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Curso Especialização em Bovinocultura UTILIZAÇÃO DE PASTAGENS – MANEJO DO PASTEJO Daniel Rume Casagrande Departamento de Zootecnia – UFLA danielcasagrande@dzo.ufla.br Palavras-chave: Altura do dossel, Diferimento de pastagem, Estrutura do dossel, Lotação contínua, Lotação rotativa, Lavras, 2015 A forragem oriunda de pastagem é base da alimentação de bovinos no Brasil. Embora exista o consenso de que a utilização de pastagem na alimentação de ruminantes seja de menor custo, a falta de conhecimento de como usa-la pode custar caro. É comum observar erros no manejo do pastejo que afetam as respostas das plantas e dos animais, o que reduz a renda e eleva os custos por unidade de produto. Para uso correto de pastagens tem-se que entender os processos que determinam as respostas das plantas e animais e saber como utilizá-los. Assim o objetivo com esse texto é entender como controlar processos de produção e utilização de forragem em pastagens. A forma mais eficiente de determinar as respostas das plantas e dos animais é por meio do controle da estrutura e arquitetura do dossel forrageiro, independente do método de lotação. O que é estrutura e arquitetura do dossel? Estrutura do dossel: Biomassa, composição botânica e morfológica do dossel forrageiro Arquiterura do dossel: Distribuição e arranjo espaciais das partes contituintes do dossel. Métodos de lotação Método de lotação refere-se ao procedimento ou técnica de manejo que controla a colheita de forragem pelos animais (Pedreira, 2013). Durante período de maior produção de forragem (águas) os métodos de lotação podem ser divididos em dois grupos: lotação contínua ou alguma variação de lotação intermitente (rotativa). Métodos de lotação Lotação contínua: Método que os animais tem acesso initerrupto a toda área da pastagem , durante toda estação de pastejo. Lotação rotativa: Métodos que fazem uso de períodos alternados de desfolhação e de descanso em duas ou mais subunidades (piquetes) (Pedreira, 2013) Lotação contínua É comum muitas pessoas associarem lotação contínua como método extensivo, o que é um erro conceitual muito grave. Este confundimento ocorre por associarem a este método o uso de taxa de lotação fixa. O uso de taxa de lotação fixa não permite controle sobre a estrutura e arquitetura do dossel, sendo que essas variáveis ficam dependentes das condições climáticas. No entanto, quando utilizamos lotação contínua com controle da estrutura do dossel é possível obter excelentes resultados de desempenho animal individual e por área. Para entendermos os princípios de uso da lotação contínua alguns pontos devem ser compreendidos: Como controlar a estrutura dossel utilizando método de lotação continua? Muitos pode imaginar que não é possível controlar a estrutura do dossel sob lotação contínua, pois os animais tem toda a área da pastagem disponível para ser pastejada. No entanto, devemos entender que os animais não pastejam o mesmo local todos os dias. Os próprios animais alteram os locais de pastejo ao longo dos dias, definindo uma frequência e intensidade de pastejo de acordo com período que retornam ao mesmo local. Frequência e intensidade de desfolhação são as variáveis que definem a estrutura do dossel. Portanto se conseguirmos manipula-las podemos controlar a estrutura do dossel. O ajuste na taxa de lotação permite aumentar ou reduzir a frequência e intensidade de desfolhação. Assim o controle da estrutura do dossel se dá pelo ajuste na taxa de lotação, com a finalidade de regular produção com consumo de forragem. Dessa forma, épocas com maior produção de forragem aumenta a taxa de lotação e vice e versa. Em dossel com a mesma taxa de acúmulo de forragem o aumento da taxa de lotação irá refletir em maior frequência e intensidade de desfolhação. Assim, objetiva-se com ajuste na taxa de lotação controlar o processo de desfolhação, uma vez que animais alimentam-se preferencialmente de folhas e planta necessita de folhas para realizar fotossíntese. A falta de ajuste compromete o consumo dos animais ou a taxa fotossintética e consequentemente o crescimento das plantas forrageiras. Com base no exposto é evidente que não da para utilizar esse método sem divisão de pastagens. Em uma propriedade se faz necessário divisões de pastagem com base da topografia, forrageira utilizadas, disponibilidade de água entre outras, a fim de obter pastagens homogenias para reduzir a concentração de pastejo dos animais em determinadas área (super-pastejo) e sub-pastejo em outras. Qual critério podemos utilizar para ajustar a taxa de lotação? Qualquer critério que tenha relação com a estrutura do dossel pode ser utilizados, como exemplo: IAF (índice de área foliar), altura do dossel, oferta de forragem entre outros. Em pastagens cultivadas o critério mais utilizado é altura do dossel, pela facilidade e excelente correlação com a estrutura do dossel. Pastos nativos a oferta de forragem é uma boa opção, embora tenha menor correlação com estrutura do dossel. Como devemos manejar pastos em lotação contínua? Para entender como deve ser feito manejo em lotação contínua é necessário compreender a respostas das plantas e dos animais a diferentes estruturas do dossel. As respostas das plantas a manejo com diferentes alturas do dossel segue o mesmo padrão de independe do cultivar, o que muda de uma forrageira para outra são apenas os valores absolutos (Da silva e Nascimento Junior, 2007). Ao aumentar a altura do dossel há incremento do crescimento de forragem, no entanto, ocorre redução da eficiência de utilização da forragem. Com isso há aumento da senescência de folhas, de forma que dentro de uma faixa de manejo o acúmulo de forragem é o mesmo devido o equilíbrio do aumento do crescimento e da senescência (Da Silva, 2013). Figura 1. Dinâmica do acúmulo de forragem em pastos de Cynodon sp. (Tifton 85, Florakirk e Coastcross) mantidos em condições de equilíbrio dinâmico (alturas de dossel forrageiro de 5, 10, 15 e 20 cm) por meio de lotação contínua e taxa de lotação variável (Adaptado de Pinto, 2000). Figura 2. Dinâmica do acúmulo de forragem em pastos de capim-marandu (Brachiaria brizantha cv Marandu) mantidos em condições de equilíbrio dinâmico (alturas de dossel forrageiro de 10, 20, 30 e 40 cm) por meio de lotação contínua e taxa de lotação variável (Adaptado de Sbrissia, 2004). Índice de área foliar 1,3 2,1 2,9 3,6 0 40 80 120 160 200 0 5 10 15 20 Altura do pasto (cm) Ta xa s do s pr oc es so s (k g de M S /h a. di a) Crescimento Acúmulo Líquido Senescência 0 20 40 60 80 100 120 140 0 10 20 30 40 50 Altura do pasto (cm) Ta xa s d os pr oc es so s (kg de M S/ ha .di a) Observa-se nas Figuras 1 e 2 que o padrão de resposta é semelhante para capim-marandu e pastos de Cynodon sp., contudo as faixas de alturas recomendadas são diferentes de 20 a 40 cm para capim-marandu e 10 a 20 cm para os Cynodon sp.. Assim pensando somente nas respostas da planta qualquer altura dentro dessa faixa pode ser utilizada. A resposta animal também varia em função das alturas de dossel. Pastos mais baixos podem provocar redução do consumo de forragem pelos animais em função de fatores não nutricionais, relativos ao comportamento animal. Com menor consumo em dosséis baixos há redução no desempenho individual. Assim obtêm maiores ganhos com animais mantidos nas maiores alturas dentro dasfaixas supracitadas. Entretanto, nos dosséis maiores a taxa de lotação é menor, em função da menor eficiência de utilização. Assim o ganho por área é menor nos dosséis altos (Tabela 1). Tabela 1 Desempenho de novilhas Nelores sob pastejo em lotação contínua em pastagens de capim-marandu, mantidas com três alturas de dossel Desempenho animal Altura do dossel (cm) CV% 15 25 35 Ganho de peso diário (g/dia) 511 b 608 ab 713 a 22,6 Taxa de lotação (UA/ha) 5,8 a 4,5 b 3,4 c 6,0 Ganho por área (kg/ha/período das águas) 636 a 568 ab 498 b 23,1 Adaptado de Casagrande et al, 2013 Quais limitações de uso de lotação contínua? É uma opção de manejo do pastejo para plantas de hábito de crescimento prostrado (estoloníferas ou decumbente) ou eretas com pequeno alongamento de colmo. Podemos destacar os gêneros: Cynodons spp. e Brachiaria. Cultivares dos gêneros: Panicum, Penissetum, Andropogon não devem ser manejados sob lotação contínua. Outro limitante para esse método é o uso com categorias animais que tenham comportamento influenciado por "locais atrativos", por exemplo sala de ordenha para vacas em lactação. Como vacas lactantes tem que se deslocarem duas vezes ao dia para serem ordenhadas, as mesmas tendem a passarem muito tempo próximo a sala de ordenha causando super-pastejo nessas áreas e sub-pastejo nos locais mais distantes. Assim podemos dizer que esse método se adéqua mais em sistemas de produção de carne. No entanto, é importante salientar que o uso de suplementação de médio e alto consumo necessita de que as pastagens sejam menores pois o cocho torna-se um atrativo. Lotação intermitente A grande diferença entre lotação intermitente e contínua é a maior facilidade de manejo. Em métodos de lotação rotativo é possível controlar frequência e intensidade de desfolhação de forma separada, o que não é possível em lotação contínua. O controle da frequência se da pelas variações nos períodos de descanso, os quais não devem ser fixos ao longo das águas. A intensidade de desfolhação é possível controlar com manejo durante o rebaixamento do dossel. Período de ocupação: Intervalo de tempo em que uma área específica de terra (piquete) é ocupada por um ou mais grupos de animais em secessão Período de permanência: Intervalo de tempo em que um uníco grupo de animais ocupa uma área específica de terra (piquete). Período de descanso: Intervalo de tempo em que uma área específica de terra (piquete) não é pastejada entre dois período de pastejo Ciclo de pastejo: Intervalo de tempo entre o ínicio de sucessivos períodos de pastejo em que uma área específica de terra (piquete). (Pinto e Avila 2013) Como controlar a estrutura dossel utilizando método de lotação continua? Da mesma forma que em lotação contínua na lotação rotativa o controle da estrutura do dossel ocorre pela manipulação da frequência e intensidade de desfolhação. De forma resumida o controle da estrutura do dossel também ocorre com alteração na taxa de lotação, contudo a alteração na taxa de lotação pode ser realizada alterando número de animais o a área de pastejo. Como planejar um módulo de piquetes para uso de lotação rotativa? Primeiro procedimento é definição da área e dimensionamento dos piquetes, como regra geral o número de piquetes é dado pela seguinte formula: NP = PD + NG PP Em que: NP = Número de piquetes PD = Período de descanso PP = Período de permanência (Se NG=1 o PP= Período de ocupação) NG = Número de grupos Podemos perceber que é preciso definir período de descanso, período de ocupação e número de grupos de animais. O número de grupos e período de ocupação é definido pelo manejador da pastagem, já período de descanso é dependente da planta forrageira, adubação e condições climáticas. Normalmente podemos utilizar um ou dois grupos de animais. A opção por dois grupos se da quando temos animais de diferentes exigências nutricionais, como por exemplo, vacas lactantes. Assim vacas de maior produção pastejam primeiro grupo, tendo acesso a forragem de melhor qualidade e animais de menor produção fazem o repasse da forrageira. Nesse caso o ideal é que o primeiro grupo seja removido da área quando a altura do dossel ainda for superior a 60% da de entrada e o segundo pode permanecer na área até a altura do dossel corresponder a 40% da de entrada. Quando estamos trabalhando com animais de exigência nutricional semelhante, por exemplo, animais de recria, não faz muito sentido utilizar dois grupos para pastejo. Para manejador definir o período de ocupação é necessário sabermos que quanto menor o período de ocupação mais regular será o desempenho dos animais, por exemplo, período de ocupação longo promove maior desempenho nos primeiros dias de pastejo em um piquete e à medida que período de ocupação avança o desempenho reduz. O que ocorre com desempenho está relacionado com a qualidade da forragem, quando animais entram em um piquete a forragem tem alta qualidade e reduz com o rebaixamento do dossel. Portanto para definir por período de descanso deve ser consideram quanto de controle o manejador determina. O período de ocupação deve ser de um a sete dias, mais longo do que isso pode comprometer o crescimento de forrageira no próximo ciclo de pastejo. Para escolhermos o período de descanso é um pouco mais complicado, pois o período de descanso não é fixo, ele deve variar ao longo dos ciclos de pastejos. Para estimar o número de piquetes o correto é trabalhar com o número médio do período de descanso durante o período chuvoso. Como determinar o período de descanso com lotação intermitente? Logo após a saída dos animais de um piquete inicia-se o período de descanso. Nessa fase o IAF e a interceptação luminosa (IL) são baixos, em consequência a taxa fotossintética é reduzida. Assim, a taxa de crescimento de folha é pequena. Com a expansão das primeiras folhas e aumento do IAF, aumenta a taxa de crescimento de folhas. Até o dossel atingir 95% IL a taxa de crescimento de folha aumenta linearmente, após esse ponto tende a se estabilizar (Figura 3). O crescimento de colmo tem comportamento diferente. No início do período de descanso é próximo de zero. Após o dossel atingir 95% IL há incremento expressivo na taxa de alongamento de colmo. A senescência (morte) de folhas tem padrão de resposta muito semelhante a taxa de alongamento de colmo (Figura 3). Figura 3. Dinâmica do acúmulo de forragem em pastos de capim-mombaça (Panicum maximum cv Mombaça) submetidos estratégias de pastejo rotativo caracterizadas por altura pós-pastejo 50 cm e pastejo iniciado com máxima interceptação luminosa pelo dossel forrageiro (Adaptado de Carnevalli, 2003). Dessa forma fica evidente que o período máximo de descanso é até dossel atingir 95% IL. Pois é momento durante período de descanso que apresenta melhor estrutura do dossel, representada por maior proporção de folhas e menores de colmo e material morto. Porém não da para indicar para produtor utilizar IL como guia de manejo, pois implica na aquisição de equipamento de alto custo. Para substituir a IL como guia de manejo recomenda-se a altura do dossel em função da alta correlação das duas variáveis. Portanto para cada forrageira devemos utilizar uma altura do dossel como critério máximo para período de descanso (Tabela 2). Folha Colmo Material senescente 95% IL 210 180 150 120 90 60 30 0 74,2 84,2 98,0 99,0 2,3 2,7 4,8 6,6 49,3 82,9 94,3 110,3 20/02 29/02 15/03 22/03 Data (dias) Altura do pasto (cm) IAF Interceptação de luz (%)A lo n g a m e nt o d e fo lh a s e se n e sc ên ci a (c m /p e rf ilh o ) A lo n g a m e nto d e co lm o s (cm /p e rfilh o ) 0 6 12 18 24 30 Tabela 2: Recomendações de alturas médias dos pastos em sistema de lotação intermitente relacionado a 95% de interceptação luminosa. Espécie Cultivar Altura do dossel pré-pastejo (cm) Fonte P. maximum Mombaça 90 Carnevalli et al. (2006) Tanzânia 70 Barbosa et al. (2007) Massai 50 Oliveira, (2014) Aruana 30 Zanini et al. (2012) B. brizantha Marandu 25 Trindade et al. (2007) Xaraés 30 Sousa et al., (2011) B. decumbens Basilisk 20 Braga et al. (2009) Brachiaria spp. Mulato 30 Sousa Jr /(2011) B. humidicola Humidícola 30 Vilela (2011) P. purpureum Cameroon 100 Voltilini (2006) A. gayanus Andropon 50 Sousa et al. (2011) Cynodon Tifton-85 25 Da Silva et al. (2008) Coastcross 30 Qual impacto de adorar a altura do dossel como guia de manejo sobre desempenho animal? O uso do manejo por altura do dossel em pastagens tropicais sob lotação contínua foi comparado com manejo de dias fixos em sistemas de produção de leite. Os dados obtidos demonstram produção por animal de 15 a 20 % superior quando utilizou altura do dossel como guia de manejo. Além do aumento de 30% na taxa de lotação. O maior desempenho animal utilizando a altura do dossel como guia se deve ao controle da estrutura do dossel que permitiu ofertar forragem de melhor qualidade para os animais, com maior proporção de folhas e baixa quantidade de colmo e material morto, durante toda estação chuvosa. Esses valores fazem a diferença entre obter lucro ou não dentro de uma propriedade. Pois esse aumento de produtividade ocorre com custo baixo, apenas de manejar os pastos. Vale ressaltar que embora pareça simples o uso dessa tecnologia exige dedicação e conhecimento, e que o monitoramento do dossel deve ser realizado de forma constante. Como devemos controlar o rebaixamento do dossel durante o período de ocupação? O controle do rebaixamento da forragem tem por objetivo determinar o processo de colheita de forragem (consumo) e a intensidade de desfolhação, a qual está relacionada com processo de rebrotação seguinte. Quanto mais intensa for a desfolhação menor será IAF residual e consequentemente a planta terá maior dependência de compostos de reservas e de adubação. No entanto o inverso, ou seja, baixa intensidade de desfolhação acarreta em reduzida eficiência de colheita. O desempenho animal também é influenciado pela intensidade de desfolhação. Intensidade de desfolhação e desempenho animal individual são inversamente proporcionais, ou seja, quando a intensidade é alta o desempenho individual é baixo. Contudo o desempenho por área é proporcional a intensidade de desfolhação, ou seja, quando a intensidade é alta o desempenho por área é alto, em função da maior taxa de lotação. Recomenda-se que a altura pós-pastejo deva ser de 40 a 60% da altura inicial. Quando ocorre o rebaixamento do dossel até 60% da altura inicial o desempenho individual é maximizado. Quando rebaixamento avança altura do dossel inferior a 60% da inicial há redução na taxa de consumo instantâneo o que leva redução do consumo diário e do desempenho individual, porém aumenta a quantidade de forragem colhida e consequentemente a taxa de lotação. A menor altura pós-pastejo recomendada é de 40% da inicial. Alturas menores do que essa pode comprometer a rebrotação no próximo ciclo de pastejo. Portanto, qual critério escolher depende do objetivo do produtor e para racionalizar o uso da forragem pode-se dividir em dois grupos de pastejo, desde que tenham grupos com diferentes exigências nutricionais. Figura 4: Taxa de ingestão de MS de bovinos ao longo do rebaixamento de pastos de Tifton 85 (■ ) e Sorgo (□ ). (Carvalho et al., 2013) Quais limitações do uso da lotação rotativa? Não limitação do uso de lotação contínua com relação a plantas forrageiras, nem de categoria animal, apenas algumas desvantagens. Dentre as desvantagens podemos listar duas, maior custo de implantação do sistema, em função de cercas e aguadas, mas que com o tempo se diluem e quando pastos são bem manejados possibilitam boa lucratividade. Outra desvantagem é com relação à ciclagem de nutrientes quando utiliza-se áreas de descanso, pois grande maioria das excretas do animais se concentraram nessas áreas, o que torna o sistema mais dependente de adubação. Para minimizar esse efeito pode-se distribuir essas excretas nas áreas de pastagens anualmente. De forma geral é método de lotação bem aceito por produtores e que tem poucas limitações de uso. Pastejo diferido Pastejo diferido (diferimento de pastagem) é derivado da palavra “diferir”, que significa adiar, protelar. Assim, podemos interpretar pastejo diferido como o adiamento do pastejo. Em muitas regiões o pastejo diferido também é chamado de vedação da pastagem. Podemos entender pastejo diferido com uma variação de lotação rotativa, em função o período de descanso, contudo associado a lotação contínua no período de utilização. Pastejo diferido nada mais é do que retirar os animais de algumas áreas de pastagens, no final do verão ou no outono, para garantir acúmulo de forragem que será utilizada no período da seca (Fonseca et al., 2013). Por muitos anos entendíamos que o objetivo com diferimento de pastagem era garantir o maior acúmulo de forragem possível no final do período chuvoso para maximizar o desempenho animal dura a seca. Trabalhos recentes tem demonstrado que o controle da estrutura do dossel é tão importante como nos demais métodos de lotação. Embora o controle da estrutura do dossel nesse caso é mais complicado em função do grande número de fatores envolvidos. Para controle do dossel temos que destacar quatro fatores: Escolha da espécie forrageira, altura do dossel no início do período de diferimento, duração o período de diferimento e escalonamento do uso da forragem. Quais as espécies forrageiras mais indicadas para o diferimento? Para uso em pastejo diferido devemos utilizar espécies forrageiras de porte baixo ou médio, com colmos finos e com alta relação folha/colmo, de preferência que seja menos sensível ao fotoperíodo decrescente, para que mantenham-se produtivas durante o outono e com menor florescimento possível. Dessa forma, podemos citar gramíneas dos gêneros: Brachiaria, Cynodon, Digitaria e Cenchrus. Qual a altura do dossel ideal para o início do diferimento? O ideal é que no início do diferimento realize-se pastejo com alta intensidade de desfolhação, com a finalidade de remover material velho presente na massa e também de permitir maior entrada de luz na base do dossel a fim de estimular o perfilhamento. Perfilhos mais jovens tem maior potencial de acúmulo de forragem, demorar mais para florescer e apresentam maior valor nutritivo. Em consequência quando promove o rebaixamento do dossel o desempenho animal aumenta (Figura 5) em relação aos dosséis mais alto no momento de diferir. Mesmo que nos dosséis que foram diferidos com maior altura tem maior massa de forragem a estrutura do dossel, ou seja, maior proporção de folha observamos nos dosséis que foram rebaixados no momento do diferimento. Figura 5: Desempenho de bovinos em pastos diferidos de B. decumbens cv. Basilisk durante o inverno, em função do seu manejo prévio, caracterizado pela altura (A) inicial dos pastos no início do período de diferimento.(Fonseca et al., 2013) Qual a duração do período de diferimento?Conforme foi dito anteriormente o objetivo não é obter maior massa de forragem possível, na verdade mais importante que a quantidade de forragem é a estrutura e arquitetura do dossel, ou seja, maior proporção de folhas, mesmo que folhas mortas, e que essas folhas sejam fáceis de serem colhidas pelos animais. Período longos de diferimento em pastagens produtivas, realizado na primeira metade do verão, proporcionam alta massa de forragem no período de utilização porém com alta proporção de colmo. Além disso, com a entrada dos animais dosséis muito alto tendem a acamar, prejudicando ainda mais a estrutura do dossel. Assim o desempenho animal é prejudicado, pois maior parte da forragem produzida não será consumida. Dessa forma em pastagens produtivas deve-se realizar diferimento durante o outono, para garantir melhor estrutura do dossel e maior desempenho animal. Quais a limitações de uso de pastos diferidos? Pasto diferido proporciona dietas de baixa qualidade, por tanto, só servem para animais com baixa exigência, como por exemplo vacas de corte secas, mesmo assim se faz necessário o uso de sal nitrogenado para garantir o mínimo de nitrogênio demando pelas bactérias ruminais. Ao utilizar para animais de exigência média, como por exemplo, a recria, deve-se associar ao pasto diferido suplemento, que dependo da meta de desempenho devem ser Y = 699,07 - 39,506A R² = 0,89 400,00 450,00 500,00 550,00 600,00 650,00 700,00 10 20 30 40 D es em p en h o a n im al (g /n o vi lh o .d ia ) Altura incial do pasto (cm) proteinados ou proteico energéticos. No entanto, para animais com maior exigência como vacas lactantes pastejo diferido não é recomendado., Literatura consultada Barbosa, R.A.; Nascimento Jr., D.; Euclides, V.P.B.; Da Silva, S.C.; Zimmer, A.H.; Torres Júnior, R.A.A. Capim-tanzânia submetido a combinações entre intensidade e frequência de pastejo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 42, p. 329-340, 2007. CARNEVALLI, R.A. Dinâmica da rebrotação de pastos de capim-Mombaça submetidos a regimes de desfolhação intermitente. Piracicaba, 2003. 136p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Carnevalli, R.A.; Da SILVA, S.C.; BUENO, A.A.O.; Uebele, M.C.; Bueno, F.O.; Silva, G.N.; Moraes, J.P. Herbage production and grazing losses in Panicum maximum cv. Mombaça under four grazing managements. Tropical Grasslands, v. 40, p. 165-176, 2006. CARVALHO, P.C.F. TRINDADE, J.K. BREMM, C. MEZZALIRA, J.C. FONSECA, L. Comportamento ingestivo de animais em pastejo . 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