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Análise psicodinâmica do filme Gênio Indomável.

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Análise psicodinâmica do filme Gênio Indomável
 Gênio Indomável, trás ao público a estória de Will Hunting, um rapaz de vinte anos, que amarga uma realidade muito complicada; com uma história de maus tratos por parte do pai adotivo (não há relatos sobre a família biológica) o jovem vive de forma absolutamente inconsequente. Trabalhando como faxineiro em uma renomada instituição de ensino, ganha a atenção de um professor quando resolve um teorema matemático que fora fixado em um mural. No entanto o jovem, não demonstra nenhuma pretenção acadêmica, ao contrário, não expressa qualquer tipo de ambição, ou nada que represente qualquer perspectiva de futuro; gasta seu tempo vago bebendo com seu grupo restrito de amigos e não raramente envolve- se nos mais diversos tipos de confusões; e é depois de uma briga de rua que, preso é condicionado , para não responder em regime de reclusão, à trabalhar com o referido professor do instituto onde trabalha e ainda à submeter-se à sessões semanais de psicoterapia.
Nesse contexto o irreverente rapaz que possui uma capacidade intelectual realmente impressionante, de uma maneira exageradamente debochada, ridiculariza dois psicólogos convocados pelo professor Gerald. É aí que entra em cena o nada ortodoxo psicólogo Sean Maguir, que assume o propósito nada fácil de ajudar o jovem à reformular seu modo de viver.
Façamos então uma relação dos comportamentos, características e contextos que envolvem Will.
A primeira impressão emitida pelo jovem de calma e tranquilidade é totalmente avessa ao seu potencial agressivo, cruel e vingativo. Sobre esse aspecto temos diversas idéias:
 Winnicott pontua que, quando crianças sofrem privação afetiva, manifestam-se os comportamentos anti-sociais no lar ou numa esfera mais ampla. Do ponto de vista psicodinâmico, estes comportamentos demonstram esperança em obter algo bom que foi perdido, sendo a ausência de esperança a característica básica da criança que sofreu privação. Ainda sobre esse tema podemos nos valer da teoria de M. Klein, embasada no conceito das relações objetais internalizadas que constitui, na psicanálise, o primeiro desenvolvimento da teoria das relações objetais após Freud (Kernberg, 1989; Hinshelwood, 1992). 
Em concordância com sua teoria da dualidade das pulsões (1920) – vida e morte -, a suposição teórica de Klein propõe que tanto a pulsão de vida quanto a de morte operam desde o nascimento, e, neste sentido, salienta-se a importância da agressividade inata como uma manifestação da pulsão de morte. Para Klein (1975), então, os impulsos agressivos constituem um elemento radical e básico na psicologia humana e, em certos aspectos desempenham um papel fundamental na luta pela existência.
Grinberg (1973), apoiando-se nas compreensões de Bion, ressalta que:
 "a capacidade de tolerância à frustração também é uma condição inata do bebê, portanto influi na responsividade da personalidade à carga pulsional destrutiva e às condições de continência do ambiente."
 O autor acrescenta que devemos considerar então, no desenvolvimento do funcionamento psicótico, “(...) uma disposição destrutiva primária, assim como também a relação com uma mãe que foi incapaz de realizar sua função de receber, conter e modificar as violentas emoções projetadas pela criança” (p. 53). 
Outra característica marcante de sua personalidade é a sua maneira irônica, debochada,o quase desprezo com que atua em suas relações indica a existência de possíveis transtornos do narcisismo, nesse ponto nos retrata Zimmermann:
" De sorte a fugir dos outros congelando os afetos ou exercendo um controle tirânico sobre sensores, hipertrofiando onipotência, onisciência, prepotência, arrogância e fuga das verdades que toquem em cicatrizes mal curadas das feridas que estão nos primitivos vazios da mãe." (manual de técnica psicanalítica uma re- visão).
Outra marca do paciente em questão que merece ressalvo, sua inteligência e capacidade de armazenar e processar conhecimento, ainda que pertinente em quase nada se mostra relacionado à sua história pregressa tampouco aos seus possíveis transtornos sendo portanto uma qualidade inata, natural desse indivíduo.
Vejamos então de forma sintética um apanhado dos principais fatos ocorridos dentro do setting terapêutico e suas possíveis influências no processo de mudança:
Já na primeira sessão com Sean, Will com sua típica frieza procura meios para atacar o psicólogo e acabar com a sessão e através de uma quadro pintado pelo analista, que ele, munido de sua bagagem cultural e sua prepotência consegue chegar ao ponto fraco do mesmo ao falar de seu casamento; sem saber de sua viuvez o analisando desperta a ira do psicólogo que, quase perdendo o controle, num ato totalmente contrário à qualquer código de ética, o agarra pelo pescoço e exige respeito. Essa atitude do , além de ferir o código ético da profissão demonstra um certo despreparo uma vez que este se mostrou incapaz de conter-se, interpretar e dar significados ao comportamento do paciente, deixou escapar sentimentos e omitiu uma possível resposta terapêutica. Nesse sentido, L. Grimberg (1976), classifica tal questão como uma "contra identificação projetiva" que seria uma reação do terapeuta às identificações projetivas intrusivas do paciente. 
Um fato de repercussão na segunda sessão é a saída do setting terapêutico, onde o analista leva Will para um parque; essa atitude que à princípio parece uma estratégia do psicólogo, além não ser muito reconhecida no meio analítico, em nada ou muito pouco contribuiu para o processo terapêutico. O discurso proferido por Sean nesse encontro pode ser visto no entanto como uma lição, sobre a cristalização dos conhecimentos, do acervo intelectual de Will, fazendo-o perceber um pouco de suas limitações práticas sobre o mundo é sobre a vida.
O que acontece no terceiro encontro da dupla analítica é um tema bem controverso no mundo das psicoterapis; o silêncio no setting terapêutico remete historicamente a.resistência ao processo de mudança assim, levando em conta que na análise nada deve ser completamente descartado, os "não ditos" no processo de investigação clínica pode ser de grande importância, porém, não neste caso.
Nos resta então, devido à escassez de eventos relevantes durante as sessões subsequentes, atribuir o "sucesso" do processo de cura do jovem gênio, deslumbrado no final do filme, à dois fatores que estão entre os basais da prática analítica em seus mais diversos contextos teóricos. A transferência e contra- transferência. Este fenômeno ocorreu em vários momentos mas podemos ressaltar o encontro na quarta sessão em que Sean, apesar de uma postura um tanto imprópria, compartilha com o paciente toda sua bagagem de vida, emocional e sentimental. Trocam conceitos sobre valores, temores e anseios de forma que proporcionou ao paciente um sentimento de pertinência, afastando naquele momento o medo de ser abandonado como ocorreu em outras ocasiões de sua vida. O papel de continente do terapeuta aliado à sua empatia e ao procedimento utilizado ao final da jornada analítica onde ele busca imprimir em Will a compreensão da sua isenção de culpa, e tornando consciente os sentimentos que até então estavam ocultos no inconsciente, provocaram de forma catártica o principal elemento concreto de mudança do psiquismo do rapaz. O gênio agora poderia ser "domado".
Referências:
 Winnicott DW. Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes; 1994. 
 Grinberg, L. (1973). Introdução às idéias de
 Bion. (T. O. Brito, Trad.). Rio de Janeiro: Imago.

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