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Conservação de Momento Angular e Giroscópios Jonathan Tejeda Quartuccio Unicamp Conservação de Momento Angular e Giroscópios Chegamos agora a parte menos intuitiva de nosso curso. Essa talvez seja a parte mais difícil de toda a física, e por essa razão será necessário ter muita atenção. Iremos tratar a respeito de giroscópios. Imagine que estejamos no espaço, sem gravidade e sem nenhuma força externa. Suponha que temos uma roda de bicicleta. No ponto D está a minha mão direita e no ponto E está a minha mão esquerda. Eu seguro a roda pelo seu eixo de rotação. Eu darei um torque com minha mão direita, ou seja, empurrarei o eixo de rotação para frente. Ao empurrar o eixo para frente, minha mão esquerda irá para trás. Após fornecer o torque à roda, eu irei soltá-la, então a mesma permanecerá girando. A roda continuará girando para sempre. Se eu aplicasse o torque em qualquer outro sentido, a roda iria girar nesse sentido eternamente. Isso não é tão difícil de perceber. É bastante intuitivo. Agora, vamos para uma parte nada intuitiva. Eu vou girar a roda da bicicleta em sua direção (até então a roda não estava girando sobre seu eixo de rotação). Novamente, eu darei um torque com a minha mão direita. A questão é: o que vai acontecer agora? Nossa intuição poderia nos dizer que a roda ficaria rodando e girando eternamente. Mas isso não pode ocorrer. Perceba que se a roda gira em torno do seu eixo, então existe um momento angular, dado na seguinte direção: Se aplicarmos um torque e depois soltarmos a roda, então ela ficaria girando da seguinte maneira: Ou seja, o momento angular continuaria sempre mudando. Mas temos de lembrar que o momento angular só muda quando está sobre a ação de algum torque. Acontece que eu apliquei um torque apenas no começo, e depois deixei de aplicar o torque. Como a natureza reage, então, em uma situação como essa? Vamos analisar um pouco melhor esse caso: Esse é o caso geral de uma roda girando em sua direção. Em A eu tenho minha mão direita e em B eu tenho minha mão esquerda. A distância de A até B eu chamo de b. Então, o torque que estou aplicando é dado por . O sentido do momento angular está dado em L. A força que eu aplico, eu aplico por um determinado tempo, bem curto, . Quando eu fizer isso, um momento ângular será dado na seguinte direção: Eu aplico a força por um curto período de tempo e então eu paro. Isso quer dizer que, após eu parar de aplicar o torque, o momento angular como um todo deixa de mudar. Portanto, para resolver nosso problema a natureza inclina a roda. A roda está girando em seu sentido. Com isso, o momento angular está direcionado para sua direita (para a esquerda do professor Lewin). Ao aplicar o torque com a mão direita, ou seja, a mão do professor está indo em sua direção enquanto que a mão esquerda está indo na direção contrário, ocorrerá o seguinte: Caso nós apliquemos um torque com a mão esquerda, ocorrerá o seguinte: O momento angular (spin) sempre se move na direção do torque externo. Agora, vamos tomar a mesma roda, mas ao invés de aplicar o torque para frente ou para trás, vamos aplicar o torque para cima ou para baixo, da seguinte maneira: Nós vamos colocar a roda da bicicleta em rotação, de maneira que ela gire bem rápido. Depois, sentarei num banquinho (o que gira sobre sua base) e irei aplicar um torque sobre a roda de acordo com a seguinte figura: Quando sentar sobre o banquinho e o torque for aplicado, o banquinho começará a girar: Quando estamos sentados apenas segurando a roda, não há torque algum, portanto temos que nosso momento angular é zero (não estamos girando). Quando aplicamos um torque sobre a roda de modo que o vetor momento angular da roda aponte para cima, nosso corpo começa a girar de modo que nosso vetor momento angular aponte para baixo: Quando invertemos o sentido do vetor momento angular da roda, o sentido de nosso momento angular também muda: Isso ocorre devido á conservação total do momento angular do sistema. Chamamos esse tipo de movimento de precessão. Vamos estudar outro tipo de precessão, um pouco mais intrigante. Temos uma corda, e iremos prender em sua ponta a roda da bicicleta. Devido à gravidade, a roda irá permanecer na seguinte posição: Mas nós iremos girar essa roda antes de soltá-la. O eixo de rotação preso à corda possui um tamanho dado por r. A roda possui um raio R. O centro da roda é dado por Q. Nós daremos um giro sobre a roda, denotado por . Assim, com a regra da mão direita, podemos determinar o sentido do momento angular. Ao girar a roda, teremos: Temos uma força agindo sobre a roda, dado por , onde M é a massa da roda e g é a aceleração da gravidade. Em relação ao ponto P, existe um torque, dado por: Utilizando a regra da mão direita nós podemos determinar o sentido do torque, pois temos : Em outras palavras, o torque é entrando no plano. Dessa maneira o torque é perpendicular ao momento angular. A natureza fará com que o momento angular sempre “vá atrás” do torque: Assim, o torque também começará a mudar. Dessa maneira, a roda começará a girar em torno da corda. Mas você pode pensar que é impossível a roda permanecer nessa posição, pois existe uma força agindo sobre a roda dada por , então a roda tem de ir na direção da aceleração. Acontece que não existe uma única força sobre a roda, temos a tensão aplicada na corda, e a tensão é exatamente igual a Ma, assim: . Então, temos: É importante conhecer a chamada frequência angular de precessão, que é dado por: O período de precessão é: Analisando a roda da bicicleta: Girando nossa roda: Quando calculamos o período de precessão, estamos calculando o tempo no qual a roda demora para dar uma volta completa em torno da corda. Se prendermos um peso à nossa roda veremos que o período diminui. Giroscópios, ou objetos que giram, possuem um efeito estabilizador. Se subirmos em uma bicicleta e não fizermos nada (não pedalarmos) então iremos cair da bicicleta. Mas, se a roda da bicicleta estiver rodando, devido ao momento angular, ela não irá cair. Da mesma maneira, podemos fazer uma moeda girar por um bom tempo sem cair. O momento angular possui uma propriedade de estabilizar as coisas. Giroscópios são utilizados em aviões, navios e até mesmo alguns mísseis. Por mais que um avião, por exemplo, mude sua direção seu giroscópio permanecerá sempre apontando para o mesmo sentido.
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