4 14,5 9,784 26,4 13,812 57,9 6,441 0,011 Barra 5 14,5 9,785 26,4 13,813 57,9 6,441 0,011 RLC 14,5 2,177 5,9 63,182 88,7 1,927 0,011 Gerador 1 14,5 9,787 26,4 13,814 57,9 6,442 0,011 Curto Trifásico mínimo (1,00 pu) Tempo de abertura = 50 ms Barra Tensão (kV) Ik’’ (kArms) Ip (kAcrista) X/R Idc (%) Ib sim (kArms) Curto Fase-Terra (kArms) Concessionária 138 7,786 21,0 4,297 17,3 7,705 11,326 Barra 2 138 1,241 3,3 3,075 8,6 1,133 0,720 Carga 1 13,8 5,544 15,0 4,447 18,3 4,479 0,094 Barra 3 13,8 0,712 1,9 7,521 36,7 0,536 0,141 Barra 4 13,8 9,318 25,1 13,812 57,9 6,134 0,010 Barra 5 13,8 9,319 25,1 13,813 57,9 6,134 0,010 RLC 13,8 2,073 5,6 63,182 88,7 1,834 0,010 Gerador 1 13,8 9,321 25,1 13,814 57,9 6,135 0,010 MourenteConsiderações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 45 3.5 Energização de transformadores Uma situação que deve ser considerada ainda no cálculo de curto-circuitos, vem a ser a energização de transformadores. Ao energizar um transformador ocorre uma sobretensão e essa sobretensão leva à saturação do núcleo do transformador provocando picos de corrente, que podem ser da ordem de grandeza da corrente de curto-circuito e assim fazer com que a proteção atue indevidamente. Assim a energização de transformadores é um assunto a ser considerado tanto na coordenação de isolamento como no cálculo de curto-circuito. A figura 3.32 mostra a curva V x I de um transformador, no eixo vertical tem-se a tensão aplicada e no eixo horizontal a corrente de magnetização. Essa curva pode ser relacionada com a curva B x H do material magnético do núcleo. A tensão aplicada é dada por dt dV Φ= e sendo a tensão aplicada senóidal tem-se, ( ) ( ) ω ω ω tdttV t m sen cos 0 0 0 +Φ=+Φ=Φ ∫ onde 0Φ - fluxo inicial no núcleo. Assim, pode-se converter a curva V x I em uma curva ΦΦΦΦ x I. Figura 3.32 - Curva V x I Figura 3.33 - Curva ΦΦΦΦ x I Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 46 Determinando-se a tensão que chega aos terminais do transformador, pode-se então calcular o fluxo no núcleo e assim determinar a corrente de magnetização. Na figura pode-se ver o modelo do transformador. Figura 3.34 - Modelo do transformador No momento da energização o disjuntor recebe a ordem de fechamento e os contatos começam a aproximar-se. A tensão suportável entre os contatos depende da distância e assim sendo irá decrescendo conforme os contatos se aproximam. Em dado instante a tensão aplicada será maior do que a tensão suportada e se formará um arco entre os contatos. Ver figura 3.35. Figura 3.35 - Caracterização do momento de estabelecimento de corrente Do exposto pode-se concluir que o disjuntor pode estabelecer a corrente apenas em uma determinada região da curva de tensão, que depende da velocidade dos contatos. Assim a corrente não pode ser estabelecida no zero de tensão, a menos que chaves especiais sejam usadas. A corrente durante a energização do transformador dependerá do fluxo residual existente no núcleo do transformador e também do instante em que o circuito é estabelecido. Na figura pode-se ver dois casos superpostos, o primeiro com energização na crista da tensão ( °=Θ 0 ) e o segundo com energização 1 ms antes da crista ( °−=Θ 6,21 ). Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 47 Figura 3.36 - Influência do angulo da tensão no instante do chaveamento Note-se que uma diferença de 1 ms no instante de estabelecimento provoca uma grande variação na corrente de inrush do transformador. Também deve ser notado que a corrente de inrush é menor quando o estabelecimento se dá próximo à crista da onda de tensão. Assim o fato de o disjuntor ser capaz de estabelecer a corrente apenas numa janela em torno da crista de tensão, se mostra favorável. Devido a este fato foram desenvolvidos dispositivos de chaveamento sincronizado, que medem as condições do circuito e enviam o comando de fechamento do disjuntor de tal forma que a corrente seja estabelecida no instante mais propicio. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 48 No entanto, não é apenas o angulo da tensão no instante de estabelecimento que afeta a corrente de inrush, também deve ser considerado o fluxo residual no núcleo. Na figura 3.37 dois casos superpostos mostram o efeito do fluxo residual. Considerando o estabelecimento efetuado nas proximidades da crista (t=4 ms), foram considerados os seguintes casos: • A - fluxo residual nulo ( 00 =Φ ); • B - skV .2,00 =Φ ; • C - skV .2,00 −=Φ . Figura 3.37 - Efeito do fluxo residual na corrente de inrush Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 49 O efeito da saturação pode ser visto na curva de fluxo e sua conseqüência é a de distorcer a tensão de magnetização e portanto a tensão induzida no outro enrolamento. Figura 3.38 - Variação do fluxo após a energização do transformador Figura 3.39 - Efeito de distorção na tensão de magnetização devido à saturação Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 50 Até aqui foi considerado um circuito monofásico, para facilitar a simplicidade de apresentação. Neste ponto convém que se verifique o comportamento do circuito trifásico, posto que a tensão nas três fases está defasada de 120° e assim a energização do transformador ocorre em condições diferentes em cada fase. Figura 3.40 - Tensões na energização de transformador trifásico Figura 3.41 - Correntes na energização de transformador trifásico Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 51 Durante a energização as tensões no transformador serão destorcidas pela saturação, com isso a tensão de seqüência zero não é mais nula. Quanto mais pronunciada a saturação, mais elevada a tensão de seqüência zero. Assim caso esse transformador seja protegido por um relê 59N conectado a um conjunto de transformadores de potencial no secundário, esse relê medirá a tensão de seqüência zero, TFCTFBTFA VVVV ++=0 e poderá ocorrer atuação durante a energização do transformador. Figura 3.42 - Tensão de seqüência zero durante a energização de trafo trifásico A forma de diminuir esse efeito de distorção da tensão seria aumentar o núcleo do transformador e assim reduzir a saturação, mas também pode-se usar resistores de pre-inserção. Figura 3.43 - Tensão de seqüência zero durante a energização de trafo trifásico com resistor de pre- inserção Note-se que o uso de um resistor de 10 Ω durante 50 ms 7, reduziu a tensão 0V de 110 kVcrista para 88 kVcrista. O valor de resistência e tempo de inserção deve ser otimizado em função do sistema e do efeito pretendido. 7 O tempo de inserção de 50 ms foi usado apenas para facilitar a visualização dos transientes associados, na pratica o tempo de inserção é da ordem de 8 a 16 ms. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 52 Figura 3.44 - Tensões na energização de transformador trifásico com resistor de pre-inserção Figura 3.45 - Correntes na energização de transformador trifásico com resistor de pre-inserção Deve ser notado que o resistor de pre-inserção resultou em uma forma de onda menos distorcida e em um menor valor na corrente de inrush. Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 53 4 Solicitações impostas pela corrente de curto-circuito 4.1 Componentes simétrica e assimétrica Resolvendo-se um circuito RL série a corrente será dada por: atransitoriregime III += Figura 4.1 – Circuito RL série A corrente de curto-circuito é formada por duas componentes: • Componente Simétrica – É representada pela solução de regime permanente, trata-se de uma corrente senoidal e portanto expressa na forma ( ) ( )Φ+=Φ+= tItII rmssim .cos2.cosmax ωω ; • Componente DC ou Unidirecional.- É representada pela solução de regime transitório e depende portanto da condição inicial do circuito RL, isto é, ( ) 00 =+i , logo ( ) tLRsimDC eII −−= 0 . A corrente assimétrica vem a ser a corrente total, ou seja a soma das componentes simétrica e unidirecional.Figura 4.2 - Ilustração das componentes simétrica e assimétrica da corrente de curto-circuito Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 54 4.2 Efeito térmico O efeito térmico da corrente de curto-circuito é dado por ∫ dti2 e fornece uma medida da energia gerada pela corrente de curto-circuito na componente resistiva da impedância equivalente do sistema. Como a corrente de curto-circuito tem duas componentes, é necessário proceder à integração das duas parcelas. Como o valor eficaz da corrente simétrica varia com o tempo, em função do regime subtransitório, transitório e permanente, se faz necessário levar em conta essa variação da corrente simétrica. Assim: ( ) kthkk T TITnmIdti k 22'' 0 2 =+=∫ onde • ( ) kkth TnmII += '' - corrente térmica equivalente do curto-circuito. • ( ) ( )[ ]1 1ln2 1 1ln4 − − = −kTf k ke kTfm - equivalente térmico da componente DC, '' k p I I k = • n – equivalente térmico da componente simétrica, • para 1 '' = k k I I , isto é, quando a componente simétrica de regime subtransitório é igual à de regime permanente - 1=n • para 25,1 '' ≥ k k I I , isto é, quando existe diferença entre os regimes subtransitório, transitório e permanente - ( )CBA I I n k k ++ = 2 '' 2 '2'2'''20'' 11 2 1 20 1 '' − −+ − −+= −− k kT T k d k k k kT T k d I I e T T I I I I e T T A d k d k − −+ − −= −− 1121 5 '''''10' '' k kT T k d k k k kT T k d I I e T T I I I I e T T B d k d k − − −= − 11 5,5 ''''11' ' k k k k k kT T k d I I I I I I e T TC d k k kk k k k I II I I I '' ''' 17,088,0 1 + = s I I T k k d 1 ' 1,3 = Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 55 4.3 Efeito eletrodinâmico Condutores elétricos conduzindo corrente exercem uma força de atração ou repulsão entre si. Dessa forma quando a corrente de curto-circuito circula pelos barramentos e pelos equipamentos essas forças aparecem entre os condutores. Caso os condutores não sejam adequadamente suportados, podem sofrer deformações e tocarem-se ou até mesmo romper-se. Para evitar isso os barramentos e os equipamentos devem ser dimensionados para suportar os esforços produzidos pela corrente de curto-circuito. Figura 4.3 – Barramento No caso particular de dois um barramento formado por condutores paralelos a força entre os condutores será dada por: • Força entre os condutores Principais N a lIFH 20 2pi µ = • Força entre os subcondutores N a l n I F T T T 2 0 2pi µ = Sendo pI - corrente de crista, expressa em Ampères; n – numero de subcondutores em cada condutor principal. Como a força entre os condutores depende da amplitude da corrente, é possível perceber que o dimensionamento deve ser feito para o maior valor de corrente de curto-circuito, ou seja para o valor de crista pI Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 56 4.4 Corrente de Interrupção A corrente nominal de interrupção é a maior corrente que o disjuntor tem por obrigação ser capaz de interromper, frente à TRV nominal especificada. A corrente nominal de interrupção ( bI ) é expressa em duas partes: • Componente simétrica, expressa em kA, • Componente unidirecional, expressa em % • A componente unidirecional depende do fator X/R no ponto de curto-circuito e do tempo de separação dos contatos, sendo dada por %1001 τ ω τ opt dc eIR X − == • A constante de tempo do sistema considerada na norma IEC 62271-100 8 depende da aplicação do disjuntor, • Valor normalizado – uso geral – ms45=τ • Valor alternativo – para disjuntores com tensão nominal abaixo de 52 kV – ms120=τ • Valor alternativo – disjuntores com tensão nominal de 72,5 a 420 kV – ms60=τ • Valor alternativo – disjuntores de 550 kV e acima – ms75=τ • Os valores alternativos indicam que a norma reconhece que existem casos nos quais a corrente a interromper pode apresentar uma componente unidirecional mais pronunciada. Quando a constante de tempo no ponto de defeito for acima de 45 ms, a componente unidirecional deverá ser indicada no pedido de cotação. Figura 4.4 - Corrente de estabelecimento e de interrupção - ms45=τ Na figura acima a constante de tempo do sistema, no ponto de instalação do disjuntor, é igual aos 45 ms previstos na norma IEC 62271-100, note-se que a componente DC ( %9,32100 45 50 == − eIdc ), é bem menor do que a componente simétrica da corrente de interrupção. 8 IEC 62271-100 – High-voltage switchgear and controlgear – Part 100: High-voltage alternating-current circuit-breakers Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 57 4.5 Efeitos da assimetria na corrente de curto-circuito A assimetria na corrente de curto-circuito tem dois efeitos principais: • Aumentar os esforços eletrodinâmicos produzidos pela corrente, devido ao aumento do valor de crista, • Dificultar a interrupção do curto-circuito, isso decorre dos seguintes fatos: • Uma corrente mais elevada provoca um maior aquecimento do arco e assim as partículas ionizadas levarão mais tempo para serem neutralizadas; • Devido ao fato de a componente unidirecional ser caracterizada por uma curva exponencial a partir do valor inicial da corrente subtransitória, pode ocorrer nas proximidades de geradores a supressão de alguns zeros de corrente, o que faz com que a corrente só venha a ser interrompida mais tarde. Na figura 4.5 os dois efeitos da assimetria da corrente de curto-circuito são ilustrados. Figura 4.5 - Corrente de estabelecimento e de interrupção próximo a gerador - ms120=τ Mourente Considerações sobre Curto-Circuitos em Sistemas Elétricos 58 5 Tipos de disjuntores Os disjuntores serão caracterizados pelo meio usado para a extinção do arco elétrico e posterior isolamento entre os contatos. Em todos os disjuntores se faz necessário que com os contatos separados seja suportada uma tensão e para isso deve existir um meio isolante, seja ar, óleo, SF6 ou vácuo. Pode-se definir dois tipos de suportabilidade da tensão, a saber: • Suportabilidade de tensão entre fase-terra e entre polos de fases adjacentes; • Suportabilidade de tensão entre os contatos abertos do polo do disjuntor Por razões de segurança a tensão suportável entre os contatos abertos do polo do disjuntor é mais elevada do que a tensão suportável entre fases e entre fase e terra. Assim uma sobretensão excessiva que incida sobre o disjuntor deverá causar antes um curto fase-terra ou um curto fase-fase e não fazer com que o disjuntor venha a conduzir. Para estabelecer um circuito, ou seja, conduzir uma corrente, o mecanismo de acionamento faz com que um contato móvel seja deslocado de modo que a distância entre os contatos se reduz, até ocorrer
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