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1 
Original - Kant 
 
Trecho traduzido de: KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura (Kritik der reinen 
Vernunft). Berlin: Insel Verlag, 1998, Seiten 69-70. 
 
Doutrina Transcendental dos Elementos 
Primeira Parte 
A Estética Transcendental 
 
“De qualquer maneira e por qualquer meio que um conhecimento possa relacionar-
se com objetos, o modo como ele se refere imediatamente a objetos e ao qual, 
como um meio, tende todo o pensamento é a intuição. Esta, contudo, só ocorre na 
medida em que o objeto nos for dado; isto só é possível, pelo menos a nós 
homens, na medida em que o objeto afeta, de certa maneira, o espírito. A 
capacidade (receptividade) de obter representações segundo o modo como somos 
afetados por objetos denomina-se sensibilidade. Portanto, por intermédio da 
sensibilidade nos são dados objetos e apenas ela nos fornece intuições; mas é pelo 
entendimento que são os objetos pensados, dele originando-se os conceitos. No 
entanto, todo pensamento deve, por meio de certos caracteres – seja direta ou 
indiretamente –, relacionar-se, por fim, com intuições e, conseqüentemente, em 
nós, com a sensibilidade, porque de outro modo nenhum objeto pode nos ser dado. 
A impressão de um objeto sobre a capacidade de representação, enquanto somos 
afetados por ele, é a sensação. A intuição que se relaciona com o objeto por meio 
de sensação denomina-se empírica. O objeto indeterminado de uma intuição 
empírica cognomina-se de fenômeno. 
Denomino matéria em nível do fenômeno, o que corresponde à sensação; o 
que faz com que a diversidade do fenômeno possa ser ordenada [segundo] certas 
relações, nomeio a forma do fenômeno. Dado que aquilo em que as sensações 
unicamente podem coordenar-se, [tornando-se suscetíveis de adquirirem] uma 
certa forma, não pode ser, em contrapartida, sensação, segue-se que a matéria de 
todo fenômeno, em verdade, [é] dada somente para nós a posteriori, devendo, 
porém, sua forma estar em conjunto pronta no [universo pertinente ao] espírito, 
[podendo] ser, por isso, considerada separadamente de toda sensação. 
Denomino puras (em sentido transcendental) todas as representações em que não 
for encontrado nada pertencente à sensação. Conseqüentemente, é a forma pura 
de intuições sensíveis em geral – na qual toda a diversidade dos fenômenos vem 
intuída [segundo] certas relações – encontrada a priori [em nível] do espírito. Esta 
forma pura da sensibilidade denomina-se, também, ela mesma, intuição pura. 
Assim, quando [abstraio] da representação de um corpo o que o entendimento 
 
 
 
 
 2 
pensa (...) como substância, força, divisibilidade etc., bem como o que pertence à 
sensação, como impenetrabilidade, dureza, cor etc., resta para mim algo dessa 
intuição empírica, a saber, [a] extensão e [a] figura. Estas pertencem à intuição 
pura, a qual ocorre a priori em nível do espírito, mesmo independentemente de um 
objeto real dos sentidos, ou, [de qualquer] sensação, na qualidade de uma forma 
simples da sensibilidade. 
Cognomino de Estética transcendental∗ a ciência de todos os princípios da 
sensibilidade a priori. É necessário, assim, [pressupor-se a existência] de uma 
ciência [desta espécie], que constitui a primeira parte da doutrina transcendental 
dos elementos, em oposição àquela que contém os princípios do pensamento puro, 
a qual se chamará de lógica transcendental. 
Por conseguinte, isolaremos o [estudo da] sensibilidade em nível da estética 
transcendental, abstraindo-nos do que o entendimento, aí, pensa através de seus 
conceitos, para que não reste nada que [não] seja a intuição empírica. 
Descartaremos, em segundo lugar, tudo o que pertence à sensação, para que não 
permaneça nada a não ser a intuição pura e a simples forma dos fenômenos, única, 
por sua vez, que pode fornecer, a priori, a sensibilidade. Encontrar-se-á, desta 
investigação, que há duas formas puras de intuição sensível, [dimensionadas] como 
princípios do conhecimento a priori, a saber, o espaço e o tempo (...)”. 
 
 
 
∗ “Os alemães são os únicos que se utilizam atualmente da palavra estética para designar o que os 
outros cognominam de crítica do gosto. Esta denominação tem por fundamento uma esperança 
malograda, forjada pelo excelente analista Baumgarten, de submeter o julgamento crítico do belo a 
princípios racionais, elevando suas regras, [por sua vez], à [dimensão de uma] ciência. Todavia, este 
esforço é em vão. Tais regras, ou critérios, quanto às suas principais fontes, são simplesmente 
empíricas, e não podem jamais, por conseguinte, servir de leis a priori determinadas sobre as quais se 
deveria regular nosso julgamento do gosto, sendo este, preferencialmente, que constituiria a pedra de 
toque de exatidão das [referidas] regras. Por isto, é conveniente ou renunciar a esta denominação, 
reservando-a à doutrina [que estamos expondo] a qual é uma verdadeira ciência (aproximar-se-ia, 
assim, da linguagem e do sentido [de doutrinas pertinentes] aos antigos, para os quais a divisão do 
conhecimento em αισθητα χαι νοητα foi célebre), ou de seguir esta denominação em nível da filosofia 
especulativa, extraindo ora um sentido transcendental, ora uma significação psicológica, da Estética”.

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