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FISIOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCíCIC Sernpre ocorre111 ac-laptaçôes neurais acom- panhanrlo trs ganhos de força resuitantes do treinar-nentcl cle força, mas a hipertrofia pode on rrào estar prescttte. Os rnecanismos neurais que acarretam ganhos de força incluem o recrutamento de mais uni- dades motoras que atuam de modo sincrônico e a redução da inibiqão autogênica dos órgãos tendinosos de Golgi. A hipertrofia muscular trar-rsitória é a sen- sação de aumento de volume que se tem ime- diatamente após uma sessão de exercício. Ela é conseqtiente ao edema e é de curta duração. A hipertropia muscular crônica ocorre em razão do treinamento de força crônico e re- flete mudanças estruturais reais no músculo. Embora a maior parte da hipertrofia muscu- lar possa ser resultante de um aumento do tamanho das fibras musculares (hipertrofia das fibras), algumas evidências sugerem que pode haver também o envolvimento de um aumento do número de fibras musculares (hiperplasia). Ocorre atrofia muscular (diminuição do tarnanho e da força) quando os músculos per- manecem inatirros, como no caso de uma lesão ou no desuso. A atrofia começa rnuito rapidamente se o treinamento for interrompido. Contudo, o treinamento pode ser reduzido, como num programa de manutenção, sern que ocorra atrofia ou perda de força. Um tipo de fibra pode apresentar característi- cas do tipo oposto em resposta ao treinamen- to. Evidências indicam que uln tipo de fibra realmente pode ser convertido no outro tipo como resultado da inervação cruzada ou da estimulação crônica. Dor Muscular A dor muscular pode estar presente . durante os estágios finais de uma sessão de exercício e no período de recuperação imediato, . 72 a 48 horas após uma sessão de exercício extenuante ou . em ambos os períodos. Examinemos a dor em ambos os períodos. Dor Muscular Aguda A dor sentida durante e imediatamente após o exercício pocle ser resultante do acÍrmulo de produ- tos rnetabólicos decorrentes do exercício, cotno íons H*, e do edema tecidual, meucionado ar-rterior- mente, o qual é causado pelo desvio de líquido do plasma sangüíneo para o interior dos tecidos. O edema é a ser-rsação de aumento de volume que se tern após urn treinarnento de força ou de errdu'ance intenso. Essa dor e esse desconforto geralmente levam alguns minutos ou horas após o exercício para desaparecer. Por essa razão, esse quadro comu- mente é clenorninado ..,--r;' r-:i l.: :.,::.: i; ; ;,'r,;-:,"i... Dor Muscular de Início Retardado e Lesão A dor muscular sentida Lrm ou dois dias após uma sessão de exercícios não é totalmente com- preendida, mas pesquisas realizadas nos úrltirnos anos nos forneceram maiores informações sobre esse fenômeno. Como a dor não ocorre imediata- mente, ela é denominada ,.irtr' ::;1,:,-,-,.:i,t: r.i.: i:.:irir: í í:,.:.! ii,1,t1 ü (DMIR). Nas seções seguintes, discutire- mos algumas teorias que tentam explicar esse tipo de dor muscular. Ao analisarmos essas teorias, tenha em mente clue nenhurna delas tem aceitação mundial. Devern ser realizadas maiores pesqr-risas para que os rnecanismos exatos responsáveis por esse quadro sejam deterrninados. Quase todas as teorias atuais reconhecem que a ação excêntrica é o principal iniciador da dor mus- cular de início retardado. Ela foi inicialmente obser- vada num estudo que investigava a relação eutre a dor muscular e as ações excêntricas, concêntricas e estáticas..lr'Esse estudo observou que um grupo que havia treinado apenas com ações excêntricas apre- sentava dor muscular importante, enquanto os grll- pos que treinaram com ações concêntricas e estáticas apresentavam pouca dor. Essa icléia foi mais explo- rada ern estudos nos quais os indivíduos corriam sobre uma esteira rolante durante 45 minutos em dois dias separados, um dia corn a esteira no nível lrorizontal e no outro corrr Lrm grau de 70% de declive.lo,ll Nenhuma dor muscular foi associada à corrida na horizontal. Mas a corrida com grau de declive, que exigia uma considerável ação excêntri- ca, resultou numa dor considerár,el que se manifes- tava24 a 48 horas após o exercício, embora os níveis séricos de lactato, o qual anteriorrnente se acredita- va ser o responsável pela dor muscular, fossem muito mais elevados na corrida no nível horizontal. 96 A dor musculor de início retordodo é couso- do principolmente pelo oçôo excêntrico e estó ossociodo o umo lesõo musculor reol. Exarnineuros a I gttmtrs das explicaçÔes prclpostas para a dor r-uuscular de inícicl retardaclo induzida pelo exercício. Lesão Estrutural A presença de euzimas musculares no sanglle após um exercício iuteuso sllgere clue pode ocorrer alguma lesão estrtttural nas membrauas trruscttlares. Foi descrito qtle a cotrcentração dessas etrzitn.ls aunteutant c1e duas a dez vezes acima clas co11cel1- traçÕes uortnais após sessões de treinamentrl inten- so. Estudos recentes defendem a ic1éia de que essas aiteraçÕes pocleriam inclicar vários graus de ruptura clo tecido tnuscular. O exame de tecido mttscttlar da pema de maratonistas rer.elou lesões acelrtuadas das fibras rnusculares tanto após o treinamento quanto após a competição da lrlaratona. O início e o período dessas alterações musculares são propor- cionais ao grau de dor muscular apresentada pelos corredores. A fotomicrografia eletrônica da Figura 3.9 mostra a lesão de uma fibra rnuscular resultante da corrida de trraratona.zr Nesse caso, o sarcolema (membrana cclular) foi totahnente rompiclo, per- rnitindo que o conteÚrdo celular extravasasse livre- mente entre as outras fibras normais. Felizmente, nem todas as iesões das células musculares são tão graves. Figuro 3.9 Fotomicrogrofio eletrônico de umo omostro musculor reolizodo imediotomente opós umo corrido de morotono, mostrondo o rupturo do membrono celulor de umo fibro musculor. ADAPTACÕES NEUROMUSCULARES AO TREINAMENTO DE FORÇA As Figuras 3.10rr e ü mostram alterações dos fila- mentos contrtiteis e das linhas Z antes e após uma corrida de tnaratona. Lembre-se cle que as linhas Z são os pontos de cotrtato clas proteír-ras contráteis. Elas fornecetn o suporte estrutttral Para a tratlsuris- são de força quando as fibras rnttsculares são ati- vaclas para encttrtar. A Figura 3.101r, após a mara- tona, rnostra as linhas Z afastadas cotlo resultado da força das açÕes excêntricas ou alongatneuto das fibras rnusculares teusas. En-rbora os efeitos da lesão muscttlar sobre o desernpenho uão sejarn totaimente cornpreendi- dos, os especialistas, cle modo geral, concordam Figuro 3.10 (o) Fotomicrogrofio eletrônico mostrondo o disposiçõo normol dos filomentos de octino e miosino e o configuroçõo do linho Z do músculo de um corredor ontes de umo corrido de morotono. (b) Amostro de mÚsculo colhido imediotomente opós umo corrido de morotono mostrondo degrodoçõo dos linhos Z cousodo pelos oções excêntricos do corrido. :' ,r i L t,'a ,1 l{ ! a t r , 1 I L., í, , -á .\ .'. 't ,. l1' l, ! .+ 97 FISIOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO que essa lesão é parcialmente responsável pela dor muscular, peia sensibilidade e peio edema localiza- dos associados à DMIR. No entanto, as concen- traçÕes séricas das enzimas podem aumentar e as fibras musculares podem ser iesadas freqüente- mente durante o exercício diário que r-rão produz dor muscular. Reação Inflamatória Os leucócitos atuam como na defesa conha mate- riais estranhos que entram no seu corpo e contra condições que ameaçam a função normai dos tecidos. A contagem leucocitária tende a aumentar após ativi- dades que induzem dor musctrlar. Essa observaçào Íez com que alguns investigadores sugerissem gue a dor muscular é resultante de reações inflarnatórias do músculo, mas tem sido difícil estabelecer a ligação entre essas reações e a dor muscular. Pesquisadores tentaram utilizar drogas blo- queadoras da reaçãoinflamatória. Esses esforços, entretanto, foram infrutíferos na redução da magni- tude da dor muscular ou do grau da inflamação.:z Como esses efeitos permanecem, essa pesquisa não permitiu que fossem tiradas conclusões sobre o papel da inflamação na dor muscuiar. Estudos mais recentes, no entanto, estão começando a estabelecer uma relação entre a dor muscular e a inflamaçâo. Por exemplo, atualmente reconirece-se que substân- cias liberadas do músculo lesado podem agir como "hormônios da lesão", iniciando o processo infla- matório. Células mononucleares do músculo são ati- vadas peia lesão, fornecendo o estímulo químico às células inflamatórias circulantes. Os neutrófilos (um tipo de leucócito) invadem o local da lesão e iiberam citocinas (substâncias imunorreguladoras), as quais então atraem e ativam mais células inflarnatórias. É provável que os neutrófilos também liberem radi- cais livres que podem lesar as membranas celulares. Em seguida, os rnacrófagos (um outro tipo de célula do sistema imune) invadem as fibras musculares Iesadas, removendo os resíduos mediante um pro- cesso denominado fagocitose. Finalmente, ocorre uma segunda fase da invasão dos macrófagos, a qual está associada à regeneração muscular.le Seqüência dos Eventos da DMIR 8m7984, Armstrong3 realizou uma revisão sobre os prováveis rnecanismos da DMIR induzida pelo exercício. Ele concluiu que a DMIR está associada a . elevações das enzimas plasmáticas, . mioglobinemia (presença de mioglobir-ra no sangue) e . anormalidades histológicas e ultra-estruturais do músculo Ele desenvolveu um modelo de DMiR que pro- punha a seguinte seqüência de eventos: 1. Tensão elevada do sistema contrátil-elástico do múrsculo resultando em lesão estrutural do músculo e de sua membrana celular. 2. A lesão da membrana celular aitera a homeos- tasia do cálcio na fibra lesada, acarretando ne- crose (morte celular) que atinge seu rnáxirno aproximadamente 48 horas após o exercício. 3. Os prodtttos da atividade dos macróiagos e o conteúdo intracelular (como a histamina, as cininas e o K+) acumulam-se fora das células. Essas substâncias estimulam as terminações nervosas livres do músculo. Esse processo parece ser acentuado no exercício excêntrico, no qual grandes forças são distribuídas sobre áreas transversas do músculo relativamente Pequenas. Extensas revisÕes realizadas recentemente for- neceram urna grande quantidade de informações sobre a causa da dor muscular. Atualmente, temos certeza de que a dor rnuscular é decorrente da lesão muscular em si, geralmente da fibra muscular e, pos- siveimente, do sarcolema.r Essa lesão desencadeia uma série de eventos que incluem a liberação de pro- teínas intracelulares e um aumento do ttmntter pro- téico do rnúsculo. A lesão e o processo de reparação envolvem os íons cálcio, lisossomos, tecido conjunti- vo, radicais livres, fontes energéticas, reações infla- rnatórias e proteínas intracelulares e miofibrilares. A causa exata da lesão do músculo esquelético e os mecanisrnos de reparação, entretanto, ainda não foram totalmente elucidados. Algumas evidências sugerem que esse processo é um passo importante na hipertrofia muscular. Até agora, a nossa discussão sobre a DMIR esteve centrada na lesão muscular. O edema (acúrnulo de líquido no compartimento muscular) também pode levar à DMIR. Esse edema possivelmente ocorre pela lesão musculal, podendo, no entanto, acontecer independentemente dela. Urn acúmulo de líquido intersticial ou intracelular aumenta a pressão líqui- da tecidual no interior do compartimento musculaq, o que/ por sua vez, ativa receptores da dor iocaliza- dos no músculo. 98 ADAPTAÇOES NEUROMUSCULARES AO TREINAMENTO DE FORÇA DMIR e Desempenho Juntamente com a DMIR, ocorre uma redução da capacidade de geração de força dos músculos afeta- dos. Quer a DMIR seja resultante de uma lesão mus- cular ou de um edema independente da lesão muscu- lal os músculos afetados são incapazes de exercer muita força quando uma pessoa é solicitada a aplicar a força máxima, como durante a realização de um teste de força de 1-RM. No decorrer de dias ou sema- nas, ocorre a recuperação gradual da capacidade de geração da força máxima. A síntese de glicogênio muscular também é comprometida quando um mús- culo é lesado. Geralmente, ela é normal nas primeiras 6-12 horas após o exercício, mas diminui ou cessa completamente quando o músculo está sendo sub- metido ao processo de reparação e, por essa razão, existe uma limitação da capacidade de arrnazena- mento de substrato do músculo lesado. A Figura 3.11 ilustra a cronologia dos vários fatores associados ao exercício excêntrico intenso, incluindo a doq, o edema, a creatina quinase plasmática (CK uma enzima plas- mática indicadora da lesão da fibra muscular), a depleção de glicogênio, a lesão ultra-estrutural do músculo e afraqueza muscular. Redução dos Efeitos Negativos da Dor Muscular de Início Retardado A redução dos efeitos negativos da DMIR é importante para a maximização dos ganhos decor- rentes do treinamento. O componente excêntrico da ação muscular pode ser minimizado durante o treinamento inicial, mas isso não é possível para os atletas da maioria dos esportes. Um método alter- nativo é iniciar o treinamento com uma intensi- dade muito baixa e progredir lentamente durante as primeiras semanas. IJma outra alternativa é ini- ciar o programa de treinamento com uma sessão de treinamento exaustiva e de alta intensidade. A dor muscular deve ser maior durante os primeiros dias, mas evidências sugerem que as sessões sub- seqüentes de treinamento causam uma dor muscu- lar consideravelmente menor.12 Pelo fato de os fatores associados à DMIR também serem poten- cialmente importantes para a estimulação da hipertrofia muscular, é muito provável que a DMIR seja necessária para maximizar a resposta ao treinamento. Dor Edema CK plasmática Excreção de 3-ME Depleção de glicogênio Lesão ultra-estrutural Fraqueza Dias após o exercício Figuro3.11 RespostoretordodoooexercicioexcêntricodevóriosindicodoresÍisiológicos.Adensidodedoborrosombreodocorresponde à intensidode do resposto no momento indicodo. 2114 99 FISIOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCICIO A dor muscular aguda ocorre tardiamente após uma sessão de exercício e durante o períoc-lo de recuperação irnediato. A dor rnuscular de início retardado (DMIR) ocorre Lrrlr ou dois clias após a sessão de exer- cício. A ação excêntrica parece ser o principal agente provocador desse tipo de dor. As causas propostas da DMIR inclttem a lesão estrutural de células musculares e as reaçôes inflamatririas musculares. O rnodelo cla secliiência de eventos que causalrl a DMIR proposto por Annstrong inclui 1. a lesão estrutural, 2. a redução da disponibilidade c1e cálcio ievando à necrose, 3. o acúmulo de substâncias irritantes e 4. o aurnento da atividade dos rnacrófagos. A dor muscular pode ser prevenida ou nrini- r-nizada 1. com a redução clo componente excêntrico da ação muscular durante o treinamento iniciai, 2. iniciando nm treinamento com urna baixa intensidade e urn aumento gradual ou 3. iniciando co111 Llrna sessão de exercício de ação excêntrica exaustiva e de alta intensi- dade, a qual provoca rnuita dor inicial- mente, mas reduz as dores futuras. A clor muscular pode ser uma parte impor- tante da maximização da resposta ao treina- mento de força. Elaboração de Programas de Treinamentc de Força Nos últimos 50 anos, a pesquisa forneceu uma base de conhecinentos substancial sobre o treiua- mento de força e a slla aplicação na área da saÍrde e do esporte. Os aspectos relacionados à saírde c1o treinamento de força são discutidos no Capítulo 19. Nesta seção, será discutida principalmente a uti- lização do treinamento de força no esporte. Ações do Treinamento de Força As ações do treinamento de força estãorela- cionadas aos tipos de ações musculares. O treina- mento de força pode utilizar ações estáticas (tam- 100 bém derron-rin;rc1as .rçoes isotnétricas) e/ou açeies dinâmicas. As r.rçõr's dirrâmicas iucllte'ur o uso de pesos livres, de resistência r.ariár,el, de aqões isocinéticas e de pliometria. Cor-n pesos livres, corno halteres e barra, a re- sistência oL1 o peso levarrtado pemlallece constante clurante a amplitude clinâmica clo r-uovimento. Se você levantar L1nl peso cle 10 kg (22 libras), ele sempre pesará 10 kg. Em contraste, uma ;rção de resistência variável inchri a variação da resistência para tentar combinála com a sua cur\ra de iorça. A Figura 3.12 ilustra com() a sua força varia trtrar,és da ar-nplitude clo rnovirnento nr-llna r1)scl7 tiircttt. A prodr-rção c1e força máxima pelos rnírsculos flexores do cobvelo ocorre aproximadamente a 100o da ampiitude do movituen- to. Esses músculos tornant-se eutão mais fracos a 60o (cotovelos totalmente flexionaclos) e a 180" (cotovelos totalmente estencliclos). Nessas posiçÕes, r,ocê é capaz de gerar, respectivamente, aper-ras 67'/, e 71'h de sua capaciclade de produção de força rnáxima num ângu- lo rdeal de 100'. Figuro 3.12 A voriocõo de forço em reloçõo oo ôngulo dos músculos flexores do colovelo duronte o rosco direto. A forço é otimizodo num ôngulo de ,100'. A copocidode de desenvolvimenio do forço móximo do grupo musculor num determinodo ôngulo ê dodo coro umo porcentogem do copocidode no ôngulo ideol de 100".
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