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HEMOGLOBINA - TRANSPORTE DE O2 E TAMPONAMENTO DO PLASMA PROFª MARIANA MÜLLER INTRODUÇÃO • O metabolismo das células aeróbias depende do recebimento contínuo de oxigênio, usado na oxidação de nutrientes, e da remoção constante de gás carbônico resultante do processo; • Nos vertebrados, este papel é exercido pelos sistemas respiratório e circulatório complexos, do qual participam componentes do sangue. Embora haja grande formação de CO2 nos tecidos, a presença de Hb restringe as variações de pH a apenas centésimos de unidades, mantendo o sangue e os tecidos em meio notavelmente constante; Hb - transporte de O2 e poderoso efeito tamponante. ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA • A Hb está presente nas hemácias, com cerca de 270 milhões de moléculas por célula, equivalendo a aproximadamente 1/3 do seu peso; • A Hb predominante (mais de 95% do total) nos seres humanos adultos (HbA); • Formada por quatro cadeias polipeptídicas, duas (com 141 aminoácidos) ( 1 e 2) e duas (com 146 aminoácidos) ( 1 e 2), as subunidades e a mioglobina apresentam estrutura terciária semelhante; • Apresentam a maior extensão da cadeia formada por segmentos em -hélice, conectadas por regiões sem estrutura regular. • A Hb é uma hemoproteína, cada uma de suas cadeias está associada a um grupo prostético heme; • O heme é uma molécula de porfirina contendo um íon ferro, que na mioglobina e na hemoglobina permanece no estado ferroso Fe+2; • O heme confere à hemoglobina, e ao sangue, sua cor característica. • O grupo heme localiza-se dentro de uma cavidade hidrofóbica, delimitada sobretudo por aminoácidos apolares, que estabelecem interações hidrofóbicas com o anel porfirínico; • Este ambiente apolar torna possível a ligação do oxigênio ao Fe+2, sem que ele seja oxidado ao estado férrico (Fe+3); • O íon de ferro fica no centro do grupo heme, formando seis ligações: com os quatro átomos de nitrogênio do anel porfirínico, com a cadeia polipeptídica, em um resíduo de histidina, a His F8, chamada de histidina proximal, e também reversivelmente ao O2. Ao sítio de ligação do ferro com o oxigênio podem ligar-se outras moléculas pequenas, como CO e H2S, com maior afinidade que o O2, o que explica sua alta toxidez. • Um molécula de Hb totalmente oxigenada contém quatro moléculas de O2 e é denominada oxi-hemoglobina (oxi-Hb ou HbO2), em contraposição à forma desprovida de oxigênio, chamada desoxi-hemoglobina (desoxi-Hb ou Hb); • A ligação do oxigênio ao grupo heme altera a cor da hemoglobina, que passa de azulada (sangue venoso) a vermelha (sangue arterial); • A ligação com o O2 desencadeia alterações na conformação da Hb: Na desoxi-Hb, os íons de Fe estão situados fora do plano do grupo heme, que se torna côncavo. Na oxi-Hb, os íons de Fe estão situados noplano do grupo heme, que se torna achatado. • A ligação do O2 implica em rearranjos moleculares sucessivos, já que a conformação de uma subunidade acarreta alteração das outras; • A ligação da primeira molécula de O2 facilita o preenchimento dos outros grupos heme; a ligação da quarta molécula é 300 vezes mais eficiente do que a primeira; • No sangue arterial que sai dos pulmões, a PO2 é alta, em média 100 mmHg e a Hb fica 98% saturada com oxigênio, nos tecidos extrapulmonares, onde a PO2 é baixa (sangue venoso), ela libera grande parte do O2. FATORES QUE INTERFEREM NA LIGAÇÃO COM O O2 • Aumento da temperatura; • Presença de determinados compostos orgânicos fosforilados; • O aumento da pressão parcial de CO2 ; • Diminuição de pH No caso de febre, ocorre aceleração do metabolismo celular, com maior demanda de O2 ; Em grupos musculares sob contração intensa, há um aumento da temperatura local, resultante do metabolismo intenso; Em ambas as situações, a diminuição da afinidade da hemoglobina por oxigênio é uma adaptação favorável. 2,3 - bifosfoglocerato (BPG) • A Hb de mamíferos, quando presente nas hemácias, tem afinidade menor pelo O2 do que quando purificada; • Este fenômeno resulta da presença do BPG. Fatores que interferem na ligação com o O2 • O BPG liga-se fortemente à desoxi-Hb, que apresenta a cavidade entre as subunidades suficientemente grande para alojá-lo, sendo circundada por cadeias laterais de aminoácidos carregadas positivamente, que interagem com os grupos negativos do BPG; • Na oxi-Hb, a cavidade é menor, dificultando a ligação do BPG; • A consequência é o predomínio da forma desoxigenada da Hb, o que equivale a um decréscimo na sua afinidade por oxigênio. • O efeito do BPG manifesta-se em baixas pressões de O2; • Nas condições de alta PO2 dos pulmões, a Hb fica saturada com O2 mesmo na presença de BPG, cujo papel fisiológico é aumentar substancialmente a liberação de O2 nos tecidos extrapulmonares, onde a PO2 é baixa; • O nível de BPG nas hemácias aumenta, de modo gradativo, em condições associadas com hipóxia tecidual (oxigenação deficitária dos tecidos) prolongada como: comprometimento do sistema cardiorrespiratório, estado anêmico e permanência em altas altitudes, compensando a menor disponibilidade de O2 nestas situações, aumentando a liberação de O2 para os tecidos. p O2 baixa (tecidos) HbO2 + BPG HbBPG + O2 p O2 alta (pulmões) HbBPG + O2 BPG + HbO2 pH: efeito Bohr A ligação do O2 com a Hb depende do pH; A afinidade da Hb varia com o pH, mesmo dentro do estreito limite fisiológico de variação do pH: é tanto menor quanto menor o pH; • A afinidade da Hb por O2 também diminui com acréscimos na pressão parcial de CO2, produzindo desvios na curva de saturação para a direita, resultado semelhante ao da diminuição do pH; • O CO2 reage com os grupos amino terminais das cadeias da Hb, formando a carbaminohemoglobina, que tem menor afinidade pelo O2; • Os íons H+ , como acontece com o BPG, ligam-se preferencialmente à desoxi-Hb, passando a ser a forma predominante, diminuindo a afinidade da Hb por O2; • A associação preferencial dos íons H+ à desoxi-Hb evidencia que esta forma da proteína é uma base de Brönsted mais forte do que a forma oxigenada. • A conversão de oxi-Hb em desoxi-Hb é acompanhada por captação de prótons na Hb desoxigenada e liberação de prótons na Hb oxigenada; • A influência do pH e do CO2 sobre a oxigenação de Hb tem grande importância fisiológica, porque no nível dos tecidos a acentuada produção de CO2 pelo metabolismo e o decréscimo no pH resultante estão sempre associados a uma maior demanda de O2 ; • O efeito do pH e da pressão arterial de CO2 sobre a união do Hb e O2 é denominado efeito Bohr. pO2 e pH baixos (tecidos) HbO2 + H + HHb + O2 pO2 e pH altos (pulmões) HHb + O2 HbO2 + H + HEMOGLOBINA E O TAMPONAMENTO DO SANGUE • As equações que resumem o efeito Bohr revelam o papel fundamental desempenhado pela Hb na manutenção do pH plasmático; • Nos capilares que irrigam os tecidos, o CO2 produzido pelo metabolismo celular difunde-se até as hemácias, onde é hidratado rapidamente em uma reação catalisada pela anidrase carbônica, formando H2CO3. pO2 diminui (tecidos) [H+1] aumenta Hb libera O2 e capta H + pO2 aumenta (alvéolos pulmonares) [H+1] diminui Hb capta O2 e libera H + • No pH do sangue(7,4), o H2CO3 ioniza-se nos íons: CO2 + H2O H2CO3 H + + HCO3 - • A ocorrência das duas reações consecutivas explica por que um aumento na [CO2] causa uma diminuição do pH; • Este fator faz com que a Hb libere O2 e capte H +1, impedindo que ocorram grandes variações de pH; • O HCO3 - , produzido nas hemácias, difunde-se para o plasma e é transportado para os pulmões; • Nos pulmões a situação é invertida, a alta pO2 leva a oxigenação da Hb e a dissociação do H+. HEMOGLOBINA E O TAMPONAMENTO DO SANGUE • O HCO3 - desloca-se do plasma para o interior das hemácias e combina-se com o H+, formando H2CO3, que é convertido em CO2 e H2O pela anidrase carbônica; • O CO2 difunde-se das hemácias para o plasma, depois para os alvéolos pulmonares e é expirado; • A liberação de H+ pela Hb corrige o valor de pH que, de outro modo, tenderia a aumentar pois, com baixa pCO2 alveolar, o CO2 é eliminado no ambiente, consumindo H+ e HCO3 -. • Assim, a manutenção do pH fisiológico, imprescindível para o desempenho de qualquer função vital, é obtida pela ação coordenada do sistema Hb/HbO2 e do sistema CO2/ HCO3 - . ALCALOSE E ACIDOSE METABÓLICA • Ocorrem quando há a diminuição ou aumento da [CO2] no sangue, alterando o pH sanguíneo; • Algumas situações podem fazer com que essa concentração se altere, principalmente respiratórias: enfisema pulmonar, pneumonia, bronquite ou asma, podendo ter momentos de respiração deficiente; HIPOVENTILAÇÃO Transferência de CO2 é reduzida e sua concentração aumenta no sangue, diminuindo o pH sanguíneo ACIDOSE pH com valores menores que 7,4 = falta de ar, diminuição ou supressão da respiração e desorientação podendo levar ao coma. pH com valor abaixo de 6,8, leva o risco de morte. Uso de drogas, alterações no SNC e lesões no sistema respiratório levam a acidose. • No caso de um pessoa respirar de forma muito rápida, como em casos de histeria, ansiedade, em virtude do uso de drogas, exercícios físicos excessivos, overdose em razão do uso de aspirina e em casos de doenças pulmonares, a [CO2] no sangue diminuirá e o pH do aumentará. ALCALOSE E ACIDOSE METABÓLICA HIPERVENTILAÇÃO Transferência de CO2 é aumentada e sua concentração diminui no sangue, aumentando o pH sanguíneo ALCALOSE pH com valores maiores que 7,4 = respiração ofegante, entorpecimento, rigidez muscular e convulsões. pH com valor acima de 7,8, leva o risco de morte.
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