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Apostila Responsabilidade Civil 2016 2

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Hercílio Belarmino 
RESUMO 
RESPONSABILIDADE 
CIVIL 
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SUMÁRIO 
Sumário 
SUMÁRIO .............................................................................................................................................................. 2 
NOTAS INTRODUTÓRIAS ................................................................................................................................. 7 
RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................................................................................................... 7 
Distinção entre obrigação e responsabilidade ................................................................................................. 7 
Responsabilidade contratual e extracontratual ................................................................................................ 8 
Responsabilidade civil subjetiva e objetiva .................................................................................................... 9 
Sistematização da responsabilidade no Código Civil ..................................................................................... 9 
Culpa da vítima (exclusiva ou concorrente) ................................................................................................. 12 
Fato de terceiro ............................................................................................................................................. 13 
Caso fortuito ou de força maior .................................................................................................................... 14 
Cláusula de não indenizar ............................................................................................................................. 15 
Excludentes de ilicitude ................................................................................................................................ 15 
Estado de necessidade................................................................................................................................... 16 
Legítima defesa e exercício regular de um direito ........................................................................................ 16 
Roteiro simplificado e esquematizado da responsabilidade civil ................................................................. 18 
Reflexos da sentença penal condenatória no cível ................................................................................................ 18 
Reflexos da sentença penal absolutória ............................................................................................................ 20 
1. Faz coisa julgada no cível: ........................................................................................................................ 20 
2. Não faz coisa julgada no cível: ................................................................................................................. 21 
Responsabilidade das pessoas jurídicas de direito privado ................................................................................... 22 
Conceito de consumidor, fornecedor e produto ................................................................................................ 22 
Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo .............................................................................................. 24 
Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço ....................................................................................... 24 
Causas excludentes de responsabilidade ........................................................................................................... 26 
Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço ....................................................................................... 28 
Responsabilidade dos órgãos públicos.............................................................................................................. 29 
FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO .............................................................. 30 
NATUREZA JURÍDICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ................................................ 30 
Responsabilidade civil dos profissionais liberais ................................................................................................. 32 
Natureza jurídica da responsabilidade civil do profissional liberal .................................................................. 32 
Fundamentos legais ...................................................................................................................................... 32 
DOS ATOS ILÍCITOS ......................................................................................................................................... 33 
Art. 186. ............................................................................................................................................................ 33 
Conceito de ato ilícito ................................................................................................................................... 33 
Art. 187. ............................................................................................................................................................ 34 
Conceito de abuso de direito ou exercício irregular do direito ..................................................................... 34 
Art. 188. ............................................................................................................................................................ 34 
Atos lesivos que não são ilícitos ....................................................................................................................... 34 
Legítima defesa............................................................................................................................................. 35 
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Exercício regular de um direito reconhecido ................................................................................................ 35 
Estado de necessidade................................................................................................................................... 35 
DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................ 35 
Art. 389. ............................................................................................................................................................ 35 
Conceito de inadimplemento absoluto .......................................................................................................... 35 
Art. 390. ............................................................................................................................................................ 36 
Art. 391. ............................................................................................................................................................ 36 
Art. 392. ............................................................................................................................................................ 37 
Responsabilidade civil contratos benéficos e nos contratos onerosos. ......................................................... 37 
Art. 393. ............................................................................................................................................................37 
DA MORA ........................................................................................................................................................... 39 
Art. 394. ............................................................................................................................................................ 39 
Conceito de mora .......................................................................................................................................... 39 
Art. 395. ............................................................................................................................................................ 40 
Responsabilidade civil do devedor no caso de mora. ................................................................................... 40 
Art. 396. ................................................................................................................................................................ 40 
Constituição do devedor em mora. ............................................................................................................... 40 
Art. 398. ............................................................................................................................................................ 41 
Art. 397. ............................................................................................................................................................ 41 
Termo inicial da constituição do devedor em mora ...................................................................................... 41 
Art. 399. ............................................................................................................................................................ 42 
Caso fortuito e força maior: antes da mora e depois da mora ....................................................................... 42 
Art. 400. ............................................................................................................................................................ 42 
A mora do credor. ......................................................................................................................................... 43 
Art. 401. ............................................................................................................................................................ 44 
Purgação da mora. ........................................................................................................................................ 44 
DAS PERDAS E DANOS .................................................................................................................................... 45 
Art. 402. ............................................................................................................................................................ 45 
Conceito de perdas e danos. .......................................................................................................................... 45 
Conceito de dano emergente. ........................................................................................................................ 45 
Conceito de lucro cessante. ........................................................................................................................... 45 
Art. 403. ............................................................................................................................................................ 46 
Requisito da previsibilidade dos lucros cessantes na inexecução dolosa. ..................................................... 46 
Art. 404. ............................................................................................................................................................ 46 
Perdas e danos nas obrigações pecuniárias: caso de dano emergente e caso de lucro cessante. ................... 46 
Art. 405. ............................................................................................................................................................ 47 
Termo de início da contagem dos juros. ....................................................................................................... 47 
DOS JUROS LEGAIS .......................................................................................................................................... 48 
Art. 406. ............................................................................................................................................................ 48 
Conceito de juros moratórios legais. ............................................................................................................. 48 
Art. 407. ............................................................................................................................................................ 48 
Princípios para aplicação dos juros de mora. ................................................................................................ 48 
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DA CLÁUSULA PENAL .................................................................................................................................... 49 
Art. 408. ............................................................................................................................................................ 49 
Conceito de cláusula penal. .......................................................................................................................... 49 
Art. 409. ............................................................................................................................................................ 50 
Acessoriedade da cláusula penal ................................................................................................................... 50 
Art. 410. ............................................................................................................................................................ 51 
Conceito de cláusula penal compensatória. .................................................................................................. 51 
Alternativa do credor em exigir o cumprimento da obrigação ou de pedir a cláusula penal. ....................... 51 
Art. 411. ............................................................................................................................................................ 51 
Conceito de cláusula penal moratória. .......................................................................................................... 51 
Art. 412. ............................................................................................................................................................ 52 
O valor da cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. ........................................................ 52 
Art. 413. ............................................................................................................................................................ 52 
Hipóteses que autorizam a redução de ofício pelo juiz do valor cláusula penal. .......................................... 52 
Art. 414. ............................................................................................................................................................ 53 
Aplicação da pena quando obrigação é indivisível e vários são os devedores.............................................. 53 
Art. 415. ............................................................................................................................................................ 53 
Art. 416. ............................................................................................................................................................54 
Efeitos da cláusula penal. ............................................................................................................................. 54 
DA RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................................................................................... 55 
DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR ................................................................................................................... 55 
Art. 927. ............................................................................................................................................................ 55 
Art. 928. ............................................................................................................................................................ 58 
Art. 929. ............................................................................................................................................................ 58 
Art. 930. ............................................................................................................................................................ 60 
Art. 931. ............................................................................................................................................................ 60 
Art. 932. ............................................................................................................................................................ 61 
Art. 933. ............................................................................................................................................................ 64 
Art. 934. ............................................................................................................................................................ 66 
Art. 935. ............................................................................................................................................................ 66 
Art. 936. ............................................................................................................................................................ 67 
Art. 937. ............................................................................................................................................................ 67 
Art. 938. ............................................................................................................................................................ 68 
Art. 939. ............................................................................................................................................................ 69 
Art. 940. ............................................................................................................................................................ 70 
Art 941. ............................................................................................................................................................. 70 
Art. 942. ............................................................................................................................................................ 70 
Art. 943. ............................................................................................................................................................ 71 
DA INDENIZAÇÃO ............................................................................................................................................ 72 
Art. 944. ............................................................................................................................................................ 72 
Art. 945. ............................................................................................................................................................ 74 
Art. 946. ............................................................................................................................................................ 75 
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Art. 947. ............................................................................................................................................................ 76 
Art. 948. ............................................................................................................................................................ 76 
Art. 949. ............................................................................................................................................................ 79 
Art. 950. ............................................................................................................................................................ 81 
Art. 951. ............................................................................................................................................................ 83 
Art. 952. ............................................................................................................................................................ 84 
Art. 953. ............................................................................................................................................................ 86 
Art. 954. ............................................................................................................................................................ 87 
RESUMÃO – RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................................................... 89 
Conceito de responsabilidade civil. .................................................................................................................. 89 
Função da responsabilidade civil ...................................................................................................................... 90 
Introdução ao estudo da responsabilidade civil. ............................................................................................... 91 
A responsabilidade civil como uma problemática jurídica. .......................................................................... 91 
As funções da responsabilidade civil na atualidade. ..................................................................................... 91 
A evolução da responsabilidade civil. .......................................................................................................... 91 
A responsabilidade moral, civil e criminal. .................................................................................................. 91 
Pressupostos da responsabilidade civil – esquema gráfico ............................................................................... 92 
Pressupostos da responsabilidade civil ............................................................................................................. 93 
Existência de uma ação comissiva ou omissiva qualificada juridicamente. ................................................. 93 
Ocorrência de um dano moral ou patrimonial. ............................................................................................. 93 
Nexo de causalidade entre o dano e a ação que o produziu. ......................................................................... 93 
Efeitos da responsabilidade civil. ..................................................................................................................... 97 
Reparação do dano. ....................................................................................................................................... 97 
Liquidação do dano. ..................................................................................................................................... 97 
Garantias de indenização. .............................................................................................................................97 
Efeito no cível da decisão prolatada no crime. ............................................................................................. 97 
Inadimplemento voluntário. ............................................................................................................................ 100 
Conceito de inadimplemento da obrigação. ................................................................................................ 100 
Noção de inexecução voluntária. ................................................................................................................ 100 
Modos de inadimplemento voluntário. ....................................................................................................... 100 
Fundamento e pressupostos da responsabilidade contratual do inadimplente. ........................................... 100 
Mora. .............................................................................................................................................................. 101 
Mora e inadimplemento absoluto. .............................................................................................................. 101 
Conceito de mora. ....................................................................................................................................... 101 
Espécies de mora. ....................................................................................................................................... 101 
Mora do devedor. ........................................................................................................................................ 101 
Mora do credor. .......................................................................................................................................... 101 
Mora de ambos os contratantes. .................................................................................................................. 101 
Juros moratórios. ........................................................................................................................................ 101 
Purgação da mora. ...................................................................................................................................... 101 
Cessação da mora. ...................................................................................................................................... 101 
Perdas e danos ................................................................................................................................................ 103 
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Noção de perdas e danos. ............................................................................................................................ 103 
Fixação da indenização das perdas e danos. ............................................................................................... 103 
Modos de liquidação do dano. .................................................................................................................... 103 
Cláusula penal................................................................................................................................................. 104 
Conceito. ..................................................................................................................................................... 104 
Função. ....................................................................................................................................................... 104 
Caracteres. .................................................................................................................................................. 104 
Modalidades................................................................................................................................................ 104 
Requisitos de sua exigibilidade................................................................................................................... 104 
Efeitos. ........................................................................................................................................................ 104 
Responsabilidade profissional – natureza jurídica. ......................................................................................... 106 
Responsabilidade dos advogados................................................................................................................ 107 
Responsabilidade dos médicos. .................................................................................................................. 108 
Responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor. ................................................................... 109 
Abuso de direito na sistemática jurídica brasileira. ........................................................................................ 113 
Noção de responsabilidade extracontratual do Estado. ................................................................................... 114 
Princípios da responsabilidade estatal. ....................................................................................................... 114 
Conceito. ..................................................................................................................................................... 114 
Fundamento. ............................................................................................................................................... 114 
Responsabilidade aquiliana do Estado por atos administrativos. .................................................................... 115 
Responsabilidade estatal por atos legislativos. ............................................................................................... 116 
Responsabilidade do Estado por atos jurisdicionais. ...................................................................................... 117 
BIBLIOGRAFIA. ............................................................................................................................................... 119 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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NOTAS INTRODUTÓRIAS 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
Distinção entre obrigação e responsabilidade 
 
O Código Civil faz a distinção entre obrigação e responsabilidade no seu art. 
389 – “não cumprida a obrigação (obrigação contratual, originária ou 
preexistente), responde o devedor por perdas e danos (obrigação sucessiva, 
consequente, reparatória ou ressarcitória, ou seja, responsabilidade). Esse 
dispositivo é aplicável tanto à responsabilidade contratual como à 
extracontratual ou aquiliana. 
 
Quanto à responsabilidade contratual, se o contrato é uma fonte de 
obrigações, a sua inexecução também o é, todavia, a obrigação nascida 
do contrato é diferente da que nasce de sua inexecução. 
 
A primeira obrigação (a contratual) tem origem na vontade comum das 
partes. A segunda, a obrigação nova, nasce da inexecução da obrigação 
contratualmente estabelecida e ao contrário da primeira, surge contra a 
vontade do devedor – a obrigação de reparar o prejuízo. Logo, há violação 
de um dever jurídico preexistente. 
 
Quanto a responsabilidade extracontratual ou aquiliana esta tem origem na 
lei. A própria lei que determina quando a obrigação surge. Seja pela lesão 
antijurídica e culposa (ato ilícito) dos comandos normativos preexistentes 
que devem ser observados por todos seja pelo ato que, embora lícito, 
enseja a obrigação de indenizar nos termos estabelecidos pela própria lei. 
 
Sem violação de um dever jurídico preexistente, portanto, não há que se 
falar em responsabilidadeem qualquer modalidade, porque a 
responsabilidade enseja um dever sucessivo decorrente do dever jurídico. 
Em outras palavras, a característica marcante da obrigação de indenizar é 
a sucessividade e sempre decorre de uma obrigação anterior estabelecida: 
 Na lei; 
 No contrato; 
 Ou na própria ordem jurídica. 
 
Assim sendo, o art. 927 do Código Civil (“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 
e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. 
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem”.) categoriza o dever de indenizar como uma obrigação. 
Vale dizer, entre as modalidades de obrigações existentes (dar, fazer e não 
fazer), o Código incluiu mais uma – a obrigação de indenizar. 
 
 
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Em face do exposto, podemos concluir que, a responsabilidade civil se situa 
na teoria geral do direito entre os fatos jurídicos naturais, decorrentes da 
ação da natureza e os fatos jurídicos voluntários, decorrentes da conduta 
humana, que pode ser de acordo com o direito (atos lícitos – atos jurídicos e 
negócios jurídicos) e contrários ao direito (atos ilícitos – civil e penal). 
 
Responsabilidade contratual e extracontratual 
 
Se preexistente um vínculo obrigacional, e o dever de indenizar é 
consequência do inadimplemento, temos a responsabilidade contratual, 
também chamada de ilícito contratual ou relativo. 
 
Se esse dever surge em virtude de lesão a direito subjetivo, sem que entre o 
ofensor e a vítima preexista qualquer relação jurídica que o possibilite, temos 
a responsabilidade extracontratual, também chamada de ilícito aquiliano 
ou absoluto. 
 
Tanto a responsabilidade extracontratual como na contratual há violação 
de um dever jurídico preexistente. No ilícito contratual é violação de dever 
jurídico criado pelas partes no contrato, enquanto que no ilícito 
extracontratual é a transgressão de um dever jurídico imposto pela lei. 
 
É possível, ainda, destacar as seguintes distinções entre a responsabilidade 
contratual e a extracontratual: 
 
1. Em matéria de prova, tratando-se de responsabilidade contratual, 
incumbe ao credor (contratante prejudicado) apenas demonstrar o 
inadimplemento do devedor, ou seja, basta a prova do não 
cumprimento da obrigação gerada pelo contrato. Por outro lado, resta 
ao devedor (contratante inadimplente) provar a presença de alguma 
excludente de responsabilidade a fim de justificar o não cumprimento da 
obrigação por ele contraída: inexistência de culpa sua, caso fortuito ou 
de força maior. 
 
2. Na hipótese da responsabilidade aquiliana, a situação do credor (vítima), 
em termos processuais, é desfavorável em relação ao credor na 
responsabilidade contratual. Se aquiliana a responsabilidade civil, cabe à 
vítima o ônus de provar todos os pressupostos da responsabilidade civil a 
fim de que tenha reconhecido o direito de indenização pelos danos 
sofridos, ou seja, além do dano e do nexo de causalidade - pressupostos 
que também devem ser provados pelo credor na responsabilidade 
contratual -, também deve demonstrar o comportamento culposo do 
agente. 
 
 
 
 
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Responsabilidade civil subjetiva e objetiva 
 
Com o advento do novo Código Civil, em 2002, foi mantida, como regra, a 
responsabilidade civil subjetiva, aplicando-se a objetiva a situações 
especiais. Em princípio, prevê o art. 927, que “aquele que, por ato ilícito, 
causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo”. Fácil constatar que, nesse 
caso, a responsabilidade civil apenas surge em função da prática de ato 
ilícito, para cuja configuração faz-se necessário o pressuposto culpa ou 
dolo, como aliás se infere, expressamente, da definição contida no 
mencionado artigo 186: 
 
a) Conduta culposa do agente, o que fica demonstrado pela expressão 
“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência...” 
 
b) Nexo causal, que vem expresso no verbo “causar”; e 
 
c) Dano, revelado pelas expressões “violar direito ou causar dano a 
outrem”. 
 
No entanto, consagrou-se, no novo texto legislativo, a responsabilidade civil 
objetiva, fundada na teoria do risco da atividade. Ainda que de forma 
excepcional, estabeleceu-se, no parágrafo único do art. 927 do Código Civil 
de 2002, que haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa: 
 
a) Nos casos especificados em lei, 
 
b) Ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
 
Sistematização da responsabilidade no Código Civil 
 
Atualmente, o legislador, na Parte Geral do Código Civil, dedicou três artigos 
ao tema. 
No art. 186, estabeleceu a denominada responsabilidade civil 
extracontratual ou aquiliana. Isto é, introduziu no ordenamento jurídico a 
base da responsabilidade civil subjetiva ou clássica, à medida que impôs a 
todo aquele que por ação ou omissão, dolosa ou culposa, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, a obrigação de 
reparar os prejuízos decorrentes de seu comportamento, definido como ato 
ilícito. 
 
 
 
 
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A partir do art. 186, contemplou a lei civil três situações: 
 
1. Responsabilidade civil do agente por ato próprio (CC., art. 942). Trata-
se de pura aplicação da teoria da reparação do dano. Adotada 
como regra, consiste em impor a obrigação de reparar o dano 
diretamente à pessoa que praticou a conduta (omissiva ou comissiva) 
reprovada pelo ordenamento jurídico. 
 
2. Responsabilidade civil por fato de terceiro (CC., art. 933). 
Excepcionando a responsabilidade civil por ato próprio, adotada 
como regra, possibilitou o legislador, em algumas situações, impor-se a 
obrigação de indenizar a pessoa diversa daquela que praticou a 
conduta causadora do dano. Nesse caso, exige-se a presença de 
uma relação de sujeição entre aquele responsável pela indenização e 
o autor do comportamento danoso (Exemplo: pai em relação ao filho 
autor do ato ilícito, patrão e empregado etc.). 
 
3. Responsabilidade civil pela guarda da coisa ou do animal. Nesse 
caso, também como exceção à responsabilidade civil por ato próprio, 
estendeu-se a obrigação de indenizar não apenas ao autor da 
conduta causadora direta do dano, mas também àqueles que 
mantêm a guarda de coisas ou de animais responsáveis por prejuízos 
provocados a terceiros. É por isso que responde o dono ou possuidor 
do animal por danos por eles causados (CC., art. 936), ou aquele que 
habita moradia de onde são lançados ou caem objetos (CC., art. 
938). 
 
 
Como novidade, no art. 187, inseriu, no conceito de ato ilícito, o 
comportamento praticado em abuso do direito, assim entendido como 
aquele que excede manifestamente os limites impostos por seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
No art. 188, considerou como lícitos alguns comportamentos, conquanto 
consistam em condutas voluntárias causadoras de dano. Fala-se, aqui, dos 
atos praticados em legítima defesa, estado de necessidade e exercício 
regular de um direito reconhecido. Deve-se tomar cautela ao considerá-las 
como excludentes de responsabilidade. Isso porque nem sempre tais 
comportamentos, embora considerados lícitos, frise-se, vão eximir seu autor 
da obrigação de indenizar a vítima, como, por exemplo, ocorre com o atopraticado em estado de necessidade (vide CC, arts. 929 e 930). 
 
 
 
 
 
 
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Na parte especial, no tópico em que se cuida do inadimplemento das 
obrigações, o art. 389 dá-nos a regra básica da responsabilidade civil 
contratual, isto é, ao estabelecer que o devedor, não cumprindo sua 
obrigação, responde por perdas e danos, mais juros e atualização 
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários 
advocatícios, nada mais fez do que impor-lhe a obrigação de indenizar a 
vítima (credor ou contratante prejudicado), justamente em razão de um 
comportamento humano que, no caso, consiste no descumprimento 
culposo de uma obrigação contratualmente prevista. 
 
Por derradeiro, na parte especial e no Livro das Obrigações, dedicou o 
legislador à responsabilidade civil o Título IX, composto de dois capítulos. 
 
No primeiro deles, titulado de da obrigação de indenizar (arts. 927 a 942), 
encontram-se as regras reguladoras dessa espécie de obrigação, dando-se 
destaque à responsabilidade patrimonial do autor do ato ilícito pela 
reparação dos danos causados à vítima, bem como à responsabilidade 
solidária de todos os que, de qualquer modo, concorrerem para o evento 
danoso (coautores e partícipes). 
 
Sintetizando, dentro do campo da responsabilidade civil, encontram-se, 
nesse capítulo, as regras fixadoras da responsabilidade civil por ato próprio, 
por ato de terceiro e pelo fato da coisa ou do animal. 
 
No segundo capítulo, preocupou-se o legislador em conferir ao aplicador da 
lei diretrizes para liquidar a obrigação de indenizar a vítima. Isto é, partindo-
se do reconhecimento de que o autor do ato ilícito deve reparar o dano 
suportado pela vítima (un debeator), necessário se faz fixar o exato 
montante dessa prestação (quantum debeator), objeto da obrigação, 
tornando-a, portanto, líquida e certa. Assim, reconhecida, por exemplo, a 
obrigação do homicida de reparar os danos decorrentes de seu 
comportamento, estabeleceu o legislador que, a título de perdas e danos, 
deverá o responsável arcar com as despesas com o tratamento da vítima, 
seu funeral e o luto da família, além de prestar alimentos às pessoas a quem 
o morto os devia (art. 948, I e II, do CC). Destacam-se, ainda, regras de 
liquidação dos danos para o caso de lesões corporais, esbulho possessório, 
calúnia, injúria e difamação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Análise, caso a caso, para verificação de excludentes de responsabilidade: 
 
1. Culpa da vítima (exclusiva ou concorrente) CC., art.945 
2. Fato de terceiro CC., arts. 928 a 934 
3. Caso fortuito ou de força maior CC., art. 393 
4. Cláusula de não indenizar (CDC, art. 51, I cc./ CC., arts. 424 e 734) 
5. Excludentes de ilicitude (CC., arts. 188, 929, 930) 
a. Estado de necessidade 
b. Legítima defesa 
c. Exercício de um direito reconhecido 
 
Culpa da vítima (exclusiva ou concorrente) 
 
No tocante a essa excludente, duas são as situações possíveis. A primeira 
ocorre quando a conduta do agente configura mero instrumento para a 
causação do dano. Em suma, embora se faça presente ação ou omissão 
do agente, o fator desencadeante do dano consiste em conduta culposa 
da própria vítima. Acrescente-se, também, que a ação ou omissão do 
agente não configura qualquer violação de dever de cuidado, embora 
tenha servido, objetivamente, para o evento danoso. Diz-se nesse caso que 
há a quebra total do nexo de causalidade, de sorte a isentar o agente do 
dever de indenizar o prejudicado. Trata-se aqui da culpa exclusiva da 
vítima, figura que, efetivamente, surge como excludente de 
responsabilidade. 
 
Exemplo: indivíduo que, intencionando o suicídio, atira-se embaixo de um 
veículo que trafega de forma regular. 
 
A segunda hipótese tem vez quando à culpa da vítima concorre também 
conduta culposa do agente, de sorte que ambas proporcionam o resultado 
danoso. 
 
Nesses casos, não há a efetiva quebra do nexo de causalidade, mas 
apenas seu enfraquecimento. Por consequência, não desaparece a 
obrigação do agente de indenizar a vítima, que fica apenas atenuada. 
Exemplo: na mesma situação anterior, o suicida acaba sendo atropelado 
pelo condutor que dirigia em alta velocidade. Embora diante da 
imprudência da vítima, poderia o condutor ter evitado o acidente se 
dirigisse diligentemente. 
 
Na culpa concorrente, figura não prevista, expressamente, no Código de 
1916, havia problema em se fixar o montante indenizatório. Inicialmente, 
prevaleceu a orientação de que, atenuado o nexo de causalidade por essa 
razão, a obrigação de indenizar a vítima deveria ser reduzida pela metade 
(RT 221/220). 
 
 
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Fruto de evolução passou a dominar a tese de que, verificado que autor e 
vítima são culpados, a divisão da indenização não precisa ser, 
necessariamente, reduzida pela metade. Deve, outrossim, ser aferido o grau 
de culpabilidade de cada uma das partes e, em função disso, estabelecer-
se o justo valor indenizatório. 
 
Tal orientação veio a ser consagrada pelo Código Civil de 2002. Dispondo a 
respeito da culpa concorrente da vítima, estabeleceu o legislador, no art. 
945 que, “se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, 
a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa 
em confronto com a do autor do dano”. 
 
Fato de terceiro 
 
Em termos de responsabilidade civil, prevalece a regra básica de que 
aquele que causa direta e culposamente o dano responde pela obrigação 
de repará-lo. Isto é, o comportamento de terceira pessoa que concorra 
para o resultado não exonera o causador direto pelo dever de indenizar, 
garantindo-lhe apenas o direito regressivo. 
 
É o que ocorre nos atos praticados em estado de necessidade, cuja matéria 
vem regulada nos arts. 929 e 930 do Código Civil de 2002. Estabelece o 
legislador apenas o direito regressivo contra aquele causador da situação 
de perigo, após ter sido a vítima indenizada pelo causador direto do dano. 
 
Há hipóteses, contudo, em que o ato de terceiro surge como causa 
exclusiva do dano suportado pela vítima, de sorte que o agente cuja 
conduta materialmente tenha proporcionado o resultado apenas figura 
como mero instrumento. Nesses casos, o ato de terceiro fica equiparado ao 
caso fortuito ou de força maior e quebra o nexo de causalidade. Raciocina-
se no sentido de que, se, efetivamente, o fato de terceiro constituiu-se na 
causa exclusiva do dano, a ele deve ser imputada a obrigação de indenizar 
a vítima e, com relação ao autor inicialmente investigado, não há como 
estabelecer o necessário nexo de causalidade. 
 
Em outras palavras, diz-se que a conduta do agente (ação ou omissão), que 
proporciona apenas materialmente o dano, por ser meramente instrumental, 
não surge como causa, desaparecendo, pois, o nexo de causalidade. 
Enfocando o tema, mas na esfera contratual, assevera Aguiar Dias que “o 
fato de terceiro só exonera quando constitui causa estranha ao devedor, 
isto é, quando elimine, totalmente, a relação de causalidade entre o dano e 
o desempenho do contrato”. 
 
 
 
 
 
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Na esfera da responsabilidade civil aquiliana, a questão surge, na prática, 
nos acidentes automobilísticos, notadamente nos chamados 
“engavetamentos”. Em regra, o motorista do veículo que, projetado em 
razão de colisão traseira, vem a atingir o automóvel da frente fica isento daresponsabilidade de reparar o dano. 
 
Isto porque, no tocante à provocação do dano, seu veículo apenas serviu 
como mero instrumento, não havendo, pois, nexo de causalidade entre sua 
conduta e o dano suportado pela vítima. 
 
Já na esfera da responsabilidade civil contratual, o interesse do tema 
acentua-se nos casos de responsabilidade do transportador. Como já visto, 
adotada que foi a responsabilidade objetiva, tem-se como regra que a 
culpa de terceiro não exonera o transportador pelos danos causados ao 
passageiro transportado. 
 
Assim, não se exonera o transportador da obrigação de reparar o dano 
sofrido por seu passageiro, ainda que demonstrado que a culpa do 
acidente fora do motorista do outro veículo envolvido. Na hipótese, garante-
se apenas o direito regressivo. Note-se que, no caso, embora não haja 
qualquer comportamento culposo do transportador, persiste sua 
responsabilidade indenizatória por ser ela de natureza objetiva. E, o 
acidente automobilístico, a que está sujeito o transportado, integra o risco 
da atividade assumida pelo transportador e que fundamenta essa 
responsabilidade objetiva. 
 
Caso fortuito ou de força maior 
 
O art. 393, parágrafo único, do Código Civil de 2002, define caso fortuito ou 
de força maior como o “fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar 
ou impedir”. Tem-se aqui a mais importante excludente de responsabilidade 
civil, quer contratual, quer aquiliana, dada sua grande incidência prática. 
 
Trabalhando o conceito legal referido, pode-se dizer que caso fortuito ou de 
força maior consiste em todo acontecimento alheio à vontade do 
contratante ou agente que, por si só, proporcionou o resultado danoso. Isto 
é, para o dano não concorreu qualquer conduta culposa do agente 
(negligência, imprudência e imperícia) - ausência de culpa. Conclui-se, pois, 
pela quebra do nexo de causalidade, já que, diante desse quadro, não 
mais se pode imputar à ação ou omissão do agente o resultado danoso 
verificado. Importante frisar que esse fato externo e estranho à vontade do 
agente apenas figura como excludente de responsabilidade civil, quando 
consistir em causa exclusiva do dano, retirando, pois, do comportamento do 
agente qualquer liame de causalidade com o resultado. 
 
 
 
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Cláusula de não indenizar 
 
Por evidente, essa excludente de responsabilidade está adstrita ao campo 
da responsabilidade civil contratual e consiste na estipulação, inserida no 
contrato, por meio da qual uma das partes declara, com a anuência da 
outra, que não será responsável pelos prejuízos decorrentes do 
inadimplemento, absoluto ou relativo, da obrigação ali contraída. 
Transferem-se, por dispositivo contratual, os riscos para a vítima. 
 
A natureza dessa cláusula deu margem a grande controvérsia de sua 
validade ou não. Há quem sustente ser nula porque contrária ao interesse 
social. Outros defendem sua validade em nome do princípio da autonomia 
da vontade. 
 
Todavia, não se pode perder de vista que a matéria deve ser enfocada, 
também, à luz do Código de Proteção ao Consumidor. Assim, estabelecida 
relação de consumo entre os contratantes, parece insustentável defender 
sua validade, posto contrariar os princípios ali contidos, notadamente o 
disposto no art. 51, I, da Lei ne 8.078/90, que expressamente consideram 
nulas de pleno direito as cláusulas que “impossibilitem, exonerem ou 
atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza 
dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos”. 
 
Também o Código Civil de 2002, ao regular os contratos de adesão, não 
compactuou com a cláusula de irresponsabilidade nele inserida, em 
desfavor do contratante aderente, conforme se infere do disposto em seu 
art. 424. O mesmo se diz do contrato de transporte de pessoas, 
estabelecendo-se a nulidade de qualquer cláusula excludente de 
responsabilidade (art. 734 do CC/2002). 
 
Excludentes de ilicitude 
 
Importante, dentro desse contexto, estudar as figuras que, segundo o 
legislador, retiram o caráter ilícito do comportamento humano, mas que 
nem sempre excluem seu autor do dever de indenizar o dano dele 
provocado. O art. 188 do Código Civil de 2002 estabelece hipóteses de 
conduta humana voluntária causadora de danos que não constituem atos 
ilícitos (legítima defesa, exercício regular de um direito e estado de 
necessidade). Isso, frise-se, num primeiro momento induziria à conclusão de 
que não ensejariam responsabilidade civil do agente, posto que inexistente 
ato ilícito. No entanto, o quadro altera-se, como será visto a seguir, quando 
examinados os arts. 929 e 930 do Código Civil de 2002. 
 
 
 
 
 
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Estado de necessidade 
 
Ao cuidar da responsabilidade civil, não poderia o legislador deixar de 
trabalhar com a figura do estado de necessidade, que encontra sua 
regulamentação legal, conforme já mencionado anteriormente, nos arts. 
188, II, 929 e 930 do Código Civil de 2002. Consiste, em suma, na 
“deterioração ou destruição de coisa alheia, a fim de remover perigo 
iminente”. Segundo o próprio legislador, para a configuração do estado de 
necessidade, é imperioso que as circunstâncias tomem absolutamente 
necessária a conduta lesiva, não excedendo os limites do indispensável 
para a remoção do perigo (art. 188, parágrafo único do CC/2002). Percebe-
se, com facilidade, que, conceitualmente, o estado de necessidade previsto 
no Direito Penal não difere desse, tratado no Direito Civil. Age em estado de 
necessidade aquele que, para remover perigo iminente, deteriora ou destrói 
bem alheio, desde que as circunstâncias tomem o ato absolutamente 
necessário e os meios sejam os suficientes para remover o perigo. 
 
Repita-se aqui que a conduta lesiva, embora praticada em estado de 
necessidade, o que a torna lícita, não surge, em geral, como excludente de 
responsabilidade civil. Isso porque, segundo disposição contida nos arts. 929 
e 930 do Código Civil de 2002 (mantida orientação adotada pelo CC/1916), 
permanece a obrigação de indenizar o dono da coisa destruída (vítima), 
desde que este não tenha sido o causador da situação de perigo. Garante-
se aquele que indenizou, contudo, o direito regressivo em face do causador 
de tal situação. Não são poucos na doutrina os que criticam essa solução 
paradoxal adotada pela legislação civil, já que impõe a quem age 
licitamente a obrigação de reparar o dano decorrente desse agir. Silvio 
Rodrigues exterioriza sua crítica, afirmando que a solução adotada pelo 
legislador desencoraja o “herói a praticar ato capaz de evitar mal maior.” 
 
Legítima defesa e exercício regular de um direito 
 
Também a figura da legítima defesa mereceu tratamento do legislador que, 
no art. 188,1, do Código Civil de 2002, considerou lícito o ato praticado 
nessas circunstâncias. O mesmo se diz quanto ao ato praticado no exercício 
regular de um direito e no estrito cumprimento de um dever legal (figura esta 
não contemplada no texto do referido dispositivo legal, mas, incluída entre 
as excludentes de ilicitude por unânime interpretação doutrinária). Tais 
figuras, como regra e diversamente do que acontece com o estado de 
necessidade, além de tornarem lícita a conduta, também eximem seu autor 
do dever de indenizar pelos danos dela decorrentes. 
 
Também a legítima defesa tem sua definição emprestada do Direito Penal. 
Age, portanto, em legítima defesa aquele que, valendo-se do uso 
moderado de meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, 
a direito seu ou de outrem.Prof. Hercílio Belarmino – www.professorhercilio.com Página 17 
 
Atente-se para o fato de que se isenta da obrigação de reparar o dano 
aquele que age contra o próprio agressor, repelindo injusta agressão, 
valendo-se dos meios moderados e necessários para a repulsa. Assim, os 
danos causados ao próprio agressor não são indenizáveis por quem age em 
legítima defesa. 
 
Conclui-se, portanto, que como excludente de responsabilidade civil, tem-
se, apenas, a legítima defesa real (compreendida a legítima defesa de 
terceira pessoa) e praticada contra a pessoa do agressor, causando-lhe 
danos. Isto quer dizer que, se por erro ou engano, terceira pessoa também 
for atingida, persistirá, diante dela, o dever de reparar o dano. 
 
O mesmo cuidado se deve tomar com a legítima defesa putativa (derivada 
de erro sobre as circunstâncias de fato). Nesse caso, tal comportamento 
mantém o caráter ilícito, à medida que tal putatividade não surge como 
excludente de ilicitude, mas de culpabilidade. Tanto é assim que a legítima 
defesa putativa sequer vem abrangida pelo já estudado art. 65 do CPP 
Conclui-se, pois, que, embora não haja responsabilidade penal por ausência 
de culpabilidade, persiste a obrigação, no cível, de reparar o dano causado 
porque ilícito o comportamento do agente. 
 
No que diz respeito ao exercício regular de um direito e estrito cumprimento 
de um dever legal, o tema não comporta maiores considerações, 
aplicando-se a eles o que fora dito a respeito da legítima defesa. Destaca-
se apenas porque maior a incidência prática que os danos causados por 
agentes no desempenho de serviço público, ainda que por delegação, 
mesmo que no estrito cumprimento do dever legal, são indenizáveis pelo 
Estado ou pelas pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço 
público. Isso porque, como já visto, foi adotada, constitucionalmente, a 
responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, § 6S da CF/88). Todavia, não há 
que se falar em direito regressivo do Estado em face de seu agente 
justamente porque, diante da presença de tal excludente de ilicitude, não 
se tem por caracterizado comportamento reprovável - culposo ou doloso - 
dele a justificar sua responsabilidade civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Roteiro simplificado e esquematizado da responsabilidade civil 
 
1. Responsabilidade civil 
 
1.1. Extracontratual 
 
1.1.1. Subjetiva (CC., arts. 927 e 186) 
1.1.1.1. Culpa provada 
1.1.1.2. Culpa presumida 
 
1.1.2. Objetiva 
1.1.2.1. Abuso de direito (CC., art. 927 cc./ art. 187) 
1.1.2.2. Atividade de risco – fato do serviço (art. 927, parágrafo 
único) 
1.1.2.3. Fato do produto (CC., art. 931) 
1.1.2.4. Fato de outrem (CC., arts. 932 e 933) 
1.1.2.5. Fato da coisa (CC., arts. 936 a 938) 
1.1.2.6. Do Estado e dos prestadores de serviço público (CF., art. 
37, § 6º) 
1.1.2.7. Nas relações de consumo (CDC., arts. 12 e 14) 
 
1.2. Contratual (CC, arts. 389 e 475) 
1.2.1. Com obrigação de resultado 
1.2.2. Com obrigação de meio 
 
1.3. Excludentes de Ilicitude 
 
1.3.1. Culpa da vítima (exclusiva ou concorrente) CC., art.945 
1.3.2. Fato de terceiro CC., arts. 928 a 934 
1.3.3. Caso fortuito ou de força maior CC., art. 393 
1.3.4. Cláusula de não indenizar (CDC, art. 51, I cc./ CC., arts. 424 e 734) 
1.3.5. Excludentes de ilicitude (CC., arts. 188, 929, 930) 
a. Estado de necessidade 
b. Legítima defesa 
c. Exercício de um direito reconhecido 
 
 
Reflexos da sentença penal condenatória no cível 
 
Cuidando também do tema, considerou o legislador processual civil a 
sentença penal condenatória transitada em julgado título executivo judicial 
(art. 584, II, do CPC), evitando-se, assim, nova ação de conhecimento. 
 
Vale dizer que a sentença penal condenatória transitada em julgado torna 
certa a obrigação do ofensor de reparar os danos suportados pela vítima. 
 
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Isso leva à conclusão de que, em face do ofensor, no que diz respeito à 
autoria e à materialidade, faz coisa julgada no cível a sentença penal 
condenatória. 
 
Note-se que esse posicionamento vem ao encontro da orientação inicial 
adotada no art. 935 do Código Civil de 2002. Isto porque, se, para se chegar 
à condenação do réu, há que se ter certeza quanto à existência do fato e 
sua autoria, e tais questões já não podem ser enfrentadas no cível, nada 
mais razoável do que conferir à sentença penal força de título executivo 
judicial. 
 
Importante atentar para o fato de que a sentença penal condenatória, por 
si só, não autoriza o imediato ajuizamento de uma ação de execução. Isto 
porque, embora certa a obrigação do ofensor de indenizar a vítima, 
necessário que se apure o exato valor da indenização (fixação do quantum 
debeatur), o que se dá por intermédio de um processo de liquidação - por 
arbitramento ou por artigos - quando não for líquida a sentença penal. Cita-
se, como exemplo de sentença penal líquida, aquela que comina multa 
reparatória, com fundamento no art. 297 da Lei nº 9.503/97 - Código de 
Trânsito Brasileiro. 
 
Questão interessante diz respeito à legitimidade para figurar no polo passivo 
da ação executiva baseada nessa modalidade de título executivo judicial. 
Tem prevalecido, tanto na jurisprudência quanto na doutrina, que o título 
executivo formado com a sentença penal condenatória confere 
legitimidade passiva para a ação executiva apenas ao ofensor, ou seja, 
aquele que foi parte na ação penal. 
 
Quanto à apuração da responsabilidade civil indireta (patrão por ato do 
empregado, a título de exemplo), necessário nova ação civil de 
conhecimento. 
 
Nesse sentido, confira-se o seguinte precedente do Superior Tribunal de 
Justiça: “A execução da sentença penal somente pode ser dirigida contra o 
condenado, pois ele foi parte no processo penal. Contra o patrão 
indispensável será que se proponha a ação ordinária civil” (STJ, 4a T., REsp. 
nB 109060-DF, Rei. Min. Barros Monteiro, v. u., j. 24-2-97, DJU 12-5-97, p. 
18.813). 
 
Em sentido contrário, confira-se: l e TAC/SP RT 706/99 (precedente 
fundamentado na responsabilidade solidária entre o responsável por ato 
próprio e o por ato de terceiro). 
 
 
 
 
 
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Reflexos da sentença penal absolutória 
 
Por outro lado, tendo em vista a distinção entre a responsabilidade civil e a 
penal, notadamente no tocante à finalidade de cada uma, situação já 
examinada, tem-se que a sentença penal absolutória, por seu turno, não 
implica, em geral, óbice para o ajuizamento da ação civil, buscando a 
reparação do dano suportado pela vítima. 
 
Dispõe o art. 66 do CPP que “não obstante a sentença absolutória no juízo 
criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, 
categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”. 
 
Bem por isso, levando-se em conta a fundamentação da sentença penal 
absolutória (incisos do art. 386 do CPP), esta produzirá ou não os efeitos da 
coisa julgada no cível. Temos, assim, as seguintes hipóteses: 
 
1. Faz coisa julgada no cível: 
 
• quando reconhecida, expressamente, a inexistência do fato ou de que o 
réu não foi seu autor (arts. 3 8 6 ,1 c/c 66, ambos do CPP e 935 do CC/2002). 
Há, no caso, um pronunciamento negativo a respeito da existência do fato 
ou de sua autoria, o que afasta o primeiro pressuposto da responsabilidade 
civil subjetiva clássica, já estudado; 
 
 
• quando reconhecido que o fato se deu na presençade uma das 
excludentes de ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, exercício 
regular de um direito ou estrito cumprimento de um dever legal). Aplica-se, 
aqui, o art. 65 do CPP 
 
Essa hipótese merece atenção, à medida que o efeito produzido no cível 
implica o reconhecimento, definitivo, da presença de tais excludentes de 
ilicitude. Contudo, isso não leva necessariamente à exoneração da 
obrigação do ofensor de reparar o dano causado. Basta lembrar que o 
dano provocado diante de uma conduta praticada em estado de 
necessidade (art. 188, II, do CC/2002) mantém 
a obrigação do causador direto do dano de repará-lo, garantindo-lhe 
apenas o direito regressivo contra a pessoa que gerou a situação de perigo. 
 
O mesmo cuidado deve-se ter com o ato praticado em legítima defesa. Isso 
porque apenas a legítima defesa real inviabiliza a obrigação de indenizar o 
dano suportado pelo agressor. De outra sorte, a legítima defesa putativa 
(erro quanto aos pressupostos de fato da excludente), ou a que causa dano 
a terceiro, não exclui a obrigação indenizatória, garantindo, apenas, e se for 
o caso, o direito regressivo, até porque a legítima defesa putativa não está 
contemplada na vedação do art. 65 do CPP o que leva, inclusive, à 
possibilidade de reapreciação dessa situação fática na esfera civil. 
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2. Não faz coisa julgada no cível: 
 
• quando a absolvição dá-se por falta ou insuficiência de provas para a 
condenação. Abre-se oportunidade à vítima de provar o ato ilícito civil no 
juízo respectivo; 
 
• quando a absolvição ocorre por inexistência de culpa do agente (art. 66 
do CPP). Nesse caso, os critérios para aferição da violação do dever de 
cuidado são diferentes no cível e no crime, sendo mais rigoroso neste último. 
Para que a vítima não fique ao desamparo, basta a culpa levíssima para 
fazer surgir a obrigação de reparar o dano; 
 
• quando reconhecido que o fato não constitui infração penal (art. 67 do 
CPP). Não havendo exata correspondência entre o ilícito penal e o civil, o 
fato, ainda que descartada a possibilidade de ser considerado ilícito penal, 
pode constituir ilícito civil; 
 
• quando reconhecida causa excludente de culpabilidade, como erro de 
proibição, coação moral irresistível, obediência hierárquica, 
inimputabilidade por doença mental, desenvolvimento mental incompleto 
ou embriaguez completa decorrente de caso fortuito ou de força maior. 
Nada impede, portanto, o ajuizamento de ação civil indenizatória, bem 
como a reapreciação desses fatos definitivamente reconhecidos na esfera 
criminal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Responsabilidade das pessoas jurídicas de direito privado 
 
Conceito de consumidor, fornecedor e produto 
 
Art. 1° 
O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, 
de ordem pública e interesse social... 
 
Normas de ordem pública e interesse social... 
 São inderrogáveis pelos interessados em uma determinada relação de 
consumo. 
 As partes ficam obrigadas a aceitar o que está previsto em lei, não 
podendo regular as relações jurídicas de forma diferente. 
 Normas de aplicação imediata. 
 O conteúdo dos contratos tem que se adaptar às suas 
inovações. 
 Por conta de sua incidência imediata, alcança os 
contratos em curso, de trato sucessivo. (O CDC não 
retroage para disciplinar contratos assinados antes da 
vigência em respeito ao ato jurídico perfeito e o direito 
adquirido. 
 
Art. 2° 
 Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto 
ou serviço como destinatário final. 
 
 Para que se considere que uma dada relação jurídica é ou não de 
consumo, a questão determinante é a destinação final do produto ou 
serviço e a vulnerabilidade de umas das partes envolvidas. 
 
Art. 2° Parágrafo único. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda 
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 
 
 Ao ampliar a concepção de consumidor, o CDC visou a alcançar 
aqueles que não são considerados destinatários finais, 
 mas que sofrem os efeitos da relação originalmente estabelecida. 
 
 
 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas 
as vítimas do evento. 
 
Com bastante freqüência, os danos causados por vícios de qualidade dos 
bens ou dos serviços não afetam somente o consumidor, mas terceiros, 
estranhos à relação jurídica de consumo. 
 
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Exemplos de propagação dos danos materiais ou pessoais: 
 
 acidentes de trânsito; 
 uso de agrotóxicos ou fertilizantes, com a conseqüente contaminação 
dos rios; 
 construção civil, quando há comprometimento dos prédios vizinhos. 
 
Em todos esses casos, o Código assegura o ressarcimento dos danos 
causados a terceiros que, para todos os efeitos legais, se equiparam aos 
consumidores. 
 
Como exemplo temos o acidente ocorrido no Plaza Shopping de Osasco em 
1996: 
 
A sentença GENERICAMENTE condenatória entendeu cabíveis indenizações 
por danos materiais e morais não apenas as pessoas que estavam 
diretamente ligadas às suas atividades, mas, também, as pessoas que 
estavam de passagem pelas dependências do estabelecimento, que 
passaram a ser reconhecidas como integrantes da relação de consumo. 
STJ 
 
Art. 3° 
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem 
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, 
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou 
prestação de serviços. 
 
Art. 3° 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, 
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de 
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter 
trabalhista. 
 
 Devemos excluir as relações de natureza tributária, pois, contribuinte 
não se confunde com consumidor. 
 De igual forma, serviços públicos prestados de maneira genérica e 
universal pelo Estado, na sua atividade de zelar pelo bem comum, 
não estão subordinados às regras do CDC, pelo fato da inexistência 
de remuneração. 
 
 
 
 
 
 
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Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo 
 
Art. 12 ao Art. 17 Da Responsabilidade pelo fato do produto ou serviço 
O CDC se ocupa: 
 
a) Dos vícios de segurança em sua Seção lI, arts. 12 ao 17, sob a rubrica 
Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço; 
 
b) E dos vícios de adequação em sua Seção III, arts. 18 a 25, 
disciplinando a Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço. 
 
Entende-se por defeito ou vício de qualidade a qualificação de desvalor 
atribuída a um produto ou serviço por não corresponder à legítima 
expectativa do consumidor: 
 
a) quanto à sua utilização ou fruição (falta de adequação); 
b) por adicionar riscos à sua integridade física (periculosidade); 
c) Ou, adicionar riscos ao seu patrimônio ou de terceiros. (insegurança) 
 
Existe uma distinção entre os dois modelos de defeito e responsabilidade, 
para exemplificar podemos considerar as seguintes situações jurídicas: 
a) um produto ou serviço pode ser defeituoso sem ser inseguro; 
b) um produtoou serviço pode ser defeituoso e, ao mesmo tempo, 
inseguro. 
 
Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço 
 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o 
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes 
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, 
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por 
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
 
RESPONSÁVEIS - Quando alude ao fornecedor, o Código pretende alcançar 
todos os partícipes do ciclo produtivo-distributivo, vale dizer, todos aqueles 
que desenvolvem as atividades descritas no art. 3º do CDC. 
 
A doutrina contempla as três categorias clássicas de fornecedores: 
 
a) fornecedor real, compreendendo o fabricante, o produtor e o 
construtor; 
b) fornecedor presumido, assim entendido o importador de produto 
industrializado ou in natura; 
c) fornecedor aparente, ou seja, aquele que apõe seu nome ou marca 
no produto final. 
 
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O comerciante, somente será responsabilizado em via secundária, isto é, se 
o fornecedor real, aparente ou presumido não puderem ser identificados. 
 
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo 
anterior, quando: 
 I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem 
ser identificados; 
 II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, 
produtor, construtor ou importador; 
 III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 
 Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado 
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, 
segundo sua participação na causação do evento danoso. 
 
Por fabricante entende-se não só aquele que fabrica e coloca no mercado 
de consumo produtos industrializados, como também o mero montador de 
componentes que serão incorporados ao produto final, como elemento 
integrativo. 
 
Produtor foi a designação dada pelo Código àquele que coloca no mer-
cado de consumo produtos não industrializados, abrangendo, com maior 
frequência, os produtos de origem vegetal ou animal. 
 
O construtor é aquele que introduz produtos imobiliários no mercado de 
consumo, através do fornecimento de bens ou serviços. Sua 
responsabilidade por danos causados ao consumidor pode decorrer dos 
serviços técnicos de construção, bem como dos defeitos relativos ao 
material empregado na obra. 
 
O importador de produtos industrializados ou in natura responde, também, 
por danos causados aos consumidores por eventuais defeitos de fabricação 
ou produção dos artigos importados. 
 
O fornecedor aparente está ligado à noção da franquia comercial: 
”contrato pelo qual o titular de uma marca de indústria, comércio ou serviço 
(franqueador) concede seu uso a outro empresário (franqueado), 
recebendo em troca determinada remuneração”. 
 
No âmbito das relações de consumo, a responsabilidade objetiva é 
denominada "responsabilidade pelo fato do produto e do serviço": 
 
Não interessa investigar a conduta do fornecedor, pois ele é responsável 
pelo simples fato de colocar produtos e serviços no mercado de consumo. 
 
 
 
 
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A abolição do elemento subjetivo da culpa na aferição da responsabilidade 
não significa exclusão dos pressupostos: 
 
a) Do eventus damni (dano), 
b) Do defeito do produto, 
c) Bem como relação de causalidade entre ambos. 
 
Assim sendo, um acidente de trânsito que, na ordem civil, é apurado 
mediante constatação dos danos e da conduta culposa do motorista, 
também pode ser apurado como acidente de consumo, se ficar 
demonstrado que os danos decorrem de um defeito no sistema de freios do 
veículo (defeito intrínseco, previsto no art. 12) ou da deficiência de 
sinalização do trânsito (defeito extrínseco, previsto também no art. 12, in 
fine). 
 
Nesta última hipótese, não se cogita da investigação da culpa, pois a 
responsabilidade deriva do fato do produto. (responsabilidade objetiva do 
fornecedor) 
 
A doutrina corrente costuma surpreender três modalidades de defeitos dos 
produtos: 
 
a) Defeito de concepção, também designado de criação, envolvendo 
os vícios de projeto, formulação, inclusive design dos produtos; 
b) Defeito de produção ou de fabricação, envolvendo os vícios de 
fabricação, construção, montagem, manipulação e 
acondicionamento dos produtos; 
c) Defeito de informação ou de comercialização, que envolve a 
apresentação, informação insuficiente ou inadequada, inclusive a 
publicidade. 
 
Enquanto os defeitos de concepção e de produção configuram defeitos 
intrínsecos aos respectivos produtos, os defeitos de informação são 
extrínsecos, pois dizem respeito às instruções que devem acompanhar, 
externamente, qualquer produto idôneo no mercado de consumo. 
 
Causas excludentes de responsabilidade 
 
Art. 12. O fabricante... 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
 I - que não colocou o produto no mercado; 
 II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito 
inexiste; 
 III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
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As hipóteses de caso fortuito e força maior, descritas no art. 393 do Código 
Civil como eximentes da responsabilidade na ordem civil, não estão 
elencadas entre as causas excludentes da responsabilidade pelo fato do 
produto. Contudo: 
 
a) Instalando-se na fase de concepção ou durante o processo produtivo, o 
fornecedor não pode invocá-Ia para se subtrair à responsabilidade por 
danos. 
 
b) Se manifesta após a introdução do produto no mercado de consumo, 
ocorre uma ruptura do nexo de causalidade que liga o defeito ao evento 
danoso. Vale dizer, fica afastada a responsabilidade do fornecedor pela 
inocorrência dos respectivos pressupostos. 
 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores 
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 
 § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais: 
 I - o modo de seu fornecimento; 
 II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
 III - a época em que foi fornecido. 
 § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas 
técnicas. 
 § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando 
provar: 
 I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
 II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde... 
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada 
mediante a verificação de culpa. 
 
 O § 4º abre uma exceção ao princípio da objetivação da responsabilidade 
civil por danos. 
 Trata-se do fornecimento de serviços por profissionais liberais cuja 
responsabilidade será apurada mediante verificação de culpa. 
 Explica-se a diversidade de tratamento em razão da natureza intuitu 
personae dos serviços prestados por profissionais liberais. 


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