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www.hermespardini.com.br 1 Dosagem do Metanol 1. Introdução O metanol é um solvente incolor, volátil, pouco lipossolúvel e de sabor levemente adocicado. É amplamente utilizado na indústria do petróleo, como combustível de veículos automotores, antidetonante para aviação, na síntese de substâncias químicas (etilenoglicol, formaldeído), como solvente em tintas, lacas, vernizes, esmaltes, removedores, resinas, em produtos de limpeza e na produção de plásticos (1,2,3). A exposição ao metanol por ingestão inadvertida ou seu uso fraudulento na adulteração de bebidas são as principais fontes de intoxicação por este álcool (1,2). 2. Toxicocinética É rapidamente absorvido através da pele, dos tratos respiratório e gastrintestinal. O pico sangüíneo ocorre em 30 a 60 minutos após a ingestão. Cerca de 75 % a 85 % do metanol absorvido é metabolizado, sendo 10 % a 20 % excretado inalterado pelos pulmões e 3 % a 5 % pelos rins (1). O metabolismo é predominantemente hepático, via álcool-dehidrogenase (ADH), sendo catalisado a formaldeído, que é rapidamente degradado a ácido fórmico. O metanol apresenta meia-vida de 2 a 24 horas, podendo chegar a 64,5 horas quando ocorrer co-ingestão de etanol devido à competição pelos sítios catalíticos de ADH. O ácido fórmico, metabólito tóxico, apresenta meia-vida de 2 a 24 horas. A diálise reduz a meia-vida do metanol para 2,5 horas e do ácido fórmico para 45 a 165 minutos (1,4). 3. Toxicidade O acúmulo do ácido fórmico é a principal causa da toxicidade do metanol, embora as alterações neurotóxicas iniciais sejam atribuídas ao próprio solvente. O quadro inicia-se com náuseas, dor abdominal, letargia, confusão mental e embriaguez. Após um período de latência (10 a 30 horas), de acordo com a intensidade da intoxicação, podem surgir acidose metabólica com anion gap elevado (quadro 1), convulsões, coma, insuficiência respiratória e choque. Alterações visuais (diminuição da acuidade visual, papiledema) em decorrência de neuropatia óptica tóxica também podem ocorrer (2,4). A ingestão de uma dose de 15 a 30 ml pode resultar em quadro de intoxicação (3). Os efeitos das exposições crônicas são pouco conhecidos, estando relacionados a irritação da pele e do trato respiratório, conjuntivite, cefaléia, insônia, alterações gastrintestinais e alterações visuais (9). Quadro 1 Anion Gap = (Na+) – (HCO3- + Cl-) Normal = 6 a 12 mEq Obs.: útil no diagnóstico diferencial das causas de acidose metabólica. 4. Monitorização da exposição ocupacional A dosagem do metanol urinário é utilizada como indicador biológico de exposição ocupacional ao metanol (5). Cerca de 2 % a 5% do metanol inalterado é encontrado na urina 4 a 10 dias após a exposição. A concentração excretada e a velocidade de eliminação aumentam ao longo da jornada de trabalho, atingindo um máximo ao final desta. A ingestão concomitante de bebidas alcoólicas irá aumentar a excreção urinária do metanol. Durante a coleta, deve-se ter cuidado para se evitar a perda do metanol por volatilização, mantendo o frasco de coleta totalmente preenchido com urina, sem ser aberto até o momento da análise, congelando a amostra imediatamente (2,5). A legislação brasileira define como valores de referência aqueles menores que 5 mg/L e estabelece índice biológico máximo permitido (IBMP) de 15 mg/L (2). 5. Dosagem do metanol plasmático O metanol pode ser quantificado no sangue, plasma ou soro por cromatografia gasosa. São considerados normais os valores inferiores a 0,15 mg/dl, embora níveis baixos de metanol plasmático (< 5 mg/dl) possam resultar de abuso de etanol, que leva à inibição do metabolismo endógeno do metanol, ou da ingestão de metanol proveniente de outra fonte dietética (ex.: aspartame) (7,9,10). As concentrações de metanol maiores que 20 mg/dl são geralmente consideradas tóxicas. As determinações de metanol plasmático e urinário são bastante úteis na intoxicação aguda. Outros exames www.hermespardini.com.br 2 laboratoriais, tais como gasometria arterial (acidose), osmolalidade (elevada), eletrólitos (hipercalemia), amilase (hiperamilasemia), dosagem do ácido fórmico, uréia, creatinina, glicose e lactato são importantes no diagnóstico diferencial da intoxicação por metanol e no seu tratamento (8). A dosagem do metanol no sangue não está prevista na legislação como indicador biológico de exposição (6). 6. Bibliografia 1. Rosano TG. Volatile Alcohols: Ethanol, Methanol, and Isopropranol. In: Shaw LM, Kowng TC. The Clinical Toxicology Laboratory. 2001: 183-6. 2. Leite EMA. Solventes Orgânicos. In: Oga S. Fundamentos de Toxicologia. 2 ed. 2003. 190- 192. 3. Michel OR. Metanol. In: Michel OR. Toxicologia Ocupacional. 2000.133-6. 4. Santos Júnior, EA, Moura JÁ. Alcoóis e Síndrome de Abstinência. In: Andrade Filho A, Campolina D, Dias MB. Toxicologia na Prática Clínica. 2001: 43-44. 5. Ghittori S, Alessio A, Maestri L, et al. Monitoraggio biologico. G Ital Med Lav Erg. 2002; 24: 89. 6. Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Nr- 7. Quadro 1. In: Segurança e Medicina do Trabalho. 50 ed. 2002. 7. Tietz NW. Clinical Guide to Laboratory Tests. 2ed. 1996: 430. 8. Ford MD, McMartin. Ethylene Glycol and Methanol. In: Ford. Clinical Toxicology. 1ed. 2001: 757-63. 9. United Nations Environment Programme International Labour Organisation. WHO International Programme on Chemical Safety. Methanol. World Health Organization Geneva, 2001. 10. Stengik LD, Brummel MC, MCMArtin K, et al. Blood Methanol concentrations in normal adult subjects adminstered abuse doses of aspartame. J Toxicol Environ Health. 1981; 7: 281-90. O Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini realiza : Metanol urinário Material: urina de final de jornada. Método: Cromatografia Gasosa. Valor de referência: 5,0 mg/L (NR-7). IBMP: 15,0 mg/L (NR-7). Metanol plasmático Material: plasma fluoretado. Método: Cromatografia Gasosa. Valor de referência: menor que 0,15 mg/dl. Concentrações tóxicas: maiores que 20 mg/dl. Dosagem do Metanol
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