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DP A Teoria Geral do Crime Mód. 01 Noções Iniciais

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Direito Penal
A Teoria Geral do Crime
Módulo 01
Noções Iniciais
Prof. Marupiara Gomes
AS INFRAÇÕES PENAIS
Conceito: As infrações penais constituem certos comportamentos humanos não permitidos por lei, sob a ameaça de uma pena (ou sanção), ou seja, são categorias de ‘atos ilícitos penais’ ou ‘o injusto penal’.
Tais regras designadas de “normas jurídicas”, portanto, são ‘comandos’ que devem ser obedecidos por todos os indivíduos, genérica e imperativamente, pois dizem o que pode ou não ser feito, isto é, o que é proibido ou permitido. O estabelecimento dessas normas de conduta é uma exigência da vida em sociedade. É uma forma de direito posto ou positivado.
Ocorre, entretanto, que algumas atividades humanas causam ‘lesões’ aos bens jurídicos protegidos pelo Direito (bens-interesses que suprem nossas necessidades) violando estas normas. Esse comportamento humano que viola a norma jurídica é o ‘fato ilícito’ (injusto ou proibido) e, assim, não deve ser permitido. 
Como consequência da violação da norma, o Estado prevê uma ‘sanção’ (uma reprovação ou uma punição) a que o indivíduo infrator (descumpridor da norma) estará sujeito.Geralmente repercutem como uma reparação do dano causado ou mesmo a invalidade do ato.
Mas, no entanto, em alguns casos, o Direito teve que criar uma sanção mais severa para esses agressores, já que a simples reparação do dano se mostraria ineficaz. Como reparar o dano advindo da violência sexual contra uma mulher,por exemplo? 
Então, dentre estas sanções destaca-se a “sanção penal”, que nada mais é do que a resposta estatal, coativamente imposta, ao infrator de uma norma desta natureza, visando a restabelecer o equilíbrio social. É o caso, por exemplo, do ser humano que tira a vida de outro ou de alguém que atenta contra os interesses públicos representados pelo próprio Estado. 
Dentre os diversos ramos do Direito encontramos o Direito Penal. Ele não se preocupa com ‘qualquer tipo’ de lesão a um bem jurídico. Somente aquelas lesões mais graves que se dirigem contra aqueles bens considerados mais importantes (vida, integridade física, patrimônio, liberdade sexual, honra, probidade na administração etc.) é que serão tutelados por esse ramo do direito.
Por conseguinte ele é “fragmentário e subsidiário”, ou seja: inicialmente, somente os bens jurídicos mais relevantes devem merecer sua tutela (proteção) e somente os ataques mais intoleráveis é que devem ser punidos penalmente. Então o Direito Penal só tem lugar quando outros ramos do Direito não solucionam satisfatoriamente o conflito! É a ultima ratio!
Portanto, como forma de se proteger esses bens mais importantes dos ataques mais graves (o Fato Ilícito ou Punível de âmbito penal), o Direito estabelece uma consequência jurídica mais severa: a sanção penal (As Penas).
Então, frente a estes atos mais nocivos,de acordo com o Professor Rogério Greco teríamos duas dimensões legais: os “Crimes” e as “Contravenções Penais” . É o sistema dicotômico (dúplice) adotado no Brasil.
Assim conceitua aquele doutrinador:
	“Direito Penal Objetivo é o conjunto de normas editadas pelo Estado, definindo crimes e contravenções, isto é, impondo ou proibindo determinadas condutas sob a ameaça de sanção ou medida de segurança, bem como todas as outras que cuidem de questões de natureza penal, por exemplo, excluindo o crime, isentando a pena, explicando determinados tipos penais.(...) 
Observe-se, então que...
Em essência, não existe diferença substancial entre crime e contravenção, pois um fato que hoje é contravenção pode, no futuro, ser definido como crime. É o caso, por exemplo, do porte de arma. Até 1997, tratava-se de mera contravenção penal. Atualmente, é crime (vide Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre o registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – SINARM, define crimes e dá outras providências). A diferença maior então, entre o crime e a contravenção encontra-se na sua “consequência”, ou seja, no tipo de sanção penal cominada (prevista) a eles. Nos termos da Lei de Introdução ao Código Penal, a pena para a contravenção penal é de prisão simples e/ou multa, ao passo que a pena para os crimes (ou delitos) é de reclusão, detenção e/ou multa. A variação está na maior gravidade ao fato jurídico previsto como crime e menor gravidade ao fato jurídico previsto como contravenção. 
Ademais...
a) Tentativa: no crime/delito a tentativa é punível, enquanto que na contravenção, por força do Art. 4º do Decreto-Lei 3.688/41, a tentativa não é punível. 
b) Extraterritorialidade: no crime/delito, nas situações do Art. 7º do Código Penal, a extraterritorialidade é aplicada, enquanto que nas contravenções a extraterritorialidade não é aplicada. 
c) Tempo máximo de pena: no crime/delito, o tempo máximo de cumprimento de pena é de 30 anos, enquanto que nas contravenções, por serem menos graves, o tempo máximo de cumprimento de pena é de 5 anos. 
d) Reincidência: de acordo com o Art. 7º do Decreto-Lei 3.688/41, é possível a reincidência nas contravenções. Ou seja, a reincidência ocorrerá após a prática de crime ou contravenção no Brasil e após a prática de crime no estrangeiro. Não há reincidência após a prática de contravenção no estrangeiro. 
Consequentemente, as infrações penais constituem certos comportamentos humanos não permitidos por lei, sob a ameaça de uma pena, categorizando os ‘atos ilícitos penais’ ou ‘o injusto penal’.
Tanto que, doutrinariamente, a maioria dos autores define crime ou a contravenção, em seu aspecto “Analítico”, ou seja, analisado seus componentes básicos. Seriam então, Fatos Típicos (previstos ou definidos em lei), Antijurídicos (ou Ilícitos, não permitidos por lei) e Culpáveis (sujeitos uma reprovação por força da lei). 
Isto é, Crime/Contravenção = Fato Tipificado  Ilícito ou Antijurídico  Culpabilizado. É o “injusto penal”.É a fatti-specie penal. Tal conceito predominante em nosso país será por nós adotado, sendo quase um ‘dogma’ entre os estudiosos do assunto. Enfim: o “fato punível” assim determinado, à partir da teoria das normas penais, é constituído, desde logo, de duas grandes categorias básicas(ou dois níveis ‘primários’ de valoração)- 1º) o fato contrário ao Direito e descrito na lei penal (o injusto penal) e 2º) a sancionabilidade penal ou punibilidade (a pena).
Tão mais importante é que esta concepção, é também chamada de “Tripartida” , onde ...
Crime/Contravenção  compõem-se de...
(1) Tipicidade+(2) Antijuridicidade+(3) Culpabilidade...
É a mais cientificamente razoável, pois diz que a infração penal é antes de qualquer coisa um fato punível por lei que vincula a conjugação da ‘consciência, da vontade e dos fins’ buscados pela ‘conduta’ do homem e ‘descritos no ‘tipo penal’, sendo sujeito a uma ‘sanção específica’. É o “Fato Punível Penal”.
	O Direito Penal, portanto, é o ramo do Direito Público que tem por finalidade regular as ‘condutas humanas’ que se contraponham à esta específica norma jurídica (a lei, por exemplo), bem como estudar o infrator ( o criminoso ou contraventor ), as penas (tipo de sanção penal aplicável aos responsáveis , ditos imputáveis) e mesmo para os irresponsáveis (ditos inimputáveis), como as ‘medidas de segurança’ (internação em um hospital de tratamento psiquiátrico, por exemplo). 
 Então a finalidade primordial do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários para a própria finalidade da sociedade. O pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal está na proteção de ‘bens jurídicos essenciais’ ao indivíduo e à comunidade. 
Um Conceito Inicial de Crime.
Assim, tradicionalmente, o crime pode ser conceituado no seu aspecto formal, material ou analítico. Em nossos estudos vamos adotar o conceito analítico ou ‘dogmático’ de crime, por ser o conceito mais aceito na doutrina e na jurisprudência nacional, com algumas temperanças e onde buscaremos analisar cada um de
seus elementos ‘individualmente’.
O mais importante é que esta concepção, como já dita “tripartida”...Representará o injusto penal como ...
 Tipicidadade+Antijuridicidade+Culpabilidade é a mais razoável, pois diz que a infração penal (o Injusto Penal),ressalte-se, é antes de qualquer coisa a conjugação da ‘consciência, da vontade e dos fins’ (Teoria Finalista) buscados pela ‘conduta’ do homem e ‘descritos no ‘tipo penal’
Embora, para alguns possa ser examinada uma concepção ‘Bipartida’ ou ‘Bipolar’ do fato, pois se entende que a culpabilidade não é um “elemento direto” nesta análise, pois só funcionaria posteriormente como “pressuposto” da pena, pelo fato de que tal item – a culpabilidade – sendo um ‘juízo de reprovabilidade’ não incidiria sobre o fato, mas sim sobre o ‘sujeito’: ou seja, não existe um crime ‘culpado’ , mais um sujeito do crime ‘culpável’!!!
Contudo...
Devemos, a bem da dialética, falar que o crime ou a contravenção pode ter uma ‘concepção bipartida’ em uma composição inicialmente ‘tripartida’.
 No entanto, não devemos esquecer que, segundo o pensamento-síntese do grande Mestre Nelson Hungria, para quem em nada esta distinção atrapalha tais conceitos pois... “Devemos conhecer as circunstâncias e os elementos do fato externo; o fim do agente, se traduz , de regra, no seu ato” !!!
1° Elemento: A Tipicidade
O fato típico é um comportamento humano que produz um resultado e é previsto na lei penal como infração. Para caracterizar o fato típico é exigida a concorrência de quatro elementos: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. 
A Conduta: é o componente essencial do aspecto objetivo do crime, sendo ‘gênero’ de que são ‘espécies’ a ‘ação’ e a ‘omissão’.A ação ou omissão humana ‘consciente e dirigida a determinada finalidade’. 
E mais, desde que tenha as seguintes características:
A conduta se refere ao comportamento dos homens, não dos animais irracionais;
Só interessa para o direito aquelas condutas humanas que são exteriorizadas. Os pensamentos internos podem importar para a moral, ética, etc., mas não para o direito;
A conduta humana só tem importância para o direito quando voluntária (por própria vontade);
O comportamento do agente pode dizer respeito a um movimento (ação) ou a uma abstenção de movimento (omissão).
Observe-se então que, existem certos crimes que o agente comete porque faz alguma coisa (são os crimes comissivos). Já outros, o agente só comete justamente porque deixa de fazer alguma coisa que estava obrigado a fazer ou fez de maneira diversa (são os crimes omissivos). Ora, a rigor, por ser objeto da ‘vontade livre e consciente de um ser humano’, a conduta deve ser sempre vista sob quatro prismas fundamentais, principalmente se o crime seja ‘material’, ou seja, que produza um resultado efetivo,real, físico:
 Os “Antecedentes” do fato; 
 O “Objetivo” pretendido pelo agente; 
 Os “Meios” usados na execução, inclusive os ‘pontos vulnerantes’ alcançados ; 
 As “Consequências” advindas do delito. 
E mais importante:  A Vontade que limita-se à conduta; pois a intenção, dirige-se ao resultado. A intenção é bússola da vontade!
Os Crimes Omissivos
Por isso que tais crimes são...
Puros ou próprios: são aqueles em que o dever jurídico de agir se encontra inserido na ‘própria definição’ do crime. Eles não precisam de uma complementação externa. Normalmente usam verbos negativos (deixar de, não fazer, etc.). Exemplo: omissão de socorro (art. 135 do CP).
Impuros ou impróprios ou comissivos por omissão: são aqueles em que o dever jurídico de agir não está inserido na própria definição do crime. Eles necessitam de uma complementação externa (precisam de uma norma de extensão – art. 13, § 2º do CP).
O Dolo
Dolo é a vontade (conduta voluntária e consciente) de praticar o crime (realizar as características objetivas do tipo) ou, pelo menos, assumir o risco de produzi-lo.
TEORIAS DO DOLO: Existem 03 Teorias que procuram explicar o dolo.
Teoria da Vontade: para essa teoria, age com dolo quem tem consciência do seu comportamento (consegue visualizar, representar mentalmente o resultado), bem como tem vontade de alcançar o resultado;
Teoria da Consciência: segundo essa teoria, para que exista o dolo basta a simples consciência do agente quanto ao ato, pouco importando se ele tem vontade ou não em cometê-lo;
Teoria do Assentimento ou do Consentimento: para essa teoria, há dolo quando o agente tem consciência do seu ato. Porém, não se exige que ele tenha vontade de produzi-lo, basta que ele assuma o resultado caso ele ocorra. 
Observe-se que...
O Brasil adotou a Teoria da Vontade, com relação ao dolo direto, e a Teoria do Assentimento ou Consentimento, com relação ao dolo eventual. 
 Por isso que...Existe uma CLASSIFICAÇÃO DO DOLO!
Ora, se o crime em seu primeiro momento é a “vontade” de realizar as características objetivas que estão previstas no tipo penal, ele é eminentemente intencional ou finalista!!!
Ou seja...
Se o dolo é a vontade consciente de praticar uma conduta típica  têm-se a visão finalista – é o denominado dolo natural.
Se é a vontade consciente de praticar a conduta típica, acompanhada da consciência de que realiza um ato ilícito  têm-se uma visão causalista – é o denominado dolo normativo.
Se é a vontade consciente de praticar a conduta típica, sem qualquer finalidade especial  é o dolo genérico.
Se é a vontade consciente de praticar a conduta típica, adicionada de uma especial finalidade  é o dolo específico.
In summa...
O dolo, independente de sua classificação, deve ter as seguintes características:
A) Abrangência: o dolo deve envolver todos os elementos objetivos do tipo, aquilo que Mezger chama de “valoração paralela na esfera do leigo”;
B) Atualidade: o dolo deve estar presente no momento da ação, não existindo dolo subsequente nem dolo anterior;
C) Possibilidade de influenciar no resultado: é indispensável que a vontade do agente seja capaz de produzir o evento típico. Na lição de Welzel: “a vontade impotente não é um dolo relevante de um ponto de vista jurídico penal”
E ainda: “a vontade de realização do tipo objetivo pressupõe a possibilidade de influir no curso causal, pois tudo o que estiver fora da possibilidade de influência concreta do agente pode ser desejado ou esperado, mas não significa querer realizá-lo. Somente pode ser objeto da norma jurídica algo que o agente possa realizar ou omitir”.
Ademais...finalisticamente...
Assim, se se busca sempre uma intenção ou fim, sendo considerado doloso o “Elemento” (que ressalta um comportamento...) ‘subjetivo’ implicitamente previsto na lei. É seu elemento ‘anímico, voluntário, propiciador de um resultado’!
Veja o que diz o CPB:
Art. 18, §Único: Salvo os casos expressos em lei, ninguém poderá ser punido pelo crime, senão quando pratica dolosamente.
São, portanto, seus elementos: a consciência da conduta e do resultado apto a ser produzido; a consciência da relação causal (causa e feito ou ‘nexo causal’) entre a conduta o seu resultado; e a vontade de realizar e produzir o resultado.
Ele é divido em duas modalidades:
a) Direto: o agente visa a certo e determinado resultado. Por exemplo, atira à queima roupa com arma de grande potencialidade visando matar a vítima almejada (é a Teoria da Vontade).
b) Indireto: é dividido entre ‘alternativo’ e ‘eventual’. Por exemplo, no primeiro, o agente se dirige a ‘um ou outro resultado’ com igual intensidade (desfere golpes com um estilete na vítima, podendo matar ou ferir, conforme o local que atinja no corpo da vítima); já no segundo, o agente ‘antevê’ como possível ‘qualquer resultado’ com igual intensidade, embora não deseje ‘nenhum’ especificamente, desconsiderando-os ou sendo indiferente aos mesmos, embora possa ser minimamente previsto como possível (como quem atira a esmo onde existem potencialmente pessoas aptas a serem alcançadas, ou seja: a ‘bala perdida’!).
Seria, no dizer de Welzel: o “saber causal”, apto a “prever” o “acontecimento final”, o “evento derradeiro”,
pois a “finalidade é vidente, embora a causalidade seja cega”. A característica básica dolosa é a possibilidade de antecipação de um determinado (ou determinável...) fim! 
Após escolher o “fim”, segue-se a seleção de “meios” para almejar o “objetivo”, como fatores causais “necessários”.
Portanto, no dolo “eventual”, embora inicialmente uma ficção jurídica em relação ao possível evento, a rigor ele se realizaria através de uma vinculação emocional e não apenas um “conhecimento” e “previsão”, mas quando o agente se pôs de acordo com a produção de um resultado quando se conforma em aceitá-lo ou assume o “risco” de produzi-lo, assentindo-o!
Outras formas...
Ainda se fala de dolo em 1º grau e 2º grau. O primeiro seria equivalente ao dolo “direto” (imediato); o segundo uma forma de dolo “indireto” (mediato, por consequência dos “meios” eleitos pelo agente, mas também abrangidos por sua vontade. Ou seja: é o dolo e suas possíveis consequências “necessárias” advindas ou “efeitos concomitantes” ou “colaterais” necessários, como bem frequente em atos de grave repercussão criminosa, p. ex., na forma de um atentado terrorista!
In summa
Na sua forma “indireta” ou “fictícia” nós teríamos:
O Dolo “Alternativo” considerado quanto ao ‘resultado’ ou à ‘pessoa’, objetiva ou subjetivamente. Seria um “misto” de ‘direto’ + ‘indireto’, onde o resultado mais ‘grave’ seria eventual.
O Dolo “Eventual” seria a intenção do agente tanto dirigida a um “fim” penalmente ‘típico’ como a um resultado ‘extratípico’!
Vejamos o seguinte exemplo: Tício está desferindo tiros contra um muro, no quintal da sua residência (resultado pretendido: dar disparos contra o muro), vislumbrando, no entanto, a possibilidade dos tiros vararem o obstáculo, atingindo terceiros que passam por trás. Ainda assim, desprezando o segundo resultado (ferimento ou morte de alguém), continua sua conduta. Caso atinja mortalmente um passante, responderá por homicídio ‘doloso’ , em face de seu dolo “eventual”, também denominado dolo de “segundo (2º) grau”. Extraiu-se tal consideração, na maioria dos casos, da situação fática previsível desenhada e não da “mente” do agente, como seria de se supor no dolo direto, usando-se de uma ficção jurídica!
A Culpa (Estrita ou Stricto Sensu)
Poder-se-ia dizer que culposa é a conduta voluntária que produz resultado ilícito, não desejado, mas previsível e, excepcionalmente, previsto, que podia com a “devida atenção”, ser evitado. Ocorre o crime culposo quando o agente não quer produzir o resultado, mas acaba dando causa ao mesmo por imprudência, imperícia ou negligência.
Em verdade, sua intenção não está voltada para o resultado pretendido, senão seria, dolo! Por conseguinte, vemos que a ação ou a omissão do agente é voluntária; o resultado é que não é querido nem aceito, conquanto o agente o pudesse minimamente prever.
É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito ou ilícito, que embora possa produzir um resultado ilícito, este não é originariamente desejado, mas por ser previsível, podia ter sido evitado, se obedecida as regras determinadas cautelosamente.
Por isso que o dolo é a “regra”; a culpa a “exceção”, pois para se punir alguém por delito culposo, é indispensável que a culpa venha “expressamente” delineada em um “tipo penal” com este fim!
Assim seguindo o entendimento de que haja “previsibilidade”, objetiva ou subjetiva, encontra-se na conduta humana e, por consequência, no tipo. As condições pessoais do agente, para captar e expressar essa previsibilidade , serão deslocadas para a culpabilidade somente no contexto da aplicação da pena. Em suma: a ‘possibilidade de prever’ o resultado danoso, objetivamente considerada (sob o prisma do homem médio) e subjetivamente avaliada (conforme a situação concreto do autor), é o elemento da tipicidade nestes casos.
Culpa “Inconsciente” X “Consciente”
Por isso que ainda se fala de tais modalidades, onde a primeira seria a culpa por “excelência”, propriamente dita, ou seja, a culpa “sem previsão do resultado”. Assim, o agente não tem previsão (ato de prever) do resultado, mas “mera previsibilidade” (possibilidade de prever, portanto, podendo evitar). Já a segunda forma, denominada ‘consciente’ (ou com ‘previsão’), ocorre quando o agente prevê que sua conduta pode levar a um certo resultado lesivo, embora ele acredite firmemente que tal evento não se realizará, confiando na atuação (vontade) para impedir o resultado. É a culpa ex lascivia!
Entenda-se...
Previsibilidade é a “possibilidade” de prever um resultado lesivo inerente a qualquer ser humano normal. Ausente a previsibilidade, afastada estaria culpa, pois não se exige de uma pessoa comum, uma atenção “extraordinária ou fora do razoável”! O melhor critério para verificar a previsibilidade é o critério “objetivo-subjetivo”, ou seja, verifica-se no caso concreto, se a média da sociedade (homo medius) teria condições de prever o resultado,através de diligência e da perspicácia comum, passando-se em seguida para análise do grau de visão do agente do delito, vale dizer, verifica-se sua capacidade pessoal que detinha para evitar o resultado.
Portanto, haveria ausência de previsão, ou seja, não seria possível que o agente tenha previsto, efetivamente, o evento lesivo ou tenha previsão do resultado, mas espere, sinceramente ou mesmo com espírito de emulação, que ele não acontecesse, confiando, excessivamente em suas habilidades!
Por conseguinte, o resultado danoso advém do descumprimento de regras básicas de atenção e cautela, derivadas da proibição de ações de risco que vão além daquilo que a comunidade juridicamente organizada está disposta a tolerar.
Suas formas “básicas”...
Imprudência: é a forma “ativa” da culpa, significando um comportamento sem cautela, realizado com precipitação ou insensatez. Ex: pessoa que dirige em excesso de velocidade onde existam transeuntes.
Negligência: é a forma “passiva” da culpa, inerte, material e psiquicamente, por descuido ou desatenção, justamente quando deveria agir de modo contrário. Ex: não utilizar freio de mão quando estacionar o carro em uma ladeira.
Imperícia: é a “imprudência” no campo “técnico”, pressupondo uma profissão, um ofício ou arte. Consiste na incapacidade ou falta de conhecimento necessário para o exercício de determinada atividade. É sua forma “qualificada”. Ex: um médico deixa de tomar as devidas cautelas de assepsia de uma sala de cirurgia, demonstrando nítida inaptidão para o exercício básico e necessário em âmbito profissional, provocando a morte do paciente. Um “erro grosseiro” que a média dos profissionais, em situação normal, não cometeria!
Requisitos...
Para que se possa falar em crime culposo, indispensável que existam os seguintes requisitos: a) Conduta humana voluntária; b)Falta do dever de cuidado objetivo, manifestado pela imprudência, negligência ou imperícia; c)Previsibilidade objetiva; d)Ausência de previsão, salvo na ‘culpa consciente’; e)Resultado involuntário;f)Nexo de causalidade entre a conduta e o resultado; f)Tipicidade formal.
Por fim...Não existe em DP...
Culpa ‘presumida’: a culpa deve ser sempre demonstrada e provada por quem acusa;
Graus de culpa: não existe no contexto penal graduações a mais ou a menos de culpa, indiferente de ser leve ou grave;
Compensação de culpas: não se admite em DP, pois infrações penais não são débitos que se compensam. Assim, se um motorista atropela um pedestre, ambos tendo agido sem cautela, responderá o condutor do veículo, ainda que alege ter incidido o transeunte em imprudência ao atravessar a rua (direção ‘defensiva’!). No entanto, em tese, é permitida a “concorrência de culpas” (coautoria sem ligação psicológica), como no caso de vários motoristas imprudentes causarem um mesmo acidente – todos podendo responder igualmente pelo evento!
O Preterdolo
O crime “Preterdoloso” ou “Preterintencional”: um fato por vezes pode ter um início de conduta dolosa e em sua descrição básica acrescentar uma forma culposa.
Ou seja: a própria
conduta inicial pode produzir um “resultado mais grave” que o outrora pretendido, como quem quer apenas ‘ferir’ e acaba ‘matando’ outra pessoa.É o que se chama tradicionalmente de crime ‘Preterdoloso ou Preterintencional’ supondo-se uma ‘desproporção’ entre a intenção originária do agente e o resultado efetivamente alcançado, havendo uma combinação inovadora: dolo no ‘antecedente’ (o que se pretendia) e culpa no ‘consequente’ (o que se produziu) – dolo de ferir com a culpa de matar!
A Tentativa (O Crime Tentado)
A tentativa ocorre quando o agente ‘tenta’ (busca) praticar um crime, porém, por circunstâncias ‘alheias’ à sua vontade (algo ou alguma coisa) esse não ocorre. 
  Classificação da Tentativa:
Tentativa imperfeita ou tentativa propriamente dita: ocorre quando o agente inicia a execução de um crime e, no meio da execução, é ‘interrompido’ por circunstâncias alheias à sua vontade. É de se observar que na tentativa imperfeita o agente não praticou ‘todos’ os atos de execução (não esgotou toda a sua potencialidade lesiva), pois é interrompido ‘em meio’ à execução. 
Exemplo: após ferir levemente a vítima com um punhal, o agente no momento em que vai desferir o golpe mortal, é surpreendido por alguém que lhe toma a arma. Na tentativa imperfeita, como o agente é interrompido em meio à execução, ele sabe que não conseguiu realizar o crime. 
Tentativa perfeita ou crime falho: ocorre quando a fase de execução é realizada ‘integralmente’ pelo agente, mas o resultado não se verifica por circunstâncias alheias à sua vontade. Aqui o agente realiza totalmente os atos de execução (esgota toda a sua potencialidade lesiva), mas o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade.
Exemplo: Antônio desfecha todos os projéteis de seu revólver na vítima que, atingida, cai no chão. Certo de que está morta, Antônio deixa o local do crime. A vítima, porém, é levada até o hospital por um pedestre, sendo salva por uma intervenção cirúrgica. Na tentativa perfeita, como o agente realiza integralmente os atos de execução, ele pensa que conseguiu praticar o crime.
Contudo,vejamos infrações que não admitem tentativa:
	Algumas infrações não admitem tentativa, dentre estes já conhecemos:
As Contravenções Penais: de acordo com o art. 4º do Decreto-Lei nº 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais), não se pune a tentativa das contravenções;
Crimes culposos;
Crimes preterdolosos;
Crimes omissivos puros ou próprios.
Consequências da Tentativa...
Conforme estabelece o parágrafo único do art. 14 do CP, ao crime tentado, salvo disposição em contrário, aplica-se a mesma pena do crime consumado, porém ela será diminuída de um a dois terços. Quanto mais perto o agente chegar de consumar o crime, menor será a diminuição da pena. É uma causa de “diminuição de pena” a beneficiar o acusado!
A Desistência Voluntária e o Arrependimento Eficaz
A primeira parte do art. 15 se refere à desistência voluntária. Esta ocorre quando o agente, no meio da execução do crime, para e desiste voluntariamente de prosseguir na sua execução. A desistência voluntária tem uma conotação negativa: o agente inicia a execução de um crime e, em meio a esta execução, desiste voluntariamente de continuar praticando essa conduta criminosa. 
Já a segunda parte do art. 15 se refere ao arrependimento eficaz. Este ocorre quando o agente inicia a execução de crime e, após esgotar todos os atos de execução, se arrepende (ocorre após a execução e antes da consumação). 
Nesse caso, o agente terá que praticar uma nova conduta para neutralizar a primeira (tem, portanto, uma conotação positiva). O arrependimento eficaz tem que ser voluntário e também eficaz, pois, se apesar de todos os esforços do agente, ainda assim o crime ocorre, então o agente responderá por esse resultado.
A natureza jurídica da desistência voluntária e do arrependimento eficaz é que estes institutos são causas que excluem a tipicidade (excludentes da tipicidade). Nem crimes persistiriam!!!
O CRIME IMPOSSÍVEL (OU A “TENTATIVA INIDÔNEA OU INADEQUADA”)
O crime impossível pode decorrer de um dos dois motivos abaixo:
Ineficácia absoluta do meio: o meio escolhido pelo agente é absolutamente ineficaz para produzir o crime. Exemplo: alguém que quer contaminar outra pessoa de moléstia grave de que não é portador. 
Absoluta impropriedade do objeto: o objeto (o fim) que o agente visa a lesionar é absolutamente impróprio para sofre o dano. Exemplo: Mulher, supondo-se grávida, ingere substância abortiva apta a expelir o feto, quando, na realidade, não existe gravidez. 
No crime impossível o agente não responde pela tentativa. Ninguém pode responder por um crime que era impossível de consumar-se. 
Observação: Só existe crime impossível se a ineficácia do meio ou impropriedade o objeto forem absolutas. Se relativas, haverá tentativa. O Brasil adotou, para o crime impossível, a Teoria Objetiva ‘temperada’, ou seja, se a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto forem absolutas haverá crime impossível. 
Se relativas, haverá tentativa. Então, natureza jurídica do	crime impossível é que este instituto é uma causa que exclui a tipicidade (excludente da tipicidade).
O Arrependimento ‘Posterior’
Ocorre o arrependimento posterior quando o agente, após a consumação do crime, se arrepende e repara ‘totalmente’ o dano ou ‘restitui’ a coisa, desde que observados os demais requisitos do art. 16 do CP. Nesse caso, a pena deverá ser diminuída de um a dois terços. É, portanto, uma ‘causa obrigatória de diminuição da pena’.
Consequência:
Atendidos todos os requisitos do art. 16, a pena será diminuída de um a dois terços, a critério do juiz (causa obrigatória de diminuição da pena).
Observação: A diferença básica entre o arrependimento posterior e o arrependimento eficaz reside no fato de que naquele o resultado já foi produzido e, neste último, o agente impede a sua produção.
In summa...Sobre a Conduta Típica...
Haverá “Exclusão da Tipicidade” quando então, o fato é atípico , pois não há conduta, nem dolo ou culpa e por conseguinte, nem “nexo causal”!
O dolo está ausente quando o autor do fato não desejou nem assumiu o risco de produzir o resultado e não há culpa se o resultado era imprevisível!!!
Ora, pode existir uma conduta ‘sem que o agente tenha dolo ou culpa’, mas, nesse caso, a conduta será atípica, pois a lei penal apenas descreve condutas dolosas ou culposas.
 E mais: o crimes são , em regra, figuras típicas “dolosas”, embora, ocasionalmente possam também ter uma previsão legal “culposa”, quando assim a lei entender!
Acrescente-se: Não existe conduta se não há manifestação de vontade. Isso ocorre quando o agente se encontra em estado de inconsciência , ou a movimentação do agente resulta de atos reflexos ou o agente sofre coação física irresistível .
E por fim, inexiste conduta juridicamente relevante quando o “nexo de causalidade” (relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado desejável) sem a ação ou omissão, seria o mesmo!!! Rompe-se o nexo de causalidade, na hipótese do art. 13, §1º, quando uma causa superveniente relativamente independente leva o fato a um desdobramento fora do que ordinariamente ocorre, e por isso se considera que essa causa “por si só” produziu o resultado!!!

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