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Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva SSUUMMÁÁRRIIOO Biomas brasileiros 01 Introdução 02 Amazônia 03 Introdução 04 Desmatamento 05 Elementos que compõem o bioma 07 Fauna 07 Vegetação 08 Solo 08 Relevo 09 Água 09 Clima 10 Unidade de conservação existente no Bioma 11 Atividades importantes no município 11 Experiências de ecoturismo no Bioma 12 Caatinga 13 Introdução 14 Localização 15 Caracterização 15 Clima e Hidrologia 16 Geologia, Relevo e Solos 18 Vegetação 20 Fauna 21 Curiosidade 22 Importância Econômica 22 Uso Sustentável Integrado da Biodiversidade 24 Cerrado 29 Introdução 30 Solo 30 Clima 31 Topografia 31 Hidrografia 32 Vegetação 32 Recursos Naturais de Importância Econômica 33 Paisagens fortemente Antropizadas 33 Mata Atlântica 35 Introdução 36 Características 39 Flora 42 Fauna 44 A Mata Atlântica e sua Importância 46 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Exploração da Mata 48 Extinção 50 Unidades de Conservação 50 Pampas 53 Introdução 54 Solo 55 Clima 56 Topografia 56 Hidrografia 56 Cobertura Vegetal 57 Fauna 58 Bioma em Risco 58 Capincho é alternativa econômica 62 Considerações 63 Pantanal 64 Introdução 65 Geologia 67 Clima e Solo 68 Elementos da Paisagem 69 Vegetação 70 Hidrografia 73 Fauna 73 Flora 74 Ocupação e Atividades Econômicas 75 Pesca 76 Turismo 77 Mineração 78 Agricultura 78 Ameaças 79 Soluções e Projetos 81 Áreas Protegidas 82 Corredor Maracaju‐Negro 82 Projetos 83 Corredor Miranda‐Serra da Bodoquena 85 Projetos 87 Corredor de Biodiversidade Cuiabá–São Lourenço 87 Proteção de Espécies 90 Arara‐Azul 91 Onça‐Pintada 91 Conciliação de conservação e pecuária 93 Pecuária Orgânica 93 Artesanato 94 Referências Bibliográficas 96 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 1 BBIIOOMMAASS BBRRAASSIILLEEIIRROOSS Figura 1 ‐ Mapa dos Biomas Brasileiros Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Introdução Bioma é um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria. Mapa de Biomas: resultado da parceria entre IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e MMA (Ministério do Meio Ambiente), iniciada em agosto de 2003. O bioma Amazônia ocupa a totalidade de cinco unidades da federação (Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima), grande parte de Rondônia (98,8%), mais da metade de Mato Grosso (54%), além de parte de Maranhão (34%) e Tocantins (9%). O bioma Caatinga se estende pela totalidade do estado do Ceará (100%) e mais de metade da Bahia (54%), da Paraíba (92%), de Pernambuco (83%), do Piauí (63%) e do Rio Grande do Norte (95%), quase metade de Alagoas (48%) e Sergipe (49%), além de pequenas porções de Minas Gerais (2%) e do Maranhão (1%). O bioma Cerrado ocupa a totalidade do Distrito Federal, mais da metade dos estados de Goiás (97%), Maranhão (65%), Mato Grosso do Sul (61%), Minas Gerais (57%) e Tocantins (91%), além de porções de outros seis estados. O bioma Mata Atlântica ocupa inteiramente três estados ‐ Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina ‐ e 98% do Paraná, além de porções de outras 11 unidades da federação. O bioma Pampa se restringe ao Rio Grande do Sul e ocupa 63% do território do estado. O bioma Pantanal está presente em dois estados: ocupa 25% do Mato Grosso do Sul e 7% do Mato Grosso. 2 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 3 AAMMAAZZÔÔNNIIAA Figura 2 e 3 ‐ Amazônia CCAARRLLOOSS AALLBBEERRTTOO FFEERRNNAANNDDEESS Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Introdução A floresta amazônica é conhecida como abrigo da maior biodiversidade do mundo, pois nela podem ser encontradas milhares de espécies animais, vegetais e micro‐organismos. Além da variedade de seres biológicos, a região conta com muitos rios, os quais formam a maior reserva de água doce de superfície disponível no mundo. O clima que caracteriza a região é o equatorial úmido. Potencial de biodiversidade abrigado no bioma Amazônia explorando a fauna e flora, aspectos da vegetação, solo, águas e climas, abrangendo as características do bioma, quantidades de UC´s, Estados brasileiros que fazem parte, municípios significante, bem como, experiências de ecoturismo na região e culminando com a visão da equipe. Figura 4 ‐ Território do Bioma Amazônia O bioma Amazônia ocupa cerca de 40% do território nacional. Nele estão localizados os estados do Pará, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia e Roraima e algumas partes do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Também inclui terras de países próximos ao Brasil, como as Guianas, Suriname, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia. A área da Amazônia brasileira abrange 4.871.000Km2, apesar de sua riqueza de habitats e diversificada biodiversidade ainda há profundas lacunas de conhecimentos por parte do homem 4 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva sobre algumas espécies existentes no bioma de modo que o processo de conservação ambiental torna‐se um desafio. Duas linhas metodológicas presente para que haja a preservação na Amazônia, são: uma baseada na distribuição de espécies e outra com base nos ecossistemas. Desmatamento O processo é resultado de desmatamento, mudanças climáticas e queimadas. As queimadas têm acelerado o processo de formação de área de savana em região que compreende o Mato Grosso e sul do Pará. Cerca de 70% da área anteriormente coberta por floresta, e 91% da área desmatada desde 1970, é usada como pastagem. Além disso, o Brasil é atualmenteo segundo maior produtor global de soja (atrás apenas dos EUA), usada sobretudo como ração para animais. À medida que o preço da soja sobe, os produtores avançam para o norte, em direção às áreas ainda cobertas por floresta. Pela legislação brasileira, abrir áreas para cultivo é considerado "uso efetivo" da terra e é o primeiro passo para obter sua propriedade. Áreas já abertas valem 5 a 10 vezes mais que áreas florestadas e por isso são interessantes para proprietários que tem o objetivo de revendê‐las. Segundo Michael Williams, "O povo brasileiro sempre viu a Amazônia como uma propriedade comunal que pode ser livremente cortada, queimada e abandonada." A indústria da soja é a principal fonte de divisas para o Brasil, e as necessidades dos produtores de soja têm sido usados para validar muitos projetos controversos de infraestrutura de transportes na Amazônia. As duas primeiras rodovias, Belém‐Brasília (1958) e Cuiabá‐Porto Velho (1968), eram, até o fim da década de 1990, as duas únicas rodovias pavimentadas e transitáveis o ano inteiro na Amazônia Legal. Costuma‐se dizer que essas duas rodovias são o cerne de um ‘arco de desmatamento’". A rodovia Belém‐Brasília atraiu cerca de 2 milhões de colonizadores em seus 20 primeiros anos. O sucesso da rodovia Belém‐Brasília em dar acesso à Amazônia foi repetido com a construção de mais estradas para dar suporte à demanda por áreas ocupáveis. A conclusão da construção das estradas foi seguida por intenso povoamento das redondezas, com impactos para a floresta. Cientistas usando dados de satélites da NASA constataram que a ocupação por áreas de agricultura mecanizada tem tornado‐se, recentemente, 5 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva uma força significativa no desmatamento da Amazônia brasileira. Essa modificação do uso da terra pode alterar o clima da região e a capacidade da área de absorver dióxido de carbono. Pesquisadores descobriram que em 2003, então o ano com maiores índices de desmatamento, mais de 20% das florestas no Mato Grosso foram transformadas em área de cultivo. Isso sugere que a recente expansão agrícola na região contribui para o desmatamento. Em 2005, o preço da soja caiu mais de 25% e algumas áreas do Mato Grosso mostraram diminuição no desmatamento, embora a zona agrária central tenha continuado com o desmatamento. A taxa de desmatamento pode retornar aos altos níveis de 2008 à medida que a soja e outros produtos agrícolas voltam a se valorizar no mercado internacional. O Brasil tornou‐se um líder mundial na produção de grãos, incluindo a soja, que totalizam mais de um terço do PIB brasileiro. Isso sugere que as altas e baixas dos preços de grãos, carne e madeira. Figura 5 ‐ Mapa do desmatamento da Amazônia brasileira, divulgado em agosto de 2009 6 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 7 Elementos que compõem o Bioma Fauna Pesquisas indicam que na Amazônia existem cerca de trinta milhões de espécies animais. Dá para acreditar? E isso porque nem todas as espécies foram encontradas e estudadas pelos cientistas. Lá existem homens. alguns animais que ainda são desconhecidos pelos es. Mais de mil espécies de já foram Bom, mas uma coisa é certa: são muitos animais convivendo neste grande ecossistema. Talvez os mais famosos deles sejam os macacos. Eles são numerosos: coatás, guaribas, barrigudos... Uma infinidade de primatas pode ser encontrada nos galhos das árvores amazônicas. Além deles existem outros mamíferos característicos da região. São mamíferos terrestres, como onças, tamanduás, esquilos, e mamíferos aquáticos, como peixes‐boi e botos. Os répteis também têm território garantido. Em um passeio pela região podem ser vistos lagartos, jacarés, tartarugas e serpentes. Entre os anfíbios, existem variados tipos de rãs, sapos e pererecas. Uma grande coleção de peixes é outro fato digno de nota: nas águas amazônicas estão 85% das espécies de peixes de toda a América do Sul. Todos os anos milhares deles migram tentando encontrar locais adequados para reprodução e desova. É o que se chama Piracema. Outros seres ainda menores têm grande importância no equilíbrio deste ecossistema: os insetos. Eles são numerosos. Besouros, formigas, mariposas e vespas fazem parte do grupo que é maioria na fauna amazônica. Na terra, na água e no ar. Há grande variedade também de aves na floresta. Araras, papagaios, periquitos e tucanos colorem as copas das árvor aves catalogadas. Figura 6 ‐ Macaco guariba Figura 7 ‐ Tucano Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 8 Vegetação ção do bioma Amazônia se apresenta em três categorias: são constantes e se ndosas árvores, as de grande como a castanheira do Pará. os, cipós e usgos. A vitória mata. ge que se forma a partir da decomposição de folhas, frutos e animais mortos. Esta A vegeta Matas de várzea: São matas que sofrem com as constantes enchentes, partes delas estão localizadas em terras altas onde ocorre inundação apenas em determinado período do ano. Enquanto que nas regiões baixas as inundações assemelham as matas de igapó. Matas de terra firme: Estas se localizam em partes altas e por esse motivo não sofrem com as costumeiras enchentes, nestas estão localizadas as mais fro porte Matas de igapó: Localizada em locais baixos, sua vegetação se caracteriza por pequenos arbust m régia brasileira conhecida mundialmente é encontrada nesse tipo de Solo O solo da floresta amazônica é em ral bastante arenoso. Possui uma fina camada de nutrientes Figura 8 – Matas de várzea Figura 9 – Matas de terra firme Figura 10 – Matas de Igapó Figura 11 – Matas de Igapó Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 9 c é rica em húmus, matéria orgânica muito importante para algumas espécies de plantas da região. Em áreas desmatadas, as fortes chuvas "lavam" o solo, carregando seus nutrientes. É o 14% de todo o território amada chamado processo de lixiviação, que deixa os solos amazônicos ainda mais pobres. Apenas pode ser considerado rtil pa rar nutrientes para nriquecimento do solo. Trata‐se de uma constante reciclagem de nutrientes. Relevo as baixas) e ícies são constantemente inundadas pela gua do algumas serras, omo a alto que se encontra o Pico da Neblina, ponto mais lto do Brasil, com cerca de 3.015 metros. Água fé ra a agricultura. Mas se apenas essa pequena parte é fértil, como existem tantas árvores? Aqui está um dos pontos essenciais para o equilíbrio do ecossistema. Neste processo a camada de húmus tem um papel fundamental. Além disso, os poucos nutrientes presentes no solo são rapidamente absorvidos pelas raízes das árvores, e estas plantas, por sua vez, tornam a libe e Compõem o bioma Amazônia: planícies (terrenos com pouca variação de altitude), depressões (tipo de relevo aplainado, onde são encontradas colinplanaltos (terrenos com superfície elevada). As plan á s rios. Na região de planaltos existem c s de Taperapecó, Imeri e Parima. Ficam na Amazônia as formações de relevo mais baixa ‐ planície Amazônica ‐ e mais alta planalto das Guianas ‐ do país. É nesse plan a A água é um importante componente em um ecossistema. Isto porque a água é fundamental para a vida. No caso da floresta amazônica, a água doce é abundante: trata‐se da Figura 12 – Região da Amazônia em época de seca Figura 13 – Serra do Imeri Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 10 maior bacia hidrográfica do planeta. Seu principal rio é o Amazonas, que possui mais de mil afluentes (rios menores que nele deságuam), é o mais largo do mundo e grande responsável pelo ção da gua va o próprio Amazonas, têm a cor a água m água barrenta, desta forma prese . O mais conhecido águas pretas é o rio Negro. Clima o a ssas áreas podem ser mais ou menos adequadas à vida de determinados vegetais e animais. desenvolvimento da floresta. Os rios influenciam a vida dos animais e a vegetação do lugar. De forma geral, são classificados em três tipos: rios de águas barrentas, de águas claras e águas pretas. A colora á ria de acordo com determinadas substâncias que podem ser encontradas nos rios. Os chamados rios de águas barrentas, como o Madeira e d modificada por serem ricos em sedimentos e nutrientes. o o Xingu, o Tapajós e o Trombetas possuem muitos trechos de corredeiras e cachoeiras. Estes rios não banham tantos terrenos ricos em nutrientes como os de Os de águas claras, co a ntam água mais cristalina. Por fim, os rios de águas pretas são assim denominados por nascerem em terrenos de planície e carregarem a areia e o húmus que caracterizam o solo de tais terrenos. O húmus é o grande responsável pela cor escura das águas rio amazônico de Na região amazônica chove bastante e a temperatura é elevada, normalmente variando entre 22°C e 28°C. É chamado clima equatorial úmido, que caracteriza algumas áreas próximas à linha do Equador. De acordo com a intensid de das chuvas sobe o nível dos rios; com o aumento do nível dos rios algumas áreas podem ser alagadas e, uma vez alagadas, e Figura 14 – Rio Negro Figura 15 – Onça Pintada Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 11 Unidade de conservação existente no Bioma regiões ocupam áreas maiores de 0% do s gral; 77 unidades de conservação de as apresentando mais de 20% de suas áreas em unidades de ainda é insuficiente para garantir versidade de ecossistema existente no mesmo. es importantes no município ipe, possui imensas áreas amirauá e as populações tradicionais ajudam na preservação, estão em extinção são elas: Uacari‐de‐ abeça‐ ri negro. O bioma Amazônia é formado por 23 ecorregiões, onde os interflúvios são a principal causa de separação dessas ecorregiões, existindo uma grande variante em relação à porcentagem que cada ecorregião ocupa do bioma, onde apenas três ecor 1 bioma, enquanto que a maioria ocupa menos de 10%. Tratando‐se das unidades de conservação existentes no bioma, estima‐ e a existência de 51 unidades de conservação de proteção inte desenvolvimento sustentável e 259 terras indígenas. As 51 unidades de conservação integral existentes no bioma não são divididas de forma igual entre as ecorregiões que compõem o mesmo, seguindo tal forma de distribuição: Doze das 23 ecorregiões apresentam menos de 5% de sua extensão em unidades de conservação de proteção integral, cinco entre 5% a 20% de suas áreas em UC´s, três não apresentam nenhuma UC´s e somente três são privilegiad conservação de proteção integral. Desta forma contata‐se que o sistema de UC´s no bioma, a proteção da di Atividad Em 1996, Mamirauá, foi transformada em reserva de desenvolvimento sustentável é uma área de 1.124.000 hectares, corresponde a metade do estado do Serg florestais alagadas, se constituindo na maior área protegida de várzea. A reserva diferentemente dos parques nacionais incentivam a presença de moradores do local que servem como uma espécie de guardiões dentro da reserva. Algumas espécies de madeiras tropicais estão em M pesquisa e manejo da unidade. A reserva possui 300 espécies de peixes, 400 de aves, aproximadamente 45 espécies de mamíferos. Há uma espécie de mamífero‐macaco que está em extinção é o Uacari‐branco (Cacajão Calvus) que andam em bando aproximadamente, 50 criaturas, pesam quatro quilos, comem frutos imaturos e andam muitos quilômetros por dia. O Uacari‐branco é característico de mamirauá, contudo, as outras, três espécies também c vermelha, Uacari‐de‐cabeça‐preta, Uaca Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 12 Experiências de ecoturismo no Bioma ação ambiental, o ecoturismo comunitário e a produção integrada de istema ara a preservação do meio ambiente desenvolvimento econômico e integração da comunidade. Silves é um município do estado do Amazonas com sede administrativa em uma ilha fluvial do Urubu, tendo sua comunidade sentindo‐se ameaçada pela exploração predatória de recursos pesqueiros, por pescadores comerciais das grandes cidades, uniram‐se em uma organização não governamental, ASPAC, Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural, com objetivo de defesa, preservação e recuperação do meio ambiente, manejo de lagos, associada à educ s agro‐florestais. A ASPAC desenvolveu um projeto de ecoturismo em Silves, um projeto de Ecoturismo Comunitário na Amazônia Brasileira, buscou parcerias e conseguiram apoio técnico da WWF e financiamento do governo da Áustria. Criando a pousada ecológica Aldeia dos Lagos, que se tornou o primeiro empreendimento comunitário de ecoturismo da Amazônia, cuja renda foi revertida para a conservação do sistema de lagos de pesca da região e para melhorar a qualidade de vida dos ribeirinhos do município de Silves, pois, a implantação do ecoturismo de forma adequado pode contribuir p Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 13 CCAAAATTIINNGGAA Figura 16 e 17 ‐ Caatinga AANNTTÔÔNNIIOO AAPPAARREECCIIDDOO BBOORRGGEESS JJÚÚNNIIOORR Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Introdução A caatinga é uma formação vegetal que podemos encontrar na região do semi‐árido nordestino. Está presente também nas regiões extremo norte de Minas Gerais e sul dos estados do Maranhão e Piauí. O bioma Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste, estendendo‐se pelo domínio de climas semi‐áridos, numa área de 73.683.649 ha, 6,83% do território nacional; ocupa os estados da BA, CE, PI, PE, RN, PB, SE, AL, MA e MG. O termo Caatinga é originário do tupi‐guarani e significa mata branca. É um bioma único, pois, apesar de estar localizado em área de clima semi‐árido, apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. A ocorrênciade secas estacionais e periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas. A folhagem das plantas volta a brotar e fica verde nos curtos períodos de chuvas. A Caatinga é dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas – formações vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de altura), caducifólias (folhas que caem), com grande quantidade de plantas espinhosas (exemplo: leguminosas), entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas. Levantamentos sobre a fauna do domínio da Caatinga revelam a existência de 40 espécies de lagartos, sete espécies de anfibenídeos (espécies de lagartos sem pés), 45 espécies de serpentes, quatro de quelônios, uma de Crocodylia, 44 anfíbios anuros e uma de Gymnophiona. A Caatinga tem sido ocupada desde os tempos do Brasil ‐ Colônia com o regime de sesmarias e sistema de capitanias hereditárias, por meio de doações de terras, criando‐se condições para a concentração fundiária. De acordo com o IBGE, 27 milhões de pessoas vivem atualmente no polígono das secas. A extração de madeira, a monocultura da cana‐de‐açúcar e a pecuária nas grandes propriedades (latifúndios) deram origem à exploração econômica. Na região da Caatinga, ainda é praticada a agricultura de sequeiro. Os ecossistemas do bioma Caatinga encontram‐se bastante alterados, com a substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura vegetal, prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o equilíbrio do clima e do solo. Aproximadamente 80% dos ecossistemas originais já foram antropizados. 14 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Localização A caatinga ocupa uma área de 734.478 km2 e é o único bioma exclusivamente brasileiro. Isto significa que grande parte do patrimônio biológico dessa região não é encontrada em outro lugar do mundo além de no Nordeste do Brasil. A caatinga ocupa cerca de 7% do território brasileiro. Estende‐se pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais. A área total é de aproximadamente 1.100.000 km². Figura 18 ‐ Região da Caatinga Caracterização A caatinga tem uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos, em torno de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por exemplo, embora a média para anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, pode chegar a apenas 200 mm nos anos secos. A temperatura se situa entre 24 e 26 graus e varia pouco durante o ano. Além dessas condições climáticas rigorosas, a região das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca. As plantas da caatinga possuem adaptações ao clima, tais como folhas transformadas em espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules suculentos etc. Todas essas adaptações lhes 15 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva conferem um aspecto característico denominado xeromorfismo (do grego xeros, seco, e morphos, forma, aspecto). Duas adaptações importantes à vida das plantas nas caatingas são a queda das folhas na estação seca e a presença de sistemas de raízes bem desenvolvidos. A perda das folhas é uma adaptação para reduzir a perda de água por transpiração e raízes bem desenvolvidas aumentam a capacidade de obter água do solo. O mês do período seco é agosto e a temperatura do solo chega a 60ºC. O sol forte acelera a evaporação da água das lagoas e rios que, nos trechos mais estreitos, secam e param de correr. Quando chega o verão, as chuvas encharcam a terra e o verde toma conta da região. Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura elevada (médias entre 25ºC e 29ºC) provoca intensa evaporação. Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se torna possível. Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semi‐desertos e nublados, mas sem chuva. O vento seco e quente não refresca, incomoda. A vegetação adaptou‐se ao clima para se proteger. As folhas, por exemplo, são finas, ou inexistentes. Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva. Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 mil km2 de Caatinga nem sempre podem contar com as chuvas de verão. Quando não chove, o homem do sertão e sua família sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo. O homem complicou ainda mais a dura vida no sertão. Fazendas de criação de gado começaram a ocupar o cenário na época do Brasil colônia. Os primeiros a chegar pouco entendiam a fragilidade da Caatinga, cuja aparência árida denuncia uma falsa solidez. Para combater a seca, foram construídos açudes para abastecer de água os homens, seus animais e suas lavouras. Desde o Império, quando essas obras tiveram início, o governo prossegue com o trabalho. Clima e Hidrologia Enquanto que as médias mensais de temperatura variam pouco na região, sendo mais afetadas pela altitude que por variações em insolação, as variações diárias de temperatura e 16 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva umidade são bastante pronunciadas, tanto nas áreas de planície como nas regiões mais altas do planalto. No planalto, os afloramentos rochosos mais expostos, sujeitos à ação dos ventos e outros fatores, podem experimentar temperaturas muito baixas e próximas ou abaixo de zero grau durante as noites mais frias do ano, enquanto que a temperatura pode ser bastante elevada durante os dias quentes e ensolarados do verão. Esta grande variação local de temperatura e umidade durante o dia influencia bastante a vegetação destas áreas, e é um forte fator a determinar sua composição. As variações em temperatura são muito menos extremas durante a estação chuvosa, e também durante certos períodos quando a neblina se forma, especialmente à noite nas áreas de maior altitude, durante a estação seca. Não é incomum se observar pesadas formações de nuvens ou neblina nas regiões mais altas no início da manhã, durante a estação seca, o que resulta em menos de cinco horas de insolação por dia no planalto, enquanto que as áreas de planície circunvizinhas possuem uma taxa mais alta de insolação diária, sete horas ou mais. Ao amanhecer, pode‐se observar a presença de orvalho em abundância cobrindo o solo, as rochas e a vegetação nos locais mais altos. Isto fornece certa umidade ao solo mesmo durante a estação seca, e contribui para a manutenção da vegetação da área. As áreas de planície estão sujeitas a um período de seca muito mais longo e severo que as áreas planálticas mais elevadas, período que normalmente dura sete meses, mas que às vezes pode chegara até doze meses em um ano. Não só a taxa de precipitação anual é mais baixa, como também as temperaturas são em geral mais altas. Estas áreas têm clima semi‐árido tropical, com temperaturas médias mensais ficando acima de 22°C. Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores cobrem‐se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A fauna volta a engordar. Através de caminhos diversos, os rios regionais saem das bordas das chapadas, percorrem extensas depressões entre os planaltos quentes e secos e acabam chegando ao mar, ou engrossando as águas do São Francisco e do Parnaíba (rios que cruzam a Caatinga). Das cabeceiras até as proximidades do mar, os rios com nascentes na região permanecem secos por cinco ou sete meses no ano. Apenas o canal principal do São Francisco mantém seu fluxo através dos sertões, com águas trazidas de outras regiões climáticas e hídricas. 17 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Geologia, Relevo e Solos Geologicamente, a região é composta de vários tipos diferentes de rochas. Nas áreas de planície as rochas prevalecentes têm origem na era Cenozóica (do fim do período Terciário e início do período Quaternário), as quais se encontram cobertas por uma camada de solo bastante profunda, com afloramentos rochosos ocasionais, principalmente nas áreas mais altas que bordejam a Serra do Tombador; tais solos (latossolos) são solos argilosos (embora a camada superficial possa ser arenosa ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em nutrientes. Afloramentos de rocha calcária de coloração acinzentada ocorrem a oeste, sendo habitados por algumas espécies endêmicas e raras, como o Melocactus azureus. A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado derivado de rochas sedimentares areníticas e quartzíticas consolidadas na era Proterozóica média; uma concentração alta de óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada. Os solos gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em nutrientes e altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos rasos, que se tornam mais profundos onde a topografia permite; afloramentos rochosos são uma característica comum das áreas mais altas. Estes afloramentos rochosos e os solos pouco profundos formam as condições ideais para os cactos, e muitas espécies crescem nas pedras, em fissuras ou depressões da rocha onde a acumulação de areia, pedregulhos e outros detritos, juntamente com o húmus gerado pela decomposição de restos vegetais, sustenta o sistema radicular destas suculentas. A Serra do Tombador possui um relevo montanhoso que se destaca das regiões mais baixas que o circundam ‐ sua altitude fica em geral acima de 800 metros, alcançando aproximadamente 1000 m nos pontos de maior altitude, enquanto que a altitude nas planícies ao redor variam de 400 a 600 m, embora sofram um ligeiro aumento nas bordas do planalto. O planalto age como uma barreira às nuvens carregadas de umidade provenientes do Oceano Atlântico que, ao ascenderem à medida que se encontram com a barreira em que o planalto se constitui, se condensam e fornecem umidade na forma de neblina, orvalho e chuvas, mesmo no pico da estação seca. Isto resulta em um clima moderado e úmido que difere enormemente do clima das regiões mais baixas. Porém, o lado ocidental do planalto é mais seco, com condições comparáveis às encontradas nas áreas de planície, porque a altitude das montanhas desviam as nuvens de chuva que vêm do Atlântico. 18 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Climatogramas de locais de altitude similar, mas localizados em lados opostos do planalto, claramente indicam a maior umidade do lado oriental. Um resultado da barreira formada pelas montanhas são nuvens carregadas de umidade provenientes do Oceano Atlântico, que produzem uma maior quantidade de chuvas no lado oriental. A precipitação no planalto normalmente excede os 800 mm anuais, com picos de até 1.200 mm em determinados locais, enquanto que a média de precipitação nas áreas de planície fica em torno de 400 a 700 mm. A precipitação é freqüentemente bimodal nas regiões mais altas, com um máximo de chuvas no período de novembro a janeiro, e um segundo período chuvoso, menor, no período de março a abril. A altitude elevada do relevo da Serra do Tombador conduz a um clima mesotérmico em que a média mensal da temperatura, pelo menos durante alguns meses, permanece abaixo dos 18°C. Os meses mais frios ocorrem no período do inverno (de maio a setembro, que coincide com a estação seca), quando o sol está em seu ponto mais baixo. As médias mensais de temperaturas do período mais quente do ano normalmente não excedem 22°C, sendo que os meses mais quentes do ano ocorrem entre outubro, um pouco antes do início da estação chuvosa, e fevereiro, quando as chuvas estão começando a se tornar raras. O sertão nordestino é uma das regiões semi‐áridas mais povoadas do mundo. A diferença entre a Caatinga e áreas com as mesmas características em outros países é que as populações se concentram onde existe água, promovendo um controle rigoroso da natalidade. No Brasil, entretanto, o homem está presente em toda a parte, tentando garantir a sua sobrevivência na luta contra o clima. A caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embora não tenha potencial madeireiro, exceto pela extração secular de lenha, a região é rica em recursos genéticos, dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado, o aspecto agressivo da vegetação contrasta com o colorido diversificado das flores emergentes no período das chuvas. Os grandes açudes atraíram fazendas de criação de gado. Em regiões como o Vale do São Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de técnica apropriada e o resultado tem sido desastroso. A salinização do solo é, hoje, uma realidade. Especialmente na região onde os solos são rasos e a evaporação da água ocorre rapidamente devido o calor, a agricultura tornou‐se impraticável. 19 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxicos. Depois de aplicado nas lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo, levado pela irrigação, e daí para as represas, matando os peixes. Nos últimos 15 anos, 40 mil km2 de Caatinga se transformaram em deserto devido à interferência do homem sobre o meio ambiente da região. As siderúrgicas e olarias também são responsáveis por este processo, devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e carvão vegetal. Vegetação A vegetação do bioma é extremamente diversificada, incluindo, além das caatingas, vários outros ambiente associados. São reconhecidos 12 tipos diferentes de Caatingas, que chamam atenção especial pelos exemplos fascinantes de adaptações aos habitats semi‐áridos. Tal situação pode explicar, parcialmente, a grande diversidade de espécies vegetais, muitas das quais endêmicas ao bioma. Estima‐se que pelo menos 932 espécies já foram registradas para a região, sendo 380 endêmicas. A caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas: árvores baixas e arbustos que, em geral, perdemas folhas na estação das secas (espécies caducifólias), além de muitas cactáceas. A caatinga apresenta três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros). Contraditoriamente, a flora dos sertões é constituída por espécies com longa história de adaptação ao calor e à seca, é incapaz de reestruturar‐se naturalmente se máquinas forem usadas para alterar o solo. A degradação é, portanto, irreversível na caatinga. O aspecto geral da vegetação, na seca, é de uma mata espinhosa e agreste. Algumas poucas espécies da caatinga não perdem as folhas na época da seca. Entre essas destaca‐se o juazeiro, uma das plantas mais típicas desse ecossistema. Ao caírem as primeiras chuvas no fim do ano, a caatinga perde seu aspecto rude e torna‐ se rapidamente verde e florida. Além de cactáceas, como Cereus (mandacaru e facheiro) e Pilocereu (xiquexique), a caatinga também apresenta muitas leguminosas (mimosa, acácia, emburana, etc.). Algumas das espécies mais comuns da região são a emburana, a aroeira, o umbu, a baraúna, a maniçoba, a macambira, o mandacaru e o juazeiro. 20 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva No meio de tanta aridez, a caatinga surpreende com suas "ilhas de umidade" e solos férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos sertões. Nessas ilhas, é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos. As espécies vegetais que habitam esta área são em geral dotadas de folhas pequenas, uma adaptação para reduzir a transpiração. Gêneros de plantas da família das leguminosas, como Acacia e Mimosa, são bastante comuns. A presença de cactáceas, notavelmente o cacto mandacaru (Cereus jamacaru), caracterizam a vegetação de caatinga; especificamente na caatinga da região de Morro do Chapéu, é característica a palmeira licuri (Syagrus coronata). Fauna Quando chove na caatinga, no início do ano, a paisagem e seus habitantes se modificam. Lá vive a ararinha‐azul, ameaçada de extinção. Outros animais da região são o sapo‐cururu, a asa‐ branca, a cotia, a gambá, o preá, o veado‐catingueiro, o tatu‐peba e o sagui‐do‐nordeste, entre outros. A situação de conservação dos peixes da Caatinga ainda é precariamente conhecida. Apenas quatros espécies que ocorrem no bioma foram listadas preliminarmente como ameaçadas de extinção, porém se deve ponderar que grande parte da ictiofauna não foi ainda avaliada. São conhecidas, em localidades com feição características da caatinga semi‐áridas, 44 espécies de lagartos, 9 espécies de anfibenídeos, 47 de serpentes, quatro de quelônios, três de crocolia, 47 de anfíbios ‐ dessas espécies apenas 15% são endêmicas. Um conjunto de 15 espécies e de 45 subespécies foi identificado como endêmico. São 20 as espécies ameaçadas de extinção, estando incluídas nesse conjunto duas das espécies de aves mais ameaçadas do mundo: a ararinha‐azul (Cyanopsitta spixii) e a arara‐azul‐de‐lear (Anodorhynchus leari). Levantamentos de fauna na Caatinga revelam a existência de 40 espécies de lagartos, 7 espécies de anfibenídeos (lagartos sem patas), 45 espécies de serpentes, 4 de quelônios, 1 de crocodiliano, 44 anfíbios. Também constituída por diversos tipos de aves, algumas endêmicas do Nordeste, como o patinho, chupa‐dente, o fígado, além de outras espécies de animais, como o tatu‐peba, o gato‐do‐ mato, o macaco prego e o bicho preguiça. Destaca‐se também a ocorrência de espécies em extinção, como o próprio gato‐do‐mato, o gato‐maracajá, o patinho, a jararaca e a sucuri‐bico‐de‐jaca. 21 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva A Caatinga possui extensas áreas degradadas, muitas delas incorrem, de certo modo, em risco de desertificação. A fauna da Caatinga sofre grande prejuízos tanto por causa da pressão e da perda de hábitat como também em razão da caça e da pesca sem controle. Também há grande pressão da população regional no que se refere à exploração dos recursos florestais da Caatinga. A Caatinga carece de planejamento estratégico permanente e dinâmico com o qual se pretende evitar a perda da biodiversidade do seu bioma. Curiosidade Durante o período de seca, o gado da região alimenta‐se do mandacaru (rico em água). Já algumas espécies de bromélias (exemplo da caroá) são aproveitadas para a fabricação de bolsas, cintos, cordas e redes, pois são ricas em fibras vegetais. Figura 19 ‐ Mandacaru Importância Econômica A dependência econômica da região Nordeste em relação à vegetação da Caatinga é hoje inegável, quer se trate do abastecimento com energéticos florestais para indústrias e domicílios, quer se trate de comércio e beneficiamento de produtos não‐madeireiros, como frutos e palhas, por exemplo. O Nordeste brasileiro tem a maior parte de seu território ocupado por uma vegetação adaptada às condições de aridez (xerófila), de fisionomia variada, denominada “Caatinga”. 22 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Geograficamente, a Caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional, abrangendo os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Minas Gerais. Na cobertura vegetal das áreas da região Nordeste, a Caatinga representa cerca de 800.000 km2, o que corresponde a 70% da região. Este ecossistema é extremamente importante do ponto de vista biológico, pois é um dos poucos que tem sua distribuição totalmente restrita ao Brasil. De modo geral, a Caatinga tem sido descrita na literatura como pobre e de pouca importância biológica. Porém, levantamentos recentes mostram que este ecossistema possui um considerável número de espécies endêmicas, ou seja, que ocorrem somente nesta região, e que devem ser consideradas como um patrimônio biológico de valor incalculável. Quanto à flora, foram registradas até o momento cerca de 1000 espécies, estimando‐se que haja um total de 2000 a 3000 plantas. Com relação à fauna, esta é depauperada, com baixas densidades de indivíduos e poucas espécies endêmicas. Apesar da pequena densidade e do pouco endemismo, já foram identificadas 17 espécies de anfíbios, 44 de répteis, 695 de aves e 120 de mamíferos, pouco se conhecendo em relação aos invertebrados. Descrições de novas espécies vêm sendo registradas, indicando um conhecimento botânico e zoológico bastante precário deste ecossistema, que segundo os pesquisadores é considerado o menos conhecido e estudado dos ecossistemas brasileiros. Além da importância biológica, a Caatinga apresenta um potencial econômico ainda pouco valorizado. Em termos forrageiros, apresenta espécies como o pau‐ferro, a catingueira verdadeira, a catingueira rasteira, a canafistula, o mororó e o juazeiro que poderiam ser utilizadas como opção alimentar para caprinos, ovinos, bovinos e muares. Entre as de potencialidade frutífera, destaca‐se o umbu, o araticum, o jatobá, o murici e o licuri e, entre as espécies medicinais, encontra‐se a aroeira, a braúna, o quatro ‐ patacas, o pinhão, o velame, o marmeleiro, o angico, o sabiá, o jericó, entre outras. Porém, este patrimônio nordestino encontra‐se ameaçado. A exploração feita de forma extrativista pela população local, desde a ocupação do semi‐ árido, temlevado a uma rápida degradação ambiental. Segundo estimativas, cerca de 70% da Caatinga já se encontram alterados pelo homem e, somente 0,28% de sua área se encontra protegida em unidades e parques de conservação. Estes números conferem à Caatinga a condição de ecossistema menos preservado e um dos mais degradados. Como conseqüência desta degradação, algumas espécies já figuram na lista 23 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva das espécies ameaçadas de extinção do IBAMA. Outras, como a aroeira e o umbuzeiro, já se encontram protegidas pela legislação florestal de serem usadas como fonte de energia, a fim de evitar a sua extinção. Quanto à fauna, os felinos (onças e gatos selvagens), os herbívoros de porte médio (veado catingueiro e capivara), as aves (ararinha azul, pombas de arribação) e abelhas nativas figuram entre os mais atingidos pela caça predatória e destruição do seu habitat natural. Para reverter este processo, estudos da flora e fauna da Caatinga são necessários. Neste sentido, a Embrapa Semi‐Árido, UNEB e Diretoria de Desenvolvimento Florestal da Secretaria de Agricultura da Bahia aprovaram o projeto “Plantas da Caatinga ameaçadas de Extinção: estudos preliminares e manejo”, junto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), que tem por objetivo estudar a fenologia, reprodução e dispersão da aroeira do sertão, quixabeira, imburana de cheiro e baraúna na Reserva Legal do Projeto Salitre, Juazeiro‐BA. Este projeto contribuirá com importantes informações sobre a biologia destas plantas e servirá de subsídios para a elaboração do plano de manejo destas espécies na região. Além desses estudos, é necessária a criação de mais áreas de preservação, unidades de conservação e reservas para que possamos preservar o pouco que ainda resta da Caatinga e, assim, assegurar a proteção deste patrimônio biológico, que num futuro bem próximo poderá ser a maior riqueza do Nordeste brasileiro. Uso Sustentável Integrado da Biodiversidade Estamos vivendo a preocupação do aquecimento global, todos procurando fontes alternativas e clamando por fontes renováveis de energia. A Caatinga, com vegetação de rara biodiversidade, vem sustentando a economia da região Nordeste ao longo dos anos por meio de duas vertentes: (a) pelo fornecimento de energia: 33% da matriz energética da região é oriunda da lenha obtida por meio da exploração não sustentável e 70% das famílias da Região utilizam lenha para suas demandas domesticas; (b) pelo fornecimento de uma série de produtos florestais não madeireiros. O recurso florestal está presente na vida do nordestino de maneira direta ou indireta desde o homem rural do sertão que usa a floresta da Caatinga como pasto para o gado e para a produção de mel, passando pelas mulheres artesãs que obtém seu sustento com a fabricação de artesanatos e da comercialização de plantas medicinais, até as cerâmicas e as grandes indústrias de gesso, que geram divisas para o país usando a lenha como suprimento de energia. 24 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva No semi‐árido a área de cobertura florestal varia de 30% a 50%, e as terras utilizadas para fins agrícolas representam de 5% a 10%. As demais terras foram transformados em pastagens naturais ou vegetação rasteira. A agricultura permanente de subsistência, não irrigada é encontrada somente em vales de aluvião e representa menos de 8% da área total. O Sistema de Pousio, praticado pelos pequenos e médios produtores, é baseado na alternância de terras florestais para agricultura, pastagem e posterior retorno para cobertura florestal. Esse modelo é quem assegura a manutenção da fertilidade (matéria orgânica e nitrogênio) nos solos e dar sustentabilidade ao modelo agropecuário que vem sendo praticado pelos pequenos e médios produtores. A presença do homem no meio Rural e as praticas inadequadas vem fazendo com que os “ciclos” sejam cada vez menores, impedindo a natureza de repor os elementos necessários e continue contribuindo para a sustentação da economia local. Assim, é importante termos ações que assegurem o papel de “insumo ambiental” que o recurso florestal exerce nos sistemas produtivos (agricultura e pecuária). Um estudo realizado recentemente pelo PNF/MMA em cooperação técnica com as Nações Unidas, na região Nordeste, mostra que a dinâmica da cobertura florestal na Região é resultado da relação de confronto entre pressões antrópicas e processos de regeneração natural. Este processo é pauta de preocupação pública já desde o século XVII: “O avanço das fronteiras agropecuárias somado à exploração de madeira para diversos usos, colocaram em questão a capacidade das florestas regionais para continuar fornecendo seus produtos e serviços ambientais vitais para as atividades produtivas e a qualidade de vida da população” ‐ Riegelhaupt. A cada momento nos deparamos com vivências que nos demonstram que a relação do homem com a biodiversidade pode e deve ser a saída para um amplo processo de conservação ambiental. As Escolas modernas do desenvolvimento sustentável – como a do Prof. Ignácio Sachs Ecosocioeconomista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sócias em Paris que dirige o Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo – afirma “O desafio da inclusão social, da sustentabilidade e do desenvolvimento eco socioeconômico no campo é reunir biodiversidade, biomassa e biotecnologias” e “O reflorestamento deve ser feito dentro do conceito de florestas econômicas consorciadas com outras atividades agropecuárias, com corredores ecológicos e recondicionamento das matas ciliares”. Esses conceitos modernos frutos do amadurecimento do processo de conservação na terra vem complementar conceitos passados de estudiosos como o professor Vasconcelos 25 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Sobrinho que em seu trabalho “Processos de Desertificação Ocorrentes no Nordeste do Brasil: Sua gênese e sua contenção 1982”, já chamava atenção, afirmando: “As ações requeridas para sustar a desertificação consistem fundamentalmente no comportamento correto do Homem … mediante sábio manejo dos seus recursos naturais”; …”No entanto não será necessário esperar o resultado de demoradas experimentações”. “A silvicultura para o semi‐árido nordestino terá por finalidade o combate à desertificação e ao mesmo tempo a promoção de uso mais adequado para a ecologia regional. Não hesitamos em afirmar que a vocação ecológica do semi‐árido nordestino é a silvicultura. Principalmente uma silvicultura voltada para a implantação de florestas energéticas”. Recentemente vivenciamos na 13ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima um avanço considerável ao, como país, assegurarmos o reconhecimento e a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento que assegure a manutenção da floresta em pé. Esses três momentos demonstram que a compreensão para o uso sustentável dos recursos florestais vem sendo modelado. A cada momento somos forçados pela história a avançarmos nessa meta. Felizmente começamos a ter no manejo sustentável dos recursos florestais um instrumento de gestão ambiental, que além de promover um desenvolvimento sustentável com inclusão social assegura a manutenção dos serviços ambientaise colabora firmemente para a conservação da biodiversidade. Estudos realizados na região com apoio das Nações Unidas permitem uma melhor visualização do potencial da Caatinga, muitos já conhecidos de forma empírica pelos sertanejos: ‐ A Caatinga apresenta em sua fisiologia mecanismos interessante para sua regeneração, o que potencializa e simplifica seu manejo Florestal (utilização sustentável); ‐ Tem no potencial “forrageiro” seu produto florestal mais nobre, fundamental para manutenção da pecuária extensiva no semi‐árido, com uma capacidade de produção forrageira na ordem de 4 ton./ha.a, salvação dos rebanhos nas épocas de estiagem; ‐ A lenha é o segundo energético da região – que além de ter um custo por Kcal, menor que os derivados de petróleo, é um bio‐combustível de grande inclusão social – gerando mais de 700 mil posto de trabalho e renda na época da “estiagem”, contribuindo para a fixação do homem no campo, sem concorrer com outras atividades econômicas rurais. Por outro lado, adotando‐ se as práticas de manejo florestal sustentável, ficamos na pauta do Tratado de Kyoto, na busca das fontes energéticas renováveis; 26 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva ‐ Os sistemas agro florestais na Caatinga hoje é uma realidade que permite segurança alimentar para muitas famílias; ‐ A Caatinga, tem ciclos muito curtos de 10 a 20 anos, comparativamente com os ciclos dos países temperados; ‐ A Caatinga dispõe de uma Rede de Manejo e de uma Rede de Sementes Florestais apoiadas pelo MMA/PNF/IBAMA, onde profissionais da região buscam cada vez mais qualificação para as práticas de utilização integradas e sustentáveis. Outro ponto importante diz respeito aos aspectos sócios econômicos, existem experiências com a perspectiva de integração do recurso florestal na matriz produtiva dos Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária visando a utilização múltipla e sustentável dos recursos naturais/florestais, permitindo que esse manejo integrado do recurso florestal gere rendas de até 1,5 Salários Mínimos por família, contribuindo para tornar os Projetos de Assentamento da Reforma Agrária na Zona Semi‐Árida do Brasil, empreendimentos de Desenvolvimento Local Sustentável e de fortalecimento e reprodução da Agricultura Familiar, com aumento da Segurança Alimentar, Energética e Hídrica; Geração de Emprego e Renda e construção de novas e justas Relações de Gênero e Gerações. Novas relações de usos sustentáveis estão sendo estabelecidas com a biodiversidade da Caatinga, principalmente no tocante ao potencial dos produtos florestais não madeireiros. Atualmente mais de 20 comunidades formam a Bodega da Caatinga, uma Rede de Produtos sustentáveis da Caatinga com mais de 20 mil pessoas envolvidas na produção e processamento de fibras, cascas, frutos, sementes e pequenos artefatos, embasados em uma Carta de Princípios onde são assegurados a sustentabilidade na coleta e obtenção dos produtos da biodiversidade da Caatinga e o associativismos no beneficiamento e comercialização. Diante deste quadro, o manejo florestal sustentável é uma das poucas alternativas de promoção de desenvolvimento local que reconhece o recurso florestal como ativo ambiental e permite assegurar uma relação de equilíbrio entre a demanda e a oferta de energéticos florestais, em base sustentável, contribuindo para a conservação da biodiversidade e assegurando a manutenção do serviços ambientais. As Caatingas vêm atendendo essas necessidades da nossa sociedade. Alcançar o uso sustentável da biodiversidade é uma necessidade para a sobrevivência do homem. Ainda somos e seremos dependentes ambientais. Assim, o Manejo Florestal Sustentável Integrado da Caatinga é uma das alternativas, que possibilita viabilizar de forma sinérgica as atividades produtivas na região Nordeste. 27 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Assegurando que a demanda pelos produtos da biodiversidade, seja na forma de energia da biomassa florestal estimada em mais de 25 milhões de metros de lenha para atender os diversos setores da agroindústria, em especial os setores do gesso e cerâmico, seja na forma de alimentos para as escolas, como é o caso do beneficiamento do Umbu em Uauá, na região possa ser viabilizada de forma sustentável sem agressão ambiental. Por outro lado, o manejo sustentável da Caatinga possibilita a realização das atividades para uma pecuária extensiva integrada com as atividades de apicultura e coleta de produtos não madeireiros, evitando os processos de desertificação por sobre – pastoreio. 28 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 29 CCEERRRRAADDOO Figura 20 e 21 ‐ Cerrado RRÚÚBBIIAA AALLMMEEIIDDAA GGOONNÇÇAALLVVEESS Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Introdução O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado em área apenas pela Amazônia. Ocupa 21% do território nacional e é considerado a última fronteira agrícola do planeta (Borlaug, 2002). Conforme Mário Guimarães Ferri "em sentido genérico, o cerrado é um grupo de formas de vegetação que se apresenta segundo um gradiente de biomassa”. (Os cerrados, um grupo de formas de vegetação semelhantes às savanas. Revista do Serviço Público, FUNCEP, Brasília, 1981.) O Cerrado ocupa originariamente cerca de um quarto do território brasileiro e é um dos mais ricos ecossistemas da terra. Solo Os solos do Bioma do Cerrado são geralmente profundos, azonados, de cor vermelha ou vermelha amarelada, porosos, permeáveis, bem drenados e, por isto, intensamente lixiviados. Em sua textura predomina, em geral, a fração areia, vindo em seguida a argila e por último o silte. Eles são, portanto, predominantemente arenosos, areno‐argilosos, argilo‐arenosos ou, eventualmente, argilosos. Sua capacidade de retenção de água é relativamente baixa. O teor de matéria orgânica destes solos é pequeno, ficando geralmente entre 3 e 5%. Sua microflora e micro/mesofauna são ainda muito pouco conhecidas. São bastante ácidos, com pH que pode variar de menos de 4 a pouco mais de 5. Esta forte acidez é devida em boa parte aos altos níveis de Al3+, o que os torna alumino tóxicos para a maioria das plantas agrícolas. Níveis elevados de íons Fe e de Mn também contribuem para a sua toxidez. Baixa capacidade de troca catiônica, baixa soma de bases e alta saturação por Al3+, caracterizam estes solos profundamente distróficos e, por isto, impróprios para a agricultura. braquiária, por exemplo. Em parte dos Cerrados, o solo pode apresentar concreções ferruginosas ‐ canga ‐ formando couraças, carapaças ou bancadas lateríticas, que dificultam a penetração da água de chuva ou das raízes, podendo às vezes impedir ou dificultar o desenvolvimento de uma vegetação mais exuberante e a própria agricultura. Quando tais couraças são espessas e contínuas, vamos encontrar sobre estas superfícies formas mais pobres e mais abertas de Cerrado. 30 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Clima O clima predominante no Cerrado é o Tropicalsazonal, de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22‐23°C, sendo que as médias mensais apresentam pequena estacionalidade. As máximas absolutas mensais não variam muito ao longo dos meses do ano, podendo chegar a mais de 40°C. Já as mínimas absolutas mensais variam bastante, atingindo valores próximos ou até abaixo de zero, nos meses de maio, junho e julho. A ocorrência de geadas no Domínio do Cerrado não é fato incomum, ao menos em sua porção austral. Em geral, a precipitação média anual fica entre 1200 e 1800 mm. Ao contrário da temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande estacionalidade, concentrando‐ se nos meses de primavera e verão (outubro a março), que é a estação chuvosa. Curtos períodos de seca, chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a esta estação, criando sérios problemas para a agricultura. No período de maio a setembro os índices pluviométricos mensais reduzem‐se bastante, podendo chegar a zero. No início deste período a ocorrência de nevoeiros é comum nas primeiras horas das manhãs, formando‐se grande quantidade de orvalho sobre as plantas e umedecendo o solo. Já no período da tarde os índices de umidade relativa do ar caem bastante, podendo baixar a valores próximos a 15%, principalmente nos meses de julho e agosto. Ventos fortes e constantes não são uma característica geral do Domínio do Cerrado. Normalmente a atmosfera é calma e o ar fica muitas vezes quase parado. Em agosto costumam ocorrer algumas ventanias, levantando poeira e cinzas de queimadas a grandes alturas, através de redemoinhos que se podem ver de longe. Às vezes elas podem ser tão fortes que até mesmo grossos galhos são arrancados das árvores e atirados à distância. A radiação solar no Domínio do Cerrado é geralmente bastante intensa, podendo reduzir‐ se devido à alta nebulosidade, nos meses excessivamente chuvosos do verão. Por esta possível razão, em certos anos, outubro costuma ser mais quente do que dezembro ou janeiro. Como o inverno é seco, quase sem nuvens, e as latitudes são relativamente pequenas, a radiação solar nesta época também é intensa, aquecendo bem as horas do meio do dia. Topografia A topografia da região varia entre plana e suavemente ondulada, favorecendo a agricultura mecanizada e a irrigação. Estudos recentes indicam que apenas cerca de 20% do Cerrado ainda possui a vegetação nativa em estado relativamente intacto. 31 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva Hidrografia A rede hidrográfica dos Cerrados apresenta características bastante diferenciadas, em função da sua localização, extensão territorial e diversidade fisiográfica. Situada sobre o grande arqueamento transversal que atravessa o Brasil Sudeste e Central, a região abrange um grande divisor de águas, que separa os maiores sistemas hidrográficos do território brasileiro. Ao sul, abrange parte da bacia do Paraná; a sudeste, o Paraguai; ao norte, a Bacia Amazônica; a nordeste, Parnaíba e a leste, o São Francisco. O regime fluvial dos rios da região encerra, nestas condições, notáveis diferenças nas características físicas de suas bacias de drenagem e nas diversas influências climáticas a que estão submetidas. Com relação às águas subterrâneas, os mesmos fatores físico‐climáticos influenciam sua ocorrência. Vegetação Na natureza o Bioma do Cerrado apresenta‐se como um mosaico de formas fisionômicas, ora manifestando‐se como campo sujo, ora como cerradão, ora como campo cerrado, ora como campo limpo. Quando percorremos áreas de cerrado, em poucos km podemos encontrar todas estas diferentes fisionomias. Este mosaico é determinado pelo mosaico de manchas de solo pouco mais pobres ou pouco menos pobres, pela irregularidade dos regimes e características das queimadas de cada local (freqüência, época, intensidade) e pela ação humana. Assim, embora o Bioma do Cerrado distribua‐se predominantemente em áreas de clima tropical sazonal, os fatores que aí limitam a vegetação são outros: a fertilidade do solo e o fogo. O clímax climático do Domínio do Cerrado não é o Cerrado, por estranho que possa parecer, mas sim a Mata Mesófila de Interflúvio, sempre verde, que hoje só existe em pequenos relictos, sobre solos férteis tipo terra roxa legítima. As diferentes formas de Cerrado são, portanto, pedoclímaces ou piroclímaces, dependendo de ser o solo ou o fogo o seu fator limitante. Claro que certas formas abertas de cerrado devem esta sua fisionomia às derrubadas feitas pelo homem para a obtenção de lenha ou carvão. De um modo geral, podemos distinguir dois estratos na vegetação dos Cerrados: o estrato lenhoso, constituído por árvores e arbustos, e o estrato herbáceo, formado por ervas e subarbustos. Ambos são curiosamente heliófilos. Esses dois estratos não comporiam 32 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva comunidades harmoniosas e integradas, como nas florestas, mas representariam duas comunidades antagônicas, concorrentes. Tudo aquilo que beneficiar a uma delas, prejudicará, indiretamente, à outra e vice‐versa. Elas diferem entre si não só pelo seu espectro biológico, mas também pelas suas floras, pela profundidade de suas raízes e forma de exploração do solo, pelo seu comportamento em relação à seca, ao fogo, etc., enfim, por toda a sua ecologia. Troncos e ramos tortuosos, súber espesso, macrofilia e esclerofilia são características da vegetação arbórea e arbustiva, que de pronto impressionam o observador. O sistema subterrâneo, dotado de longas raízes pivotantes, permite a estas plantas atingir 10, 15 ou mais metros de profundidade, abastecendo‐se de água em camadas permanentemente úmidas do solo, até mesmo na época seca. A vegetação herbácea e subarbustiva, formada também por espécies predominantemente perenes, possui órgãos subterrâneos de resistência, como bulbos, xilopódios, sóboles, etc., que lhes garantem sobreviver à seca e ao fogo. Suas raízes são geralmente superficiais, indo até pouco mais de 30 cm. Os ramos aéreos são anuais, secando e morrendo durante a estação seca. Formam‐se, então 4, 5, 6 ou mais toneladas de palha por ha/ano, um combustível que facilmente se inflama, favorecendo assim a ocorrência e a propagação das queimadas nos Cerrados. Neste estrato as folhas são geralmente microfilas e seu escleromorfismo é menos acentuado. Recursos Naturais de Importância Econômica O pequizeiro é uma espécie arbórea, nativa do cerrado brasileiro, considerada de significativa importância econômica, principalmente devido ao uso de seus frutos na culinária, como fonte de vitaminas e na extração de óleos para a fabricação de cosméticos. Os frutos são utilizados na alimentação humana e na indústria caseira para extração de óleos e produção de licores. O caroço, com a polpa (mesocarpo), é cozido com arroz; feijão; carnes; batido com leite; usado para o preparo de licor e para extração de manteiga. Paisagens Fortemente Antropizadas As áreas mais antropizadas do Cerrado brasileiro encontram‐se no Triângulo Mineiro e Sudoeste de São Paulo, segundo dados da EMBRAPA. Essas áreas foram intensamente devastadas e preparadas para dar lugar à agricultura mecanizada. 33 Biomas Brasileiros EcologiaAplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva As porções ainda bem conservadas estão em três regiões com mais de 48% de cerrado não antropizado e são: a) divisa entre os estados de Piauí, Maranhão e Bahia; b) divisa entre Tocantins, Mato Grosso e Goiás; c) divisa entre Tocantins, Goiás e Bahia. Os setores fortemente antropizados apresentam solos bastante descaracterizados, com áreas de culturas agrícolas, florestais ou de pastagens implantadas, assim como de vegetação queimada e áreas urbanizadas. Alguns produtos agrícolas, tais como a soja, o milho, o café e o arroz necessitam de insumos e de uma topografia favorável que possibilite utilização da mecanização. Sendo a soja e o milho um dos principais cultivos regionais, estão associados a produtores tecnificados e com melhor capacidade de gerenciamento. Foram desenvolvidas tecnologias de correção da baixa fertilidade natural do solo. Assim, os níveis de tecnicidade e de uso de insumos nessas duas culturas tendem a se intensificar devido à constante procura por maiores rendimentos. Já o cultivo do arroz em sequeiro foi a principal atividade agrícola no início do desbravamento do Cerrado. De acordo com a EMBRAPA Cerrados (1999:11), o cultivo do arroz esteve associada à braquiária (capim usado na criação do gado), com o intuito de reduzir os custos de formação de pastagens. Contudo, com a extinção do crédito de incentivo à formação de pastagens e com o elevado risco de perdas por estiagem, houve a redução da área cultivada com arroz. O café, que outrora era tradicionalmente cultivado na região sudeste e Norte do Paraná, revelou um considerável crescimento no Cerrado. A EMBRAPA Cerrados (1999:12) afirma que "a topografia plana, o menor risco de geadas, a seleção de cultivares adaptadas e o desenvolvimento de práticas de manejo, permitiram sua expansão em mais de 400 mil hectares, ou 18% da área cultivada e 21% da produção do Brasil. Um outro fator que possibilitou a descaracterização da paisagem física do Cerrado foi a implantação de atividade florestal a partir de 1970. Atingindo aproximadamente 1,9 milhões de hectares, segundo o órgão anteriormente citado (op. cit.), "o cultivo foi realizado com espécies exóticas de Eucalyptus spp. E Pinus spp., com o objetivo de produzir carvão vegetal para as siderurgias, indústria de cimento etc. 34 Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 35 MMAATTAA AATTLLÂÂNNTTIICCAA Figura 22 e 23 ‐ Mata Atlântica SSAAMMAANNTTAA RREEGGIINNAA MMOOGGNNOONN NNAAKKAATTAA Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 36 Introdução Em termos gerais, a Mata Atlântica pode ser vista como um mosaico diversificado de ecossistemas, apresentando estruturas e composições florísticas diferenciadas, em função de diferenças de solo, relevo e características climáticas existentes na ampla área de ocorrência desse bioma no Brasil. A Mata Atlântica é composta por um conjunto de ecossistemas que incluem as faixas litorâneas ao longo da costa Atlântica, com seus manguezais e restingas, florestas de baixada e de encosta da Serra do Mar, florestas interioranas, as matas de araucárias e os campos de altitude. Quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, em 1500, a Mata Atlântica cobria 15% do território nacional, área equivalente a 1.306.421 km². Estendia‐se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta. Tratava‐se da segunda maior floresta tropical Atualmente, abrange total ou parcialmente 1 úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica. 7 Estados brasileiros e 3.411 municípios. cupa ordeste abrange também os ncrave b s i. a que era Figura 24 ‐ Mata Atlântica em 1500 x Mata Atlântica em 2007 (o inteiramente três estados ‐ Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina e 98% do Paraná). Está reduzida a aproximadamente 7,84% de sua área original, restando cerca de 102.000 km². No N e s florestais e rejos interioranos, no Sudeste alcança parte dos territórios de Goiás e Mato Grosso do Sul e no Sul estende‐se pelo interior, alcançando inclusive parte dos território da Argentina e Paragua A maioria da área litorâne coberta pela Mata Atlântica é ocupada hoje por grandes cidades, pastos e agricultura. Porém, ainda restam manchas da floresta na Figura 25 ‐ Mata Atlântica Atualmente Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 37 Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, no sudeste do Brasil. O grande destaque da mata original era o Pau‐Brasil, que deu origem ao nome do nosso aís. Al um percentual de de le ta p d Ecologia ma mais ameaç África. cam que a região abriga 849 p guns exemplares eram tão grossos que três homens não conseguiam abraçar seus troncos. O pau‐brasil hoje é quase uma relíquia, existindo apenas alguns exemplares no Sul da Bahia. Um mapeamento recente feito pelo Ministério do Meio Ambiente (2006) aponta 27% remanescentes, incluindo os vários estágios de regeneração em todos os remanescentes da Mata Atlântica, sejam: florestas, campos naturais, restingas e manguezais. Entretanto, o percentual de remanescentes bem conservados, gira em torno apenas de 7%, índice aferido pelo van mento feito ela Fundação SOS Mata Atlântica, do Instituto Socioambiental, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e a Sociedade Nordestina de (2005). ado de extinção do mundo, perdendo apenas para as quase extintas florestas da ilha de Madagascar, na costa da É o segundo Bio A Mata Atlântica possui aproximadamente 20 mil espécies de flora (entre 33% e 36% das existentes no País). Em relação à fauna, os levantamentos indi espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 de peixes. Das 472 espécies brasileiras ameaçadas de extinção, 276 são da Mata Atlântica. com a legislaç do Domínio d seguintes rmações florestais nativas e ecossistemas associados: De acordo ão fazem parte a Mata Atlântica as fo Figura 26 ‐ Árvore Pau Brasil Figura 27 – Arara Azul Figura 28 – Preguiça Figura 29 – Onça Pintada Biomas Brasileiros Ecologia Aplicada Profª Dra. Maria Regina de Aquino Silva 38 Floresta Ombrófila Densa: Estende‐se do Ceará ao Rio Grande nsa: Estende‐se do Ceará ao Rio Grande do Sul, localizada principalmente nas encostas da Serra do Mar, da Serra Geral e em ilhas ituada de Araucária, pois o pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia) constitui o andar superior da floresta, com sub‐bosque bastante denso. Reduzida a menos de 3% da área original sobrevive nos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e em maciços descontínuos, nas partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais. Floresta Ombrófila Aberta: A vegetação é mais aberta, sem a presença de árvores que fechem as copas no alto, ocorre em regiões onde o clima apresenta um uatro meses secos, com édias entre 24°C e 25°C. É encontrada, por xemp Sua
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