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Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 1 PODER JUDICIÁRIO ESTADO DO PARANÁ PRIMEIRA VARA CRIMINAL DO FORO CENTRAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Processo Crime n° 0017567-96.2014.8.16.0013 Autor : Ministério Público do Estado do Paraná Réu : Rogério Madalozo Vistos, etc. 1. Relatório. O representante do Ministério Público com atribuições perante esse Juízo, baseando-se no Inquérito Policial apenso, ofereceu denúncia contra Rogério Madalozo, brasileiro, casado, empresário, natural de São José dos Pinhais/PR, filho de Jocemira Aparecida Rodrigues Madalozo e Nélio Madalozo, portador do RG nº 7.9011.913-5/PR, nascido aos 01/12/1982, com 31 (trinta e um) anos de idade na data dos fatos, residente na Rua Padre Ângelo Bortolini, nº 606, Bairro Jardim Cruzeiro, São José dos Pinhais/PR, por ter este, em tese, praticado o crime disposto no artigo 333, do Código Penal conforme narração fática de mov. 1.1. A denúncia foi recebida no dia 29 de agosto de 2014 (mov. 12.1), oportunidade na qual foi determinada a citação do réu. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 2 Devidamente citado (mov. 28.5), o acusado, por advogado constituído, apresentou sua Resposta à Acusação (mov. 31.1), na qual pugnou pela absolvição sumária com fundamentos no princípio in dubio pro reo, e da fragilidade do conjunto probatório. Não tendo sido vislumbradas causas que autorizassem a absolvição sumária do réu, designou-se data para a realização da audiência de instrução e julgamento (mov. 39.1). Na data aprazada, foram ouvidas as testemunhas arroladas pela acusação e interrogado o acusado, tudo conforme mídia de áudio e vídeo armazenado junto à Secretaria. Deferido o pedido da defesa de substituição da oitiva das testemunhas pela apresentação de declarações abonatórias. Na fase do artigo 402 do Código de Processo Penal, a defesa requereu a juntada do vídeo mencionado em audiência. O pedido foi deferido pelo juízo. O Ministério Público manifestou-se no mov. 87.1 em sede de alegações finais, e após discorrer sobre a instrução processual, bem como acerca das provas produzidas, pugnou pela procedência da denúncia, com o fim de condenar o réu nos termos da peça incoativa. A Defesa, por sua vez, manifestou-se em memoriais (mov. 91.1), requerendo o reconhecimento da nulidade do processo sob o argumento de que “os depoimentos tendenciosos dos policiais ora vítimas” seriam provas ilícitas. Requereu ainda a absolvição do acusado nos termos do artigo 386, inciso V, do Código Penal ou 386, inciso VII, do mesmo Códex. A defesa juntou declarações abonatórias no mov. 91.2. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 3 Com a instrução concluída, apresentadas as alegações finais por ambas as partes, juntados aos autos todos os documentos, vieram os autos conclusos. Eis, em síntese, o relatório do presente procedimento. 2. Fundamentação. Da análise dos autos verifica-se que não há nulidades a serem declaradas, preliminares ou questões prejudiciais de mérito a serem analisadas. Em que pese o requerimento de reconhecimento de nulidade do processo formulado pela defesa, cumpre consignar que os depoimentos das vítimas foram colhidos em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, não havendo que se falar em nulidade. O fato da defesa não concordar com o teor dos depoimentos não implica na ilicitude da prova. Esclarecimento realizado, passa-se ao mérito da presente causa. Materialidade. Analisando detidamente os presentes autos, verifica-se que a materialidade da conduta imputada ao denunciado está plenamente demonstrada no Auto de Prisão em Flagrante (mov. 1.2), Auto de Exibição e Apreensão (mov. 1.6), Boletim de Ocorrência (mov. 23.5), Registro de Ocorrência (mov. 23.5) todos do Inquérito Policial; bem como da prova oral coligida aos autos. Autoria. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 4 A autoria é certa e recai de forma insofismável sobre a pessoa do réu Rogério Madalozo. Rogério Madalozo, interrogado em juízo, negou a autoria do crime. Disse que saía de um bar e colidiu na traseira de um taxi. Quando houve a colisão desceu do veículo, disse ao taxista que tinha seguro, que o prejuízo seria coberto. O taxista queria que o prejuízo fosse acertado ali, insistiu em dizer que tinha seguro, que o dano seria coberto. O taxista perguntou sobre o prejuízo com a corrida, então lhe ofereceu 100 reais. Estava sem bateria (celular); parou a Guarda Municipal; queria utilizar um telefone público e os guardas não permitiam. Foi até o telefone e então os guardas o pegaram e algemaram. Quanto à questão dos dois mil reais, disse que pagaria para o taxista, que o taxista disse que o dano dele seria de dois a três mil reais. Disse que daria dois mil reais para o taxista. Estava algemado, há vídeos. Não conhecia os guardas, não tem rixa com eles. Foi algemado, estava no chão, embaixo da viatura. Ofereceu dois mil reais ao taxista e como lhe foi dito que o valor não cobriria o dano, chegou a oferecer um relógio. Havia ingerido uma latinha de cerveja e por ter realizado redução de estômago um tempo atrás, foi o suficiente para ficar alcoolizado. Já respondeu processo por dirigir embriagado. Khristian Jean Baroni, Guarda Municipal, declarou em juízo que estava transitando com seu colega, nas proximidades da Rua Vicente Machado com a Rua Desembargador Motta. O acusado vinha pelo sentido da Vicente Machado enquanto passavam pelo sentido perpendicular. Passaram devagar pela esquina, com o giroflex ligado, e perceberam que à sua direita ocorreu um acidente; o veículo conduzido pelo acusado bateu na traseira de um táxi Corsa, arremessando esse veículo para frente. Que esse veículo foi parar na metade da faixa de pedestres, em razão da colisão. Era o motorista da viatura, parou para verificar o ocorrido. O motorista do veículo Chevrolet Captiva, que causou o Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 5 acidente, ao avistar a viatura desceu do seu veículo e correu no meio da rua, no sentido da contramão da via, pelo meio dos carros, em zigue zague. Correu cerca de vinte metros até ser alcançado por seu colega. O acusado foi levado para o local do acidente, e ali foi interrogado. A vítima do acidente foi ouvida, bem como a passageira do táxi. O acusado estava bem agitado, precisou ser contido e algemado e ficou com os guardas aguardando a autoridade de trânsito. No momento em que o acusado foi trazido até a viatura, ele estava agitado e ofereceu a quantia que estava em sua carteira, cerca de R$2.000,00 (dois mil reais). Questionado se tinha o dinheiro, o acusado disse que tinha e que poderia ser visto em sua carteira. Repetiu várias vezes, em tom alto de voz, que pagaria o que precisasse para ser liberado; que faria o que fosse preciso. Era um dia de jogo do Brasil na Copa, e o acusado relatou que havia dito em casa que faria uma viagem a trabalho, que isso não condizia com a verdade, motivo pelo qual ele não queria que outras pessoas soubessem que estava em Curitiba; estava voltando de um bar embriagado. O pagamento foi oferecido para que o acusado não fosse preso, para que a situação fosse resolvida entre o acusado e o taxista; que não gerasse nada criminal e para que ninguém soubesse que ele estava ali. Foi gerado boletim de ocorrência em relação à embriaguez ao volante. Reconhece o réu. O taxista presenciou a oferta de dinheiro, várias pessoas presenciaram, populares fizeram imagens. O acusado falou que o dinheiro estava em sua carteira que estavano bolso. Realmente havia bastante dinheiro na carteira. A oferta foi para os dois guardas. Ele queria resolver com o taxista, informou que não poderia, porque ele estava embriagado, causou acidente e tentou se evadir. Então o réu disse que daria aos guardas o dinheiro. Não recorda se o acusado ofereceu algo para o taxista. Recorda-se que o acusado relutava em se acertar com o motorista. Antonio Carlos Leão, Guarda Municipal, relatou que estavam fazendo patrulhamento na região central, Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 6 quando se depararam com um acidente de trânsito recém ocorrido, entre um taxi e um veículo. Quando foram abordados pelo taxista e por sua passageira, em relação ao acidente, o Guarda Municipal Khristian foi fazer o apoio ao sinistro e o depoente percebeu que o acusado corria na contramão, em meio a outros veículos, tentando se evadir do local. Foi até o acusado, ele estava bastante agitado e foi conduzido novamente até o local do acidente. Mostrava-se bastante agitado, relutante motivo pelo qual foi algemado, e nesse momento ele verbalizava que havia dito a esposa que iria viajar e que por esse motivo não poderia ser preso, nem se envolver em nenhuma situação com a justiça. Era dia de jogo da Copa. Quando estava detido e aguardavam o apoio para condução, o réu passou a oferecer valores para a equipe de guardas municipais, e para o taxista oferecia um relógio. O réu tinha os valores no bolso, que foram apresentados na delegacia. O réu ofereceu os valores, mas como já estava detido e algemado não tinha condições de pegá-lo. Não se recorda do valor exato. O valor foi oferecido para evitar a prisão. Apresentava sinais de uso de substância alcoólica, pois sua verbalização era confusa e condição motora estava comprometida. Reconhece a pessoa que se encontra na sala de audiência. O oferecimento de dinheiro ocorreu no local do acidente, na presença de várias pessoas, inclusive o ocorrido foi noticiado em vários canais de televisão. O réu não pegou o dinheiro na mão para poder lhe entregar, mas ele disse que o dinheiro estava no bolso de suas calças e que poderia pegar, falou o valor de dois mil reais. Não se lembra se o acusado tinha esse valor exato, ou um pouco mais. Ele foi claro em dizer que oferecia dois mil reais para os guardas e o relógio que estava em seu pulso para o taxista. Ele ofereceu dois mil reais para a equipe que fazia a primeira abordagem. Houve uma verbalização a respeito de quantia, mas com a intenção de evidenciar que se ofertavam valores aos guardas. Amilton Santos de Camargo, testemunha arrolada pela acusação, declarou que o Rogério disse “pago, pago”. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 7 Não estava próximo. Não sabe dizer o contexto, porque estava cinco metros distante do local onde o acusado estava. Quanto ao prejuízo causado não houve acordo com o Rogério; agora ele está pagando parcelado em razão do acordo realizado no Juizado Especial. Rogério naquela data estava embriagado. Reconhece Rogério como a pessoa envolvida no acidente. No local Rogério lhe ofereceu cem reais, mas depois saiu correndo. Não lhe ofereceu dois mil reais, nem relógio. Apenas ouviu o réu dizer “pago pago”. Estava distante do acusado. No vídeo mencionado em audiência e que pode ser visto no endereço fornecido pela defesa no mov. 84.1, http://pr.ricmais.com.br/parana-no-ar/videos/motorista- embriagado-tenta-subornar-policiais-depois-de-acidente-no-centro- de-curitiba/, pode-se ver claramente o acusado dizendo “pago dois mil pro cê agora”, sendo que o acusado se encontrava ao lado dos guardas e o taxista Amilton não estava próximo ao local. A versão do acusado de que o dinheiro foi oferecido ao taxista e não aos policiais, encontra-se isolada nos autos. Os depoimentos dos Guardas Municipais responsáveis pela prisão não deixam dúvidas de que houve a oferta, tanto que o dinheiro foi apreendido e o ocorrido foi filmado e exibido em um noticiário. Os depoimentos dos Guardas Municipais, em se tratando de crime de corrupção ativa, é de fundamental relevância para a formação de um juízo condenatório, principalmente quando em harmonia com as demais provas, nesse caso, a própria apreensão, o depoimento de Amilton e o vídeo trazido pela defesa. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 8 Esse entendimento encontra amparo na jurisprudência: “APELAÇÃO CRIME - ROUBO MAJORADO E CORRUPÇÃO ATIVA - ART. 157, §2º, INC. V E ART. 333, CAPUT, AMBOS DO CP - SENTENÇA CONDENATÓRIA - RECURSO DA DEFESA - PRELIMINAR ARGUIDA EM RELAÇÃO AO CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA - NULIDADE DE DEPOIMENTO POR OMISSÃO DE FORMALIDADE - PRECLUSO O DIREITO DE PLEITEAR NOVO DEPOIMENTO - NULIDADE INEXISTENTE - PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE CRIME IMPOSSÍVEL - PLEITO PELA ABSOLVIÇÃO DO CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA IMPROCEDÊNCIA CRIME CARACTERIZADO EM OFERECER OU PROMETER VANTAGEM INDEVIDA A FUNCIONÁRIO PÚBLICO - PALAVRA DOS POLICIAIS MILITARES - INEXISTÊNCIA DE SUBSÍDIOS A DESQUALIFICAR A PALAVRA DOS DEPOENTES PRESUNÇÃO DE VERACIDADE CONDENAÇÃO MANTIDA PEDIDO DE AFASTAMENTO DO CONCURSO FORMAL NOS CRIMES DE ROUBO - IMPOSSIBILIDADE - ÚNICA AÇÃO ATINGINDO DUAS VÍTIMAS DISTINTAS - MANUTENÇÃO - RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 3ª C.Criminal - AC - 1357323-8 - Curitiba - Rel.: José Cichocki Neto - Unânime - J. 20.08.2015)”. Original sem grifo. "PENAL. APELAÇÃO. CRIMES DE DISPARO DE ARMA DE FOGO (ART. 15, DA LEI Nº 10.826/2003) E DE CORRUPÇÃO ATIVA (ART. 333, CAPUT, CP). DISPARO DE ARMA DE FOGO. NEGATIVA DE Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 9 AUTORIA. RÉU QUE APÓS EFETUAR DIVERSOS DISPAROS DE ARMA DE FOGO EM VIA PÚBLICA, PEDE AO TÁXI PARA SER DEIXADO, ARMADO, PERTO DA CASA DA VÍTIMA DA CASA ATINGIDA, COM QUEM MANTINHA ANIMOSIDADE. PROVAS TESTEMUNHAIS SUFICIENTES A EVIDENCIAR A PRÁTICA DO CRIME PELO RÉU. CRIME DE MERA CONDUTA. CONSUMAÇÃO COM A SIMPLES PRÁTICA DO TIPO PENAL. CONDENAÇÃO MANTIDA. CORRUPÇÃO ATIVA. AGENTE QUE OFERECE PROPINA PARA NÃO SER PRESO. PALAVRA DOS POLICIAIS. IDONEIDADE PARA FUNDAR JUÍZO CONDENATÓRIO. QUANDO NÃO HOUVER SUSPEIÇÃO CONTRA ELES, E SUAS DECLARAÇÕES FOREM CONSENTÂNEAS E HARMÔNICAS. CONDENAÇÃO TAMBÉM CONFIRMADA. DOSIMETRIA DA PENA, CIRCUNSTÃNCIAS `MOTIVOS DO CRIME', `CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME' E `CONDUTA SOCIAL' QUE AUTORIZAM A ELEVAÇÃO DA PENA DO CRIME DE DISPARO DE ARMA DE FOGO. CIRCUSNTÂNCIA `CONDUTA SOCIAL' QUE TAMBÉM PERMITE ELEVAÇÃO DA PENA DO CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA. PENA MANTIDA EM 05 ANOS DE RECLUSÃO E 35 DIAS-MULTA. REGIME SEMI- ABERTO, MANUTENÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1.(...)2. (...). 3. O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento no sentido de que não há irregularidade no fato de o policial que participou das diligências ser ouvido como testemunha. Ademais, o só fato de a testemunha ser policial não revela suspeição ou impedimento. (STF- 2ª Turma, HC 76.557/RJ, Rel. Min. Carlos Velloso, julg. 04.08.98, DJ 02.02.2001, P. 73)". (TJPR. 2ª Câmara Criminal. Rel. Des. CARLOS Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 10 AUGUSTO ALTHEIA DE MELLO. Acórdão nº28873. DJ: 02.06.2011. Unânime). Original sem grifo. Pelo conjunto probatório colhido nos autos não resta dúvidas de que o réu ofereceu aos guardas municipais, a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), objetivando se eximir de imputação criminosa. No que concerne ao delito descrito no artigo 333 do Código Penal, corrupção ativa, trata-se de crime formal, consuma-se o crime com a simples oferta ou promessa de vantagem indevida, em que a consumação independeda aceitação da vantagem ou promessa que é oferecida ao funcionário. Com a oferta do dinheiro aos guardas, o delito de corrupção ativa se consumou, tendo em vista que para tal não existe necessidade de que o funcionário aceite a oferta, bastando o oferecimento com o objetivo de que não seja realizado ato de ofício. Destarte, devidamente provada a materialidade e a autoria delitivas, e inexistindo causa excludente de ilicitude ou culpabilidade, impõe-se a condenação do acusado pela prática do delito tipificado no artigo 333, caput, do Código Penal, por ser a decisão que mais correto se afigura. 3. Dispositivo. Ante o exposto, julgo procedente a pretensão deduzida em juízo para o fim de condenar o acusado Rogério Madalozo como incurso na pena do delito capitulado no Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 11 artigo 333, caput, do Código Penal, bem como ao pagamento das custas processuais. Aplicação da pena. 1º fase - circunstâncias judiciais (artigo 59, do Código Penal). Culpabilidade: É o grau de reprovabilidade da conduta, nos crimes dolosos tem por fulcro a vontade reprovável e nos culposos, a maior ou menor violação do cuidado objetivo. No caso, o réu agiu com culpabilidade normal ao tipo penal, nada tendo a se valorar. Antecedentes: entendem-se como antecedentes os anteriores envolvimentos judiciais do acusado, posicionado-se parte da doutrina e jurisprudência brasileira no sentido de que só pode ser considerada nesta fase como maus antecedentes a existência de ações penais com decisão transitada em julgado, desde que não caracterizada a reincidência, sob pena de bis in idem. Das certidões de antecedentes juntadas (mov. 22.1 e 66.5), não há registro de decisão transitada em julgado, pelo que deixo de valorar. Personalidade do agente e conduta social: refere-se ao comportamento do acusado em sociedade, no ambiente de trabalho e em família. Nos autos, porém, há poucos elementos capazes de formar algum juízo quanto ao comportamento do acusado em sociedade. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 12 Motivos determinantes do crime: são representados pelos antecedentes psíquicos e as razões que desencadearam a conduta ilícita. Os motivos do delito são inerentes ao tipo penal, pelo que deixo de valorar. Conseqüências do crime: devem ser analisadas levando-se em conta o maior ou menor dano, ou perigo, causados pela conduta do agente. Da análise dos autos, verifica-se que o não houve danos, não havendo o que se valorar. Comportamento da vítima: a vítima neste caso nada contribuiu para a prática do delito, não devendo influir no cálculo da pena. Pena base. Tudo isso sopesado, fixo a pena-base em 02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, cada dia na proporção 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo em vigor no tempo dos fatos, atendendo à situação financeira do réu. 2ª fase - circunstâncias legais (artigos 61 a 66). Não há circunstâncias legais a serem valoradas. 3ª fase – circunstâncias especiais de aumento ou diminuição de pena (majorantes e minorantes - artigo 68, § único). Inexistem causas especiais de aumento Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 13 ou de diminuição para serem observadas. Pena definitiva. Destarte, fixo o quantum da pena base como pena definitiva, restando fixada em 02 (dois) anos de reclusão, e a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, cada dia no mínimo legal de (1/30) um trigésimo do salário mínimo federal, vigente na época dos fatos. Detração penal – Lei Federal nº 12.736, de 30 de novembro de 2012. Recentemente a Lei nº 12.736/2012 deu nova redação ao artigo 387, do Código de Processo Penal, conforme transcrição adiante procedida. Art. 1o A detração deverá ser considerada pelo juiz que proferir a sentença condenatória, nos termos desta Lei. Art. 2o O art. 387 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 387. ...................................................................... § 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta. § 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 14 A modificação levada a efeito tem como escopo, ao que parece, acelerar o processo de “progressão de regime”, resultante da detração penal, que é típico instituto da execução penal, a fim de mitigar o sofrimento do condenado que, inexoravelmente, será beneficiado, na fase executória, em face do lapso prisional provisório, se a isso fizer jus, mas com certa demora. Entendeu o legislador que da nova Lei decorrem consequências positivas, tais como diminuição de gastos públicos com encarceramentos desnecessários, supressão de inúmeros processos judiciais, tendentes à obtenção da detração, na fase executiva da condenação, com maior celeridade, o que seria possível conferindo-se ao magistrado sentenciante tal procedimento. Em suma e objetivamente, a pretensão legal é a subtração, do período da condenação, do tempo de cumprimento da pena provisória, não só pelo juízo da execução propriamente dita, como pelo magistrado do processo de conhecimento que exarar decreto condenatório. Ainda que esta não seja a melhor solução para a melhoria das condições do sistema prisional e carcerário do país, funcionará como paliativo temporário das gravíssimas consequências e mazelas resultantes da omissão dos órgãos e entes públicos competentes. O ideal seria o estudo e planejamento técnicos do sistema como um todo, a fim de se buscar soluções urgentes, para investimento e ações efetivas, despidas de demagogia. Não obstante tudo isso e apartado da celeuma jurídica instalada em face da promulgação de referida Lei, verifico, em cumprimento ao disposto no parágrafo 2º do artigo 387 Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 15 do Código de Processo Penal, incluído pela Lei 12.736/2012, que o réu foi preso em flagrante no dia 13/06/2014 e solto no dia 16/06/2014, totalizando 04 (quatro) dias de prisão. Subtraído tal lapso daquele arbitrado na condenação, remanescem, para cumprimento, o total de 01 (um) ano, 11 (onze) meses e 26 (vinte e seis) dias de reclusão. Impende gizar que para os demais efeitos legais decorrentes da condenação, - mormente no que concerne ao cálculo do prazo de prescrição da pretensão punitiva ou executória -, a contagem deve ser feita a partir do resultado da aplicação da pena nos exatos termos do artigo 68, do Código Penal. Forma de cumprimento da pena (artigos 59, inciso III e 33, § 3º, ambos do Código Penal, e artigo 110 da Lei de Execuções Penais). Diante da pena aplicada, e tendo em vista que as circunstâncias judiciais são favoráveis, o sentenciado deverá iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente fixada em regime aberto. Outrossim, não existindo casa do albergado neste Foro Central de Curitiba, o sentenciado deverá cumprir as condições adiante fixadas. a) Comparecimento mensal em juízo a fim de prestar contas de sua atividade laboral e endereço. b) Não se ausentar do Município de Curitibapor mais de 15 (quinze) dias sem prévia autorização do Juízo. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 16 c) Não frequentar bares e locais de duvidosa reputação, bem como não se embriagar ou fazer uso de drogas. d) Recolher-se em sua residência a partir das 22h00 até as 06h00 do dia seguinte, bem como nos feriados e fins de semana. Da substituição da pena. Diante do regime inicial de cumprimento fixado, e tendo em vista que o acusado é primário e preenche os demais requisitos contidos no artigo 44 do Código Penal, substituo a pena privativa de liberdade por 02 (duas) penas restritivas de direitos, na modalidade de prestação pecuniária, no importe de 03 (três) salários-mínimos, que será revertida em prol de instituição a ser indicada pelo Juízo da Execução; bem como interdição temporária de direitos, pelo tempo da condenação, consubstanciada na proibição de frequentar estabelecimentos de duvidosa reputação ou que vendam bebidas alcoólicas, a teor do artigo 47, inciso IV do Código Penal, pelo tempo da condenação. Esclareço que a escolha das penas restritivas de direitos teve por norte não comprometer o exercício laboral do sentenciado, bem como mantê-lo distante de locais onde possa, eventualmente, se envolver em desentendimentos, contribuindo de modo salutar para sua ressocialização. Explicite-se, ainda, que em caso de descumprimento injustificado da restrição imposta, a pena corporal deverá ser cumprida em regime aberto (artigo 33, § 1º, “c”, combinado com o artigo 36, ambos do Código Penal), atentando para as condições anteriormente fixadas e, eventualmente, se sujeitará à regressão para regime mais rigoroso (artigo 44, § 4º do Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 17 Código Penal). Do sursis. Feita a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, incabível a concessão simultânea do sursis. Da desnecessidade de decretação da prisão preventiva. Diante do regime inicial fixado para o cumprimento da pena, e ainda, que o acusado respondeu ao processo em liberdade, não se vislumbra neste momento, razões que justifiquem a decretação da prisão preventiva. Perdimento dos bens. Nos termos do art. 91, II, “a”, do CP, decreto o perdimento do dinheiro apreendido, conforme Auto de Exibição e Apreensão de seq. 1.6 dos autos de inquérito policial, tendo em vista que foi utilizado para a prática do crime. Providências finais. Na hipótese de manutenção da presente sentença, após o trânsito em julgado ordeno o cumprimento das determinações que se seguem. a) Remetam-se os autos ao Contador Judicial, para apuração das custas processuais e da pena pecuniária a serem pagas pelos sentenciados. Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 18 b) Comunique-se à Justiça Eleitoral que os sentenciados encontram-se com seus direitos políticos suspensos, em face do disposto no inciso III, do artigo 15 da Constituição Federal. c) Expeçam-se Guias de Recolhimento para execução da pena fixada na presente decisão. d) Efetuem-se diligências com a finalidade de verificar se foi recolhida fiança, tendo em vista a ausência de comprovante de recolhimento nos autos, e que no Alvará de Soltura, expedido pelo Plantão Judiciário (mov. 18.1, I.P.), consta que se trata de “Liberdade provisória com fiança”. Cautelas e comunicações de estilo. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Curitiba, 05 de outubro de 2015. (Documento assinado digitalmente) José Orlando Cerqueira Bremer Juiz de Direito