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DE QUE MANEIRA O PENSAMENTO DOS ORIGINÁRIOS CONTRIBUI PARA PRESERVAÇÃO E CONSUMO RESPONSÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS

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DE QUE MANEIRA O PENSAMENTO DOS ORIGINÁRIOS CONTRIBUI 
PARA PRESERVAÇÃO E CONSUMO RESPONSÁVEL DOS RECURSOS 
NATURAIS? 
Faculdade Católica de Feira de Santana 
Adeilton Silva Costa1 
 Emanoel Reis de Souza 
 Jefferson Luíz 
 Weslei de Brito Santos 
 Wesley Souza Rocha 
RESUMO 
O presente artigo visa, por meio de revisão bibliográfica, analisar a contribuição que os 
filósofos originários, mais precisamente os filósofos da escola de Mileto, podem dar 
para a reflexão da cerca da realidade ambiental na sociedade contemporânea. Esses 
filósofos que são os primeiros que se tem noticia não falaram explicitamente sobre 
meio ambiente que é um termo moderno, porém o seus pensamentos sobre a physis 
nos dá base para analisar a realidade ambiental. Para responder tal questionamento o 
artigo esta composto de três seções, a saber: a primeira, os filósofos originários e as 
bases para a compreensão da ecologia, abordará o pensamento dos filósofos de 
mileto sobre a physis; na segunda, a utilização dos recursos naturais nos séculos XX e 
XXI, buscará averiguar a questão da utilização dos bens naturais dentro do modo de 
produção capitalista nestes dois séculos; e na terceira, o papel do homem na 
natureza, apresentando-o como ser responsável pelo meio em que habita, discorrerá 
sobre o modo mais correto para se harmonizar a relação homem-natureza, à luz 
daquilo que é o pensamento dos filósofos originários. 
Palavras Chaves: Filósofos originários. Physis. Ecologia. Natureza. 
Atualidade. 
 
INTRODUÇÃO 
O problema da relação entre o homem e a natureza é cada vez mais 
foco de pesquisas e observações. A partir das quais surgem diversos 
questionamentos, dentre os quais sobressai o seguinte: de que maneira o 
pensamento dos originários contribui para preservação e consumo responsável 
dos recursos naturais? Eis a questão, e para manifestar alguma consideração, 
conta-se com o pensamento dos filósofos considerados como Originários Tales 
de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes. Os filósofos da escola de Mileto, os 
originários, foram os primeiros pensadores da história da filosofia a pensar, a 
partir da contemplação da ordem do kósmos (κόσμος), sobre a origem de todas 
 
1
 Graduandos do Curso de Licenciatura em Filosofia pela Faculdade Católica de Feira de Santana. 
 
as coisas, buscando o princípio, arché (ἀρχή), este que é a fonte de onde brota 
tudo. 
Esses filósofos buscavam um princípio de unidade visando o homem 
como pertencente também desta unidade com a vida, a natureza o kósmos. A 
fim de perceber essa visão de unidade pensada pelos filósofos originários 
traça-se um panorama histórico de suas teorias, visando uma possível 
compreensão ecológica, para que com esta se possa ser analisada a ação do 
homem para com a natureza na atualidade, trazendo assim uma possível 
relação do homem com seu habitat, propondo uma quebra na dicotomia 
existente entre o homem e a natureza, visto que esse ser chamado homem é 
parte da natureza. 
Para tanto, é preciso analisar os pensamentos dos filósofos originários 
visando as bases para a compreensão ecológica. Depois, dialogar com o 
conceito de ecologia, para assim, analisar a questão da utilização dos recursos 
naturais nos século XX e XXI, buscando avaliar o papel do homem na 
natureza, como ser responsável pelo meio em que habita, propondo ao 
homem, uma reflexão a luz do pensamento originário para que o mesmo se 
perceba enquanto homem de condição terrena, todavia responsável pela 
preservação da natureza, seu habitat. O homem é também um ser natural, a 
natureza faz parte de sua essência humana que juntamente com a influência 
cultural em que será envolvido, o formará enquanto ser em desenvolvimento. O 
contato com a natureza é necessário para a vida. Por isso, os pensadores da 
escola de Mileto poderão servir de ponto inicial na análise reflexiva da 
sustentabilidade, como um problema que urge soluções, em objetivando a 
formação de uma consciência de corresponsabilidade e respeito para a 
natureza, a casa comum de todo ser vivo. 
1- OS FILÓSOFOS ORIGINÁRIOS E AS BASES PARA A 
COMPREENSÃO DA ECOLOGIA 
Dentre as características marcantes ao homem grego está “a admiração 
pela ordem e beleza que fazem do universo visível um todo bem adornado 
(VAZ, 2004, p.21)”. Consecutivamente a essa contemplação do kósmos 
surgem os primeiros pensadores, que buscaram através da razão “o princípio 
 
primeiro do qual tudo se gerou” (REALE, 2007, p. 19). Desse modo, faz-se 
necessário destacar que “a filosofia em seus inícios deriva, quanto ao 
essencial, de um gênero poético que poderíamos denominar didático, oriundo 
das sociedades orais” (PRADEAU, 2012, p.14). Porque estes chamados 
filósofos foram antecedidos e influenciados por narrativas míticas2 
desenvolvidas em uma sociedade anterior à escrita que buscavam explicar o 
cosmos e seus fenômenos por meio de alegorias e argumentos, estes últimos 
marcam a característica propriamente filosófica de outras narrativas anteriores, 
como o mito, por exemplo. Como é possível verificar no pensamento de 
Pradeau: 
“[...] podemos comparar a representação pré-socrática do 
mundo àquela de epopeia homérica. Em Homero, a terra é 
um disco achatado que pende da cúpula celeste; as terras 
habitadas são rodeadas pelo Rio Oceano. O Sol nasce a 
partir do Oceano e atravessa o céu durante o dia, antes de 
mergulhar à noite no mar do Oeste. Os tremores de Terra e o 
arco-íris são um reflexo das emoções divinas.” (PRADEAU, 
2012, p. 15). 
 Sobre a transição do mito para a Filosofia é importante ressaltar que 
está inserida no contexto do fortalecimento e da estabilidade política da Pólis, 
na qual o homem grego passou a ter o poder da palavra3, cuja finalidade 
primeira era a de gerir as cidades estabelecendo, assim, o regime democrático. 
É nesse contexto, que remonta às últimas décadas do século VII a. C e início 
do século VI a. C, que surgem os primeiros pensadores denominados 
Filósofos, designação atribuída pela tradição a Pitágoras, que ao ser 
identificado como sábio pediu para ser chamado de filósofo, aquele que busca, 
amigavelmente, o saber. Estes são identificados como Originários porque 
foram os primeiros pensadores da história do pensamento filosófico ocidental e 
pensaram sobre a Origem de todas as coisas, o princípio, que, em grego, se 
diz arché. O arché é a fonte de tudo que é, e de onde tudo brota 
incessantemente; (UNGER, 2006, p.26) o Um que jaz em tudo que há; a causa 
 
2
 Os mitos surgiram da necessidade do homem justificar fenômenos como o crescimento das plantas, as 
chuvas, os trovões, etc. Tudo que ocorria aqui na Terra estava intimamente ligado ao que acontecia no 
mundo dos deuses. Dessa maneira, secas, epidemias e outras coisas ruins eram reflexos de que as forças 
do mal triunfavam sobre as do bem e o inverso ocorria quando havia fartura e riqueza (GAARDER, 
1995). O mito é uma maneira de pensar sobre a realidade, ou melhor, de tentar compreender a 
complexidade do todo. 
3
 Aqui entendido como a habilidade do discurso que levou os gregos a pensar sobre a organização da vida 
nas cidades, levando à criação das leis. 
 
e constituição de todas as coisas, que estes pensadores chamaram physis, 
mais tarde traduzido por natura, natureza. Ainda sobre essa iniciativa dos 
Pensadores Originários é possível ver no trecho descrito a seguir: 
Eles partiram do pressuposto de que sempre existiu alguma 
coisa e, vendo as transformações que ocorriam no meio 
ambiente, indagavam-se como aquilo era possível. Então, 
acreditavam que havia uma substância básica que subjaziaa 
todas essas transformações. Esses filósofos também tentaram 
descobrir leis eternas a partir da observação dos fatos, 
desconsiderando as explanações mitológicas. Assim, a filosofia 
se libertava da religião e os primeiros indícios de uma forma 
científica de pensar começavam a aparecer (GAARDER, 1995, 
p.45). 
Como observado no fragmento anterior, esses filósofos tentaram 
descobrir leis eternas a partir da observação dos fatos, desconsiderando as 
explanações mitológicas. Assim, a filosofia se libertava da religião e os 
primeiros indícios de uma forma científica de pensar começavam a aparecer E, 
como daquilo que os Pensadores Originários escreveram somente se 
conservaram alguns fragmentos, sentenças e sínteses feitas por escritores 
posteriores a eles4, como é o caso de Platão e Aristóteles, pode-se verificar 
essa compreensão de arché no trecho abaixo descrito na obra Metafísica de 
Aristóteles: 
 
 Afirmam [os primeiros filósofos] que aquilo de que todos os 
seres são constituídos e aquilo de que derivam 
originariamente e que terminam por último, é elemento e é 
princípio de todos os seres, enquanto é uma realidade que 
permanece idêntica mesmo com a transmutação de suas 
afecções. E, por esta razão, creem que nada se gere e nada 
se destrua, pois tal realidade sempre se conserva. 
(ARISTÓTELES, Metafísica, Livro I, 3) 
 
 No que se refere ao termo physis para os Pensadores Originários, 
constitui o fundamento de tudo aquilo que chamamos realidade sensível e 
suprassensível, que não pode reduzir-se, como o fez o viés interpretativo latino 
posterior, de entender a physis como um conjunto de entes dados, como, ou às 
realidades presentes no mundo físico a que hoje concebemos como natureza. 
Heidegger identifica como “o originar-se do qual se ergue o oculto”, ou seja, o 
emergir de tudo o que há, não por imposição de um fator externo, mas por uma 
 
4
 Tudo que se conhece dos pré-socráticos é por via indireta, seja dos próprios escritos de Platão ou 
Aristóteles, ou por outros escritores que viveram próximos à época. 
 
força que lhe é inerente. Desta forma, verifica-se a busca racional, resultante 
da admiração e contemplação da ordem de tudo há, pelos princípios 
constitutivos de que existe; uma espécie de perseguição da unidade profunda 
que há na realidade apreendida para além da mera apreensão dos sentidos do 
homem. 
 A filosofia originária encontra solo favorável para o seu surgimento na 
região das colônias gregas na Ásia Menor, em Mileto. Isto porque havia na 
Grécia condições sociais, políticas e econômicas favoráveis. A cidade costeira 
de Mileto se situava numa rota comercial, onde desembarcavam comerciantes 
vindos das ilhas do Mar Egeu, da Grécia Continental, do Egito e do Oriente 
Médio. E é o berço dos primeiros “amigos da sabedoria”, a saber: Tales, 
Anaximandro e Anaxímenes, fundadores da chamada Escola de Mileto. 
O pioneiro nas reflexões acerca da fonte e origem de todas as coisas foi 
Tales. Dotado de saberes no campo das ciências e da política, “Tales afirmava 
que a água era o princípio elementar de todas as coisas, e que a Terra flutuava 
sobre ela” (PRADEAU, 2012, p.18). Contudo, é necessário ressaltar que a 
água que ele põe como o arché não é o líquido que se encontra em seu estado 
físico-químico que se encontra na natureza, o H2O, mas como a “physis líquida 
originária da qual tudo deriva”. (REALE, 2007, p.19) Esse pensamento de Tales 
é possível ser verificado no trecho da Metafísica de Aristóteles abaixo: 
“Tales, (...) diz que tal princípio é a água (por isso afirma 
também que a Terra navega sobre a água), deduzindo 
sua convicção indubitavelmente da constatação de que o 
alimento de todas as coisas é úmido, e que até o calor 
gera-se do úmido e vive no úmido.” (ARISTÓTELES, Met., 
livro 1, 3) 
 
Como foi evidenciado no excerto anterior, Tales constatou, segundo a 
tradição, que a nutrição de todas as coisas é úmida, que as sementes e os 
germes têm natureza úmida, e que a ausência deste elemento gera a morte. 
Logo, pressupôs que a água é a fonte da qual brota tudo que há e que sustenta 
toda a realidade criada dela e faz tender tudo o que foi criado a partir dela para 
uma finalidade imanente nela mesma. Assim, o grande feito de Tales de Mileto 
foi dar bases para que o homem pudesse pensar a realidade como um todo, do 
qual o próprio homem é integrante, tendo em vista que, para o pensamento 
pré-socrático o homem é parte constituinte da physis. 
 
Outro Pensador Originário foi Anaximandro. Ele nasceu meados do 
século VII a. C e morreu por volta do século VI a. C, foi discípulo de Tales e 
sucessor na direção da escola de Mileto. Contudo, de sua vida nada se sabe 
ao certo. Elaborou uma obra chamada Da Natureza, da qual só restou um 
fragmento. Afirma que sobre o princípio das coisas é o ápeiron. Esta “palavra 
significa literalmente infinito, não em sentido matemático, e sim no de limitação 
e indeterminação” (MARÍAS, 2015, p.16). Pois para ele a “água é algo derivado 
e que, ao contrário, o „princípio‟ (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza 
infinita (physis) in-finita e in-definida da qual provém todas as coisas que 
existem.” (REALE, 2007, p. 19). 
Anaximandro afirma, dessa forma, “não se tratar nem de água (como 
pensar Tales) nem de nenhuma outra matéria conhecida” (PRADEAU, 2012, p. 
18), e que esse princípio coincide com o divino. Sobre isso esse pensamento 
de Anaximandro, Aristóteles em sua obra Física diz: 
“Tudo, com efeito, ou é um princípio ou deriva de um princípio: 
mas do infinito não há princípio, porque nesse caso haveria um 
limite. E também é não gerado e incorruptível, do mesmo modo 
que um princípio, pois o que é gerado tem necessariamente 
também um fim, e toda corrupção tem seu termo. (...) E tal 
princípio parece ser o divino; e é, com efeito, imortal e 
imperecível (...).” (ARISTÓTELES, Física, livro III, 4). 
Como visto no fragmento acima, Anaximandro, ao aprofundar a 
compreensão de Tales, considera que, como a água é um elemento derivado 
não pode ser o arché. Como é possível verificar no trecho de sua obra de 
abaixo descrito: 
 
“O princípio de todos os seres é infinito [...] Naquilo de que os 
seres extraem sua origem, aí se realiza também sua 
dissolução, conforme a necessidade: com efeito, 
reciprocamente descontam a pena e pagam a culpa cometida, 
segundo a ordem do tempo.” (ANAXIMANDRO apud REALE, 
2007, p.50) 
 
Como visto, Anaximandro postula que as coisas são criadas por uma 
segregação e se separam por um movimento. Para ele, a criação das coisas se 
dá por meio dos contrários que dominam uns aos outros, em uma forma de 
injustiça, ou seja, uma supremacia injusta do quente sobre o frio, o úmido sobre 
o seco, etc. Entretanto, todos tendem, através do tempo, a voltar para o infinito, 
o ápeiron, no qual não há mais injustiça e nem corrupção. O tempo é o 
 
responsável para reorganizar a oposição dos contrários, fazendo com que 
todas as coisas retornem a unidade originária da physis. 
Anaximandro de Mileto representa a continuidade da busca pelo princípio 
originário da qual todas as coisas procedem, o arché e, não obstante, passa da 
afirmação de que tal princípio é uma simples substância, a partir de uma 
reflexão mais profunda que é própria do desenvolvimento da filosofia. 
Desenvolvendo, deste modo, uma noção que estará presente no pensamento 
dos pré-socráticos como um todo: a que o árché é uma unidade imperecível, 
imutável e invariável, o que contribui para perceber a unidade que há em todas 
as coisas. 
 O continuador do pensamento da escola milética é Anaxímenes. Nasceu 
no século VI a. C, foi discípulode Anaximandro e “propunha como princípio o 
ar infinito, do qual todas as coisas que existem, que existiriam e existirão, e os 
deuses e os seres divinos, e todas as outras coisas derivam por sua vez 
destas” (HIPÓLITO apud REALE,2007, p.53). Sobre essa afirmativa é possível 
observar no excerto de seu escrito, onde diz que “como a nossa alma, sendo 
ar, nos mantém vivos, da mesma forma o sopro e o ar sustentam o cosmo 
inteiro” (ANAXÍMENES apud REALE, 2007, p. 51). Porque ele constatou que a 
vida humana é garantida pelo ar, pois sem ar não haveria possibilidade de 
respirar e, como consequência, não existiria nenhuma forma de vida. 
Anaxímenes considera que todas as coisas são formas de ar em 
diferentes estados físicos, pois o modo concreto para a sua formação (das 
coisas) é a condensação e rarefação. Pois, observa que “o [ar] contraído e 
condensado da matéria ele diz que é frio, e o ralo e o frouxo (é assim que ele 
expressa) é quente” (PLUTARCO apud REALE, 2007, p. 51), dessa maneira, 
“quando o ar se condensa, ele produz inicialmente neblina, em seguida água, a 
terra e as pedras sólidas. O ar rarefeito origina fogo. (PRADEAU, 2012, p. 19)”. 
O que é possível notar na construção do pensamento é que “os filósofos 
naturais eram, sobretudo pesquisadores naturais. Eles ocupam, portanto, um 
lugar muito importante na história da ciência” (GAARDER, 1995, p. 100). 
Porque ao buscarem analisar a natureza e todos os seus fenômenos, ou seja, 
interessando-se pelos processos naturais, deram a possibilidade de se levantar 
questões sobre a dessacralização da natureza, sendo o marco inicial para uma 
visão ecológica. 
 
Por ecologia, entende-se como “o estudo da natureza tomada como um 
todo em que todas as realidades, inclusive os homens, dependem umas das 
outras” (LACOSTE, 2004 p. 592). E nisto demonstra-se a grande influência dos 
Filósofos Originários, pois observavam a physis como um todo ordenado, do 
qual o homem é parte integrante, que leva, na atualidade, a pensar na 
interdependência de todos os seres vivos presentes na natureza. Todavia, é 
necessário evidenciar que é a compreensão de que a ação antrópica 
desordenada “desconhece e destrói a interdependência e autonomia dos 
ecossistemas naturais, e torna-se responsável por uma crise ecológica mundial 
que põe em perigo a natureza” (LACOSTE, 2004 p. 592). 
 
2- UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS NO SÉCULO XX. 
 
A crise ambiental pela qual estamos passando tem como fonte primeira 
a relação homem natureza que ocorre de forma predatória, o homem tira da 
natureza que lhe que lhe é necessário sem importar-se com o que pode ser 
causada por essas ações, a dominação da natureza pelo homem tem origem já 
nos tempos remotos da existência humana e foi esta que permitiu a evolução 
de nossa espécie, porém, esta mesma relação poderá nos levar a extinção. 
O dinamismo da civilização industrial introduziu radicais mudanças no 
Meio Ambiente físico. Essas transformações implicaram a formação 
de novos conceitos sobre o ambiente e o seu uso. A Revolução 
Industrial, que teve início no século XVIII, alicerçou-se, até as 
primeiras décadas do último século, nos três fatores básicos da 
produção: a natureza, o capital e o trabalho. Porém, desde meados 
do século XX, um novo, dinâmico e revolucionário fator foi 
acrescentado: a tecnologia. Esse elemento novo provocou um salto, 
qualitativo e quantitativo, nos fatores resultantes do processo 
industrial. Passou-se a gerar bens industriais numa quantidade e 
numa brevidade de tempo antes impensáveis. Tal circunstância, 
naturalmente, não se deu sem graves prejuízos à sanidade 
ambiental. (SPAREMBERGUER; SILVA, 2005, p. 83) 
 
 
 O processo de dominação da natureza pelo homem acontece desde os 
primórdios da humanidade com os primeiros hominídeos perpassando toda a 
história até os nossos dias, aqui porem nos ateremos aos séculos XX e XXI e 
com a ação humana levou a tamanha degradação. No princípio da 
humanidade, havia uma unicidade orgânica entre o homem e a natureza, onde 
o ritmo de trabalho e da vida dos homens associava-se ao ritmo da natureza. 
“No contexto do modo de produção capitalista, este vínculo é rompido, pois a 
 
natureza, antes um meio de subsistência do homem, passa a integrar o 
conjunto dos meios de produção do qual o capital se beneficia”. (OLIVEIRA 
2002) 
O capitalismo do mundo contemporâneo é um sistema econômico 
baseado na propriedade privada dos meios de produção e na propriedade 
intelectual, que tem como objetivo a obtenção de lucro através do risco do 
investimento. As decisões sobre os investimentos de capital são feitas pela 
iniciativa privada, e a produção, a distribuição e os preços dos bens, serviços e 
recursos humanos são controlados pela força da oferta e da procura. “No 
capitalismo, portanto, o acesso aos recursos existentes na natureza passam 
por relações mercantis, visto que sua apropriação pelo capital implica a 
eliminação de sua "gratuidade natural". Portanto, a incorporação da natureza e 
do próprio homem ao circuito produtivo é a base para que o capital se 
expanda.” (OLIVEIRA 2002). Embora a ciência e a técnica atinjam patamares 
cada vez mais elevados, melhoram a qualidade de vida de poucos. A 
desigualdade social é uma realidade presente em todo o globo, muitas vezes 
atingindo situações críticas, onde alguns poucos se chateiam com o excesso 
de bens de consumo que possuem e a grande maioria não tem nem o que 
comer. 
A sociedade de consumo atual é caracterizada por profundas crises 
socioambientais e socioeconômicas, resultantes do ideal do progresso e do 
desenvolvimento tecnológico, da produção em massa de produtos muitas 
vezes supérfluos ou até mesmo nefastos à qualidade de vida, da degradação 
ambiental e da exploração dos elementos naturais em tal velocidade e 
intensidade que se torna impossível para a natureza se recompor na escala de 
tempo humana. 
 
A sociedade de consumo é caracterizada pelo uso de uma 
quantidade de bens e serviços muito maior do que a necessária. 
Dessa forma, o termo “consumismo” se refere à atividade de usar os 
recursos naturais até a exaustão. Assim, devido ao uso excessivo 
desses recursos e da enorme produção de lixo e poluição, a 
sociedade de consumo global vem despertando para a necessidade 
de se minimizarem os efeitos dessa produção desenfreada de bens 
supérfluos, que alcançou um patamar alarmante a partir da expansão 
imperialista. (ALBUQUERQUE, 2007, p 54.) 
 
Nas últimas décadas, muito se tem falado sobre os problemas 
ambientais que põem em risco a perpetuação da vida na Terra. Acordos com o 
objetivo de reduzir a poluição e outros problemas, como o aquecimento global 
 
e o “buraco” na camada de ozônio têm sido discutidos em escala mundial. 
Entre eles, podemos destacar o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas de 
redução de gases poluentes para os países industrializados, a carta da terra 
que propõe uma relação de responsabilidade na relação homem ambiente. A 
partir do século XIX, a ciência e a técnica começam a adquirir um significado 
central na sociedade. A natureza, cada vez mais tratada como algo a ser 
dominado e possuído, passa a ser dividida em biológica, física e química. O 
homem é dividido em antropológico, histórico, sociológico, psicológico, 
econômico e político. O mundo não é mais integrado, e sim dividido. O homem 
não se vê como parte da natureza. As áreas do saber são fragmentadas, o que 
dá uma falsa impressão de que são independentes e não se inter-relacionam. 
No final do século XIX e início do século XX, a economia mundial 
conheceu profundas mudanças. A Segunda Revolução Industrial novas 
tecnologias, como motores a gasolina, diesel eeletricidade, que dinamizaram 
ainda mais o processo produtivo, aumentando a produtividade das fábricas, o 
que gerou uma grande necessidade de se encontrar tanto mercado consumidor 
para esses produtos quanto matérias-primas. A ideia de uma natureza-objeto 
exterior ao homem pressupõe a ideia de um homem não natural e se consolida 
junto com a civilização industrial inaugurada pelo capitalismo e essa visão de o 
homem estar para além da natureza como que sendo um ser superior a ela dá 
a ele a possibilidade do processo de objetificação da natureza. É esse não 
sentir-se parte que leva o homem a ver-se no direito de tirar da natureza seus 
recursos necessários para o seu fazer e devolver a natureza apenas os 
dejetos, e esse sentir-se superior que tira da relação homem ambiente que 
resulta nas reações prejudiciais até mesmo a sobrevivência do próprio homem, 
poderíamos citar, por exemplo, o fato ocorrido na barragem da mineradora 
Samarco em Mariana, Minas Gerais em novembro de 2015 que além da 
destruição das casas levou também a destruição do Rio Doce. E com este fato 
muitos outros que levam a assoreamentos de rios, o desmatamento na 
Amazônia. 
 
3- O PAPEL DO HOMEM NA NATUREZA, COMO SER RESPONSÁVEL 
PELO MEIO EM QUE HABITA. 
 
 
 Como já observamos neste trabalho os filósofos pré-socráticos não 
falaram sobre a ecologia, pois esta como a concebemos hoje só surge no 
século XX, mas os filósofos e em nosso caso os filósofos da escola de mileto 
nos dão base para podermos pensar sobre a ecologia. 
A busca do Arché empreendida por esse filósofos que desemboca no que 
chamamos physis nos dá bases para pensarmos num ecologia uma vez que 
para Tales, Anaximandro e Anaxímenes existe um princípio único de onde tudo 
provém, e deste princípio primeiro onde tudo se encontra que podemos 
pensar numa ecologia uma vez que tudo está em comunhão, onde tudo 
participa duma grande totalidade que parte de um princípio único tudo está 
interligado como diz o papa Francisco na Laudato Si “O nosso corpo é 
constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua 
água vivifica-nos e restaura-nos.”(FRANCISCO, 2015, p. 15). Por mais que a 
causa originária não sejam aquelas que os originários afirmam a unidade onde 
tudo que há contem em parte os minerais, a água, enfim tudo se encontra de 
certo modo em uma simbiose o cuidado com essa totalidade deve ser 
responsabilidade de cada um que está dentro dessa totalidade. 
Este sentido de abrangência, de ser no mundo e mais do que isso de ser 
com o mundo deve despertar em nós aquilo que nos propõe a carta da terra 
“uma mudança na mente e no coração requer um novo sentido de 
interdependência global” é nesse sentido da abrangência que somos levados 
pelo pensamento dos originários e é por causa dessa abrangência que 
devemos assumir uma postura de cuidado. 
 
O diálogo com pensadores como Anaximandro, Heráclito, 
Parmênides, Empédocles pode nos remeter a uma experiência 
(contida na origem de nossa trajetória ocidental), na qual a sabedoria 
não reside em ter muitas informações, mas em manter-se em sintonia 
com a lei que dá origem, anima e permeia a physis, a sabedoria de 
reconhecer na multiplicidade de manifestações do real, a Unidade 
profunda de todas as coisas. Esta unidade é, por sua vez, dinâmica: 
não exclui, mas inclui, o movimento, o múltiplo, o diverso; inclui o ser 
humano, que precisa aprender a pôr-se a escuta do Cosmos e de 
seus sinais, encontrando o comum acorde que vibra na totalidade do 
real. Para nós, habitantes de um mundo no qual tanto a natureza 
como um todo quanto o próprio ser humano foram reduzidos à 
condição de objetos cujo único valor está no lucro que podem 
produzir, o pensamento pré-socrático convida a um repensar de 
nossa identidade enquanto humanos e de nosso lugar no universo. 
(UNGER 2006, p 28.). 
 
Assim como afirma Unger esse diálogo com os pré-socráticos nos serve 
de norte para pensar uma nova forma de relação entre nós humanos e o meio 
 
onde vivemos essa relação deve gerar um novo ethos, um novo modo de ser 
diante das relações de coisificação que nos são impostas pelas relações do 
capital. Assim como Unger papa Francisco fala dessa nova relação que deve-
se manter para a manutenção da existência da vida no planeta “O urgente 
desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a 
família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois 
sabemos que as coisas podem mudar.” (FRANCISCO, 2015, p. 13) 
Sabe-se da dificuldade do ser humano de se relacionar com a natureza 
na modernidade, e da visão errônea do homem para com a natureza, por isso 
não somente num víeis teológico, mas, também filosófico o Papa Francisco 
concretiza uma crítica ao antropocentrismo desordenado que tem gerado um 
idealismo consumista, além de fortificar ainda mais a crise ecológica, cultural e 
ética: 
Não haverá uma nova relação com a natureza, sem um ser 
humano novo. Não há ecologia sem uma adequada 
antropologia. Quando a pessoa humana é considerada apenas 
mais um ser entre outros, que provém de jogos do acaso ou 
dum determinismo físico, « corre o risco de atenuar-se, nas 
consciências, a noção da responsabilidade ». Um 
antropocentrismo desordenado não deve necessariamente ser 
substituído por um “biocentrismo”, porque isto implicaria 
introduzir um novo desequilíbrio que não só não resolverá os 
problemas existentes, mas acrescentará outros. (FRANCISCO, 
2015, p. 74-75). 
 
 Deve-se pensar as relações ecológicas como uma integralidade assim 
como fala Francisco não basta tirar o antropocentrismo e no lugar deste colocar 
um biocentrismo deve-se pensar a relação homem e meio ambiente como uma 
forma de convivência, não como partes diferentes dando ênfase a um lado ou a 
outro. É preciso pensar na dimensão da totalidade, o fato de pensar em apenas 
um lado em apenas um ponto de vista nos leva a ver as realidades a partir de 
uma visão egoísta e o que se deve fazer não é olhar homem e natureza como 
se fossem duas coisas completamente distintas e que se repelem, mas, como 
pensava os originários que ensinam pensar o mundo como uma totalidade, 
como um grande organismo vivo do qual todos nós participamos. 
 
CONCLUSÃO 
O ser humano no seu modo de se relacionar com a natureza na 
modernidade, demonstrando que, no contexto atual, urge a necessidade de se 
tomar consciência sobre os problemas relativos a sustentabilidade e ao 
 
consumo responsável dos bens naturais, o que é possível ser sanado com 
algumas ações de mudança de atitude na relação homem hodierno-natureza. 
Desse modo, compreende-se que ainda há muito trabalho a ser feito, fim 
de que se tenha de fato um ambiente limpo e saudável. Assim, a primeira ação 
para essa mudança deve ser a conscientização pessoal sobre a importância do 
ambiente limpo, e do cuidado com os meios naturais, criando um sistema 
político-econômico que colabore com a manutenção e preservação e com 
consumo e produção responsável. O presente trabalho conclui-se com um 
novo olhar no que diz respeito ao meio ambiente e as formas de preservação. 
Ao longo dessa pesquisa, atualizou-se a reflexão filosófica sobre esta 
problemática que tem provocado todos os âmbitos da sociedade. Outrossim, 
procurou-se aprofundar o conhecimento, do ponto de partida da filosofia da 
antiguidade clássica, principalmente os Filósofos Originário da escola de Mileto 
–Tales, Anaximandro e Anaxímenes, mas sem pretensão de colocar um ponto 
final na questão ambiental, e sim de dar uma contribuição filosófica para esta 
reflexão, como seres responsáveis pelo seu habitat, em vista da sua 
manutenção para que as gerações futuras possam contemplá-lo ecuidar como 
é o dever do ser humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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