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CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUM CURSO DE PEDAGOGIA ADRIANA SILVA VIEIRA MARISTELA DINIZ LOPES A AFETIVIDADE ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS LINS-SP 2010 ADRIANA SILVA VIEIRA MARISTELA DINIZ LOPES A AFETIVIDADE ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para Conclusão de Curso de Pedagogia do Centro Universitário Salesiano Auxilium de Lins, tendo como orientadora a Profª. Ms. Gislaine Lima da Silva e a Profª. Ms. Fátima Eliana Frigatto Bozzo. LINS-SP 2010 Vieira, Adriana Silva; Lopes, Maristela Diniz A afetividade entre professor e aluno no processo de aprendizagem escolar na educação infantil e séries iniciais / Adriana Silva Vieira; Maristela Diniz Lopes. -- Lins, 2010. 55p. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 2010 Orientadores: Gislaine Lima da Silva; Fátima Eliana Bozzo 1. Afetividade. 2. Desenvolvimento Cognitivo. 3. Aprendizagem Significativa. I. Título. CDU 37 V713a ADRIANA SILVA VIEIRA MARISTELA DINIZ LOPES A AFETIVIDADE ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, para obtenção do título de graduação do curso de Pedagogia. Aprovado em ____/_____/______. Banca Examinadora: Orientador: Profª. Ms. Gislaine Lima da Silva Assinatura:_____________________ Profª. Ms Denise Rocha Pereira Assinatura:_____________________ Prof. Ms.Marcos José Ardenghi Assinatura:_____________________ DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais Maria de Lourdes e Alfredo, ao meu esposo Gilmar e aos meus filhos Hudson Gabriel e Hugo Rafael Adriana DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais Ivan e Lair que não mediram esforços para que eu pudesse realizar esta conquista, apoiando-me e fazendo-me acreditar que era capaz Maristela AGRADECIMENTO Em primeiro lugar elevo meu agradecimento a Deus pelo incentivo em persistir na busca e realização deste sonho, quando parecia real e nas muitas vezes pareceu impossível. E, na certeza também de que muitos outros surgirão, nos planos afetivos, familiares e profissionais. Agradeço à minha família e amigos/as pelo apoio e incentivo nos momentos de alegria, de luta e dificuldade durante esta trajetória. Com amor, meu muito obrigado à minha querida e amada mãe, Maria de Lourdes Silva Vieira, meu querido pai, Alfredo Vieira Neto, ao meu amado esposo, Gilmar Lopes Mafra, meus preciosos filhos, Hudson Gabriel e Hugo Rafael, e aos meus irmãos, longe geograficamente, mas perto do meu coração. Agradeço a todos os professores e, em especial, à minha orientadora, Gislaine Lima da Silva, mestre em todas as horas e por possibilitar a concretização desta etapa da minha vida. Agradeço a querida Maristela, amiga e autora comigo desta produção. Serei sempre grata por estar ao meu lado nesta trajetória acadêmica e em tantas outras, de formas solidárias, firmes e amigas. Juntas foi mais forte. Agradeço aos meus colegas de curso, companheiros na árdua e valorosa trilha de sonhos e superação de desafios. E agradeço a todos que não citei, mas que certamente fazem parte, desta vitória, porque é próprio do humano o viver coletivo e a edificação de sonhos também se faz com muitas mãos. Muito obrigada a todos. Adriana Silva Vieira. AGRADECIMENTO Agradeço a Deus pela força interior que sempre me impulsionava a persistir em busca da realização deste sonho... Agradeço à minha família pelo apoio e incentivo nos momentos de dificuldade e de provação durante esta caminhada... Agradeço a todos os professores por fazerem parte desta caminhada e partilharem seus conhecimentos de uma forma solidária e construtiva... Agradeço aos meus colegas de classe, companheiros de viagem e parte desta página de minha vida. Maristela Diniz Lopes EPÍGRAFE “Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita.” Paulo Freire RESUMO A afetividade está presente desde as primeiras manifestações da existência humana. Desde o nascimento, a criança engendra-se numa busca constante de interação e adaptação ao mundo em que vive e para isso utiliza de mecanismos primeiramente físicos, corporais, para mais tarde desenvolver outros, essencialmente psíquicos. Os aspectos afetivos positivos que permeiam as relações sociais estabelecidas entre a criança e o adulto determinam a construção de identidade e o valor que a criança dá a si mesmo. As experiências vivenciadas com alto nível de consciência, motivadas pelo prazer da descoberta e permeadas pela afetividade garantem uma riqueza de significados por toda a vida. No contexto escolar, tais relações ampliam-se num nível dinâmico e diversificado, exigindo que a criança esteja num constante processo de readaptação e assimilação sobre o sentido e a forma como acontecem as coisas em sua volta. A construção da linguagem oral permite à criança expressar suas idéias e sentimentos em relação ao mundo e às pessoas com quem convive. Neste trabalho, o papel do educador é apresentado como um facilitador da compreensão do mundo, possibilitando à criança dar significado às suas próprias descobertas. A Afetividade vivenciada em relações sociais positivas, valida as experiências humanas em busca do conhecimento. Os objetivos da pesquisa centraram-se em identificar a relação da afetividade com o sucesso de uma aprendizagem. Por meio de questionários procurou-se conhecer as concepções dos educadores sobre a importância da afetividade na aprendizagem escolar e identificar características afetivas nas suas práticas docentes. Os resultados demonstraram que os professores têm consciência da importância da afetividade nas relações estabelecidas num processo educativo e que uma das formas mais gerais de demonstrá-la é por meio do respeito, diálogo e interação com a criança-aluno. Diante dos resultadosdo trabalho, busca-se uma conscientização e discernimento de que a afetividade pode e deve ser manifestada num ambiente escolar a fim de que se torne o elemento intermediador entre a criança e o adulto que a acompanha em seu desenvolvimento. Palavras-chave: Afetividade. Relação Social. Interação. Auto-estima. Aprendizagem Significativa. ABSTRACT The affectiveness is present since the earliest manifestations of human existence. From birth, children are engendered in a constant search for interaction and adaptation to the world they live, making use primarily of bodily, physical mechanisms, and later they develop other essentially psychological ones. The positive affective aspects that permeate the social relations between children and adults determine the construction of the identity and the value that chilrem give to themselves. The experiences with high level of consciousness, motivated by the pleasure of discovery and full of affectiveness ensure a wealth of meaning for life. In the school context, these relationships extend to a varied and dynamic level, demanding from the children, a constant readaptation process about the sense, the meaning and the way things happen around them. The growing development and acquision of the oral language allow the children to express their ideas and feelings about the world and the people they live with. In this work, the role of the educator is to mediate the subjects concerned the world comprehension, enabling the own children's interpretation of their new life experiences. The affectiveness experienced in wealthy social relations makes the human experiences to achieve knowledge worthy. The objectives of this research focused on identifying the relation between afectiveness and the success of learning. Through questionnaires sought to ascertain the views of educators on the importance of affectiveness in school learning process and to identify affective characteristics on their teaching practices. The results showed that teachers are aware of the importance of affection in the relationships established in the educational process and the common ways to demonstrate affection are through respect, dialogue and interaction with the child-student. From the results of this work, it can be inferred that affectiveness can and also should be present in a school environement so that becomes the bonding element between the child and the educator who is in charge of supervising their development. KEYWORDS: Affectiveness. Social Relations. Interaction. Self. Learning Significant. LISTA DE FIGURAS FIGURA 01. marco do professor na infância escolar........................................42 FIGURA 02. definição do conceito de afetividade para os professores............43 FIGURA 03. atitudes que evidenciam a afetividade entre professo.r e aluno...44 FIGURA 04. relação entre afetividade e o desenvolvimento cognitivo.............45 FIGURA 05. afetividade, demonstrações de carinhos e contatos físicos.........46 FIGURA 06. atitudes e a relação de afetividade do professor e aluno.............47 FIGURA 07. formas de interações afetivas que contribuem para a auto-estima e o interesse em aprender................................................................................48 FIGURA 08. a afetividade entre professor e aluno e a organização da sala de aula....................................................................................................................50 FIGURA 09. expectativas em relação ao professor - ponto de vista/aluno.......51 FIGURA 10. expectativas em relação às interações com os alunos ...............52 LISTA DE TABELAS TABELA 01. Pergunta nº 01 dos professores...................................................62 TABELA 02. Pergunta nº 02 dos professores...................................................62 TABELA 03. Pergunta nº 03 dos professores...................................................62 TABELA 04. Pergunta nº 04 dos professores...................................................62 TABELA 05. Pergunta nº 05 dos professores...................................................63 TABELA 06. Pergunta nº 06 dos professores...................................................63 TABELA 07. Pergunta nº 07 dos professores...................................................63 TABELA 08. Pergunta nº 08 dos professores...................................................63 TABELA 09. Pergunta nº 09 dos professores...................................................64 TABELA 10. Pergunta nº 10 dos professores...................................................64 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................13 CAPÍTULO I – A AFETIVIDADE E O CAMINHO DAS RELAÇÕES...............16 1 UM OLHAR SOBRE A AFETIVIDADE.........................................................16 1.1 A construção da afetividade. Quando tudo começa....................................21 1.2 A afetividade na construção da auto-estima: uma aprendizagem significativa........................................................................................................27 CAPÍTULO II – A AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DO SABER................33 2 AS RELAÇÕES AFETIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR............................33 2.1 O professor como intermediador do mundo................................................34 CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO................................40 3 JUSTIFICATIVA............................................................................................40 3.1 Objetivos.....................................................................................................40 3.2 Metodologia................................................................................................41 3.3 Análise de Dados........................................................................................41 CONCLUSÃO...................................................................................................55 REFERÊNCIAS.................................................................................................57 APÊNDICES.....................................................................................................59 INTRODUÇÃO O estudo a qual corresponde esta produção acadêmica se lança a uma reflexão sobre a afetividade e sua importância no processo formativo, particularmente no que diz respeito à relação da afetividade e a prática educativa de qualidade. A definição de afetividade é ao mesmo tempo limitada e ampla. Limitada, pois, os sentimentos que se movem, num nível subjetivo, em busca de seu encontro e percepção dá, a cada indivíduo, a liberdade para sentir e expressá-la segundo suas próprias necessidades e desejos. Ampla, quando essas necessidades e desejos se fundam para explicar a natureza social que justifica as atitudes e comportamentos humanos (DAVIS, 2005). Dentre outros aspectos, as relações sociais são permeadas por aspectos afetivos que caracterizam a formação da personalidade humana desde o nascimento e fundamentam a construção de significados nas experiências vividas. A abordagem do papel da afetividade num contexto de desenvolvimento integral da criança pretende, de modo geral, identificar a relação dos vínculos afetivos socialmente construídos no contexto escolar e o sucesso de uma aprendizagemmediada pelo adulto. Nota-se que, O processo educacional não é um processo isolado; é constituído conjuntamente por professores e educandos na interação e com vínculo na afetividade, na participação, na cooperação de ambos, construindo-se e acomodando-se, assim, a aprendizagem. (GIANCATERINO, 2007, p. 74). Assim, este estudo propõe-se também de modo específico verificar o processo de construção da afetividade no período da primeira infância e compreender o papel do adulto, particularmente do professor, no desenvolvimento cognitivo da criança. A separação entre cognição e afetividade justifica, ainda hoje, algumas práticas docentes que deixam transparecer a inconsciência dos professores sobre a necessidade de interação das crianças com o meio e com as pessoas com quem convivem. Desta forma, procurou-se observar de quê modo acontece a afetividade entre professor e aluno na educação infantil e séries iniciais. Conforme diz Giancaterino (2007, p. 77), “A relação professor/aluno torna-se assim, o núcleo concreto das práticas educativas e do contrato pedagógico, o que estrutura os sentidos cruciais da instituição escolar”. Na medida em que as relações afetivas construídas entre professor e aluno gerem sentimentos de confiança e espontaneidade, podem influenciar na apropriação dos objetos culturais do conhecimento. A metodologia deste trabalho foi de cunho qualitativo e quantitativo, uma vez que buscou-se a aproximação do corpo teórico da temática, qual seja, a afetividade e a prática docente além de que realizou-se a coleta de dados com professores que atuam na rede pública de Ensino na Educação Infantil e Ensino Fundamental .Dentre as referências teóricas sobre afetividade, adotou- se como principais para as análises neste estudo, as produções de Branden (1998), Nery (2003), Galvão (1995), Pulaski (1986) e Freire (1996), pois considerou-se que estes trabalhos demonstram a importância da afetividade na constituição da personalidade humana, visto que sua gênese não ocorre isolada de um contexto social, da relação entre os sujeitos. Neste sentido, no primeiro capítulo “A Afetividade e o Caminho das Relações”, abordou-se o conceito de afetividade numa dimensão social, construída reciprocamente, cujas características envolvem aspectos comportamentais e sentimentais dos indivíduos. Estabelecendo uma relação de dependência entre afetividade e razão destacou-se a importância da emoção na construção de significado às experiências reais. Analisou-se também, o processo de construção da afetividade na criança de 0 a 3 anos, bem como os mecanismos afetivos que sustentam o contato e interação com o mundo exterior em descoberta e com os adultos que fazem parte do seu ambiente social. Com a abordagem sobre a afetividade na construção da auto-estima, procurou-se identificar as atitudes e posturas do educador que podem estimular o desenvolvimento de uma identidade saudável e positiva na criança. As cargas afetivas positivas vivenciadas nas situações configuram-se em fundamentos de um processo de desenvolvimento cognitivo estruturado sobre aprendizagens significativas. No segundo capítulo “A Afetividade na Construção do Saber”, pretendeu-se compreender a relação professor-aluno permeada pela participação ativa de ambos envolvendo acordos e desacordos de forma a garantir à criança a construção de uma visão de mundo, baseada nos sentimentos, valores e significados que apreende socialmente e especificamente, na escola. Nesta relação social estabelecida entre professor-aluno, buscou-se validar o papel do professor como intermediador entre o aluno e o conhecimento. No terceiro capítulo, apresentou-se a pesquisa realizada com professores atuantes na Educação Infantil e Ensino Fundamental, com o propósito de conhecer as concepções que têm a respeito das relações afetivas existentes na sala de aula, suas influências no processo educativo e a maneira como definiriam suas próprias posturas afetivas. Ao final, apresentou-se a conclusão. CAPÍTULO I A AFETIVIDADE E O CAMINHO DAS RELAÇÕES Este capítulo apresenta as reflexões teóricas sobre a afetividade enfocando a importância das relações sociais como um dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento integral do ser humano. O capítulo foi dividido em dois momentos: 1) Um Olhar sobre a Afetividade, refletindo sobre as características afetivas do comportamento humano, suas manifestações e sua influência no desenvolvimento cognitivo e a forma com que os aspectos afetivos estão presentes na criança de 0 a 3 anos; 1.2) A Afetividade na Construção da Auto-Estima: Uma Aprendizagem Significativa-, enfatizando a importância da relação social para o processo de construção da identidade e personalidade humana. 1 UM OLHAR SOBRE A AFETIVIDADE As relações sociais precedem a relação com o mundo físico e nessa perspectiva o “outro” desenvolve um papel primordial na conquista desse mundo. Os vínculos afetivos socialmente construídos são bases para caracterização do papel social representado pelos homens ao longo da vida. Neste contexto destaca-se a importância da interação entre o homem e o mundo e entre si mesmos. A interação social decorre dentro de um dispositivo cultural. Por cultura de um grupo de pessoas significam-se seu modo global de vida, sua língua, seus modos de perceber, classificar e pensar a respeito do mundo, formas de comunicação não-verbal e interação social, normas e convenções sobre comportamento, valores morais e ideais. [...] Todos esses aspectos da cultura afetam o comportamento social, direta ou indiretamente (ARGYLE, 1974, p.148). Os vínculos afetivos estabelecidos socialmente despertam condutas e emoções únicas e específicas caracterizando o processo contínuo e co- construído de formação da identidade subjetiva e concomitantemente social dos indivíduos. Ao longo da história, vários pensadores e filósofos postularam a separação entre aspectos racionais e aspectos afetivos, mas foi Jean Piaget (1896-1980) quem iniciou um questionamento sobre o tema repercutido nas concepções nascentes de sua época, defendendo a idéia de que não existem estados afetivos sem serem permeados por elementos cognitivos, da mesma forma que não existem comportamentos cognitivos sem carga afetiva. (PULASKI, 1980). Ao referir-se às reflexões de Piaget, Pulaski (1986) destaca que o conhecimento é construído pelo próprio indivíduo, não sendo nem uma determinação genética nem uma determinação do meio, mas sim , uma troca entre as ações sobre os objetos e entre suas próprias relações. A afetividade como o domínio das emoções, dos sentimentos das emoções, das experiências sensíveis e, principalmente, da capacidade de entrar em contato com sensações, refere-se às vivências dos indivíduos e às suas formas de expressão essencialmente humanas. Uma aprendizagem emocional estabelecida por um vínculo afetivo possibilita a auto-compreensão e a efetivação dos potenciais criativos dos seres humanos (BORBA; (SPAZZIANI, 2009). As contribuições de estudiosos como Vygotsky acentuam a importância da infância e as etapas de evolução da criança bem como as relações que mantêm com o meio cultural e a construção da linguagem, para o processo de desenvolvimento cognitivo. “A linguagem e o pensamento humano têm origem social. A cultura faz parte do desenvolvimento humano e deve ser integrada ao estudo e à explicação das funções superiores”. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p 87). Ao analisar a teoria Wallonianasobre o desenvolvimento da criança, Galvão (1995), afirma que no contexto do desenvolvimento infantil podem-se identificar a existência de etapas diferentes, porém integradas gradualmente, que se caracteriza pela apresentação de necessidades e interesses específicos que, seguindo uma ordem, se congruem para fundamentar cada etapa seguinte. Com base na mesma concepção de Wallon, acima destacada, pode-se complementar que segundo Wallon, [...] estas revoluções de idade para idade não são improvisadas por cada indivíduo. São a própria razão da infância, que tende para a edificação do adulto como exemplar da espécie. Estão inscritas, no momento oportuno, no desenvolvimento que conduz a esse objetivo (apud MAHONEY; ALMEIDA, 2006, p.59). Ainda, Mahoney e Almeida (2006), afirmam que, segundo a proposta de Walloniana, tais etapas ou estágios podem ser assim definidos: Impulsivo- emocional, que compreende o período de 0 a 1 ano; Sensório-motor e Projetivo que se observa nas crianças de 1 a 3 anos; Personalismo que se identifica em crianças de 3 a 6 anos; Categorial, observado em crianças de 6 a 11 anos; Puberdade e Adolescência que se estende dos 11 anos em diante. Assim existem estágios em que a afetividade está direcionada para a busca do entendimento de si mesmo, de forma que “o conjunto afetivo está mais evidenciado nos estágios impulsivo-emocional, personalismo, puberdade e adolescência” (MAHONEY; ALMEIDA, 2006, p. 60). Enriquecendo este olhar sobre a afetividade, Galvão (1995, p.39), destaca que, “Conforme as disponibilidades da idade, a criança interage mais fortemente com um ou outro aspecto de seu contexto, retirando dele os recursos para o seu desenvolvimento”. Segundo a autora, há momentos e períodos em que a criança volta sua atenção para a exploração do mundo através de suas ações, ora para a formação de vínculos e ainda à reflexão mental dessas experiências num nível abstrato e cognitivo. A afetividade e a razão constituem conceitos que se complementam: a afetividade é o suporte que dá sentido à ação, enquanto a razão é o que possibilita ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e se empenhar em obter êxito nessas ações. Segundo Golse (1998, p 157.) “a inteligência não se inicia nem pelo conhecimento do eu, nem pelo das coisas, mas pelo de sua interação”. O processo de desenvolvimento humano ocorre de forma integral envolvendo os aspectos físicos, emocionais e sociais. O contexto em que se dá o desenvolvimento humano configura-se então em tipos particulares de interações entre o indivíduo e seu ambiente. Nessas interações devem ser consideradas a dimensão física do espaço, as pessoas do convívio social próximo, a linguagem e os conhecimentos. Toda atividade humana é fruto de uma motivação interior que por sua vez interfere no tipo de comportamento adotado frente a um estímulo. Os motivos formam em si a dimensão emocional do homem e influencia parte de seu comportamento. [...] o indivíduo estrutura sua personalidade a partir do final da infância, quando já pode ter seu próprio sistema de normas e valores, ou seja, uma moral autônoma. Entretanto, esse sistema de normas e valores vai ser estabelecido com base nas experiências infantis, entre as quais uma das mais importantes é o clima psicológico [...] (PILETTI, 1988, p. 276). A forma com que o homem percebe o meio social e as relações com o outro, organiza as informações, fazendo com que, através da relação com os afetos que as envolvem, desenvolva um determinado comportamento em relação ao meio e às pessoas. Sendo assim, mudanças de atitudes sempre se precederão de apreensão de novas informações, novos conhecimentos, novos afetos e situações uma vez vivenciadas (NERY, 2003). A afetividade é parte integrante da subjetividade sendo as expressões melhores compreendidas se considerar os afetos que as acompanham. Logo os afetos determinam o comportamento humano e constitui um aspecto de fundamental importância na vida psíquica, pois, expressam-se nos desejos, sonhos, expectativas, palavras e gestos que cada ser humano nutre ao longo da vida. Emoção e cognição complementam-se para possibilitar a apreensão da realidade externa (FIAMENGHI, 2001). Para Piaget (apud PULASKI, 1986, p.139), “... todo ato inteligente é acompanhado por sentimentos (de interesse, de prazer, de esforço etc.), e que esses sentimentos fornecem a motivação, a energia que ativa o crescimento intelectual”. Pode-se concluir que, os processos mentais sempre são fundamentados por algum tipo de sentimento gerado subjetivamente conforme as necessidades sentidas pelos indivíduos. Os vínculos afetivos enquanto acolhimentos se tornam condição essencial para o crescimento e desenvolvimento global da criança. Para Nery (2003), afetividade traz consigo a capacidade de ampliação da interação social, solidificando as relações de amizade e promovendo a qualidade dos relacionamentos que por sua vez confere aos objetos do conhecimento um sentido afetivo e significativo. Os fenômenos afetivos, considerados pertencentes a uma ordem subjetiva são dependentes da ação do meio sociocultural externo ao homem, pois suas formações advêm da qualidade dessas interações e experiências vivenciadas. Uma comunicação mal vivida ou permeada por marcas afetivas desagradáveis repercute na formação da personalidade e identidade infantil e se manifesta por perturbações ou dificuldades nos processos e relações que as crianças vêm a estabelecer no seu dia-a-dia (VAYER, 1989). Sempre que manifestada num clima de acolhimento, ternura, empatia, gosto, desejo, inclinação e compreensão, a afetividade enriquece as interações e trocas facilitando a linguagem comunicativa entre os sujeitos, donos de ação, e promovendo o desenvolvimento de suas potencialidades de uma forma integral. Para Borba e Spazziani (2007, p. 2) “A afetividade é a dinâmica mais profunda e complexa de que o ser humano pode participar”. O ser humano tem necessidades físicas e emocionais que, ao serem atendidas, formam um forte laço emocional construído com base na interação com os outros indivíduos. É possível compreender que o contato social configura-se como o suporte afetivo do desenvolvimento dos sentimentos dos indivíduos em relação ao mundo, pois, possibilita a construção de esquemas de ações e comportamentos frente aos objetos, situações e pessoas (BRANDEN, 1998). As atitudes são desta forma, respostas integradas pelas dimensões cognitiva, emocional e comportamental construídas socialmente, dados os estímulos recebidos. Segundo Fiamenghi (2001, p.71), “As pessoas não nascem com atitudes. Os principais fatores que auxiliam a formar atitudes estão ligados à aprendizagem, principalmente a relação entre a formação de conceitos e a formação de atitudes”. Esta aprendizagem é proporcionada pelos níveis de interação com o meio em que se vive e determinam o tipo de comportamento social adquirido. Pode-se concluir que a relação entre o adulto e a criança é rica de significados à medida que se torne uma relação prazerosa, solidária e comunicativa para ambas as partes. Segundo Branden (1998), tais relações fundamentam a inserção da criança dentro da cultura social a que faz parte e são responsáveis por sua adaptação no mundo. Desta maneira, concretiza-se a importância das relações sociais como suporte afetivo que garanta à criança a integração e compreensão do mundo subjetivo e ao mesmo tempo exterior, à sua volta. 1.1 A construção da afetividade. Quando tudo começa A Afetividade enquanto carga afetivapositiva da dimensão psíquica é manifestada sob a forma de sentimentos e emoções que delineiam um recurso humano de comunicação que já no recém-nascido, constitui-se a maneira de relacionar-se com o meio. Neste contexto, as relações sociais precedem as relações do homem com o mundo físico (GALVÃO, 1995). Segundo Santos (2004, p. 9), “o nascimento da criança, do ponto de vista biológico, é um acontecimento repentino e dramático”. Entretanto, o nascimento psicológico é um processo, resultante das experiências e relações entre a criança, o adulto e o meio ambiente. O nascimento biológico traz a inesperada separação do bebê e a mãe. Em um novo mundo de sensações, seguindo uma ordem natural, o bebê obtém outro mecanismo de vínculo com a mãe, a amamentação. Esta desempenha duas funções: manter uma relação emocional e ao mesmo tempo suprir as necessidades alimentares do bebê. Inicialmente, o bebê não consegue diferenciar-se do outro num plano corporal, não compreende o que pertence ao seu corpo e o que pertence ao mundo (SANTOS, 2004). O contato corporal manifesta-se então, como a mais antiga forma de atitude social. Para Fiamenghi (2001), ainda recém-nascido, o bebê usa da emoção para estabelecer contato com o mundo físico. Na construção do aprendizado emocional, primeiramente num nível corporal, das funções vitais e totalmente sobre influência dos fatores fisiológicos, o corpo é o instrumento de estabelecimento e manutenção dos vínculos, pois, permite estabelecer uma relação afetiva com o adulto, comumente a mãe, na medida em que suas necessidades biológicas são satisfeitas. Após o nascimento, um bebê é capaz de sentir as vocalizações gentis do adulto e perceber a maneira como o coloca nos braços, o embala e o alimenta. A comunicação pré-verbal iniciada desenvolve-se fundamentada num sistema interno que permite ao bebê diferenciar objetos de pessoas, primeiramente a mãe que o alimenta, e assim envolver-se afetivamente com elas. (FIAMENGHI, 2001). A cada movimento, a criança atribui um significado à sua ação, significado esse dado pela outra pessoa. Segundo Gonçalves “Uma criança que chora porque seu estômago dói de fome, não chora inicialmente para alguém alimentá-la, mas chora por causa da dor. Ao receber a atenção que necessita, vai construindo os significados de cada ação sua” (apud BORBA; SPAZZIANI, 2007, p. 2). Seguindo a mesma abordagem, Oliveira e Braga (2009, p. 27) afirmam que, “Logo ao nascer, o bebê entra em contato com pessoas dando início a interações recíprocas, ou seja, afetando o comportamento das pessoas ao seu redor e, igualmente, sendo afetado por elas”. Sendo assim, observa-se a importância das interações para o processo de socialização. Todas as rotinas que se decorrem no período pós-parto, tais como “carícias ao dormir, as canções de ninar, o embalo no colo, o sorriso da mãe [...] fará a criança se sentir amada” (SANTOS, 2004, p.17). Portanto, as situações em que o adulto estiver presente devem se traduzir sempre em momentos de afetividade e prazer gerando a satisfação da necessidade afetiva. Por meio de uma inteligência prática, sustentada por gestos, gritos e atos motores auto-regulados, o bebê segue sua adaptação ao mundo. Essas percepções permitem ao bebê vivenciar emoções e estados de satisfação que aos poucos se condicionam em necessidades afetivas sob as quais ele construirá seu comportamento utilizando primeiramente expressões faciais e vocais (PULASKI, 1986). Ao segundo mês de vida, o bebê está alerta à voz humana e geralmente responde a esses estímulos com mudanças de expressão facial. Em situações de desconforto e retraimento na presença de adultos estranhos, o bebê apresenta uma expressão facial distorcida e conflitante entre amabilidade e medo, em outras situações de prazer e satisfação já é capaz de sorrir (FIAMENGHI, 2001). Durante os primeiros anos de vida, as experiências que a criança tem com o adulto são sintetizadas e se configuram como diretrizes de seu comportamento social futuro. Na infância, as influências mais expressivas num processo de aprendizagem são as relacionadas ao tipo de interação refletida no campo afetivo. A qualidade dessas relações é a base para a construção da personalidade infantil (NERY, 2003). Conclui-se que, essa relação estabelecida é substancialmente emocional e as futuras ligações afetivas do bebê dependem da percepção que tem sobre o adulto, que funcionará como fonte de estímulo para as crianças. Nota-se que o ritmo de desenvolvimento físico, intelectual e emocional do bebê será determinado pelas atitudes afetivas recebidas dos adultos, sendo essas atitudes fontes de experiências variadas, configurando-se em afetividade. Segundo Mahoney e Almeida (2006, p. 61), a afetividade refere-se “à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno, por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis”, conferindo significatividade e valor sentimental às situações. Portanto, a toda experiência vivida corresponde um valor afetivo que ao ser internalizado pode deixar marcas positivas ou negativas. Para Fiamenghi (2001, p. 18), “Aos seis meses, estudos demonstram que os bebês interagem com outros da mesma idade, através de imitação e comportamentos, expressões emocionais e convites para interações.” Dentre suas ações pode-se citar as brincadeiras que lhe permitem a estimulação das mãos como o bater palmas. Seguindo os estudos deste mesmo autor, dos sete aos onze meses os bebês têm preferências afetivas e geralmente sentem nelas a base de sua segurança. Por um processo natural, são identificadas situações de medo do que é desconhecido, podendo ser relativo à pessoas, acontecimentos ou aos objetos. Da mesma forma, elegem adultos nos quais se sentem seguros e acalentados. Segundo Galvão (1995, p. 59), “Ao dirigir o foco de sua análise para a criança, Wallon revela que é na ação sobre o meio humano, e não sobre o meio físico, que deve ser buscado o significado das emoções”. Para esta autora, as concepções de Wallon traduzem a importância da afetividade no processo educativo, concluindo-se por meio delas, que as emoções representam os indicadores da qualidade das interações do indivíduo com o meio operando nas reações comportamentais dos mesmos. A cada determinada situação vivida, a criança atribui um sentido afetivo. Nos próximos meses, seu interesse dirige-se para objetos que são passíveis de alcance. As brincadeiras com os adultos tornam-se mais conscientes e recíprocas e aos poucos o bebê realiza ações pré-coordenadas. No primeiro ano de vida a emoção está predominantemente presente na interação da criança com o meio. A afetividade é um instrumento mediador entre a criança e o mundo físico. Ainda que suas ações não sejam coordenadas, a expressividade de sua afetividade está significativamente ligada a respostas corporais. O corpo é para a criança o primeiro objeto percebido, objeto esse que se tornará o meio de ação, do conhecimento e da relação com o meio ambiente. Nesta fase, O processo ensino-aprendizagem exige respostas corporais, contactos epidérmicos, daí a importância de se ligar ao outro, que o seguro, carrega, embala. Através dessa fusão [...], vai se familiarizando e apreendendo esse mundo, portanto, iniciando um processo de diferenciação (MAHONEY; ALMEIDA, 2006, p. 62). Assim, pode-se concluir que a emoção é um importante mecanismo ativador do desenvolvimento cognitivo, pois, valida as experiências tornando-as carregadas de sentido. Acriança necessita do adulto para apropriar-se da realidade do mundo externo. O contexto social é base para o desenvolvimento do processo de aquisição da linguagem. É na apropriação, mas também na atribuição de significados que ela se faz parte do meio. Para Vayer (1989), as formas de relação estão fundamentadas na atividade corporal em que sensações, percepções e ações desenvolvem, enriquecem e organizam a construção da personalidade em relação aos outros. Numa análise sobre as relações sociais estabelecidas pela criança, Oliveira e Braga (2009) definem que, ao longo do processo de desenvolvimento, a criança estabelece diferentes instrumentos de comunicação e que é por meio deles que se integra socialmente. Aos poucos, a expressão corporal é substituída pela linguagem oral. Através desse novo instrumento de comunicação entre o si e o mundo físico, o pensamento infantil objetiva-se criando condições para que se inicie a comunicação das percepções anteriormente adquiridas e subjetivadas tornando-se, portanto, consciente de si mesma (PULASKI, 1986). A aquisição da linguagem oral também é uma condição básica para que a criança nomeie seus conflitos e desejos, dando sentido ao que ocorre em seu interior possibilitando a compreensão da realidade em que vive. Nesse processo de aquisição ela apropria-se do mundo e o interioriza desenvolvendo sua individualidade de forma singular (PULASKI, 1986). Entre o primeiro e o segundo ano de vida, as crianças iniciam a construção social dos alicerces da confiança e autonomia adquiridos pela qualidade das relações vividas primeiramente no campo familiar, mais tarde no campo social, e também por neste período conseguir realizar algumas pequenas ações sozinha (BRANDEN, 1998). Das percepções corporais e processos mentais simples a inteligência evolui para a possibilidade de externalizar o pensamento através da linguagem verbal, tendo-a como instrumento estruturador (PULASKI, 1986). Aos três anos de idade, a necessidade de uma auto-afirmação faz com que a criança imponha seu ponto de vista aos adultos iniciando um “jogo destinado a fazer triunfar seu capricho ou sua oposição” (GALVÃO, 1995, p.119). Os relacionamentos sociais construídos pela criança nessa fase são permeados pela constante satisfação de suas necessidades de segurança e de autonomia e se desenvolvem gradualmente pelo conhecimento do outro, pelo relacionamento com os outros, pela colaboração com os outros e pelo respeito aos outros. À luz das idéias de Jean Piaget, Vayer (1989), analisa a influência da linguagem no desenvolvimento infantil e conclui que, Com a linguagem, o ritmo de desenvolvimento acelera-se, pois ela permite intercâmbios com o mundo do adulto bem como com o mundo das outras crianças. Enfim, associada à ação que ela permite formular, antes, durante, e depois, a linguagem representa um papel fundamental na transformação das condutas materiais em pensamento. (p. 22). A conquista da linguagem oral possibilita a comunicação de idéias, pensamentos e intenções que ao serem compartilhadas entre os indivíduos conferem sentido ao diálogo e às situações. A memorização de sons e palavras não garante por si só a comunicação, necessita-se que haja uma articulação com a reflexão sobre essas idéias, pensamentos e intenções de que se deseja compartilhar (MACEDO, 2005). As crianças formam suas representações e noções sobre o mundo com base nos objetos de sua realidade emocionalmente e afetivamente sentida e vivenciada, entre os quais está presente a linguagem como um instrumento de concretização do pensamento. Frente à descoberta do meio em que vive e de sua própria identidade, a criança usa como referência a percepção de ações e comportamentos dos adultos que convive diariamente. O desenvolvimento infantil é então caracterizado por um constante estado de adaptação às situações diferenciadas que o meio oferece como estímulo. É oportuno, pois, ressaltar a importância do adulto que acompanha a criança em ser o facilitador de diversidade de situações na qual ela possa desenvolver os conhecimentos da relação entre si, os objetos e o mundo a sua volta. Desta forma, O desenvolvimento da linguagem pode ser entendido como um processo de elaboração e simbolização do pensamento humano. È a faculdade humana e abstrata de representação de conteúdos por meio da qual o homem pode estabelecer contatos com seus semelhantes desenvolvendo a habilidade de compartilhar suas experiências, pensamentos, idéias, e buscar novos conhecimentos (OLIVEIRA; BRAGA, 2009, p. 91). Neste processo, pode-se concluir que, estabelece categorizações e sentidos afetivos às suas conquistas e aprendizagens que por sua vez, formam os conceitos, valores e idéias que determinam sua identidade social. 1.2 A afetividade na construção da auto-estima: Uma aprendizagem significativa O ser humano é um ser social e vive em constante adaptação ao meio em busca da satisfação e estabilidade pessoal ao mesmo tempo em que procura prezar as relações com os outros seres. Diante das mudanças culturais e morais das sociedades hodiernas, a estabilidade emocional, muitas vezes não encontrada no meio, necessita cada vez mais de ser criada pelo próprio indivíduo, que num processo de auto- reflexão e adaptação, busca a satisfação afetiva. Segundo Branden (1998), Diante do colapso do consenso cultural, da falta de modelos de papéis dignos, das poucas coisas públicas que inspirem nossa fidelidade, e das rápidas e desorientadoras mudanças que são a feição permanente de nossa vida, é perigoso não saber [...] confiarmos em nós mesmos (p.09). As bases para a formação da auto-estima são definidas tanto por fatores internos, aquilo que o indivíduo pensa, realiza ou acredita, quanto por fatores externos, todas as experiências vividas socialmente. A importância do desenvolvimento da auto-estima para a vida humana pode ser justificada pelo fato de que dependemos do uso apropriado da consciência para sobreviver e dominar o meio em que vivemos e que o uso correto dessa consciência não é habilidade nata, e sim construída sob uma responsabilidade social (BRANDEN, 1998). Segundo o mesmo autor, a auto-estima é resultante de uma interiorização de estima que a criança percebe que o adulto tem por ela, é o valor e importância que a criança dá a si mesmo diante dos relacionamentos com os diferentes grupos sociais e nas mais variadas situações cotidianas, auto-estima que, sendo positiva determinará um comportamento coerente com os valores e princípios formadores da personalidade (BRANDEN, 1998). Da mesma forma, Oliveira e Braga (2009, p. 32) afirmam que “Ligações afetivas iniciais formam a base para os sentimentos de ser amado, valorizado e são necessárias para a auto-imagem”. Portanto, a auto-estima e a auto- imagem são dimensões subjetivas bem próximas e integralmente fundamentadas sobre o mesmo alicerce, em suma, os tipos de interações sociais que os indivíduos estabelecem entre si. Conforme Argyle (1974, p.163), “Se os pais dizem ao filho que ele é inteligente ou o tratam como indigno de confiança, esses atributos podem integrar-se em sua ego-identidade”. Sob este enfoque, a maneira como a criança percebe essas avaliações feitas pelo adulto, influencia o modo como vêem a si próprios e como forma sua auto-imagem. Com base em conhecimentos vindos da Psicologia Moderna há uma ênfase na estreita ligação entre a subjetividade e volitividade do sujeito e a auto-estimasatisfatória direcionando a uma reflexão sobre as condutas e comportamentos passíveis de reconhecimento e abnegação que podem influenciar a auto-estima saudável (BRANDEN, 1998). A auto-estima, sendo uma conseqüência de atitudes geradas interiormente exprime o conceito que se tem sobre si mesmo ou ainda, a forma como se descreve e define o próprio ser. Um dos mais importantes aspectos que nos difere de outros seres vivos é o nosso estado de consciência ou ser consciente. Portanto, a consciência é a mais nobre manifestação da vida humana, pois possibilita perceber os aspectos que formam a realidade e pensá-los abstratamente (BRANDEN, 1998). Sob este fundamento pode-se dizer que estar consciente é compreender que todas as influências do meio físico, cultural, social, econômico, político e espiritual afetam e exige ações, propostas e tomadas de decisão. A base de desenvolvimento de uma boa auto-estima é inicialmente a auto-aceitação, a reputação e valor que o indivíduo dá a si mesmo. Os bloqueios afetivos crescem à medida que há uma oposição ou submissão a eles. Desde os primeiros dias de vida, a criança exprime uma condição de total dependência do adulto. Desde então, a ligação afetiva estabelecida entre eles oferece as bases emocionais que sustentarão essa criança no mundo adulto (SANTOS, 2006). No recém-nascido não existe nenhuma consciência de identidade pessoal, evoluir para essa consciência é a sua principal tarefa. Por meio do contato social percebem-se individualmente enquanto, ao mesmo tempo, formam as noções de coletividade. É neste ambiente, permeado por situações conflitantes, conceitos e atitudes dicotômicas, que a criança sintetizará e adotará ações para formar os padrões de comportamentos que direcionarão suas atitudes, condutas e posturas na vida adulta (BRANDEN, 1998). Na infância, a criança pode experimentar tanto a segurança e proteção como também o temor e a instabilidade, conforme os tipos de experiências que viver. Muitos de seus medos e incertezas serão na vida adulta, resultados de uma infância perturbada com experiências negativas. Esses traumas podem se dar por toda a infância e depender muitas vezes do ambiente e tratamento que a criança recebe. Por vir ao mundo numa condição de total dependência, a criança não tem uma exigência mais básica - no que se refere ao comportamento dos pais - que a de segurança e proteção. Isso envolve a satisfação das necessidades fisiológicas, a proteção contra os elementos e os cuidados básicos em todos os aspectos óbvios. Envolve a criação de um ambiente em que a criança possa se sentir nutrida e segura (BRANDEN, 1998, p. 218). Pode-se concluir que, as dificuldades que por ventura a criança encontrar, seja na compreensão de si mesma, sejam num dos campos de relação, influenciarão a construção de sua identidade e percepção do mundo e que, para Branden (1998), determinará a forma e características do seu comportamento. Segundo a reflexão de Bowlby (1997), a pessoa em quem a criança confia, também conhecida como figura de ligação, pode ser considerada aquela que fornece à ela uma segurança afetiva sobre a qual poderá estabelecer seu comportamento e ações. Desde o início da História de nosso sistema escolar público, o objetivo explícito da educação foi formar bons cidadãos dando ênfase à memorização de um corpo comum de conhecimento e princípios. A observação de regras de uma sociedade e o aprendizado da obediência à autoridade fez, durante muito tempo, com que a educação se limitasse a tornar os indivíduos conformados e estereotipados em vez de pensadores livres, criativos e originais (PULASKI, 1986). O desenvolvimento da auto-estima centralizado no indivíduo deve enfatizar a capacidade de solidarizar-se. Num contexto escolar formal, um dos principais fatores que influenciam esse processo é a capacidade que o professor tem de contribuir para a auto- estima dos alunos servindo como modelo e construindo um senso de confiança (BRANDEN, 1998). Ainda, segundo o mesmo autor, no campo afetivo, tais influências geram sentimentos que por sua vez podem levar o indivíduo a fazer escolhas certas provocando uma reorientação do próprio valor como pessoa e possibilitando uma auto-aceitação. Contudo, quando esta reorientação de valor não é aceita ou bloqueada não há uma disposição à mudança e a auto-estima não se desenvolve. Desta forma, a estabilidade emocional pode ser considerada um fator determinante para o bom rendimento do aluno, pois, garante-lhe a auto-estima necessária para perceber-se aceito em um grupo e autonomia nas suas realizações. Segundo Bolwlby (1997), as crianças desenvolvem melhores seus talentos, quando estão seguras da presença de um adulto, da figura de ligação que virá em seu auxílio caso surjam dificuldades. Embora vários fatores interfiram no comportamento humano, como os fatores biológicos e cognitivos, os fatores emocionais adquire uma importância respeitável nas fontes de motivação. Os níveis de motivação e interesse dependem em parte de suas necessidades básicas, mas, também dependem em parte da sua auto-imagem, formada no campo afetivo internalizado. A forma como se comporta, a confiança com que enfrenta novos problemas, o interesse que demonstra na aprendizagem de novas coisas - tudo é função de sua auto-imagem. Sua atitude acerca de si mesma se reflete em suas respostas emocionais às outras pessoas. Pode-se tratar de uma criança feliz, afetuosa, comunicativa, que simpatiza rapidamente com os demais e se dispõe a partilhar seus brinquedos e a dar-se bem com seus companheiros de brincadeiras. Ou pode tratar-se de uma criança ansiosa, cabisbaixa, tímida ou hostil, que assim expressa sua raiva e seu medo diante da maneira com que o mundo a vem tratando (PULASKI, 1986, p. 141). As necessidades biológicas se somam às necessidades afetivas de reconhecimento e valorização e direcionarão a conduta do aluno uma vez que julga poder obter êxito seja nas avaliações formais, nas interações com outros alunos, seja em outras formas de reconhecimento pelo professor (BRANDEN, 1998). Os fatores que intervêm nos níveis de interação e consequentemente, de motivação da criança em busca de um aprendizado significativo se relacionam à dimensão subjetiva e, ao mesmo tempo, objetiva da criança. Movida pelo prazer da ação, pela necessidade de se sentir capaz e de realizar seus desejos, as crianças partem em busca das suas descobertas e experiências. Uma contínua motivação será garantida por atividades adaptadas aos seus níveis e necessidades dentro das diversas situações propostas pelo educador. Neste contexto, o sentimento de autonomia possibilitado à criança no interior do grupo permite-lhe que sinta responsável por sua própria existência (BRANDEN, 1998). O significante de um conteúdo está na relação que se têm com as experiências sociais, afetivas e cognitivas que as crianças vivem e que se configuram em conhecimentos com uma função real e utilizável. Outro fator que também interfere no nível de motivação da criança é a percepção que tem sobre o que os adultos pensam e dizem sobre ela. Segundo Brasil (1998, p.13), “O modo como os traços particulares de cada criança são percebidos pelo professor, e pelo grupo em que se insere tem um grande impacto na formação de sua personalidade e de sua auto-estima, já que sua identidade está em construção”. Conclui-se, pois, que o respeito à sua identidade, o estímulo e segurança necessários para as ações, a criação de um diálogo permeado por um clima calmo e descontraído no ambiente educativosão atitudes esperadas de um professor consciente de seu papel estruturador na aprendizagem das crianças (BRANDEN, 1998). À medida que o conhecimento é gerado em meio às situações prazerosas e interessantes, permeado pela autonomia e subjetividade espontânea do aluno, se torna potencialmente capaz de influenciar a mudança de comportamento e consequentemente sua visão de mundo (VAYER, 1989). Tal apreensão do meio e dos conhecimentos sobre as coisas ganham sentido se, fundamentado nessas relações, oportunizar situações ativas em que a criança seja construtora de suas próprias percepções e conclusões, configurando o diálogo como elemento estruturador e promotor de autonomia. Com base nesta afirmação pode-se dizer que uma aprendizagem significativa ocorre quando é capaz de transformar atitudes e gerar ações conscientes. Em outras palavras, o domínio sobre o processo de sua própria aprendizagem, confere à criança o significado necessário para fazê-la útil e aplicável à sua realidade. CAPÍTULO II A AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DO SABER Este segundo capítulo aborda a afetividade no universo escolar. Propõe ainda, uma reflexão sobre a relação entre professor e aluno e a influência positiva da prática docente para um processo de aprendizagem. 2 AS RELAÇÕES AFETIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR O afeto e a cognição são conceitos fundamentais e indissociáveis, necessários à formação dos processos psicológicos superiores (BORBA; SPAZZIANI, 2007). Tais processos envolvem a conquista da aprendizagem de conceitos abstratos, momento em que a criança é capaz de pensar afetivamente nos aspectos que envolvem os seus sentimentos, suas emoções e desejos sendo capaz de nomeá-los por meio da linguagem oral. A aquisição da linguagem permite que se internalizem formas culturalmente dadas de comportamento, onde sistemas simbólicos são construídos de dentro para fora da criança interpretando o mundo real. Desta maneira, os vínculos afetivos constituem-se instrumentos que permitirão a apreensão intelectual significativa, dado o grau de envolvimento entre a criança e o adulto, pois possibilita a expressão e comunicação entre eles (NERY, 2003). Ao longo do processo de desenvolvimento, esses vínculos se ampliam e seu papel, que inicialmente apresentava-se na relação pai-filho, estabelece-se em outro campo além-familiar. Desse modo, a figura do professor surge então carregada de importância na relação ensino-aprendizagem (BRANDEN, 1998). O tratamento dos critérios utilizados para orientar as atitudes de ensino e aprendizagem referentes aos aspectos afetivos e sociais deve ter a mesma intensidade do tratamento dispensado aos aspectos cognitivos, pois ambos os aspectos estão interligados no decorrer de um processo educativo (MAHONEY; ALMEIDA, 2006). Os procedimentos didáticos do professor expressam a forma com que ele entende o processo de aprendizagem, bem como o papel dos alunos e os fatores que mantêm influência nesse processo. As necessidades da vida cotidiana fazem com que cada vez mais cedo, as crianças tenham que freqüentar instituições educativas normatizadas e formais caracterizadas por relações unidirecionais, privando-as de um diálogo mais aberto com o mundo e os próprios adultos. A relação mãe-filho amplia-se aos adultos que acompanharão a criança nesse ambiente escolar no qual a disponibilidade do adulto que a acompanha- o professor- será condição da qualidade das comunicações que as crianças estabelecerão neste novo ambiente. A criança necessita expressar seu entendimento do mundo por meio de suas ações, atitudes e idéias, desenvolvendo suas potencialidades e criando mecanismos para compreender o mundo a sua volta (GALVÃO, 1995). Pode-se refletir que o ambiente escolar entendido como, ...o local que possibilita uma vivência social diferente da do grupo familiar, tem um relevante papel, que, não é como já se pensou o de compensar carências (culturais, afetivas, sociais, etc.) do aluno, e sim, oferecer a oportunidade de ter acesso a informações e experiências novas e desafiadoras capazes de provocar transformações e de desencadear processo de desenvolvimento e comportamento (REGO, 2005, p.62) Considera-se então que o papel social do adulto consiste em intermediar esse diálogo criança-mundo, diálogo este que possibilitará a compreensão e transformação dos objetos de conhecimento. Sob a mesma reflexão, fundamentado na pedagogia freiriana, Gadotti, (2005, p.11), coloca que “A teoria do conhecimento de Paulo Freire reconhece que o ato de conhecer e de pensar estão diretamente ligados à relação com o outro. O conhecimento precisa de expressão e de comunicação. Não é um ato solitário”. Desta forma, o educador desempenha um papel estruturador no processo educativo dos educandos, oferecendo e desenvolvendo mecanismos para que possam construir e compartilhar as idéias que têm a respeito das coisas. 2.1 O educador como intermediador do mundo O trabalho docente é carregado de uma função social, pois, quando realizado competentemente, através de uma ação mediadora, oportuniza ao aluno relacionar os acontecimentos e situações a sua volta e buscar ações e atitudes que possam transformar o meio em que vive. Esse processo reflexivo organiza a dimensão afetiva do ser humano ao possibilitar a percepção de pertencer à realidade (BORBA; SPAZZIANI, 2007). Além de uma presença afetiva, a relação do adulto oferece à criança, modelos de referência e sentimento de segurança. As reações emocionais provocadas pela afetividade envolvida nas relações sociais influenciam as formas de comportamento infantil em todos os momentos de um processo de educação. Neste sentido, o exercício eficaz do pensamento somente será conseguido se as atividades desenvolvidas forem emocionalmente carregadas de significados (PULASKI, 1980). Um fato sintetizado sob uma base permeada pela emoção é recordado e expressado de forma mais sólida, firme e significativa ao longo da construção de conhecimentos. Segundo Piletti (1988, p. 24) “No decorrer de sua vida diária, o aluno sofre uma série de influências que vão ter repercussões, negativas ou positivas, em seu trabalho escolar”. O contato com a mãe, garantindo à criança uma condição de comunicar- se com o meio, é gradualmente substituído pelas novas relações sociais comumente estabelecidas nas instituições educativas e sobre as quais a criança concebe a qualidade de suas comunicações. Dessa forma, a qualidade da relação professor-aluno num processo pedagógico confere, ao objeto a conhecer, um sentido afetivo, a partir da forma com que se realizam essas experiências de aprendizagem. Na medida em que a criança se desenvolve, as necessidades afetivas se deslocam do plano fisiológico para o plano cognitivo. Assim, conforme coloca Tassoni (2000, p.14), “Mesmo mantendo-se o contato corporal como forma de carinho, falar da capacidade do aluno, elogiar o seu trabalho, reconhecer seu esforço, constitui-se formas cognitivas de vinculação afetiva”. Neste contexto, a linguagem enquanto diálogo mútuo é a ponte entre o adulto e a criança, que já dispõe de funções representativas e de capacidade de abstração e reflexão de idéias e conceitos simples. As relações afetivas permeadas por cargas afetivas positivas marcam o processo de aquisição do objeto do conhecimento contribuindo também à construção da autonomia à medida que possibilita a confiança dos alunos no professor, em suas capacidades e decisões(BRANDEN, 1998). A compreensão do mundo é fundamental para que se possa estar nele. Essa apreensão do real, instrumentalizada pela sensibilidade e reflexão, só é possível com a realização de um pensar, sentir, imaginar e agir no próprio campo do real. Refletir esse processo, É compreender que a vida afetiva - emoções e sentimentos - compõe o homem e constitui um aspecto de fundamental importância na vida psíquica. As emoções e sentimentos são como alimentos de nosso psiquismo e estão presentes em todas as manifestações de nossa vida. Necessitamos deles porque [...] orientam-nos e nos ajudam nas decisões (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 198). Sob o mesmo ponto de vista Vayer (1989), afirma que, a relação intrínseca entre os objetivos sócio-afetivos e cognitivos da educação requer um contexto de relações adulto-criança permeadas pelo respeito recíproco, pela afeição e pela confiança garantindo à criança um ambiente favorável ao seu desenvolvimento intelectual e moral. A integração da afetividade e inteligência permite aos indivíduos atingir níveis de evolução cada vez mais complexos. Essa integração entre afeto e cognição é o que fundamenta o entendimento de um desenvolvimento integral do ser humano. No trabalho educativo cotidiano não existe separação entre o pensar e o agir, pois, os sujeitos ali envolvidos não se desapropriam de aspectos afetivos que compõem sua personalidade ao entrar na sala de aula (BORBA; SPAZZIANI, 2007). Além das necessidades cognitivas trazidas pelos alunos existem também as necessidades afetivas muitas vezes não satisfeitas e compreendidas no ambiente familiar. O papel do educador é compreender essas necessidades individuais e afetivas para a vida de sentimentos humanos. A ternura, o amor, o respeito, o desejo, são aspectos irrelevantes a essas necessidades (BRANDEN, 1998). A estrutura familiar influencia o desenvolvimento em vários aspectos e um deles é na vida escolar. Uma aprendizagem significativa inicia-se com as relações sociais, que são aspectos importantes do desenvolvimento humano. Quando se trata de atividades escolares, podemos elencar que para a criança algo se torna significativo quando há reflexão sobre a relação com seu cotidiano. Contudo, o professor terá que ter plena consciência da influência que exerce sobre a criança ao desenvolver hábitos, estimulando-a a ter sua própria independência. Nessa mesma perspectiva a criança adquire segurança tendo o professor como modelo ou suporte na compreensão de suas atitudes. As crianças precisam de modelos com os quais possam se identificar. [...] Para ajudar a pensarem por si mesmas, a caminharem em direção a tornarem-se independentes, desembaraçadas, auto-suficientes, devemos perguntar a nós mesmos: [...] – Estou sendo para as crianças um modelo de pessoa que questiona constantemente, que sempre está buscando respostas mais apropriadas, que está mais interessada no diálogo e na descoberta do que na memorização dos fatos? [...] (LIPMAN; SHARP; OSCANYAN, apud DANIEL, 2000, p.740). Segundo Macedo (2005), a curiosidade pode ser entendida como uma das características naturais da criança e é manifestada em níveis crescentes a cada fase de seu desenvolvimento. Apresentar para a criança a complexidade da vida atual permite o processamento dessa novidade que está sendo apresentada como um estímulo para novas descobertas ou curiosidades tornando-a capaz de crescer individualmente e socialmente. A prática docente está desta forma permeada por responsabilidades, compromisso, senso crítico e autoconsciência. Além disso, o educador deve ter, subjetivamente, vocação e prazer por ensinar. Sua prática educativa deve, antes de tudo, ser uma extensão de seus princípios e valores éticos. Pode-se concluir que, a ampliação do ambiente social configurada pela escola e o surgimento de novas situações e outras realidades faz com que a criança viva em constante estado de curiosidade exigindo do professor o suprimento dessas necessidades. Uma das tarefas essenciais da escola como centro de produção sistemática de conhecimento, é trabalhar criticamente a inteligibilidade das coisas e dos fatos e a sua comunicabilidade. É imprescindível, portanto, que a escola instigue constantemente a curiosidade do educando em vez de “amaciá-la” ou “domesticá-la” (FREIRE, 1996, p. 123-124). Quando se refere à inteligência ou à capacidade cognitiva do ser humano, quase sempre surge a indagação sobre a capacidade de aprendizagem do indivíduo diante de um determinado objeto do conhecimento. Esta capacidade de aprender é em parte determinada pelo modo como são apresentados os conhecimentos e pelo seu significado afetivo. A inter-relação entre pensamento e ação caracteriza todas as realizações humanas, assim, como diz Pulaski, (1986, p. 27), “as operações mentais, emergem de ações motoras e experiências sensoriais que são interiorizadas” pelas crianças. Desta forma, num processo educativo deve-se buscar uma ação ou uma práxis reflexiva possibilitando não a repetição e memorização, mas uma mudança de atitudes que implica em considerar as trocas afetivas na interação cotidiana. A individualidade da criança deve ser observada e respeitada uma vez que, existem diferenças nos ritmos e mecanismos de aprendizagens por elas criados. A exigência na padronização de resultados faz com que a escola desrespeite a singularidade humana (RESTREPO, 1998). Sob o mesmo ponto de vista, Rego (2005, p. 60), ao realizar estudos sobre os escritos de Vigotski, acrescenta que, “a singularidade de cada indivíduo não resulta de fatores isolados (por exemplo, exclusivamente da educação familiar recebida, do contexto sóciopolítico da época em que viveu, da classe social a que pertence, etc.), mas, da multiplicidade de influências que recaem sobre o sujeito no curso de seu desenvolvimento.” A atenção à individualidade infantil é enfatizada no Referencial Curricular para a Educação infantil quando, definindo a identidade, afirma que “é um conceito do qual faz parte a idéia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir e de pensar e da história pessoal” BRASIL (1998, p.13), A autodisciplina é construída pela própria criança, fundamentada pela observação e análise do exemplo do professor que demonstra por suas atitudes, posturas e idéia, um respeito à criança e às suas particularidades. Desta forma, o professor é uma referência de comportamento para os alunos e [...] deve tomar a sério sua condição de escultor de sensibilidades. Assim, como se entrega ao artista o mármore ou a tela para que crie uma obra de arte, a nós se nos oferecem diariamente seres humanos para interagirmos e cultivarmos com eles climas de sensibilidades que permitam alcançar um estado estético favorável à plena expressão das singularidades (RESTREPO, 1998, p.81). Ao expressar um sentimento de amor pelos alunos e consequentemente pelo trabalho educativo, o professor deve guiar seu comportamento dando provas de um senso de humor oportuno e necessário. Deve manifestar um amor individual e coletivo pelos alunos renunciando muitas vezes suas vontades e desejos para ir à busca da realização das necessidades infantis adaptando-se à idade, à psicologia e ao processo de desenvolvimento de cada criança (MARCHAND, 1985). Desta forma, uma aprendizagem significativa envolve muito mais a forma de ensinar estabelecida e construída pelo professor do que o próprio conteúdo. O educador deve atrair seus alunospelo próprio prazer demonstrado ao ensinar, fornecendo-lhes elementos afetivos para que eles saibam conviver e resolver as mais diversas situações do dia-a-dia e tirar delas conhecimentos significativos por toda a vida. CAPÍTULO III DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO 3 JUSTIFICATIVA Pesquisa e estudos apontam que as relações afetivas estabelecidas entre o professor e o aluno estão inteiramente ligadas ao desenvolvimento cognitivo, social e psicológico da criança. Esta relação entre afetividade e aprendizagem sempre esteve presente na área educacional e após contínuas pesquisas e contribuições dos filósofos da educação, tal concepção se amplia e se estabelece como princípios de uma educação significativa, pois, desenvolve o ser humano integralmente. À luz da Teoria Walloniana, Mahoney e Almeida (2006, p.57), afirmam que “a relação interpessoal professor aluno é um fator determinante”. Por esta razão buscou-se reconhecer a importância da dimensão afetiva humana como aspecto ativo e dinâmico no processo de desenvolvimento cognitivo. A afetividade e a inteligência são processos construídos e contínuos. Na medida em que o ser humano se desenvolve, desenvolvem-se também suas necessidades tanto afetivas como cognitivas (MAHONEY; ALMEIDA, 2006). 3.1 Objetivos a) analisar a afetividade e sua importância no processo formativo do ser humano; b) compreender o processo de construção da afetividade na criança e sua influência na formação da auto-estima; c) conhecer o significado para o professor da importância da afetividade no processo educativo; d) compreender as práticas docentes adotadas que caracterizam uma relação afetiva. A realização da análise qualitativa de dados se deu por meio de questionário teve como objetivo conhecer as concepções dos professores a respeito da relação entre afetividade e cognição, bem como eles próprios identificariam as atitudes adotadas dentro de suas práticas educativas exprimindo uma postura afetiva no nível de suas próprias consciências. 3.2 Metodologia Realizou-se uma pesquisa por meio de questionário elaborado pelas pesquisadoras, para professores que atuam na Educação Infantil e Ensino Fundamental. O questionário (APÊNDICE A), foi elaborado com questões abertas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos professores, com o objetivo de conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo, visto que por meio de questionário com questões abertas podem elaborar as respostas com suas próprias palavras a partir de sua subjetividade e conhecimento do assunto abordado (MARCONI, LAKATOS, 2009) No total, aplicou-se o questionário junto à dez professores, sendo 9 do sexo feminino e 1 do sexo masculino. Os professores envolvidos são profissionais atuantes na Rede Municipal e Estadual de Ensino, sendo 6 seis professores do sexo feminino, da Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental “Joaquim Caetano Ferraz” e 4 quatro professores da Escola Estadual “Doutor Miguel Couto”, sendo 3 três professores do sexo feminino e 1 um professor do sexo masculino. 3.3 Análise de Dados Realizou-se a interpretação dos dados de modo que, os agrupamentos de respostas obtidas dos professores foram feitos tendo por base suas concepções em comum ou apoiadas numa mesma linha de reflexão e abordagem. A seguir, analisaram-se as dez perguntas aplicadas aos professores. Na primeira pergunta, buscou-se saber dos professores sobre suas impressões afetivas significativas em relação aos professores que tiveram na infância. 20% 80% Sim. A professora era carinhosa e dedicada, sempre estava por perto. Sim. Às vezes ficava brava e falava alto para dizer o que queria que a gente fizesse. Figura 1 – marco do professor na infância escolar. A maioria dos professores respondeu que tiveram marcas afetivas positivas em relação à infância escolar e à postura do professor, definindo-os como carinhosos, dedicados, atenciosos, pacientes e meigos. No entanto, alguns demonstraram lembranças de uma relação de autoritarismo e coerção. Citando situações em que o professor orientava sua ação com base em padrões comportamentais estabelecidos socialmente, não respeitando a individualidade do aluno, relataram alguns fatos como o exemplo a seguir: Sim, minha professora alfabetizadora. Ela não aceitava que eu escrevesse com a mão esquerda, ocorreram momentos marcantes. (Professor B) Pode-se concluir que as situações afetivas vivenciadas no período da infância estão internalizadas na consciência humana podendo se tornar indicadores da qualidade do processo de desenvolvimento influenciando de maneira positiva ou negativa a construção da afetividade. Na segunda pergunta, criou-se o objetivo de conhecer as concepções dos professores sobre o conceito “Afetividade”. De um modo geral, os Existiu algum professor(a) que marcou sua infância escolar? Fonte: Elaborado pelas autoras, 2010 professores citaram a afetividade como uma situação emocional resultante da interação entre indivíduos, porém, alguns acrescentaram aspectos que complementam toda a amplitude do conceito em questão. Para você , em que se define o conceito de afetividade? 90% 10% A Afetividade consiste no diálogo, respeito, amor , carinho, enfim, uma postura amigável. A Afetividade depende da dimensão emocional e psicológica de uma pessoa. Figura 2 – definição do conceito de afetividade para os professores Embora, para a maioria dos professores a afetividade pode ser definida como uma relação social construída dialogicamente e permeada pela afeição, cumplicidade, respeito e amor entre educador e educando, para alguns professores, a manifestação da afetividade depende de um estado subjetivo enquanto resposta às influências e trocas sociais. Sendo assim, podem-se observar diferentes abordagens sobre o conceito, integrando a ele outros aspectos do desenvolvimento humano. As práticas educativas tradicionais, pouco espaço davam ao diálogo interativo entre educador e educando remetendo-se sempre à idéia de um professor autoritário, memorização de conteúdos e disciplina por meio de regras rígidas. Fonte: Elaborado pelas autoras, 2010 Ainda que haja alguma improcedência em partes nesta concepção de prática educativa, resta saber quais eram os aspectos afetivos que poderia se observar no contexto educativo da sala de aula. Em razão disto, na terceira pergunta questionou-se aos professores, com base em suas experiências e ações docentes, sobre quais atitudes observáveis que, dentro de suas próprias práticas, poderiam evidenciar a afetividade entre professor e aluno. 30% 30% 40% Diálogo, troca de experiências, respeito, proximidade, elogios e atenção. Um bom relacionamento, respeitar os limites de cada um, apoiar frente aos desafios e dificuldades. Ser compreensivo com o aluno, dialogar sobre seus problemas trocando vivências. Figura 3 – atitudes que evidenciam a afetividade entre professor e aluno Para alguns professores a afetividade pode ser demonstrada por meio de um comportamento atencioso para com o aluno, elogiando suas produções fazendo com que sua auto-estima aumente. Outros professores acreditam que uma postura afetiva deve considerar as diferenças individuais de cada aluno respeitando seu ritmo de desenvolvimento. Porém, para a maioria dos professores, uma atitude afetiva e
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