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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

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Prévia do material em texto

Ivo José Triches
Cláudio Joaquim Rezende
Luciano D. da Silva
Natalina Triches 
Wanderley Machado
 
Fundamentos Filosóficos da Educação
Fundamentos Filosóficos 
da Educação
Fu
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to
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Fi
lo
só
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os
 d
a 
Ed
uc
aç
ão
9 7 8 8 5 7 6 3 8 1 6 6 2
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-7638-166-4
Fundamentos Filosóficos 
da Educação
Autores
Ivo José Triches
Cláudio Joaquim Rezende
Luciano D. da Silva
Natalina Triches 
Wanderley Machado
2009
Sumário
Convite à Filosofia ...............................................................................................................5
Etimologia da palavra Filosofia ...............................................................................................................5
A atitude filosófica ...................................................................................................................................5
Para que Filosofia? ...................................................................................................................................6
A Filosofia e o senso comum ...................................................................................................................7
Filosofia: nem dogmatismo nem ceticismo .............................................................................................8
O contexto de Sócrates e o nascimento da moral ocidental .................................................9
Visão panorâmica da História da Filosofia ..............................................................................................9
O apogeu da Filosofia grega ....................................................................................................................10
Platão e o nascimento da razão ocidental ............................................................................13
Aspectos da vida e obra de Platão ...........................................................................................................13
A influência de sua obra no processo ensino-aprendizagem ...................................................................14
Aristóteles e a Filosofia como totalidade dos saberes ..........................................................17
Aspectos gerais da vida e obra de Aristóteles ..........................................................................................17
Somente o individual é real .....................................................................................................................18
A importância da lógica formal ...............................................................................................................19
Teoria das Quatro Causas ........................................................................................................................19
Visão do homem, da ética e da política ...................................................................................................20
De Aristóteles à Renascença ................................................................................................25
O Período Helenístico ..............................................................................................................................25
A Filosofia na Idade Média ......................................................................................................................26
O Renascimento cultural ..........................................................................................................................27
O pensamento de Baruch Espinoza ......................................................................................29
Aspectos gerais de sua vida – a diáspora .................................................................................................29
Os conflitos na comunidade .....................................................................................................................29
A sua Filosofia .........................................................................................................................................30
Racionalismo absoluto .............................................................................................................................31
A virtude da alma é pensar .......................................................................................................................32
A Ética da alegria e da liberdade .............................................................................................................33
Direito Natural e estado de natureza ........................................................................................................33
O Iluminismo e o Século das Luzes .....................................................................................35
A relação do Iluminismo com os outros dois grandes acontecimentos do século XVIII ........................35
Os iluministas como ideólogos da burguesia ...........................................................................................36
Os principais representantes ....................................................................................................................37
As consequências do Iluminismo ............................................................................................................37
A presença do pensamento iluminista em nossa realidade ......................................................................38
Immanuel Kant e o idealismo alemão ..................................................................................39
Aspectos gerais de sua vida .....................................................................................................................39
O racionalismo e o empirismo do século XVII .......................................................................................40
A revolução copernicana proposta por Kant ............................................................................................41
A ética kantiana ........................................................................................................................................44
Contribuição de Kant na Educação ..........................................................................................................44
A dialética idealista e materialista de Hegel e Marx ............................................................47
Breve histórico .........................................................................................................................................47
Dialética idealista .....................................................................................................................................49
A lógica tradicional e a dialética idealista ...............................................................................................50
O movimento dialético idealista ..............................................................................................................50
A dialética materialista ............................................................................................................................51
O movimento dialético materialista .........................................................................................................53
Schopenhauer: o mundo como representação ......................................................................55
Aspectos gerais de sua vida .....................................................................................................................55
Sua relação com Hegel ............................................................................................................................55
“O mundo é representação minha” ..........................................................................................................56
O mundo como vontade...........................................................................................................................56
Contribuição de Schopenhauer para a Educação .....................................................................................57
O positivismo e o desenvolvimento da ciência ....................................................................59
Lineamentos gerais ..................................................................................................................................59
Auguste Comte e a Lei dos Três Estados .................................................................................................61
Nietzsche e o fortalecimento do sujeito (1844-1900) ..........................................................63
Aspectos gerais de sua vida .....................................................................................................................63
O desmistificador dos falsos valores ........................................................................................................64
O predomínio do “espírito apolíneo” .......................................................................................................64
O projeto filosófico de Nietzsche educador .............................................................................................65
A Escola de Frankfurt ..........................................................................................................67
Um pouco de sua história ........................................................................................................................67
Em que consistiu a teoria crítica? ............................................................................................................67
Duas correntes filosóficas: o pragmatismo e o existencialismo ..............................................71
O pragmatismo .........................................................................................................................................71
O existencialismo de Jean-Paul Sartre .....................................................................................................72
Filosofia e Educação ............................................................................................................75
A Filosofia da Educação ..........................................................................................................................75
O ato de educar ........................................................................................................................................76
Ética e Educação ..................................................................................................................79
Conceito de valor .....................................................................................................................................79
A diferença entre Ética, Moral e Moralismo ...........................................................................................80
Ética, Educação e algumas características da pós-modernidade .............................................................81
Filosofia e a formação humana na escola ............................................................................85
As três dimensões da existência humana .................................................................................................85
Conceito de interseção .............................................................................................................................86
A crise da modernidade e a questão da Educação ...................................................................................86
O processo do filosofar na Educação Infantil ......................................................................89
Por que Filosofia para crianças? ..............................................................................................................89
Algumas sugestões metodológicas ..........................................................................................................90
Referências ...........................................................................................................................93
Convite à Filosofia
Ivo José Triches1
Cláudio Joaquim Rezende2
A verdadeira Filosofia é reaprender a ver o mundo.
Merleau-Ponty
Não se pode aprender a Filosofia; 
somente se pode aprender a filosofar.
Kant
Etimologia da palavra Filosofia
Q uando olhamos para a Filosofia, considerando a natureza do seu objeto de estudo, podemos perceber a importância de estudarmos a etimologia de cada novo conceito por nós investigado. Se procedermos dessa ma-
neira, perceberemos que a capacidade de reflexão acerca de um dado fenômeno 
tornar-se-á mais fecunda. 
Podemos perceber que o conceito de Filosofia, quando olhado sob seu viés 
etimológico, pode ser assim compreendido:
 Phylos = amigo, amor
 Sophya = sabedoria
Daí: “amor à sabedoria.”
Esse termo foi inicialmente elaborado por Pitágoras (séc. VI a.C.) e designa 
a procura amorosa pela verdade, pelo conhecimento. É nesse sentido que Aristó-
teles define a Filosofia como a “ ciência da verdade.”3
Por isso, aquele que desejar ter uma postura filosófica frente ao mundo pre-
cisa, inicialmente, buscar o conhecimento como um ato de prazer, ou seja, como o 
amante que procura seu par pelo mais puro desejo de estar com o mesmo.
A atitude filosófica
Em que consiste uma atitude filosófica? Quando, de fato, estão os envolvi-
dos no processo do filosofar? O que há de fundamental na atitude filosófica é a 
sua capacidade de indagar. Perguntar o que a coisa é; perguntar como a coisa é, e, 
ainda, perguntar por que a coisa é assim4 são questões que fazem parte da atitude 
de alguém que quer colocar-se numa postura filosófica frente ao mundo.
Foi considerando acima a ideia de que a Filosofia é um conhecimento ins-
tituinte, à medida que questiona o saber instituído. O saber instituído pode ser 
1Mestre em Engenharia de Produção pela Uni-
versidade Federal de Santa 
Catarina (UFSC). Especialis-
ta em Filosofia Política pela 
Universidade federal do Pa-
raná (UFPR). Graduado em 
Filosofia pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Paraná 
(PUCPR).
2Cláudio Joaquim Rezen-de. Professor na Facul-
dade Bagozzi Ctba. Direito 
de pesquisa do Centro de 
pós-Graduação da Faculdade 
Bagozzi Curitiba
3Esta afirmação está inse-rida no contexto da elabo-
ração no verbete Filosofia no 
Dicionário de Filosofia de Ja-
cqueline Russ. Uma obra que 
recomendamos como leitura 
de apoio para aqueles que de-
sejam aprofundar-se no tema 
em questão. Na sua obra Me-
tafísica, Aris tóteles afirmou: 
“É [...] a justo título que se 
chame a Filosofia como a ci-
ência da verdade.”
4Quando perguntamos o que a coisa é, estamos fa-
lando de qualquer coisa. Lem-
brar-se sempre de que não há 
nada sobre o que a Filosofia 
não possa debruçar-se.
Fundamentos Filosóficos da Educação
6
compreendido como o saber já posto, como tudo aquilo que se afirma num de-
terminado momento, no mundo da cultura. Nesse processo de indagação acerca 
desse saber institucionalizado, o homem vai dando um novo significado ao mundo 
e à sua própria existência.
Outro aspecto é que o conteúdo da reflexão filosófica, o tecido do seu pen-
sar, é a trama dos acontecimentos do cotidiano. É por isso que nesse processo de 
indagação estão presentes os temas mais diversos, que nos causam preocupação. 
Buscamos conhecê-los para podermos viver melhor. Nesse sentido, 
a Filosofia caracteriza-se por ser uma busca incessante do sentido último das coisas, um 
saber universal acerca das questões fundamentais. Tem como finalidade compreender o 
significado da existência humana em seus diferentes aspectos, bem como as relações entre 
o homem, Deus e o mundo. (SOUZA, 1995, p. 64)
Na atitudefilosófica, está implícito o pressuposto de que não podemos acei-
tar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valo-
res em geral, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais devemos 
aceitá-los sem, antes, havê-los investigado e compreendido.
Por ser seu papel questionador, o filósofo acaba confrontando-se com o po-
der. Toda vez que algum detentor de poder5 deseja fazer com que uma determina-
da situação permaneça inalterada – uma vez que dela obtém privilégios – ele não 
aceita a possibilidade de mudanças. É por esta razão que os filósofos são odiados 
em tempos de ditaduras.
Por fim, mas não por último, indicamos as três principais questões que cer-
tamente ajudarão a situarmo-nos no “clima da Filosofia”: por que pensamos o que 
pensamos? Por que dizemos o que dizemos? Por que fazemos o que fazemos?
Com base nessas questões, poderíamos refletir sobre a Educação Infantil: 
por que tenho essas ideias acerca das crianças? Será que não há outra maneira de 
ver o processo de constituição da infância? Por que falo dessa maneira sobre ou 
com nossas crianças? Existe outra maneira de falar sobre ou com as crianças com 
as quais trabalho ou pretendo trabalhar? Por que me comporto dessa maneira em 
relação ao que as crianças fazem? Será que não há outra maneira de comportar-me 
em face ao comportamento das crianças? Essas questões, uma vez refletidas, cer-
tamente vão nos ajudar a compreendermos melhor o que desejamos fazer, quando 
estamos envolvidos nesse trabalho.
Para que Filosofia?
A Filosofia é um dos únicos, senão o único, conhecimento questionado. Como 
bem lembrou Marilena Chauí6 (1994, p. 17), é muito raro alguém perguntar: para 
que Medicina? Para que a Pedagogia? A Física é realmente importante? No entan-
to, a indagação “para que Filosofia?” é muito comum. Como vivemos numa cultu-
ra que somente valoriza o que tem alguma finalidade prática e de utilidade imediata, 
o conhecimento filosófico parece supérfluo e é colocado sob suspeita.
Contudo, quando não nos contentamos apenas com o que é imediatamente útil 
e desejamos formar uma visão abrangente daquilo que aparece de modo fragmentado 
5Os políticos profissionais no Brasil, de modo geral, 
são especialistas nisso.
6A bibliografia dessa au-tora, Convite à Filosofia 
(Editora Ática), torna-se 
uma leitura complementar 
necessária para aqueles que 
desejam saber mais sobre a 
importância da Filosofia em 
nossa existência.
Convite à Filosofia
7
em nossa experiência cotidiana, então, necessitamos da Filosofia. Retomando a 
reflexão de Marilena Chauí, é possível elencar uma série de argumentos que evi-
denciam a razão de ser da Filosofia.
A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos cien-
tíficos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religio-
sas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações 
das obras de arte e do trabalho artístico. Não é Sociologia nem Psicologia, mas a inter-
pretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é 
política, mas a interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as for-
mas do poder. Não é História, mas interpretação do sentido dos acontecimentos enquanto 
inseridos no tempo e na compreensão do que seja o próprio tempo. Conhecimento do co-
nhecimento da ação humana, conhecimento da transformação temporal dos princípios do 
saber e do agir, conhecimento das mudanças das formas do real ou dos seres; a Filosofia 
sabe que está na História e que tem uma história. (CHAUÍ, 1994, p. 17)
É por tudo isso que a Filosofia somente se realiza pela reflexão. Diante do 
processo de reflexão, o homem percebe-se como um ser de transcendência. E o 
que significa essa possibilidade transcendente? Enfim, a transcendência é mesmo 
possível? Estamos convencidos de que sim.
O homem está sempre diante da necessidade do possível, ou seja, cotidia-
namente precisamos fazer escolhas. No ato de escolher, está implícita a existência 
da liberdade.
Portanto, ao perceber-se como um ser livre, o homem passa também a entender 
que pode mudar as condições materiais em que está inserido, se assim desejar. Ao 
fazer isso, ele altera não apenas as suas relações com a natureza, mas também a sua 
própria relação com os demais atores sociais. Desse modo, a transcendência significa 
que podemos historicamente alterar as condições em que fomos formados. Ao termos 
consciência de que podemos mudar tais condições, perceberemos que dias melhores 
virão, se assim desejarmos.
É por esta razão que se justifica, mais uma vez, a importância da Filosofia 
em nosso cotidiano como educadores: ela impede a estagnação e dá sentido à 
experiência. Por exemplo: será que eu, diante do meu fazer pedagógico, posso 
contribuir para que a transcendência possa ocorrer com meu aluno? Será que eu 
posso contribuir para que as crianças cresçam de forma autônoma?
A Filosofia e o senso comum
Quando nos referimos ao conceito “senso comum”, estamos referindo-nos 
ao conhecimento fragmentado da realidade. Mas o que significa termos um co-
nhecimento fragmentado da realidade? Platão definia esse tipo de conhecimento 
como doxa (opinião). Assim, o conhecimento no âmbito do senso comum pode 
ser compreendido como um conhecimento que se manifesta apenas em forma das 
 opiniões que temos sobre as questões do nosso cotidiano. Em outras palavras: emi-
timos parecer sobre tudo o que nos cerca, no entanto, nessas opiniões, falta-nos 
uma visão da totalidade. Não conseguimos perceber que tudo se encontra ligado, 
ou seja, para que possamos ter uma visão da totalidade de um fenômeno, torna-se 
necessário compreendermos os fenômenos na relação que eles têm entre si.
Fundamentos Filosóficos da Educação
8
Quando abordamos a diferença entre o conhecimento filosófico e o senso co-
mum, procuramos fazer tal distinção à luz do pensamento de Platão. Muito embora 
ele tenha estabelecido vários níveis de compreensão da realidade, destacamos os dois 
principais: a doxa e a episteme. Um ator social que vive no âmbito da doxa é alguém 
que localiza sua existência apenas no senso comum. Pensar os problemas a partir da 
episteme (ciência) é pensá-los à luz da Filosofia. Essa expressão designa a capacidade 
de olharmos para os fenômenos de maneira sistematizada. Uma reflexão somente é 
sistemática se for rigorosa, radical e de conjunto. Para explicitar a importância desses 
conceitos dentro do processo do filosofar, valemo-nos do comentário realizado por 
Maria Lúcia de Arruda Aranha7:
A Filosofia é radical porque vai até as raízes da questão. A palavra latina radix, radicis 
significa literalmente “raiz” e, no sentido derivado, “fundamento”, “base”. Portanto, a 
Filosofia é radical enquanto explica os fundamentos do pensar e do agir.
A Filosofia é rigorosa porque, enquanto a Filosofia de vida não leva suas conclusões até 
as últimas consequências, o filósofo especialista dispõe de um método claramente expli-
citado, que permite proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica. 
Para justificar suas afirmações com argumentos, faz uso de uma linguagem rigorosa, que 
permite definir claramente os conceitos, evitando a ambiguidade típica das expressões 
cotidianas. Para conseguir essa linguagem, o filósofo inventa conceitos, cria expressões 
novas ou altera e especifica o sentido de palavras usuais.
A Filosofia desenvolve uma reflexão de conjunto porque é globalizante, examina os pro-
blemas sob a perspectiva do todo, relacionando os diversos aspectos. Enquanto as ciências 
examinam “recortes” da realidade, a Filosofia, além de poder examinar tudo (porque nada 
escapa ao seu interesse), também visa o todo, a totalidade. (ARANHA, 2002, p. 107).
Desse modo, ousamos afirmar que toda forma de analfabetismo contribuipara que 
o homem permaneça no senso comum, e fique sujeito a toda forma de alienação. Razão 
pela qual o processo do filosofar torna-se relevante para o fazer pedagógico. Alfabeti-
zar pode significar a superação do senso comum, rumo a uma postura crítica.
Filosofia: nem dogmatismo nem ceticismo
Novamente, aqui, torna-se relevante o estudo da etimologia desses conceitos. 
Skeptikós significa aquele “que observa”, “que considera”. Desse modo, o cético tan-
to observa e tanto considera, que conclui pela impossibilidade do conhecimento.
Ao passo que dogmatikós significa aquele “que se funda em princípios”. As-
sim, dogmático é todo aquele que se apega à certeza de uma doutrina. Em que 
consiste um dogma? Dogma pode ser compreendido como sendo o princípio funda-
mental e indiscutível de uma determinada doutrina ou teoria. É interessante obser-
var que, quando nos referimos a esse conceito, não estamos referindo-nos apenas ao 
campo das religiões. Toda vez que alguém deseja explicar algo, fazendo-o parte do 
pressuposto de que sua explicação é “a verdade”, faz isso com base num dogma.
Por esta razão, tanto o cético quanto o dogmático acabam produzindo uma visão 
imobilista do mundo. A Filosofia, ao contrário, é movimento, pois o mundo é movi-
mento. Se queremos ter uma postura filosófica frente ao mundo, devemos partir do 
princípio que nós mesmos estamos sujeitos a mudar nossa visão acerca das coisas. 
“A Filosofia é a procura da verdade, não a sua posse” (ARANHA, 1988, p. 51).
7Recomendamos como lei- tura complementar os li-
vros dessa autora. Entre eles, 
Filosofando e Filosofia da 
Educação. Ambos da Editora 
Moderna.
O contexto de Sócrates 
e o nascimento da 
moral ocidental
Ivo José Triches
Diferentemente dos sofistas, Sócrates não se apresenta como professor. Pergunta, não 
responde. Indaga, não ensina. 
Marilena Chauí
Visão panorâmica da História da Filosofia
G ostaríamos, inicialmente, de enfatizar que, ao nosso entendimento, exis-tem duas concepções didáticas básicas no momento em que vamos estu-dar um determinado assunto.
Alguns professores, ou instituições, preferem fazer um determinado recorte 
temático e aprofundá-lo ao máximo. Por exemplo: ao decidirmos estudar a História 
da Filosofia, escolhemos um determinado pensador da Filosofia antiga (no caso em 
questão) e o estudamos à exaustão. Conheceremos muito do autor escolhido, mas 
deixamos de olhar para os demais pensadores desse período.
No entanto, em uma outra concepção – da qual somos partidários – em vez 
de aprofundar-se num determinado autor, prefere-se apresentar uma visão pano-
râmica do assunto, deixando o aprofundamento por conta dos interessados. Por 
analogia1, quando desejar conhecer uma determinada cidade, posso inicialmente 
pegar uma aeronave e sobrevoá-la. Assim, terei uma visão geral (panorâmica) da 
cidade que escolhi conhecer. Depois, descerei dessa aeronave e poderei percorrer 
as ruas. Ao fazer isso, a cada dia que passa, verei que meus conhecimentos sobre 
a mesma serão cada vez maiores.
Tanto na forma de apresentarmos esses textos de apoio às aulas, como na 
própria forma em que as aulas foram construídas, partimos desse pressuposto, 
qual seja: de que primeiro necessitamos ter uma visão panorâmica sobre o assunto 
escolhido. Depois, poderemos aprofundá-lo ao longo dos nossos dias.
Assim, como temos o objetivo de mostrar os principais acontecimentos que 
possibilitaram o surgimento do pensamento socrático e sua influência sobre a mo-
ral ocidental, buscamos apresentar uma visão panorâmica do pensamento grego, 
para que o tema possa ser mais bem compreendido.
O pensamento filosófico grego pode ser compreendido em três períodos: perío-
do pré-socrático ou cosmológico, que nasce com Tales de Mileto2 e vai até Sócrates3; 
o período antropológico4 ou socrático, que vai de Sócrates até Aristóteles; por fim, 
1Analogia em Filosofia um raciocínio por semelhan-
ça. Consiste em apresentar-
mos uma determinada ideia 
não na forma literal, mas nos 
utilizando de algo como com-
paração. É um bom recurso 
didático para ser utilizado 
no processo ensino-aprendiza-
gem, seja na Educação Básica 
ou na Educação Superior.
2Tales de Mileto é consi-derado o primeiro filóso-
fo grego. Pelo próprio enten-
dimento da razão, procurou 
encontrar uma explicação 
sobre a origem de todas as 
coisas, que, segundo ele, era 
a água.
3Esse período se situa his-toricamente entre o final 
do séc. VII ao séc. V a.C.
4A etimologia desse con-ceito indica o objeto de 
investigação desse período, 
ou seja, em grego, antropos 
quer dizer homem.
Fundamentos Filosóficos da Educação
10
tivemos o período helenístico-romano, que vai dos grandes sistemas cosmopoli-
tas5 – do século IV a.C. – até o final do Império Romano do Ocidente.
O apogeu da Filosofia grega
O século V a.C., na Grécia, foi marcado por uma época na qual uma série 
de acontecimentos contribuíram para fazer com que esse período marcasse toda 
a História Ocidental. O conceito de democracia – para citar um entre tantos – tão 
difundido em nossos dias, tem sua origem nessa época. No campo da Filosofia, as 
coisas também não são diferentes. Seu apogeu no mundo grego está relacionado a 
esse período. Os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles são expressões disso. Nes-
te texto, abordaremos algumas ideias relacionadas ao pensamento de Sócrates.
Com os sofistas e Sócrates, a Filosofia mudou o eixo de suas investigações. 
A preocupação com os fenômenos da natureza6, que esteve presente nos filósofos 
anteriores, começa a ser deixada de lado. Agora, a Filosofia volta-se para o próprio 
homem. Começa-se a refletir sobre o mundo e a cultura. O objeto da Filosofia, a 
partir desse instante, passa a ser o próprio homem.
Alguns aspectos relacionados à vida de Sócrates
Sobre Sócrates, o que sabemos é que ele
[...] nasceu em Atenas em 470/469 a.C. e morreu em 399 a.C., em virtude de uma condena-
ção por “impiedade” (foi acusado de não crer nos deuses da cidade e corromper os jovens; 
mas, por detrás das acusações, escondiam-se ressentimentos de vários tipos e manobras 
políticas). Era filho de um escultor e uma obstetriz (parteira). Não fundou uma escola, 
como os outros filósofos, realizando o seu ensinamento em locais públicos (nos ginásios, 
nas praças públicas, etc) como uma espécie de pregador leigo, exercendo um imenso fas-
cínio não somente sobre os jovens, mas também sobre os homens de todas as idades, o que 
lhe custou inúmeras aversões e inimizades. (REALE e ANTISERI, 1990, p. 85)
Outro aspecto relevante da vida de Sócrates é que, muito embora ele seja 
um dos pensadores gregos mais conhecidos, nunca escreveu nada. O que sabe-
mos sobre sua vida chegou a nós principalmente por Platão e Xenofonte. Esses 
foram seus discípulos mais ilustres.
Em relação a esse aspecto, Reale e Antiseri (1990, p.861) comentam que 
Platão tinha tamanha consideração por Sócrates que 
na maior parte dos seus diálogos, Platão idealiza Sócrates e o faz porta-voz também de 
suas próprias doutrinas: desse modo, é dificílimo estabelecer o que é efetivamente de 
Sócrates nesses textos e o que, ao contrário, representa pensamentos e reelaborações 
de Platão. (1990, p. 86)
 Algumas ideias de Sócrates que marcaram 
a formação da nossa moral ocidental
Inicialmente, gostaríamos de destacar um fato relevante na vida de Sócra-
tes que contribuiu em nossa formação ao longo desses anos e que, certamente, 
5Os principais movi-mentos dessa época: o 
epicurismo, o estoicismo e o 
ceticismo.
6Os pré-socráticos são também chamados de 
filósofos da na tureza porque 
sua preocupação consistia na 
tentativa de explicar racio-
nalmente a origem e a causa 
dos fenômenos naturais de 
sua época. São vários. Para 
citar alguns: Tales de Mileto, 
Anaxágoras, Anaxímenes, 
Anaximandro, Parmênides, 
Heráclito, Demócrito, entre 
outros.O contexto de Sócrates e o nascimento da moral ocidental
11
contribuirá em sua formação. Ousamos afirmar que contribuirá também no seu 
fazer pedagógico, quando estiver trabalhando com seus alunos. Que fato foi 
esse? Quando Sócrates foi acusado de corromper a juventude por conta de suas 
ideias e questionado se de fato havia falado tais coisas para os jovens, ele não 
hesitou e disse que “sim”. Foi condenado a beber cicuta7. Os discípulos elabo-
raram um plano de fuga para ele. No entanto, ele não aceitou. Disse que não 
abriria mão de seus princípios. Bebeu o veneno e morreu. A grande lição: a 
verdadeira força vem de não mentirmos, mesmo que sejamos prejudicados se 
contarmos a verdade. Essa se constitui em um valor que perpassa gerações. A ho-
nestidade é um dos valores éticos de maior importância nas relações interpessoais 
e temos a demonstração empírica que nos foi deixada por Sócrates.8
Outro aspecto que ele salientava era de que o homem devia preocupar-se 
com aquilo que é mais sagrado para si. Qual seja: o conhecimento de si mesmo. 
Daí sua máxima: gnothi seauton – conhece-te a ti mesmo.
O aludido preceito socrático pretende mais do que orientar o indivíduo ao simples conhe-
cimento de si próprio. Seu alcance é maior: é um convite, conforme viu um estudioso da 
Filosofia, ao aprofundamento da condição humana, do qual, acrescenta constantemente, 
nos desviamos quando levados pelo conhecimento enciclopédico sobre a natureza das 
coisas. (PENHA, 1994, p. 33)
Partindo desse pressuposto, Sócrates constrói uma ética racionalista, na 
qual a virtude passa a ter um papel fundamental. Mas, no que consiste a virtude? 
Antes de mais nada, ela se identifica com o conhecimento. Os gregos chamavam-
na areté, “significando aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é, 
ou melhor ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada 
coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 88). 
Desse modo, ele nos diz que a causa do mal é a ignorância. Se conhecêssemos 
o bem, não praticaríamos o mal. Por essa razão, o conhecimento de si mesmo é 
condição suficiente e necessária para a obtenção da areté. Assim, o autodomínio9 
e a liberdade são as bases para atingir-se a virtude. Para ele, o homem é o artífice 
da sua própria felicidade ou infelicidade. Mas, afinal, o que é o homem, para 
ele? “O homem é sua alma, enquanto é perfeitamente a sua alma que o distingue 
especificamente de qualquer outra coisa. E, por ‘alma’, Sócrates entende a nossa 
razão e a sede de nossa atividade pensante e eticamente operante” (REALE; 
ANTISERI, 1990, p. 87). Por isso afirmamos que a essência do homem – segundo 
Sócrates – é sua psyché.
Outra ideia relevante que encontraremos no pensamento socrático é a noção 
de humildade. Sua máxima tão conhecida entre nós, “sei que nada sei”, ilustra 
bem isso. Quando era elogiado por seus discípulos, ele fazia tal afirmação. Para 
demonstrar que esse era um valor incorporado em sua prática cotidiana, Sócrates 
construía suas afirmações a partir de uma relação dialógica com seus interlocuto-
res. Esses recursos didáticos, como a refutação, a ironia e a maiêutica, utilizados 
por muitos de nós, professores, têm sua gênese com Sócrates.
Sua mãe era parteira. Ele, por analogia, dizia-se parteiro das ideias. Assim dizia:
 A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das parteiras, com a diferença de eu 
não partejar mulheres, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu 
trabalho de parto. Porém, a grande superioridade de minha arte consiste [...] na faculdade 
7Cicuta: Gênero de plantas umbelíferas, venenosas, 
de tamanhos diversos, que 
crescem em pântanos e mon-
tanhas, das quais se extrai o 
veneno. (Fonte: Dicionário 
Aurélio).
8Essa é a grande discus-são que temos com os 
políticos, que, de modo geral, 
acusamos de não falarem a 
verdade em seus discursos e 
em suas ações.
9Hoje dá-se muita im-portância ao conceito de 
inteligência emocional como 
sendo um conceito contempo-
râneo. Mas, no que consiste a 
inteligência emocional? Con-
siste na capacidade de tomar-
mos uma decisão fria, racio-
nal em momentos de intensa 
emoção. Esse conceito pode 
ser melhor compreendido se 
entendermos bem o que Só-
crates nos diz sobre o autodo-
mínio. De fato, quantas vezes 
tomamos decisões baseadas 
em nossas emoções e depois 
nos arrependemos, dizen-
do que foi um mal. Por isso, 
pensamos que Sócrates tinha 
razão quando enfa tizava que 
decisões tomadas com base 
na razão podem ajudar-nos a 
vivermos melhor.
Fundamentos Filosóficos da Educação
12
de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma 
quimera ou faculdade ou fruto legítimo e verdadeiro. (apud PENHA, 1994, p. 35)
Em sua etimologia, o conceito ironia tem sentido bem diferente desse uti-
lizado em nosso cotidiano. Quando dizemos que alguém está sendo irônico co-
nosco, de modo geral, estamos querendo dizer que tal pessoa está com uma cara 
de “deboche”, que está fazendo “pouco caso” da gente e assim por diante. Desse 
modo, essa palavra tem um sentido pejorativo. Contudo, na sua origem, ironia 
significa “a arte de interrogar”. Quando Sócrates utilizava tal recurso, tinha por 
objetivo mostrar àquele com quem dialogava que o mesmo, na verdade, ignorava 
o que julgava conhecer. Desejava persuadi-lo, por meio desse processo de indaga-
ções, fazendo com que seu antagonista pudesse perceber sua própria ignorância 
diante de tantas indagações às quais está submetidos cotidianamente. Por meio 
dessas indagações, ele refutava as “verdades trazidas por seus interlocutores”.
Existe ainda uma outra coisa importante que gostaríamos de salientar quan-
do olhamos para a história de Sócrates. Sua postura como filósofo mostrou-nos 
que a Filosofia não é uma forma de conhecimento hermético, fechado, algo para 
poucos. Ele interpelava os transeuntes, aqueles que passavam pela praça. Discutia 
os temas do cotidiano com as pessoas. Refletia, por exemplo, sobre a liberdade, o 
amor, a amizade, a verdade etc.
Marilena Chauí – comentando a morte de Sócrates – diz que 
o maior erro dos juízes foi não terem ouvido o mais importante ensinamento de Sócrates, 
isto é, que todos os homens são iguais porque todos são capazes de ciência, todos são do-
tados de uma alma racional na qual se encontra a verdade e todos são capazes de virtude. 
Razão, ciência, verdade e virtude são universais e todos os homens são, por natureza, 
capazes delas. (CHAUÍ, 1994, p. 155)
Abordamos isso para mostrar que todos nós podemos nos dedicar a esse pro-
cesso da reflexão filosófica. Nosso juízo de valor vai no sentido de que basta von-
tade e dedicação. A Filosofia nasceu como uma tentativa do homem resolver seus 
problemas. Assim, entendemos que ela continua tendo um papel importante em 
nossa vida, à medida que nos ajuda a dar sentido à nossa existência.
Para aqueles que desejarem ir além da visão panorâmica, sugerimos a leitura dos autores 
Reale e Antiseri. São três volumes sobre a História da Filosofia, escritos numa linguagem acessí-
vel e já traduzidos para o português.
Platão e o nascimento 
da razão ocidental
Ivo José Triches
Quem é capaz de ver o mundo é filósofo, 
quem não é capaz, não o é. 
Platão
Aspectos da vida e obra de Platão
S eu nome, na verdade, era Aristócles. Ele nasceu em 428/427 a.C. e morreu em 347. Viveu, portanto, 80 anos. Platão era seu apelido, que estava asso-ciado às suas características físicas. Platos, em grego, significa “amplitude”, 
“largueza”, “extensão”. Como tinha a cabeça grande e um físico avantajado aos 
homens da época, recebeu esse apelido. Ocorre que existe um dado biográfico 
absolutamente essencial e que, por isso, torna-se necessário destacar, uma vez que 
acabou influenciando seu pensamento. Trata-se de sua origem social. Era filho da 
aristocraciaateniense. Seu pai orgulhava-se ao contar que, entre seus parentes, 
figurava o rei Codros. Sua mãe, por sua vez, sempre destacava que um de seus 
parentes havia sido Sólon1. Desse modo, foi quase natural que Platão visse na vida 
política o seu próprio ideal. A obra A República atesta isso.
Outro fato marcante na vida de Platão foi a morte de Sócrates. Sua decepção 
com o mundo da política começa, na verdade, um pouco antes, quando dois dos 
seus parentes mais próximos – Cármides e Crítias – participaram, de forma intensa, 
de um governo oligárquico2. Considerou que os métodos utilizados nas ações dos go-
vernantes dessa época eram facciosos e violentos e foram executados exatamente pe-
las pessoas nas quais ele depositava sua confiança. Ocorre que, no momento seguinte, 
o governo passa a ter um caráter mais democrático, e foi justamente nessa época que 
Sócrates foi condenado à morte. Daí seu desprezo pela democracia. Ele considerou 
a morte de Sócrates a maior injustiça de sua época, porque condenaram à morte um 
homem que, segundo ele, era o maior exemplo de filósofo de todos os tempos.
No tocante à sua obra, podemos destacar também a influência de Sócrates. 
É notório que, na produção de seus escritos, podemos perceber a influência de 
diversos filósofos pré-socráticos. Alguns com natureza de pensamento bem dife-
rentes, como Parmênides e Heráclito, por exemplo. Contudo, nenhuma influência 
foi tão grande quanto a de Sócrates, do qual foi um dos alunos mais ilustres.
É difícil separar-se aquilo que é de Sócrates ou de Platão em seus escritos. 
Por meio dos textos do segundo é que conhecemos as ideias do primeiro, e é por 
meio de Socrátes, tornado seu porta-voz, que conhecemos as ideias de Platão.
1Sólon (séc.640-560 a.C.) foi um estadista e poe-
ta ateniense. Autor de um 
código escrito de leis que 
introduziu grandes reformas 
no pri meiro quarto do século 
VI a.C., em Atenas. Essas leis 
enfraqueceram o poder da 
aristocracia, que se baseava 
somente nas características 
de nascimento. Sólon sub-
stituiu as leis draconia nas por 
um código menos seve ro, que 
persistiu como a base para as 
leis clássicas que surgiriam 
posterior mente.
2Em grego, oligarquia quer dizer governo de poucos.
Fundamentos Filosóficos da Educação
14
A influência de sua obra 
no processo ensino-aprendizagem
Como seus escritos são muitos3 e em diferentes áreas, abordaremos aqui 
 apenas alguns pontos que nos poderão auxiliar na compreensão da disciplina.
O conceito academia ou conhecimento acadêmico, tão difundido em nossos 
dias, tem sua origem com Platão. Após uma de suas viagens, que não foi bem-
sucedida, Platão regressa a Atenas e, num povoado próximo conhecido como Co-
lona, funda sua Academia4. Ele utiliza esse espaço para ensinar Filosofia aos seus 
discípulos e para construir sua crítica aos sofistas.
Por isso, a Academia rivaliza e combate a Escola retórica, de Isócrates, fundada na mesma 
época. O ideal da educação autônoma5 significa, em primeiro lugar, ensinar o livre espíri-
to de pesquisa, o compromisso do pensamento apenas com a verdade; em segundo lugar, 
estimular a autodeterminação ética e política. Em vez de transmitir doutrinas, a Academia 
ensina a pensar ou, como lemos no Menon6, “o dever de procurar o que não sabemos”. Em 
vez de transmitir valores éticos e políticos, a Academia ensina a criá-los, isto é, a propô-los 
a partir da reflexão e da teoria. Ali estudaram, entre outros, o matemático Eudóxio e o jovem 
Aristóteles7. Nela prevaleceu o espírito socrático: a discussão oral e o desenvolvimento do 
vigor intelectual do estudante, sendo menos importante as exposições escritas. (CHAUÍ, 
1994, p. 175)
Como podemos observar, lendo essa citação, suas ideias ajudam-nos a compre-
ender os fins da educação que estão presentes em nossa (Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional – LDB). Podemos atestar isso, quando lemos o artigo 2.º: 
A educação, dever do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-
dariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Isso para citarmos um 
entre vários outros. O “exercício da cidadania” pressupõe a autonomia do sujeito, a capa-
cidade de criação e de interpretação das leis.
Em relação à sua teoria do conhecimento, existe um tema que se torna rele-
vante abordarmos, porque sua influência faz-se sentir até hoje. Gostaríamos de con-
vidá-lo a fazer uma reflexão em torno dessas questões: imagine que esteja com uma 
caneta nas mãos. Agora, olhando para ela, você poderia perguntar-se: sou eu que 
estou dizendo que ela é uma caneta ou é ela, a caneta, que está me dizendo que é 
uma caneta? Em outras palavras: Quem é que determina o ato do conhecimento? 
Sou eu, o sujeito, ou é a caneta, o objeto? Para respondermos a essas questões, 
torna-se necessário compreendermos a diferença entre conceito e realidade. Na 
verdade, essa é a questão central do platonismo.
Na tentativa de responder a esse problema, Platão estabelece a diferença 
entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Diz que um é distinto do outro. Nas 
palavras de João da Penha (1994, p. 36):
As ideias estão separadas das coisas, o mundo inteligível está fora e acima do mundo 
sensível. A multiplicidade e instabilidade das coisas resultam de uma ilusão dos sentidos. 
A única realidade objetiva, perfeita, são as ideias, não passando aquilo que vemos de pá-
lidas representações daquelas. As coisas são cópias imperfeitas e fugazes de arquétipos 
de modelos ideais. É no mundo dos inteligíveis, situado na esfera celeste, que habitam as 
ideias, essência de tudo o que existe e de suas perfeições.
3São trinta e seis ao todo.
4Esse local era um antigo ginásio situado num par-
que dedicado ao herói grego 
Academos. Razão pela qual 
até hoje usamos esse termo 
academia como sendo o local 
da produção da ciência.
5É interessante observar esse aspecto do seu pen-
samento. Os PCN, quando li-
dos atentamente, atestam que 
esse ideal de Platão continua 
válido até hoje. Paulo Freire 
tem uma obra publicada que 
se chama Pedagogia da Au-
tonomia.
6Menon é o título de um de seus diálogos.
7Esse foi seu maior discí-pulo.
Platão e o nascimento da razão ocidental
15
Na obra O Mundo de Sofia8, Jostein Gaarder apresenta-nos um exemplo 
que sempre gostamos de citar, quando abordamos esse tema, porque, ao nosso 
entendimento, ele torna mais fácil a compreensão dessa questão. Por fidelidade ao 
autor, reproduziremos o mesmo:
Por que todos os cavalos são iguais, Sofia? Talvez você ache que eles não são iguais. Mas 
existe algo que é comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos pro-
blemas para reconhecer um cavalo. Naturalmente, o “exemplar” isolado do cavalo, este 
sim “flui”, “passa”. Ele envelhece e fica manco, depois adoece e morre. Mas a verdadeira 
“forma do cavalo” é eterna e imutável. (GAARDER, 1995, p. 100)
Desse modo, os conceitos ou ideias que temos em nossa malha intelectiva 
são eternos e imutáveis, por isso necessários9. São as formas ou modelos espiri-
tuais a partir dos quais todos os fenômenos10 são formados. Daí a famosa expres-
são: “mundo das ideias” de Platão. A realidade é mutável e imperfeita, por isso 
contingente11. Aquela questão que apresentei acima seria respondida por Platão da 
seguinte maneira: sou eu quem estou dizendo que ela é uma caneta. E por quê? 
Porque, para ele, as ideias são inatas. É importante ressaltar, aqui, que isso é assim 
para Platão. Aristóteles pensa de forma bem diferente.
Em relação a essa dicotomia – mundo das ideias e mundo sensível – cabe 
salientar que isso acabou influenciando toda a teologia cristã, mais tarde, com 
o neoplatonismo.
Como Platão valorizava mais o “mundo das ideias”, em detrimento de tudo o que 
estava presente no mundosensível, nossa visão sobre a sexualidade, por exemplo, tornou-
se pejorativa ao longo desses séculos. Principalmente pelas interpretações da Patrística12. 
O mito da caverna e sua analogia com a educação
Platão retoma alguns aspectos da mitologia grega, enfatizando sua impor-
tância na compreensão de nossa existência. Prova disso é que o mito da caverna 
pode ser considerado a parte mais conhecida da sua obra. Ele afirmava que o lo-
gos – a razão – capta o ser, mas não a vida. O mito tem a função de expressão da 
nossa fé, de nossas crenças. O risco é belo, por isso o mito tem sua importância.
Considerando sua relevância para a compreensão de nossa prática pedagó-
gica, reproduziremos abaixo a forma como Marilena Chauí (1994, p. 195) apre-
senta-nos o mito da caverna: 
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro, cuja entrada permite 
a passagem da luz exterior. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali 
vivem acorrentados, sem poder mover a cabeça para a entrada, nem se locomover, forçados 
a olharem apenas para a parede do fundo, e sem nunca terem visto o mundo exterior nem 
a luz do sol. Acima do muro, uma réstia de luz exterior ilumina o espaço habitado pelos 
prisioneiros, fazendo com que as coisas que se passam no mundo exterior sejam projeta-
das como sombras nas paredes do fundo da caverna. Por trás do muro, pessoas passam 
conversando e carregando nos ombros figuras de homens, mulheres, animais, cujas som-
bras são projetadas na parede da caverna. Os prisioneiros julgam que essas sombras são 
as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem 
e falam. Um dos prisioneiros, tomado pela curiosidade, decide fugir da caverna. Fabrica 
um instrumento com o qual quebra os grilhões e escala o muro. Sai da caverna. No pri-
meiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não 
8Esse é um livro básico, bem escrito, para aqueles 
que desejam ter uma visão 
panorâmica da História da 
Filosofia.
9 “Necessário” em Filoso-fia é tudo aquilo que não 
pode não ser; que não há uma 
outra forma de ser. É algo 
inelutável.
10 O conceito “fenôme-no”, em grego, é com-
preendido como tudo o que 
aparece. Tudo o que se impõe 
diante de nossos olhos.
11“Contingente” é o contrário de neces-
sário, ou seja, existe, mas 
poderia não existir. Nós, por 
exemplo, existimos, mas caso 
não existíssemos, o mundo 
existiria independentemente 
de nós.
12A Patrística foi um movimento filósofo-
teológico que surgiu duran-
te o período da Alta Idade 
Média.
Fundamentos Filosóficos da Educação
16
estão acostumados; pouco a pouco se habitua à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, 
deslumbra-se, tem a felicidade de, finalmente, ver as próprias coisas, descobrindo que, em 
sua prisão, vira apenas sombras. Deseja ficar longe da caverna e somente voltará a ela se 
for obrigado, para contar o que viu e libertar os demais. Assim como a subida foi penosa, 
porque o caminho era íngreme e a luz, ofuscante, também o retorno será penoso, pois será 
preciso habituar-se novamente às trevas, o que é muito mais difícil do que se habituar à 
luz. De volta à caverna, o prisioneiro será desajeitado, não saberá mover-se nem falar de 
modo compreensível para os outros, não será acreditado por eles e correrá o risco de ser 
morto pelos que jamais abandonaram a caverna. 
Qual é a mensagem deixada por esse mito? Várias são as interpretações. A 
primeira delas é que esse homem que consegue sair da caverna é Sócrates. Ele, ao 
tentar mostrar aos homens de sua época que existia a possibilidade de um outro 
mundo, não foi compreendido e foi condenado a beber cicuta. Os homens que 
vivem como se estivem acorrentados são aqueles que vivem no mundo da doxa. 
No entanto, existem aqueles que procuram a episteme13. A caverna representa o 
mundo dos sentidos.
Esse mito também pode ajudar-nos a entender o nosso papel como educado-
res. Muitos programas de televisão certamente poderiam ser considerados como 
representação dessa caverna. Seus protagonistas desejam que o povo permaneça 
na doxa, viva apenas no senso comum.
Será que o que ensinamos para os nossos alunos está contribuindo para que 
eles consigam sair apenas do mundo das opiniões, do mundo da doxa? Fica-nos 
essa indagação.
13Episteme é ciência ou conhecimento fi-
losófico no seu sentido eti-
mológico.
1. Sugiro a leitura do citado O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder. Após a leitura, discuta com 
seus colegas os trechos mais interessantes, segundo sua opinião.
2. No seu entendimento, quais são as cavernas de hoje?
3. Como sujeitos estamos contribuindo para que as pessoas com as quais nos relacionamos ultra-
passem o mundo das opiniões, do mundo da doxa?
Aristóteles e a Filosofia 
como totalidade 
dos saberes
Ivo José Triches
Cláudio Joaquim Rezende
Aspectos gerais da vida e obra de Aristóteles
— Temos de expulsar Aristóteles de nós.
— Mas nem sequer o li, por que razão tenho de expulsá-lo de mim?
— A prova de seu domínio sobre o homem ocidental é que ele domina o pensamento da 
gente que nunca ouviu falar a seu respeito. (GAARDER, apud PENHA, 1998)
O texto acima serve para mostrar a importância do pensamento aristo-télico para a civilização ocidental. Não há como pensar sem recor-rer a algum dos conceitos sistematizados por Aristóteles. É o que 
veremos ao analisar as linhas gerais de sua filosofia. Antes, porém, é preciso 
conhecer um pouco da vida desse grande filósofo grego.
Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estágira, na Macedônia, e era filho de 
um médico. Graças a esta influência, desde a infância, o futuro filósofo teve uma 
formação voltada para a pesquisa empírica, experimental. Não é à toa que Aristó-
teles escreveu vários tratados sobre questões biológicas.
Aos 18 anos, o jovem Aristóteles mudou-se para Atenas a fim de estudar e tor-
nou-se membro da Academia de Platão. Discípulo mais brilhante, permaneceu na 
Academia até a morte do mestre (348-7 a.C.), ocasião em que começou a trilhar seu 
próprio caminho. Por algum tempo foi preceptor (uma espécie de professor parti-
cular) de Alexandre, filho do rei Filipe, e futuro dirigente do império macedônico. 
Em 335 a.C., Aristóteles retorna a Atenas e funda sua própria escola, o Liceu. 
Em virtude do seu costume de dar aulas caminhando com os discípulos, a escola 
também era chamada de “peripatética1”.
Em sua velhice, aproximadamente aos 61 anos, Aristóteles foi obrigado a deixar 
Atenas, em virtude da morte de seu “ex-aluno” Alexandre (323 a.C) e do sentimento 
antimacedônico predominante. O famoso filósofo de Estágira falece em 322 a.C.
Para compreendermos a originalidade da contribuição do pensamento de 
Aristóteles, dois fatores são essenciais: a influência da formação experimental her-
dada de seu pai e da força da filosofia platônica. São duas tendências opostas que en-
contrarão uma resposta original. O primeiro fator funciona como ponto de partida 1Peripatos em grego signi-fica caminho.
Fundamentos Filosóficos da Educação
18
ou pano de fundo para a refutação do segundo fator de influência. Assim, a filoso-
fia aristotélica valoriza o que é empírico como crítica à teoria platônica das ideias. 
Em outros termos, Aristóteles formula uma filosofia realista contra o pensamento 
idealista de Platão.
Platão tinha uma visão dualista da realidade, pois considerava que havia dois 
mundos: o mundo das sombras, das aparências, e o mundo das ideias, da verdadeira 
realidade. Platão subordinava tudo à ideia, ou seja, as coisas individuais presentes 
na realidade sensível somente existem graças às ideias, que contêm os universais.
Somente o individual é real
O ponto de partida de Aristóteles, em sua crítica a Platão, consiste em 
conceber que somente o individual é real. O que existe é a substância individu-
al, que podemosconsiderar aqui como o indivíduo material concreto. Este seria 
o constituinte último da realidade, o que evitaria o dualismo platônico. Assim, 
a realidade é composta por um conjunto de indivíduos materiais e concretos, 
segundo o pensamento aristotélico.
Afirmar que a realidade é acessível aos sentidos tem como consequência a 
possibilidade de que a inteligência humana pode conhecer o ser real. A experiên-
cia é a única fonte de conhecimento. Vale dizer, não há um mundo de ideias puras 
a ser investigado. A inteligência humana conta apenas com o que está acessível 
aos sentidos. Nesse sentido, Aristóteles afirmava, na metafísica, que não há nada 
no intelecto que antes não tenha passado pelo concreto.
Aprofundando sua análise do indivíduo concreto, Aristóteles afirma que ele é 
composto de matéria e forma. “A matéria é o princípio da individuação e a forma a 
maneira como, em cada indivíduo, a matéria organiza-se” (MARCONDES, 2000, 
p. 72). Desse modo, cada indivíduo tem uma matéria específica, particular, e uma 
forma comum, partilhada com indivíduos da mesma espécie. Matéria e forma são 
indissociáveis, pois a matéria existe apenas dentro de uma forma específica. A fim 
de compreender melhor, vejamos o exemplo da estátua. Na estátua, a matéria é már-
more, ou bronze, por exemplo; e a forma é a bela Afrodite, ou o feio Sócrates.
Contra Platão, Aristóteles postula que não existem ideias puras, mas afir-
ma a possibilidade de conhecimento do real. O universal somente existe em 
nossa mente por meio da abstração. Trata-se de interessar-se imediatamente 
pelas coisas, pois é nelas que estão as ideias. O caminho pelo qual o intelecto 
chega ao conhecimento é a abstração: processo segundo o qual a inteligência 
separa matéria e forma. O conhecimento dá-se quando relacionamos os objetos 
que possuem a mesma forma e fazemos abstração de sua matéria, ignorando 
suas características particulares.
Formulemos um exemplo de abstração. Pelos sentidos, conheço um ser, 
identifico que esse ser é semelhante a outros da mesma espécie; trata-se de um 
mamífero ruminante, que chamamos de vaca. A ideia de vaca não existe em estado 
puro. O que existe é essa vaca particular, que posso ver com os meus olhos. Mas, 
Aristóteles e a Filosofia como totalidade dos saberes
19
por um processo de abstração, chego à ideia de vaca, comum a todas as vacas que 
eu possa conhecer. Em termos aristotélicos, posso afirmar que a ideia que tenho 
da vaca é a sua essência2. É a partir dessa ideia que reconheço uma vaca concreta, 
mas a ideia não existe sem este ser individual, que eu percebo pelos sentidos.
A importância da lógica formal
A lógica formal é o conhecimento introdutório da Filosofia. Aristóteles é o 
verdadeiro criador da lógica, o Órganon, que em grego quer dizer “instrumento”. 
Ele a criou de uma série de tratados lógicos que continuam vigentes, dos quais 
continuamos dependendo para elaborar raciocínios.
Com essa disciplina instrumental, Aristóteles praticamente nos ensinou a pen-
sar, formulando o percurso da formulação de um raciocínio. A fim de termos uma 
visão sintética desse percurso, acompanhemos o comentário de Chauí (1995, p. 183):
O objeto da lógica é a proposição, que exprime, através da linguagem, os juízos formula-
dos pelo pensamento. A proposição é a atribuição de um predicado a um sujeito: S é P. O 
encadeamento dos juízos constitui o raciocínio e este exprime-se logicamente através da 
conexão de proposições; essa conexão chama-se silogismo. A lógica estuda os elementos 
que constituem uma proposição (as categorias), os tipos de proposições e de silogismos, 
e os princípios necessários a que toda proposição e todo silogismo devem obedecer para 
serem verdadeiros (princípio da identidade, da não-contradição e do terceiro excluído).
Qualquer proposição é composta pelos seus termos ou categorias, que são 
palavras que designam algo: João, morte. Quando emitimos um juízo sobre algo, 
estamos fazendo uma combinação destes termos, como por exemplo: João é mor-
tal. Esse juízo, combinado com outros, forma um raciocínio. Quando o raciocínio 
é formulado de uma forma lógica, chama-se silogismo. Retomando a frase “João 
é mortal”, posso elaborar o seguinte silogismo:
Todos os homens são mortais. 
João é homem.
Logo, João é mortal.
Note que os termos foram combinados num juízo, que possibilitou um ra-
ciocínio que chegou à forma de um silogismo. Essa combinação permite que for-
mulemos raciocínios com clareza e precisão. Se compreendermos as regras da 
lógica e as exercitarmos, estaremos em condições de melhorar a nossa forma de 
pensar. O silogismo ajuda-nos no processo de construção do conhecimento.
Teoria das Quatro Causas
Os elementos constitutivos de um ser são suas causas. Examinar uma coisa 
pelas suas causas é obter o completo conhecimento da mesma, no entender de 
Aristóteles. Há quatro causas.
2A distinção entre essên-cia e existência é uma das 
classificações da Metafísica 
aristotélica. Existência indica 
o ser que está acima do nada. 
Pela essência, torna-se tal e 
qual espécie de ser. É, pois, 
a essência, nada mais que um 
modo do existir.
Fundamentos Filosóficos da Educação
20
 Causa material: indica do que é feito o ser.
 Causa formal: é sua alma, ou seja, é o que nos faz diferentes uns dos outros. 
 Causa eficiente: está relacionada com o motor que nos gerou.
 Causa final: é o objetivo para o qual o ser tende.
Vejamos esses conceitos segundo a definição do próprio Aristóteles em Me-
tafísica:
Causa significa:
(1) aquilo de que, como material imanente, provém o ser de uma coisa; por exemplo, o 
bronze é a causa da estátua e a prata, da taça e, do mesmo modo, todas as classes que 
incluem estas.
(2) a forma ou modelo, isto é, a definição da essência e as classes que incluem esta (v.g. a 
razão de 2 para 1 e o número em geral são causas da oitava); bem como as partes incluídas 
na definição.
(3) aquilo de que se origina a mutação ou a quietação; por exemplo, o conselheiro é a causa 
da ação e o pai causa do filho; e, de modo geral, o autor é causa da coisa realizada, e o 
agente modificador, causa da alteração.
(4) o fim, isto é, aquilo que a existência de uma coisa tem em mira; por exemplo, a saúde é a 
causa do passeio. Efetivamente, à pergunta – por que é que a gente passeia? – respondemos 
– para ter saúde e, ao falar assim, julgamos ter apontado a causa. O mesmo vale para todos 
os meios que se interpõem antes do fim, quando alguma outra coisa deu início ao processo. 
Além da Teoria das Quatro Causas, Aristóteles formulou várias outras, dentre 
as quais, a Teoria do Ato e Potência. Trata-se de uma forma de classificar, dividir 
os seres em dois princípios constitutivos intrínsecos. Essa teoria busca explicar as 
transformações, o movimento. Chamamos ato, o ser enquanto já é. De algum modo, 
significa determinação e perfeição. A principal determinação é a da existência; é a de-
terminação na ordem do ente; o ser que existe está, pois, em ato. A determinação dá-
se também na ordem da essência, enquanto esta apresenta essa ou aquela fisionomia.
Potência é aquilo que ainda não é, mas preexiste realmente como possibilida-
de de vir a ser. Segundo Aristóteles, “das coisas não existentes, algumas existem 
em potência, por não existirem em ato”. A semente é um exemplo de ser parcial-
mente em ato, estando o mais em potência.
Há potências ativas e passivas. As potências passivas apenas recebem o ato. As 
ativas têm a potência de produzir o ato. O homem tem potências, como as do conhe-
cimento e as dos impulsos. Seu exercício obedece às regras fundamentais da doutrina 
do ato e potência.
Visão do homem, da ética e da política
O homem pode viver três dimensões: a dimensão prática, a teórica e a poiésis. 
Os conceitos de prática e teoria, que empregamos a todo o tempo, são distinguidos 
por Aristóteles. A poiésis,que é a fabricação, a produção, tanto faz produzir uma 
mesa ou um soneto, produz-se algo e, neste sentido, torna-se poeta. Mas, por outro 
lado, há o conceito de práxis, que é a ação, o que age. Claro, a forma suprema de 
práxis, o mais práxis de tudo, é a theoria. A teoria é o que há de mais prático para 
Aristóteles e a Filosofia como totalidade dos saberes
21
Aristóteles, é a forma suprema de práxis, é a contemplação, é a visão. E aí aparecem 
as formas de vida, que terão uma importância enorme no pensamento aristotélico. 
Há o bios politikós, a vida produtiva; há o bios praktikós; e há a forma suprema, o 
bios theoretikós, a vida teorética, a vida teórica, que é a mais prática de todas, que 
consiste precisamente na visão, na contemplação; aqui, aparece plenamente aquela 
ideia visual, da visualidade no pensamento de Aristóteles.
Ética e Política
Para Aristóteles, o estudo da Ética deve enfatizar o preparo do indivíduo 
para que o mesmo possa viver bem na cidade. Há, portanto, um campo comum 
entre Ética e Política.
A Ética deve estabelecer o princípio da ação virtuosa. O homem caracteriza-
se por sua essência racional e por sua tendência para o que é bom, para aquilo que 
julga ser a sua felicidade. A teoria da felicidade está justamente ligada à sabedo-
ria, no pensamento de Aristóteles, na medida em que o homem deve aperfeiçoar 
o que é em sua essência racional.
A política deve enfatizar o homem como um ser social ou comunitário, pro-
curando estabelecer os princípios de sua ação racional.
A Metafísica de Aristóteles
(Aristóteles. Metafísica. Ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário, aos cuidados 
de G. Reale. Trad. de M. Perine. 3. vols. São Paulo: Loyola, 2002)
Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensa-
ções, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as 
visuais. Com efeito, não somente para agir, mas até quando não nos propomos operar coisa alguma, 
preferimos, por assim dizer, a vista aos demais. A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que 
melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre. 
Por natureza, seguramente, os animais são dotados de sensação, mas, em alguns, da sensação 
não se gera a memória, e, noutros, gera-se. Por isso, estes são mais inteligentes e mais aptos para 
aprender do que os que são incapazes de recordar. Inteligentes, pois, mas sem possibilidade de 
aprender, são todos os que não podem captar os sons, como as abelhas, e qualquer outra espécie pa-
recida de animais. Pelo contrário, têm faculdade de aprender todos os seres que, além da memória, 
são providos também deste sentido. [...] 
Ora, no que respeita à vida prática, a experiência em nada parece diferir da arte; vemos, até, os 
empíricos acertarem melhor do que os que possuem a noção, mas não a experiência. E isto porque a 
experiência é conhecimento dos singulares, e a arte, dos universais; e, por outro lado, porque as 
operações e as gerações todas dizem respeito ao singular. Não é o homem, com efeito, a quem o 
médico cura, se não por acidente, mas Cálias ou Sócrates, ou a qualquer um outro assim designado, 
ao qual aconteceu também ser homem.
Fundamentos Filosóficos da Educação
22
Portanto, quem possua a noção sem a experiência, e conheça o universal ignorando o parti-
cular nele contido, poderá enganar-se a muitas vezes no tratamento, porque o objeto da cura é, de 
preferência, o singular. No entanto, nós julgamos que há mais saber e conhecimento na arte do que 
na experiência, e consideramos os homens de arte mais sábios que os empíricos, visto a sabedoria 
acompanhar em todos, de preferência, o saber. Isto porque uns conhecem a causa, e outros não. 
Com efeito, os empíricos sabem o “que”, mas não o “porquê”, ao passo que os outros sabem o “por-
quê” e a causa. [...] 
Em geral, a possibilidade de ensinar é indício de saber; por isso nós consideramos mais ciên-
cia a arte do que a experiência, porque [os homens de arte] podem ensinar e os outros não. Além 
disso, não julgamos que qualquer das sensações constitua a ciência, embora elas constituam, 
sem dúvida, os conhecimentos mais seguros dos singulares. Mas não dizem o “porquê” de coisa 
alguma, por exemplo, por que o fogo é quente, mas somente que é quente. [...]
Já assinalamos na Ética a diferença que existe entre a arte, a ciência e as outras disciplinas do 
mesmo gênero. O motivo que nos leva agora a discorrer é este: que a chamada filosofia é por todos 
concebida como tendo por objeto as causas primeiras e os princípios; de maneira que, como acima se 
notou, o empírico parece ser mais sábio que o ente, o qual unicamente possui uma sensação qualquer; 
o homem de arte, mais do que os empíricos; o mestre de obras, mais do que o operário e as ciências 
teoréticas, mais do que as práticas. Que a filosofia seja a ciência de certas causas e de certos princípios 
é evidente.
O estudo proveitoso de um pensador exige que nos deixemos questionar por suas ideias. É necessário 
que levemos a sério suas indagações. Para compreendermos o papel da Filosofia, vejamos uma distinção 
entre a evidência da realidade e a evidência intelectual. A evidência intelectual é a coisa que está diante de 
nós e que nos obriga a pensar, que nos obriga a pesquisar. Isto é, essa mesa é evidente, aí está, mas podemos 
entender o que ela é, de que foi feita, do que se compõe; isso não é evidente, deve ser indagado. Mas há a 
evidência da mesa e isso me obriga precisamente a perguntar-me sobre ela. Porque há esse fenômeno da 
natureza, que é justamente a origem do movimento, que as coisas mudam, que as coisas chegam a ser e 
deixam de ser, mudam de qualidade, mudam de temperatura, todas as mudanças imagináveis. Ou chegam 
a ser e deixam de ser, que é a forma mais fundamental, mais radical de natureza.
Ainda que distantes no tempo, as questões têm algum elo com nossa realidade e com os proble-
mas que nos angustiam. Nesse sentido, procure refletir sobre as questões abaixo. Retome as ideias de 
Aristóteles e deixe-se questionar por ele.
Aristóteles e a Filosofia como totalidade dos saberes
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1. A fim de ter um acesso direto ao pensamento de Aristóteles, leia o trecho retirado de sua prin-
cipal obra, A Metafísica, e responda à seguinte pergunta: é possível pensarmos em algo que nós 
nunca vimos, nunca tocamos, nunca cheiramos, nunca degustamos ou nunca ouvimos? Pense 
nisso e tente refutar a ideia de Aristóteles.
2. Quando nós, educadores, agimos com justiça com nossos semelhantes?
Fundamentos Filosóficos da Educação
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3. Como a Educação pode contribuir para a vivência da boa política?
Sugiro a leitura dos livros:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. 
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1997.
De Aristóteles 
à Renascença
Ivo José Triches
C omeçar um estudo, acerca de um determinado tema, a partir de uma visão panorâmica, é sempre mais didático. O nosso objetivo consiste em apre-sentarmos as principais ideias que marcaram os seguintes períodos: Hele-
nístico, Idade Média e início da Idade Moderna com o Renascimento.
O aprofundamento teórico sobre cada um dos temas apresentados fica em 
forma de convite para que você, possa fazê-lo. Somos partidários de um provérbio 
latino que diz: “nulla die sine linea”1. Para os escritores latinos, o processo de 
acumulação de conhecimento seria obtido por meio da leitura diária. Isso signifi-
ca que, se nosso propósito é conseguirmos fazer um bom trabalho, necessitamos 
estar constantemente nos atualizando. Por isso, somente conseguiremos tal feito 
se nossa vontade estiver conectada com a leitura.
O Período Helenístico2
A civilização helenística resultou do entrelaçamento da cultura helênica3
 com as culturasdos povos do Oriente Médio. Entre esses povos, destacaram-se 
os persas e os egípcios. Os macedônicos iniciaram esse processo de difusão da 
cultura grega por meio de seu principal líder, Alexandre Magno, que conquistou 
os gregos. Esse povo tinha origem ariana e vivia ao norte da Grécia. Eram con-
siderados bárbaros “por natureza” pelos gregos, ou seja, incapazes de cultura e 
de atividade livre e, em consequência, “escravos por natureza”4. Como geografi-
camente estavam isolados, eles estabeleciam relações comerciais com os gregos 
para poderem vender seus produtos, que eram basicamente de origem agrária. 
Utilizavam o porto grego de Olimpo para estabelecer relações com outros povos. 
Na verdade, esse perío do representa a decadência do mundo grego.
A época do helenismo foi um período marcado, entre outras coisas, pelo 
rompimento dessa visão da existência de “escravos por natureza”. Epicuro – filó-
sofo desse tempo – tinha, entre os participantes de seus ensinamentos, escravos. 
Considerava-os como membros de sua família. Isso evidencia que as concepções 
de mundo que temos podem ser superadas.
Uma das características de alguém que deseja ter uma postura filosófica frente 
ao mundo é acreditar que ele é movimento e, por isso, que cada um pode mudar as 
representações sobre as coisas. Desse modo, nossas convicções não podem ser 
consideradas com “cláusulas pétreas”, que jamais mudaram. Tudo é movimento, 
porque o mundo é movimento.
1“Nem um só dia sem uma linha” é a tradução 
literal.
2Na mitologia grega, Helena era uma princesa célebre 
por sua beleza. Ela era filha 
de Leda. Seus irmãos eram 
Castor e Pólux. Casou-se 
com Menelau. Quando casa-
da, foi raptada por Páris, ho-
mem troiano. Por essa razão, 
os gregos organizaram-se 
e decidiram ir a Tróia para 
resgatá-la. Assim, temos a 
noção de que o helenismo 
cor responde à expansão da 
cultura grega para além de 
suas fronteiras.
3Cultura grega.
4A maior contradição des-sa forma de pensar dos 
gregos está relacionada ao 
fato de terem sido vítimas do 
próprio domínio dos macedô-
nicos. O próprio Aristóteles 
defendia a teoria da existên-
cia de escravos, por natureza. 
Isso mostra que ninguém está 
livre da prática dos precon-
ceitos.
Fundamentos Filosóficos da Educação
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Os movimentos principais que marcaram essa época foram: o estoicismo, o 
epicurismo e o ceticismo. Existe um fio condutor que marcou esses movimentos, 
qual seja, a preocupação com as questões relacionadas aos aspectos morais 
dos atores sociais5.
Compreende-se assim que o pensamento helenístico se tenha concentrado sobretudo nos 
problemas morais, que se impunham a todos os homens. E, propondo os grandes proble-
mas da vida e algumas soluções para eles, os filósofos dessa época criaram algo de ver-
dadeiramente grandioso e excepcional, o cinismo, o epicurismo e o estoicismo, propondo 
modelos de vida nos quais os homens continuaram a inspirar-se ainda durante outro meio 
milênio e que, ademais, se tornaram paradigmas espirituais, verdadeira “conquista para 
todo o sempre”. (REALE; ANTISERI, 1990, p. 230)
A partir das afirmações contidas no texto acima, fica a indicação de que, se 
alguém pretende dedicar-se ao estudo acerca das questões que envolvem o tema 
Ética, torna-se fundamental aprofundar seus conhecimentos sobre esse período. 
Principalmente, no estoicismo e no epicurismo.
A Filosofia na Idade Média
A discussão se houve ou não produção filosófica durante o período medie val 
é uma questão que continua latente até hoje. Certamente, não seremos nós, nesta ge-
ração, que daremos por encerrada essa polêmica. Afirmamos isso, porque até hoje 
existem aqueles que denominam essa época de “idade das trevas” ou período do 
“obscurantismo filosófico”.
Como essa questão não está fechada e nosso objetivo é apresentar uma visão 
panorâmica do tema, vamos indicar algumas características que marcaram 
esse período.
No nosso trabalho em sala da aula, dizíamos que a máxima desse período era 
“crer para compreender e compreender para crer”; muitos daqueles que dizem que 
não houve produção filosófica argumentam que, se eu afirmo que é preciso “crer para 
compreender”, então, a razão fica subordinada à fé. Como não há coisa alguma sobre 
a qual a Filosofia não possa debruçar-se, a própria fé pode ser objeto de investigação 
filosófica. Como isso não podia ser objeto de investigação, então, o processo do 
filosofar ficou comprometido.
Porém, existem aqueles que defendem exatamente o contrário, ou seja, que 
a fé pode ajudar-nos a confiar na razão. Nos séculos IV e V d.C., a confiança 
na razão estava em baixa. Santo Agostinho foi quem contribuiu para restaurar a 
crença na razão. Criticando os céticos, que afirmavam a impossibilidade de che-
garmos ao conhecimento da verdade, ele dizia que a maior prova da possibilidade 
do conhecimento verdadeiro eram as demonstrações no campo da matemática e 
da lógica. Dessa forma, vemos que: 
o homem e seu intelecto, mutáveis e perecíveis, não podem ser os avalistas do 
conhecimento, pois a verdade deve ser eterna. Assim, a verdade somente pode ser 
assegurada por algo que se coloque acima dos homens e das coisas: Deus. Se a razão, 
na busca de sua certeza, depara com a fé em Deus, é também a fé que permite resgatar 
a dignidade da razão: “crer para compreender e compreender para crer”. (ABRÃO, 
1999, p. 98-99)
5Atores sociais é um con-ceito utilizado pela Socio-
logia. Cada ciência ou setores 
da sociedade, quando vão 
referir-se ao outro, utilizam 
denominações diferentes. É 
somente observarmos: como, 
numa loja comercial, referimo-
nos ao outro? Por cliente. E se 
for um médico, como ele se re-
fere ao outro? Por paciente. Por 
isso, na Filosofia, utiliza-se a 
expressão homem, na Socio-
logia, atores sociais, na Psi-
cologia, indivíduo, e assim 
por diante.
De Aristóteles à Renascença
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Os dois movimentos que mais se destacaram durante a Idade Média foram a 
Patrística6, durante a Alta Idade Média, e a Escolástica7, na Baixa Idade Média.
Cabe ainda destacar que não há como ignorar as realizações culturais dessa 
época. A Igreja, que foi acusada pelos retrocessos no campo da cultura em geral, 
foi responsável pela conservação de muitos aspectos da cultura clássica. A reto-
mada da cultura greco-romana no período seguinte é prova disso. Num mundo 
em que o cenário predominante é a relação senhor versus servo, a economia é, 
basicamente, de subsistência. A existência dos mosteiros constituiu um espaço 
privilegiado para a sobrevivência da cultura. Foi nesse ambiente que os monges se 
dedicavam ao trabalho no campo, à oração e à compilação dos livros, assim como 
à tradução, para o latim, dos textos da antiguidade.
O Renascimento cultural
A expressão “idade das trevas” foi uma referência dos renascentistas ao que 
ocorreu durante o período medieval. A primeira questão relevante sobre esse tema 
é: renascimento do quê? O que desejavam os pensadores que criticavam a máxima 
da Idade Média8? O quadro a seguir serve para ilustrar bem que, para a cada ca-
racterística do período medieval, surgiu um movimento de oposição.
As características desse período
Idade Média Renascimento
misticismo racionalismo
coletivismo individualismo
antinaturalismo naturalismo
teocentrismo antropocentrismo
geocentrismo heliocentrismo
Assim, o Renascimento Cultural representou a possibilidade de o homem 
europeu ter novas representações acerca do mundo e da própria religião. Novos 
valores passaram a afirmar-se, o que significou a consolidação de uma nova classe 
social emergente dessa época: a burguesia.
No contexto do Renascimento, já um pouco mais adiante, no século XVII, 
pensadores como Francis Bacon e Descartes divergiam no tocante a que método 
devia ser utilizado para ter a garantia de que o conhecimento era verdadeiro ou 
não. Francis Bacon

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