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Aula7_Limitacoes_constitucionais_poder_tributar

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LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR 
(PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS) 
 
 
1. Princípio da legalidade tributária (CF, art. 150, I) 
1.1. O CTN, art. 97 resume o rol de matérias sujeitas à reserva legal. 
1.2. Exceções ao princípio de legalidade: 
1.2.1. Atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo (CTN 97, § 2º): 
correção segundo índice oficial de correção monetária por decreto (como o 
valor venal do imóvel no cálculo do IPTU). A correção acima do índice exige 
lei em sentido formal (STF, RE 648.245, j. 1º.08.2013, Informativo 713). 
1.2.2. Fixação do prazo para recolhimento (CTN 97 a contrario sensu). 
1.2.3. Alteração das alíquotas dos II, IE, IPI e IOF (CF, art. 153, § 1º): os dois 
primeiros normalmente via Portaria do MF; os dois últimos, por decreto. 
1.2.4. Redução e restabelecimento da alíquota da CIDE-Combustíveis (CF art. 177, 
§4º, I, b): normalmente via decreto. 
1.2.5. Definição da alíquota do ICMS-monofásico incidente sobre combustíveis 
definidos em Lei complementar (CF art. 155, § 4º, IV): mediante convênio. 
1.3. Utilização da medida provisória: CF, art. 62, § 2º. 
 
2. Princípio da isonomia tributária (CF, art. 150, II) 
2.1. Sinonímia: princípio da proibição de desigualdade. 
2.2. A graduação dos impostos (extensível a outros tributos, segundo o STF) segundo 
a capacidade econômica do contribuinte fundamenta-se em tal princípio. 
2.3. Princípio da uniformidade: especificação da isonomia tributária 
2.3.1. Princípio da uniformidade geográfica do tributo federal (CF, art. 151, I). 
Obs.: Admite-se concessão de incentivos fiscais para promover o 
equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes 
regiões do País – em tal exceção, inclui-se por exemplo a Zona 
Franca de Manaus (ADCT, arts. 40 e 92). 
2.3.2. Princípio da uniformidade de tratamento tributário (quanto ao IR) dos títulos 
e agentes públicos (CF, art. 151, II). 
2.3.3. Princípio da vedação de isenção tributária heterônoma (uniformidade de 
autonomia tributária) (CF, art. 151, III). 
Obs.: Restrito à União, não alcança a República Federativa do Brasil. 
“A cláusula de vedação inscrita no art. 151, inciso III, da Constituição – que 
proíbe a concessão de isenções tributárias heterônomas – é inoponível ao 
Estado Federal brasileiro (vale dizer, à República Federativa do Brasil), 
incidindo, unicamente, no plano das relações institucionais domésticas que se 
estabelecem entre as pessoas políticas de direito público interno (...). Nada 
impede, portanto, que o Estado Federal brasileiro celebre tratados 
internacionais que veiculem cláusulas de exoneração tributária em matéria de 
tributos locais (como o ISS, p. ex.), pois a República Federativa do Brasil, ao 
exercer o seu treaty-making power, estará praticando ato legítimo que se inclui 
na esfera de suas prerrogativas como pessoa jurídica de direito internacional 
público, que detém – em face das unidades meramente federadas – o monopólio 
da soberania e da personalidade internacional” (RE 543.943-AgR, Rel. Min. 
Celso de Mello, j. em 30.11.2010, 2ª Turma, DJE de 15.02.2011). 
2.3.4. Princípio da uniformidade de tratamento tributário em razão da procedência e 
destino (CF, art. 152) – adaptação aos Estados, DF e Municípios da CF art, 
151, I – porém, sem exceções. 
 
3. Princípio da não-surpresa: garante o direito do contribuinte à segurança jurídica. 
3.1. Princípio da irretroatividade tributária (CF, art. 150, III, a): proíbe que os tributos 
alcancem fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os 
houver instituído ou aumentado. 
Obs.1: Súmula 584 STF: “Ao imposto de renda calculado sobre os 
rendimentos do ano-base aplica-se a lei vigente no exercício 
financeiro em que deve ser apresentada a declaração”. Ou seja, uma 
hipotética alteração da legislação em dezembro de 2013 repercutiria 
na declaração do IR 2014 (ano-exercício), cujo ano-base, na verdade, 
é 2013. 
 O STJ, em 2001, expressamente afirmou a inaplicabilidade de tal 
súmula (REsp 179.966/RS). 
 O STF, porém, ainda não a revogou expressamente, tendo 
reforçado sua validade em decisões monocráticas posteriores à 
decisão do STJ. 
 O STF apreciará tal questão no RE 183.130/PR ajuizado em 1994 
e, até hoje, não julgado. Desde 2007, encontrava-se com vista 
para o Min. Cézar Peluso; em março de 2013, foi devolvido pelo 
Min. Teori Zavascki ao Pleno para julgamento. 
 A pendência de julgamento de tal RE, a que já se reconheceu 
posterior repercussão geral, tem dificultado que por meio de 
outros RE tal questão pudesse ser apreciada. 
Obs.2: Tal princípio não tem exceções constitucionais. Mas tem exceções 
legais, quando se beneficia o contribuinte (CTN, art. 106). 
3.2. Princípio da anterioridade tributária de exercício financeiro (CF, art. 150, III, b): 
proíbe a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido 
publicada a lei que os instituiu ou aumentou. 
Obs.1: Correção monetária de valores por índices oficiais não se equipara 
à majoração de tributo (entendimento STF). 
Obs.2: Redução ou extinção de desconto previamente existente não se 
equipara à majoração de tributo (entendimento STF). 
Obs.3: Revogação de isenção não se equipara à majoração de tributo 
(entendimento STF). 
Obs.4: Exceções constitucionais ao princípio: 
 II, IE, IOF, IPI, empréstimo compulsório em caso de calamidade 
pública ou guerra e impostos extraordinários de guerra (CF, art. 
150, § 1º); 
 Contribuições para financiamento da seguridade social (CF, art. 
195, § 6º); 
 CIDE-combustíveis – apenas para reduzir ou restabelecer alíquota 
(CF, art. 177, § 4º, I, b). 
 ICMS-monofásico sobre combustíveis – apenas para reduzir ou 
restabelecer alíquota (CF, art. 155, § 4º, IV); 
3.3. Princípio da anterioridade nonagesimal (noventena): proíbe a cobrança de 
tributos antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei 
que os instituiu ou aumentou (CF, art. 150, III, c). 
Obs.1: Alguns autores, a princípio, chamavam de anterioridade 
nonagesimal (ou mitigada) apenas a originária do CF, art. 195, § 6º 
- a do constituinte derivado no CF, art. 150, III, c era chamada 
noventena. Hoje, são tidas por termos equivalentes. 
Obs.2: É cumulada com o princípio da anterioridade de exercício. 
Obs.3: Em caso de medida provisória que majora, p. ex., contribuição: 
 Se prorrogada, na metade da prorrogação passaria a ser cobrada. 
 Se após isso não fosse convertida em lei, teria sido cobrada por 
apenas 30 dias. 
 Se convertida em lei sem alteração substancial de texto, não há 
necessidade de nova noventena. 
 Se convertida em lei com alteração substancial de texto, deve-se 
observar nova noventena. 
Obs.4: Exceções constitucionais ao princípio 
 II, IE, IOF, IR, empréstimo compulsório em caso de calamidade 
pública ou guerra e impostos extraordinários de guerra (CF, art. 
150, § 1º); 
 Fixação de base de cálculo de IPTU e IPVA (CF, art. 150, § 1º). 
 
4. Princípio da vedação de efeitos confiscatórios (CF, art. 150, IV): baseia-se na 
razoabilidade e proporcionalidade da carga tributária 
4.1. O caráter de confisco pode ser analisado em relação a cada tributo em particular, 
mas deve levar em conta também o efeito cumulativo tributário: 
“Resulta configurado o caráter confiscatório de determinado tributo, sempre que o 
efeito cumulativo — resultante das múltiplas incidências tributárias estabelecidas pela 
mesma entidade estatal — afetar, substancialmente, de maneira irrazoável, o 
patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte” (ADC 8-MC, DJ 04.04.2003). 
4.2. Também às multas estão sujeitas a tal princípio, segundo o STF (verificável pela 
desproporção entre o desrespeito à norma tributária esua consequência jurídica). 
 
5. Princípio da vedação da limitação de tráfego via tributo (CF, art. 150, V) 
5.1. Exceção: ICMS e pedágio (quando cobrado pelo próprio Poder Público e com 
natureza de taxa – STF, RE 181.475, Rel. Min. Carlos Velloso, j. em 04.05.1999). 
Obs.: Pedágio cobrado em sistema de delegação é tarifa, não taxa. 
 
6. Princípio da imunidade: a imunidade é uma não-incidência constitucional e opera no 
campo da definição de competência. Ou seja, ao definir uma competência a 
Constituição excepcionou determinadas situações que, assim, permanecem fora do 
campo de competência do ente federativo (Obs.: a isenção opera no campo do 
exercício da competência quando o ente, por meio da lei, embora tenha competência 
decidiu não exercê-la). 
6.1. Princípio da imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a): vedação de 
União, Estados, DF e municípios instituírem impostos sobre patrimônio, renda ou 
serviços uns dos outros. 
Obs.1: Não se estende para outras espécies tributárias como taxas e 
contribuições. 
Obs.2: Extensiva às autarquias e fundações públicas no que se refere ao 
patrimônio, à renda e aos serviços vinculados a suas finalidades 
essenciais ou às delas decorrentes (CF, art. 150, § 2º). 
Obs.3: Extensiva às empresas públicas e sociedade de economia mista 
prestadoras de serviços públicos de prestação obrigatória e exclusiva 
do Estado – entendimento STF (RE 407.099) (ex: ECT). 
Obs.4: As empresas públicas e sociedades de economia mista que 
desenvolvem atividade econômica em sentido estrito não são 
beneficiadas com tal imunidade. 
6.2. Princípio da imunidade tributária genérica (CF, art. 150, VI, b, c, d) 
6.2.1. Imunidade tributária religiosa (CF, art. 150, VI, b) 
Obs.1: A imunidade aos templos de qualquer culto não se aplica às lojas 
maçônicas (RE 562.351, j. 04.09.2012). 
Obs.2: Estende-se aos cemitérios que funcionem como extensões de 
entidade religiosa, não tenham fins lucrativos e se dediquem apenas 
a serviços religiosos e funerários (RE 578.562, j. 21.05.2008). 
Obs.3: Prédio não destinado ao culto que seja alugado mas cujos 
rendimentos revertam para as finalidades da instituição também 
gozam de imunidade (RE 325.822, j. 18.12.2002). 
6.2.2. Imunidade tributária dos partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e 
entidades educacionais e assistenciais sem fins lucrativos (CF, art. 150, VI, c) 
Obs.1: STF, Súmula 724: “Ainda quando alugado a terceiros, permanece 
imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades 
referidas pelo art. 150, VI, c, da Constituição, desde que o valor dos 
aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.” 
Obs.2: “Conforme precedente no STF e na linha da melhor doutrina, o 
que a Constituição remete à lei ordinária, no tocante à imunidade 
tributária considerada, é a fixação de normas sobre a constituição e o 
funcionamento da entidade educacional ou assistencial imune; não, o 
que diga respeito aos lindes da imunidade, que, quando susceptíveis 
de disciplina infraconstitucional, ficou reservado à lei 
complementar” (ADI 1.802-MC, j. 27.08.1998). Os requisitos 
atualmente encontram-se elencados no CTN, art. 14. 
Obs.4: STF, Súmula 730: “A imunidade tributária conferida a 
instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, 
c, da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de 
previdência social privada se não houver contribuição dos 
beneficiários” (pois, assim, se aproximariam da assistência social 
mais que da previdência; com isso, os fundos de pensão das estatais, 
como o Previ do Banco do Brasil, não gozam de imunidade). 
Obs.5: SENAC e SENAI como instituições de ensino sem fins lucrativos 
gozam da imunidade (RE 235.737, j. 13.11.2002). 
Obs.6: Em relação às entidades beneficentes de assistência social, ainda 
há imunidade quanto às contribuições sociais (CF, art. 195, § 7º). 
6.2.3. Imunidade tributária cultural (CF, art. 150, VI, d) 
Obs.1: STF Súmula 657: “A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF 
[livros, jornais, periódicos e o papel destinado à impressão] abrange 
os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e 
periódicos.” 
Obs.2: Independe do conteúdo da publicação. 
Obs.3: Não abrange livros eletrônicos. 
6.3. Outras imunidades constitucionais 
6.3.1. Proibição de taxas (CF, art. 5º, XXXIV, LXXIII, LXXVI, LXXVII) 
6.3.2. Transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária (CF, 
art. 184, § 5º)

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