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VINHEDO – SP 2021 UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CURSO DE PEDAGOGIA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A IMPORTANCIA DO AFETO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM CLARIANA NOVAES BEVILACQUA VINHEDO – SP 2021 UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CLARIANA NOVAES BEVILACQUA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A IMPORTANCIA DO AFETO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação – Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Paulista, Polo Vinhedo/SP Orientação: Profa. Dra. Talita Dias Miranda e Silva VINHEDO – SP 2021 FICHA CATALOGRÁFICA Novaes Bevilacqua, Clariana. ....Afetividade na Educação Infantil : A Importância do Afeto no Pro- cesso de Ensino e Aprendizagem / Clariana Novaes Bevilacqua. - 2021. ....40 f. ....Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Paulista, Vinhedo, 2021. ....Orientador: Prof. Talita Dias Miranda e Silva. ....1. Afeto. 2. Afetividade. 3. Educação Infantil. 4. Primeira Infância. I. Dias Miranda e Silva, Talita (orientador). II. Título. Elaborada de forma automática pelo sistema da UNIP com as informações fornecidas pelo(a) autor(a). VINHEDO – SP 2021 AGRADECIMENTOS Ao concluir esse trabalho quero agradecer a todos os profissionais que levam amor para dentro das salas de aula com entusiasmo e esperança, e em especial aos ensinamentos do mestre brasileiro de amor solidariedade e educação Paulo Freire, minha inspiração para carreira. Agradeço também aquele que fez com que eu me apaixonasse pelo desenvol- vimento humano, o que me incentiva todos os dias através de seu carinho. Ao amor da minha vida, meu filho Matheus. VINHEDO – SP 2021 “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Paulo Freire VINHEDO – SP 2021 RESUMO Este trabalho de Conclusão de Curso apresenta uma pesquisa a respeito da importância da afetividade para uma educação infantil de qualidade, onde as crianças possam desfrutar do aprendizado e de questões relacionadas com o papel do afeto no desenvolvimento da educação infantil. Muitas são as contribuições da relação afetiva para o processo de aprendizagem. O ambiente escolar será o primeiro socializador fora do círculo familiar da criança, e oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta segura e protegida é essencial, juntamente com uma parceria entre família e escola para que os alunos sintam-se a vontade – já que é na escola que a criança começa a criar sua identidade e personalidade, com o auxílio do professor e equipe escolar; por isso é preciso oferecer oportunidades afetivas para o desenvolvimento e aprendizagem. Essas oportunidades devem ser oferecidas para todos. Foram colocados os pontos mais importantes a serem adotados pelos envolvidos no método do ensino, como escola, professores e família, contribuindo para o sucesso das crianças. Assim apresentam- se três capítulos fundamentados em pesquisa bibliográfica, a fim de esclarecer a importância da afetividade em sala de aula, mostrando quais os aspectos educacionais ela apresenta e qual a necessidade de sua presença no ambiente escolar. Dessa forma, é esperado que haja entendimento sobre seus reflexos na educação infantil. PALAVRAS-CHAVE: Afeto, Afetividade, Educação Infantil, Primeira Infância. VINHEDO – SP 2021 ABSTRACT This Course Conclusion paper presents research on the importance of affectivity for quality early childhood education, where children can enjoy learning and issues related to the role of affection in the development of early childhood education. There are many contributions of the affective relationship to the learning process. The school environment will be the first socializer outside the child's family circle and offering all the necessary conditions for them to feel safe and protected is essential, together with a partnership between family and school so that students feel at ease - since it is at school that the child begins to create his identity and personality, with the help of the teacher and school staff; therefore, it is necessary to offer affective opportunities for development and learning. These opportunities must be offered to everyone. The most important points to be adopted by the obedient in the teaching method were transmitted, such as school, teachers and family, contributing to the children's success. Thus, three chapters based on bibliographic research are presented, in order to clarify the importance of affectivity in the classroom, showing what educational aspects it presents and what the need for its presence in the school environment. Thus, it is expected that there will be an understanding of its effects on early childhood education. KEYWORDS: Affection, Affectivity, Early Childhood Education. VINHEDO – SP 2021 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................. 9 1. CAPITULO I - SOBRE AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM……………………….11 1.1 - CONCEITO DE AFETIVIDADE……………………………………………………. 12 CONCEPÇÃO DE AFETIVIDADE NOS SÉCULOS XVII E XVIII…………...………...15 AFETIVIDADE NOS DIAS DE HOJE.........................................................................17 1.2 - AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL………………………………….…….20 1.3 - AFETIVIDADE E COGNIÇÃO………………………………………………………25 1.4 - FAMÍLIA E ESCOLA NA VIDA DA CRIANÇA……….……………….…………….29 2. CAPITULO II – MÉTODO...................................................................................... 32 3. CAPITULO III - ANÁLISE E DISCUSSÃO............................................................ 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 38 9 VINHEDO – SP 2021 INTRODUÇÃO O desenvolvimento humano está diretamente ligado à nossa imersão no mundo social que se dá nos primeiros anos de vida. A forma como aprendemos e o que aprendemos nessa fase, nossas primeiras experiências escolares e sociais são fundamentais para o desenvolvimento futuro de nossas habilidades, percepções, construção de identidade e convívio social. Em creches e pré-escolas todos os dias temos oportunidade de trabalharmos com interações, sensações e condições que contribuem para o desenvolvimento das crianças. Os estudos referentes a primeira infância tem proporcionado os mais significativos avanços para a compreenção quanto à influência de acontecimentos infantis no comportamento e no ajustamento (ou desajustamento) de crianças maiores, adolescentes e adultos. Há concordância entre os estudiosos e a psicologia do desenvolviento, que a ligação afetiva inicial influenciará o desenvolvimento do feto desde sua concepção. Ligação essa que se intensifica após o nascimento, com a convivencia do bebê com seus pais e familiares. Muito acontece durante o primeiro ano de vida do ser humano, principalmente porque o desenvolvimeto emocional começa muito cedo e é essencial à saúde mental da criança. Não se pode separar afetividade de cognição, pois ambas caminham juntas. Segundo Wallon (1979), a personalidade é formada por duas funções básicas:inteligencia e afetividade. A inteligencia ou conhecimento está ligada ao mundo físico, à contrução do objeto. Já a afetividade está ligada às sensibilidades internas e orientada à contrução da pessoa. Assim, a afetividade assume papel anterior à inteligencia, no sentido de que assume função essencial no desenvolvimento humano, definindo os interesses e as necessidades individuais. De acordo com Saltini (1999), além do conhecimento de conteúdos e técnicas, as escolas deveriam entender de seres humanos e de amor, posto que, lidar com sonhos, fantasias, símbolos, afetos e dores contribuem para o desenvolvimento integral do ser humano. Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio. 10 VINHEDO – SP 2021 Assim, tendo a afetividade um papel de extrema relevância, inseparável do desenvolvimento físico, cognitivo e intelectual, desejo investigar sua importância no processo de aprendizagem na Educação Infantil. Buscarei suporte principalmente nas teorias e contribuições de Wallon, Vygotsky, e Saltini, tendo como base também a minha prática de Estágio em uma escola pública de Educação Infantil no município de Louveira, estado de São Paulo. As reflexões aqui apresentadas são um recorte do cotidiano escolar vivenciado na prática de estágio docente. Aponto o problema que guiou minha pesquisa: Qual a importância da afetividade no processo de aprendizagem das crianças de Educação Infantil? Suponho que somente num ambiente onde há interação social, vínculos, consciência afetiva e amor, a criança consegue se desenvolver de forma plena. Espero dessa forma, lançar um olhar acerca do trabalho pedagógico dos educadores de Educação Infantil quanto à importâcia da relação educador-criança para o processo de desenvolvimento afetivo, visto que a entrada da criança em uma creche ou pré-escola representa um marco que causa certa ruptura da relação da criança com os pais em seu lar. Apresento minha investigação dividida em três capítulos, sendo que o primeiro trará a fundamentação teórica da pesquisa, o segundo o método e o terceiro análise e discussão. Finalizando, aponto minhas considerações finais concordando com o resultado da pesquisa bibliográfica. 11 VINHEDO – SP 2021 CAPÍTULO I – SOBRE AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM Quanto maior o afeto maior a aprendizagem? A criança deve se sentir acolhida pela escola como um todo. O aluno deve se apaixonar pelo método de ensino do professor e pelo dia a dia escolar, desenvolvendo auto-estima através do aprendizado. A educação infantil deve ser tratada com destreza, preparando suas emoções para um longo caminho a ser percorrido. Cada aluno tratado com afeto é preparado para um futuro melhor, fazendo com que tenhamos resultados positivos para referências futuras. Podemos afirmar que crianças são potencialmente curiosas. Sempre estão atentas a tudo que está acontecendo ao seu redor, notando cada detalhe através do seu ambiente e tendo contato com o outro vão desenvolvendo suas capacidades afetivas, assim como seu pensamento, raciocínio e linguagem. Esse papel deve ser desempenhado em parceria escola e família, onde veremos mais no item 1.4. Atos simples como quando o professor nomeia objetos, organiza a sala e expressa sentimentos, estão cooperando para que as crianças compreendam o meio em que vivem e a cultura a qual estão sendo inseridas. Nesse ponto entra o papel da psicologia da educação. Jean Piaget (1896-1980) afirma que: [...] a pedagogia moderna não saiu de forma alguma da psicologia da criança, da mesma maneira que os progressos da técnica industrial surgiram, passo a passo, das descobertas das ciências exatas. Foram muito mais o espírito geral das pesquisas psicológicas e, muitas vezes também, os próprios métodos de observação que, passando do campo da ciência para ao da experimentação, vivificaram a pedagogia. (PIAGET, 1985, p. 148). Em tese que o afeto é muito importante na atividade de ensinar, onde somos movidos pelo desejo e pela paixão nas relações de ensino e aprendizagem, é possível reconhecer e prever as qualidades afetivas que venham facilitar esse processo. Há quem acredite que para ser afetivo é preciso abraçar e beijar os alunos. Algumas crianças chegam a passar 12 horas por dia na escola e ficar todo esse tempo sem receber um abraço; não é bom, mas essa não é a única forma de demonstrar afeto. Promover uma roda de conversa no início da aula e ouvir com atenção os alunos contarem o que fizeram em casa, sentar ao lado deles enquanto 12 VINHEDO – SP 2021 desenham e perguntar a respeito, contar uma história, acompanhar as brincadeiras e observar o que estão falando entre si são formas pelas quais o professor pode demonstrar carinho, atenção e cuidado. É importante lembrar que por mais que o vínculo afetivo entre educadores e educandos seja essencial, ele deve estar centrado na aprendizagem. “A criança precisa entender que estar com seu professor não é como estar com sua mãe, seu pai, irmãos, tios”, afirma Maria Cristina Mantovanini, doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de São Paulo e psicanalista membro associada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Segundo ela, o elo precisa ser desenvolvido entre eles. “O professor respeita a criança, leva desafios adequados para sua faixa etária, não impõe disciplina pelo medo, proporciona momentos agradáveis em sala de aula e ensina coisas interessantes”. No que diz respeito a contatos físicos, o limite é em relação ao respeito à criança, e na abertura que ela da ao professor. “Há crianças que são mais afetivas, chegam na escola e já correm para abraçar o professor. Outras não gostam disso, ficam bravas e até esfgregam o rosto depois de receber um beijo. É preciso observar e respeitar cada comportamento e criar diferentes modos de demonstrar que se importa com cada um. Alguns pais também não gostam dessa proximidade entre seu filho e o professor. As famílias têm modos diferentes de expressar sentimentos e essa questão também deve ser levada em conta pela escola. 1.1 – CONCEITO DE AFETIVIDADE A concepção de afeto é bastante ampla. Para se falar dela, é necessária uma in- cursão aos domínios da História, Filosofia, Psicanálise e, também, da Literatura. Se- gue uma breve análise das variadas concepções de afeto através do tempo. Segundo o Minidicionário Luft (2010, p. 37), afetividade é a “qualidade de afetiv[o], sentiment[o]; afeição profunda, o objeto dessa afeição, zelo, cuidado”. A palavra afe- to vem do latim affectur (afetar, tocar) e é o elemento básico da afetividade. Ainda de acordo com o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, a palavra afetividade de- signa o conjunto de atos como bondade, inclinação, devoção, proteção, apego, gra- tidão. Em resumo, pode ser caracterizada sob a preocupação de uma pessoa por outra, tendo apreço por ela, cuidando dela, e ela corresponde positivamente aos 13 VINHEDO – SP 2021 cuidados ou a preocupação. Segundo Abbagnano (1998, p.53): “Afeição é usada fi- losoficamente em sua maior extensão e generalidade, porquanto designa todo esta- do, condição ou qualidade que consiste em sofrer uma ação sendo influenciado ou modificado por ela.” Dantas (1990, p.10) conceitua afetividade da seguinte maneira: “afetividade de- signa [...] os processos psíquicos que acompanham as manifestações orgânicas da emoção. A afetividade pode bem ser conceituada como uma das formas de amor”. Almeida e Mahoney (2007, p.17) definem afetividade da seguinte maneira: “capaci- dade, disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis.” No Dicionário Técnico de Psicologia (1996), afetividade é um termo utilizado para designaros afetos, bem como os sentimentos ligeiros, enquanto o afeto é definido como a emoção humana associada a ideias. Desta forma, podemos relacionar o as- pecto afetivo diretamente com as relações sociais. De acordo com Engelmann (1978, p.130,131): [...] parece mais adequado entender o afetivo como uma qualidade das relações huma- nas e das experiências que elas evocam (...). São as relações sociais, com efeito, as que marcam a vida humana, conferindo ao conjunto da realidade que forma seu contexto (coisas, lugares, situações etc.) um sentido afetivo. Na filosofia, o afeto faz parte das reflexões de praticamente todos os filósofos, desde a antiguidade até os nossos dias. Entende-se como afeto as relações não dominadas pela regência monopólica da paixão. Desta forma, define-se afeto como tradutor de bondade, carinho, proteção, apego, gratidão etc., tomando por análise o termo afecção, que para os filósofos era o resultado de uma ação decorrente de um efeito sobre a mente. As afecções são o corpo sendo afetado pelo mundo. O que pode um corpo? Pode afetar e ser afetado! As afecções são este encontro pontual de um corpo com outro. Somos corpos que se relacionam com outros corpos, quando sofremos suas afec- ções, quando somos afetados pelos outros corpos, sofremos uma alteração, uma passagem, nossa potência aumenta ou diminui. Destas afecções, ocorrem os afetos, uma experiência vivida, é uma transição. Estabeleceu-se, assim, uma diferença en- 14 VINHEDO – SP 2021 tre a afecção externa advinda de ocorrências exteriores e a afecção interna que se procede de aspectos íntimos. De acordo com Kant, a sensibilidade é a aptidão de receber as afeições segundo a maneira como os objetos nos estimulam, e a sensa- ção é o efeito de um elemento sobre nossa faculdade representativa ao sermos en- volvidos por ele. Portanto, ainda para Kant, o sujeito recebe influência do objeto, se- ja ele de qual procedência for. Por outro lado, Spinoza nos revela que a exultação não é meramente inativa. Como próprio Spinoza ressalta, é uma ação por causa de algumas afecções e pai- xão, nas demais ocorrências. A descrição do termo afecção, ao longo da história da Filosofia, obedece, princi- palmente, aos seguintes aspectos: em alguns casos ele é visto como se assinalasse uma afecção inferior e até uma pura sensação; em outros, é tido como se declaras- se a multiplicidade de uma emoção intencional. Nos dois sentidos, contudo, há um fundamento de unificação, pois, mesmo entendida como algo intencional, a afecção se limita à esfera do “minimamente intencional”, de tal forma que a afetividade tange sempre à sensibilidade, ou pelo menos, o denominado sentimento inferior. No entan- to, a afecção é definida constantemente como uma transformação da sensibilidade que pode receber influências de aspectos externos e que também pode correspon- der a um estado antecedente ao ânimo afetado. Na primeira eventualidade, a afec- ção é denominada passiva; na segunda, ativa. Ao fazermos uma breve análise destas concepções filosóficas, podemos dizer que elas permanecem vivas até os dias atuais, muitas vezes em situações cotidia- nas, quando ouvimos frases semelhantes a: "Não aja com o coração", "Seja mais racional", entre outras. Durante muitas décadas as teorias psicológicas, por influência evidente da filoso- fia, de onde surgiram, estudaram separadamente os processos cognitivos e afetivos. Devido à dificuldade em estudar estes aspectos de forma integrada, tal separação parece conduzir a uma concepção distorcida da realidade, com reflexos no modelo educacional vigente. Os estudiosos e filósofos, ao centrarem seus estudos apenas nos comportamentos externos dos sujeitos - e, em suas teorias relacionadas à su- posta dicotomia entre razão e emoção -, relegaram a um segundo plano experiên- cias mais subjetivas, como a das emoções, ao passo que privilegiam os aspectos 15 VINHEDO – SP 2021 afetivos e/ou inconscientes nas explicações dos pensamentos humanos, dedicando um papel secundário aos aspectos cognitivos. É comum, ainda hoje, no ambiente escolar, que os educadores trabalhem o pro- cesso de aprendizagem dividindo a criança em duas metades: a cognitiva e a afeti- va. É importante afirmar que este é um dos maiores enganos existentes na maioria das propostas educacionais da atualidade. O trabalho nesses moldes faz com que a práxis pedagógica seja fria, desprovida de sentimentos e pautada tão somente no ensino das atividades escolares. Segundo esta teoria advinda da Filosofia, acredita- se que apenas o pensamento resulta em ações racionais e inteligentes, privilegiando o pensamento científico e lógico-matemático. Já os sentimentos são desnecessá- rios, não resultam em nenhuma espécie de conhecimento e podem provocar atitu- des irracionais. Edgar Morin (2000, p.23), conceitua a razão da seguinte forma: A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. Por um lado, existe a racio- nalidade construtiva que elabora teorias coerentes, verificando o caráter lógico da orga- nização teórica, a compatibilidade entre as ideias que compõem a teoria, a concordância entre suas asserções e os dados empíricos aos quais se aplica [...] Mas a racionalidade traz também em seu seio uma possibilidade de erro e ilusão quando se perverte [...] A racionalização se crê racional porque constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação de argumentos e à verificação empírica. CONCEPÇÃO DE AFETIVIDADE NOS SÉCULOS XVII E XVIII Vimos, de acordo com as concepções de afetividade descritas anteriormente, que a afetividade é uma temática histórica. Partindo deste princípio, é importante conhe- cer algumas reflexões de teóricos que mencionaram em suas discussões a questão da afetividade. Entre estes teóricos que abordam a questão da afetividade, Come- nius e Rousseau têm um papel de destaque. Comenius (2002, p. 85) refere-se ao cérebro na idade infantil como uma esponja, pronto a receber e absorver a mais di- versa gama de estímulos, aprendendo rapidamente as informações às quais ele é exposto. Logo, o que é absorvido na primeira idade torna-se importante para o resto da vida do homem. Comenius deixava clara a importância de o homem aprender os fundamentos de uma sociedade, para dela usufruir de forma adequada sob juízos satisfatórios. Isto de uma forma que não causasse danos ou traumas no indivíduo. 16 VINHEDO – SP 2021 De acordo com Comenius, a escola precisava sofrer uma mudança total, em uma nova metodologia que consistiria na capacidade humana inata de aprender todas as coisas. Comenius via a escola como uma instituição enfadonha, severa e que impu- nha a disciplina através de agressões. Desta forma, ele pregava que o homem nun- ca pode deixar de sentir o anseio pelo conhecimento e pela sabedoria. Comenius afirmava que é dever do educador trabalhar a mente humana de forma que os ho- mens recebam uma educação satisfatória (LOPES, 2003, p.98). Ainda segundo ele, para que isso acontecesse, seria necessário "um pequeníssimo estímulo e [uma] sábia orientação" (COMENIUS, 2002, p.113). Enquanto Comenius, no século XVIII, fala da necessidade de uma educação em que o professor tenha o papel de ensinar e não de maltratar seus alunos, Rousseau concebia o indivíduo como um ser integral, não fragmentado, e via na infância várias fases de desenvolvimento, estando o cognitivo entre eles. Segundo Pissara (2005, p.22), Rousseau "sistematizou toda uma concepção de educação, depois chamada de Escola Nova e que reúne vários pedagogos dos séculos XIX e XX". É no século XVIII que se pode observar, inclusive, uma mudança civilizatória concernente às emoções, visto que se verificava, anteriormente, uma suavização dos hábitos men- tais ligadosà afetividade. De acordo com Rousseau, a criança deveria viver cada fase da infância plena- mente, porque, segundo ele, até os 12 anos o ser humano é apenas emoção e cor- po, estando a razão ainda em formação. Segundo ele, o indivíduo viveria em liber- dade, não desenfreada, mas no sentido de uma dependência em relação à oposição suscitada pelos adultos. Rousseau afirmava que o verdadeiro objetivo da educação era ensinar a criança a exercer a liberdade. O aluno somente entraria na sociedade, quando a tendência para a socialização nele surgisse naturalmente após o desen- volvimento da razão; conforme enseja Rousseau: "Viver é o que eu desejo ensinar- lhe. Quando sair das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será, antes de tudo, um homem" (ROUSSEAU apud GADOTTI, 2006, p. 137). Rousseau era totalmente contrário à atitude impositiva de professores, ministran- do aulas severamente, pois isso contribuiria para a formação de homens rigorosos e rudes. Acreditava, ao contrário, que os professores devessem se divertir com seus alunos, propondo atividades que os motivassem e incentivassem sua curiosidade. Rousseau (1994, p.23) chega a afirmar que “o aluno deve sobretudo ser amado [...]”. 17 VINHEDO – SP 2021 O professor deveria trabalhar de forma não só com que os seus alunos se sentis- sem melhor ali do que em qualquer outro lugar, mas também fazendo com que o aluno descobrisse a aprendizagem e o interesse por si só. Rousseau (apud CERIZARA, 1990, p.108) afirmava que a observação é fundamental para que o professor conheça as características de seus alunos e saiba trabalhá-las correta- mente: “Nada é predeterminado, tudo é construído numa tentativa pedagógica de harmonizar a especificidade da criança com as influências do meio, com as genera- lidades do desenvolvimento humano.” Rousseau encarava a infância como essencial à formação do indivíduo. Assim, segundo ele, seria preciso levar em conta as características pessoais de cada crian- ça. Rousseau afirma, ainda, que um bom professor observa seus alunos, a fim de identificar as suas peculiaridades, necessidades e trabalhá-las. Cerizara (1990, p.108) complementa esta ideia, quando ressalta a importância do que o professor observa a este respeito, “[...] numa tentativa pedagógica de harmonizar a especifici- dade da criança com as influências do meio, com as generalidades do desenvolvi- mento humano” (1990, p.108). De acordo com Cerizara (1990, p.166), a educação deve ter como objetivo o en- caminhamento do indivíduo, de forma que ele esteja preparado para viver em uma nova sociedade, enfrentando a realidade e utilizando sensatamente tanto a razão quanto o sentimento, sempre respeitando seu próximo. Visto que o professor é uma das figuras mais importantes da vida do indivíduo, pois é com ele que a criança tem suas primeiras noções de independência e autonomia, seria ele o principal agente desta transformação. AFETIVIDADE NOS DIAS DE HOJE Quando falamos em afetividade e aprendizagem é inegável a importância de Hen- ri Wallon. Ele, com seus estudos, contribuiu grandemente para o reconhecimento da importância da afetividade na vida da criança. Wallon afirma, em suma, que a ex- pressão emocional, o comportamento e a aprendizagem do ser humano são interde- pendentes. Mahoney e Almeida (2004, p.14) afirmam, a este respeito: “Em outras palavras, o desenvolvimento da criança se constitui no encontro, no entrelaçamento 18 VINHEDO – SP 2021 de suas condições orgânicas e de suas condições de existência cotidiana, encrava- da numa dada sociedade, numa dada cultura, numa dada época”. Assim, percebemos que a teoria de Henri Wallon tinha, entre outros objetivos, va- lorizar a interação entre indivíduo e meio social, bem como aprofundar a compreen- são sobre o papel da afetividade na vida psíquica e no processo de ensino- aprendizagem. Para o educador e médico francês (1954, p. 288): a afetividade é um domínio fun- cional, cujo desenvolvimento depende da ação de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois fatores existe uma relação recíproca que impede qualquer tipo de determinação no desenvolvimento humano, tanto que a constituição biológica da cri- ança ao nascer não será a lei única de seu destino. Os seus efeitos podem ser am- plamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existencia onde a esco- lha individual está presente. Nesse conceito, pode-se dizer que a afetividade constitui uma propriedade funcional tão importante para a vida social e emocional de um ser humano que demonstra a revelação de carinho ou cuidado que se pode ter com alguém íntimo e querido, permitindo assim demonstrar sentimentos e emoções a outro ser, criando um laço entre os seres humanos para representar a amizade, o amor e a compreensão. A base da teoria de Wallon era a integração afetivo-cognitivo-motora, o que pos- sibilita uma reconceituação no papel de afetividade na vida psíquica e como esta in- terfere no processo ensino-aprendizagem. Wallon nos explica que a relação entre a personalidade e a emoção é fundamental para o desenvolvimento psicomotor, e que o papel da emoção é muito importante no desenvolvimento infantil. A teoria walloni- ana se embasa na integração afetiva – cognitiva – motora – pessoa. Porém princi- palmente ao que se denomina conjunto funcional afetividade. Segundo Almeida e Mahoney (2007, p.17, p.18), participam os seguintes aspectos do chamado “conjun- to funcional afetividade”: emoção, sentimento e paixão. Estes três resultam de fato- res orgânicos e sociais, que correspondem, respectivamente, à ativação fisiológica, à ativação representacional e do autocontrole, tendo os seguintes significados: Emoção: é o recurso de ligação entre o mundo físico e cultural. Compõe sistemas de atitudes percebidas pela expressão corporal, de forma que são estabelecidos pa- drões para a alegria, o medo, a tristeza, a raiva etc. A emoção estimula o desenvol- 19 VINHEDO – SP 2021 vimento cognitivo e incentiva mudanças que tendem a uma diminuição deste senti- mento. Sentimento: é a expressão representacional da afetividade, não implicando em relações diretas como na emoção. O sentimento tende a reprimir, a impor controles que quebrem a potência da emoção. O indivíduo adulto tem mais facilidades em ex- pressá-lo, através da observação, das expressões nas horas oportunas, da tradução de seus motivos e circunstâncias. Paixão: revela o aparecimento do autocontrole como condição para dominar uma situação. Para isso, configura a situação, o comportamento, de forma a atender às necessidades afetivas. Nas idéias de Wallon (1954, p.42), “a afetividade seria a primeira forma de interação com o meio ambiente e a motivação primeira do movimento [...]. As emoções são, também, a base do desenvolvimento do terceiro campo funcional, as inteligências”. Wallon baseou as suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligêcia e a formação do eu como pessoa. Para Wallon (1986) “As emoções tem um papel predominante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades [...]”. Vygotsky (1934, p. 120), delimeou um trajeto histórico sobre o tema afetividade afirmando que: O desenvolvimento pessoal seria operado em dois níveis: o desenvolvimento real ou efetivo e o afetivo referente as conquistas realizadas, e o desenvolvimento potencial ou proximal relacionado as capacidades a serem contruídas [...] os processos pelos quais o afeto e o intelecto se desenvolvem e estão inteiramente enraízados em suas inter-relações e influências mútuas. Vygotsky busca esclarecer a mudança das primeiras emoções básicas, para os experimentos emocionais superiores, de maneira especial no que se refere à questão de os adultos apresentarem uma vida emocional maisapurada do que as crianças. Na teoria de Vygotsky emoções nunca deixarão de existir, mas se modificam, distanciando-se da sua origem biológica e tornando-se como elemento histórico cultural. 20 VINHEDO – SP 2021 Sendo assim, os autores Wallon e Vygotsky destacam a íntima relação entre afeto e cognição, utilizando suas ideias catalogadas no que diz respeito ao papel das emoções, na concepção do caráter e da personalidade. Buscando definir o conceito de afetividade, no ponto de vista da pedagogia, seguimos com as ideias de Gabriel Chalita (2004, p. 33) que nos mostra: “[...] afetividade é ter afeto no preparo, afeto na vida e na criação. Afeto na compreensão dos problemas que afligem os pequenos [...]" Concluindo as definições de afetividade, é possível abranger a importância dos vínculos na vida da criança, um ser que está em pleno desenvolvimento. Observa-se que a educação da criança primeiramente começa com a família e depois passa para a escola, mostrando que a afetividade sempre estará ligada a educação, seja ela na família ou no ambiente escolar. 1.2 – AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Hoje a educação é a área que mais exige atenção, havendo uma concentração maior de preocupação por parte das instituições de ensino, onde a constituição garante que é direito de todas as crianças irem à escola e receber acolhimento pedagógico de qualidade desde o primeiro ano escolar. Entretando enquanto a criança se desenvolve, ela tem no adulto sua referência de aprendizado e amadurecimento; sendo assim cabem aos adultos desenvolverem na criança seus traços de personalidade passando todo seu aprendizado e conhecimento como um ser social do bem, bem como dar atenção, respeito, carinho, dignidade, amor e afeto. A educação infantil é considerada o complemento da educação básica, sendo o responsável por oferecer a formação e a socialização da criança fora do ambiente familiar em seus primeiros passos dados para sua formação, utilizando como base de aprendizagem, que será transferida pelo professor em oferecer as condições básicas e necessárias para que se sinta protegida e segura no ambiente escolar. Lisboa (1998 p. 63), posiciona-se a respeito desse assunto dizendo que: [...] as creches e escolas são de grande importância para desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças [...]. Nesses locais, elas têm de aprender a brincar com as outras, respeitarem limites, controlar a agressividade, relacionar-se com o adulto e aprender sobre si mesma e seus amigos, tarefa estas de natureza emocional [...] 21 VINHEDO – SP 2021 fundamental para as crianças menores de seis anos é que elas sintam importantes, livres e queridas. Lisboa (1998 p. 63). Na educação infantil a aprendizagem está imensamente ligada a vida afetiva da criança, cabe a escola não enfraquecer essa vida afetiva, mas contribuir para o fortalecimento e ampliação do ambiente sócio afetivo na formação dos pequenos estudantes. Nesse seguimento, as instituições de Educação Infantil, agregando as funções de educar e cuidar, se compromentendo em auxiliar para o melhor desenvolvimento integral da criança no seu aspecto intelectual, físico, social e afetivo, vindo a complementar o ser da criança, inserindo a capacidade de aprender a conviver consigo mesma, e com seus semelhantes, no ambiente em que vive de forma articulada e gradual. O ato de educar e o de cuidar na educação das crianças de 0 a 6 anos podendo ser incluso como um momento único e sequencial que está recomendado pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases Nacional 9394/96) onde regulmenta a educação de modo geral, que a educação infantil determina como a primeira etapa da educação básica. Segundo a LDB 9394/96, no artigo 29, preconiza-se que: A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) Podemos assegurar que a educação infantil tem como objetivo cooperar para a formação integral da criança de maneira lúdica e afetiva, com a inclusão da educação infantil na educação básica, obtendo primeira etapa e o reconhecimento que a educação iniciar-se nos primeiros anos de vida é essencial para a realização de sua finalidade, assegurada também pelo art. 22, ainda da LDB que diz: “A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores.” A escola de educação infantil é fundamental para a vida dos pequenos, é neste ambiente que as crianças se abrangem nas relações morais e éticas que compõe a sociedade na qual estão inseridas. É no momento dessa fase que acontece a 22 VINHEDO – SP 2021 formação de hábitos, costumes e valores que constroem os alicerces da personalidade, que precisam estar baseadas na afetividade. Segundo Wallon (1979), na pré-escola: Cabe o papel de preparar a emancipação da criança e reduzir a influência exclusiva da família e promover o seu encontro com outra criança da mesma idade. Nas ideias de Wallon, posso dizer que compete a escola expandir e gerar um espaço sócio afetivo e saudável para as crianças, gerando uma socialização de forma ampliada do convívio dos pequenos. Sua Teoria da Afetividade, nos serve para questionar qualquer forma de ensino que não leve em consideração a compleição afetiva, social e política da educação, onde “todas as crianças, sejam quais forem suas origens familiares, sociais, étnicas, tem direito igual ao desenvolvimento máximo que sua personalidade comporta. Elas não devem ter outra limitação além de suas aptidões” (LAKOMY, 2003 p. 60). A aprendizagem, portanto, deve ser imbuída de interações sociais, trocas e formação de vínculos, intermediados pela compreensão do papel da afetividade e suas implicações. Isso pressupõe uma educação orientada para o desenvolvimento afetivo, social e intelectual de forma integrada, capaz de gerar processos que, criem mecanismos de compreensão, aceitação, negação, assimilação, defesa ou administração das sensações e sentimentos desencadeados. Para Wallon, professores e alunos são mutuamente afetados no processo de formação, onde desenvolvimento cognitivo é, também, ampliação dos afetos e da capacidade de expressar sentimentos. O desafio do afeto é compartilhado entre todos os sujeitos, no ambiente escolar. Em tempos tão desafiadores, acalenta saber que a manifestação da afetividade forja a inteligência. E que a inteligência é expressão de seres afetivos. As contribuições de Wallon nos mantém mobilizados pela generosidade de nossas disposições afetivas; conteúdo indispensável que nos humaniza. O Ministério da Educação e a Secretaria de ensino Fundamental em 1988, publicou o Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil, mostrando um avanço na busca de metas para a educação das crianças nas creches, pré-escolas e instituições semelhantes. Onde a leitura é obrigatória de forma direta ou indireta, estando ligado ao primeiro passo da Educação Básica, uma vez que se trata de um documento que expressa com nitidez os princípios da Educação Infantil, que 23 VINHEDO – SP 2021 precisam estar ligados aos aspectos afetivos. A afetividade desses princípios com as diversas áreas do desenvolvimento infantil pode ser melhor compreendida aproveitando uma leitura mais detalhada dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Para Wallon (1995), a criança na pré-escola; [...] atribui a emoção como os sentimentos, desejos e manifestações da vida afetiva, demostra os sentimentos como um papel fundamental no processo de desenolvimento humano. Essas emoções para Wallon, tem um papelprincipal para o desenvolvimento do ser humano. É através delas que a criança mostra suas vontades e desejos, destacando que a afetividade é um dos elementos fundamentais para o desenvolver do ser humano. Assim podemos perceber que a afetividade e a cognição são essenciais. Piaget diz que não existe estados afetivos sem elementos cognitivos, assim como não existem, comportamentos puramente cognitivos. Na esfera da educação infantil, é preciso existir a inter-relação do professor com os seus alunos em grupo, e com cada um em particular a cada momento, utilizando o tempo, na sala, nos corredores ou nos passeios escolares, com a função desse vínculo afetivo que se tem a interação com os objetos e contruindo um conhecimento bastante envolvente. Segundo afirma Saltini (1997,p. 89) “essa inter-relação é o fio condutor, o suporte afetivo do conhecimento.” O referido autor complementa: “Neste caso, o educador serve de continente para a criança”. Poderíamos dizer portanto que: O continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, tal qual um útero acolhe um embrião. (SALTINI, 1977, p. 89). Entretanto não restam dúvidas de que se torna indispensável o aspecto de um professor que tenha a plena convicção de sua importância, não apenas como um mero conhecedor da realidade atual, mas sim como um influente transformador, tendo uma visão sócio crítica da realidade, acolhendo assim seu aluno. Assim quando a criança vai para seu primeiro dia de aula, ela precisa ser muito bem recepcionada, pois é nesse momento que um pequeno rompimento do seu ambiente familiar para iniciar uma nova etapa, deverá ser agradável, para que exista um reforço da situação. Quando a criança percebe que o professor gosta dela, e 24 VINHEDO – SP 2021 exibe algumas qualidades como: dedicação, vontade de ajudar, atitude democrática, e principalmente paciência, facilita a aprendizagem. Ao notar os gostos da criança o professor aproveita ao máximo suas capacidades e a estimula para o ensino. Ao oposto, utilizando autoritarismo, inimizade e desinteresse que pode levar o aluno a perder a motivação e a vontade de aprender, já que estes sentimentos são consequência de antipatia por parte dos alunos, que por fim agregarão ao professor a disciplina, tendo assim pontos totalmente negativos para ambos. Em um comentário de Chardelli (2002) a todo momento, a escola recebe crianças com auto estima baixa, tristeza, dificuldades em aprender ou em se entrosar com os coleguinhas e as rotulamos de complicadas, sem limites ou sem educação e não nos colocamos diante delas a seu favor, não compactuamos e nem nos aliamos a elas, não as tocamos e muito menos conseguimos entender o verdadeiro motivo que as deixou assim. A escola facilita o papel da educação nos tempos atuais, que seria construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter, levando o aluno a ser crítico e construir seu caminho. Saltini também comenta a questão da manutenção da serenidade por parte do educador e da criança. Assim explica o autor: A serenidade e a paciência do educador mesmo em situações difíceis fazem parte da paz que a criança necessita. Observar a ansiedade, a perda de controle e a instabilidade de humor, vai assegurar à criança ser o continente de seus próprios conflitos e raivas, sem explodir, elaborando-os sozinha ou em conjunto com o educador. A serenidade faz parte do conjunto de sensações e percepções que garantem a elaboração de nossas raivas e conflitos. “Ela conduz ao conhecimento do si mesmo, tanto do educador quando da criança”. (SALTINI, 1997, p. 91). Também ao entender Saltini (1997,p. 90), é preciso [...] encorajar a criança a descobrir e inventar, sem ensinar ou dar conceitos prontos. A resposta pronta só deve ser dada quando a pergunta da criança focaliza um ato social arbitrário (funções do objeto cotidiano). Manter-se atento à série de descobertas que as crianças vão fazendo, dando-lhes o máximo de possibilidades para isso. Dar atenção a cada uma delas, encorajando-as a construir e a se conhecer. Dar maior incentivo à pergunta que à resposta. Sempre buscando no grupo a resposta o professor procurará sistematizar e coordenar as ideias emergentes. A relação que se estabelece com o grupo como um todo e a pessoal com cada criança é diferenciada em todos os seus aspectos quantitativos e cognitivos respeitando-se a maturidade de seu pensamento e a individualidade. [...] 25 VINHEDO – SP 2021 Assim quando ocorrem explosões de raiva, o educador precisa ter bastante habilidade, para quando for necessário manter uma conversa com a criança, em que se possa mostrar o que está acontecendo, utilizando o silêncio e o corpo, para abraçar quando ela assim o aceitar, e compartilhar com os outros alunos, os sentimentos que estão sendo demonstrados. O papel da afetividade na educação infantil seria como uma fonte de energia na cognição, aproveitaria para o funcionamento no desenvolver da criança. Podendo dizer que a afetividade na educação infantil coopera para o sucesso na ação de ensino-aprendizagem, onde a afetividade e a cognição são aspectos paralelos, onde estão ligados, e influenciam pela socialização, através da escola, família e sociedade, pois é muito importante para a formação de pessoas felizes. Idealizando a afetividade como um reconhecimento construído através das vivencias, que configura como dever da escola, do professor e da família, a tarefa de despertar na criança as potencialidades do coração. 1.3 - AFETIVIDADE E COGNIÇÃO Ao contemplar a educação formal, iniciada na Educação Infantil, que principia a vivência escolar e introduz o conhecimento curricular estruturado, conhecimento es- se intimamente ligado à afetividade, como afirma a autora Ellen White: “A educação formal desperta para o conhecimento de mundo, contudo, ao observar a fonte e ob- jetivo da verdadeira educação” (WHITE, Educação, 2008). É possível perceber a ne- cessidade de ideias mais amplas e de cunho elevado, conforme afirma a autora no livro Educação: “A verdadeira educação significa mais do que avançar em certo cur- so de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Tem em vis- ta o ser todo, durante toda a vida. É o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. (WHITE, Educação, 2008, p. 5).” Para White, a criança (como qualquer ser humano) desenvolve-se integralmente, com todos os aspectos que a compõem. É improvável, portanto, afirmar que exista dificuldade de aprendizagem puramente cognitiva ou afetiva. O que ocorre em geral é o direcionamento afetivo positivo ou negativo no sistema de construção de conhe- cimentos ligados a certos conteúdos. 26 VINHEDO – SP 2021 Henri Wallon fundamentou sua pesquisa sobre a psicogênese da pessoa comple- ta, considerada em seus aspectos afetivo, cognitivo e motor. Estudando a afetivida- de e as emoções no decorrer do desenvolvimento, conseguiu identificar as primeiras manifestações afetivas do ser humano e suas principais características. Como outros estudiosos, Wallon valorizou a afetividade e a cognição no desen- volvimento do ser humano, reforçando a importância delas. Assim, a atuação peda- gógica no contexto escolar pode se apropriar da investigação sobre a relação da cri- ança com o conhecimento. Se existem sentimentos que conduzem ao compreender melhor ou não cada eixo e seus objetivos de aprendizagem, deve haver constante análise docente, com o intuito de despertar interesses nas crianças, que mobilizem os pequenos para o aprender. Para tanto, é necessário conhecer como se processa o pensamento infantil, suas fases e seu desenvolvimento. O cognitivo remete à aquisição de conhecimento (cognição), envolvendo fatores diversos como o pensamento, alinguagem, a percepção, a memória e o raciocínio, que fazem parte do desenvolvimento intelectual. Mas a cognição é mais do que simplesmente a aquisição de sapiência, é uma forma de ser e de se modificar internamente. São processo e produto pelo qual os homens influenciam-se mútua e reciprocamente entre si e atuam no contexto social em que atuam, gerando uma memória que tem como material a informação do meio em que o sujeito vive. A afetividade relaciona-se com o sentimento, e está envolvida em todos os acontecimentos de vida humana. Relaciona-se com as emoções que o sujeito experimenta em relação a si e a outros seres e objetos. As pessoas criam laços afetivos com elas mesmas, com os outros e com seres irracionais, uma vez que os animais também são afetivos. Neste sentido, a afetividade tem um papel essencial, na construção do intelecto do homem, porque está presente em toda a existência, sempre articulada ao processo cognitivo. A Psicologia define a afetividade como eficácia individual de experienciar o conjunto de acontecimentos afetivos, tais como: emoções, paixões, e sentimentos como dor, alegria, tristeza ou raiva. É preciso olhar para a prática pedagógica, vendo o sujeito como um ser intelectual e afetivo, capaz de reconhecer a afetividade como parte que lhe complementa num movimento que implica saberes, conhecimento sobre si e sobre o outro. 27 VINHEDO – SP 2021 Wallon entende que o homem é resultado de influências sociais e fisiológicas, sendo os dois aspectos — orgânico e social — fundamentais para o desenvolvimen- to e especialmente dependentes do contexto sociocultural. Assim como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em cinco estágios que de- vem ser levados em conta, em suas especificidades, no processo de aprendizagem, sendo eles: 1º estágio — Impulsivo-Emocional (0 a 1 ano): predominantemente afetivo, onde o sujeito se expressa por meio de movimentos corporais, do contato corporal e do to- que. O aprendizado demanda uma presença e uma qualidade de troca corporal in- tensa, que passa pelo tato, pelo toque e pela segurança do embalo. É a partir da fu- são com o outro que a criança interage com o meio ambiente, participa, se familiari- za e aprende sobre o mundo que a cerca. 2º estágio — Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3 anos): neste estágio, se estabele- ce uma relação intensa com os objetos através do contato e se inicia a indagação persistente sobre o que eles são, seus nomes e como funcionam. O processo de ensino-aprendizagem nesta fase solicita disposição do educador em oferecer situa- ções e espaços diversificados para que os alunos possam entrar em contato com diversos objetos e vivências, facilitando o processo de diferenciação em relação a cada um deles. 3º estágio — Personalismo (3 a 6 anos): a criança começa a se descobrir diferen- te das outras e dos adultos. A diferenciação se dá entre a criança e o outro. Neste estágio, é importante que ela entre em contato com atividades que possibilitem o exercício da escolha e com crianças de outras idades. O importante neste estágio é reconhecer e respeitar as diferenças que começam a surgir, inclusive valorizando e dando oportunidade de expressão a estas diferenças. 4º estágio — Categorial (6 a 11 anos): aqui ocorre a diferenciação mais intensa e nítida entre o eu e o outro, o que fornece a estabilidade necessária para a explora- ção das diferenças e semelhanças entre objetos, imagens, conceitos e ideias. Nesta fase, é importante tanto levar em consideração o que o aluno já sabe como diagnos- ticar o que ele precisa saber para dominar certas ideias. A descoberta do mundo de- penderá das experiências a que terá acesso e que favoreçam ou não o desenvolvi- mento de sentimentos e valores que auxiliem a continuidade e ampliação destas descobertas. 28 VINHEDO – SP 2021 5º estágio — Puberdade e Adolescência (11 anos em diante): a partir dos 11 anos, se delimita, de maneira mais clara e precisa, o reconhecimento da singulari- dade e autonomia do sujeito, com valores e sentimentos próprios, mediante ações de confronto e autoafirmação. O processo ensino-aprendizagem deve primar pela criação de espaços e construção de vivências que permitam a expressão e discus- são das diferenças e das descobertas, levando em consideração a necessidade de afirmação de relações solidárias, baseadas no respeito mútuo. Na hipótese de Jean Piaget, o desenvolver intelectual é considerado por ter dois elementos: o cognitivo e o afetivo. Colateral ao desenvolvimento cognitivo está o de- senvolvimento afetivo. Afeto inclui desejos, sentimentos, tendências, intereses, valo- res e emoções de um modo geral. O conceito de cognitivo é uma expressão que está relacionada com o processo de aquisição de conhecimento (cognição). A cognição envolve fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, raciocínio etc., que fazem par- te do desevolvimento intelectual. A psicologia cognitiva está ligada aos estudos dos processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo e o desen- volvimento cognitivo (intelectual). Ainda falando de Piaget, para ele a atividade inte- lectual está ligada ao funcionamento do próprio organismo, ao desenvolvimento bio- lógico de cada pessoa, já o conceito de afetividade é um termo que deriva da pala- vra afeto, designa a qualidade que abrange todos os fenômenos afetivos. No âmbito da psicologia, afetividade é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos afetivos (tendências, emções, paixões, sentimentos). A afetividade con- siste na força exercida por esses fenômenos no caráter de um indivíduo. Tem um papel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, porque está presente em todas as áreas da vida, influenciando profundamente o crescimento cognitivo. A afetividade potencia o ser humano a revelar os seus sentimentos em relação a ou- tros seres e objetos. Graças à afetividade, as pessoas conseguem criar laços de amizade entre elas e até mesmo com animais irracionais, isto porque os animais ta- mém são capazes de demonstrar afetividade uns com os outros e com os seres hu- manos. As relações e laços criados pela afetividade não são baseados somente em sentimentos, mas também em atitudes. 29 VINHEDO – SP 2021 1.4 – FAMÍLIA E ESCOLA NA VIDA DA CRIANÇA O convívio familiar tem que estar estruturado e unido por laços afetivos, com muito zelo, respeito, segurança e amor. Segundo Chalita (2001, p. 23), “A família tem como função primordial a proteção, tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos [...]” Posso dizer que a família tem o papel primordial de delinear o emocional da criança, e ir preparando ela para os primeiros anos escolares, pois o ciclo familiar em que está inserida é o seu primeiro método de aprendizagem. O papel da família está vinculado aos cuidados e a proteção, e também a dar todo apoio e auxílio no método de escolrização, para que as crianças venham ser capazes de construir vínculos afetivos para beneficiamento e evolução. O professor que atua na área infantil tem que estar consciente da sua função e o seu valor nesse método, juntamente com o apoio dos pais. Sendo assim os docentes tem papel muito importante pelo encorajamento ao crescimento e desenvolvimento integral dos pequenos. Para conviver com crianças na educação infantil, o professor precisa estar compassivo aos seus sentimentos, pois precisa ser capaz de poder lidar com circunstâncias que exijam compreensão, paciência e técnica, utilizando capacidades para momentos inesperados que solicitam ter habilidade e criatividade, entretanto, deve sempre utilizar seu conhecimento e a sua sociabilidade unidas a aspectos afetivos, para o apoio do aluno e o conforto dos familiares. Nos segmentos das ideias de Chalita, o docente de educação infantilprecisa ter: [...] luz própria e caminhar com pés próprios. Não é possível que ele pregue a autonomia sem ser autônomo; que fale de liberdade sem experimentar a conquista da independência que é saber, que ele queira que seu aluno seja feliz, sem demonstrar afeto. E para que possa transmitir afeto é preciso que sinta afeto, que viva o afeto. Ninguém dá o que não tem. O amor e o afeto tornam-se ferramentas indispensáveis para o ensino e valorização da criança para a educação. Acredito em um ensino mais sensível, que abrace uma pedagogia da dedicação utilizando o amor como base, para que venha entusiasmar as famílias e as escolas, onde beneficie seus novos conhecimentos, 30 VINHEDO – SP 2021 entre desafios e realizações, através do amor levando o professor e os pequenos a se desenvolverem por meio da afetividade. Segundo Ivan Capelatto (2016, p. 59): [...] a escola, na verdade, é o quintal da casa. A escola não complementa a educação, a escola dá a educação formal, mas tem de manter as mesmas características de casa. Pensemos no significado de uma professora de maternal para uma criança. Ela tem de ter características de mãe, tem de cuidar maternalmente, tem de fazer uma maternagem, senão, torna-se extremamente árida e a criança vai começar a desobedecer, a agredir a escola, porque sente que tudoo que não é afeto tem de ser destruído. No conceito de Augusto Cury (2003, p. 72): “Ser um mestre inesquecível é formar seres humanos que farão a diferença no mundo”. Um professor que planta uma se- mente no seu aluno e que marca esse aluno, fará com que ele leve consigo para o resto da sua vida, tomando–o como exemplo o seu mestre e passando adiante em diversas situações, mostrando tudo aquilo que ele absorveu lá atras. E é nesse segmento que o professor deve se basear, dando o melhor de si, se entregando, e cada vez mais plantando as melhores sementes em seus alunos para que eles sir- vam de alicerces para as novas gerações. Segundo o disposto na Constituição Federal, A educação é um direito de todos, bem como dever do Estado e da própria família, de - vendo ser promovida e incentivada com a colaboração de toda a sociedade, para o de - senvolvimento pleno da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi- cação para o trabalho (CF, art. 205). Sendo que é competência privativa da União legislar sobre diretrizes e bases da Educação Nacional, consoante o disposto no artigo 22, XXIV, do texto constitucional. Observando a definição de que a educação, “[...] é um direito de todos e dever do Estado e da Família” (BRASIL, 1988), vê-se que a Lei Maior procura registrar em seu texto, a garantia de que as instituições ligadas ao ato educacional – poder públi- co (União, Estado e Municípios) e a família – têm a corresponsabilidade social de inserir e cuidar da educação de seus membros. A família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa socializadora. A família constitui uma das mediações 31 VINHEDO – SP 2021 entre o homem e a sociedade. A família não só interioriza aspectos ideológicos do- minantes na sociedade, como projeta, ainda, em outros grupos os modelos de rela- ção criados e recriados dentro do próprio grupo. (CARVALHO, M.B., 2006, p.90). Compreende-se que, o papel a ser exercido pela escola, ultrapassa o ensino pe- dagógico presencial da sala de aula, e o da família, vai muito além do simples sus- tento (alimentação, moradia, vestuário etc.) para com os filhos que a frequentam. Diante de tais defesas, a análise da ligação entre as instituições, escola e família, paralelamente às diferenciações existentes entre elas, ou seja, os pontos relevantes considerados as peculiaridades e as transformações histórico-sociais, abrem espaço para questões a respeito de qual seria a real e atual relação existente entre elas, bem como estaria se dando tal relacionamento na contemporaneidade. A família é o principal espaço de referência, proteção e socialização dos indiví- duos, independente da forma como se apresenta na sociedade. Ela exerce uma grande força na formação de valores culturais, éticos, morais e espirituais, que vêm sendo transmitidos de geração em geração. Tais valores vivenciados no ambiente familiar contribuem significativamente para a formação do caráter da criança, para a sua socialização e para o aprendizado es- colar. Na sociedade atual, é cada vez mais significativa a participação dos pais na formação e na educação de seus filhos. 32 VINHEDO – SP 2021 CAPÍTULO II – MÉTODO Na procura de envolver o tema: a importâciada afetividade para uma educação infantil de qualidade, mencionei no decorrer desse texto os principais teóricos clássicos da educação, destacando a importância na metodologia de ensino e aprendizagem. Wallon, Vygotsky e Piaget, destacam em suas hipóteses a relação entre o afeto e a cognição, no que se pronuncia o papel das emoções para o desenvolvimento e construção da criança. Essas abordagens formam um conjunto de temas que irão contribuir na valorização da afetividade, que sempre deve estar vinculada à educação infantil, através do afeto e das emoções na vida dos pequeninos, em especial diferenciando o papel do professor de educação infantil. Sendo asism, o atual trabalho tem como objetivo buscar as principais obras educacionais e pedagógicas, citações teóricas a respeito do tema no processo de desenvolvimento e aprendizagem infantil, selecionando contribuições positivas da relação afetiva entre professor e aluno para o processo de aprendizagem escolar. Essa pesquisa teve por etapas o desenvolvimento do tema a partir de meu estágio em educação infantil realizado nos anos de 2018 a 2020, pesquisas na internet, seguidas de leitura para o embasamento teórico, e criação do texto para o trabalho, biblioteca online UNIP, e também o download em sites de acervo de livros gratuitos. Teve em média três meses de realização. 33 VINHEDO – SP 2021 CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO A análise estudada teve como proposta elucidar e aprofundar o tema afetivida- de, acerca de fundamentos teóricos. Pode-se observar no trabalho a verdadeira afirmativa feita pelo suíço Jean Piaget, que não há estados afetivos puros, sem ele- mentos cognitivos, e que também não há atividade intelectual sem afetos que a de- sencadeiem. Tanto na Teoria de Piaget – Construtivismo, no Sócio-interacionismo de Vygotsky como na Teoria de Wallon, as interações – com objetos, pessoas, com o meio -, são imprescindíveis para o desenvolvimento do ser humano. Se a inteligên- cia se desenvolve é porque a criança e o adulto têm necessidade, isto é, interesse em conhecer certos objetos e assim refletir sobre eles. Para Piaget, “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas” (LA TAILLE, 1992 p.11). Para Vygotsky, “a história da sociedade e o desenvolvimento humano cami- nham juntos’, sendo o conhecimento internalizado e transformado pela criança atra- vés da sua interação ou trocas sociais com as pessoas que a rodeiam. (LAKOMY, 2003 p.38). Para esses autores, assim como para Wallon, a afetividade é elemento intrín- seco do processo de desenvolvimento, mais especificamente da aprendizagem, o que acontece não só na escola, mas na família, na rua, nos momentos de diversão. O ser humano é movido pela afetividade, tanto na sua forma positiva quanto na negativa, ou seja, um elogio lhe afeta positivamente, enquanto uma reprimenda ou crítica lhe afeta negativamente, sendo que, nos dois casos, a afetividade opera co- mo elemento de desenvolvimento no sentido de criar mecanismos de compreensão, aceitação, defesa ouadministração das sensações desencadeadas. Constata-se que o conhecimento e as estruturas cognitivas estabelecem senti- do entre si. Outro aspecto da relação entre as dimensões afetivas e intelectuais é o fato de o desenvolvimento de uma depender da outra. Diante da análise apresentada pode-se afirmar que as hipóteses e objetivos propostos no início do trabalho foram alcançados. Por um lado, pode-se observar a riqueza de investigações acerca do tema elucidado pelos teóricos, que buscam in- 34 VINHEDO – SP 2021 cessantemente ressaltar o papel preponderante e o reconhecimento da afetividade na área da Educação Infantil. Os objetivos norteadores do trabalho mantiveram-se em plena expressão. Por outro lado, deve-se reconhecer que a dimensão afetiva também recebe influência dos avanços da inteligência e da sofisticação para a ampliação e investigação de seus estudos. A construção dos conhecimentos, apontados pelos teóricos, pressu- põem um sujeito ativo, que participa de maneira intensa e reflexiva, que possuem condições afetivas e cognitivas para representar suas formas de expressões em ati- vidades, com amplo conhecimento em sala de aula, assim verificadas pelos profes- sores. O ser humano constrói sua inteligência, sua identidade, seus valores, seus afe- tos pela interação estabelecida com seus pais, com seus professores, e com a cultu- ra que permeia seu entorno, na própria realidade cotidiana em que vive, seja por gestos ou diálogo. O levantamento bibliográfico realizado aponta para caminhos que visam a reso- lução de conflitos e aprendizagem emocional, ressaltam com clareza que a afetivi- dade e a cognição estão mutuamente envolvidas. Ao realizar este trabalho espero ter contribuído de forma significativa para os estudos posteriores, sobre as relações entre afetividade e desenvolvimento cognitivo com crianças da Educação Infantil. Mas principalmente espero ter reacendido o interesse pela investigação da afetivi- dade, tal como a proposta do trabalho, e que futuramente possa contribuir de forma significativa para a ampliação e desenvolvimento de novos projetos a respeito do desenvolvimento afetivo-cognitivo dos indivíduos. Concluo que a afetividade existente em todos nós deve ser valorizada e inseri- da em nossas ações do cotidiano, para que possamos aprender a agir e interferir com razão e emoção, ponderosamente em nossas atitudes mais simples e rotinei- ras, buscando assim, um preenchimento completo das nossas necessidades vitais, procurando cada vez mais ser um ser consciente e completo em nossas ações. 35 VINHEDO – SP 2021 CONSIDERAÇÕES FINAIS O afeto é um dos principais fatores que contribuem para o aperfeiçoamento do método de ensino aprendizagem. Assim, o tema “ A importância da afetividade para uma educação infantil de qualidade” apresenta extrema importância na área educacional, considerando que a afetividade impulsiona a aptidão de aumentar o conhecimento voltado para conhecer e o aprender, de forma que os vínculos afetivos e aprendizados vão estabelecer as trocas a partir das interações entre o meio e o sujeito. Então, que caminhos poderiam ser percorridos com vistas a propiciar um me- lhor desenvolvimento cognitivo e afetivo? Uma melhor aprendizagem? Trocas entre os educadores são fundamentais. Aqui considero educadores todos os agentes en- volvidos no processo de ensino–aprendizagem no qual a criança é personagem principal, e que envolve amplamente a cognição e a afetividade, com participação ativa dos pais, responsáveis, professores ou outros que participem da vivência infan- til. Assegurar que todos estejam inteirados das ações praticadas é garantir condi- ções de melhor desenvolvimento para o educando. Para potencializar esse desenvolvimento, cotidianamente, faz-se necessário problematizar situações nas quais a criança seja capaz de buscar soluções por si. Isso implica criar, manter e fomentar a comunicação para que os pequenos possam progredir em suas descobertas, a ponto de se aproximar da atividade de forma afeti- va e aprender com ela o conhecimento (SILVEIRA, 2001). Ainda é preciso compreender que conhecer é tarefa complexa, implica apren- der, sim, mas não determina o correto e o incorreto; esses conceitos serão formados a partir do que a criança vive, mediante sua afetividade e cognição. “[…] a afetivida- de está presente em qualquer atividade, por isso deve-se considerar o cognitivo e o afetivo” (DOLLE CAMARGO, 1997) sempre. Questionamentos, brincadeiras, atividades dialogadas são boas possibilidades para a motivação e o envolvimento das crianças na Educação Infantil. Policiar-se pa- ra não fornecer respostas prontas antes de haver tentativas dos pequenos é algo a ser aprendido também. Muitas vezes, enquanto educadores, reproduzimos o que vivenciamos enquanto alunos, e não se propicia tempo para que os educandos se envolvam com as problematizações e elaborem suas respostas. 36 VINHEDO – SP 2021 Na verdade, seja criança ou adulto, todos necessitam do elo entre a cognição e a afetividade em suas aprendizagens, portanto, busquemos propiciar mais situações que envolvam os sentimentos e as emoções. Desse modo, haverá melhor desenvol- vimento da cognição e, consequentemente, melhor aprendizagem. Compreendemos que o sentido da aprendizagem é exclusivo e particular na vida de cada ser humano, por isso, o desenvolver-se da aprendizagem é um processo continuado, e a afetividade é desempenho indispensável na formação da criança, uma vez que um ensino que deixe de abordar o sentimento (aspectos afetivos) em uma sala de aula e na família pode gerar danos incontáveis no desenvolver cognitivo da criança. Não menos importante, é estabelecer um laço entre escola e família para a evolu- ção da criança, é preciso que a criança sinta na escola um lugar onde ela encontre apoio, carinho, incentivo e que usem métodos para desenvolver habilidades, senti- mentos e capacidades. Quede pequeno contrua um caminho para o saber, e que os pais em casa deem sequência ao trabalho feito na escola, é fundamental o apoio de todos fazendo com que a criança se sinta mais segura para expandir sua autoestima e suas habilidades adiquiridas ao decorrer do tempo. Sendo assim, a criança consegue ter um desenvolvimento saudável e adequado dentro do espaço escolar, e consequentemente no sicial. É importante que haja um contato de relações interpessoais positivas, com aceitação, possibilitando assim o sucesso dos objetivos educativos. No papel de educadores, precisamos estar atentos ao fato de que enquanto não dermos atenção ao fator afetivo na relação professor-aluno, podemos correr o risco de estarmos só atuando com a construção do real, do conhecimento, deixando de lado o trabalho da coordenação do próprio sujeito, que abrange valores e o seu pró- prio caráter, primordial para o desenvolvimento integral. Portanto, a família e o professor, como educadores que são, precisam entender que tem uma grande missão, que é formar um ser humano, e isso tão somente ocor- rerá como fruto do amor e da afetividade que será responsável por fazer brotar um verdadeiro ser humano no mundo. O afeto e o amor são a solução para uma educa- ção melhor, acreditamos em uma educação mais humana, vindo a adotar uma pe- dagogia do amor, da paciencia e da compreensão, tendo a competência de influen- ciar nossas próprias vidas, as famílias, as escolas e, especialmente nas salas de au- 37 VINHEDO – SP 2021 la; abrindo caminhos para novos horizontes, conhecimentos, desafios e conquistas, um trabalho realizado em uma fonrte parceria entre família e escola, voltado total- mente para o afeto, que tenha como objetivo o desenvolvimento integral da criança a partir dos laços trabalhados na afetividade. A afetividade para uma educação infantil de qualidade tem como alvo contribuir para o desenvolvimentointegral da criança, de forma afetiva e lúdica, entendendo que a integração entre afetividade e cognição é essencial. 38 VINHEDO – SP 2021 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. tradução Alfredo Bosi. 21ª ed São Pau- lo: Martins Fontes, 1998. 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