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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – TEMAS ESPECIAIS PROF. FERNANDO DA FONSECA GAJARDONI MEIOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS 1. SOCIEDADE E DIREITO A sociedade precede o direito; este vem só após, como modo de ordenação, sendo responsável por estatuir regras de conduta. Em um mundo ideal, a existência do direito seria suficiente para regrar a sociedade como um todo, evitando toda e qualquer forma de conflito. 2. CONFLITOS DE INTERESSE A despeito do papel regulador do direito, que se presta a disciplinar a sociedade em sua inteireza, a simples existência do direito é insuficiente para sanar todos os conflitos e insatisfações. Assim, tornam-se necessários mecanismos de solução de controvérsias (conflitos) que, por sua vez, são disciplinados pelo sistema jurídico. Percebe-se que o próprio sistema, ciente de suas limitações, cria meios de solução de conflitos internos, evitando a busca de mecanismos alienígenas. 3. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS 3.1. AUTOTUTELA (VINGANÇA PRIVADA) Identifique-se dois elementos: (i) ausência de terceiro julgador; (ii) uso da própria razão – que desconsidera a razão do outro, faz-se porque quer (por vezes, através da força). Na maioria dos países é vedada. À luz do direito brasileiro, sabe-se ser vedada por implicar duas espécies delitivas prescritas no Código Penal: exercício arbitrário das próprias razões – quando do particular; b) abuso de autoridade – crime do agente público que excede os limites da regra de autotutela. Em caráter excepcional, há hipóteses permissivas do exercício de autotutela. No âmbito do Direito Internacional Público, há a guerra, que, se autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, é lícita. Cita-se o art. 1.210 do CC, que estatui o desforço imediato da posse – esbulhado ou turbado agredido pode, desde logo, utilizando-se dos meios necessários, proteger a posse. Outro exemplo, é a consignação extrajudicial em pagamento, prevista nos parágrafos do art. 539 do CPC, desde que a obrigação seja de pagar quantia. 3.2. AUTOCOMPOSIÇÃO Solução pelas próprias partes conflagradas, com ou sem ajuda de terceiros. 3.2.1. ESPÉCIES i. Transação. Art. 840, CC. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas. Pode haver transação contra legem. A solução do conflito é mais importante do que aquilo que dispõe a lei – o direito é substitutivo. Assim, em uma transação pode-se pactuar uma taxa de juros moratório superior aos legais. ii. Renúncia ao direito em que se funda ação. Ocorre quando o titular do direito material renuncia a seu direito e resolve o mérito – art. 487 do CPC; é diferente da existência do processo (art. 485, VIII do CPC). Neste caso, não se renuncia ao direito material em litígio. iii. Reconhecimento jurídico do pedido. Situação em que o réu não opõe resistência. Reconhece seu dever e gera resolução de mérito. Confissão é o mero reconhecimento dos fatos, elemento de prova a ser valorado pelo juiz. Distinto, portanto, por não reconhecer as consequências jurídicas dos fatos. Art. 487, III do CPC. O legislador, quando fala das hipóteses de solução do conflito com análise de mérito (coisa julgada), diz ser causa de resolução de mérito as hipóteses anteriores, de transação, reconhecimento jurídico do pedido e renúncia. 3.2.1. TÉCNICAS (PARA SE OBTER AS HIPÓTESES MATERIAIS) i. Negociação. Entre as partes e respectivos advogados, sem atuação de terceiro facilitador. Discute-se o conflito na busca da autocomposição. ii. Conciliação. Ocorre na presença de um terceiro facilitador, o conciliador. Tenta não só melhorar o diálogo entre as partes, mas também, e principalmente, participa da construção de uma solução para o conflito. Tem postura ativa na solução do conflito. iii. Mediação. Também existe a figura do terceiro facilitador do diálogo. O mediador, todavia, não tem postura ativa, não sugere soluções. Na mediação, quem deve chegar à solução são as próprias partes, o mediador apenas ajuda a construir o diálogo. iv. Et coetera. O tipo de conflito determina a técnica a ser empregada na obtenção da autocomposição: a conciliação, geralmente, é utilizada em conflitos patrimoniais, nos quais as partes não necessariamente manterão contato após o deslinde da controvérsia – conflitos efêmeros; na mediação, por outro lado, trata-se de conflitos perenes – são relações que não se extinguem com a mediação – são, por exemplo, conflitos de família. 3.3. HETEROCOMPOSIÇÃO É o padrão na maioria dos países ocidentais. Pode ser pública, quando o Estado soluciona o conflito, ou privada, quando o juízo é privado, através de arbitragem. A origem da heterocomposição pública é a privada. O processo romano divide-se historicamente em duas grandes fases: i) formulário – partes perante o Estado, que nomeava um árbitro privado; elaborava-se a litiscontestatio; ii) extraordinário – pretor tornou-se o juiz (antes apenas nomeava o árbitro). 4. MEIOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS - ALTERNATIVE DISPUTE RESOLUTIONS São os mecanismos alternativos ao Poder Judiciário, como arbitragem, autocomposição, autotutela, etc. Atrelada a concepções redutoras do tamanho do Estado (discurso neoliberal). Melhor seria a expressão “mecanismo adequado” de solução de conflito. Tribunal multiportas: ideia de que para tipo de conflito há uma porta, isto é, uma técnica específica. ARBITRAGEM 1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 1.1. CONCEITO “A arbitragem é um instituto através do qual as partes renunciam à jurisdição estatal para que seu conflito seja solucionado por um particular”. É um instituto neoliberal, que prega redução das funções estatais. 1.2. POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA Há três formas de posicionar a arbitragem no estudo do direito: i. Equivalente jurisdicional. Capitaneado por Carnelutti, entende que a arbitragem faz as vezes de jurisdição (mas não é). O professor critica na medida em que não se trata de equivalente, mas de jurisdição em si – É JURISDIÇÃO. ii. ADR (Alternative Dispute Resolutions) – mecanismo alternativo de solução dos conflitos. Não se pode considerar alternativo, Gajardoni acredita que pode ser o melhor mecanismo. Avaliação neutra de terceiro: partes conflitantes recebem opinião não vinculante de terceiro. Med-arb: partes pactuam contrato no qual se estabelece um mediador em caso de conflito. No próprio pacto, dispõe-se que, caso o falhe a mediação, o próprio mediador converte-se em árbitro. Cabe aqui uma crítica no que diz respeito à regra da confidencialidade; se o mediador não for julgador, as partes confiam revelar mais informações do que aquelas que revelariam ao julgador. O mediador deve evitar, assim, julgar o conflito. Gajardoni considera este um grande defeito do Poder Judiciário brasileiro. A arbitragem low profile ou high low arbitration estabelece um limite para os poderes de julgamento do árbitro. Exemplo: limite de valor; ultrapassados vinte mil de valor de causa, o conflito será remetido ao judiciário. iii. Mecanismo de heterocomposição privado (ou extrajudicial). 1.3. NATUREZA JURÍDICA Discussão acadêmica de poucas repercussões práticas. Basicamente, discute-se a existência ou não de caráter jurisdicional. A adoção de uma ou outra posição tem reflexos muito importantes no modo de se pensar a arbitragem (no que diz respeito a falso testemunho, litigância de má-fé, etc). Pode assumir a figura de: i. Contrato. Teria natureza estritamente privada. Para os que adotam esse pensamento, a cogência da decisão do árbitro não vem do fato de o árbitro possuir jurisdição, mas do fato de haver um contrato em que a parte deliberadamente contraiu uma obrigação. ii. Natureza jurisdicional. Corrente geralmente adotada pelos processualistas. ParaDinamarco, a fim de se aferir o caráter jurisdicional, deve-se perquirir o escopo, tendo a jurisdição três grandes grupos de escopos: (i) sociais – pacificação de conflitos; (ii) políticos – afirmar a soberania da lei e garantir seu cumprimento é o escopo da jurisdição; (iii) econômicos – permitir a circulação de riquezas. Após refletir detidamente, Dinamarco conclui que a arbitragem é jurisdição, pois cumpre todos esses requisitos. Posição muito respeitada. iii. Híbrido. Diz que a arbitragem tem origem contratual e término jurisdicional. Desprestigiada. 1.4. REGIME ANTERIOR À LEI 9.307/96 A previsão legal da arbitragem antes da edição da Lei encontrava-se nos arts. 1.072 a 1.102 do CPC/73. Duas características inviabilizavam o funcionamento do sistema arbitral no Brasil. São elas: (i) a sentença arbitral dependia de homologação do Poder Judiciário – nos demais países não se procedia assim; em caso de contrato internacional, então, haveria um problema. Para as sentenças estrangeiras, havia dupla homologação (homologação do judiciário do país da corte arbitral e o STF – antes da EC 45 – no Brasil); (ii) não havia, antes de 1996, a possibilidade de execução específica da cláusula compromissória de arbitragem. Caso houvesse descumprimento da promessa, resolvia-se em perdas e danos. A Lei 9.307/96 revolucionou o sistema brasileiro e resolveu os mencionados problemas. 1.5. EVOLUÇÃO DA ARBITRAGEM NO BRASIL Operação arbiter: surgida dentro de Associação Comercial de Pernambuco, teve grande apoio do Instituto Liberal de Pernambuco. Apoio FIESP e CIESP. Nomeação de uma comissão de especialistas: Carmona (maior especialista acadêmico), Selma Lemes e Pedro Batista. Apresentou-se um PL que posteriormente se tornou a atual Lei de Arbitragem. Inspiração na lei espanhola (1988) e na lei modelo de arbitragem da UNCITRAL. Marco Maciel: grande apoiador no Senado – à época, vice-presidente da República. Aprovação em 1996. Brasil ratificou, em 1996, através do Decreto 1902/1996 a convenção do Panamá (que é de 1975) sobre arbitragem. No ano de 2002, por meio do D. 52/2002, o Brasil ratificou outro tratado internacional – a convenção de NY de 1958 sobre arbitragem internacional. Lei 13.129/2015 – altera a lei de arbitragem, corrigindo pontos específicos. 1.6. MITOS SOBRE ARBITRAGEM 1) Que a arbitragem resolverá os problemas do Poder Judiciário. A arbitragem é cara e não seria capaz de absorver uma grande quantidade de processos do Judiciário. 2) Que a arbitragem serviria para pequenas causas. O professor entende que isso é inviável, porque a movimentação de um tribunal de arbitragem é muito cara. A arbitragem funciona apenas para as partes que entendem o que ela é (grande parte da população não entenderia ou gostaria de terem seu conflito julgado por um terceiro que não é autoridade). Obs.: art. 24 da L9099 – estabelece que, aberta a sessão de conciliação pelo juiz, ele proporá às partes que estas tenham o conflito julgado por um árbitro e, caso concordem, será formalizado uma convenção arbitral. 3) O árbitro tem de ter preparação jurídica. Na tramitação da lei de arbitragem, a OAB fez um enorme lobby para que o árbitro tivesse cadastramento nos quadros da ordem de classe – na arbitragem, se busca o julgamento por um expert no assunto e não por um generalista que sabe direito. Na verdade, o árbitro não precisa ser advogado, mas ele pode ser secretariado por um advogado, na qualidade de consultoria – essa foi a saída encontrada pelos formuladores da lei. 4) A arbitragem pode ser profissionalizada. Ninguém é árbitro; alguém está árbitro. Não existe profissão árbitro. Ser árbitro é uma situação que decorre da indicação de duas partes – e o sujeito só é árbitro perante as duas partes. 1.7. VERDADES SOBRE ARBITRAGEM 1) A arbitragem é mais rápida que o Poder Judiciário. Isso por dois fatores: o primeiro fator é que o árbitro é um juiz de uma ou algumas causas, enquanto que o juiz o é de inúmeras; o segundo fator é legal – o art. 23 da Lei de Arbitragem estabelece que quem combina o prazo da arbitragem são as partes e, caso não haja convenção, a causa deverá ser julgada em seis meses (se o árbitro não julgar em seis meses, a convenção de arbitragem perderá efeito e o árbitro responderá por perdas e danos); do mesmo modo, no art. 12, vê-se que na arbitragem não tem recurso. 2) A arbitragem é mais técnica. Isso em razão de as partes escolherem o juiz conforme o conflito. 3) A arbitragem é mais discreta. Não existe nenhuma regra na lei dizendo que a arbitragem é sigilosa ou confidencial. As partes podem estabelecer a confidencialidade, mas isso deve ser convencionado. Assim, a arbitragem, salvo convenção em contrário, é pública. As partes, na justiça estatal, não podem acordar confidencialidade do processo – a publicidade é uma garantia do cidadão, que financia a justiça e tem o direito de verificar a atuação do Poder Judiciário; o sigilo, na justiça estatal, é exceção e sua aplicação deve estar prevista na lei. As partes, na convenção arbitral, podem convencionar confidencialidade, a fim de manter a viabilidade econômica das empresas (ações). 4) A arbitragem tem mais autocomposição. Isso em virtude de dois fatores: primeiro, já há uma predisposição à solução do conflito, dado que as próprias partes anteriormente já chegaram a um acordo para formalizarem a convenção de arbitragem. O segundo fato é que o árbitro é altamente especializado, direcionando as partes ao que é certo e realizando intervenções que já vão evidenciando quem tem a razão no conflito. 5) As sentenças arbitrais têm um percentual de cumprimento espontâneo maior que as judiciais, porque há uma sanção do mercado contra aquele que não cumpre as decisões arbitrais, dado que nenhum outro agente econômico negociará com quem não as cumpre. 6) A arbitragem depende do Poder Judiciário, nas hipóteses do art. 22-C e 22, §2º, da Lei de Arbitragem. Os latinos diziam que a jurisdição é exercida porque tem a notio (conhecer) e vocatio (decidir), coertio (impor) e executio (executar). Isso significa que a jurisdição, além do poder de conhecer e decidir, tem a prerrogativa de impor e executar essas decisões. O árbitro tem apenas a notio e a vocatio, não tendo o poder de impor e executar suas decisões. O árbitro emite uma carta arbitral ao juiz togado, pedindo a tomada de algum ato impositivo ou coercitivo. 7) A arbitragem é mais cara. Os honorários dos árbitros são geralmente altos, porque os conflitos a ele submetidos são muito complexos. 1.8. SISTEMA MONISTA Em tema de arbitragem, o Brasil adota o sistema monista. Isso significa dizer que o Brasil tem apenas uma única lei de arbitragem, a qual serve tanto para a arbitragem interna (ou doméstica) como para a arbitragem internacional. A diferença reside na necessidade ou não de homologação de decisão estrangeira. O critério está na legislação brasileira – no art. 34, parágrafo único, da lei, que estabelece que o local da prolação da sentença arbitral define se a arbitragem é interna ou internacional. 1.9. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 9.307/96 Na Sentença Estrangeira 5.206, em 1997, a ser homologada pelo STF (na época, homologação de sentença estrangeira era do STF), o relator levantou uma preliminar de inconstitucionalidade da Lei de Arbitragem, porque uma decisão arbitral tiraria a prerrogativa do Poder Judiciário, dado que não mais haveria necessidade de homologação da sentença arbitral. O Ministro Nelson Jobim, no julgamento, pediu vista, proferindo seu julgamento somente em dezembro de 2001, havendo a reversão do julgado, dado que mudou-se a mentalidade jurídica sobre a arbitragem. A constitucionalidade reside no fato de que a lei não pode excluir do Judiciário lesão ouameaça a direito, mas as partes podem fazê-lo. 2. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE A autonomia da vontade se potencializada na arbitragem. Em geral, o que as duas partes querem é permitido. Por exemplo, as partes podem aceitar um árbitro impedido e não se fala em nulidade; na jurisdição estatal, se um juiz for impedido, o processo é nulo. 2.1. FACULTATIVIDADE Prevalece a regra da facultatividade da arbitragem. À luz do ordenamento jurídico brasileiro, arbitragem compulsória é inconstitucional (Sentença Estrangeira nº 5.206/2001 – só não é inconstitucional a Lei de Arbitragem pois as partes excluem o poder judiciário do julgamento do conflito, não a lei). Não pode é haver arbitragem imposta por lei. 2.2. HIPÓTESES DE NÃO CABIMENTO (NÃO ARBITRABILIDADE) A ordem é facultativa, mas tem hipóteses de não cabimento. As pessoas capazes podem se valer de arbitrar sobre direitos disponíveis. A primeira hipótese de não cabimento são partes ou pessoas incapazes, ao que se chama de arbitrabilidade subjetiva, ou seja, as partes da arbitragem devem ser juridicamente capazes a partir da legislação brasileira. As partes incapazes de contratar no direito brasileiro são as relacionadas nos arts. 3º e 4º do CC, que estabelece que existem dois modelos de incapacidade, a relativa e a absoluta. Aprovou-se no ano passado o Estatuto do Deficiente (Lei nº 13.146/15), que muda a redação do CC, e determina que só existe um absolutamente incapaz: o menor de 16 anos. E depois, o absolutamente incapaz é tornado relativamente incapaz pela nova redação, ou seja, todos os descritos na redação antiga, a dizer dos ébrios, loucos, toxicômanos, silvícolas e deficientes, serão relativamente incapazes. O menor de 18 anos, desde que assistido ou representado, pode celebrar acordo de arbitragem? Se fosse um projeto estatal, ia ter atuação do MP, uma questão social envolvida, etc. Se permitir arbitragem de incapaz, ainda que assistido, isso pode colocar em cheque o interesse do incapaz. Gajardoni entende que não é possível convenção de arbitragem por menor incapaz ainda que assistido ou representado, mas isso não é pacífico. Isso muda no âmbito internacional? Em alguns países, o critério de incapacidade é diferente do Brasil (ex: EUA e legislações estaduais – em alguns estados, a maioridade é alcançada aos 16 anos). Se um indivíduo de 17 anos celebra arbitragem nos EUA, pode haver homologação no Brasil, sendo que a maioridade aqui é 18? A resposta está na LINDB, as regras de capacidade do contrato são do local da celebração, então o STJ não poderia negar homologação de sentença estrangeira. A regra do local era que a pessoa capaz é maior de 16 anos, portanto, é válida. A segunda hipótese de não cabimento é quando o direito não for patrimonial disponível, e aqui é a hipótese de não arbitrabilidade objetiva. A própria definição do que é um direito patrimonial é complexa no âmbito do direito privado, e direito patrimonial é um direito de conteúdo meramente econômico. Consequentemente, são direitos dispostos, renunciáveis, transacionáveis, é um direito que a parte pode abrir mão. Se posso abrir mão do direito, porque não posso abrir mão do Estado a julgar isso? Direito não patrimoniais são aqueles que não têm conteúdo meramente econômico, como o direito à vida, à liberdade, à integridade física, à honra, à intimidade, entre outros. Não pode haver arbitragem sobre esses temas. Art. 852 do CC: questão de estado (estado da pessoa – não cabe arbitragem). Não pode haver interdição, divórcio, guarda, adoção, transação penal, alimentos (apesar de que se negocia o valor dos alimentos… o fundo de direito é imaterial) na arbitragem. Direito autoral: majoritariamente entende-se que é patrimonial e disponível. 2.3. HIPÓTESES ESPECIAIS i. Arbitragem nas relações de consumo. A disciplina é mista: tenho disciplina sob arbitragem nas relações de consumo no CDC, art. 51, VII, e sem prejuízo dessa disciplina, tenho a Lei de Arbitragem, art. 4º, pgf. 1º e 2º. O art. 51, VII do CDC, fala de maneira clara que a arbitragem só pode ser celebrada nas relações de consumo de maneira facultativa (mas toda arbitragem deve ser facultativa, e a arbitragem compulsória é vedada). Contratos de adesão recebem o mesmo tratamento. Existem contratos de adesão em relações de consumo, e como há uma carência de disciplina, acaba-se seguindo as regras de contrato de adesão, e essas regras estão nos dispositivos da Lei de Arbitragem. Pode haver arbitragem em relação de consumo, mas é proibido que seja imposta ao consumidor. A arbitragem só acontece quando o consumidor assim deseja no momento do conflito. ii. Arbitragem no direito do trabalho. Existem duas vertentes: direito individual e direito coletivo do trabalho. Na primeira posição, o direito coletivo, é expressamente admitida a arbitragem, pois se fala em negociação de categoria. Quando as partes não se entenderem, determina o art. 114 que podem ir para a arbitragem, pois é “briga de iguais”. Na matéria de direito individual, pensa-se em empregador e empregado, uma relação de hipossuficiência, sem a mesma força de negociação. Na doutrina temos duas grandes posições. A primeira, que Gajardoni concorda, é que é perfeitamente possível a arbitragem em direito individual do trabalho porque os direitos decorrentes da relação de trabalho são patrimoniais e disponíveis, e consequentemente teríamos a possibilidade de os trabalhadores negociarem e aceitarem. Onde houver desequilíbrio, o judiciário poderia anular. A segunda não admite arbitragem em matéria de direito do trabalho, por uma razão simples: dizem que a própria natureza de empregado de uma das partes já a coloca em situação de hipossuficiência que torna praticamente prejudicado o argumento da facultatividade da arbitragem. Há ainda outro argumento: os direitos do trabalhador são indisponíveis, e o microssistema protetivo do trabalhador estabelece a indisponibilidade do direito do trabalho. Gajardoni não concorda, pois o que mais tem no direito do trabalho é negociação de direitos do trabalhador. A segunda posição é predominante porque o TST afirma que não cabe arbitragem em matéria trabalhista. O leading case que levou o TST a decidir nesse sentido é o “caso xerox” - o padrão da xerox para contratar altos executivos é através de arbitragem. Perdendo na arbitragem, o trabalhador foi até a justiça do trabalho e o TST decidiu dessa forma, decidindo reiteradamente nesse sentido. O segundo motivo pelo qual a Lei não admite arbitragem em matéria trabalhista é histórico: na Lei 13.105 havia um dispositivo, art. 4º pgfs. 3º e 4º, que seriam inseridos, e diriam que a arbitragem em matéria trabalhista era admitida, como nas relações de consumo, ou seja, seguindo a lógica do contrato de adesão. iii. Arbitragem nas ações em que o Estado é parte. O direito do Estado é indisponível? Se for, não cabe arbitragem. A primeira lei que previu a possibilidade de arbitragem nas relações de Estado foi a Lei 11.079/04, art. 11, inc. III, nas parcerias público-privadas, permite convenção de arbitragem. 2.4. EXCEÇÃO ÀS REGRAS DE PROCEDIMENTO E JULGAMENTO Equidade substitutiva. O árbitro substitui os critérios da lei pelos critérios da equidade. Juiz togado não julga com base na equidade, mas sim com base na Lei, não importando se esta é injusta ou não. Existe uma hipótese em que a Lei brasileira proíbe expressamente a arbitragem por equidade, que é no caso do Poder Público: art. 2º, pgf. 3º da Lei 9.307; esclarece que a arbitragem que envolve a Administração Pública sempre será de direito e nunca poderá se submeter à equidade, por conta do princípio da legalidade (expresso no art.37 da CF). Costumes. É fonte subsidiária do direito, e costume não revoga lei. No âmbito do direito interno e da arbitragem doméstica é muito raro haver uma situação em que as partes ainda possam ser julgadas pelo costume. O Brasil ainda é um país de civil law e existe uma inflação legislativa, quase tudo é disciplinado. Quando não existe uma disciplina, em matéria de transações comerciais, você acaba seguindo um mercado – Lex Mercatoria é, por exemplo, um conjunto de práticas no âmbito do comércio internacional, e o julgamento será conforme a prática. 2.5. LIMITAÇÕES As limitações são encontradas no parágrafo 1º do art. 2º da Lei de Arbitragem. Não se pode violar os costumes e a ordem pública, e a maioria da doutrina diz que o significado de costume e ordem pública, aqui, é o mesmo (então seria apenas um limite, que é a ordem pública e o costume estaria contido nela). A segunda observação da doutrina é que o conceito de ordem pública é extremamente fluido, variável no tempo e no espaço. O que talvez no Brasil seja violação de ordem pública em outro país pode não ser. O que o árbitro faz é preocupar-se só com a ordem pública brasileira quando de arbitragem doméstica, mas quando a convenção de arbitragem é internacional, tem-se que atentar à ordem pública do local da origem da sentença e do local onde a sentença será executada. Art. 21, parágrafo 2º da Lei de Arbitragem: ordem pública. Serão sempre respeitados no procedimento arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento. O árbitro deve ser imparcial, e as partes devem ser tratadas com igualdade. Não se pode dizer que o árbitro pode ser escolhido por apenas uma das partes, porque viola o contraditório e a igualdade das partes. Não se deve admitir essas violações, pois são da própria ordem pública. A sanção é anulabilidade (STJ), só mediante provocação. 3. PACTUAÇÃO E INSTITUIÇÃO DO JUÍZO ARBITRAL 3.1. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM (ART. 3º DA LEI DE ARBITRAGEM) Nada mais é de que a pactuação de que o conflito será julgado pelo árbitro. 3.1.1. NATUREZA JURÍDICA É de negócio jurídico processual. É uma convenção das partes com a finalidade de fixar direitos, obrigações, ônus e faculdades, mas que tem por objetivo produzir efeitos no processo. A convenção de arbitragem tem por finalidade produzir os efeitos positivos e negativos (ou eficácia positiva e eficácia negativa). A eficácia positiva diz respeito à convenção vincular as partes – seu conflito será julgado por particular –, e é efeito de contrato (não pré-contrato), pois é vinculante, e se a parte não topar ir para a arbitragem pode-se obrigá-la a ir. A eficácia negativa da convenção é o afastamento de jurisdição estatal. 3.1.2. ESPÉCIES Convenção de arbitragem é gênero que comporta duas espécies: (i) cláusula compromissória – art. 4º e ss da Lei de Arbitragem; e (ii) compromisso arbitral – art. 9º e ss. A cláusula compromissória é a convenção de arbitragem estabelecida antes do conflito. O compromisso arbitral é a espécie em que as partes estabelecem o julgamento por arbitragem para conflitos já existentes. Existem mais cláusulas do que compromissos, porque depois do conflito a comunicação resta prejudicada. A vantagem da cláusula é que é feita num momento de celebração de contrato. Importante: a convenção de arbitragem, seja através de cláusula ou compromisso, os mesmos efeitos positivos e negativos são válidos em ambas. Por isso são efeitos da convenção, não da cláusula ou compromisso arbitral. A cláusula compromissória serve para conflitos determináveis – um dia se saberá do conflito – e do compromisso arbitral serve para conflitos determinados – já se sabe o conflito (Convenção de Nova York). 3.1.3. EXTENSÃO SUBJETIVA DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM Quem o árbitro pode julgar. Regra: para quem assina. Terceiros até podem ser pegos pela Convenção, desde que observadas duas condições: a primeira é expressamente aquiescerem, através de adesão, e a segunda é quando o comportamento do terceiro indicar aceitação, embora não tenha aquiescido expressamente. Há quem fale de uma terceira, que Gajardoni não reconhece: se o terceiro não se opuser (silêncio), vale a convenção para ele. 3.1.4. EXTENSÃO OBJETIVA DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM O que o árbitro pode julgar. É reconhecimento geral que o árbitro pode julgar o que as partes preestabeleceram. A cláusula compromissória pode servir para vários conflitos, mas quando se trata de compromisso arbitral, estabelecido à luz do conflito, serve como regra para um conflito, o conflito presente. 3.2. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA A definição está no art. 4º, como sendo a convenção através da qual as partes em um contrato se comprometem a resolver pela arbitragem os litígios que possam vir a surgir relativamente a tal contrato. 3.2.1. REQUISITO FORMAL (a) É condição formal da pactuação da arbitragem ou da cláusula compromissória que seja por escrito (existência/validade). Se fosse oral a pactuação, haveria uma instrução prévia para se saber através de testemunhas qual seria o meio de solução no conflito. Art. 4º, pgf primeiro. Obs.: art. 190 do NCPC (negócios jurídicos processuais) – não fala sobre a convenção processual ser por escrito, e há doutrinadores que determinam que pode haver convenção processual oral. Gajardoni entende que o art. 4º, pgf. 1º, se aplica por analogia, de modo que os negócios processuais também têm que ser por escrito, sob pena de inexistência e invalidade. (b) Porém, não necessariamente no próprio contrato. Pode-se haver um contrato de prestação de serviço, e num documento apartado estabelecer-se que qualquer conflito será julgado pela arbitragem. A partir dessa afirmação, temos duas discussões: i. É possível que essa pactuação se dê de modo informal? Formalmente, é consenso. O que interessa é a manifestação de vontade, e a adesão por escrito dessa vontade. Então, é possível a pactuação informal. ii. E a inserção de cláusula compromissória em contratos societários ou em estatutos sociais? As sociedades, anônimas ou limitadas, podem estabelecer que os conflitos entre sócios ou entre sócios e a sociedade podem ser discutidos em arbitragem? Primeira situação: começamos a sociedade no instante presente, e os membros estabelecem que todos os conflitos decorrentes da relação entre sócios e a sociedade serão julgados por arbitragem. Se todos concordarem em colocar uma cláusula compromissória no contra social, essa cláusula é válida. Se um dos sócios não concordam, a opção deste é não ser sócio. A pessoa que quer ser sócia tem duas opções: aderir ou não aderir. Segunda situação: a sociedade existe e não tem cláusula compromissória. Então, convocamos uma assembleia e propomos à sociedade que doravante haja a inserção nos contratos e estatutos sociais de uma cláusula compromissória. Se um dos sócios não aceitar a inserção de cláusula compromissória, e ainda assim se inserta no contrato – lembrando que não existe arbitragem compulsória, mas sempre facultativa – a arbitragem, há um problema. A arbitragem é vantajosa para a sociedade por conta da publicidade/privacidade. Existem dois dispositivos legais que resolvem esses problemas. Lei 6.404/76: no que não for incompatível, se aplica as Ltda. Art. 109, pgf. 3º (inserido em 2001) – admite a possibilidade de o estatuto social ter cláusula compromissória – e art. 136- A (inserido em 2015 pela reforma da Lei de Arbitragem) – fala sobre a possibilidade de vincular o sócio que não concordou à convenção de arbitragem, portanto, a opção da lei brasileira é que ele é pego pela arbitragem, pois o sócio que discorda é votovencido, e se quiser continuar na sociedade deverá ser pela convenção de arbitragem (observar o quórum do art. 136, maioria absoluta: metade dos acionistas mais um). Obriga-se todos os acionistas sem exceção. A lei brasileira optou por dar convenção à maioria. A mudança vale no prazo de 30 dias, para que possa exercer a pretensão no judiciário, que era como era quando este aderira à sociedade. O parágrafo segundo do artigo 136-A estabelece duas hipóteses em que não é possível o direito de retirada, ou seja, mesmo não concordando, o sócio não pode sair: não existe direito de retirada quando as ações são negociadas em bolsa e têm valor líquido no mercado (cotação diária); caso não se concorde, venda-se as ações (II). O inc. I fala que às vezes as sociedades são compostas através de captação de recursos, e a pessoa topa porque senão o aderente não coloca dinheiro e não cria a sociedade, sendo condição de existência desta. (c) Uma mesma cláusula compromissória pode dar ensejo a várias arbitragens. Deixo de ter arbitragem quando o contrato for rescindido (consensualmente, pois se houver litígio será feita arbitragem). (d) Cláusula compromissória no contrato de adesão. Nas relações de consumo, aplica-se o regramento dos contratos de adesão, até porque muitas relações de consumo derivam nesse contrato. A regra de licitude era: só vale quando o aderente der início ou anuir com a arbitragem, e essa é a regra do art. 4º, parágrafo 2º. A segunda parte desse dispositivo, na opinião de Gajardoni, não deveria estar na Lei: “desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com assinatura ou visto expressamente por esta cláusula”. O que protege o consumidor é a primeira parte, pois existe a opção de, na hora de ter arbitragem, o aderente sair. (e) Autonomia da cláusula compromissória e existência do princípio alemão Kompetenz-Kompetenz. Art. 8º da Lei de Arbitragem. A cláusula compromissória, ainda que inserida no mesmo contrato, é um negócio diferente e autônomo em relação ao contrato. O art. 8º, caput, responde que a cláusula é autônoma de tal sorte que a nulidade do contrato não implica necessariamente na nulidade de cláusula compromissória. A partir do momento que se determina a validade autônoma, isso significa dizer que em um contrato, existe o contrato material e o contrato processual. Se o contrato for celebrado com dolo, erro, coação, a arbitragem também foi celebrada com erro, dolo, coação. Pela regra, e é isso que diz a doutrina alemã, cada árbitro é o juiz de sua competência. A primeira decisão será a respeito da validade da cláusula, mas essa decisão cabe ao árbitro: se a cláusula for válida, este mesmo o julga; se for inválida, julgará o juiz togado. Isso está determinado no parágrafo único. O juiz togado não pode devolver a competência para arbitragem, e quando o árbitro determinar que não é competente, este não será, pois é juiz da própria competência. Para 99% da doutrina brasileira, se o árbitro diz que é competente, o judiciário não se mete enquanto não acabar a arbitragem. Gajardoni discorda: art. 2º da Convenção de Nova York – o judiciário não se mete, salvo se for manifestamente incabível a arbitragem, que constitui uma brecha para ir direto ao judiciário em caso de uma incapacidade, por exemplo, que é manifestamente incabível. Gajardoni diz ser contraproducente e ir contra o art. 2º da Convenção. (f) Espécies de cláusula compromissória. São duas: i. Cláusula compromissória cheia – art. 5º da Lei de Arbitragem. É aquela que já tem elementos suficientes que permitem a imediata instauração do processo arbitral. Na arbitragem, se vai até o árbitro, manda uma notificação, e dá-se início ao processo. Depende do que for combinado de procedimento, mas, em geral, o primeiro ato do árbitro é marcar uma audiência. Caso uma das partes não atenda o chamado, este é revel da mesma maneira que no judicial. Uma condição fundamental é que o árbitro anua. ii. Cláusula compromissória vazia ou patológica – arts. 6º e 7º da Lei de Arbitragem. Não há elementos suficientes para a instituição do juízo arbitral. As partes não estipulam como irá para a arbitragem, qual o tribunal arbitral competente. Ex: “qualquer litígio será julgado por arbitragem” – se pactua a arbitragem, mas não se fala como. Em vários países, como França e Espanha, a cláusula patológica é nula, como se não houvesse sido pactuada. O Brasil admite a existência da cláusula vazia em dois artigos. O art. 6º determina a cláusula vazia extrajudicial, e o art. 7º determina a cláusula vazia judicial. O principal exemplo de cláusula vazia do art. 6º é quando as partes não indicarem o árbitro. Outro exemplo é quando as partes indicam um árbitro ou órgão arbitral inexistente; existe a hipótese de uma nomeação inválida (nomear pessoas que não são obrigadas). Há arbitragens ad hoc (feitas por árbitros separados) e arbitragens institucionais (quando se nomeia uma câmara arbitral). Contudo, há câmaras arbitrais que não fazem arbitragem senão pelo procedimento por elas preestabelecido. Haveria cláusula vazia, caso as partes estabelecem um procedimento distinto, incompatível com o rito aceito pela câmara de arbitragem. O último exemplo são as arbitragens institucionais, em que se nomeia um órgão particular, uma câmara arbitral para conduzir a arbitragem, e existem tribunais que só aceitam assumir a lide pelos próprios procedimentos. Isso é possível, pois quem é contratado tem a mesma autonomia da vontade do que quem contrata. O art. 6º tenta resolver o problema e dar início à arbitragem, e estabelece que aquele que quer dar início ao procedimento arbitral notifica as outras partes para participar de um encontro, indicando-se local e data, com o objetivo de se chegar a uma conclusão a respeito do modo de instituição da arbitragem. O artigo fala em convocação de reunião em dia, hora e local certos, firmar compromisso arbitral – hoje, com o advento da internet, isso pode ser feito online. Há outra falha, que é a comprovação de recebimento via postal. Se a pessoa comparece fisica ou telepresencialmente, tentamos chegar à nomeação do árbitro. Se der certo, as partes nomeiam ou indicam o árbitro, acabou-se o problema, pois a cláusula vazia foi transformada em cláusula cheia. O que pode acontecer é: (i) não haver nomeação do árbitro ou (ii) ausência. A parte pode ir para a reunião e não chegar a conclusão nenhuma, ou não aparecer, e se acontecer uma dessas situações, no Brasil, vão-se ao judiciário no art. 7º, com um papel diferente. O Judiciário recebe o que a doutrina chama de pedido de execução específica da cláusula compromissória vazia, e é um processo de conhecimento!!!, uma ação de obrigação de fazer (segundo Gajardoni). O Judiciário nomeará o árbitro, não julgará o conflito. A natureza jurídica é de ação de obrigação de fazer, uma ação de conhecimento. A competência será determinada de acordo com o juízo de onde e qual seria o juízo competente para receber a ação, e esse é o juízo competente para julgar o acordo arbitral (art. 6º, parágrafo único). O rito dessa ação de execução específica da cláusula compromissória é especial, previsto no art. 7º da Lei de Arbitragem. Deve haver uma petição inicial, que deve ter valor de causa, custas, advogado, etc, tal qual uma ação de cobrança. Na Justiça você segue as regras do CPC. O juiz, então, designará uma audiência. Então, citação, para as partes adversas comparecerem a uma audiência de conciliação que pode ter três situações: (1) o autor não vai; o pgf. 5º do art. 7º determina que o autor ausente extingue o processo sem resolução do mérito; (2) o réu não vai; o pgf. 6º determina que não comparecendo o réu, o juiz, ouvindo o autor, estatuio conteúdo do compromisso e nomeia árbitro único, ou seja, o réu não terá parte na escolha o árbitro; (3) ambos comparecem; nesse caso, o juiz tentará conciliá-los. O pgf. 2º do art. 7º afirma que o juiz em primeiro momento não tenta conciliar as partes para nomear o árbitro. Segundo o art. 139, III, tentará conciliar as partes quanto ao conflito, e a segunda etapa é o juiz convencer as partes à escolha do árbitro. O pgf. 3º diz que, as partes não concordando, o juiz da sentença nomeando árbitro único, e a sentença deverá obedecer os arts. 10 e 21, pgf. 2º da Lei de Arbitragem. O art. 10 fala os requisitos obrigatórios do compromisso arbitral – nome das partes, matéria, etc. O réu será ouvido em contestação, caso haja, em 10 dias, devendo então o juiz decidir. O art. 21, pgf. 2º determina que conteúdo mínimo do processo constitucional – contraditório, paridade de armas, ampla defesa, juiz natural, imparcialidade, etc. § 7º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral. Há honorários; A sentença que institui juízo arbitral tem eficácia imediata; a apelação contra ela interposta tem efeito somente devolutivo. A título de encerramento, deve-se notar que o expediente do art. 6º, que trata da tentativa de reunião, é condição da ação do art. 7º. Isso significa dizer que não se pode entrar com execução específica sem tentar o acordo prévio, e isso é uma tendência natural da jurisprudência brasileira (Gajardoni dá exemplo do esgotamento da via administrativa antes de se acessar o judiciário). A prova é feita através de e- mail, carta, ata dizendo que os dois se encontraram e não chegaram a um acordo, enfim, pode ser feito de várias formas. Por último, o juiz, se as partes não chegarem a um consenso, nomeará o árbitro do conflito. A partir do momento que o juiz nomeou, a arbitragem não começa; só começa quando o árbitro anui. A doutrina recomenda que os juízes contactem o árbitro antes de realizar a nomeação. Para Gajardoni, o art. 7º devia ser revogado, pois não faz sentido a cláusula vazia. PERGUNTA DA AVALIAÇÃO: Usa-se o procedimento do art. 6º e 7º quando a cláusula for cheia? Em um caso em que há indicação do árbitro, pode-se usar o procedimento do art. 6º e 7º? Se a cláusula é cheia, já existe o árbitro. Se o árbitro recusa, você tem provavelmente na cláusula cheia o mecanismo de indicação do árbitro substituto, e se não tiver, a cláusula não é mais cheia e cai na regra da cláusula vazia. Mas com o árbitro ali, não tem que requerer. 3.3. COMPROMISSO ARBITRAL Existe a convenção de arbitragem como gênero, que pode ser dividida em duas grandes espécies: convenção para conflitos futuros indeterminados, e a segunda espécie, o compromisso arbitral, que tem previsão nos arts. 9º e ss da Lei de Arbitragem, para conflitos presentes, no instante em que as partes pactuam a convenção. A cláusula é mais comum. 3.3.1. ESPÉCIES São duas. A primeira é o compromisso arbitral extrajudicial, que é mais comum. As partes celebram o compromisso arbitral fora da justiça, e juntas procuram o árbitro para dar início à resolução do conflito. No compromisso arbitral as duas partes topam que o julgamento seja por árbitro, e é comum que o requerimento de início seja assinado pelas duas partes. A segunda espécie é o compromisso arbitral judicial, que leva à situação de extinguir o processo já ajuizado. Assim, o processo é extinto e as partes são remetidas ao tribunal arbitral. 3.3.2. CONTEÚDO Arts. 10 e 11. O compromisso arbitral é muito mais formal que a cláusula compromissória, pois todos os elementos relativos ao conflito já existem. i. Requisitos obrigatórios – art. 10: sem estes, o compromisso arbitral será nulo – em princípio, na verdade é anulável, porque o judiciário não decretará de ofício, alguém tem que pedir. Constará obrigatoriamente do compromisso arbitral (i) nome, profissão, domicílio e estado civil das partes – qualificação importante para determinar os limites subjetivos da arbitragem, ou seja, quem será pego pela sentença arbitral, pois a regra restritiva determina que só é pego quem assinou a convenção; (ii) nome, profissão, domicílio do árbitro, ou órgão de arbitragem – o principal requisito, que é a indicação do árbitro, e não existe compromisso vazio, porque se não se indica árbitro a arbitragem não existe. O fato de indicar o compromisso do árbitro não significa que haverá arbitragem, pois deverá haver aceitação do árbitro; (iii) matéria que será objeto da arbitragem – no compromisso é possível, pois já existe um conflito; (iv) lugar em que será proferida a sentença arbitral – art. 34, pgf. único, é fundamental para se definir a nacionalidade da sentença arbitral, se é brasileira ou estrangeira, pois se for estrangeira precisará de homologação pelo STJ. ii. Requisitos facultativos – art. 11: é muito recomendado que sejam lançados, mas se faltarem não há anulação do compromisso. São seis: (i) local ou locais em que se desenvolverá a arbitragem – deve acontecer em um local físico; (ii) autorização para que os árbitros julguem por equidade – “com” equidade é diferente de “por” equidade, pois nesse segundo não se aplica a Lei; (iii) prazo para apresentação da sentença arbitral – as partes convencionam o tempo do processo, e é bom colocar isso na convenção, porque se não colocar nada o prazo legal é de 6 meses (art. 23), e além disso, se não se estabelece prazo, deixa-se o árbitro com mais vontade para aceitar ou não aceitar. Pode haver ainda, acordo prévio com o árbitro para facilitar a aceitação, e o processo só corre a partir desta; (iv) indicação da Lei aplicada – o árbitro precisa saber de acordo com que lei julgará, tanto de fundo quanto de forma; (v) a declaração de responsabilidade pelo pagamento de honorários e despesas – as partes determina quem paga o que, por exemplo, rateando-se os honorários meio a meio independentemente de quem ganha e quem perde; (vi) fixação dos honorários do árbitro – Gajardoni crê que deveria ser obrigatório. O parágrafo único diz que, fixados os honorários do árbitro no compromisso, isso é título executivo extrajudicial para executar perante o judiciário (obs.: faticamente, não existe árbitro que aceita julgar antes de receber); isso também vale para o árbitro que não sabe quanto receberá. 3.3.3. DIFERENCIAÇÃO ENTRE COMPROMISSO ARBITRAL E ATA DE MISSÃO OU TERMO DE ARBITRAGEM Compromisso arbitral é um contrato, uma convenção estabelecida entre as partes, que terão o conflito julgado por arbitragem. Existe também um contrato celebrado entre as partes, de um lado, e o árbitro ou instituição arbitral, de outro. Ao contrato celebrado entre partes e árbitro dá-se o nome de termo de arbitragem ou ata de missão. A prestação deste contrato é a obrigação do árbitro de julgar o conflito, contra remuneração das partes. O termo de arbitragem expressa a afirmação do árbitro de que aceita julgar o conflito. Existe um contrato entre as partes e o árbitro, que por um lado receberá, e por outro julgará, da mesma maneira que as partes pagarão e receberão um serviço. Eis uma relação jurídica entre as partes e o árbitro, que a rigor, a ata de missão ou termo de arbitragem é um documento no qual o árbitro levanta a mão e solenemente diz “eu aceito”. É uma ata na qual o árbitro aceita a missão de julgar esse conflito. No momento em que ele aceita, o árbitro quer saber quanto vai ganhar. É uma oportunidade para no mesmo tempo o árbitro aceitar e convencionar-se o valor dos honorários. Isso pode ser feito em documentos separados, não existe uma formalidade. Geralmente, o contrato de honorários é celebrado concomitantemente. 3.3.4. EXTINÇÃO DO COMPROMISSO ARBITRAL – ART. 12 DALEI DE ARBITRAGEM A lei fala em extinção do compromisso arbitral, mas deveria falar em extinção da convenção de arbitragem, pois o art. 12 se aplica tanto à cláusula compromissória quanto ao compromisso arbitral. i. Extingue-se o compromisso arbitral se, antes da aceitação, o árbitro, intuito personae, recusar a missão. O primeiro elemento é antes da aceitação, e o segundo elemento é dizer “não aceito”. O terceiro elemento é intuito personae, ou seja, as partes não aceitam substituto. Desse modo, é dado extinto o compromisso arbitral e as partes devem buscar o Judiciário. Se fizerem um novo compromisso arbitral, o conflito pode ser julgado pela arbitragem, mas isso não deixa de extinguir o compromisso arbitral; acaba que isso muito dificilmente ocorre na prática, pois se as partes escolhem um árbitro específico, provavelmente não vão querer outro. Esse árbitro não responde por perdas e danos, pois não é obrigado a aceitar, nem justificar. ii. Após a aceitação, o árbitro falecer ou se tornar incapacitado de proferir sentença, nas arbitragens intuito personae. O primeiro elemento é após a aceitação, o segundo é a superveniência de falecimento ou incapacidade, e o terceiro é o intuito personae. O mesmo raciocínio do tópico (i). No caso de falecimento, não há perdas e danos. Em caso de incapacidade, a definição se dar em caso concreto. Exemplos: (1) árbitro que mudou para fora do país – está impossibilitado porque se colocou nessa situação – há responsabilidade civil; (2) árbitro ficou louco – não tem responsabilidade; (3) casos como nomeação a ministro ou aprovação em concurso público. A resolução seria o árbitro colocar uma cláusula reconhecendo a possibilidade de sair dada a superveniência de uma situação como essa. iii. Quando decorrido o prazo para prolação da sentença, o árbitro notificado para fazê-lo em dez dias não sentencia. Se desdobram três situações: (1) decorreu o prazo, nenhuma das partes reclama. A lei entende que nessa situação pode acontecer a consideração de que houve uma prorrogação tácita do prazo do árbitro. Ninguém pode pedir a nulidade, pois quem cala consente. Isso não acontece porque no art. 23, pgf. 2º da Lei de Arbitragem diz-se que quando o árbitro percebe que não vai dar conta, pode de comum acordo com as partes prorrogar o prazo. As partes geralmente topam, porque querem o julgamento de forma decente; (2) o árbitro excede o limite do prazo e as partes notificam para que ele sentencie em dez dias. E nesses dez dias o árbitro sentencia. O árbitro descumpre o prazo, as partes notificam e o árbitro sentencia de modo a não ensejar nulidade nenhuma. Há uma moratória legal, a lei faculta a sentença em dez dias. Se o árbitro quebra o contrato, a sentença arbitral é anulada e responde-se por perdas e danos; (3) o árbitro não cumpre o prazo, e as partes notificam, só que nesse caso o árbitro sentencia após os dez dias. Não existem causas de nulidade da sentença arbitral, mas meramente de anulabilidade. A condição para que se possa pedir a anulabilidade é a notificação e dez dias de prazo para o árbitro sentenciar. Isso significa que só pode pedir anulação nos termos do art. 32, VII da Lei de Arbitragem aquele que notificou. Se o árbitro está atrasado, deve-se notificar. Se não o fizer, não poderá pedir a anulação depois. A tendência é que o árbitro julgue em favor de quem notificou, para não haver nulidade e consequente responsabilização por perdas e danos. Não é necessário que as partes se notifiquem entre si, mas o árbitro costuma notificar de boa fé. Se as duas partes notificarem e a sentença for desfavorável, ambos podem buscar a nulidade. 3.4. ARBITRAGEM AD HOC VS. ARBITRAGEM INSTITUCIONAL A arbitragem ad hoc é aquela em que as partes escolhem o árbitro e disciplinam todas as regras do processo arbitral. A arbitragem institucional é aquela em que as partes remetem a eleição do árbitro e/ou a condução e regulação do processo arbitral para uma entidade especializada. Contrata-se uma pessoa jurídica, que no jargão forense se chama de corte arbitral, é uma pessoa especializada em prestar serviço de arbitragem. A mais comum é a institucional. Uma corte arbitral tem um corpo de árbitros. Quando se dá início, a câmara indica o árbitro ou os árbitros, que, uma vez aceitando, dá início ao julgamento. CÂMARAS DE ARBITRAGEM INTERNACIONAIS: ◦ Câmara de Arbitragem da CCI – Câmara do Comércio Internacional (França). Não é a CCI que faz a arbitragem, é um órgão de fomento das práticas internacionais, mas tem acoplada a ela uma câmara de arbitragem. Opera arbitragem em dezenove idiomas. ◦ Câmara de Arbitragem da AAA – Associação Americana de Arbitragem - Triple A (Nova York). Os americanos costumam só aceitar essa câmara. CÂMARAS DE ARBITRAGEM BRASILEIRAS: ◦ Câmara de Arbitragem Brasil-Canadá. Tem regulamento próprio. ◦ Câmara de Arbitragem da FIESP. Tem regulamento próprio. Essas são genéricas, julgam qualquer tipo de conflito. Mas existem câmaras temáticas, que geralmente são ligadas a órgãos profissionais, como CROC, CREA, CRM, órgãos de arbitragem apenas para um assunto. Além dessas, existem órgãos de fomento. Estes são instituições de arbitragem que até podem ter câmaras ligadas a eles, mas o foco principal é fomentar, divulgar, incentivar o uso de arbitragens. Alguns órgãos: Cbar, INAMA, ABAR. As entidades mencionadas, CCI, FIESP, etc, não só têm cláusulas modelo para se colocar no contrato. A arbitragem pode ser conduzida pelas regras de uma câmara de arbitragem, com árbitro indicado pelas partes. Mas a arbitragem ainda é institucional, porque quem conduz a arbitragem é a instituição. Pode-se indicar o árbitro, mas deve atentar- se ao fato de que aceitam-se árbitros externos na instituição; muitas câmaras não aceitam árbitros de fora. Pode ter arbitragem institucional com árbitro ad hoc, e arbitragem ad hoc usando regras de câmaras arbitrais. Não existe no Brasil nenhuma regulamentação sobre a profissão de árbitro, tampouco das arbitragens institucionalizadas. A arbitragem nasce da ideia liberalista de tirar o Estado da solução dos conflitos, e isso tem um ponto positivo: o mercado regula. A arbitragem está há muito tempo no mercado pois é um serviço de qualidade. Existe um lado negativo: qualquer um pode bancar um serviço de arbitragem, e pode-se prestar um serviço de baixa qualidade. Gajardoni acredita que o mercado dará conta de excluir os maus prestadores de serviços. 4. ÁRBITRO É a figura central da arbitragem, é o particular nomeado pelas partes para julgar o conflito. Não confunda árbitro do arbitrador: árbitro é juiz, julga, decide se a ação é procedente ou improcedente. Ao lado do árbitro, existe a figura do arbitrador, que é um avaliador; arbitramento, diferente de arbitragem, é avaliação. Ex: pegar uma área que herdeiros não querem ser condôminos – o juiz nomeia dois arbitradores para mensurar e dividir. 4.1. CAPACIDADE PARA SER ÁRBITRO Condições para ser árbitro. Encontra-se no art. 13, caput, da Lei de Arbitragem. Poderá ser árbitro a pessoa capaz (capacidade – objetivo) e que goze da confiança das partes (confiança – subjetivo). Objetivamente, só pode ser árbitro quem esteja no rol do art. 3º do CC: pessoa maior de 18 anos, que não tenha problemas mentais. Se eventualmente só posso ter uma pessoa capaz, excluo da possibilidade de ser nomeado árbitro os relativa e absolutamente incapazes. Subjetivamente, temos a confiança, que é um elemento analisado à luz do interesse das partes em creditar a alguém a obrigação de ser julgado por ela. Falar os motivos que levam uma pessoa a confiar na outra é uma questão de pele, algo que extravasa o limite da ciência. É um juízo pessoal, estranho ao estudo do direito. Temos, aindaquatro problemas práticos: i. Analfabeto pode ser árbitro? A lei brasileira fala que a sentença arbitral tem que ser escrita. É possível, pois o árbitro pode ditar; a função do árbitro é julgar, e sendo analfabeto ou não, é capaz de fazê-lo. Nomeia-se um secretário para que transcreva a sentença. A discussão é meramente acadêmica, mas em tese não pode-se afastar a possibilidade. ii. O árbitro é obrigado a conhecer o vernáculo? Não. A arbitragem pode ser combinada em direito estrangeiro, portanto, não é preciso que se fale português, ainda que o conflito seja interno, desde que isso seja vertido para a língua combinada pelas partes. Observação: art. 190 do CPC/15, negócio jurídico processual. Carmona fala que é possível que as partes escolham o juiz e a língua da sentença estatal. iii. O juiz togado pode ser nomeado árbitro? O impedimento está no art. 26 da Lei Orgânica da Magistratura. Não interessa se o juiz vai ganhar ou não, porque o artigo estabelece que o juiz pode ser só professor, juiz e sócio não-administrador. Tem uma resolução do CNJ que diz que juiz não pode ser nem síndico de condomínio. iv. O árbitro pode ser pessoa jurídica? Não existe impedimento claro na Lei. A questão é que a pessoa jurídica, e a maioria da doutrina nacional e internacional diz isso, é que é uma ficção. A vontade da pessoa jurídica é a vontade da administração, que é composta por pessoas. Na verdade uma pessoa jurídica ser árbitro equivale a dizer que quem vai julgar na verdade é os administradores da empresa, e aí já torna pessoa física. Não se admite, portanto, pessoa jurídica sendo nomeada com o árbitro. ATENÇÃO: Uma coisa é nomear uma pessoa jurídica para decidir: não é possível. Outra coisa é nomear uma pessoa jurídica para indicar o árbitro. As pessoas fazem isso quando se fala na indicação de uma instituição especializada de arbitragem. Ex: não é a câmara que julga, é câmara que seleciona no corpo de árbitros aquele que julgará o caso. 4.2. ESCOLHA Analisa-se os parágrafos do art. 13 da Lei de Arbitragem, que tratam do procedimento de escolha dos árbitros. 1. Escolha do árbitro. A arbitragem pode ser unipessoal, ou pode ser colegiada. “As partes nomearão um ou mais árbitros, podendo nomear também os respectivos suplentes”. Além disso, topando fazer a colegiada, sempre designarão árbitros em número ímpar. É mais comum a colegiada, porque as partes querem arbitragem mas não querem a todo custo; não existe recurso na arbitragem, e na colegiada minora-se a possibilidade de a decisão ser errada. Geralmente, a colegiada é de três árbitros por conta do custo. 2. É regra pra resolver o problema quando as partes desobedecem o parágrafo primeiro. Como não pode arbitragem em número par, a solução é: cada um indica um árbitro, e automaticamente esses dois árbitros estão autorizados a de comum acordo indicarem um terceiro. Na maioria das vezes, isso é possível, pois o árbitro tem mais equilíbrio para chegar a um terceiro nome isento e imparcial. É possível que eles não cheguem a consenso, e, nesse caso, uma solução é sorteio; outro caso, é extinguir o processo? É um caso de cláusula vazia, e nesse caso vai-se ao Judiciário – art. 7º da Lei de Arbitragem. É muito difícil se admitir que isso possa ocorrer, porque toda vantagem da arbitragem se extingue com a atuação do Judiciário – morosidade, etc. 3. As partes podem delegar a um terceiro a nomeação do árbitro. É evidente que esse dispositivo está aqui por causa da arbitragem institucional. Pode-se determinar que um órgão nomeie o árbitro, mas, na verdade, quem julga o conflito é o árbitro nomeado, e não a entidade especializada. E isso é importante, por razões de responsabilidade civil. Tem várias câmaras, e as câmaras têm listas de árbitros, e deve ser escolhido dentre estes, não podendo escolher árbitro externo, porque as partes confiaram naquela lista específica. Isso deve constar, porque se não houver ressalva, não é possível. 4. As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regulamento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite a escolha do árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição, sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, deverá ser observado o que dispuser o regulamento aplicável. Esse dispositivo permite a alteração da regra do tribunal arbitral institucional quando ela limitar a livre escolha do árbitro. Existem algumas cortes arbitrais que só aceitam fazer arbitragem com os árbitros de seus quadros. O legislativo viu que isso era uma grande reserva de mercado, dado que os mesmos árbitros entravam nas listas de várias cortes arbitrais, retirando a possibilidade de novos árbitros. As partes podem afastar o regulamento da corte arbitral que limite a nomeação do árbitro ao quadro de árbitros da instituição, autorizado o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição. No caso de impasse, deverá ser observado o regulamento aplicável. 5. Duas figuras da arbitragem: o presidente e o secretário. Essas figuras podem existir, mas não são necessárias. O presidente é uma figura que só tem importância se estivermos diante de uma arbitragem colegiada. Porque quando eu tenho órgão colegiado, preciso de alguém responsável por conduzir a arbitragem, e quem define a escolha do presidente são as partes ou o regulamento da câmara. As pessoas têm interesse em ser presidente pois a remuneração é um pouco melhor. O secretário é aquele que manda ofício, expede mandado, se comunica com as partes, escolhe equipamento de gravação, etc, que têm uma importância estrutural para o funcionamento da arbitragem. Não é preciso secretário na arbitragem institucional, pois isso já está incluso. 4.3. QUALIDADES DO ÁRBITRO Art. 13, parágrafo sexto. Parte da doutrina chama esse dispositivo de Código de Ética da Arbitragem. Para ser nomeado árbitro, as condições são capacidade e confiança. Agora, para exercer a arbitragem, essas são as condições. São cinco qualidades: i. Imparcialidade. É um juízo subjetivo, e a imparcialidade deve verificar se não é uma predisposição por parte do árbitro em beneficiar ou prejudicar uma das partes. É importante destacar o art. 14, parágrafo primeiro da Lei de Arbitragem. O juiz togado não precisa contar pras partes tudo que pensa ou tem de informação para poder julgar o conflito. Quando uma pessoa é nomeada árbitro, ela tem o dever de informação – se achar que algo na sua vida pode ser considerado comprometimento de parcialidade, ela deve avisar as partes. Ex: Gajardoni é nomeado arbitro para julgar um conflito patrimonial de terras, e na adolescência foi membro do MST. ii. Independência. É uma análise objetiva. Significa não ter vínculo com as partes. Por exemplo, não se pode ter um árbitro que é árbitro do conflito, e é advogado da parte em outro processo. É importante relembrar que o dever de revelação impõe ao árbitro o dever de revelar vínculos presentes, passados e futuros. ATENÇÃO: não existe neutralidade entre essas qualidades; a neutralidade é um mito. A formação de quem julga, a empatia, as condições econômicas e sociais são relevantes para formar a decisão. iii. Competência. Não é o termo de competência no sentido jurídico processual. É no sentido técnico científico. Espera-se que o árbitro julgue tendo conhecimento do que está falando. Ter jurisdição sobre o caso, ele tem: a convenção de arbitragem confere isso a ele. iv. Diligência. É no sentido de cuidado, de atenção. O árbitro tem que efetivamente se dedicar à causa. Existe uma recomendação na ABA – American BAR Association para que o árbitro não tenha mais que oito casos de arbitragem. v. Discrição.A arbitragem não é secreta, mas as partes podem estabelecer o segredo. Se não estabelecerem, ela não é sigilosa, mas mesmo não sendo sigilosa, há de haver uma certa discrição porque é paga pelas partes e só a elas interessa o resultado. É muito difícil, assim, dizer se a arbitragem funciona, se tem efetividade ou não, porque esses dados numéricos são maquiados por conta de não serem públicos. 4.4. IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO DOS ÁRBITROS – ART. 14 DA LEI DE ARBITRAGEM Lembrando: como funciona o impedimento e a suspeição dos árbitros na justiça estatal? Existem duas previsões que visam fazer com que o juiz togado seja imparcial. São as figuras do impedimento e da suspeição. O impedimento tem previsão no art. 144 no CPC/15, e a suspeição tem previsão no art. 145. O impedimento é fundado em circunstâncias de natureza estritamente objetivas, o que significa dizer que para poder aferir e reconhecer o impedimento, não é preciso de uma investigação da psique do magistrado, não é preciso verificar o animus. Ex: juiz é pai da parte; juiz(a) é cônjuge ou esposa da parte. Na suspeição verificam-se circunstâncias subjetivas. Ex: amizade íntima do juiz ou da parte ou de seu advogado. Critério: frequenta a casa do juiz. Não é possível afirmar amizade íntima por critérios objetivos. No impedimento, existe a presunção absoluta de parcialidade. Na suspeição, a presunção é relativa de imparcialidade; ATENÇÃO: até o CPC antigo, a suspeição não existia para o advogado/o promotor da parte. O regime jurídico do impedimento e da suspeição, no CPC, se houver a violação da regra do impedimento, vai caber ação rescisória. No caso de suspeição, o vício é menos grave e não enseja ação rescisória. O impedimento é um vício imprecluível, a suspeição não. IMPEDIMENTO SUSPEIÇÃO ART. 144 DO NCPC ART. 145 DO NCPC CIRCUNSTÂNCIAS OBJETIVAS CIRCUNSTÂNCIAS SUBJETIVAS PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE PARCIALIDADE – IURIS ET DE IURE PRESUNÇÃO RELATIVA DE IMPARCIALIDADE – IURIS TANTUM ART. 966, II DO NCPC – AÇÃO RESCISÓRIA SEM RESCISÓRIA O regramento sobre impedimento e suspeição na arbitragem é o art. 14 da Lei. O que muda é: a primeira afirmação é que a legislação não reconhece distinção entre o impedimento e a suspeição do magistrado e do árbitro. A segunda afirmação é que “estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham com as partes as causas de impedimento e suspeição, etc”. Isso quer dizer que o grau do vício é exatamente o mesmo. O regime mais brando da suspeição não existe na arbitragem. A consequência está no art. 32, II da Lei de Arbitragem, que estabelece que a sentença arbitral é nula nas situações em que a pessoa não puder ser árbitro. As hipóteses dão cabimento à ação de nulidade. As partes podem convencionar que um árbitro impedido julgue? Sim! O rigor do art. 14 é temperado pela autonomia da vontade, mas temos algumas observações: na primeira observação, o art. 14, parágrafo primeiro da Lei de Arbitragem fala da existência de um dever de revelação – as pessoas indicadas têm o dever de informar qualquer dúvida justificada etc. Na arbitragem, a parte é obrigada a avisar para as partes qualquer fato que possa denotar comprometimento da imparcialidade ou da parcialidade. Isso é importante pois na hora, compete às partes decidir se aceitam ou não aquele árbitro. A grande dificuldade do dever de revelação é decidir qual o fato que o árbitro tem ou não que revelar. A segunda observação é como arguir o impedimento do árbitro. Essa arguição do impedimento vai ser feita de acordo com o art. 15, que determina que é feita através da manifestação na primeira oportunidade a constar dos autos – atente-se que é a primeira oportunidade a partir do conhecimento. Na arbitragem, se faz a arguição para o próprio árbitro, e quem decide se é impedido é o próprio árbitro – regra da kompetenz kompetenz. Se o árbitro entender que é impedido, repassa o caso para que as partes escolham outro árbitro. A grande dúvida surge na hipótese em que o árbitro ou a árbitra recusam o impedimento. Nesse caso, a parte que arguiu não pode fazer nada – a decisão é do árbitro. A arbitragem corre até seu final, e tendo julgado, observa-se o provimento do pedido. Se improvido, leva ao judiciário. A terceira observação, apenas um comentário: art. 144, VIII, e art. 145, I. Inovações do NCPC que impactam a arbitragem. Pelo regramento atual, o árbitro não pode ser amigo íntimo dos advogados das partes. A rigor, isso gera impedimento. E mais, a lei estabelece que o juiz não pode julgar o processo em que figure como parte cliente de escritório de seu cônjuge ou parente. Esses dispositivos colocam o árbitro quase sempre em impedimento, porque o mercado de arbitragem é pequeno e restrito. Isso pode ser solucionado através da aceitação dos impedidos, em homenagem ao princípio da autonomia da vontade. 4.5. ESCUSAS/ÓBITO E SUBSTITUIÇÃO DO ÁRBITROS – ART. 16 DA LEI DE ARBITRAGEM 4.5.1. ESCUSAS/ÓBITO Escusa antes da aceitação; a escusa é livre antes da aceitação. Escusa depois da aceitação; o árbitro precisa declinar os motivos da recusa, e isso é importante porque a depender da justificativa, isso pode gerar responsabilidade civil do árbitro. Existem, pelo menos, duas hipóteses em que a escusa do árbitro não é sequer necessária, e não é preciso juízo de valor se a escusa é legítima ou ilegítima: (i) óbito ou falta de condições físicas – coma, entubamento, etc; ou (ii) impedimento. 4.5.2. SUBSTITUIÇÃO Como se dá, na prática, a substituição do árbitro? Há de se fazer uma distinção entre arbitragem institucional e arbitragem ad hoc. ARBITRAGEM INSTITUCIONAL ARBITRAGEM AD HOC A instituição nomeia outro árbitro, e o regulamento da instituição já traz previsão para tanto. Pouquíssimas vezes existe na convenção de arbitragem um árbitro secundário. Surge a necessidade de nomear um outro. Se as partes chegarem a consenso, não há problema. Quando as partes não chegam a um consenso, que deve-se ir ao Judiciário – art. 7º da Lei de Arbitragem. 5. RESPONSABILIDADE PENAL DO ÁRBITRO Art. 17 da Lei de Arbitragem: os árbitros, quando do exercício das suas funções, ou em razão delas, ficam equiparados a funcionários públicos para fins penais. A discussão é total (Gajardoni concorda com essa visão) ou parcial. Se total, os mesmos crimes praticados contra o juiz são praticados contra o árbitro – a dizer, desacato, desobediência, resistência, corrupção ativa, etc. Da mesma forma, os mesmos crimes praticados pelo funcionário público podem ser praticados pelo árbitro – prevaricação, corrupção passiva, concussão, advocacia administrativa, etc. Atenção: improbidade administrativa não é crime, é um ilícito civil com sanções administrativas, e a conduta pode ser crime ou não. O árbitro, equiparado ao juiz, pode praticar e responder por improbidade – e pode haver arbitragem com o poder público no processo. Se eventualmente violar os princípios da administração, deverá responder. A terceira consequência tem a ver com compliance – regra do art. 40 do CPP. “Quando em autos ou papéis (…) crimes de ação penal pública, (…)”. Deve-se revelar, para que a arbitragem não seja meio de esconder ilícios penais e tributários. 6. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ÁRBITRO Não existe previsão legal na Lei de Arbitragem. A disposição legal aplicável é o art. 143 do NCPC, que fala da responsabilidade civil do juiz togado, e como a aproximação entre ambos é evidente, aplica-se o dispositivo. O art. 143 diz que os juízes não respondem nas hipóteses de errores in judicande – erros em julgamento – ressalvada a má-fé/dolo. Deve haver autonomia de julgamento, que passa pela necessidade de autonomia de interpretação. Não se pode criminalizar a hermenêutica. Na arbitragem, se você escolhe alguém incompetente,o erro é seu. 7. INÍCIO DO PROCESSO ARBITRAL 7.1. INÍCIO – ART. 19 DA LEI DE ARBITRAGEM O processo arbitral começa quando o árbitro aceita. Em caso de câmara arbitral, é no momento da última aceitação. A aceitação é o marco divisório para aquilo que a doutrina chama de fase pré-arbitral, e fase arbitral. Existem partes de arbitragem na fase pré-arbitral? Sim, a convenção, que é celebrada na fase pré- arbitral. O compromisso e a cláusula são pactuados no momento posterior. Além disso, o procedimento de execução específica da cláusula vazia também ocorre nesse momento, bem como a escolha do árbitro. Na hipótese do art. 7º da Lei de Arbitragem, mesmo assim precisa da aceitação do árbitro. Recordo: o art. 7º trata da execução específica da cláusula compromissória vazia, quando as partes não indicam o árbitro, o Judiciário por sentença nomeia um árbitro e diz que as partes deverão submeter o conflito ao árbitro escolhido. Mesmo se a arbitragem for instituída por sentença, a arbitragem só começa quando o árbitro nomeado pelo juiz aceita. 7.2. FORMA DA ACEITAÇÃO DOS ÁRBITROS Não há previsão legal de forma específica. Apesar disso, não há dúvidas de que a aceitação é um ato formal, porém não solene. Isso significa dizer que alguma forma, qualquer que seja, é exigida. Essa forma é livre, não tem requisito de validade. Se fosse uma solenidade, precisaria se obedecer a forma expressamente determinada em Lei. Carmona levanta uma discussão interessante: ele diz que pode haver aceitação tácita da arbitragem. E ele dá um exemplo: você pode mandar os dados para o árbitro, e com isso já marca a audiência. 7.3. EFEITOS DO INÍCIO DO PROCESSO ARBITRAL No processo civil, uma vez iniciado e dependendo do momento, pode ter cinco efeitos: prevenção, litispendência, tornar a coisa litigiosa, gerar a constituição do devedor em mora e pode gerar a interrupção da prescrição. PROCESSO ESTATAL PROCESSO ARBITRAL INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO Ajuizamento, distribuição, cite-se (despacho positivo) ou momento em que o réu é citado? A regra do processo estatal está no art. 202, I do CPC, e 240 e parágrafos do NCPC. A regra do código é que o que interrompe a prescrição é o despacho positivo do juiz, ou seja, quando ele coloca o cite-se, pois isso quer dizer que o Estado aceita a ação e a prescrição está interrompida. Porém o cite-se é com retroação à data da propositura da ação. Caso contrário, o jurisdicionado seria prejudicado pela demora da apreciação pelo Poder Judiciário. Tem previsão no art. 19, pgf. 2º da Lei, e o termo inicial é quando o árbitro aceita. A Lei faz duas ressalvas: i. O que interrompe é a aceitação com retroação à data do requerimento da arbitragem. ii. Essa interrupção da prescrição persiste mesmo se a arbitragem for extinta. CONSTITUIÇÃO DO DEVEDOR EM MORA É o momento em que a pessoa é considerada inadimplente. As regras da legislação civil são abundantes, em dívidas líquidas certas com prazo vencido, a constituição em mora é pelo simples não pagamento. Mas existem certas obrigações em que a pessoa tem que ser constituída em mora, o que pode ser feito extrajudicialmente. Ordinariamente, nas hipóteses em que não houver constituição em mora extrajudicial, o devedor passa a ser considerado em mora a partir do momento em que o devedor é cobrado. Esse momento é o da citação. O termo da constituição em mora da arbitragem é o mesmo do processo estatal. Se não foi feito extrajudicialmente, data da citação. TORNAR A COISA Só existe nas obrigações de dar, de Na arbitragem, a coisa se torna litigiosa na LITIGIOSA entregar. Tornar a coisa litigiosa é fazer com que todos interessados saibam que a partir daquele instante aquele objeto está em disputa judicial. O efeito prático de tornar a coisa litigiosa é que o titular tem direito de sequela sobre ela, que é “direito de tomar a coisa de quem estiver com ela”. Quem está com a coisa pode aliená-la, mas continua sendo parte do processo. É possível que a pessoa que adquiriu a coisa torne-se parte – a sucessão processual depende da vontade do autor. A partir do momento em que o juiz fala que o titular da coisa é fulano, fulano pode pegar a coisa para si. No processo estatal, o termo inicial que torna a coisa litigiosa é o mesmo da constituição em mora: se não houver constituição extrajudicial, é a citação. citação no caso de não ter havido constituição extrajudicial. LITISPENDÊNCIA A litispendência é o fenômeno em que duas ações idênticas estão sendo processadas simultaneamente. Uma delas deve ser extinguida, porque o indivíduo tem direito a obter uma resposta do Estado. O momento em que há litispendência, o momento em que se diz que não pode haver outra ação, o processo será extinto sem mérito. O art. 240, caput, do NCPC, determina que se extingue a ação com a citação. Na arbitragem não é a regra do processo estatal. A litispendência acontece no momento em que o árbitro aceita. PREVENÇÃO É o fenômeno que estabelece a competência entre juízes concorrentemente competentes. A regra é a da distribuição. No processo arbitral, a regra é a da aceitação do árbitro. Os efeitos, portanto, são interrupção da prescrição, litispendência e prevenção. O resto só acontece com a citação. 7.4. TERMS OF REFERENCE É uma audiência para esclarecimento de questão não posta na convenção de arbitragem. Isso significa que na hora em que o árbitro aceita, ele vai ler as regras. O árbitro pode no começo do procedimento, e nesta audiência em conjunto com as partes debate-se um adendo à convenção de arbitragem, um “termo de referência” que passa a integrar a convenção de arbitragem. Ex: prazo para julgamento, língua para arbitragem, local de prolação. As partes podem mudar regras que já haviam combinado antes, desde que haja anuência do árbitro. 8. EXCEÇÕES AO ÁRBITRO OU AO JUÍZO ARBITRAL – ART. 20 DA LEI DE ARBITRAGEM Exceção é uma reserva, ressalva, defesa, e essa defesa pode ser contra o árbitro ou contra o juízo arbitral. No caso do árbitro, o objetivo é tirar o árbitro e seguir na arbitragem; no caso do juízo arbitral, o objetivo não é tirar o árbitro, mas dar fim à arbitragem, ou seja, a extinção da arbitragem. O conflito, portanto, será julgado pelo Estado. 8.1. EXCEÇÕES AO ÁRBITRO Impedimento. Art. 14. Para a arbitragem suspeição e impedimento têm o mesmo efeito. Incompetência. Art. 13, pgf. 6º. Não no sentido processual, mas no sentido técnico. Em caso de engano mediante fraude, deve-se resolver em perdas e danos no judiciário na opinião de Gajardoni, mas alguns afirmam que isso é causa de nulidade. A arguição de impedimento e competência é feita pelo próprio árbitro (art. 8º), nesse caso, será feita a substituição do árbitro (art. 20, parágrafo primeiro). Caso o árbitro rejeite a exceção, a parte que arguiu o vício pode entrar no judiciário com ação de nulidade. A arguição deve ser feita na primeira oportunidade, caso contrário, o direito preclui. A não alegação do vício do impedimento ou da incompetência, é tida como anuência. Caso só se descubra o vício depois da sentença, não havia como arguir. Resta propor ação no Judiciário pedindo a nulidade. Quem julga a incompetência ou o impedimento é o próprio árbitro, e caso seja perdido, entra-se com ação de nulidade. 8.2. EXCEÇÕES AO JUÍZO ARBITRAL Vício na convenção. Na verdade, é o vício previsto na legislação civil. A lei estabelece condições para que uma convenção seja existente, válida e eficaz. Agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei – elementos objetivos. Os vícios são erro, dolo, coação, simulação, fraude, etc. Não pode haver uma convenção de arbitragem porque a pessoa foi coagida, induzida em erro. Quando houver contrato de adesão,
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