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Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 
 
1
PODER JUDICIÁRIO 
ESTADO DO PARANÁ 
PRIMEIRA VARA CRIMINAL DO FORO 
CENTRAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE 
 CURITIBA 
 
 
 
Processo Crime n° 0017567-96.2014.8.16.0013 
Autor : Ministério Público do Estado do Paraná 
Réu : Rogério Madalozo 
 
 
Vistos, etc. 
 
 
1. Relatório. 
 
O representante do Ministério Público 
com atribuições perante esse Juízo, baseando-se no Inquérito Policial 
apenso, ofereceu denúncia contra Rogério Madalozo, brasileiro, 
casado, empresário, natural de São José dos Pinhais/PR, filho de 
Jocemira Aparecida Rodrigues Madalozo e Nélio Madalozo, 
portador do RG nº 7.9011.913-5/PR, nascido aos 01/12/1982, com 31 
(trinta e um) anos de idade na data dos fatos, residente na Rua 
Padre Ângelo Bortolini, nº 606, Bairro Jardim Cruzeiro, São José dos 
Pinhais/PR, por ter este, em tese, praticado o crime disposto no 
artigo 333, do Código Penal conforme narração fática de mov. 1.1. 
 
A denúncia foi recebida no dia 29 de 
agosto de 2014 (mov. 12.1), oportunidade na qual foi determinada a 
citação do réu. 
 
 
 
 
 
 
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Devidamente citado (mov. 28.5), o 
acusado, por advogado constituído, apresentou sua Resposta à 
Acusação (mov. 31.1), na qual pugnou pela absolvição sumária com 
fundamentos no princípio in dubio pro reo, e da fragilidade do 
conjunto probatório. 
 
Não tendo sido vislumbradas causas que 
autorizassem a absolvição sumária do réu, designou-se data para a 
realização da audiência de instrução e julgamento (mov. 39.1). 
 
Na data aprazada, foram ouvidas as 
testemunhas arroladas pela acusação e interrogado o acusado, tudo 
conforme mídia de áudio e vídeo armazenado junto à Secretaria. 
Deferido o pedido da defesa de substituição da oitiva das 
testemunhas pela apresentação de declarações abonatórias. 
 
Na fase do artigo 402 do Código de 
Processo Penal, a defesa requereu a juntada do vídeo mencionado 
em audiência. O pedido foi deferido pelo juízo. 
 
O Ministério Público manifestou-se no 
mov. 87.1 em sede de alegações finais, e após discorrer sobre a 
instrução processual, bem como acerca das provas produzidas, 
pugnou pela procedência da denúncia, com o fim de condenar o réu 
nos termos da peça incoativa. 
 
A Defesa, por sua vez, manifestou-se em 
memoriais (mov. 91.1), requerendo o reconhecimento da nulidade 
do processo sob o argumento de que “os depoimentos tendenciosos 
dos policiais ora vítimas” seriam provas ilícitas. Requereu ainda a 
absolvição do acusado nos termos do artigo 386, inciso V, do Código 
Penal ou 386, inciso VII, do mesmo Códex. A defesa juntou 
declarações abonatórias no mov. 91.2. 
 
 
 
 
 
 
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3
Com a instrução concluída, apresentadas 
as alegações finais por ambas as partes, juntados aos autos todos os 
documentos, vieram os autos conclusos. 
 
Eis, em síntese, o relatório do presente 
procedimento. 
 
 
2. Fundamentação. 
 
Da análise dos autos verifica-se que não 
há nulidades a serem declaradas, preliminares ou questões 
prejudiciais de mérito a serem analisadas. 
 
Em que pese o requerimento de 
reconhecimento de nulidade do processo formulado pela defesa, 
cumpre consignar que os depoimentos das vítimas foram colhidos 
em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, não 
havendo que se falar em nulidade. O fato da defesa não concordar 
com o teor dos depoimentos não implica na ilicitude da prova. 
Esclarecimento realizado, passa-se ao mérito da presente causa. 
 
Materialidade. 
 
Analisando detidamente os presentes 
autos, verifica-se que a materialidade da conduta imputada ao 
denunciado está plenamente demonstrada no Auto de Prisão em 
Flagrante (mov. 1.2), Auto de Exibição e Apreensão (mov. 1.6), 
Boletim de Ocorrência (mov. 23.5), Registro de Ocorrência (mov. 
23.5) todos do Inquérito Policial; bem como da prova oral coligida 
aos autos. 
 
Autoria. 
 
 
 
 
 
 
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4
A autoria é certa e recai de forma 
insofismável sobre a pessoa do réu Rogério Madalozo. 
 
Rogério Madalozo, interrogado em juízo, 
negou a autoria do crime. Disse que saía de um bar e colidiu na 
traseira de um taxi. Quando houve a colisão desceu do veículo, disse 
ao taxista que tinha seguro, que o prejuízo seria coberto. O taxista 
queria que o prejuízo fosse acertado ali, insistiu em dizer que tinha 
seguro, que o dano seria coberto. O taxista perguntou sobre o 
prejuízo com a corrida, então lhe ofereceu 100 reais. Estava sem 
bateria (celular); parou a Guarda Municipal; queria utilizar um 
telefone público e os guardas não permitiam. Foi até o telefone e 
então os guardas o pegaram e algemaram. Quanto à questão dos 
dois mil reais, disse que pagaria para o taxista, que o taxista disse 
que o dano dele seria de dois a três mil reais. Disse que daria dois 
mil reais para o taxista. Estava algemado, há vídeos. Não conhecia 
os guardas, não tem rixa com eles. Foi algemado, estava no chão, 
embaixo da viatura. Ofereceu dois mil reais ao taxista e como lhe foi 
dito que o valor não cobriria o dano, chegou a oferecer um relógio. 
Havia ingerido uma latinha de cerveja e por ter realizado redução 
de estômago um tempo atrás, foi o suficiente para ficar alcoolizado. 
Já respondeu processo por dirigir embriagado. 
 
Khristian Jean Baroni, Guarda 
Municipal, declarou em juízo que estava transitando com seu 
colega, nas proximidades da Rua Vicente Machado com a Rua 
Desembargador Motta. O acusado vinha pelo sentido da Vicente 
Machado enquanto passavam pelo sentido perpendicular. Passaram 
devagar pela esquina, com o giroflex ligado, e perceberam que à sua 
direita ocorreu um acidente; o veículo conduzido pelo acusado 
bateu na traseira de um táxi Corsa, arremessando esse veículo para 
frente. Que esse veículo foi parar na metade da faixa de pedestres, 
em razão da colisão. Era o motorista da viatura, parou para verificar 
o ocorrido. O motorista do veículo Chevrolet Captiva, que causou o 
 
 
 
 
 
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acidente, ao avistar a viatura desceu do seu veículo e correu no meio 
da rua, no sentido da contramão da via, pelo meio dos carros, em 
zigue zague. Correu cerca de vinte metros até ser alcançado por seu 
colega. O acusado foi levado para o local do acidente, e ali foi 
interrogado. A vítima do acidente foi ouvida, bem como a 
passageira do táxi. O acusado estava bem agitado, precisou ser 
contido e algemado e ficou com os guardas aguardando a 
autoridade de trânsito. No momento em que o acusado foi trazido 
até a viatura, ele estava agitado e ofereceu a quantia que estava em 
sua carteira, cerca de R$2.000,00 (dois mil reais). Questionado se 
tinha o dinheiro, o acusado disse que tinha e que poderia ser visto 
em sua carteira. Repetiu várias vezes, em tom alto de voz, que 
pagaria o que precisasse para ser liberado; que faria o que fosse 
preciso. Era um dia de jogo do Brasil na Copa, e o acusado relatou 
que havia dito em casa que faria uma viagem a trabalho, que isso 
não condizia com a verdade, motivo pelo qual ele não queria que 
outras pessoas soubessem que estava em Curitiba; estava voltando 
de um bar embriagado. O pagamento foi oferecido para que o 
acusado não fosse preso, para que a situação fosse resolvida entre o 
acusado e o taxista; que não gerasse nada criminal e para que 
ninguém soubesse que ele estava ali. Foi gerado boletim de 
ocorrência em relação à embriaguez ao volante. Reconhece o réu. O 
taxista presenciou a oferta de dinheiro, várias pessoas presenciaram, 
populares fizeram imagens. O acusado falou que o dinheiro estava 
em sua carteira que estavano bolso. Realmente havia bastante 
dinheiro na carteira. A oferta foi para os dois guardas. Ele queria 
resolver com o taxista, informou que não poderia, porque ele estava 
embriagado, causou acidente e tentou se evadir. Então o réu disse 
que daria aos guardas o dinheiro. Não recorda se o acusado 
ofereceu algo para o taxista. Recorda-se que o acusado relutava em 
se acertar com o motorista. 
 
Antonio Carlos Leão, Guarda Municipal, 
relatou que estavam fazendo patrulhamento na região central, 
 
 
 
 
 
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quando se depararam com um acidente de trânsito recém ocorrido, 
entre um taxi e um veículo. Quando foram abordados pelo taxista e 
por sua passageira, em relação ao acidente, o Guarda Municipal 
Khristian foi fazer o apoio ao sinistro e o depoente percebeu que o 
acusado corria na contramão, em meio a outros veículos, tentando 
se evadir do local. Foi até o acusado, ele estava bastante agitado e foi 
conduzido novamente até o local do acidente. Mostrava-se bastante 
agitado, relutante motivo pelo qual foi algemado, e nesse momento 
ele verbalizava que havia dito a esposa que iria viajar e que por esse 
motivo não poderia ser preso, nem se envolver em nenhuma 
situação com a justiça. Era dia de jogo da Copa. Quando estava 
detido e aguardavam o apoio para condução, o réu passou a 
oferecer valores para a equipe de guardas municipais, e para o 
taxista oferecia um relógio. O réu tinha os valores no bolso, que 
foram apresentados na delegacia. O réu ofereceu os valores, mas 
como já estava detido e algemado não tinha condições de pegá-lo. 
Não se recorda do valor exato. O valor foi oferecido para evitar a 
prisão. Apresentava sinais de uso de substância alcoólica, pois sua 
verbalização era confusa e condição motora estava comprometida. 
Reconhece a pessoa que se encontra na sala de audiência. O 
oferecimento de dinheiro ocorreu no local do acidente, na presença 
de várias pessoas, inclusive o ocorrido foi noticiado em vários canais 
de televisão. O réu não pegou o dinheiro na mão para poder lhe 
entregar, mas ele disse que o dinheiro estava no bolso de suas calças 
e que poderia pegar, falou o valor de dois mil reais. Não se lembra 
se o acusado tinha esse valor exato, ou um pouco mais. Ele foi claro 
em dizer que oferecia dois mil reais para os guardas e o relógio que 
estava em seu pulso para o taxista. Ele ofereceu dois mil reais para a 
equipe que fazia a primeira abordagem. Houve uma verbalização a 
respeito de quantia, mas com a intenção de evidenciar que se 
ofertavam valores aos guardas. 
 
Amilton Santos de Camargo, testemunha 
arrolada pela acusação, declarou que o Rogério disse “pago, pago”. 
 
 
 
 
 
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Não estava próximo. Não sabe dizer o contexto, porque estava cinco 
metros distante do local onde o acusado estava. Quanto ao prejuízo 
causado não houve acordo com o Rogério; agora ele está pagando 
parcelado em razão do acordo realizado no Juizado Especial. 
Rogério naquela data estava embriagado. Reconhece Rogério como 
a pessoa envolvida no acidente. No local Rogério lhe ofereceu cem 
reais, mas depois saiu correndo. Não lhe ofereceu dois mil reais, 
nem relógio. Apenas ouviu o réu dizer “pago pago”. Estava distante 
do acusado. 
 
No vídeo mencionado em audiência e 
que pode ser visto no endereço fornecido pela defesa no mov. 84.1, 
http://pr.ricmais.com.br/parana-no-ar/videos/motorista-
embriagado-tenta-subornar-policiais-depois-de-acidente-no-centro-
de-curitiba/, pode-se ver claramente o acusado dizendo “pago dois 
mil pro cê agora”, sendo que o acusado se encontrava ao lado dos 
guardas e o taxista Amilton não estava próximo ao local. 
 
A versão do acusado de que o dinheiro 
foi oferecido ao taxista e não aos policiais, encontra-se isolada nos 
autos. 
 
Os depoimentos dos Guardas 
Municipais responsáveis pela prisão não deixam dúvidas de que 
houve a oferta, tanto que o dinheiro foi apreendido e o ocorrido foi 
filmado e exibido em um noticiário. 
 
Os depoimentos dos Guardas 
Municipais, em se tratando de crime de corrupção ativa, é de 
fundamental relevância para a formação de um juízo condenatório, 
principalmente quando em harmonia com as demais provas, nesse 
caso, a própria apreensão, o depoimento de Amilton e o vídeo 
trazido pela defesa. 
 
 
 
 
 
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8
Esse entendimento encontra amparo na 
jurisprudência: 
 
 
“APELAÇÃO CRIME - ROUBO MAJORADO E 
CORRUPÇÃO ATIVA - ART. 157, §2º, INC. V E ART. 
333, CAPUT, AMBOS DO CP - SENTENÇA 
CONDENATÓRIA - RECURSO DA DEFESA - 
PRELIMINAR ARGUIDA EM RELAÇÃO AO CRIME 
DE CORRUPÇÃO ATIVA - NULIDADE DE 
DEPOIMENTO POR OMISSÃO DE FORMALIDADE 
- PRECLUSO O DIREITO DE PLEITEAR NOVO 
DEPOIMENTO - NULIDADE INEXISTENTE - 
PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE CRIME 
IMPOSSÍVEL - PLEITO PELA ABSOLVIÇÃO DO 
CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA ­ 
IMPROCEDÊNCIA ­ CRIME CARACTERIZADO EM 
OFERECER OU PROMETER VANTAGEM 
INDEVIDA A FUNCIONÁRIO PÚBLICO - PALAVRA 
DOS POLICIAIS MILITARES - INEXISTÊNCIA DE 
SUBSÍDIOS A DESQUALIFICAR A PALAVRA DOS 
DEPOENTES ­ PRESUNÇÃO DE VERACIDADE ­ 
CONDENAÇÃO MANTIDA ­ PEDIDO DE 
AFASTAMENTO DO CONCURSO FORMAL NOS 
CRIMES DE ROUBO - IMPOSSIBILIDADE - ÚNICA 
AÇÃO ATINGINDO DUAS VÍTIMAS DISTINTAS - 
MANUTENÇÃO - RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 
3ª C.Criminal - AC - 1357323-8 - Curitiba - Rel.: José 
Cichocki Neto - Unânime - J. 20.08.2015)”. Original 
sem grifo. 
 
"PENAL. APELAÇÃO. CRIMES DE DISPARO DE 
ARMA DE FOGO (ART. 15, DA LEI Nº 10.826/2003) E 
DE CORRUPÇÃO ATIVA (ART. 333, CAPUT, CP). 
DISPARO DE ARMA DE FOGO. NEGATIVA DE 
 
 
 
 
 
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9
AUTORIA. RÉU QUE APÓS EFETUAR DIVERSOS 
DISPAROS DE ARMA DE FOGO EM VIA PÚBLICA, 
PEDE AO TÁXI PARA SER DEIXADO, ARMADO, 
PERTO DA CASA DA VÍTIMA DA CASA ATINGIDA, 
COM QUEM MANTINHA ANIMOSIDADE. 
PROVAS TESTEMUNHAIS SUFICIENTES A 
EVIDENCIAR A PRÁTICA DO CRIME PELO RÉU. 
CRIME DE MERA CONDUTA. CONSUMAÇÃO 
COM A SIMPLES PRÁTICA DO TIPO PENAL. 
CONDENAÇÃO MANTIDA. CORRUPÇÃO ATIVA. 
AGENTE QUE OFERECE PROPINA PARA NÃO SER 
PRESO. PALAVRA DOS POLICIAIS. IDONEIDADE 
PARA FUNDAR JUÍZO CONDENATÓRIO. 
QUANDO NÃO HOUVER SUSPEIÇÃO CONTRA 
ELES, E SUAS DECLARAÇÕES FOREM 
CONSENTÂNEAS E HARMÔNICAS. 
CONDENAÇÃO TAMBÉM CONFIRMADA. 
DOSIMETRIA DA PENA, CIRCUNSTÃNCIAS 
`MOTIVOS DO CRIME', `CIRCUNSTÂNCIAS DO 
CRIME' E `CONDUTA SOCIAL' QUE AUTORIZAM 
A ELEVAÇÃO DA PENA DO CRIME DE DISPARO 
DE ARMA DE FOGO. CIRCUSNTÂNCIA 
`CONDUTA SOCIAL' QUE TAMBÉM PERMITE 
ELEVAÇÃO DA PENA DO CRIME DE CORRUPÇÃO 
ATIVA. PENA MANTIDA EM 05 ANOS DE 
RECLUSÃO E 35 DIAS-MULTA. REGIME SEMI-
ABERTO, MANUTENÇÃO. RECURSO 
DESPROVIDO. 1.(...)2. (...). 3. O Supremo Tribunal 
Federal firmou o entendimento no sentido de que não há 
irregularidade no fato de o policial que participou das 
diligências ser ouvido como testemunha. Ademais, o só fato 
de a testemunha ser policial não revela suspeição ou 
impedimento. (STF- 2ª Turma, HC 76.557/RJ, Rel. Min. 
Carlos Velloso, julg. 04.08.98, DJ 02.02.2001, P. 73)". 
(TJPR. 2ª Câmara Criminal. Rel. Des. CARLOS 
 
 
 
 
 
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10
AUGUSTO ALTHEIA DE MELLO. Acórdão 
nº28873. DJ: 02.06.2011. Unânime). Original sem 
grifo. 
 
 
Pelo conjunto probatório colhido nos 
autos não resta dúvidas de que o réu ofereceu aos guardas 
municipais, a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), objetivando se 
eximir de imputação criminosa. 
 
No que concerne ao delito descrito no 
artigo 333 do Código Penal, corrupção ativa, trata-se de crime 
formal, consuma-se o crime com a simples oferta ou promessa de 
vantagem indevida, em que a consumação independeda aceitação 
da vantagem ou promessa que é oferecida ao funcionário. 
 
Com a oferta do dinheiro aos guardas, o 
delito de corrupção ativa se consumou, tendo em vista que para tal 
não existe necessidade de que o funcionário aceite a oferta, bastando 
o oferecimento com o objetivo de que não seja realizado ato de 
ofício. 
 
Destarte, devidamente provada a 
materialidade e a autoria delitivas, e inexistindo causa excludente de 
ilicitude ou culpabilidade, impõe-se a condenação do acusado pela 
prática do delito tipificado no artigo 333, caput, do Código Penal, 
por ser a decisão que mais correto se afigura. 
 
 
3. Dispositivo. 
 
Ante o exposto, julgo procedente a 
pretensão deduzida em juízo para o fim de condenar o acusado 
Rogério Madalozo como incurso na pena do delito capitulado no 
 
 
 
 
 
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artigo 333, caput, do Código Penal, bem como ao pagamento das 
custas processuais. 
 
Aplicação da pena. 
 
1º fase - circunstâncias judiciais (artigo 
59, do Código Penal). 
 
Culpabilidade: É o grau de 
reprovabilidade da conduta, nos crimes dolosos tem por fulcro a 
vontade reprovável e nos culposos, a maior ou menor violação do 
cuidado objetivo. 
 
No caso, o réu agiu com culpabilidade 
normal ao tipo penal, nada tendo a se valorar. 
 
Antecedentes: entendem-se como 
antecedentes os anteriores envolvimentos judiciais do acusado, 
posicionado-se parte da doutrina e jurisprudência brasileira no 
sentido de que só pode ser considerada nesta fase como maus 
antecedentes a existência de ações penais com decisão transitada em 
julgado, desde que não caracterizada a reincidência, sob pena de bis 
in idem. 
 
Das certidões de antecedentes juntadas 
(mov. 22.1 e 66.5), não há registro de decisão transitada em julgado, 
pelo que deixo de valorar. 
 
Personalidade do agente e conduta 
social: refere-se ao comportamento do acusado em sociedade, no 
ambiente de trabalho e em família. Nos autos, porém, há poucos 
elementos capazes de formar algum juízo quanto ao comportamento 
do acusado em sociedade. 
 
 
 
 
 
 
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Motivos determinantes do crime: são 
representados pelos antecedentes psíquicos e as razões que 
desencadearam a conduta ilícita. 
 
Os motivos do delito são inerentes ao 
tipo penal, pelo que deixo de valorar. 
 
Conseqüências do crime: devem ser 
analisadas levando-se em conta o maior ou menor dano, ou perigo, 
causados pela conduta do agente. Da análise dos autos, verifica-se 
que o não houve danos, não havendo o que se valorar. 
 
Comportamento da vítima: a vítima 
neste caso nada contribuiu para a prática do delito, não devendo 
influir no cálculo da pena. 
 
Pena base. 
 
Tudo isso sopesado, fixo a pena-base em 
02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, cada dia na 
proporção 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo em vigor no 
tempo dos fatos, atendendo à situação financeira do réu. 
 
 
2ª fase - circunstâncias legais (artigos 61 
a 66). 
 
Não há circunstâncias legais a serem 
valoradas. 
 
3ª fase – circunstâncias especiais de 
aumento ou diminuição de pena (majorantes e minorantes - artigo 
68, § único). 
 
Inexistem causas especiais de aumento 
 
 
 
 
 
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13
ou de diminuição para serem observadas. 
 
Pena definitiva. 
 
Destarte, fixo o quantum da pena base 
como pena definitiva, restando fixada em 02 (dois) anos de 
reclusão, e a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, cada dia no 
mínimo legal de (1/30) um trigésimo do salário mínimo federal, 
vigente na época dos fatos. 
 
Detração penal – Lei Federal nº 12.736, 
de 30 de novembro de 2012. 
 
 
Recentemente a Lei nº 12.736/2012 deu 
nova redação ao artigo 387, do Código de Processo Penal, conforme 
transcrição adiante procedida. 
 
 
Art. 1o A detração deverá ser considerada pelo juiz que 
proferir a sentença condenatória, nos termos desta Lei. 
Art. 2o O art. 387 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 
1941 - Código de Processo Penal, passa a vigorar com a 
seguinte redação: 
Art. 387. ...................................................................... 
§ 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a 
manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão 
preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do 
conhecimento de apelação que vier a ser interposta. 
§ 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa 
ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será 
computado para fins de determinação do regime inicial de 
pena privativa de liberdade. 
 
 
 
 
 
 
 
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14
A modificação levada a efeito tem como 
escopo, ao que parece, acelerar o processo de “progressão de 
regime”, resultante da detração penal, que é típico instituto da 
execução penal, a fim de mitigar o sofrimento do condenado que, 
inexoravelmente, será beneficiado, na fase executória, em face do 
lapso prisional provisório, se a isso fizer jus, mas com certa demora. 
 
Entendeu o legislador que da nova Lei 
decorrem consequências positivas, tais como diminuição de gastos 
públicos com encarceramentos desnecessários, supressão de 
inúmeros processos judiciais, tendentes à obtenção da detração, na 
fase executiva da condenação, com maior celeridade, o que seria 
possível conferindo-se ao magistrado sentenciante tal procedimento. 
 
Em suma e objetivamente, a pretensão 
legal é a subtração, do período da condenação, do tempo de 
cumprimento da pena provisória, não só pelo juízo da execução 
propriamente dita, como pelo magistrado do processo de 
conhecimento que exarar decreto condenatório. 
 
Ainda que esta não seja a melhor solução 
para a melhoria das condições do sistema prisional e carcerário do 
país, funcionará como paliativo temporário das gravíssimas 
consequências e mazelas resultantes da omissão dos órgãos e entes 
públicos competentes. 
 
O ideal seria o estudo e planejamento 
técnicos do sistema como um todo, a fim de se buscar soluções 
urgentes, para investimento e ações efetivas, despidas de 
demagogia. 
 
Não obstante tudo isso e apartado da 
celeuma jurídica instalada em face da promulgação de referida Lei, 
verifico, em cumprimento ao disposto no parágrafo 2º do artigo 387 
 
 
 
 
 
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do Código de Processo Penal, incluído pela Lei 12.736/2012, que o 
réu foi preso em flagrante no dia 13/06/2014 e solto no dia 
16/06/2014, totalizando 04 (quatro) dias de prisão. 
 
Subtraído tal lapso daquele arbitrado 
na condenação, remanescem, para cumprimento, o total de 01 (um) 
ano, 11 (onze) meses e 26 (vinte e seis) dias de reclusão. 
 
Impende gizar que para os demais 
efeitos legais decorrentes da condenação, - mormente no que 
concerne ao cálculo do prazo de prescrição da pretensão punitiva ou 
executória -, a contagem deve ser feita a partir do resultado da 
aplicação da pena nos exatos termos do artigo 68, do Código Penal. 
 
Forma de cumprimento da pena (artigos 
59, inciso III e 33, § 3º, ambos do Código Penal, e artigo 110 da Lei 
de Execuções Penais). 
 
Diante da pena aplicada, e tendo em 
vista que as circunstâncias judiciais são favoráveis, o sentenciado 
deverá iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade 
definitivamente fixada em regime aberto. 
 
Outrossim, não existindo casa do 
albergado neste Foro Central de Curitiba, o sentenciado deverá 
cumprir as condições adiante fixadas. 
 
a) Comparecimento mensal em juízo a 
fim de prestar contas de sua atividade laboral e endereço. 
 
b) Não se ausentar do Município de 
Curitibapor mais de 15 (quinze) dias sem prévia autorização do 
Juízo. 
 
 
 
 
 
 
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c) Não frequentar bares e locais de 
duvidosa reputação, bem como não se embriagar ou fazer uso de 
drogas. 
 
d) Recolher-se em sua residência a partir 
das 22h00 até as 06h00 do dia seguinte, bem como nos feriados e fins 
de semana. 
 
Da substituição da pena. 
 
Diante do regime inicial de 
cumprimento fixado, e tendo em vista que o acusado é primário e 
preenche os demais requisitos contidos no artigo 44 do Código 
Penal, substituo a pena privativa de liberdade por 02 (duas) penas 
restritivas de direitos, na modalidade de prestação pecuniária, no 
importe de 03 (três) salários-mínimos, que será revertida em prol de 
instituição a ser indicada pelo Juízo da Execução; bem como 
interdição temporária de direitos, pelo tempo da condenação, 
consubstanciada na proibição de frequentar estabelecimentos de 
duvidosa reputação ou que vendam bebidas alcoólicas, a teor do 
artigo 47, inciso IV do Código Penal, pelo tempo da condenação. 
 
Esclareço que a escolha das penas 
restritivas de direitos teve por norte não comprometer o exercício 
laboral do sentenciado, bem como mantê-lo distante de locais onde 
possa, eventualmente, se envolver em desentendimentos, 
contribuindo de modo salutar para sua ressocialização. 
 
Explicite-se, ainda, que em caso de 
descumprimento injustificado da restrição imposta, a pena corporal 
deverá ser cumprida em regime aberto (artigo 33, § 1º, “c”, 
combinado com o artigo 36, ambos do Código Penal), atentando 
para as condições anteriormente fixadas e, eventualmente, se 
sujeitará à regressão para regime mais rigoroso (artigo 44, § 4º do 
 
 
 
 
 
Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 
 
17
Código Penal). 
 
Do sursis. 
 
Feita a substituição da pena privativa de 
liberdade por restritivas de direitos, incabível a concessão 
simultânea do sursis. 
 
Da desnecessidade de decretação da 
prisão preventiva. 
 
Diante do regime inicial fixado para o 
cumprimento da pena, e ainda, que o acusado respondeu ao 
processo em liberdade, não se vislumbra neste momento, razões que 
justifiquem a decretação da prisão preventiva. 
 
Perdimento dos bens. 
 
Nos termos do art. 91, II, “a”, do CP, 
decreto o perdimento do dinheiro apreendido, conforme Auto de 
Exibição e Apreensão de seq. 1.6 dos autos de inquérito policial, 
tendo em vista que foi utilizado para a prática do crime. 
 
Providências finais. 
 
Na hipótese de manutenção da presente 
sentença, após o trânsito em julgado ordeno o cumprimento das 
determinações que se seguem. 
 
a) Remetam-se os autos ao Contador 
Judicial, para apuração das custas processuais e da pena pecuniária 
a serem pagas pelos sentenciados. 
 
 
 
 
 
 
Autos de Processo Crime nº 0017567-96.2014.8.16.0013 
 
18
b) Comunique-se à Justiça Eleitoral 
que os sentenciados encontram-se com seus direitos políticos 
suspensos, em face do disposto no inciso III, do artigo 15 da 
Constituição Federal. 
 
c) Expeçam-se Guias de 
Recolhimento para execução da pena fixada na presente decisão. 
 
d) Efetuem-se diligências com a 
finalidade de verificar se foi recolhida fiança, tendo em vista a 
ausência de comprovante de recolhimento nos autos, e que no 
Alvará de Soltura, expedido pelo Plantão Judiciário (mov. 18.1, I.P.), 
consta que se trata de “Liberdade provisória com fiança”. 
 
 
Cautelas e comunicações de estilo. 
 
Publique-se. Registre-se. Intimem-se. 
 
Curitiba, 05 de outubro de 2015. 
 
 
 
 
(Documento assinado digitalmente) 
José Orlando Cerqueira Bremer 
Juiz de Direito