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Relatório da entrevista “RICARDO SEITENFUS - Haiti : Tudo a construir”

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RELATÓRIO 
RICARDO SEITENFUS - HAITI: TUDO A CONSTRUIR
Raissa Amatori
Introdução ao Estudo das Relações Internacionais
Prof.ª Dr.ª Érica Cristina Alexandre Winand
Seitenfus, professor do curso de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul(Santa Maria), Doutor em Relações Internacionais, realiza esta entrevista em 2016 na qual conta sua experiência como crente na possibilidade da democracia durante a intervenção e as dinâmicas que o tornaram crítico deste mesmo sistema, fazendo-o repensar a prática de diplomacia solidária e a própria presença da América Latina no Haiti.
O professor relata detalhadamente e com propriedade a realidade Haitiana enquanto, em 2004, foi observador do processo de saída do governo provisório, da assunção do novo presidente e, sobretudo, da intervenção brasileira no solo haitiano. A intervenção brasileira e sua consequente presença de mais de 12 anos no território haitiano, foi justificado por meio de entrevista de um representante da Caricom livremente interpretada e considerada como ameaça á segurança e á paz regional. Desta forma, o dogma de “Não intervenção em assuntos internos dos outros Estados”, como decorrência lógica da noção de soberania, é deturpado a partir do momento em que utilizamos uma premissa errônea e inconsistente como uma razão para a intervenção em um assunto absolutamente doméstico e de natureza político-constitucional.
É imperioso ressaltar que a ingerência como Imposição da Paz, por si só é inconstitucional e por isso não é prevista entre os meios coercitivos para a efetivação da paz dispostos pelas Nações Unidas. Entretanto, tal método foi aplicado com sucesso durante o conflito desenrolado na ex-Iugoslávia, no qual a ONU precisou agir militarmente, de forma ofensiva, para bloquear a guerra, em favor do estabelecimento da paz. A intervenção não consentida do coletivo internacional, que funcionou tão bem na ex-Iugoslavia não teve os mesmo resultados no Haiti. A posteriori, Ricardo Seitenfus, considerará a Doutrina Seis e Meio, ou seja; a tentativa brasileira de influir no modelo de operações de paz, um total fracasso, justificando tal posicionamento pela existência de migrações da população haitiana para Porto Rico, a Republica Dominicana, os Estados Unidos e agora para o Brasil.
“A invasão do Haiti foi certamente um golpe á democracia”, afirma Ricardo Seitenfus, resta entender de que forma este golpe foi realizado. Existem duas versões distintas sobre as dinâmicas que levaram o presidente a ser retirado do país por um avião dos Marines. A primeira versão, dos Estados Unidos, defende uma visão de Intervenção Consentida, segundo a qual tal intervenção materializaria uma vontade coletiva, solicitada expressamente pelo chefe de estado. Sempre segundo os Estados Unidos, tal intervenção foi requerida de maneira insistente pelas autoridades depostas e recebida com entusiasmo e alivio pela população. Uma segunda versão, do presidente deposto, relataria um suposto sequestro que levaria a uma conclusão de Intervenção Armada, que seria uma intervenção unilateral do interventor no sentido que pressupõe que o pólo passivo da intervenção não tenha forcas para intrometer-se ou tentar opor-se ás vontades do interventor. Neste sentido a ação armada de intromissão em assuntos internos de um Estado soberano será coercitiva, mas não necessariamente ilegítima. 
Frente tais dinâmicas ocorridas no Haiti, a pergunta que surge espontânea é se deveríamos temer uma Intervenção Armada das nações unidas no Brasil como resultados da atual crise econômica. “Por sorte, o Haiti é o Haiti”, afirma Seitenfus, ”portando, a comunidade internacional se permite tomar decisões que nunca tomaria em seu próprio território. O Haiti é na sua essência uma comunidade muito pacifica, com uma extraordinária capacidade de suportar o insuportável. A famosa resiliência haitiana.” Outra questão que surge no meio do debate é se é possível instalar uma democracia neste contexto social. A tentativa brasileira de Ingerência como Restauração da Democracia funda-se das idéias do inicio deste século que confirmam a democracia como regime de governo, por excelência, do Estado contemporâneo. O exercício da democracia representativa apresenta-se, no contexto atual, como condição sine qua non da manutenção de relações econômicas e, portanto, uma forma de ingerência. Entretanto, desejo brasileiro de implementar a democracia no Haiti não leva em consideração as contradições presentes no território .Evidencia-se, neste âmbito, a dicotomia do discurso sobre a democracia e a pratica do autoritarismo da comunidade internacional, a qual apresenta propósitos aparentemente louváveis mas efetivamente contrários a esse discurso.
“O Haiti tem uma riqueza que é a sua pobreza; a sua miséria”, tal pressuposto atraiu uma crescente Assistência Humanitária para os territórios haitianos, que em poucos anos se transformaram e uma fonte de lucro para as ONG´s, que atuam desconhecendo as fronteiras nacionais, em situações de grave risco e grande urgência. “Provavelmente,” analisa Seitenfus, “a miséria e a exploração da mesma, sejam as indústrias mais prosperas na historia da humanidade.” O professor Seitenfus explica como a Intervenção com o uso da Forca Ilegítima, quando concretizada, tenha uma natureza violenta de um Estado soberano dentro dos limites de outro Estado soberano, exercitando de modo incondicionado o poder do mais forte e reproduzindo o estado de natureza hobbesiano no cenário internacional. Entretanto, afirma que a soberania está muito mais próxima do mito do que da realidade e que o viver em sociedade impõe, de forma contínua, que se sofra ou se exerça a ingerência. “Atualmente, a força da qual dispõe um Estado define sua posição quanto à ingerência: ele será vítima ou algoz. “
 Frentes a extensão da catástrofe haitiana os próprios haitianos se dão conta que a culpa não é completamente deles. A experiência histórica demonstra que a falta de critérios e a flexibilidade das interpretações levam, efetivamente, á ingerência indiscriminada do forte sobre o fraco. “É necessário controlar, regrar e construir uma ingerência assentada na solidariedade, como forma de combate ao egoísmo e à indiferença que se instalam mortalmente no cenário internacional contemporâneo”, para que não se repitam os mesmos erros ou pelo menos se cometessem erros novos.
SÃO CRISTÓVÃO
2016

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