Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Toxicologia - 1 - Tiocianato Indicador da Exposição ao Cianeto INTRODUÇÃO O tiocianato é um produto final do metabolismo do cianeto, sendo utilizado na investigação laboratorial da exposição a este. O ácido cianídrico e os cianetos de sódio e de potássio são considerados venenos clássicos, mas exposição também pode ocorrer na ingestão de alguns alimentos e no ambiente de trabalho (1). FONTES DE EXPOSIÇÃO O gás cianídrico ou cianeto é incolor e possui odor de amêndoas amargas. É utilizado como sal em operações de galvanização, como desinfetante industrial, praguicida, na fabricação de amônia, de tinturas de telas, em processos de revelação de fotografias e na síntese química. Também é liberado em incêndios em que há a queima de polímeros sintéticos, lã, seda e madeira. Alguns produtos químicos e industriais (acrilonitrila, proprionitrila, acetonitrila) quando metabolizados, levam à toxicidade por cianeto horas após a exposição (2,8). O cianeto pode ser encontrado em alguns vegetais: mandioca brava, sorgo, sementes de pêra e maçã, ameixa, louro-cereja e amêndoas amargas. Medicamentos como nitroprussiato de sódio (anti-hipertensivo parenteral) podem produzir cianeto por conversão metabólica. Outros compostos podem liberar cianeto após reação com o ácido clorídrico no estômago. O cigarro também é fonte de cianetos, sendo os níveis urinários de tiocianato em tabagistas mais elevados. A tabela 1 resume substâncias capazes de causar intoxicação por cianeto (1): Tabela 1 (1) Ácido Cianídrico (ácido prússico ou nitrilo fórmico) Líquido que emite vapores altamente tóxicos. Cianeto de Sódio Cianeto de Potássio Sólidos brancos muito solúveis em água. O cianeto de sódio é o mais tóxico. Após ingestão, reagem com o ácido clorídrico do suco gástrico, desprendendo grande quantidade de ácido cianídrico. Cianeto de Mercúrio Oxicianeto de Mercúrio Duplamente tóxico. Libera menor quantidade de ácido cianídrico que o cianeto de sódio e de potássio. Glicósides Cianogenados Substâncias de origem vegetal que são hidrolisadas em cianetos. São encontradas em diversas espécies vegetais. Cianeto de Metila (acetonitrila) Cianeto de Vinila (acrilonitrila) Cianogênio e Cloreto de Cianogênio Substâncias liberadoras do radical cianeto. N,N´-Dimetilaminopropionitrila (DMAP) Utilizado na produção de espumas de poliuretano. Toxicologia - 2 - METABOLISMO O cianeto é rapidamente absorvido por via inalatória, oral e cutânea, sendo sua meia-vida de 20 a 60 minutos. Parte do cianeto absorvido é excretado inalterado pelos pulmões, sendo, entretanto, a maior parcela convertida pela enzima rodanase em íon tiocianato (1,8). Esta conversão é um mecanismo de defesa natural, pois a ligação do enxofre, forma um composto menos tóxico. No entanto, esta conversão é limitada pela disponibilidade de enxofre que é retirado de aminoácidos essenciais (8). TOXICIDADE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O cianeto tem a capacidade de inibir enzimas possuidoras de metais em suas estruturas, especialmente as que contém o ferro. O cianeto reage prontamente com o ferro trivalente da citocromo-oxidase, levando a uma inibição da respiração celular (1). A intoxicação aguda pode ser fulminante, dependendo da dose de gás inalado. Em caso de ingestão, é dependente da digestão gástrica. Em exposições maciças, perda da consciência e morte ocorrem rapidamente. Em exposições menos intensas ocorre dispnéia, tonteira, cefaléia e alterações gastrintestinais. Níveis baixos de exposição em alimentos estão associados à neuropatia (clônus em calcâneo) (2). Devido à gravidade do quadro de intoxicação aguda, na existência de suspeita diagnóstica, não se deve aguardar o resultado da dosagem de tiocianato para implementação do tratamento apropriado. Deve-se lembrar que o cianeto também determina acidose lática, sendo a gasometria e a dosagem de ácido lático no sangue úteis no diagnóstico e tratamento (8). MONITORIZAÇÃO LABORATORIAL A dosagem do tiocianato é útil para monitorização da exposição ao cianeto, da toxicidade do nitroprussiato e da abstinência no tabagismo. Também utilizado para avaliar intoxicação crônica em consumidores de mandioca (2). É normalmente encontrado em indivíduos saudáveis, cujas concentrações urinárias de tiocianato oscilam entre 1,0 a 4,0 mg/l. Nos fumantes valores entre 4,0 e 17 mg/l são encontrados (1). O controle biológico das exposições ocupacionais aos compostos cianídricos, inorgânicos ou orgânicos, pode ser realizado pela determinação do íon tiocianato em amostras de urina, ao final da jornada diária de trabalho. A redação de 1983 da NR-7 determina valores normais para não-fumantes de até 6 mg/g creatinina e IBMP de mesmo valor. A redação atual da NR-7 não contempla valores de referência ou IBMP para o tiocianato (4). O Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini realiza: Método: colorimétrico Valores de referência: - Não-fumantes: até 4,0 mg/l - Fumantes: até 17,0 mg/l. Toxicologia - 3 - REFERÊNCIAS 1. Salgado PET, Larini L. Gases Tóxicos. In: Larini L. Toxicologia. 2 ed. 64-8. 2. 2. DS Jacobs, DeMott WR, Oxley DK. Thyocyanate, serum, plasma, urina. Laboratory Test Handbook. 5th. 2001. 807-8. 3. Kuschner WG, Blanc PD. Gases and other inhalants. Gases and other inhalants. In: LaDou J. Occupational and Enviromental Medicine. 2ed. 1997. 4. Michel OR. Indicadores biológicos de exposição; análises laboratoriais. In: Michel OR. Toxicologia Ocupacional. 2003; 201. 5. Haque MR, Bradbury JH. Simple method for determination of thiocyanate in urine. Clin Chem. 1999; 45: 1459-64. 6. Tietz NW. Clinical Guide to Laboratory Tests. 3 ed.584-5. 7. Galanti LM. Specificity of salivary thiocyanate as marker of cigarette smoking is not affected by alimentary sources. Clin Chem. 1997; 43: 184-5. 8. Júnior EAS, Rezende R, Andrade Filho A. Cianeto. In: Andrade Filho A, Campolina D, Dias MB. Toxicologia na prática clínica. 2001; 133-137. Assessoria Científica INTRODUÇÃO TOXICIDADE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O cianeto tem a capacidade de inibir enzimas poss MONITORIZAÇÃO LABORATORIAL
Compartilhar