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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CIDADE UNIVERSITÁRIA PROF. JOSÉ ALOÍSIO DE CAMPOS SUMÁRIO DE CONCEITOS DE MORFOLOGIA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA PRINCIPAL: SILVA, M.C.P.S. & KOCH, I.G.V. Lingüística aplicada ao português: morfologia. 18ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. 0. Morfologia - definições: a) estudo das formas das palavras sob o ponto de vista de sua derivação e flexão; b) descrição das regras que regem a estrutura interna das palavras. 1. Morfema: definições. 1.1 a menor unidade formal dotada de significado, ou seja, a unidade mínima que não pode ser segmentada, sem que se destrua ou se altere drasticamente seu significado original; o menor elemento significativo em uma língua; a unidade gramatical mínima distintiva; as menores unidades significativas que podem constituir palavras ou partes de palavras. 1.2 Ex.: em "nós falávamos", temos os morfemas {nós}; {fal-}; {-á-}; {-va-}; {-mos}. 1.3 Em "nós do trânsito" de acordo com o sentido atribuído, poderemos considerar o morfema {nós} ou os morfemas {nó-}; {-s}, verificando a importância do sentido para a análise morfológica. 2. Morfemas lexicais lexemas e morfemas gramaticais gramemas (conceitos definidos em nível de vocábulo formal, ou seja, em nível não sintático-oracional) > plano paradigmático. 2.1 morfemas lexicais ou lexemas são os morfemas com significado estritamente lexical, isto é, morfemas que dizem respeito ao vocabulário da língua e cuja referência é puramente extralingüística (mundo biossocial ou antropocultural). Constituem um acervo aberto de itens. Ex.: {feliz} = «contente; alegre»; {falar} = «exprimir-se por meio de palavras». 2.2 morfemas gramaticais ou gramemas são os morfemas com significado estritamente gramatical; em outras palavras, trata-se de morfemas que dizem respeito à estrutura gramatical de uma língua (sua gramática) e cuja referência é puramente intralingüística. Ex.: {-a-} = «vogal temática»; {-va-} = «morfema modo-temporal»; {-mos} = «morfema número-pessoal»; {-mente} = «sufixo adverbial que indica ‹maneira› ou ‹modo›». Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 2 3. Formas livres, formas presas e formas dependentes (conceitos definidos em nível de enunciado) > plano sintagmático. 3.1 formas livres são morfemas, em nível de enunciado, que podem funcionar isoladamente como instrumento suficiente de comunicação. Ex.: "Que você vende?" "Livros.". 3.2 formas presas são morfemas, em nível de enunciado, que apenas funcionam como instrumento suficiente de comunicação quando ligados — em determinadas posições fixas — a outros morfemas. Ex.: {re-} em "revender"; {-s} em "livros". 3.3 formas dependentes são morfemas, em nível de enunciado, que não são livres porque não podem funcionar isoladamente como instrumento suficiente de comunicação e, ao mesmo tempo, não são presos porque podem separar-se do morfema livre do qual dependem. Ex.: {a}; {o}; {de}; {com}; {pois}. 3.3.1 podem separar-se mediante intercalação de outros morfemas livres entre o morfema livre anterior e o morfema dependente. Ex.: "A lei é justa.": {a} = morfema dependente; "A grande lei é muito justa.": {a}; {grande}; {muito} = morfemas dependentes. 3.3.2 podem separar-se mediante mudança de posição na estrutura sintática do enunciado, como acontece com as partículas átonas do português. Ex.: "Fala-se muito disso."; "Não se fala muito disso.". 3.3.3 como exemplo de morfemas dependentes em português, temos os artigos, os pronomes, as preposições e as conjunções. 4. Vocábulo formal: definição. 4.1 "é a unidade a que se chega quando não é possível sua divisão em duas ou mais formas livres ou dependentes". Trata-se, portanto, de um vocábulo constituído por um morfema livre ou um morfema dependente. 4.2 tanto os morfemas livres quanto os morfemas dependentes que constituem um vocábulo formal podem apresentar-se quer indivisíveis (exemplo: "sol"; "a"), quer divisíveis em unidades mórficas menores (exemplo: {in-}{-feliz-}{-mente}; {im-}{-pre-}{-vis-}{-í-}{-vel}; {a}{-s}. Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 3 4.2.1 quando divisíveis em unidades mórficas menores, os morfemas livres e os morfemas dependentes de um vocábulo formal podem ser constituídos por morfemas livres ligados a morfemas presos (exemplo: {feliz-}-{-mente}) ou apenas por morfemas presos (exemplo: {im-}{-pre-}{-vis-}{-i-}{-vel-}-{-mente}. 5. Vocábulo formal, morfemas livres, morfemas presos, morfemas dependentes, morfemas lexicais e morfemas gramaticais: exemplos. níveis exemplos tipos enunciado "feliz"; "felicidade" vocábulo formal e forma livre enunciado "-dade" forma presa enunciado "a"; "nossa" forma dependente vocábulo {feliz}; {lápis} morfema lexical vocábulo {-dade}; {-mente} morfema gramatical 6. Princípios de análise mórfica. 6.1 "a análise mórfica consiste na descrição da estrutura do vocábulo mórfico, depreendendo suas formas mínimas ou morfemas, de acordo com uma significação e uma função elementares que lhes são atribuídas dentro da significação e da função total do vocábulo.". 6.2 comutação — operação contrastiva por meio da permuta de elementos em dado ponto da estrutura mórfica, segundo as etapas: a) segmentação do vocábulo mórfico; b) permuta paradigmática. 6.2.1 Ex.: comutação de morfemas lexicais = {jog-}/{and-}/{cant-} {-ar}; comutação de vogais temáticas = {jog-} {-a-} {-r}; {beb-} {-e-} {-r}; {ped-} {-i-} {-r}; comutação de morfemas modo-temporais = {joga-} {-re-}/{-ria- }/{-va-} {-mos}; comutação de morfemas número-pessoais = {jogaría-} {-mos}/{-s}/{-m}. 6.3 alomorfia — possíveis variações fônicas de uma dada forma mínima ou morfema, as quais desempenham função semântica semelhante. Tais variações podem não ser fonologicamente condicionadas (caso das variações livres que independem de causas fonéticas, como as alternâncias vocálicas em "faz"; "fez" e "fiz"1), ou podem ser morfologicamente condicionadas. Ex.: morfema indicativo do plural em português: {-s}; alomorfe desse morfema: {-es}; alomorfes lexicais: {ordem}; {orden-} (em "ordenar"); {ordin-} (em "ordinário"). 6.4 mudança morfofonêmica — alomorfia foneticamente condicionada que implica a aglutinação de fonemas nas partes iniciais e finais dos constituintes, acarretando mudanças fonéticas e afetando o plano mórfico da 1 Mudança vocálica no radical. Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 4 língua. Ex.: a) redução fonética de {in-} para {i-} diante de vogal nasal = {incapaz}; {imutável}; b) inserção de fonema vocálico = {passear}; {passeio}; c) permuta de fonema consonantal = {dúvida}; {indubitável}. 6.5 neutralização — perda da oposição entre unidades significativas diversas, verificada quer no plano mórfico quer no plano do condicionamento fonológico. Ex.: a) neutralização no plano mórfico = {cantava} (1ª pessoa singular); {cantava} (3ª pessoa singular); b) neutralização no plano fonológico = {temer} {teme} (segunda conjugação em {-e-}); {partir} {parte} (terceira conjugação em {-i-} que passa à neutralização em {-e-}, ou seja, perda do contraste entre {-e-} e {-i-}). 6.5.1 neutralização ao longo dos paradigmas verbais (neutralização entre a 2ª e a 3ª conjugação pela perda da tonicidade da vogal temática): "temer" "partir" ocorrência de neutralização "teme" "parte"sim "temes" "partes" sim "teme" "parte" sim "tememos" "partimos" não "temeis" "partis não "temem" "partes" sim 7. Classificação dos morfemas gramaticais ou gramemas. 7.1 morfemas gramaticais classificatórios: são constituídos pelas vogais temáticas — morfemas cuja função é enquadrar vocábulos em classes de nomes e verbos. 7.1.1 morfemas classificatórios nominais: {-a}; {-e}; {-o}. 7.1.2 morfemas classificatórios verbais: {-a}; {-e}; {-i}. 7.2 morfemas gramaticais flexionais: são morfemas que flexionam ou alteram os morfemas lexicais, adaptando-os para que expressem diversas categorias gramaticais (gênero, número, modo, tempo, pessoa, aspecto). São de seis tipos, abaixo discriminados. 7.2.1 morfemas flexionais aditivos: resultam do acréscimo de fonemas ao morfema lexical, indicando diversas categorias gramaticais. Ex.: {rapaz} {rapazes} (morfema aditivo {-es}, indicando número); {professor} {professora} (morfema aditivo {-a}, indicado gênero). Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 5 7.2.2 morfemas flexionais cumulativos: resultam da acumulação de noções gramaticais expressas por um único morfema indivisível. Ex.: {amáramos} (morfema cumulativo {-ra-}, indicando modo verbal indicativo; tempo verbal pretérito e aspecto perfeito). 7.2.3 morfemas flexionais subtrativos: resultam da supressão de um segmento fônico do morfema lexical, indicando uma categoria gramatical. Ex.: {órfão} {órfã} (expressando a noção gramatical "feminino"). 7.2.4 morfemas flexionais alternativos: resultam da alternância ou permuta de um fonema no interior do vocábulo, caso manifestado claramente no fenômeno da metafonia (modificação do timbre de uma vogal sob a influência de uma vogal vizinha). Ex.: {povo} {povos} (indica-se por metafonia, em complemento ao morfema {-s}, a presença da noção gramatical "plural"). 7.2.5 morfema flexional zero: resulta da ausência de marca para expressar uma dada categoria gramatical. Nesse caso, a oposição morfológica dá-se entre a ausência de um morfema versus a presença de um outro morfema expressando a significação oposta. Ex.: {mar-} versus {mar-es}; {professor-} versus {professor- a}. 7.2.6 morfemas flexionais latentes ou alomorfes-zero: resultam da ausência de marca para expressar uma dada categoria gramatical, sem apresentar contraste com qualquer outro morfema opositivo (não há um par de morfemas que, por oposição, expressem alguma categoria gramatical). Nesses casos, depende-se do co(n)texto para se determinar a significação precisa. Ex.: {lápis-} versus {lápis}; {artista-} versus {artista}, indicando, indiferentemente, número (singular e plural) e gênero (masculino e feminino). 7.3 morfemas gramaticais derivacionais AFIXOS (PREFIXOS E SUFIXOS): são morfemas que acrescentam novos vocábulos ao léxico de uma língua, sem que haja uma sistematização derivacional obrigatória ou uma necessária generalização dos procedimentos derivacionais. Ex.: {livro}; {livr-eiro}; {livr- inho}; {livr-aria}. 7.3.1 os morfemas gramaticais derivacionais não constituem um quadro de relações coerentes, regulares, precisas e constantes, capazes de serem preenchidas por projeção. Ex.: {cantar} {canto} (subs.) {*cantação} (?) {*cantamento} (?) {cantarolar} {falar} {fala} (subs.) {falação} {*falamento} (?) {*falarolar} (?) {consolar} {consolo} (subs.) {consolação} {*consolamento} (?) {*consolarolar} (?) {julgar} {*julgo} (subs) (?) {*julgação} (?) {julgamento} {*julgarolar} (?) Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 6 7.3.2 não há, igualmente, um quadro coerente e regular de morfemas diminutivos e, dos existentes, nem todos podem ser empregados em qualquer co(n)texto. Morfemas tais como {-ção}; {-mento}; {-inho} não têm, por exemplo, o mesmo comportamento dos morfemas modo-temporais e número-pessoais da flexão verbal. 7.3.3 como uma falha em muitas gramáticas normativas, considera-se que os morfemas indicadores de grau (aumentativos e diminutivos) representam um processo de flexão, quando, em verdade, são caracterizadores de um processo derivacional. 7.4 morfemas gramaticais relacionais FORMAS DEPENDENTES: são morfemas que ordenam e organizam os elementos do enunciado, possibilitando a concatenação de morfemas lexicais. Trata-se de morfemas tais como as preposições, as conjunções e os pronomes relativos. ********** {OBS.: ANEXO: SUMÁRIO DE KEHDI, V. (2003). "Capítulo 5: Classificação dos morfemas (1)" In Morfemas do português. 6ª ed. São Paulo: Ática. 26-39. a) radical: elemento irredutível e comum às palavras de uma mesma família. Ex.: “ferro”, “ferreiro”; “ferradura”, “ferramenta” >radical = {ferr-}. a1) o termo “raiz” designa o radical segundo uma perspectiva diacrônica. Radical e raiz podem não coincidir: em edĕre > cumedĕre > ... > comer, temos a raiz latina {ed-}; já em “comer”, o radical é {com-}. b) afixos: prefixos e sufixos: morfemas que se anexam ao radical para mudar-lhe o sentido (“fazer” > “des-fazer”), para acrescentar- lhe uma idéia secundária (“livro” > “livr-eco”) ou para transpô-lo para uma outra classe vocabular (“leal”, adjetivo; “leal-dade”, substantivo). b1) afixos antepostos ao radical denominam-se “prefixos”. Ex.: “des-montar”; afixos pospostos ao radical denominam-se “sufixos”. Ex.: “fiel-mente”. b2) a diferença entre prefixos e sufixos não é puramente distribucional; o acréscimo de um prefixo não determina a mudança de classe vocabular do radical, enquanto os sufixos podem contribuir para isso. Ex.: “cruel” (adjetivo ); “cruel-mente” (advérbio); porém, “ferro” (substantivo) e “ferr-eiro” (substantivo) mantêm a mesma classe. b3) prefixos agregam-se normalmente a verbos (des-fazer) e a adjetivos (in-completo); são raros os prefixos aplicados a substantivos (des-respeito). b4) sufixos podem ser nominais, formando nomes e adjetivos (arma-mento; vit-al), e verbais (flor-escer; mour-ejar; galant-ear; civil- izar). b5) há um único sufixo adverbial em português: {-mente}. c) desinências: morfemas terminais de palavras variáveis. Indicam flexão de gênero, número (desinências nominais), modo-tempo e número-pessoa (desinências verbais). c1) colocam-se à direita do radical tal qual os sufixos , mas apresentam diferenças importantes em relação a estes: 1) as desinências servem para situar as palavras na frase, mediante as concordâncias nominais e verbais (flexões); os sufixos servem Admin Highlight Admin Highlight 7 para derivar novas palavras a serem acrescentadas ao léxico (derivações); 2) as desinências são morfemas gramaticais indispensáveis e generalizados, enquanto os sufixos não o são. c2) desinências nominais de gênero: o gênero em português expressa-se mediante flexão (“garot-o” vs. “garot-a”), mediante derivação (“duqu-e” vs. “duqu-eza”) ou heteronímia (tour-o vs. vac-a). c2.1) em português, as desinências de gênero constituem-se como o par opositivo {-o} vs. {-a}. A desinência {-o} apresenta os alomorfes {-} (“autor-” vs. “autor-a”) e {-u} semivocálico (“ma-u” vs. “má”). c3) desinências nominais de número: o número em português expressa-se mediante flexão opositiva do par {-} vs. {-s}. c3.1) os nomes paroxítonos terminados em “-s” (“simples”), invariáveis no singular e no plural, implicam a presença de um alomorfe {-}. c3.2 os nomes terminados em consoante flexionam-se mediante acréscimo do alomorfe de número {-es}. c4) desinências verbais de modo-tempo:modo tempo morfema alomorfe indicativo presente -- indicativo pretérito imperfeito -va- (1ª conjugação) -ia- (2ª / 3ª conjugação) -ve- -ie- indicativo pretérito perfeito -- (cinco primeiras pessoas) -ra- (terceira pessoa do plural) indicativo pretérito-mais-que- perfeito -ra- (átono) -re- (átono) indicativo futuro de presente -rá- (tônico) -re- (tônico) indicativo futuro do pretérito -ria- -rie- subjuntivo presente -e- (1ª conjugação) -a- (2ª / 3ª conjugações) subjuntivo imperfeito -sse- subjuntivo futuro -r- -re- forma nominal infinitivo -r -re- forma nominal gerúndio -ndo forma nominal particípio -do c5) desinências verbais de número-pessoa: número pessoa morfema alomorfe singular 1ª pessoa - -o (pres. indic.) -i (pret. perf. e fut. do pres.) singular 2ª pessoa -s -ste (pret. perf.) singular 3ª pessoa - -u (pret. perf.) plural 1ª pessoa -mos plural 2ª pessoa -is -stes (pret. perf.) -des (fut. de subj. e infin. flexionado) 8 plural 3ª pessoa -m -o d) vogais temáticas: acrescentam-se, em geral, ao radical para constituir uma base à qual acrescentam-se as desinências; colocam- se, pois, entre o radical e a desinência. Marcam os paradigmas ou classes nominais e verbais. d1) vogais temáticas nominais: em português, são temáticas as vogais {-a-}, {-e-} e {-o-}. Cabe não confundi-las com as desinências de gênero. d1.1) enquanto as desinências de gênero {-o} e {-a} são comutáveis, o mesmo não ocorre com as vogais temáticas. Ex.: “garot-o” vs. “garot-a”; “livr-o” vs. *“livr-a” (?) (feminino de “livro”). d1.2 as vogais temáticas não correspondem aos gêneros gramaticais. Ex.: “mapa” (masculino); “libido” (feminino). d1.3 a vogal temática {-o} apresenta, freqüentemente, o alomorfe {-u} Ex.: “luto” (substantivo) > “lutuoso”; “conceito” > conceitual”. Porém, essa variante não é obrigatória. Ex.: “respeito” > “respeito-oso” > “respeitoso”. d1.4 há substantivos atemáticos desprovidos de vogal temática : no caso de certos nomes oxítonos, a vogal aparentemente temática na verdade é parte integrante do radical. Ex.: “cipó” > “cipo-al”; “café” > “cafe-zinho” (a vogal tônica não é destacável do radical, mesmo com o acréscimo de sufixos). d1.5 os nomes terminados em consoante podem ser considerados atemáticos, postulando-se, portanto, a inexistência de vogal temática. d2) vogais temáticas verbais: em português, três são as vogais temáticas: {-a-} (primeira conjugação); {-e-} (segunda conjugação) e {-i-} (terceira conjugação). d2.1 a vogal temática {-a-} apresenta os alomorfes {-e-} e {-o-} (primeira e terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo). Ex.: “am-e-i”; “am-o-u”. d2.2 a vogal temática {-e-} apresenta um alomorfe {-i-} (pretérito imperfeito do indicativo; primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo e no particípio. Ex.: “vendia”;”vendi” e “vendido”. d2.3 a ausência de vogal temática nas formas verbais não constituem casos de alomorfe . Ocorrem casos de elisão da vogal temática em contato com a vogal da desinência. Ex.: “amo” < “am-a-o”; “ame” < “am-a-e”. Também, ocorre a crase da vogal temática. Ex.: “vendia” < “vend-i-ia” (crase do alomorfe {-i-} com a vogal da desinência {-ia}. d2.4 sempre que possível, devemos postular a presença de uma vogal temática, sendo sua ausência explicada por fenômenos fonológicos. d2.6 em alguns deverbais pode ocorrer a presença de duas vogais temáticas uma verbal e outra nominal : “armamento” < arm- a-ment-o”. e) vogais e consoantes de ligação: fonemas que ocorrem no interior dos vocábulos, normalmente entre o radical e o sufixo, cuja utilidade está determinada pela eufonia; podem , contudo, aparecer por analogia vocabular. Em português, existem duas vogais de ligação propriamente ditas: /-i-/ e /-o-/. Ex.: “dign-i-dade”; “facil-i-dade” (comparando-se com “leal-dade” e “ruin-dade”, sem vogal de ligação); “gas-ô-metro”. e1) os pares “sério” / “seri-e-dade”; “sóbrio” / “sobri-e-dade”; “próprio” / “propri-e-dade” indicam a existência de um alofone /-e-/ para o fonema /-i-/, variante fonologicamente condicionada. e2) as consoantes de ligação mais produtivas em português são /-z-/ e /-l-/. Ex.: “café” > “cafe-z-al”; “pau” > “pau-l-ada”; “chá” > “cha- l-eira”. Outras consoantes tal como /-t-/ são raras (“café” > cafe-t-eira”). 9 e3) os fonemas de ligação em geral terminal anexados pelos sufixos, que apresentam, assim, alomorfes. Ex.: “ -inho” > “- zinho”; “-eira” > “-leira”}. ********** 8. Vogais e consoantes de ligação. 8.1 vogais e consoantes de ligação são fonemas que aparecem no interior dos vocábulos sem qualquer valor mórfico, isto é, não possuem qualquer valor significativo. Ocorrem quando da junção de morfemas lexicais e morfemas derivacionais; sua função consiste em evitar dissonâncias na junção desses morfemas significativos e facilitar a prolação em língua falada. Ex.: {chá} + {-eira} {chá} + {-l-} + {-eira} {chaleira}. 8.2 vogais e consoantes de ligação possuem caráter puramente eufônico e passam a fazer parte dos morfemas aos quais se ligam, produzindo exemplos de alomorfia foneticamente condicionada (aglutinação de morfemas nas partes iniciais e finais de morfemas em seqüência, acarretando mudanças fonéticas). Ex.: "chaleira" {chá-} + {-l-} + {-eira} {chá-} + {-leira} {-eira}; {-leira} (alomorfes derivacionais}. 9. Estruturas dos vocábulos em português. 9.1 em português, os vocábulos podem ser formados de acordo com as estruturas apresentadas abaixo. 9.1.1 nomes: [ [ [ (Pref) [ Rz / Rd] ( VL / CL ) (Suf) ] ( VT ) ] Te (Des) ] 9.1.2 verbos: [ Rd ( VT )Te (Des MT) (Des NP) ] morfema lexical ML {azul}; {sol} morfema lexical; (vogal temática); morfemas flexionais ML (+VT) + MF {alun-} + {-a-} + {-s}; {cant-} + {-á-} + {-va-} + {-mos} prefixo; morfema lexical; (vogal temática); (morfema flexional) PREF + ML (+VT) (+MF) {in-} + {feliz}; {in-} + {-apt-} + {-o-} + {-s} morfema lexical; (vogal temática assimilada ao radical); sufixo; (vogal temática); (morfema flexional) ML (+VT ass) + SUF (+VT) (+MF) {mur-} + {-alh-} + {-a-} + {-s}; {levant-} + {- a-} + {-ment-} + {-o-} + {-s} > {levanta-} + {- ment-} + {-o} + {-s} prefixo; morfema lexical; (vogal temática assimilada ao radical); (vogal / consoante de ligação); sufixo; (vogal temática); (morfema flexional) PREF + ML (+VT ass) (+V / C lig) + SUF (+VT) (+MF) {in-} + {-feliz-} + {-mente}; {des-} + {- contenta-} + {-ment-} + {-o-} + {-s} morfema lexical; (vogal temática; (morfemas flexionais); morfema lexical; (vogal temática; (morfemas flexionais) ML (+VT) (+MF) + ML (+VT) (+MF) {guard-} + {-a-} - {chuv-} + {-a-} + {-s}; {terç-} + {-a-} + {-s} - {feir-} + {-a-} + {-s} Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 10 10. Formação de vocábulos. 10.1 vocábulos dos tipos ML ["mar"] e ML (+VT) + MF ["falaram"] são formas simples (formadas por um só morfema lexical) e primitivas (não são derivadas de outras formas). 10.2 vocábulos dos tipos PREF + ML (+VT) (+MF) ["infeliz"]; ML (+VT ass) + SUF (+VT) (+MF) ["muralha"] e PREF + ML (+VT ass) (+V / C lig) + SUF (+VT) (+MF) ["infelizmente"] são formas simples e derivadas (são obtidas a partir de outras formas). 10.3 vocábulos do tipo ML (+VT) (+MF) + ML (+VT) (+MF) ["terças-feiras"] são formas compostas (possuidoras de mais de um morfema lexical). 11. Processo de formação de vocábulos: a derivação. 11.1 a derivação consiste na formação de palavras por meio de afixos (prefixos e sufixos) anexadosa um morfema lexical. 11.2 há duas condições básicas para a existência do processo de derivação. 11.2.1 primeira condição: deve haver a possibilidade de depreensão sincrônica dos morfemas componentes de um vocábulo, isto é, os morfemas encontrados devem ser identificados sem o recurso ao estudo diacrônico da língua (gramática histórica). Ex.: mītto, is, mīsi, mīssum, mīttĕre = «pôr; colocar»; submīttĕre = «pôr debaixo» > submīssum = «posto debaixo» {sub-} + {-mīssum}. {sub-} + {-mīssum} submīssum {sub-} + {*-misso} (?) submisso 11.2.1.1 há vocábulos que, sob o ponto de vista diacrônico, podem ser segmentados em morfemas mas que, sob o ponto de vista sincrônico, não admitem tal segmentação. São considerados, portanto, como vocábulos primitivos. 11.2.2 segunda condição: os afixos derivacionais a serem utilizados devem estar em uso no sistema atual da língua, para que possam ser utilizados para a derivação de novas palavras. Ex.: {-uno} = proveniência, origem [sufixo improdutivo] > {boiúno} [de difícil segmentação]. 11.3 podem ser considerados seis tipos de derivação. Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 11 11.3.1 a derivação prefixal é obtida pelo acréscimo de prefixos aos morfemas lexicais. Ex.: {ligar} > {re-} + {ligar} > {religar}. 11.3.2 a derivação sufixal é obtida pelo acréscimo de sufixos aos morfemas lexicais. Ex.: {calça} > {calça} + {-ão} > {calção}. 11.3.3 a derivação prefixal e sufixal é obtida pelo acréscimo sucessivo tanto de prefixos quanto de sufixos aos morfemas lexicais. Ex.: {leal} > {des-} + {leal} > {desleal} > {desleal} + {-dade} > {deslealdade}. 11.3.4 a derivação parassintética é obtida pelo acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo aos morfemas lexicais. Ex.: {tarde} > {en-} + {-tarde-} + {-ecer} > {entardecer}. Observa-se que não existem isoladamente nem {*entarde} nem {*tardecer}. 11.3.4.1 deve-se considerar, na derivação parassintética, a presença de um único morfema gramatical composto por dois segmentos de afixos descontínuos. Ex.: {en-}...{-ecer}; {a-}...{-ar}. 11.3.5 a derivação regressiva é um tipo de processo derivacional que, em vez de representar uma ampliação do vocábulo primitivo, representa uma redução deste vocábulo por meio da supressão de morfemas gramaticais. É o caso dos vocábulos deverbais, tais como {caçar} > {caça}; {falar} > {fala}. 11.3.6 a derivação imprópria é uma derivação vocabular obtida pela simples mudança da classe gramatical dos vocábulos (substantivo para adjetivo; adjetivo para advérbio etc.); trata-se, na verdade, de um processo sintático-semântico e não um processo estritamente morfológico. Ex.: {rosa} (substantivo) = «tipo de flor» > {rosa} (substantivo) = «tipo de cor» > {rosa} (adjetivo) = «que possui o tipo de cor dessa flor». 12. Processo de formação de vocábulos: a composição. 12.1 a composição consiste na criação de novos vocábulos pela combinação de outros vocábulos já existentes na língua, gerando com isso novos significados. 12.1.1 a composição por justaposição é um tipo de derivação na qual os vocábulos são combinados lado a lado, mantendo sua autonomia fonética — conservando fonemas e prosódias originais —, de modo a formarem um novo vocábulo com significado próprio. Pode-se empregar ou não o hífen na justaposição. Ex.: {passa} + {tempo} > {passatempo}; {pé} + {de} + {vento} > {pé-de-vento}. Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight Admin Highlight 12 12.1.2 a composição por aglutinação é um tipo de derivação na qual os vocábulos que se combinam fundem-se em um todo fonético que possui um único acento prosódico, produzindo-se a perda ou alteração de fonemas nesse processo. Ex.: {plano} + {alto} > {planalto}; {água} +{ardente} > {aguardente}. 12.1.2.1 sincronicamente, só é possível falar-se em aglutinação quando for possível a depreensão dos morfemas lexicais envolvidos no processo. Ex.: {agrícola} > {*agri-} + {-*cola} (?) [aqui, é impossível, sincronicamente, atribuir significado aos segmentos morfológicos depreendidos; portanto, não se pode falar em aglutinação: trata-se de um vocábulo primitivo]. 13. Processo de formação de vocábulos: abreviação. 13.1 a abreviação consiste no emprego de um fragmento de vocábulos em lugar dos vocábulos inteiros, sendo que a fragmentação pode evoluir até o limite de descaracterização do significado do vocábulo. Ex.: {automóvel} > {auto}; {limusine} > {limo}. 14. Processo de formação de vocábulos: reduplicação ou duplicação silábica. 14.1 a reduplicação consiste na repetição de fonemas e sílabas para a formação de novos vocábulos. Ex.: {José} > {Zé} > {Zezé}. 15. Processo de formação de vocábulos: siglas. 15.1 as siglas representam reduções em conjuntos de vocábulos e a extração de fonemas, em geral iniciais, que, reunidos, passam a formar um novo vocábulo. Ex.: {Partido dos trabalhadores} > {PT}. 15.2 tais siglas adquirem caráter de vocábulos primitivos e passam a sofrer os diversos processos de formação de novos vocábulos. Ex.: {PT} > {petista}. 16. Processo de formação de vocábulos: hibridização. 16.1 a hibridização consiste na produção de novos vocábulos através da combinação de vocábulos de sistemas lingüísticos diversos. As autoras consideram que o hibridismo constitui ou um caso de justaposição ou um caso de derivação, e não um processo à parte que seja sincronicamente válido. 17. "a definição deste ou daquele processo como formados de palavras depende da possibilidade de se decompor os vocábulos em menores unidades significativas operantes na língua atual.". 13 18. A flexão nominal em português: gênero e número. 18.1 o gênero nominal é indicado em português pela oposição entre uma forma gramatical feminina, marcada através do morfema {-a}, e uma forma gramatical masculina não marcada, indicada pelo morfema- zero {-}. Ex.: {peru-} vs {peru-a}; {cru-} vs {cru-a}. 18.2 o número nominal é indicado pela oposição entre uma forma gramatical plural, marcada através do morfema {-s}, e de uma forma gramatical singular não marcada, indicada pelo morfema-zero {-}. Ex.: {peru- } vs {peru-s}; {cru-} vs {cru-s}. 18.3 "enquanto o feminino e o plural apresentam marcas específicas -a e -s, respectivamente, o masculino e o singular apresentam diversas possibilidades de terminação, não constituindo, portanto, formas marcadas.". 19. Flexão de gênero. 19.1 esta flexão dá-se pelo acréscimo do morfema flexional átono final {-a} à forma masculina. 19.1.1 quando a forma masculina é atemática — isto é, não possui vogal temática (trata-se dos vocábulos terminados em consoantes e vogais tônicas) —, ocorre o acréscimo do morfema flexional {-a}. Ex.: {peru-} vs {peru-a}; {autor-} vs {autor-a}. 19.1.2 quando a forma masculina é temática — isto é, pertence aos vocábulos terminados em vogais temáticas nominais átonas {-a}; {-e}; {-o} —, suprime-se a vogal temática através de alteração morfofonêmica decorrente do acréscimo do morfema flexional {-a}. Ex.: {pombo-} vs {pomb-a}; {menino-} vs {menin-a}. 19.2 nem todos os vocábulos são marcados sob o ponto de vista genérico; há vocábulos nos quais existe apenas a raiz e a vogal temática, a qual indica a classe gramatical do vocábulo. Ex.: {casa}; {fonte}; {livro}. 19.2.1 embora desprovidos de marca flexional, tais vocábulos admitem anteposição de artigo que marca, explicitamente ou implicitamente, o gênero dos nomes substantivos. Ex.: "a casa";"a fonte"; "o livro". 19.2.2 o conceito gramatical de gênero não possui vínculo com o conceito referencial de sexo dos seres. 19.2.3 a distinção gramatical é feita, de fato, através da anteposição dos artigos: um vocábulo pertence ao gênero feminino se admite diante de si o artigo feminino; do mesmo modo, um vocábulo pertence ao gênero masculino se admite diante de si o artigo masculino. 14 19.3 freqüentemente, as gramáticas normativas não distinguem claramente a diferença entre o processo flexional e o processo derivacional / lexical. 19.3.1 um exemplo dessa confusão está em considerar-se a heteronímia dos radicais como um processo indicador de gênero gramatical ("mulher" seria o vocábulo feminino equivalente ao vocábulo masculino "homem" etc.). Na verdade, esses são vocábulos lexicalmente distintos que, tradicionalmente, têm sido utilizados para indicar a categoria de gênero. Os índices genéricos desses vocábulos são, na verdade, os adjuntos adnominais (artigos e adjetivos) que se ligam a eles. 19.3.2 "não cabe também falar em uma distinção de gênero expressa pelas palavras 'macho' e 'fêmea', não só porque o acréscimo não é obrigatório (podemos falar em cobra e tigre sem acrescentar os apostos), mas também porque o gênero não muda com a indicação precisa de sexo (continua-se a ter a cobra macho no feminino, como assinala o artigo "a" e o tigre fêmea no masculino, conforme indica o artigo "o")". 19.3.3 "desse modo, não procedem as designações de epiceno, sobrecomum, comum de dois, usadas pelas gramáticas tradicionais. Ao lado de palavras como 'a cobra', existem outras como 'a vítima', 'a criança', 'o indivíduo', 'o algoz', que pertencem respectivamente aos gêneros feminino e masculino. A importância do artigo na distinção do gênero é tão importante (sic) que só através dele, ou de outro determinante ou modificador, palavras como 'artista', 'colega', 'estudante', 'cliente', sem flexão, têm o gênero determinado [...].". 19.4 além da regra básica de flexão do gênero feminino — presença do morfema flexional aditivo {-a} em oposição ao morfema flexional zero {-} masculino —, há os casos de alomorfia ["Quando se dá o nome de 'morfema' à unidade significativa mínima, chamam-se 'alomorfes' às variantes desse morfema em função do contexto." DUBOIS, J. et alii. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 41, verbete 'alomorfe'.]. 19.4.1 morfema subtrativo: trata-se da redução do morfema lexical considerado masculino, através da supressão de fonemas finais. Ex.: {órfão} vs {órfã}; {mau} vs {má}. 19.4.2 alternância vocálica redundante: trata-se do acréscimo do morfema flexional feminino {-a} e, simultaneamente, de metafonia ["chama-se 'metafonia' a modificação do timbre de uma vogal sob a influência de uma vogal vizinha." DUBOIS, J. et alii. op. cit., p. 411, verbete 'metafonia'.] da vogal média posterior fechada tônica [ ]. Ex.: {formoso} + {-a} = {formosa}; {novo} + {-a} = {nova}. 19.4.3 alternância vocálica não-redundante: é a produção da forma lexical de gênero feminino através, exclusivamente, de metafonia, sem acréscimo do morfema flexional feminino {-a}. Ex.: {avô} > {avó}. 15 19.4.4 distinção de gênero sem flexão: são os casos em que o gênero de um vocábulo é indicado, exclusivamente, através do artigo. Ex.: "o artista" vs "a artista"; "o intérprete" vs "a intérprete". 19.5 há casos em que o gênero de um vocábulo é indicado pelo emprego de morfemas derivacionais femininos tais como {-isa}; {-essa}; {-esa} etc. Ex.: {diácono} > {diaconisa}; {abade} > {abadessa}; {freguês} > {freguesa}. 19.6 ocorre flexão de gênero marcada pelo acréscimo de um morfema derivacional diminutivo que, simultaneamente, indica a forma feminina. Ex.: {galo} > {galinha}. 19.7 flexão genérica dos vocábulos em {-eu}: nestes casos, a flexão feminina obtida pelo acréscimo do morfema flexional aditivo {-a} implica uma mudança morfofonêmica, com supressão da vogal assilábica e subseqüente ditongação. Ex.: {europeu} + {-a} > {*europeua} > {*europea} > {européia}. 19.8 a flexão genérico dos vocábulos em {-ão} pode apresentar os casos focalizados em seguida. 19.8.1 a flexão feminina pode-se dar através de morfema subtrativo. Ex.: {irmão} > {irmã}; {pagão} > {pagã}. 19.8.2 a flexão feminina pode-se dar através de morfemas aditivos; neste caso, ocorrem mudanças morfofonêmicas condicionadas: ou há a perda da vogal nasal do ditongo {-ão} (Ex.: {leão} + {-a} > {*leãoa} > {leoa}), ou há uma alteração no sufixo derivacional aumentativo masculino, através do acréscimo do morfema feminino {-a} (Ex.: {valentão} + {-a} > {*valentãoa} > {valentona}). 20. Flexão de número. 20.1 esta flexão implica uma oposição entre a forma singular não marcada — morfema-zero {-} —, e a forma plural marcada através do morfema {-s}. 20.2 aplica-se este morfema, sem mudanças morfofonêmicas, aos vocábulos terminados, no singular, em vogais orais e nasais. Ex.: {pá} + {-s} > {pás}; {fã} + {-s} > {fãs}. 20.3 o mesmo ocorre em relação a vocábulos terminados em vogais nasais registradas pelo grafema "m". Ex.: {álbum} + {-s} > {álbuns}. 16 20.4 também não ocorrem mudanças morfofonêmicas em vocábulos terminados em ditongos orais, ditongos nasais átonos e alguns ditongos nasais tônicos. Ex.: {céu} + {-s} > {céus}; {véu} + {-s} > {véus}; {bênção} + {-s} > {bênçãos}; {irmão} + {-s} > {irmãos}; {cidadão} + {-s} > {cidadãos}. 20.5 certo número de vocábulos paroxítonos e oxítonos formam o plural pelo acréscimo do morfema {-s}, sem mudanças morfofonêmicas. Ex.: {sótão} + {-s} > {sótãos}; {cristão} + {-s} > {cristãos}. 20.6 a maior parte dos vocábulos em {-ão}, inclusive os aumentativos, recebem o morfema {-s} e sofrem mudança morfofonêmica da vogal e semivogal. Ex.: {balão} + {-s} > {balões}; {ladrão} + {-s} > {ladrões}. 20.7 um pequeno número de vocábulos em {-ão} recebem o morfema {-s} e sofrem alternância na semivogal “o” do ditongo. Ex.: {alemão} + {-s} > {alemães}; {capelão} + {-s} > {capelães}. 20.8 para os vocábulos em {-ão}, o uso corrente manifesta, atualmente, uma preferência pelos plurais em {- ões}. Embora não haja, para alguns desses vocábulos, uma forma plural definitivamente fixada, as formas alternativas não são, sincronicamente, utilizadas em igual freqüência. Algumas formas plurais não são empregadas usualmente e aparecem registradas nas gramáticas, de fato, apenas por razões diacrônicas. 20.9 ocorrem mudanças morfofonêmicas na flexão numérica de certos vocábulos, os quais exigem a presença de determinados alomorfes do morfema básico {-s}, por um processo de mudança condicionada. 20.9.1 vocábulos terminados no singular em {-s} (precedido de vogal tônica); {-r}; {-z}; {-n} formam o plural pelo acréscimo do alomorfe {-es}. Ex.: {país} + {-es} > {países}; {flor} + {-es} > {flores}; {vez} + {-es} > {vezes}; {cânon} + {-es} > {cânones}. 20.9.2 ocorre alomorfia também nos vocábulos terminados em {-l} precedido de vogal que não seja {-i-}; nestes casos, dá-se a queda do {-l} final e a ditongação através do alomorfe {-is}. Ex.: {azul} + {-is} > {azuis}; {lençol} + {-is} > {lençóis}. 20.9.3 nos vocábulos terminados em {-l} precedido de vogal {-i-}, dá-se a queda do {-l} e ocorrem mudanças morfofonêmicas de acordo com a tonicidade dessa vogal: se esta for tônica, ocorre crase dos fonemas ; se esta for átona, ocorre dissimilação regressiva ( o {-i-} passa a {-e-}) ["chama-se 'dissimilação' toda mudança fonética que tem como finalidade acentuar ou criar diferença entre dois fonemas vizinhos [...]. Na maioria das vezes, o que se pretendeé evitar uma repetição incômoda entre dois fonemas idênticos." DUBOIS, J. et alii. op. cit., p. 198, verbete 'dissimilação'.]. Ex.: {fuzil} + {-is} > {*fuziis} > {fuzis}; {fóssil} + {-is} > {*fóssiis} > {fósseis}. 17 20.9.4 outro caso de alomorfia foneticamente condicionada verifica-se com os vocábulos terminados em {-x} e {-s} que, quando precedidos de vogal átona, não sofrem variação na indicação gramatical de número. Ex.: "o tórax" vs "os tórax"; "a cútis" vs "as cútis". São casos de alomorfes-zero ou morfemas latentes, nos quais a oposição entre singular e plural só pode percebida pelo contexto lingüístico. Ex.: "este/estes tórax está/estão saudável/saudáveis". 20.10 há vocábulos que, possuindo a vogal média posterior tônica , ao receberem o morfema flexional {-s} mudam esta vogal fechada para o fonema aberto correspondente . Trata-se de uma marca redundante de plural, uma vez que há a presença do morfema característico {-s}. Ex.: {corpo} + {-s} > {corpos}; {morto} + {- s} > {mortos}. 20.11 os sufixos diminutivos {-zinho} e {-zito} impõem a pluralização tanto do vocábulo primitivo quanto do vocábulo derivado. Ex.: {fogão} + {-es} > {fogões} + {-zinho} + {-s} > {fogõezinhos}; {anel} + {-is} > {anéis} + {- zito} + {-s} > {anéizitos}. 21. As noções implicadas na flexão verbal. 21.1 há uma variedade de noções gramaticais expressas pelas flexões verbais em português, através dos diversos morfemas modo-temporais e número-pessoais. 21.1.1 a noção de 'tempo' refere-se ao momento em que ocorre o processo expresso pelo morfema lexical verbal. Há três tempos naturais em português: o presente, que expressa uma fato que ocorre no momento do ato de fala atual; o passado (pretérito), que expressa um fato que ocorreu em um momento anterior ao ato de fala atual; o futuro, que expressa um fato que ocorrerá em um momento posterior ao ato de fala atual. 21.1.2 a noção de 'modo' refere-se à atitude ou ponto de vista do falante em relação ao processo verbal expresso pelo morfema lexical verbal. Há três modos em português: o indicativo, que expressa um fato de maneira definida, real e concreta; o subjuntivo, que expressa um fato incerto, duvidoso, eventual ou irreal; o imperativo, que expressa ordem, conselho, exortação, súplica ou pedido. 21.1.3 a noção de 'número' refere-se aos conceitos gramaticais de singular (um só elemento considerado) e plural (mais de um elemento considerado), aplicados às pessoas gramaticais. 21.1.4 a noção de 'pessoa' refere-se às pessoas gramaticais envolvidas no processo expresso pelo morfema lexical verbal. Há três noções pessoais básicas: a primeira pessoa (a pessoa que fala); a segunda pessoa (a pessoa a quem se fala); a terceira pessoa (a pessoa de quem se fala). 18 21.1.5 a noção de 'aspecto' refere-se à duração ou extensão do processo verbal expresso pelo morfema lexical verbal. O português distribui suas formas verbais em função da noção de tempo; no passado, contudo, guardou-se a oposição latina entre o aspecto perfeito — processo verbal concluído —, e aspecto imperfeito — processo verbal ainda não concluído. 21.2 o modo indicativo exprime uma atitude de relativa certeza do falante perante o processo verbal que enuncia, ou seja, expressa uma fato de modo definido, real, concreto. Distribui-se ao longo das noções temporais de presente, passado e futuro. 21.2.1 o indicativo presente exprime um processo verbal simultâneo ao ato de fala ou um ato costumeiro e habitual. Expressa também o passado (presente histórico) e o futuro. Ex.: "César invade a Gália". O presente dos verbos regulares é obtido adicionando-se ao radical verbal os seguintes morfemas: a) 1ª conjugação: {- o; -as; -a; -amos; -ais; -am}; b) 2ª conjugação: {-o; -es; -e; -emos; -eis; -em}; c) 3ª conjugação: {-o; -es; -e; - imos; -is; -em}. 21.2.2 o indicativo passado ou pretérito do indicativo exprime um processo verbal anterior ao ato de fala. 21.2.2.1 o pretérito imperfeito expressa um processo passado com duração no tempo, indicando concomitância ou habitualidade; indica também fatos passados e concebidos como contínuos ou permanentes. Ex.: "César invadia a Gália". O imperfeito dos verbos regulares é obtido adicionando-se ao radical verbal os seguintes morfemas: a) 1ª conjugação: {-ava; -avas; -ava; -ávamos; -áveis; -avam}; b) 2ª e 3ª conjugações: {-ia; -ias; -ia; -íamos; -íeis; -iam}. 21.2.2.2 o pretérito perfeito expressa um processo que se iniciou no passado e foi totalmente concluído, sem qualquer permanência no tempo atual. Ex.: "César invadiu a Gália". O perfeito dos verbos regulares é obtido adicionando-se ao radical verbal os seguintes morfemas: a) 1ª conjugação: {-ei; -aste; -ou; -amos; -astes; - aram}; b) 2ª conjugação: {-i; -este; -eu; -emos; -estes; -eram}; c) 3ª conjugação: {-i; -iste; -iu; -imos; -istes; - iram}. 21.2.2.3 o pretérito mais-que-perfeito expressa um processo anterior a um processo verbal passado. Além disso, é empregado com valor optativo ou subjuntivo. Ex.: "César invadira a Gália". O mais-que-perfeito dos verbos regulares é obtido substituindo-se os morfemas {-aram; -eram; -iram} da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito simples pelos seguintes morfemas: {-ra; -ras; -ra; -ramos; -reis; -ram}. 21.2.3 o indicativo futuro apresenta-se como uma oposição complementar à oposição presente vs passado. 19 21.2.3.1 o futuro do presente exprime um processo verbal posterior ao ato de fala. Pode indicar também uma ação imperativa, dúvida ou probabilidade. Ex.: "César invadirá a Gália". O futuro do presente é obtido adicionando-se ao infinitivo pessoal os seguintes morfemas, para as três conjugações: {-ei; -ás; -á; - emos; -eis; -ão}. 21.2.3.2 o futuro do pretérito exprime um processo verbal posterior a um processo verbal passado. Além dessa função, pode expressar hipótese, probabilidade, incerteza e não-comprometimento do falante. Com valor de presente, expressa modéstia ou cerimônia. Ex.: "César invadiria a Gália". O futuro do pretérito simples é formado adicionando-se ao infinitivo impessoal os seguintes morfemas: {-ia; -ias; -ia; -íamos; -íeis; -iam}. 21.3 o modo subjuntivo exprime atitude de incerteza, possibilidade ou dúvida, isto é, uma maior subjetividade do falante ao expressar o ato verbal. Portanto, expressa um fato incerto, duvidoso, eventual ou irreal, que depende de uma série de circunstâncias para tornar-se concreto e efetivo. Além disso, assinala desejo ou expectativa em relação à realização do ato verbal. Em relação ao indicativo, o subjuntivo representa muito mais uma variação de modo e não exatamente uma variação de tempo. Ex.: "Que César invada a Gália". / "Se César invadisse a Gália". / "Quando César invadir a Gália". 21.3.1 o presente do subjuntivo pode indicar presente ou futuro, segundo o conteúdo semântico do verbo. Ex.: "Espera-se que César invada a Gália" (futuro); "É certo que César esteja no comando" (presente). O presente do subjuntivo é formado pela supressão do morfema {-o} da primeira pessoa do singular do presente do indicativo pelos seguintes morfemas: a) 1ª conjugação: {-e; -es; -e; -emos; -eis; -em}; b) 2ª e 3ª conjugações: {-a; -as; -a; -amos; -ais; -am}. 21.3.2 o pretérito imperfeito do subjuntivo indica ação simultânea ou futura em relação ao tempo do verbo da oração principal. Ex.: "Duvidaram que César invadisse a Gália". O imperfeito do subjuntivo é formado pela substituição dos morfemas {-ram} da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo pelos morfemas {-sse; -sses; -sse; -ssemos; -sseis; -ssem}. 21.3.3 o futuro simples do subjuntivo indica eventualidadeno futuro, em relação ao verbo da oração principal. Ex.: "César pode vencer se quiser". O futuro simples do subjuntivo é formado pela substituição dos morfemas {-ram} da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito simples do indicativo pelos morfemas {-r; - res; -r; -rmos; -rdes; -rem}. 21.4 o modo imperativo expressa atitude de ordem, solicitação ou súplica. Ex.: "César, invade a Gália". / "Romanos, invadi a Gália". 20 21.4.1 o imperativo afirmativo é formado pela supressão do morfema {-s} das segundas pessoas verbais do presente do indicativo. Ex.: {lutas} - {-s} > {luta} / {lutais} - {-s} > {lutai}. 21.4.2 o imperativo negativo é formado pelas mesmas desinências do presente do subjuntivo, acrescentando-se o advérbio de negação antes da forma verbal. Ex.: {lutes} > {não} {lutes}; {luteis} > {não} {luteis}. 21.4.3 as flexões verbais do imperativo expressam essencialmente a modalidade; o tempo do imperativo, embora enunciado através do presente, tem valor de futuro, referente a uma ação ou fato a ser ainda realizado. 21.4.3 ao expressar modalidade e tempo futuro conjuntamente, o imperativo não expressa a noção verbal de aspecto (não indica nem um processo perfeito nem um processo imperfeito). 21.5 as formas nominais dos verbos — infinitivo; gerúndio e particípio — têm em comum o fato de não expressarem, por si mesmas, nem tempo nem modo: trata-se apenas de uma oposição de aspecto. 21.5.1 o infinitivo é a forma mais indefinida do verbo e é neutra sob o ponto de vista aspectual (não expressa nem o perfeito nem o imperfeito); refere-se apenas ao processo verbal em si, enquanto potencialidade de ação. Possui valor de substantivo. Ex.: "Invadir a Gália". O infinitivo pessoal simples é formado pela adição, ao infinitivo impessoal, dos morfemas {-; -es; -; -mos; -des; -em}. 21.5.2 o gerúndio marca o aspecto imperfeito de um processo verbal em desenvolvimento. Possui valor de advérbio ou de adjetivo. Ex.: "César invadindo a Gália". É formado pela substituição do morfema {-r} do infinitivo impessoal pelo morfema {-ndo}. 21.5.3 o particípio marca o aspecto perfeito de um processo verbal já concluído. Possui valor de advérbio ou de adjetivo. Ex.: "A Gália invadida". É formado pela substituição do morfema {-r} do infinitivo impessoal pelo morfema {-do}. 22. O padrão geral do vocábulo verbal em português. 22.1 as categorias modo-temporais e número-pessoais são indicadas por meio de morfemas gramaticais (gramemas) ou desinências flexionais verbais, que são indicadas pela sigla DF. 22.2 as desinências modo-temporais são indicadas pela sigla DMT, e as desinências número-pessoais são indicadas pela sigla DNP. 21 22.3 tais desinências unem-se ao tema, indicado pela sigla T, que é formado pelo radical ou morfema lexical, indicado pela sigla R, agregado à vogal temática da conjugação específica, indicada pela sigla VT. Com esses elementos, obtém-se a fórmula do vocábulo verbal em português: T ( R + VT ) + DF ( DMT + DNP ) CANT- -A- -RE-- -MOS 22.3.1 tanto o radical — morfema lexical que apresenta a significação básica do verbo — quanto os demais elementos verbais (vogal temática e desinências) podem sofrer alterações formais influenciadas por razões de ordem morfofonêmica; nesses casos, surgem alomorfes e até mesmo a ausência de morfemas (morfema- zero). 23. Desinências modo-temporais em português. 23.1 o seguinte quadro apresenta o conjunto de desinências modo-temporais do português: modo-tempo DMT pessoas gramaticais conjugação verbal singular plural I II III presente do indicativo - 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 2ª; 3ª X X X pretérito imperfeito do indicativo -va 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 3ª X -ve 2ª X -ia 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 3ª X X -ie 2ª X X pretérito perfeito do indicativo - 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 2ª X X X -ra 3ª X X X pretérito mais-que-perfeito do indicativo -ra 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 3ª X X X -re 2ª X X X futuro do presente do indicativo -re 1ª 1ª; 2ª X X X -ra / -rã 2ª; 3ª 3ª X X X futuro do pretérito do indicativo -ria 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 3ª X X X -rie 2ª X X X subjuntivo presente -e 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 2ª; 3ª X -a 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 2ª; 3ª X X subjuntivo pretérito -sse 1ª; 2ª; 3ª 1ª; 2ª; 3ª X X X subjuntivo futuro -r 1ª; 3ª 1ª; 2ª X X X -re 2ª 3º X X X formas verbais nominais infinitivo -r X X X gerúndio -ndo X X X 22 particípio -do X X X 24. Desinências número-pessoais em português. 24.1 o seguinte quadro apresenta o conjunto de desinências número pessoais do português: pessoas gramaticais DNP tempos verbais 1º pessoa do singular -o (átono) presente do indicativo -i (semivocálico) pretérito perfeito do indicativo -i (semivocálico) futuro do presente do indicativo - demais tempos 2ª pessoa do singular -ste pretérito perfeito do indicativo - imperativo afirmativo -s demais tempos 3ª pessoa do singular -u (assilábico) pretérito perfeito do indicativo - demais tempos 1ª pessoa do plural -mos todos os tempos 2ª pessoa do plural -stes pretérito perfeito do indicativo -des subjuntivo futuro -i (assilábico) imperativo afirmativo -is demais tempos 3ª pessoa do plural -o (semivocálico) futuro do presente do indicativo -m demais tempos 25. Alterações no radical ou morfema lexical verbal. 25.1 os verbos ditos regulares conservam o radical invariável ao longo da conjugação, flexionando-se apenas as desinências. A vogal tônica do radical pode, em circunstâncias específicas, sofrer metafonia — fato considerado morfologicamente regular. 25.2 na primeira conjugação verbal (verbos de vogal temática {-a-}), as vogais abertas formas rizotônicas, isto é, formas cujo acento tônico permanece na vogal do radical. Ex.: {levo}; {levas}; {leva}. As vogais fechadas e vogal temática ( Ex.: {levamos}; {levais}) ou incide sobre a vogal da desinência flexional (EX.: {levarei}; {levaria}). 25.3 alguns verbos da primeira conjugação em {-ear} e {-iar} sofrem ditongação na sílaba tônica. Ex.: {passeio}; {passeias}; incendeio}; {incendeia}. 23 25.4 na segunda conjugação verbal, há alternâncias entre as vogais ; e são vogais tônicas do radical. Ex.: {bebo}; {bebes}; {bebe}; {bebem}; {corro}; {corres}; {corre}; {correm}. 25.5 na terceira conjugação verbal, há alternâncias entre as vogais ; vogais são vogais tônicas do radical. {firo}; {feres}; {fere}; {ferem}; {durmo}; {dormes}; {dorme}; {dormem}. 26. Vogal temática. 26.1 a vogal temática em geral é tônica; em um número menor de ocorrências, ela é átona ou então é substituída pelo alomorfe-zero {--}. 26.1.1 o alomorfe-zero da vogal temática é condicionado morfofonemicamente: os acréscimos da desinência número-pessoal {-o} (indicativo presente) e a desinência modo-temporal {-e-} (subjuntivo presente) induzem à supressão da vogal temática átona. Ex.: {canta} + {-o} > {*cantao} > {canto}; {canta} + {-e} > {*cantae} > {cante}. 26.1.2 a vogal temática possui alomorfes na primeira conjugação: {-a-}; {-e-}; {-o-}. Ex.: {cantei}; {cantou}. 26.1.3 na segunda e terceira conjugações, a vogal temática é substituída pelo morfema-zero {--} em certas pessoas do pretérito do indicativo. Ex.: {bebe}+ {-i} > {*bebei} > {bebi}. 27. Presença ou ausência dos componentes do vocábulo verbal em português. 27.1 com exceção do radical, tanto a vogal temática quanto as desinências flexionais podem, ao longo das diversas flexões verbais, ser substituídas pelo morfema-zero {--}. Ex.: RVT DMT DNP am- -a- -va- - am- -a- -- -mos am- -a- -- - am- -- -e- -s 28. Quadros de flexões verbais segundo as três conjugações. PRIMEIRA CONJUGAÇÃO: VOGAL TEMÁTICA {-A-} presente do indicativo pretérito imperfeito do indicativo pretérito perfeito do indicativo 24 R VT DMT DNP R VT DMT DNP R VT DMT DNP and (a) o and a va and e i and a s and a va s and a ste and a and a va and o u and a mos and á va mos and a mos and a is and á ve is and a stes and a m and a va m and a ra m pretérito mais-que-perfeito do indicativo futuro do presente do indicativo futuro do pretérito do indicativo and a ra and a re i and a ria and a ra s and a rá s and a ria s and a ra and a rá and a ria and á ra mos and a re mos and a ría mos and á re is and a re is and a ríe is and a ra m and a rã o and a ria m presente do subjuntivo pretérito do subjuntivo futuro do subjuntivo and (a) e and a sse and a r and (a) e s and a sse s and a re s and (a) e and a sse and a r and (a) e mos and á sse mos and a r mos and (a) e is and á sse is and a r des and (a) e m and a sse m and a re m imperativo afirmativo imperativo negativo and a and (a) e s and (a) e and (a) e and (a) e mos and (a) e mos and a i and (a) e is and (a) e m and (a) e m FORMAS NOMINAIS infinitivo gerúndio particípio and a r and a ndo and a do SEGUNDA CONJUGAÇÃO: VOGAL TEMÁTICA {-E-} presente do indicativo pretérito imperfeito do indicativo pretérito perfeito do indicativo R VT DMT DNP R VT DMT DNP R VT DMT DNP vend (e) o vend (e) ia vend (e) i vend e s vend (e) ia s vend e ste vend e vend (e) ia vend e u vend e mos vend (e) ía mos vend e mos vend e is vend (e) íe is vend e stes vend e m vend (e) ia m vend e ra m 25 pretérito mais-que-perfeito do indicativo futuro do presente do indicativo futuro do pretérito do indicativo vend e ra vend e re i vend e ria vend e ra s vend e rá s vend e ria s vend e ra vend e rá vend e ria vend ê ra mos vend e re mos vend e ría mos vend ê re is vend e re is vend e ríe is vend e ra m vend e rã o vend e ria m presente do subjuntivo pretérito do subjuntivo futuro do subjuntivo vend (e) a vend e sse vend e r vend (e) a s vend e sse s vend e re s vend (e) a vend e sse vend e r vend (e) a mos vend ê sse mos vend e r mos vend (e) a is vend ê sse is vend e r des vend (e) a m vend e sse m vend e re m imperativo afirmativo imperativo negativo vend e vend (e) a s vend (e) a vend (e) a vend (e) a mos vend (e) a mos vend e i vend (e) a is vend (e) a m vend (e) a m FORMAS NOMINAIS infinitivo gerúndio particípio vend e r vend e ndo vend (e)i do TERCEIRA CONJUGAÇÃO: VOGAL TEMÁTICA {-I-} presente do indicativo pretérito imperfeito do indicativo pretérito perfeito do indicativo R VT DMT DNP R VT DMT DNP R VT DMT DNP part (i) o part (i) ia part (i) i part e s part (i) ia s part i ste part e part (i) ia part i u part i mos part (i) ía mos part i mos part (i) is part (i) íe is part i stes part e m part (i) ia m part i ra m pretérito mais-que-perfeito do indicativo futuro do presente do indicativo futuro do pretérito do indicativo part i ra part i re i part i ria part i ra s part i rá s part i ria s part i ra part i rá part i ria part í ra mos part i re mos part i ría mos part í re is part i re is part i ríe is part i ra m part i rã o part i ria m 26 presente do subjuntivo pretérito do subjuntivo futuro do subjuntivo part (i) a part i sse part i r part (i) a s part i sse s part i re s part (i) a part i sse part i r part (i) a mos part í sse mos part i r mos part (i) a is part í sse is part i r des part (i) a m part í sse m part i re m imperativo afirmativo imperativo negativo part e part (i) a s part (i) a part (i) a part (i) a mos part (i) a mos part (i) i part (i) a is part (i) a m part (i) a m FORMAS NOMINAIS infinitivo gerúndio particípio part i r part i ndo part i do 29. Padrões morfológicos verbais especiais. 29.1 existem desvios de constituição morfológica em certos verbos; tais ocorrências podem, porém, ser explicitadas e padronizadas. Para compreender a ocorrência de verbos denominados "irregulares" pelas gramáticas normativas, importa observar a relação entre tempos primitivos e tempos derivados, apresentada na tabela abaixo. tempos primitivos tempos derivados dos tempos primitivos 1ª p. s. ind. presente "amo" todas as pessoas do subjuntivo presente, mediante alterações nas desinências ( {-o} {-e} e {-o} {-a}) amo > ame; digo > diga 2ª p. s. ind. presente "amas" 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo, mediante supressão do {-s} final amas > ama; dizes > dize 2ª p. pl. ind. presente "amais" 2ª pessoa do plural do imperativo afirmativo, mediante supressão do {-s} final amais > amai; dizeis > dizei 3ª p. pl. pret. perf. simples "amaram" mais-que-perfeito do indicativo, mediante supressão do {-m} final, seguida pelas DNP amaram > amara; disseram > dissera futuro do subjuntivo, mediante supressão dos morfemas {-am}, seguida das DNP amaram > amar; disseram > disser imperfeito do subjuntivo, mediante troca dos morfemas {-ram} por {-sse} seguido das DNP amaram > amassem; disseram > dissesse 27 infinitivo presente impessoal "amar" imperfeito do indicativo, mediante permuta de morfemas: {-ar} por {-ava}; {-er} / {-ir} por {-ia} amar > amava; disser > dizia; partir > partia futuro do presente do indicativo, mediante acréscimo de {-ei} amar > amarei futuro do pretérito do indicativo, mediante acréscimo de {-ia} amar > amaria infinitivo pessoal, mediante acréscimo dos morfemas número-pessoais {-}; {-es}; {-}; {-mos}; {-des}; {-em} amar; amares; amar; amarmos; amardes; amarem gerúndio, mediante permuta do morfema {-r} pelo morfema {-ndo} amar > amando particípio, mediante permuta do morfema {-r} pelo morfema {-do} amar > amado 29.2 as irregularidades verbais nas formas primitivas tendem a ser projetadas para as formas derivadas correspondentes; os desvios em relação aos padrões morfológicos podem representar variações nas desinências flexionais (DMT e DNP) ou em variações no morfema lexical ou radical (R). 29.3 tais variações no radical passam a constituir uma contribuição semântica suplementar às noções de tempo, modo e pessoa. 29.4 certas alternâncias vocálicas no radical do indicativo presente de formas rizotônicas da segunda e terceira conjugações, e ditongações no radical desse mesmo tempo, presentes em formas rizotônicas de certos verbos como "passear", "odiar", "nomear", são alterações fonologicamente condicionadas e não irregularidades no plano morfológico. 29.5 as principais irregularidades verbais localizam-se: a) na flexão; b) no radical do pretérito perfeito do indicativo; c) no radical do presente do indicativo; d) no futuro do presente; e) no particípio; f) na ocorrência dos denominados "verbos anômalos". 29.6 irregularidades na flexão. 29.6.1 radicais monossilábicos terminados em {-e} na segunda conjugação e em {-i} na terceira conjugação apresentam, na segunda pessoa do plural do indicativo presente a DNP {-des} e, em conseqüência, a desinência{-de} no segunda pessoa do plural do imperativo afirmativo (Ex.: credes; ledes; vedes; rides). O mesmo fato acontece em verbos cujo radical monossilábico termina em fonema nasal (tendes; vindes; pondes). 29.6.2 os radicais terminados em {-r} e {-z} não apresentam vogal temática na terceira pessoa do presente do indicativo. Ex.: querer quer; fazer faz; dizer diz. 29.7 irregularidades no tema do indicativo perfeito. 28 29.7.1 o verbo "dar" apresenta mudança da vogal temática {-a-} para {-e-} — — na segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo e nas formas derivadas desse tempo. Ex.: deste; dera; desse; der. Na primeira e terceira pessoas do singular ocorre mudança da vogal temática {-a-} para {-e-}, que permanece fechado — . Ex.:dei; deu. 29.7.2 a vogal temática {-e-} da segunda conjugação passa para {-i-} em alguns verbos como ver viste; querer quiseste. O mesmo ocorre nas formas derivadas desse tempo: vira; visse; vir; quisera; quisesse; quiser. 29.7.3 os verbos com a primeira e terceira pessoas do singular do pretérito perfeito do indicativo como formas rizotônicas, sem sufixo flexional, podem apresentar alternância vocálica na raiz, com vogal { -i} ou {-u} na primeira pessoa e vogal fechada correspondente — {-e} ou {-o}; nesses casos, ocorre a oposição entre a primeira e a terceira pessoas do singular. Ex.: fiz - fez; tive - teve; estive - esteve; pus - pôs; fui - foi; pude - pôde. 29.7.4 há verbos cujo perfeito do indicativo trazem o ditongo "ou" em seus radicais. Ex.: coubeste; soubeste; trouxeste; houveste. Tal ditongação passa para as formas derivadas do pretérito perfeito. Ex.: coubera; coubesse; couber. 29.7.5 o verbo "vir", com a primeira pessoa do singular do perfeito do indicativo atemática2 e vogal final tônica nasal (vim), perde a vogal nasal nas formas arrizotônicas diante da vogal temática {-e-} aberta — . Ex.: vim; vieste; viemos; viestes; vieram. Na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito deste verbo — veio — ocorre alternância vocálica, de {-i-} para {-e-} fechado — —, seguido de {-o} (irregularidade frente à DNP {-u} assilábica considerada alomorfe usual); em seguida, há a ditongação. Ex.: veio. 29.8 irregularidades no tema do indicativo presente. 29.8.1 mudança da consoante final do radical na primeira pessoa do singular do indicativo presente. Ex.: valer valho; perder perco; pedir peço; medir meço; ouvir ouço; fazer faço; trazer trago; dizer digo; poder posso. As mesmas mudanças ocorrerão no subjuntivo presente e nas formas do imperativo derivadas do subjuntivo. 29.8.2 ditongação na sílaba do radical: de {-e-} aberto — — para {-ei} (Ex.; requerer requeiro); e de {- a-} para {-ai-} (Ex.: caber caibo). 2 atemático = radical verbal que termina por uma consoante ou semivogal e não por uma vogal temática acrescentada à raiz; verbo temático = verbo cuja raiz é seguida por uma vogal temática que precede as desinências verbais. 29 29.8.3 acréscimo de consoante final ao tema. Ex.: ver vejo. 29.8.4 radicais monossilábicos atemáticos, terminados em vogal tônica nasal (Ex.: tens; vens; pões) apresentam a seguinte variação: a) na primeira pessoa do singular, a nasalidade da vogal tônica final transforma-se em palatalidade (Ex.: tenho; venho; ponho); tal variação passa para o subjuntivo presente (Ex.: tenha; venha; ponha); b) no pretérito imperfeito do indicativo, conserva-se a palatalidade (Ex.: tinha; vinha; punha); perde-se a nasalidade da vogal tônica final no infinitivo, futuro do presente e futuro do pretérito do indicativo (Ex.: ter; terei; teria; vir; virei; viria; pôr; porei; poria); conserva-se a vogal tônica nasal final do radical (Ex.: tendo; vendo; pondo). 29.9 irregularidades no futuro. 29.9.1 os verbos "dizer", "fazer" e "trazer" apresentam irregularidades no futuro do presente e futuro do pretérito do indicativo, enquanto os tempos derivados da segunda pessoa do singular do presente do indicativo são, em maioria, regulares. A irregularidade é a seguinte: síncope da sílaba final do tema, antes do acréscimo das DMT e DNP. Ex.: di(ze)rei; fa(ze)rei; tra(ze)rei; di(ze)ria; fa(ze)ria; tra(ze)ria. 29.10 verbos com padrão especial no particípio. 29.10.1 o particípio regular em português é formado mediante permuta do morfema {-r} pelo morfema {-do} sobre o tema do infinitivo verbal. Há verbos que possuem, ao lado do particípio regular, um ou mais particípios irregulares, reduzido em relação ao particípio regular e de terminação variável. Tais particípios irregulares provêm do latim, ou são substantivos terminados em {-to}, {-te} e {-so} que passaram a ser empregados como verbo, ou então constituem particípios criados por analogia a modelos preexistentes. Ex.: aceitado - aceito - aceite; entregado - entregue; expulsado - expulso; gastado - gasto; salvado - salvo; tingido - tinto. 29.10.2 como regra geral, usa-se o particípio regular com os verbos "ter" e "haver", formando a voz passiva; usam-se os particípios irregulares com os verbos "ser" e "estar", na voz ativa. Ex.: "A guerra tem matado multidões." "Multidões são mortas pela guerra.". 29.11 verbos anômalos. 29.11.1 são verbos que, além de possuírem irregularidades no radical, possuem radicais supletivos, isto é, formas derivadas do infinitivo ou do presente do indicativo que não apresentam radical permanente. 29.11.2 no verbo "ser", há os seguintes radicais e respectivos alomorfes: a) {e-} (), com um alomorfe {er-}; b) {se-}, com os alomorfes {sej-}; {so-} e {sa-}; c) {fu-}, com o alomorfe {fo-}. 29.11.3 no verbo "ir", um radical básico {i-} alterna com {va-}, ao longo da conjugação desse verbo. ##########
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