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1 3 9ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA A HELENIZAÇÃO DE ROMA: CONVERGÊNCIAS E IMPASSES Érica Cristhyane Morais da Silva AS DUAS FASES DA HELENIZAÇÃO Em 380 a.C., o retórico ateniense Isócrates celebra a grandeza da Grécia, em especial da cidade de Atenas, em seu Panegírico, obra escrita após a Guerra do Peloponeso, num contexto de grave crise das póleis. Nesse discurso, Isócrates argumenta reiteradas vezes em favor da construção de uma unidade para a Hélade. Na opinião do autor (Panegyricus, 4), era necessário pôr um fim à riva- lidade entre as póleis, bem como unir os gregos para que, juntos, pudessem empreender uma campanha contra a Pérsia e assim res- taurar a grandeza da Hélade, o que implicava, por conseguinte, restituir a Atenas a liderança perdida. A fim de justificar a posi- ção superior de Atenas no cenário grego, Isócrates discorre, entre outros temas, sobre aspectos de uma expansão bem particular da Civilização Grega que, na sua perspectiva, se deve em grande medida ao empenho dos atenienses: [...] e tão distante nossa cidade está do resto da humanidade, em pensamentos e discursos e seus pupilos se tornaram professores do resto do mundo [...] e a cidade fez com que o nome heleno sugerisse não mais uma raça (genos), mas uma inteligência e o título de heleno é utilizado melhor naqueles que compartilham conosco de nossa cultura (paideia) do que naqueles que possuem o mesmo sangue (Pan. 4,50). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37139 1 4 0 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX Isócrates sugere aqui uma nova compreensão da identidade grega, o que é digno de nota. Do seu ponto de vista, a diferença fundamental entre gregos e não-gregos repousaria na “cultura” (paideia) e não mais em elementos “naturais”.1 Essa compreensão de Isócrates acerca dos gregos e da difusão da cultura grega pode ser igualmente observada em autores que o sucederam. A partir do final do século IV a.C., a expansão dos valores gregos se fará com base em novas formas políticas em virtude da constituição dos reinos helenísticos, cujas populações sofrerão um forte influxo da cultura grega mediante a instauração de um processo contí- nuo de migração de populações desenraizadas da Grécia rumo ao Oriente. Esse movimento de interação cultural entre gregos e não gregos ficou conhecido como helenização, tendo sido acentuado exatamente na época helenística, com destaque para o caso espe- cífico de Roma.2 A época helenística (séculos IV a I a.C.) é apontada pela historiografia como um momento decisivo na história da helenização do Mundo Antigo. De fato, para Momigliano (1991, p. 10 e ss.), a helenização, “um acontecimento intelectual de primeira catego- ria”, é própria da época helenística, tendo representado uma mu- dança da visão de mundo tanto para os gregos quanto para os não gregos. Ainda de acordo com o autor, os séculos III e II a.C. são excepcionalmente importantes, pois nesse momento se verifica a redução da distância entre a Hélade e seus vizinhos. De fato, me- diante a difusão da koiné, do dialeto grego comum empregado em 1 Conforme Buel (2001, p. 468), a possibilidade de se tornar grego por intermédio da paideia não é um indicativo de que os gregos deixaram de representar uma etnia. O que Isócrates sugere é a substituição da etnicidade grega fundada no genos (ou seja, na família, na linhagem) por uma etnicidade fundada em valores e tradições intelectuais. 2 Wallace Hadrill (1988, p. 224) afirma: “A chegada de Roma ao Mundo Helenístico teve um efeito cataclísmico, não somente na distribuição do conhecimento e do poder no Mediterrâneo oriental, mas também nas estruturas internas dos pró- prios romanos”. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37140 1 4 1ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA toda a bacia do Mediterrâneo, “os não gregos aproveitaram em grau inédito a oportunidade de dizer aos gregos na língua grega algo sobre suas próprias histórias e tradições religiosas”.3 No que diz respeito à apropriação por Roma dos valores e tra- dições próprios da cultura helênica, tal processo apresenta, em linhas gerais, duas fases distintas: a primeira, compreendida entre os séculos VIII e IV a.C. e a segunda, que ocorre a partir do século III a.C. e se desdobra até o início da era imperial.4 A helenização da primeira fase é distinta da segunda tanto na forma quanto na intensidade. Interpretada amiúde nos termos de uma assimilação superficial da cultura grega pelos romanos, a primeira fase da helenização adquire contornos passivos, contrastando as- sim agudamente com a segunda fase, na qual Roma já desempe- nharia um papel ativo, seletivo e restritivo na assimilação dos va- lores gregos. Essa distinção, no entanto, é hoje passível de críticas. Ao tratar da primeira fase da helenização, mais especificamente do século IV a.C., Wallace (1990, p. 278 e ss.) argumenta que “as hipóteses atuais de uma helenização mais extensa na sociedade romana durante esse período são baseadas em evidências e em metodologias interpretativas inadequadas para o estudo da socie- 3 Martin Garrett (2006, p. 632) afirma que é principalmente no século II a.C. que ocorre uma “helenização extensa” de Roma devido “às conquistas militares romanas do Oriente, culminando com a derrota de Perseu da Macedônia em 168 a.C. e no saque de Corinto em 146 a.C.” 4 Não podemos imaginar, contudo, que a interação entre gregos e romanos bem como a apropriação da cultura grega por esses últimos ocorreram apenas durante esses momentos históricos. No século IV d.C., por exemplo, várias evidências da influência grega foram encontradas nos escritos dos Padres da Igreja. Cameron, por exemplo, demonstra a influência grega na retórica dos autores cristãos mediante o estudo dos seus discursos. Desse modo, é possí- vel encontrar evidências da helenização ao longo de todo o Império Romano. Segundo Rowe (1995, p. 69), “o processo de helenização não está confinado no passado e aqueles elementos possivelmente encontrados nos antigos gre- gos ainda estão sendo assimilados em nossa cultura”. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37141 1 4 2 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX dade romana do século IV a.C.”. E mais, ao argumentar que “mui- tos dos fenômenos culturais encontrados em Roma são paralelos às culturas da Etrúria e da Itália central e que aspectos importan- tes da cultura helênica não são encontradas em Roma”, Wallace sugere que a helenização de Roma antes da guerra contra Pirro (280-275 a.C.) permanece problemática e sem comprovação devi- do à carência de testemunhos documentais. Numa linha de raciocínio semelhante, Veyne (1983, p. 107 e ss.) argumenta que, pelo menos desde o século VI a.C., Roma possuía, é certo, uma arte e uma religião “helenizantes”, mas isso não é suficiente para indicar uma “helenização” propriamente dita, como se verá mais tarde. Para Veyne, a segunda (e, num certo sentido, única) helenização de Roma se desenvolve num contex- to internacional no qual o helenismo desponta com todo vigor, de maneira que, à época, “civilizar-se significa helenizar-se”. Assim, visando a se integrar à própria civilização, Roma adotará, de ma- neira consciente e voluntária, a cultura grega. Como bem definiu Paul Petit (1987, p. 99): Antes da guerra de Aníbal trata se de uma impregnação lenta e como que inconsciente, mas indireta; um helenismo “mediato”. Com a con- quista da Grécia, sua libertação do jugo macedônio e a proteção dada a Atenas, os romanos entraram em contato com a Grécia propriamente dita, onde ainda era intensa a vida intelectual. A “geração de 160” assimi- la rapidamente um helenismo ainda próximo do classicismo e bebe em fontes imediatas. Na avaliação do autor, a presença dos gregos no Mediterrâ- neo ocidental, embora fosse um fato antigo, havia se mantido res- trita a algumas regiões, a saber: Sicília e Península Itálica desde o século VIII a.C.; Gália e Península Ibéricadesde o início do sécu- lo VI a.C. De acordo com Pierre Lévêque (1987, p. 183-4), a ab- sorção de elementos específicos da cultura grega por Roma era antiga, remontando ao século IV a.C. ou mesmo antes, pois assim 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37142 1 4 3ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA como qualquer outra sociedade mediterrânea ou do Oriente Pró- ximo, a romana também recebeu influxos da Grécia. No entanto, para o autor, o processo histórico que se convencionou designar por Helenização de Roma é um caso singular, rico e complexo que se desdobra a partir do século III a.C, quando os romanos entram em contato direto com a Hélade e demais territórios de fala grega na Península Balcânica (Macedônia, Épiro, Tessália). A interação cultural entre gregos e romanos desempenhou um papel importante para a consolidação do “projeto” imperialis- ta romano, uma vez que, de acordo com Wallace-Hadrill (1998, p. 79), “para civilizar os outros, os romanos tiveram que se civili- zar” e, ao fazê-lo mediante a apropriação da cultura grega, se tor- naram de certa forma um pouco gregos, mas, certamente, sem deixarem de ser romanos. Como afirma com propriedade Veyne (1983, p. 110): “Roma deseja aculturar se sem se identificar; ela se heleniza para afirmar-se, enquanto que aos olhos dos gregos a helenização equivalia a uma naturalização; Roma os deixará des- concertados: é uma cidade helenizante que lhes escapa”. Nesse sentido, poderíamos até sugerir que a helenização de Roma foi, em última análise, muito mais um acontecimento ro- mano do que grego. A Grécia parecia ser depositária do padrão ideal de civilização que Roma, na sua escalada como potência conquistadora, buscava tomar para si.5 Na correspondência envia- 5 Segundo Veyne (1983, p. 110), a Grécia seria depositária de uma civilidade que “não era sentida como grega, como estrangeira, mas como a própria civilização e o modo de ser dos gregos era considerado o ideal, o verdadeiro, em todos os setores, da diplomacia à religião”. Isso se deveu, em parte, à capacidade grega de promoção e imposição de seus valores ao resto do Mundo Antigo. Podemos observar, por exemplo, que Isócrates, em seu Panegyricus, não perdeu a oportu- nidade de promover a Grécia a partir da exaltação de Atenas. Não por coinci- dência, em 59 a.C., Cícero (Pro Flacco, 62) declarará que Atenas é o locus da civilização: “Os atenienses estão aqui, cidadão da cidade na qual se supõe nasceu a civilização, o ensino, a religião, as frutas e as sementes, as leis, as instituições e de onde foi disseminado para o resto do mundo”. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37143 1 4 4 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX da a seu irmão, Quinto, Cícero (Epistulae ad Quintum Fratrem 1,9, 27 8) faz o elogio da humanitas grega nos seguintes termos: [...] mas desde que nós governamos a população dentro da qual a civilização [humanitas] não apenas existe, mas, acredita-se, foi a partir dela que se propagou aos outros, nós somos obrigados, acima de todas as coisas, a lhe retribuir o benefício que recebemos. Por isso, eu não posso ter vergonha de ir mais além – especialmente quando minha vida e minhas conquistas são tamanhas para excluir quaisquer suspeitas de ignorância [inertia] ou inconstância [levitas] – de confessar isso, o que eu consegui, eu conquistei por intermédio dos estudos e habilidades práticas que foram transmitidos a nós pelas escolas e obras literárias gregas. A RESISTÊNCIA CONSERVADORA Havia assim, certamente, uma admiração romana pela Civiliza- ção Grega, mas tal admiração, é necessário que se diga, não era nem passiva nem desprovida de crítica. Os romanos, na realida- de, possuíam uma representação própria da Grécia que exibia, em alguns aspectos, uma censura ao modus vivendi grego. Os gregos, na opinião dos romanos, se comportavam de modo imoral por ama- rem o luxo e a licenciosidade (Veyne, 1983, p. 115; Erskine, 1997, p. 3). Quanto a isso, a descrição contida nas sátiras de Juvenal (III,58,125) ilustra muito bem a imagem estereotipada que os ho- mens do Principado faziam dos costumes gregos. De acordo com Patterson (1982, p. 90-1), recorrendo às palavras do classicista Nicholas Petrochito, Os romanos desenvolveram um conjunto de estereótipos sobre os gre- gos no qual se centra o que eles [os romanos] consideram seis principais falhas do caráter grego: (1) a volubitas, uma tendência a preferir uma facilidade formal no discurso em detrimento do conteúdo; (2) a ineptia, uma inclinação para um comportamento inapropriado e excessivo, uma prontidão para elaborar sobre um tema que eles não sabem nada; (3) a 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37144 1 4 5ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA arrogantia e a imprudentia, relacionadas, de acordo com Cícero, à “irresponsabilidade, à falsidade e a uma aptidão para a lisonja”; (4) a falsidade, destacada como um traço particularmente desagradável; (5) uma fraqueza para o luxo e para a ostentação. Mas era a sexta caracterís- tica que os romanos desprezavam mais: a levitas, a adoção de “aspectos de instabilidade, precipitação e irresponsabilidade” que era um elemento predominante na concepção popular do caráter grego. A avaliação negativa de determinados aspectos do comporta- mento grego reiterada mediante o realce dos traços tidos pelos romanos como expressões do “vício” e da “decadência”, todavia, caminha lado a lado com a aceitação e absorção da herança cul- tural grega. Em razão disso, a receptividade e a hostilidade roma- nas a tudo aquilo que fosse oriundo da Grécia ou mesmo àquilo que os romanos apenas supunham ser grego são fatores importan- tes para compreendermos a dinâmica da helenização de Roma.6 Plutarco, na sua biografia de Catão contida nas Vidas Paralelas, nos relata um episódio sobre a visita a Roma de dois filósofos gre- gos, Carnéades e Diógenes, enviados à cidade por volta de 155 a.C. com a finalidade de negociar a respeito de um imposto exigi- do então aos atenienses. Durante sua permanência em Roma, es- ses filósofos ensinaram a cultura grega aos jovens romanos, que se tornaram seus “devotos” e “admiradores ouvintes”. De acordo com Plutarco (Cato 22, 5), Catão, ocupando à época a magistratura 6 Aqui evocamos o coletivo romanos com cautela, pois não é possível se falar de um “único” povo que, como um bloco homogêneo, emitisse uma única ava- liação, uma só opinião sobre outros povos. Na realidade, como destacou Henrichs (1995, p. 244), “nós não podemos assumir que as opiniões romanas sobre as conquistas gregas eram unânimes, pelo contrário, elas eram variadas no tempo e no espaço. Para alguns romanos, as contribuições gregas à vida artística e intelectual eram consideradas exemplares. Para outros, a cultura intelectual grega e popular representava um composto de ameaças aos sóli- dos valores romanos – embora esta visão tenha, certamente, diminuído de intensidade no decorrer de meados do século II d.C”. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37145 1 4 6 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX de censor, se opôs ao Senado e repreendeu os magistrados, afir- mando que Carnéades e Diógenes poderiam retornar prontamen- te às suas escolas, uma vez que “os jovens de Roma devem seguir as leis e os magistrados”. Mais adiante, Plutarco (Cato 23, 1 3) continua a fornecer detalhes da ferrenha oposição de Catão aos ensinamentos dos filósofos gregos: Isso ele fez, não por causa de uma hostilidade pessoal contra Carnéades, mas porque ele era totalmente avesso à filosofia e zombava de tudo o que era da cultura (paideia) e ensinamento gregos, excetuando o zelo patriótico. Ele disse, por exemplo, que Sócrates era um grande tolo que tentou ser, da melhor forma que podia, o tirano de sua cidade por querer abolir seus costumes e persuadir seus concidadãos a terem opiniões que eram contrári- as às leis. Ele zombava da escola de Isócrates, declarando que os pupilos dele semantinham estudando até se tornarem anciãos como se eles fossem praticar a arte e defender seus casos antes de Minos no Hades. E buscando influenciar seu filho contra a linguagem grega, ele se entrega a um discurso muito precipitado, declarando, em tom profético ou de vidência, que Roma perderia seu império quando ela se infectasse com as letras gregas. A hostilidade de Catão à cultura grega dizia respeito não so- mente à filosofia, mas também à medicina. De acordo com Plutarco (Cato 24, 3 4): “não eram somente os filósofos gregos que ele odia- va, ele também suspeitava dos gregos que praticavam a medicina na cidade de Roma”. Mas se, por um lado, como relata Plutarco, Catão declarava sua oposição aos gregos, ele, por outro, censurava igualmente a pronta receptividade romana diante de tudo aquilo que proviesse da Grécia. Plutarco, por sua vez, na condição de grego de nascimento, considera a cultura grega um aspecto presen- te e positivo na formação romana. Em seguida à narrativa da atua- ção de Catão, Plutarco (Cato 23, 3) comenta em tom de reprova- ção: “mas o tempo, certamente, tem mostrado que o discurso dele é infundado, pois enquanto a cidade estava no ápice de seu império, ela tomou toda forma de ensino e cultura (paideia) grega como 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37146 1 4 7ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA sendo dela mesma”. Em uma outra obra, intitulada Sobre a educa- ção das crianças, o autor argumenta que a língua grega era um ele- mento importante e necessário à educação dos jovens romanos.7 A resistência à assimilação da cultura grega pelos romanos era sustentada por personagens importantes da República. Catão, embora seja citado com freqüência como um exemplo emblemático dessa resistência, não é o único.8 Cícero também deixou registra- da, por escrito, sua opinião acerca do assunto. Em Sobre os ofícios (L. I, 1), se dirige ao seu filho, que passou por uma temporada de estudos em Atenas, da seguinte maneira: Meu querido filho Marco, você estudou por um ano completo e o tem feito em Atenas, e você deve estar completamente preparado com os pre- ceitos e princípios da filosofia; isso é o mínimo que, pelo menos, podemos esperar da primazia não somente do seu professor, mas também da cidade; o primeiro está capacitado a te enriquecer com ensinamentos, a última a te fornecer os modelos. No entanto, tal como eu, para o meu próprio desenvol- vimento, sempre combinei os estudos latinos com os gregos – e eu tenho feito isso não somente no que diz respeito à filosofia, mas também à prática da oratória – assim eu recomendo que você faça o mesmo para que você possa ser hábil em ambas as línguas. Nesse sentido, se não me engano, eu tenho contribuído muito para os nossos concidadãos, de modo que não somente aqueles que desconhecem a literatura grega, mas mesmo os que 7 A reação grega diante da helenização de Roma, aparentemente, parece ser a de aceitação, em oposição à atitude dos romanos, que declaram abertamente sua hostilidade a alguns aspectos da cultura grega, como veremos mais adiante. Em todo caso, a atitude dos gregos para com a helenização é um assunto que merece uma maior reflexão. 8 Gehman (1976, p. 237) aponta que, quando se pensa nos inimigos da cultura grega, Catão é imediatamente lembrado. Henrichs (1995, p. 244) concorda com Gehman ao declarar que Catão aparece como “um dos mais ferozes entre os críticos romanos dos gregos”. Contudo, segundo o autor, a avaliação negativa de Catão sobre a cultura grega diminuiu com os anos, fazendo com que ele próprio obtivesse profundo conhecimento da língua e literatura gregas. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37147 1 4 8 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX têm tal conhecimento, eu considero que eles ganharam muito seja na capacidade de oratória seja no desenvolvimento intelectual. Cícero (De off., L. 1,2) ainda aconselha o filho que, mesmo desejando continuar os estudos com os filósofos gregos, ele o deve fazer sempre a partir dos ensinamentos romanos e, mais especifi- camente, conforme a própria obra de seu pai, que é um grande orador. Cícero reconhece de certa forma a validade e a importân- cia da formação cultural grega, mas alerta que esta deve sempre ser adquirida à luz dos valores romanos. A atitude de Cícero di- ante da cultura grega, assim como a de Catão, é ambígua: ora ele a enaltece ora a deprecia e se mostra completamente hostil ao contato entre gregos e romanos (Erskine, 1997, p. 1 2). Como assinala Veyne (1983, p. 113), os romanos vislumbraram, na apro- priação dos valores gregos, tanto uma oportunidade de se coloca- rem num patamar cultural superior quanto uma ameaça ao mos maiorum, ou seja, ao conjunto de tradições legadas pelos antepas- sados latinos. A ênfase nessa ambigüidade é um enfoque recorren- te na historiografia sobre a helenização de Roma, o que dá margem à formulação de algumas interpretações bastante sugestivas. A resistência inicial a qualquer aproximação entre Roma e a Grécia se explica, de acordo com Veyne (1983, p. 113-5), pela ame- aça que representava a adoção de tudo aquilo que fosse externo, estrangeiro para a ordem republicana, sendo uma fonte permanente de preocupação para o cidadão romano a possibilidade de dissolução da res publica. Assim, o perigo repousava no fluxo de inovações in- compatíveis com a tradição prescrita pelo mos maiorum. Este é o mes- mo argumento de Erskine (1997, p. 3) para explicar o estranhamento romano diante da cultura grega. De acordo com o autor, “os escrito- res romanos, como Catão, Salústio e Tito Lívio, relacionaram a desa- gregação da República com o declínio moral de Roma e este declínio era, geralmente, explicado pela viciosa influência grega”. Uma outra explicação para o desconforto romano diante dos valores gregos se conecta com os processos de afirmação de 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37148 1 4 9ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA identidade. Isso pode ser observado, por exemplo, na literatura. Chahoud (2004, p. 1-3), ao analisar a sátira romana, especial- mente o emprego da língua grega na composição satírica, e consi- derando a suposição de Quintiliano (Institutio Oratoria, 10,1,93) de que a sátira é um gênero completamente romano, sem filiação ou paralelos com a literatura grega, sugere que, em algumas cir- cunstâncias, a afirmação da superioridade romana diante dos gre- gos é parte de uma acirrada disputa pela preservação de uma iden- tidade cultural romana. Se a investigação acerca da influência da cultura grega em Roma e de seus desdobramentos implica, em primeiro lugar, a análise da documentação disponível, a reflexão acerca dos conceitos relativos à helenização também podem nos revelar indícios importantes. O próprio termo helenização, bem como o termo cultura, são flexíveis, mutáveis. Em outras palavras, o sentido de helenização e cultura não é um dado evidente. CULTURA OU PAIDEIA? Como sugere Geertz (1989, p. 23-4), a necessidade de o antropólo- go se situar diante do seu objeto o auxilia a elucidar a trama das relações sociais, revelando como uma determinada estrutura social se encontra composta e ordenada.9 Julgamos que tal atitude tam- bém deva ser adotada pelo historiador da Antigüidade: a de procu- rar despir-se dos valores modernos e, na medida do possível, obser- var as sociedades antigas sob a ótica dos homens da época. Isso não 9 Geertz (1989, p. 23-4) argumenta que “situar”, ou seja, compreender o intrincado processo por meio do qual os diferentes povos significam o mundo de modo a tornar possível a comunicação é a tarefa da pesquisa em Antropologia. Segundo Geertz, “o objetivo da Antropologia é o do alargamento do universo do discurso humano”. A História também persegue esse propósito: o de situar, o de devolver a seu tempo e espaço as maneiras de ser do homem, suas organizações, mediante a conceituação, pois “a conceituação faz o interesse da História”cujo fim é o de “apreender a originalidade das coisas e de situar” (Veyne, 1995, p. 81; Veyne, 1989, p. 31). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37149 1 5 0 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX para se tornar um nativo ou para tentar reproduzir os seus usos e costumes, mas para compreendê-lo dentro de seu próprio tempo e espaço. Portanto, devemos considerar a noção de cultura no contex- to da helenização e no interior do sistema cultural greco-romano, ou seja, devemos nos interrogar sobre a maneira pela qual as socieda- des da Antigüidade compreendiam, em seus próprios termos, o que nós atualmente chamamos de helenização e cultura. Helenização pode adquirir vários sentidos. O conceito mo- derno de helenização aparece pela primeira vez na obra de G. Droysen, Gerschichte des Hellenismos, publicado entre 1833 e 1843 (Tsetskhaladze, 2006, p. 345). No século XVIII, ao buscar refletir sobre a influência grega na doutrina cristã, Adolf von Harnack interpretou a helenização como um processo que envolveu “a re- lação entre o cristianismo e a cultura de um conjunto de países do Mediterrâneo oriental no qual as idéias helênicas e os modos de vida foram apenas um – embora fosse o principal – componen- te em uma cultura dinâmica que incorporou várias tradições e razões” (Rowe, 1995, p. 71). Conforme Henaut (1994, p. 99), para o historiador do cristianismo “primitivo” a helenização, em geral, se refere à cultura grega do tempo de Alexandre, o Grande e ao seu impacto sobre o Oriente Próximo e o Império Romano. Sendo um fenômeno eminentemente urbano e manifestando-se por meio da filosofia e da retórica, essa cultura passa a residir nas metrópo- les helenísticas, notadamente Alexandria, cidade fundada pelo próprio Alexandre quando de sua passagem pelo Egito. Na perspectiva dos antigos, o substantivo grego hellenismos é uma derivação do verbo hellenizo que significa, originalmente, “falar em grego” ou “o uso correto da língua grega” (Jaeger 2002, p. 17; Pereira, 1998, p. 182; Rowe, 1995, p. 70). Segundo Jaeger, esse sentido original atribuído ao substantivo hellenismos no século IV a.C. foi posteriormente substituído, passando a significar, em es- pecial fora da Grécia e no final do Mundo Antigo, “não só a cul- tura grega e a língua dos gregos, mas também o culto e a religião ‘pagãos’ da Grécia antiga” (Jaeger, 2002, p. 17). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37150 1 5 1ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA Na historiografia e na literatura, a helenização é interpreta- da como um acontecimento próprio do âmbito cultural. Ao re- fletir sobre a helenização da Península Itálica entre os séculos IV a.C. e II d.C., Lomas (1995, p. 347-8) define esse processo como uma “penetrante influência da cultura grega” conectada a uma “difusão cultural que teve impacto profundo na história de toda a região do Mediterrâneo” e que “uniu uma enorme diversi- dade de sistemas políticos locais e culturas socioeconômicas den- tro de um sistema que permaneceu grego desde a Ásia Menor à Espanha”. O autor ainda aponta que esse processo consistiu na formação de uma “unidade cultural”. Assim, o estudo sobre a helenização de Roma está intimamente vinculado à cultura, de maneira que tratar da helenização de Roma requer, necessaria- mente, discorrer sobre a cultura. Mas o que quer dizer “cultu- ra”? Atualmente, a noção mais imediata que nos vem à mente ainda permanece vinculada às expressões artísticas clássicas, como a literatura, a escultura, a arquitetura, a música, a dança e o teatro. Mas qual significado teria a “cultura” quando evocada dentro do contexto da helenização? Que sentido teria para os antigos? De acordo com Cuche (1999), o conceito de cultura re- monta ao século XVIII, quando emergem a palavra e a idéia de cultura numa acepção moderna. Ainda segundo o autor, embora cultura seja um termo derivado do latim, o que o do- taria de uma inegável ancestralidade, foi somente no século XVIII que se operou uma transformação semântica no senti- do de dar origem ao conteúdo que hoje possui. Não obstante, a cultura pode compreender uma infinita variedade de acepções. Veyne (1983, p. 115) destaca que cultura pode sig- nificar, num sentido humanista, determinadas ações, como, por exemplo, ‘ter lido Horácio’ ou ‘pensar algo sobre o mundo social em que se vive’”. Por volta de meados do século XIX e início do XX, na Europa, aparece uma nova concepção de cultura. Em 1860, na obra A 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37151 1 5 2 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX cidade antiga, Fustel de Coulanges (1830-1889), por exemplo, de- finiu a cultura como algo relacionado às “crenças, aos costumes e à família”. Enquanto os usos moderno e contemporâneo de cultu- ra são bastante variados, para os romanos o vocábulo parece ter assumido significados precisos vinculados a contextos específicos. O termo latino cultura, segundo Faria (1992, p. 150), podia signi- ficar, em sentido literal, um conjunto de elementos relativos a “cultivo” e “agricultura” (Cícero, De finibus, 4,38). Já em sentido figurado, falava-se em “cultura do espírito” (Cícero, Tusculae Disputationes, 2, 13) ou “ação de cortejar, fazer a corte a alguém” (Horácio, Epistulae, 1, 18, 86). No entanto, esses sentidos não remetem, exatamente, àquele evocado pelo termo cultura no con- texto da helenização. Ao manipularmos as traduções dos textos antigos, se não hou- ver, por parte do pesquisador, um tratamento cuidadoso das fon- tes e uma preocupação conceitual permanente, podemos nos equivocar com as transformações históricas pelas quais passam os vocábulos. No caso que tratamos aqui, o calcanhar de Aquiles é, sem dúvida, o vocábulo paideia que nós, ainda hoje, insisti- mos em traduzir por cultura, não obstante a imprecisão daí re- sultante. A tarefa, nesse caso, é descobrir o que o termo cultura não revela. Retomemos, novamente, o excerto de Isócrates com o qual abrimos o capítulo (Pan., 4,50). Na versão em inglês do documento, traduzido por Georges Norlin, aparece com freqüên- cia o termo cultura, enquanto que, no original, Isócrates empre- ga o termo paideia. Para a paideia, tal como lemos em Isócrates (Pan., 4, 47 49), o que parece ser importante é o aprendizado da filosofia, que con- tribui para o estabelecimento das instituições responsáveis por educar o cidadão para a vida pública, além de estimular a genti- leza entre as pessoas. Outro elemento próprio da paideia é a orató- ria à maneira grega (particularmente segundo o padrão ateniense), que concede àqueles que possuem tal habilidade autoridade para comandar os destinos da sua cidade e prestígio nas cidades alheias. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37152 1 5 3ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA Nesse sentido, podemos observar também que a paideia mantém estreita relação com a noção de poder.10 A mesma opção pelo termo inglês culture aparece na tradução de Plutarco (Cícero, 4) realizada por Bernadette Perrin, em subs- tituição ao termo paideia, o que vem uma vez mais confirmar a regra. Wallace-Hadrill (2000, p. 7), ao interpretar as transforma- ções da República romana nos termos de uma revolução cultural, argumenta que as dificuldades de reflexão sobre o assunto repou- sam, em grande parte, nas abordagens teóricas e nos problemas de definição que cercam a categoria cultura. De acordo com o autor, não existe uma noção romana ou grega equivalente ao termo cul- tura tal como hoje nós o entendemos, uma vez que o universo conceitual greco-romano que poderia corresponder à noção mo- derna de cultura somente diz respeito a alguns aspectos da segun- da, quando não a excede.11 O mesmo vale para a noção grega de paideia. Jaeger (2001, p. 2) destaca que não há uma concepção moderna equivalente e que 10 E, realmente, devemos compreender que a cultura não é somente a textura na qual os homens interagem, ela também produz e expressa a maneira como os homens,numa dada sociedade e num dado momento, estabelecem e mantêm hierarquias (Bourdieu, 2002, p. 10-11; Geertz, 1989, p. 15-24). Os sistemas culturais – como, por exemplo, a arte, o senso comum, a religião, a ideologia, a linguagem – não apenas expressam nossa compreensão da realidade e pos- sibilitam a comunicação, mas também criam e reforçam as classificações, ou seja, contribuem para uma dada ordem de coisas (Bourdieu, 2002, p. 9-11; Foucault, 2002, p. 16). Assim, a cultura constrói, efetiva e mantém relações de poder, além de ser a expressão material e simbólica da forma como concebe- mos a realidade. Nesse sentido, um estudo sobre objetos considerados cultu- rais é, igualmente, um estudo sobre as relações de poder e, portanto, uma investigação que nos remete ao campo da política. Cultura e política são assim partes de uma mesma realidade. Ambas são mutuamente constitutivas e, por isso, não podem ser pensadas como aspectos distintos ou autônomos. 11 Wallace-Hadrill (2000, p. 8) sugere o conceito grego de paideia e os conceitos romanos de disciplina, studia, humanitas e mores para cobrir alguns dos elemen- tos pertencentes ao domínio do que, hoje, denominamos cultura. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37153 1 5 4 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX qualquer uma das expressões utilizadas para defini-la somente corresponde a uma parcela do que os gregos compreendiam por paideia.12 Para Jaeger (2001, p. 2): Não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civiliza- ção, cultura, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas, porém, coin- cide realmente com que os gregos entendiam por Paideia. Cada um da- queles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global, e, para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez. Na atualidade, a paideia ainda pode significar “um sistema compartilhado de referência e expectativa [vinculado à elite do Império]” (Godhill apud Elm, 2003, p. 494). Ou poderíamos ainda considerar, como propõe Wallace-Hadrill (1988, p. 226), que: A paideia é um sistema coerente: um processo de aprendizagem de um conjunto de habilidades intelectuais interconectadas sem o qual um ho- mem não pode se tornar um membro da sociedade civilizada. Simultane- amente, é um processo de produção de trabalhos escritos em vários ramos pelo homem para seu aprendizado e consumo. Desse modo, incorpora as várias atividades de uma universidade moderna, mas vai além delas [...] Logo, podemos concluir que cultura não mantém uma equiva- lência direta com paideia, assim como a paideia grega também não será idêntica à paideia romana. Todavia, os sistemas de significa- 12 Jaeger (2001) fornece uma contribuição decisiva sobre o tema da paideia clássi- ca grega. Em Cristianismo primitivo e paideia grega (2002), discute a relação entre a cultura grega e o cristianismo primitivo, propondo a idéia de paideia cristã. Na sua tese de doutorado intitulada Paideia e Retórica no século IV d.C.: a construção da imagem do imperador Juliano segundo Gregório Nazianzeno, Carva- lho (2002) faz uma reflexão sobre a paideia no contexto romano do século IV d.C. Ver também Carvalho (2004, p. 189-201) e Brown (1992). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37154 1 5 5ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA ção não são totalmente estranhos, irreconciliáveis e impermeá- veis a intercâmbios.13 Os romanos ampliaram as possibilidades da paideia apropria- da dos gregos e, seletivamente, escolheram o que lhes era conve- niente, adaptando-o, pois não podemos imaginar, como outrora, que a helenização foi um processo de submissão cultural de Roma diante da Grécia de maneira irrestrita e homogênea (Veyne, 1983, p. 106 10). A paideia grega, na realidade, foi seccionada e conti- nuamente reinterpretada pelos romanos de acordo com o seu pró- prio universo cultural. Como nos alerta Wallace-Hadrill (1988, p. 227), “o processo de assimilação da ‘paideia’ e das disciplinas não é um processo homogêneo”. Pelo contrário, é “marcado por pro- fundas diferenciações”.14 Vejamos, então, em maiores detalhes, quais elementos foram apropriados pelos romanos e quais aspectos foram considerados por eles prejudiciais às suas próprias tradi- ções, vale dizer, ao seu mos maiorum. OS ELEMENTOS DA HELENIZAÇÃO A maior rejeição dos romanos aos componentes da paideia estava concentrada basicamente em três áreas: música, matemática e geografia (Wallace-Hadrill, 1988, p. 231). Apesar da suspeita con- tra a música grega, esta aparece em Quintiliano (Institutio Oratoria, IV, 4 5) como um conhecimento essencial para a oratória, assu- mindo uma importância equivalente para o caso da matemática, da astronomia e da filosofia: 13 O argumento de Wallace-Hadrill (1988, p. 232) é o de que a ordem romana e a ordem grega eram, inicialmente, incompatíveis. De acordo com o autor, os romanos teriam sido os responsáveis pela compatibilidade entre os sistemas na medida em que conquistaram e foram capazes de ‘domesticar’ o sistema alheio sem comprometer a sua própria ordem. 14 Podemos hoje perceber essas sutilezas da helenização de Roma na medida em que a documentação da qual dispomos é maior do que outrora, especialmen- te a arqueológica e a epigráfica (Wallace-Hadrill, 1988, p. 227). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37155 1 5 6 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX Tal treinamento não pode ser considerado completo se parar no curso curto de música, pois o professor de literatura tem que falar em métrica e ritmo; novamente, se ele for ignorante em astronomia pode não entender os poetas; pois eles, para não mencionar outros aspectos, freqüentemente, dão suas indica- ções de tempo por meio da referência ao nascimento e ao pôr das estrelas. Ignorância da filosofia também é uma desvantagem, uma vez que inúmeras passagens, em quase todos os poemas, são fundamentadas nas mais intricadas questões da filosofia natural. Enquanto entre os gregos nós temos Empédocles e entre nós, Varro e Lucrécio, todos expuseram suas filosofias em versos. Quintiliano (Inst. Or., IV, 6 7) acrescenta, acerca do aprendi- zado musical, que é preciso “exercer o mais profundo conhecimen- to e erudição”, pois “não é todo ouvido que consegue apreciar o som correto das diferentes consoantes”, que corresponde à “distin- ção das diferentes notas na música”. O conhecimento da música era intrincado e exigia diversas habilidades, como os próprios roma- nos tinham consciência. Exprimir-se na língua grega implicava fa- lar corretamente o grego. Se o emprego do grego em lugar do latim era já motivo de crítica, aquele que ousasse falar em grego, mas sem a competência mínima requerida, se tornaria seguramente alvo de zombaria (Chahoud, 2004, p. 1; Wallace-Hadrill, 1998, p. 80).15 Os romanos – pelos menos os membros da elite – buscaram aprender a língua grega de forma apropriada.16 Para tanto, fre- 15 Wallace-Hadrill (1998, p. 80) evidencia as críticas feitas àqueles que optavam pela utilização do grego mediante dois acontecimentos: a zombaria de Catão a Póstumo Albino, relatada na biografia de Catão escrita por Plutarco (Cato, 12) e a humilhação do romano Lúcio Póstumo Megelo narrada por Dionísio de Halicarnasso e Apiano. Chahoud (2004, p. 1) menciona ainda a censura dirigida a Caio Lucílio, satirista romano, pela sua “falta de refinamento lingüístico”. A opção pela utilização do grego era mal vista, mas, como veremos adiante, a questão da escolha da língua faz parte da luta de represen- tações entre gregos e romanos (Chartier, 1990, p. 17). 16 Entendemos por elite “uma posição no ou próximo ao topo do sistema hierár- quico em questão” (Rapp, 2000, p. 379). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37156 1 5 7ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA qüentaram as melhores escolas nos principais centros culturais da Hélade.17 Nelas, adquiriram, a seu modo, aquilo que julgavam apro- priadoà ordem romana, rejeitando o que consideravam suspeito. A essa altura, devemos nos interrogar sobre o que ameaçava os roma- nos e que os levou a privilegiar determinadas manifestações da paideia em detrimento de outras. Tanto a pergunta quanto a respos- ta foram elaboradas por Wallace Hadrill (1988, p. 233): Por que os romanos privilegiaram algumas disciplinas em lugar de ou- tras? Esta diferenciação reflete a proximidade das novas disciplinas com a existente distribuição de poder e conhecimento. O conhecimento das leis, os discursos, os costumes religiosos e civis e militares já definidos pela aristocracia: a jurisprudência helenizada, a retórica, a historiografia, e o antiquarismo poderiam ser acomodados, não sem acordo e adaptação. As disciplinas que os romanos acolheram – a grammatica, a retórica e a dialética – são aquelas que servem para definir uma nova aristocracia que tem suas raízes em uma aristocracia antiga. A matemática grega – implícita na aritmética, na geome- tria, na astronomia e, em parte, na geografia e na teoria musical – “se une desconfortavelmente à distribuição de conhecimento existente no sistema social romano” (Wallace-Hadrill, 1988, p. 233). O perigo era o de subversão da ordem estabelecida e, por- tanto, os elementos da cultura grega representavam uma amea- ça, exigindo um controle sistemático dos mecanismos de em- préstimo cultural por parte das autoridades republicanas. Pelas constantes reações contrárias à assimilação, podemos sugerir que o influxo da cultura grega em Roma era intenso. Quanto a isso, 17 Catão, Cícero e muitos outros membros da elite romana tinham conhecimentos acerca de literatura e língua gregas adquiridos mediante viagens que os colo- cavam em contato direto com os gregos ou mesmo pelo fato de terem fre- qüentado, em algum momento da sua formação educacional, as escolas gregas (Astin, 1978; Griffin, 1994). 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37157 1 5 8 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX a História de Roma, de Tito Lívio (Livro 25, § 40), nos fornece algumas pistas: [e foram removidos] para Roma os ornamentos da cidade, as estátuas e as pinturas por meio das quais abundavam em Siracusa. Eles eram, é verdade, despojos tomados dos inimigos e adquiridos sob o beneplácito das leis de guerra, mas foi o começo de nossa admiração pelas artes gregas que nos levou à presente espoliação perigosa e descuidada de todo tipo de tesouro, tanto sagrado quanto profano. Desse modo, às conquistas das cidades gregas, se seguiu a pilhagem e a transferência para Roma do tesouro civilizacional grego. Uma transferência que invadiu a sociedade romana em vários âmbitos, especialmente no sistema lingüístico, o que nos leva a refletir sobre as implicações políticas da utilização do grego ou do latim. A influência da paideia na sociedade romana aparece de modo bastante evidente na adoção do grego como uma segunda língua da elite. Para os gregos bem como para os romanos, a língua grega era um instrumento imprescindível para a formação do homem (mais especificamente, do cidadão). Na Institutio Oratoria (L. 1,9), Quintiliano afirma que seu objetivo é a formação do orador, mas destaca que para ser orador é fundamental o homem ser “bom”, o que significa possuir caráter e virtudes excepcionais – coragem, justiça e autocontrole. Na formação desse homem “bom”, a lín- gua grega parece desempenhar a maior relevância. Como reco- menda Quintiliano (Inst. Orat., L. 1,12): “Eu prefiro que a crian- ça comece pelo grego, porque o latim, sendo de uso geral, será aprendido por ela, querendo ou não. Sendo o ensino de latim derivado do grego, isso constitui mais uma razão para que ele seja instruído, primeiramente, neste último”. O ensino do grego representa aqui uma exigência primária da formação do homem romano, devendo ser ministrado antes do ensino do latim. Não obstante, o autor (Institutio Oratoria, Livro 1,13) alerta: 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37158 1 5 9ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA Eu não desejo, contudo, que esse princípio seja observado de forma supersticiosa, de modo que ele fale e aprenda apenas o grego, como tem acontecido com a maioria dos casos. Tal caminho contribui para a emer- gência de problemas de linguagem e acento; este implica na aquisição de uma entonação estrangeira, enquanto que a primeira, mediante a força do hábito, se torna impregnada do idioma grego, que persiste com uma obstinação extrema mesmo quando nós falamos uma outra língua. O estudo do latim deve, por essa razão, seguir lado a lado o estudo do grego. O conselho, ou deveríamos dizer preocupação, de Quintiliano pode ser relacionado à resistência de Catão e Cícero ao ensino do grego já apontada anteriormente, uma vez que a linguagem pos- sui uma estreita relação com a dimensão política. Adams (2003, p. 558-9) esclarece a relação entre linguagem e poder dentro de um contexto de emprego simultâneo do grego e do latim: Não há nada de novo sobre o uso ocasional do latim para afirmar simbolicamente o poder de Roma, em circunstâncias nas quais se espe- rava a utilização do grego; de acordo com Valério Máximo, os magistra- dos utilizaram, em seu zelo para manter a maiestas romana, apenas o latim em respostas aos gregos e os forçaram a falar mediante um intér- prete, não somente em Roma, mas também na Grécia e na Ásia [...]. A complexidade da escolha lingüística é sustentada pelo fato de que, em algumas ocasiões, o próprio grego poderia ser utilizado com o mesmo propósito: uma autoridade romana pode, condescendentemente, utili- zar o grego na Grécia como uma forma de ostentar adaptação à sua audiência, tornando claro que ele poderia usar a língua dela [da audi- ência] mesmo quando ela não é capaz de utilizar a língua dele. A adaptação condescendente enfatiza o completo controle do orador so- bre a situação. Tal estratégia discursiva denota uma demonstração de supe- rioridade e afirmação da identidade romana, pois a capacidade de se comunicar em uma outra língua que não a língua pátria 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37159 1 6 0 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX pode se tornar um elemento distintivo. A linguagem utilizada por aqueles que eram escolhidos para falar em público era adquirida a partir de um treinamento retórico proveniente da educação gre- ga. A adoção da língua grega bem como das técnicas de oratória explica-se pela necessidade de dotar o discurso de uma evidente autoridade. A educação grega conferia ao discurso essa autorida- de, além de um caráter mágico e sagrado. A língua grega era a língua da autoridade e do poder para os setores mais instruídos da população.18 Desse modo, a helenização de Roma comportou tam- bém uma dimensão política e não apenas cultural. Assim foi a helenização de Roma: um fenômeno complexo, variado e contraditório que contribuiu tanto para a redefinição da República quanto para a construção do Império. A assimila- ção da paideia, no entanto, não significou uma polarização, den- tro do corpo cívico, entre partidários e adversários da cultura grega pura e simplesmente. É necessário observar que em Roma, nesse momento, não há um único e soberano processo de helenização, mas uma multiplicidade de idas e vindas culturais nas quais os valores se mostravam ora em conflito ora em conflu- ência. A correta compreensão desse movimento, todavia, não se efetiva se persistirmos na utilização de um conceito vago e mo- 18 A disseminação do grego é perceptível na terminologia técnica desde os poe- mas, as sátiras até as disciplinas como a retórica, a filosofia e, inclusive, a arte da medicina. Chahoud (2004, p. 7-9) apresenta alguns exemplos interessan- tes do processo de tradução romana de termos gregos, que eram latinizados ou substituídos por palavras latinas já existentes. Segundo a autora, no caso da medicina, o processo é inverso, observando-se um uso crescente de termos gregos. Issose torna compreensível se consideramos a medicina como uma arte cujo exercício permaneceu como uma prerrogativa de gregos profissio- nais, razão pela qual a língua grega se tornou a “voz profissional da medici- na”. Em momentos posteriores, é possível também constatar um movimento inverso: a tradução grega de termos romanos. Erskine (1995, p. 368-83), por exemplo, buscou investigar o sentido do nome ‘Roma’ nas ocasiões em que este é vertido para o grego. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37160 1 6 1ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA derno de cultura.19 Sem dúvida, os contatos entre a sociedade grega e a romana na Antigüidade e a interpretação da interação, apropriação e adaptação daquilo que habitualmente chamamos de “patrimônio cultural” no contexto da helenização de Roma pode ser melhor compreendido quando nos voltamos para o es- tudo das suas categorias originais. REFERÊNCIAS Documentação primária impressa Cicero. De officiis. In: Miller, W. Loeb Classical Library. Cambridge: Harvard University Press, 1913. _____. Pro Flaccus. In: Yonge, C. D. Orations: Three orations on the Agrarian law, the four against Catiline, the orations for Rabirius, Murena, Sylla, Archias, Flaccus, Scaurus, etc. London: Henry G. Bohn, 1856. _____. Epistulae ad Quintum Fratrem: Liber Primus. In: Purser, L. C. Letters to and from Quintus. Disponível em <http://www.perseus.tufts.edu> Aces- so em 14 dez 2007. _____. To his brother Quintus (In Asia), Rome (December). In: Shuckburgh, E. Letters: Volume I. 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Segundo o autor, “[...] a palavra ‘cultura’ vem perdendo virtualmente seu sentido profun- do por intermédio de seu uso exagerado [e poderíamos até dizer constante], de modo que ‘cultura’ é agora uma palavra que agrega um todo que significa algo vago como ‘modo de vida’”. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37161 1 6 2 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX Quintilian. Institutio Oratoria I. In: Butler, H. E. Loeb Classical Library. London: Harvard University Press, 1996. Obras de apoio Adams, N. J. Bilingualism and the Latin language. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. Astin, A. E. Cato, the censor. Oxford: Clarendon Press, 1978. Bourdieu, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Brown, P. Power and persuasion in Late Antiquity: towards a Christian Empire. Madison: University of Wisconsin Press, 1992. Buell, D.K. Rethinking the relevance of race for early Christian self definition. Harvard Theological Review, Cambridge, v. 94, n. 4, p. 449-479, 2001. 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Ptolomeu VI Filométor 180 a.C. – 145 a.C. Ptolomeu VII Neofilopátor 145 a.C. – 144 a.C. Ptolomeu VIII Evergeta II 145 a.C. – 116 a.C. Ptolomeu IX Sóter II 116 a.C. – 107 a.C. Ptolomeu X Alexandre I 107 a.C. – 88 a.C. Ptolomeu IX Sóter II 88 a.C. – 80 a.C. Ptolomeu XI Alexandre II 80 a.C. Ptolomeu XII Neodionísio (Aulete) 80 a.C. – 57 a.C. Berenice IV e Cleópatra VI 57 a.C. – 51 a.C. Cleópatra VII e Ptolomeu XIII 51 a.C. – 48 a.C. Cleópatra VII e Ptolomeu XIV 47 a.C. – 44 a.C. Cleópatra VII 44 a.C. – 36 a.C. Cleópatra VII e Ptolomeu Cesário 36 a.C. – 30 a.C. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37167 1 6 8 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX ANEXO 2 DINASTIA MACEDÔNICA DOS ANTIGÔNADAS Antígono Monoftalmo 321 a.C. – 301 a.C. Demétrio Poliorcetes 294 a.C. – 287 a.C. Antígono Gônatas 283 a.C. – 239 a.C. Demétrio II 239 a.C. – 229 a.C. Antígono II Doson 229 a.C. – 221 a.C. Filipe V 221 a.C. – 179 a.C. Perseu 179 a.C. – 168 a.C. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37168 1 6 9ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMAANEXOS ANEXO 3 DINASTIA SÍRIO-BABILÔNICA DOS SELÊUCIDAS Seleuco I Nicátor 354 a.C. – 280 a.C. Antíoco I Sóter 280 a.C. – 261 a.C. Antíoco II Teo 261 a.C. – 246 a.C. Seleuco II Calínico 246 a.C. – 226 a.C. Seleuco II Sóter Cerauno 226 a.C. – 223 a.C. Antíoco III Basileus Megas 223 a.C. – 187 a.C. Seleuco IV Filopátor 187 a.C. – 175 a.C. Antíoco IV Epífanes Nicéforo 175 a.C. – 164 a.C. Antíoco V Eupátor 163 a.C. – 162 a.C. Demétrio I Sóter 162 a.C. – 150 a.C. Demétrio II Nicátor 146 a.C. – 125 a.C. Antíoco VII Evergeta Sidetes 138 a.C. – 129 a.C. Seleuco V 124 a.C. Antíoco VIII Epifânio 124 a.C. Seleuco VI Epifânio Nicátor 93 a.C. – 93 a.C. Demétrio III Filopátor Sóter 94 a.C. – 88 a.C. Antíoco XIII Asiático 69 a.C. – 64 a.C. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37169 1 7 0 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX ANEXO 4 DINASTIA DOS ATÁLIDAS EM PÉRGAMO Filetairo 281 a.C. – 163 a.C. Êumenes I 263 a.C. – 241 a.C. Átalo I Sóter 241 a.C. – 197 a.C. Êumenes II Sóter 197 a.C. – 159 a.C. Átalo II Filadelfo 159 a.C. – 138 a.C. Átalo III Filométor 138 a.C. – 133 a.C. Aristonico 133 a.C. – 130 a.C. 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37170 1 7 1ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMA MAPAS 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37171 1 7 2 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37172 1 7 3ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMAMAPAS 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37173 1 7 4 COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA XX 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37174 1 7 5ÉRICA CRISTHYANE M. SILVA • A HELENIZAÇÃO DE ROMAMAPAS 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37175 PUBLIQUE SUA PESQUISA NA COLEÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA F L O R &C U L T U R A E D I T O R E S (27) 3223-2190 • (27) 9979-1987 f l o r e c u l t u r a @ g m a i l . c o m • V O L U M E S P U B L I C A D O S • 1. A cidade tomada e a ficção em dobras na obra de Rubem Fonseca FABÍOLA PADILHA • 2. O Império Romano e o Reino dos Céus MIGUEL MARVILLA • 3. “Não há remédio certo”: Loucura e paixão na obra de Machado de Assis RUY PERINI • 4. Por acaso a fé pode salvar? JULIO BENDINELLI • 5. Aristeu Borges de Aguiar, um presidente atropelado pela história FLÁVIO CALMON WANICK • 6. Grécia, Roma e o Oriente GILVAN VENTURA DA SILVA (ORG.) 5 - Érica FINAL.pmd 1/5/2009, 22:37176
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