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Introducao Ciencias Politicas Tema1

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Curso RedeFor de Especialização em 
Sociologia para Professores de Sociologia
Introdução à Ciência Política: 
Teoria, Instituições e Atores Políticos
Módulo 3: Ciência Política
Encarnación Moya Recio e Paulo Roberto do Nascimento
Equipe Multidisciplinar
Coordenação Geral: Gil da Costa Marques
Coordenação de Produção: Leila Humes
Coordenação do Curso: Amaury Cesar Moraes
Gerente de Produção: Beatriz Borges Casaro
Autoria: Encarnación Moya Recio e Paulo Roberto do Nascimento
Design Gráfico: Daniella Pecora, Juliana Giordano, Leandro de Oliveira, Priscila Pesce Lopes de Oliveira 
e Rafael Queiroz de Oliveira
Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Guedes Torrano, Celso Roberto 
Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino, Mauricio Rheinlander Klein, Thiago Augusto M. dos Santos
Fotografias: Thinkstock
Design Instrucional: Carolina Costa Cavalcanti
Revisão de Texto: Márcia Azevedo Coelho
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Introdução à Ciência Política: 
Teoria, Instituições e Atores Políticos
1 O cenário da formulação política sobre as sociedades
Introdução
Esperamos partilhar e cultivar a curiosidade e o interesse pela Políti-
ca através do fornecimento de ferramentas teóricas que permitam aos 
professores lidar com o anseio dos alunos por compreender o univer-
so político e as instituições políticas contemporâneas e estimulá-los 
a enveredar por incursões investigativas a respeito do meio político. 
Estudar e conhecer a política são passos essenciais para uma parti-
cipação cidadã na vida em sociedade. 
Uma visão sobre a Política e sobre os políticos tem persistido no senso comum: “a 
política não presta”, “os políticos são todos corruptos”, “o governo só rouba”. E, de fato, a 
corrupção é um antigo tema no pensamento político. Porém, pensar e entender o que são 
e como se dão as relações de Poder nas diversas sociedades, quais são as instituições que 
as sustentam, como se exerce o Poder e como este é contestado, e a história da construção 
dos direitos de Cidadania – e como o ‘status quo’ é transformado – são questões que todo 
Cidadão precisa e deve conhecer. 
tópIco 1 Política, um pensamento que vem 
de há muito tempo
Entender a Política e seu elemento chave, o Poder, leva-nos a discriminar o que significa 
a Ordem (a Des-Ordem ou o Conflito), considerando desde o início que conceitos e insti-
tuições básicas, como governo, representação, sistemas partidário e eleitoral, democracia 
etc., são hoje bastante comuns no cotidiano dos cidadãos das diversas sociedades, mas 
também devem ser tratados como construções históricas, com suas especificidades. 
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5Tema 1 O cenário da formulação política sobre as sociedades
A “teoria política” – “ciência política” – deve aos gregos seus ter-
mos e conceitos básicos, que ainda hoje permanecem como cate-
gorias de problematização da realidade política. As linhagens do 
pensamento político moderno estão em muitos aspectos ligadas a 
obras e autores que marcam as origens da filosofia política. Filóso-
fos cujas obras foram importantes na formulação do pensamento 
político moderno, como Thomas Hobbes, Jean Jacques Rousseau 
e Karl Marx, encontraram nos escritos, em especial de Aristóteles, 
uma fonte para suas questões e problemas. 
As Ciências Políticas tornam indispensável o retorno a um autor 
clássico da Antiguidade, como Aristóteles, e iremos fazê-lo tomando 
como eixo uma obra central para o pensamento político (poderíamos dizer também para 
a filosofia política): A Política. Tais obras também permitem observar a construção e a 
transição que o pensamento sobre a Polis, – a cidade grega, seu governo e a cidadania – 
conhecem no momento mesmo de sua origem. Como nos ensina Jean-Pierre Vernant em 
As Origens do Pensamento Grego (1992), o advento da filosofia política coincide com a 
crise da Polis, ao mesmo tempo em que é uma reflexão sobre esta.
 
No mundo grego, a Polis é uma unidade territorial e comunidade autônoma em relação à 
qual o habitante tem um sentimento de pertencimento. O grego antigo a sente assim, espe-
cialmente um ateniense, um espartano, um tebano (Atenas, Esparta, Tebas – cidades-estado). 
É bom lembrar que a cidade-estado não se assemelha em nada ao Estado-Nação, 
uma construção e uma experiência moderna, que na contemporaneidade vem sendo 
abalada pelos processos de globalização. 
A Polis é o lugar da vida civilizada, pois nela se vive politicamente, o que significa 
que seu habitante – homem e livre – participa das decisões que concernem ao que é 
comum na cidade. A participação no espaço público é o que dá sentido de viver ao 
cidadão da Polis, espaço de igualdade e reconhecimento, onde o poder é decidido. Na 
Polis grega, particularmente na experiência da democracia ateniense, o poder não é 
externo nem anterior ao cidadão; é produto do debate, da argumentação, do convenci-
mento entre os iguais. Segundo Vernant, 
a experiência social pode tornar-se entre os gregos o objeto de uma reflexão 
positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumen-
tos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em 
discussão a ordem humana, procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la 
em fórmulas acessíveis a sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e 
da medida. Assim se destacou um pensamento propriamente político, exte-
rior à religião, com seu vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas 
vistas teóricas. Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do 
homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto per-
maneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da ativida-
de humana. Para o grego, o homem não se separa do cidadão; a phrónesis, 
a reflexão, é o privilégio dos homens livres que exercem correlativamente 
sua razão e seus direitos cívicos. (1992: p. 94-5).
RedeFor
Introdução à cIêncIa polítIca6
A política entre os gregos é atributo e ocupação de homens livres. 
As crianças e as mulheres obedecem, e no caso destas, administram 
o oikos, o espaço privado da família, o que inclui seu patrimônio. 
Apenas a participação no espaço público realmente importa como 
dignificante da condição humana. No extremo oposto figuram os 
escravos, considerados “coisas”, parte do patrimônio familiar; são, 
entretanto, a maioria numérica na Grécia Antiga. 
Curiosamente, o autor que sistematizou parte das categorias até 
hoje centrais à filosofia ou ao pensamento político – Aristóteles – não 
era um “cidadão completo” em Atenas, onde vivia (como estrangei-
ro, tinha o status de “meteco”, uma posição de inferioridade social e 
política). A obra A Política reúne o que originalmente são notas que 
Aristóteles tomava em seus cursos sobre como os homens vivem na 
Polis, e as diferentes formas de constituição desta – as diferentes for-
mas de governo ou regimes políticos. E isso para descobrir a melhor 
forma de viver, ou, o bem viver. Segundo Francis Wolff, Aristóteles 
traz duas questões para a filosofia política: “como são as coisas da 
cidade” e “como deveriam ser”. São essas questões que orientam o conjunto de textos-
-capítulos que compõem A Política e que discorrem sobre a estrutura social e econômica 
da cidade grega, a Polis, onde o homem é definido como um “animal político”. 
A Polis é para Aristóteles a “melhor das comunidades humanas”, sinônimo de “comunidade 
política”. Para utilizarmos uma ideia contemporânea, Aristóteles partilha a visão de mundo 
(weltanshaung) grega que hierarquiza o lugar dos homens (livres), das mulheres e crianças, 
e dos escravos. E justifica essa hierarquia por meio das leis (convenções) da cidade, as quais 
determinam a obediência das mulheres e crianças aos homens livres e a condição de escravo 
como naturais à ordem da Polis. Natural,
aqui, assume o sentido da época.
Aristóteles diz que “constituição e governo significam a mesma coisa” e que “o governo 
é o poder soberano da cidade”, arrolando três tipos de regime/governo que visam ao “bem 
comum” de acordo com quem e como se exerce o poder: 1) quando “um só” o exerce em 
prol do bem comum, temos a Monarquia; 2) quando os “poucos ou melhores” exercem o 
poder para essa finalidade, trata-se de uma Aristocracia; e 3) quando 
“muitos” governam tendo por fim o bem comum, temos a Democra-
cia. Tais formas de governo, no entanto, podem se degenerar, corres-
pondendo a cada uma o seu “desvio”, posto que sua finalidade deixa 
de ser o bem comum: 1) no caso da Monarquia, a Tirania, quando o 
governo é exercido em favor do monarca; 2) para a Aristocracia, 
temos a Oligarquia, quando os poucos governam para si; 3) o desvio 
da Democracia é a Demagogia, forma de governo voltada para os 
É nos Livros III e IV de A Política que Aristóteles descreve e classifica as “formas de 
governo” e utiliza o termo politeia, traduzido usualmente como “constituição”. Norberto 
Bobbio lembra que Aristóteles utiliza muitas definições de “constituição”. Como refere Bobbio, 
“a constituição é a estrutura que dá ordem à cidade, determinando o funcionamento de 
todos os cargos públicos e, sobretudo, da autoridade soberana”. (BOBBIO, 1994, p.-55). 
Aristóteles empregava uma 
terminologia um pouco distin-
ta desta. Assim, onde utilizamos 
Demagogia, ele empregava Demo-
cracia; onde utilizamos Demo-
cracia, ele utilizava Politia; onde 
Monarquia, Realeza; e onde Tirania, 
Despotia. Preferimos, para melhor 
compreensão, utilizar os termos 
atualmente consagrados. 
RedeFor
7Tema 1 O cenário da formulação política sobre as sociedades
“pobres”, orientados por um senso de revolta. Assim, temos as três formas boas e as três 
formas más de constituição de uma Polis. 
Séculos mais tarde, o pensador Nicolau Maquiavel irá considerar imprópria a distinção 
entre formas de governo puras e impuras, sob o argumento de que os governos se transfor-
mam e as formas de governo que lhes correspondem se sucedem, num ciclo degenerador, 
em que as boas formas de governo dão lugar a formas de governo corrompidas. A siste-
matização que se segue no pensamento político, sempre expressando as transformações 
concretas das sociedades, permite que hoje se afirme que as formas de governo podem ser 
estruturadas em torno de dois formatos básicos: a monarquia e a república.
tópIco 2 Poder, Política e Estado Moderno
A esfera da vida em sociedade, a qual denominamos de esfera polí-
tica, frequentemente se restringe ao tema do uso do poder para que 
se atinjam os fins governamentais. A Política, assim restrita, incumbir-
-se-á das instituições e práticas sociais devotadas à realização do bom 
governo, discutindo para tanto o distanciamento entre o que seria o 
ideal de um bom governo (suas instituições, conteúdos e práticas) e 
a sua realidade, a sua concretude. Decorre que o campo da política 
é muito mais amplo, extrapolando as questões relacionadas à consti-
tuição dos Estados e das práticas políticas governamentais. Da forma 
como a abordaremos aqui, a Política tratará do exercício do poder, 
para que se influencie o conteúdo das ações de governo. 
Sob uma perspectiva geral, o poder é a capacidade de um indiví-
duo ou grupo impor sua vontade a outrem, o que pressupõe superar 
a resistência que porventura haja, utilizando para isso quaisquer recursos, inclusive a 
força física. Como se vê, o poder pode ser encontrado em todas as relações sociais e 
não somente nas relações políticas voltadas às atividades governamentais, às quais nos 
restringiremos aqui. Na verdade, é do exercício do poder político que estaremos tratando, 
ou seja, da “possibilidade efetiva que tem o Estado de obrigar os indivíduos a fazer ou 
não fazer alguma coisa, e seu objetivo deve ser o bem público. Quando o poder, no seu 
exercício, não visa ao bem público, não é mais o poder do Estado, não é mais um direito, 
não obriga jurídica e moralmente; é apenas a força, a violência de homens que estão no 
governo.” (AZAMBUJA: 2008, p. 74). 
O desenvolvimento histórico das sociedades humanas vem produzindo uma infinida-
de de práticas e instituições políticas, conforme a especificidade de cada sociedade e as 
influências que exercem e recebem de outras sociedades, bem como das relações entre 
É, portanto, fundamental que haja legitimidade no uso do poder político. Sem 
legitimidade, esse uso será apenas poder, sem a autoridade que deve vir junto com 
o governo. Assim, “a autoridade é o emprego legítimo do poder. Por legitimidade 
entende-se que aqueles que se submetem à autoridade de um governo consentem nessa 
autoridade.” (GIDDENS: 2005, p. 342).
RedeFor
Introdução à cIêncIa polítIca8
grupos e indivíduos que as compõem. Isso faz da trajetória de cada 
sociedade um conjunto único de recursos institucionais políticos: um 
Estado republicano certamente se distinguirá de outro mesmo reu-
nindo características que lhes permitam ser classificados como repu-
blicanos. O mesmo pode-se dizer de monarquias constitucionais, 
de repúblicas presidencialistas, de monarquias parlamentaristas, de 
repúblicas parlamentaristas, de ditaduras e outras. Em uma palavra: 
é da constituição do Estado Moderno e sua diversidade contemporâ-
nea que as Ciências Políticas vêm se encarregando desde há muito 
tempo. Maquiavel empregou o termo em 1513 e, desde então, Estado 
está associado ao conceito de sociedade política: reunião de pessoas 
que buscam alcançar determinado interesse mediante recursos de 
poder estatal legitimamente estabelecido e reconhecido.
Mas o desenvolvimento das formas concretas de Estado e da reflexão 
sobre sua concepção jurídica nos traz à noção de Estado de Direito e 
duas de suas manifestações modernas: o Estado Liberal e o Estado Social.
São um tema recorrente nas Ciências Políticas os mecanismos democráticos de restrição 
ao poder dos governantes, ou o da composição representativa da democracia moderna, 
de o quanto esse aspecto a difere das experiências concretas de democracia na Antigui-
dade e de como decorrem como uma imposição irrecorrível da crescente complexidade 
e dimensão assumidas pelas sociedades modernas. No entanto, o Estado de Direito traz 
ainda uma outra ordem de limitação, menos de caráter impeditivo e mais positiva quando 
reconhece o necessário respeito aos direitos como uma poderosa restrição ao poder dos 
governantes. Ou seja, reconhecendo a representação política nas democracias modernas 
como uma transformação necessária, comparativamente à democracia ateniense, uma 
transformação em que se passa do exercício direto do poder – em praça pública – a uma 
forma mediada de representação social nas instâncias políticas, teria também ocorrido, 
nesse processo, um fenômeno crescente de institucionalização de direitos. As democra-
cias modernas, após subtraírem ao monarca a soberania, não a concedem aos gover-
nantes, mas ao povo. Entretanto, nesse movimento, são reconhecidos direitos às pessoas 
– primeiro, os civis, depois os políticos e, por fim, os sociais, na clássica cronologia 
estabelecida por T. W. Marshall (1967). Nesse movimento, o próprio exercício do poder 
fica subordinado ao respeito dos governantes a tais direitos; ou seja, nessa argumentação, 
os direitos exprimem a pressão popular sobre o poder.
Essa restrição, trazida pela institucionalização de direitos ao exercício do poder, seria 
mais caracterizadora das democracias modernas do que o próprio dilema entre represen-
tação ou participação direta.
O Estado de Direito, ou “rules of Law ”, porta o preceito da supremacia da lei 
sobre a autoridade política. Para além da concepção jurídica do Estado que busca 
impor restrições ao exercício do poder, no Estado de Direito trata-se da restrição repre-
sentada pelo reconhecimento e efetividade
dos chamados direitos fundamentais. 
Figura 1: Maquiavel / Fonte: Cepa
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9Tema 1 O cenário da formulação política sobre as sociedades
tópIco 3 A origem do Estado Moderno
De uma maneira bastante esquemática, porque há uma grande produção teórica e diver-
gente sobre o assunto, vamos fixar as explicações sobre a origem do Estado em duas grandes 
interpretações: de um lado, há o entendimento de que sua origem é natural, proveniente de 
um desenvolvimento necessário dos grupamentos humanos. Se é fato que os homens, onde 
quer que se encontrem, estarão vivendo em sociedade, decorreria que naturalmente esse 
grupamento desenvolveria formas elaboradas de cooperação que atenderiam a necessida-
de de beneficiamento mútuo. Dessa forma, convivendo socialmente, os indivíduos atingem 
seus objetivos por meio de trocas e ajudas recíprocas. Não é difícil imaginar que a con-
vivência, cedo ou tarde, traria a necessidade de uma liderança, um 
indivíduo ou grupo que, por possuir habilidades especiais, se poria a 
dirigir, orientar, obrigar os demais, talvez em benefício deles próprios. 
Esse com certeza é um fenômeno real que expressa o exercício do 
poder, como o definimos anteriormente. Essa conjunção de fatores, 
determinados pela mera convivência humana, daria origem ao Esta-
do, decorrendo este de um impulso natural. Numa segunda perspec-
tiva, a contratualista, a sociedade decorre de um acordo de vontades, 
segundo o qual seus membros teriam decidido viver juntos. Uma 
ordem social e política emerge desse acordo, como resultado artifi-
cial da criação da razão humana. O elemento fundante da sociedade 
é o homem que toma uma decisão – viver em sociedade – e para isso 
irá criar uma organização social e política.
Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, está entre os três maiores contratualistas 
dos séculos XVII e XVIII. Ele parte da ideia de que os homens, vivendo em estado de 
natureza, não encontram freios a seus impulsos egoístas, a não ser os mesmos impul-
sos de outros homens, o que instala um estado de permanente beligerância e violência 
generalizada: é a guerra de todos contra todos. Tinha o pressuposto de que em épocas 
primitivas, vivendo fora da sociedade, ou seja, em estado de natureza, eram os homens 
iguais e essencialmente egoístas. Naquela situação, não existindo nenhuma autoridade 
ou lei e detentores todos dos mesmos direitos naturais, instalara-se a violência e a anar-
quia, pois «nenhum era tão forte que não temesse os outros, nem tão fraco que não fosse 
perigoso aos demais». A necessidade de reduzir esse estado de tensão emerge da própria 
vontade e racionalidade desses homens, que então se movem no sentido de formação de 
um pacto com aquele objetivo. Um poder absoluto se faz necessário para a manutenção 
Duas variantes concretas do Estado de Direito devem ser lembradas. No Estado libe-
ral de direito, os princípios constitutivos do liberalismo, como a divisão dos poderes, 
a igualdade de direitos e o respeito aos direitos individuais, se estruturam em seu ideário 
para assegurar, como fundamento desse Estado, as liberdades individuais frente à atuação 
desmedida do Estado. A este é reservado um papel bem reduzido no que diz respeito à 
organização da sociedade. Já no Estado social de direito, cristaliza-se um desejo de que, 
por meio de garantias coletivas, sejam corrigidos os efeitos desmedidos daquele individu-
alismo liberal. Direitos sociais emergem no seio de sociedades capitalistas como direitos 
a serem assegurados pelo Estado de Bem-Estar Social, ou “welfare state”.
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Introdução à cIêncIa polítIca10
dessa nova ordem: o Leviatã. O poder que se 
imporá e exercerá o controle sobre as ações 
dos homens será o Estado, que pela força 
promoverá limites às vontades particulares. 
Outro elemento importante na formulação de 
Hobbes é que ele “nega aos homens o direito 
de resistência à tirania do soberano”. Note-se 
que, partindo do entendimento da igualdade 
dos homens, chega-se à concepção de um poder absoluto que fundamenta seu sistema de 
governo, no qual o poder do soberano será ilimitado e indiscutível. 
A influência que John Locke (1632-1704) exerceu sobre os governos de seu tempo 
foi mais imediata do que a de Hobbes. A base do sistema de governo que ele propõe é 
o consentimento dos cidadãos. Seus ensinamentos influenciarão a Declaração de Inde-
pendência dos norteamericanos. Partindo do pressuposto de que havia um estado de 
natureza, crê, entretanto, que ali existia um princípio organizador baseado na ordem e na 
razão: os homens são iguais e detêm iguais direitos à vida, à liberdade e à propriedade. 
Mas a ausência de uma autoridade que resolva os conflitos e defenda os homens contra as 
injustiças provenientes das imposições dos mais fortes, sustentada em leis fundamentais, 
leva à criação da sociedade política, por intermédio de um contrato. O Estado é criado 
para dirimir a instabilidade social decorrente da igualdade de direitos entre indivíduos 
diferentes entre si, bem como para preservar e consolidar os direitos naturais. O contratu-
alismo de Locke, também diferentemente de Hobbes, prevê a possibilidade de se resistir 
ao poder do Estado sempre que o governo se tornar despótico, não cumprindo sua finali-
dade de preservar os direitos naturais. O Estado existe pelo consentimento dos indivíduos, 
que, por regra de maioria, exercerão o poder, cumprindo a finalidade daquele, qual seja, 
interpretar a lei natural e preservar a harmonia entre os homens.
Para Jean Jacques Rousseau (1712-1778), o homem, em estado de natureza, é essencial-
mente livre, feliz e bom, convivendo em situação de plena paz e retirando da natureza 
todo o seu sustento. A sociedade o torna escravo e mau. Com a divisão do trabalho e a 
propriedade privada criam-se diferenças entre pobres e ricos, entre poderosos e fracos. 
No momento em que o primeiro homem cerca um terreno e o anuncia como seu, tem 
início a história da servidão humana. A desigualdade provém da apropriação e do uso 
individual da natureza. Mediante um contrato, os homens criam o Estado para evitar 
maiores desigualdades. Ao criarem-no, cedem a ele parte de seus direitos naturais, o que 
faz do Estado uma organização política com vontade própria, numa palavra, a vontade 
geral. Como cada indivíduo possui uma parcela do poder do Estado, por esse mecanismo 
recupera a liberdade perdida no ato de firmarem o contrato social. Mas o verdadeiro ato 
de liberdade estaria na obediência à lei, já que o indivíduo a prescreve, em conjunto com 
os outros, a si mesmo. Além disso, a ideia de vontade geral corresponderia à noção de 
soberania e, na maioria das situações, expressar-se-ia pela vontade da maioria.
As obras desses três pensadores estão obviamente profundamente marcadas pelos temas 
e conflitos de seus tempos, problemas que procuraram resolver com olhos fixos no que 
deveria constituir o bom governo. Apesar de haver muita discussão sobre a verossimilhan-
ça de tais estados de natureza, e mesmo sobre a viabilidade material de um tal contrato 
social, este precisa ser entendido como uma metáfora que alude ao histórico (e concreto) 
viver em sociedade na Modernidade; e aqueles, a um constructo teórico que fornece 
os elementos selecionados pelos autores para que pudessem construir suas propostas. 
RedeFor
11Tema 1 O cenário da formulação política sobre as sociedades
Também, vale mencionar, Rousseau é frequentemente criticado como extremamente 
contraditório em suas obras, tanto quanto foi influente numa infinidade de movimentos 
políticos que marcaram os últimos duzentos anos em todo o mundo. 
Nessa breve digressão sobre a origem do Estado, é oportuno mencionar Santos (2000: 
130 e 131), que acredita que para Rousseau “o problema não é tanto o de basear uma 
ordem social na liberdade, mas antes o de o fazer de forma a maximizar o exercício da 
liberdade; assim, seria um absurdo
aceitar de livre vontade uma relação contratual se daí 
resultasse a perda da liberdade (como no contrato hobbesiano)”. Para Santos, a vontade 
geral de Rousseau “representa a síntese entre regulação e emancipação”, e “essa síntese 
está muito bem expressa em duas ideias aparentemente contraditórias: a ideia de ‘só 
obedecer a si próprio' e a ideia de ‘ser forçado a ser livre'.” Nessa perspectiva do contrato 
social que dará origem ao Estado, a um só tempo se formula o duplo desafio de uma 
constituição política em que os cidadãos têm obrigações políticas entre si (‘só obedecer a 
si próprio') e com o Estado (‘ser forçado a ser livre'); desafios concomitantes em que, para 
Santos, a segunda é apenas derivada da outra.
Referências bibliográficas
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______. A república. São Paulo: Publifolha, 2001. (Coleção Folha Explica)
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora 
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WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os clássicos da política. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 
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WOLFF, Francis. Aristóteles e a política. 2. ed. São Paulo: Discurso Editorial, 1991.
Agora que terminamos a leitura do Tema 1, vamos acessar a Aulaweb para revisar 
e aprofundar nossos conhecimentos.

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