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AULA 20 : CONCORRENCIA IMPERFEITA III: OLIGOPOLIOS ( CONTINUAÇAO AULA 19 ) Padroes Competitivos: Stackelberg, Competiçao monopolística, Cartel, Padroes Mistos. Bibliografia e exercícios sugeridos. D) STACKELBERG (H.F. von Stackelberg, 1934) No livro The theory of market economy (1952) o economista alemao Heinrich Freiherr von Stackelberg apresenta o modelo de um duopolio no qual a tomada de decisao dos agentes nao é descrita por um jogo simultaneo com informaçao imperfeita, como em Cournot ou Bertrand, mas por um jogo sequencial, no qual um agente move primeiro. A análise do modelo segue entao com a discussao sobre as condiçoes que garantem vantagem à empresa pioneira. Assim, o padrão competitivo vigente em um mercado com n ofertantes prevê decisões sequenciais em dois estágios (períodos). No primeiro, a firma líder, 1, toma sua decisão escolhendo q1 (ou p1 de maneira a maximizar seu lucro. Na segunda etapa, os outros n − 1 produtores (chamados seguidores) efetuam suas melhores escolhas qj ou pj) individualmente, dada a escolha do líder. Para facilidade da exposição, trataremos aqui o caso do duopólio n 2. Como vimos nas aulas de teoria dos jogos, o equilíbrio em modelos sequencias é obtido por indução retroativa. Assim, o líder, que move primeiro, considerará a função de reaçao do seguidor x2 R2x1, obtida da CPO relativa à maximização do lucro do seguidor. Aqui temos v2 0, a firma seguidora nao antecipa qualquer reaçao da firma lider aos ajustes nas suas quantidades (x q2, o preço (x p2. A) Liderança em quantidades (Quantity leardership) No modelo de competição em quantidades, quantity leadership, a firma líder maximizará em q1 a função lucro, no caso diferenciado: 1q1;R2q1 q1p1q1;R2q1 − C1q1 . Na funçao objetivo, a firma lider sabe que a firma 2 é seguidora e que esta sempre dará a melhor resposta ao ao nível da oferta p1 que ela escolher. Note que se o produto for homogeneo, a demanda inversa p1 escreve-se Pq1 R2q1. A CPO para o líder é, portanto: P q1P ′1 R2′ q1 − C1′ 0 no caso homogêneo ; p1 q1 ∂p1∂q1 ∂p1 ∂q2 R2 ′ q1 − C1′ 0 no caso diferenciado. Observe que os dois primeiros termos à esquerda das equaçoes acima sao as receitas marginais percebidas pela empresa líder. Comparando-se a primeira destas equações com 3a e a segunda com 3b vemos que a consistencia da variação conjectural do líder, de acordo com 4 requer R2′ q1 − ∂22∂q2∂q1 / ∂22 ∂q22 . Vamos analisar o caso do duopólio diferenciado. O duopólio homogêneo aparece como um caso particular do primeiro, quando existe substituição perfeita entre os bens. Se o equilíbrio é estável e as quantidades forem substitutas estratégicas, então ∂ 22 ∂q2∂q1 0 e R2′ q1 0, de modo que o líder antecipa corretamente que o seguidor acomodará os aumentos de sua oferta, reduzindo a sua. Se as quantidades forem complementos estratégicas, então ∂ 22 ∂q2∂q1 0 e R2′ q1 0 e o líder considera a atitude combativa do seguidor, o qual replicará os aumentos ou contrações da sua oferta. Em ambos os casos, se os efeitos de segunda ordem não forem dominantes, sabemos que quantidades substitutas estratégicas (complementos estratégicas) implicam que os bens ofertados pela lider e pela seguidora sao substitutos (complementos). No primeiro caso, de substituiçao, teremos ∂p1∂q2 0 de modo que ∂p1 ∂q2 R2 ′ 0; no segundo caso, de complementaridade, teremos ∂p1∂q2 0, de modo que ∂p1 ∂q2 R2 ′ 0 novamente. Assim, em face da CPO acima, a receita marginal da firma líder será maior que a aquela percebida por ela em competição de Cournot, pois no padrao Cournot, a variaçao conjectural é nula. COMPARAÇAO: STACKELBERG x COURNOT O fato da firma auferir receita marginal superior como líder do que como nao líder, fará com que ela sempre produzirá quantidades maiores do que o faria no regime de Cournot: q1S q1C . Quanto a seguidora, como sua função resposta é decrescente num caso e crescente no outro, segue-se que ele ofertará quantidades menores se os bens forem substitutos (q2S q2C) e maiores se os bens forem complementares (q2S q2C). Em ambos os casos, o lucro da firma líder é maior daquele que ela obteria na competição independente: 1S 1C. Isto é demonstrado geométricamente no caso linear, pelas figuras nas Figuras 4a e 4b mostradas abaixo. Um argumento racional simples confirma este fato: como a firma líder seleciona sua oferta ótima sobre a curva de resposta do seguidor, ela poderia escolher o nível de Cournot se este lhe proporcionasse lucro mais elevado. Para a firma seguidora, o argumento geométrico das Figuras 4a e 4b mostra que, com relação ao regime de Cournot, seu lucro será menor se os bens forem substitutos (2S 2C e maior se os bens forem complementares 2S 2C, respectivamente. A Figura 4a ilustra o equilíbrio no duopólio linear de Stackelberg, com liderança em quantidades, quando os bens são substitutos. Fig.4a: Equilibrio de Stackelberg: Quantity Leadership, bens substitutos 0 q2 q1 R2(q1) R1(q2) q2C q1C q1S q2S Curvas de isolucroseguidor ‘líder O fato do lucro da firma líder ser maior que o lucro que ela obteria em Cournot (1C aparece pelo nível da sua curva de isolucro, tangente à R2, na Figura 4a. Com efeito, a curva de isolucro da firma líder se situa à um nível mais baixo da curva de isolucro passando na intersecção de R2 com R1, o equilibrio de Cournot, a qual não representada aqui, para nao sobrecarregar o desenho. Por outro lado, no equilibrio de Stackelberg, a curva de isolucro da seguidora, é mais elevada daquela que aquela que intersectaria o equilibrio de Cournot, na interseçao das duas curvas de reaçao. Por isso temos: 2S 2C. A figura 4b ilustra o equilíbrio no duopólio linear de Stackelberg quando os bens são complementares. Fig.4b: Equilibrio de Stackelberg: Quantity Leadership, bens complementares R2(q1) R1(q2) 0 q1 q2 q1C q2C q1S q2S curvas de isolucroseguidor líder Com bens substitutos estratégicos, as curvas de isolucro são convexas. Quanto mais elevadas, maiores os níveis de lucro. Na figura 4b, as curvas que intersectam o equilíbrio de Stackelberg são superiores àquelas pontilhadas, passando pelo equilíbrio de Cournot. Assim, ambos os produtores auferem lucros mais elevados. A figura 4b também ilustra o fato que ambos os produtores ofertarão quantidades mais elevadas neste caso: q1S q1C e q2S q2C. Óbviamente, a oferta agregada será maior: QS QC. A resolução do exercício 13 proposto abaixo para o caso do duopólio linear diferenciado e simétrico, permite que se obtenha uma ilustração algébrica desta performance. Os resultados obtidos são sumariados à seguir: 1/ Com bens substitutos, a oferta da indústria é maior do que no equilíbrio simétrico de Cournot (QS QC, e o preço praticado pelo líder é menor que o praticado pelo seguidor; ambos são menores que o preço no equilíbrio de Cournot: p1S p2S pC. No duopólio simétrico (1C 2C C, o lucro da firma líder é maior que o da seguidora. Temos, de fato: 1S C 2S. A dominância da posição da líder é explicada pelo fato de mover-se primeiro. Se as firmas escolhem capacidades de produção, e a seguidora for proponente ao ingresso no mercado, a dominância da posição de líder é vista como um premio auferido pelo fato de ser pioneira. 2/ Com bens complementares, o exercício mostra que a oferta da firma líder é maior que a da seguidora. Temos: q1S q2S qC. Já o preço praticado pela seguidora é maior que o preço em Cournot, o qual é maior que o preço praticado pela líder: p2S pC p1S. Para os lucros, temos a seguinte hierarquia: 2S 1S C. Surpreendentemente, a seguidora aufere lucros maiores que a firma líder. Aqui, o fato demover-se em segundo é favorável à seguidora. Como o lucro marginal da seguidora cresce com as ofertas adicionais da líder, o fato de definir sua oferta depois da líder lhe permite ajustá-la de maneira a elevar o preço, fazendo com que seu lucro seja superior ao da líder. Exercício 11: Considere o duopólio linear de Cournot com produto homogêneo do exercício 2. (a) Tome a firma 1 como líder e a 2 como seguidora. Obtenha a oferta, o preço de mercado e o lucro de ambas as firmas no equilíbrio de Stackelberg. (b) Compare estas soluções com aquelas obtidas no duopólio de Cournot do exercício 2 em ambos os casos, c1 ≠ c2 e c1 c2 c (firmas simétricas). Exercício 12: No contexto do exercício anterior, prove que no equilíbrio de Stackelberg a curva de isolucro do líder intersecta a reta de reação do seguidor. Exercício 13. Considere o duopólio linear diferenciado do exercício 7. (a) Tome a firma 1 como líder em quantidades (quantity leadership) e a 2 como seguidora. Obtenha a oferta qiS, os preços piS e o lucro iS de ambas as firmas no equilíbrio de Stackelberg. (b) Particularize os resultados para o caso de demandas simétricas i ;i e custos marginais nulos c1 c2 0. Compare a oferta e os lucros das duas firmas entre si. Calcule também o excedente econômico total ET e o excedente do consumidor CS; (c) Compare os resultados do item (b) com os do exercício 7(c) para o mercado de Cournot. Bem estar Referindo-nos ao duopólio diferenciado linear e simétrico do exercício 13, vimos que oferta agregada do duopólio no padrão de Stackelberg é maior que a oferta do duopólio no padrão de Cournot (QS QC. Como a função de utilidade é crescente nas quantidades, vemos que o padrão de Stackelberg, com liderança em quantidades, domina socialmente o padrão de Cournot. O mesmo pode ser dito com relação ao ponto de vista dos consumidores, pois o seu excedente é função decrescente do nível de preços. Do ponto de vista privado, se os bens forem substitutos, a firma líder preferirá o regime de Stackelberg e a seguidora o regime de Cournot. Se os bens forem complementares, ambas preferirão o regime de Stackelberg, mas a líder desejará ser seguidora. Neste caso, nenhuma das firmas tem incentivo em mover primeiro. Assim, a passagem do regime de Cournot ao regime de Stackelberg, que é socialmente preferível, é Pareto-eficiente sòmente se os bens forem complementares pois, neste caso, firmas e consumidores são beneficiados. Se os bens forem substitutos, esta passagem é lesiva à firma seguidora, que vê seu lucro diminuir. A passagem inversa, do regime de Stackelberg para o de Cournot, também não é Pareto-eficiente neste caso, pois a líder será a firma prejudicada. B) Liderança em preço (Price leadership) No modelo de competição em preço (price leadership) e produto diferenciado, o líder maximizará em p1 a função lucro 1p1;R2p1, obtida substituindo-se p2 pela valor da reação da seguidora: 1 p1q1p1;R2p1 − C1q1p1,R2p1. A condição de primeira ordem é: q1 p1 − C1′ ∂q1∂p1 1 R2 ′ p1 0. Comparando-se esta equação com 3c, vemos que a variação conjectural consistente da firma líder é 1 R2′ . COMPARAÇAO: STACKELBERG x BERTRAND 1/ Se o equilíbrio for estável e os preços complementares estratégicos, temos ∂ 22 ∂p2∂p1 0, de modo que, pela equaçao 4, teremos: R2′ p1 0 : a firma líder concluirá que seus aumentos ou diminuiçoes no seu preço serao acompanhados pela firma seguidora. Lembre que no padrão de Bertrand, a conjectura da firma é de que seus aumentos de preço não serão seguidos 1 0. Como a receita marginal proporcionada à firma líder por um aumento do preço é maior do que no padrão de Bertrand, o preço de equilíbrio da firma líder será maior do que em Bertrand: p1S p1B . A firma seguidora define seu preço após a firma líder e, como sua função de resposta é crescente, fixará seu preço também acima do nível de Bertrand: p2S p2B. Tal resultado pode ser visualizado pela Figura 4b, substituindo-se quantidades por preços nos eixos das coordenadas (q → p). Pelo argumento racional da lucratividade, deduze-se que o lucro da líder é maior daquele que ela obteria no padrão de Bertrand: 1S 1B. Todavia, no caso simétrico, o lucro da líder será menor que o da seguidora, porque o lucro marginal deste cresce com os aumentos de preço efetuados pela firma líder, de maneira que temos, típicamente, 2S 1S B. Tal resultado paradoxal, já encontrado na liderança em quantidades com bens complementares estratégicos, pode ser melhor entendido se os bens forem substitutos Tal será o caso se os efeitos de segunda ordem sobre a demanda não forem dominantes pois, neste caso, a complementaridade estratégica dos preços implicará em que as quantidades sejam substitutas estratégicas: a seguidora ajustará seu preço para mante-lo abaixo de p1S, de maneira a estimular a demanda pelo seu produto, e assim auferir lucro superior ao da firma líder. A resolução do exercício 15 relativo ao duopólio linear diferenciado e simétrico, confirmará este rationale. Com efeito, o comportamento das firmas nos dois padrões competitivos gera os seguintes efeitos: p1S p2S pB e q2S q1S qB. 2/ Com preços substitutos estratégicos, teremos ∂ 22 ∂p2∂p1 0 e R2′ p1 0, de maneira que a firma líder antecipa corretamente que seus aumentos de preço serão combatidos com reduções de preço da firma seguidora. Em princípio, a firma líder deveria fixar seu preço abaixo do preço de Bertrand, já que sua receita marginal é menor do que o seria naquele mercado. Todavia, aumentos do seu preço forçam a firma seguidora a manter seu preço em nível mais baixo, o que eleva o lucro marginal da firma líder. Se os efeitos de segunda ordem não são importantes, a substitutabilidade estratégica dos preços implicará em que as quantidades sejam complementares estratégicas: as perdas de receita do líder, decorrentes da retração na demanda causada pela alta do seu preço, serão atenuadas pela receita induzida com o aumento na demanda pelo produto do seguidora, dada a complementaridade existente entre os bens. Portanto, no equilíbrio simétrico deveremos obter: p1S pB p2S, o que pode ser visualizado substituindo-se a variável q por p na Figura 4a. O lucro dos produtores é função crescente do preço, de modo que deveremos obter, neste caso, a seguinte hierarquia de resultados para as firmas: 1S B 2S. A resolução do exercício 14 relativo ao duopólio linear diferenciado e simétrico, nos convencerá de que esta interpretaçao é correta. A oferta da firma líder é menor que a da seguidora e ambas são menores que a oferta no equilíbrio simétrico de Bertrand: qB q2S q1S. Produto homogêneo Quando o custo marginal da firma seguidora for variável, será possível analisar o modelo competitivo de Stackelberg com liderança em preços no caso de uma indústria com produto homogêneo. Os produtos ofertados pelas firmas são substitutos perfeitos um do outro. Neste caso, devemos ter p2 p1 p e a seguidora vende ao preço fixado pela firma líder, de maneira que a curva de oferta da firma seguidora será determinada resolvendo-se: C2′ q2 p dado p. O líder considerará a demanda residual: q1p Qp − C2′−1p e escolherá o preço p de maneira a maximizar o lucro : 2p pQp − C2′−1p − C1Qp − C2′−1p Como neste caso os bens são substitutos perfeitos, ambas as firmas auferirão lucros maiores ou iguais aos do regime de Bertrand, na ausencia de restriçao de capacidade. No caso de custos simétricos, o lucro da firma líder será maior que o da seguidora. Exercício 14. Considere o duopólio linear diferenciado do exercício 13. (a) Tome a firma 1 como líder em preço (price leadership) e a 2 como seguidora. Obtenha o preço piS, a oferta qiS e o lucro iS de ambas as firmas no equilíbriode Stackelberg. (b) Particularize os resultados para o caso de demandas simétricas ai a;bi b e custos marginais nulos c1 c2 0. Compare os preços e os lucros das duas firmas entre si. (c) Compare os resultados do item (b) com os do exercício 10(c) para o mercado de Bertrand. Exercício 15. Considere o duopólio linear homogêneo onde as firmas fazem face à demanda direta QP a − bP e incorrem em custos totais Ciqi 12 qi2, i 1,2 , com 0 e q1 q2 Q. Se a firma 1 é líder em preço, e a firma 2 é seguidora, determine: (a) O preço e as quantidades ofertadas pelas firmas no equilíbrio de Stackelberg. Dê o intervalo de variação do parâmetro c b de modo que a firma líder oferte quantidades positivas; (b) Calcule o lucro das firmas 1S, 2S. Dê o intervalo co,c1 para c de modo que 1S 0. Se a 10, b 1 e 0.4, calcule o lucro das firmas. Exercício 16 : (a)Tome os resultados do exercício 14(b) (liderança em preço) e expresse as soluções do equilíbrio simétrico em função dos parâmetros da demanda indireta ,,; (b) Compare as expressões obtidas em (a) com os resultados do exercício 13(b) (liderança em quantidades). A firma 1 prefere liderar em quantidades ou em preços ? E a firma 2 ? Bem estar Referindo-nos ao duopólio diferenciado linear e simétrico do exercício 14, os resultados obtidos mostram que a oferta agregada do duopólio com liderança em preço é maior que a oferta no duopólio de Bertrand, QS QB, sòmente se os bens forem substitutos ou seja, os preços complementos estratégicos. Com bens complementares, isto é, preços substitutos estratégicos, a oferta de Stackelberg é menor: QB QS. Como a oferta agregada é aqui um indicador suficiente para se avaliar o bem estar, vemos que, diferentemente do mercado com liderança em quantidades, a liderança em preços é socialmente desejável quando os bens forem substitutos, mas não quando estes forem complementares. Neste último caso, o padrão independente de Bertrand é socialmente preferível. Do ponto de vista privado, se os bens forem substitutos, tanto a firma líder como a seguidora preferirão o regime de Stackelberg. Todavia, nenhuma das firmas desejará fixar o preço em primeiro lugar, pois o lucro da líder é menor que o da seguidora. Se os bens forem complementares, apenas a firma líder preferirá o regime de Stackelberg. A firma seguidora prefere ser independente e competir no regime de Bertrand. Assim, a passagem do regime de Bertrand ao regime de Stackelberg é Pareto-eficiente sòmente se os bens forem substitutos pois, neste caso, firmas e consumidores são beneficiados. Se os bens forem complementares, esta passagem é lesiva aos consumidores e à firma seguidora, que vê seu lucro diminuir. A passagem inversa, do padrao Stackelberg para o padrao Bertrand, também não é Pareto-eficiente neste caso, pois a líder será a firma prejudicada. Exercício 17. No contexto do exercício 16: (a) Use os resultados do confronto das performances no equilíbrio dos padrões de Cournot e Bertrand com aqueles obtidos no padrão de Stackelberg, para mostrar que a firma seguidora prefere ser liderada nos preços se os bens são substitutos e nas quantidades se os bens forem complementares. (b) Use os resultados do exercício 16 para mostrar que se os bens forem complementares, os consumidores preferirão o modelo de liderança em preços antes que o de liderança em quantidades. Mostre também que se os bens forem suficientemente substitutos entre si próximo de , os consumidores certamente preferirão o modelo de liderança em quantidades. Resumimos agora os resultados da análise do bem estar obtidos à partir dos modelos de liderança em quantidades e em preços de Stackelberg, quando comparados com aqueles obtidos nos modelos de competição independente das seções anteriores: Cournot e Bertrand, respectivamente. A passagem do padrão de Cournot para o padrão de Stackelberg, com liderança em quantidades, é Pareto eficiente sòmente se os bens forem complementares. A passagem do padrão de Bertrand para o padrão de Stackelberg, com liderança em preços, é Pareto eficiente sòmente se os bens forem substitutos. Óbviamente, estes resultados dependem da hipótese assumida para o duopólio linear e simétrico. A não linearidade das curvas de demanda e/ou de custos abre a possibilidade para a existência de equilíbrios múltiplos e para a instabilidade. A assimetria de custos entre as firmas altera não apenas a hierarquia dos lucros entre elas como também o excedente dos consumidores. Ainda que, em condições regulares, não haja dificuldades maiores para se analisar formalmente o equilíbrio de uma indústria compreendendo um número n arbitrário de firmas assimétricas, a comparação das performances obtidas para os diferentes padrões concorrenciais ficará alterada, como vimos ao final da seçao C) no confronto entre os oligopólios de Bertrand e de Cournot. Assim, a dominancia de um padrão competitivo sobre o outro, de um modo geral, não poderá ser estabelecida. E) COMPETIÇAO MONOPOLÍSTICA (E.H.Chamberlin,1933) No seu livro The theory of monopolistic competition (1933), o economista americano Edward H.Chamberlin lança as bases do estudo moderno da competiçao imperfeita. Esta é principalmente causada pela possibilidade dos produtores diferenciarem seus produtos frente aqueles ofertados pelos outros produtores, e assim ganharem poder de mercado sobre os concorrentes. Uma forma particular de diferenciaçao é a criaçao da "marca", que permitirá ao consumidor distinguir o produto de outros similares vendidos no mercado. Com a criaçao da sua marca, o ofertante detém o monopólio da sua comercializaçao. Mas a similaridade física entre as diferentes marcas, simultaneamente ofertadas no mercado, torna a comercializaçao destas marcas competitiva entre os ofertantes, fato este que Chamberlin denominou competiçao monopolística. Além da marca, outras dimensoes da diferenciaçao sao também levadas em conta, tais como a localizaçao, a publicidade e a customizaçao. Diferentemente dos outros regimes, a competição monopolística ocorre sobretudo em indústrias complexas, que apresentam alguns traços peculiares. Do lado da produção, cada produtor da indústria oferta um bem ou ”marca” com características específicas, as quais lhes conferem um certo grau de monopólio sobre a sua comercialização, como mencionamos acima. Assim, diferentemente do regime perfeitamente competitivo, aqui o produtor não sofrerá perda completa da clientela caso elevar o seu preço acima do preço praticado pelos concorrentes, pois possui um ”nicho de mercado” no qual os clientes são pouco elásticos ao preço. Também, distintamente do oligopólio diferenciado no qual o número de marcas é limitado por barreiras à entrada de novas firmas, em indústrias monopolísticamente competitivas uma grande variedade de produtos é ofertada. Chamberlin via a grande variedade de produtos fisicamente similares como indicador da imperfeiçao do mercado: o número de "marcas" tende a diminuir à medida que o mercado se torna mais "perfeito" e consolidado. Do lado da demanda, os consumidores não escolhem apenas um ou alguns bens na gama de marcas oferecidas, como no caso do oligopólio, mas valoram todos os bens e podem demandar até a maioria deles. Assim como a indústria automobilística exemplifica o regime de competição oligopolística, as indústrias de filmes, discos, roupas feitas, livros, etc. são exemplos de indústrias onde a competição monopolística predomina. Uma característica básica derivada desta situação é que, com a entrada de muitos produtores no mercado ou seja, n elevado, a interação direta existente entre os produtores nos ajustes de sua variável de contrôle torna-se inefetiva. Isto ocorre porque, sendo bastante pequena a parcela ( ij dos consumidores que preferem ambos os produtos i, j , o efeito de uma mudançana variável de controle x da firma i será distribuído uniformemente sobre todas as outras firmas j ≠ i, de modo que o impacto sobre a demanda de cada uma delas será muito pequeno. Além disso, a livre entrada de novos produtores faz tender as margens de lucro individuais para zéro, de modo que se os ajustes em x ou seja, preço ou quantidades, implicarem em algum custo positivo para as firmas, elas preferirão ignorar as estratégias dos outros produtores. Assim, podemos identificar o regime de competição monopolística pelas seguintes características: (a) grande número de firmas produzindo bens diferenciados; (b) cada firma é, individualmente "negligenciável”, no sentido que pode ignorar o impacto das suas ações sobre as demais assim como o efeito das reações das rivais sobre suas ações; (c) a livre entrada de firmas anula, no equilíbrio, a lucratividade das firmas instaladas; (d) cada firma faz face à uma demanda negativamente inclinada com relação ao preço. A condição b implica que, no equilíbrio, cada bem possua uma ou mais características, valoradas pelos consumidores, que os tornam insubstituíveis pelos outros bens disponíveis. Isto significa que nao existirá "bens vizinhos” à uma "marca" sobrevivente, no equilibrio da competiçao monopolística. Neste regime, o equilíbrio da indústria é distinto do equilíbrio perfeitamente competitivo, pois a condição d implicará que o preço se situe acima do custo marginal. Fora do equilíbrio, ou seja, com n limitado, ainda que a utilidade dos consumidores seja separável nos bens, as ações dos produtores interagirão entre si indiretamente, pela mediação da restrição orçamentária dos consumidores. A formalizaçao abaixo, extraída de Shy (1995), ilustrará este passo e os passos seguintes. 1. Suponha que um consumidor representativo maximize: Uq1, . . . ,qn ∑ i1n uiqi sob a restrição orçamentária∑ i1n piqi ≤ m, onde ui é uma função contínua, diferenciável e côncava, p1,p2, . . . ,pn são os preços de oferta dos bens ou ”marcas ” i 1,2, . . . .n e R é a renda alocada ao consumo. O Lagrangeano deste problema se escreve: Lq1, . . . ,qn; ∑ i1n uiqi R − ∑ i1n piqi. Para soluções interiores ,qi 0, as CPO da maximização de L são: ∂L ∂qi ui ′qi − pi 0; i 1,2, . . . ,n ∂L ∂ R − ∑ i1 n piqi 0 Da primeira equação obtemos a demanda pelo produto i, a saber: qip1; ui′ −1pi 7 a qual dependerá dos preços de todos os bens, visto que é dado por 1R ∑ i1n qiui′qi. O valor de acima é obtido prémultiplicando-se a primeira equação por qi, somando-se de 1 à n e, em seguida, usando-se a segunda equação. Por exemplo, se uiq qi , 0 i 1 obtemos por 7a: qipi; ipi 1 1−i 7b com 1R ∑ i1n iqii . Suponha agora que o ofertante do bem i incorra no custo Ciq Fi ciq para ofertar q unidades do seu produto, onde Fi 0 é um custo fixo e ci 0 é o custo marginal. Face à demanda dada por 7b o produtor fixará o preço que maximiza o seu lucro: i piqipi; − Ciqipi; 7c Pela condição b do equilíbrio em competição monopolística, o produtor não levará em conta a interação do seu preço com a oferta dos outros produtores, de modo que poderá tratar como uma constante. Neste caso, usando-se a função de custos dada acima, obtemos: i piqipi; − Fi − ciqipi; 7d e a CPO da maximização do lucro será: 1 i ci ipi onde i ∂qi∂pi pi qi é a elasticidade-preço da demanda pela marca i. No exemplo em curso, obtemos à partir de 7b, i −1/1 − i. Substituindo este valor na CPO acima obtemos: pi ci i 7e Como vemos, no equilíbrio o preço excede o custo marginal: pi ci. Note que esta desigualdade se mantém mesmo que preferencias e firmas sejam simétricas ou seja, i e ci c, para todo i . A oferta qi será determinada usando-se a condição c do equilíbrio: i 0, onde i é dada em 7c para i 1,2, . . . ,n. No exemplo em questão obtemos, à partir de 7c : qipi − ci Fi ou, usando 7e: qi iFi1 − ici 7f Note à partir de 7f que a oferta de equilíbrio do bem i será tanto maior quanto maior a utilidade marginal da primeira unidade consumida: i uí′1. Qual será o número ótimo de ”marcas ” n gerado no equilíbrio simétrico ? Pela restriçao orçamentária devemos ter R ∑ i1n piqi ou, após substituiçao dos preços e quantidades de equilibrio, dados em 7e e 7f, respectivamente: R ∑ i1n Fi1 − i No caso simétrico, teremos: R n F1 − , de modo que n 1 − mF onde x é o primeiro inteiro maior ou igual à x. Como vemos, enquanto houverem custos fixos positivos na indústria F 0, uma variedade finita de bens será produzida. Naturalmente, esta variedade será tanto maior quanto maior a renda dos consumidores. Exercício 21. Suponha que a função de utilidade do consumidor representativo seja quase-linear: Uq0,q1, . . . ,qn q0 ∑ i1n qii , onde q0 é um bem numerário, p0 1 e p1, . . . ,pn são preços relativos. Dada a restrição orçamentária q0 ∑ i1n piqi ≤ m do consumidor: (a) Dê a demanda ótima do bem i : qipi; (b) Se o custo marginal para a produção de q unidades do bem i for iqi, dê o preço pi que maximiza o lucro do produtor. Determine também as quantidades de equilíbrio qi. (c) O equilíbrio pi,qi, i 1,2, . . . ,n obtido em b é um equilíbrio de competição monopolística ? F) CARTEL Nesta estrutura de mercado os produtores adotam um comportamento cooperativo, escolhendo a oferta, ou o preço, que maximiza o lucro agregado. Para a simplicidade da exposição, limitaremos a análise ao caso de uma indústria com produto homogeneo no qual firmas assimétricas escolhem quantidades. O lucro agregado na indústria, ∑ i1n iqi é: QP − ∑ i1n Ciqi 8a Alternativamente, dado que a parcela de mercado da firma i é si qi/Q, podemos escrever a função lucro como: QP − ∑ i1n CisiQ 8b Se cada produtor escolhe sua oferta qi, de maneira a maximizar o lucro agregado, a CPO para a maximização do lucro 8a é: P QP ′ − Ci′qi 0. 8c Neste caso, os custos da indústria são minimizados, porque os custos marginais são equalizados à receita marginal de equilíbrio. Notaremos k para a receita marginal, de modo que: kQ ≡ P QP ′. Então, se o custo marginal do produtor i for crescente, ele produzirá quantidades na proporção inversa dos seus custos: qi Ci′−1kQ. A oferta agregada do cartel será então determinada resolvendo-se: Q ∑ i1n Ci′−1kQ. Exemplo 2 : A demanda P − Q ( 0) e os custos marginais Ci′qi iqi são ambos lineares. Usando a CPO temos então qi k/i − 2Q/i. Somando de ambos os lados e resolvendo em Q obtemos a oferta do cartel: Q n 2n h , onde h 1 n ∑ i1n 1/i−1 é a média harmônica das variações no custo marginal das firmas. Logo, a oferta ótima de cada participante será: qi hi2n h . Como vemos, as firmas mais eficientes, cujos custos marginais crescem abaixo da média harmönica do crescimento das demais firmas, ou seja i h, estas produzirao proporcionalmente mais. Em particular, a parcela de mercado da firma i será: s i qi Q 1n hi , de modo que i h → s i 1n . Por outro lado, pode-se verificar que o lucro agregado do cartel é: QP − ∑ i1n Ciqi, expressao esta que, após substituiçao das ofertas das firmas se simplifica em: 12 Q. É natural supor que a parcela de mercado das firmas, no equilibrio do cartel, eleja o pro rata como critério mais adequado para a divisao do lucro entre as firmas. Deste modo, à firma i caberá o lucro i s i qi Q 1 2 Q 1 2 qi As firmas do cartel que sao mais eficientes, produzirao proporcionalmente mais e auferiraoas maiores parcelas do lucro do cartel. Exercício 22. (a) Compare os resultados obtidos no exemplo acima com os resultados do equilíbrio de Cournot (com custo marginal hq obtido no exercício 3(a); (b) As firmas tem incentivo em permanecer no cartel ? Compare a oferta e os lucros agregados, no caso do duopólio, em ambos os regimes. Retornos à escala constantes O exemplo 2 explorou a atuaçao de um cartel entre firmas cujos retornos à escala na produçao sao decrescentes. Quid se as firmas tem retornos à escala constantes ? Neste caso, a oferta ótima de cada membro do cartel ficará indeterminada no oligopólio homogeneo com firmas assimétricas. Com retornos à escala constantes, o custo marginal das firmas é constante, de modo que, se Ci′ ci no exemplo anterior, obtemos a oferta ótima do cartel: Q − c2 , onde c é a média aritmética dos custos marginais na indústria. A maximização do lucro agregado não oferece nenhum critério endógeno para a alocaçao desta produção entre as firmas. Se as firmas mais eficientes não tem restrição de capacidade, acordos impondo inatividade para as firmas menos eficientes e pagamentos laterais compensatórios efetuados pelas firmas ativas podem ser considerados. Por exempo, a firma mais eficiente poderia produzir as quantidades de monopólio. O lucro (máximo) auferido seria repartido entre todas. Critérios had hoc que não incluam inatividade para nenhuma incumbente deveriam honrar o princípio da eficiência produtiva, as mais eficientes produziriam mais e aufeririam as maiores parcelas do lucro. Neste sentido, outro arranjo possível poderia prever a oferta Q que maximiza o lucro agregado levando em conta que quotas de mercado pré-determinadas si serão atendidas; por exemplo, as quotas atuais si, anteriores à formaçao do cartel deveriam ser respeitadas. Neste caso, a maximização de 8b com relação à Q, sob a restrição si constante , i 1, . . . ,n conduzirá à CPO: P QP ′ − ∑ i1n sici 0 Deste modo, a produçao agregada do cartel com retornos à escala constante será: Q − c s2 , onde c s ∑ i1 n sici é a média ponderada dos custos marginais. A oferta de cada membro do cartel será então qi siQ, e o lucro total QP − ∑ i1n CisiQ será rateado entre os participantes de acordo com as quotas si pré-estabelecidas. Exercício 22. (a) No oligopólio linear com retornos constantes do exemplo acima, calcule o lucro da firma i, i ; no cartel com quotas pré-estabelecidas; (b) Calcule o lucro da mesma firma no cartel sem quotas pré-estabelecidas seja, i, se as quantidades ofertadas forem proporcionais à quota de (a): qi siQ. Se as quotas atendem o princípio da eficiência produtiva isto é, se ci cj → si sj mostre que i i. Dê uma explicação racional para esta desigualdade. Cartel e Cournot As solução do cartel explícito, com quotas pré-estabelecidas, encontra fundamento teórico na possibilidade dos produtores do oligopólio de Cournot realizarem conjecturas consistentes sobre a manutenção da atual distribuição do mercado. Com efeito, reescrevamos aqui a CPO 3a para a maximização dos lucros do oligopólio: P qiP ′1 i − Ci′qi 0, onde i dQi/dqi é a variação conjectural do produtor i. Suponha que todos os produtores antecipam que variações em sua oferta provocarão uma resposta colusiva dos rivais, i.e., aumentos (reduções) de oferta são respondidos com aumentos (reduções) na oferta dos rivais: i 0. Adicionalmente, suponha que a conjectura de cada produtor seja de que os rivais reagirão de maneira a preservarem suas quotas individuais. Então, i Qi/qi 1/si − 1. Substituindo este valor na CPO acima obtemos P QP ′ − Ci′qi 0, que é a CPO 8c da maximização dos lucros no cartel. Instabilidade do Cartel Oequilíbrio do cartel sofre o inconveniente de ser intrínsecamente instável: se algum dos membros desviar do arranjo e aumentar sua oferta, ele poderá auferir lucros maiores caso os outros permanecerem fiéis ao acordo, pois venderá as quantidades adicionais ao preço mais elevado estabelecido pelo cartel. A instabilidade do equilíbrio do cartel pode ser fácilmente checada. Considere que, no cartel, a quota de produçao da firma i seja qi e que o lucro agregado (8a) seja maximizado com a oferta agregada Q. Entao, dado que o lucro do produtor i é iqi qiPQ − Ciqi , caso ele queira elevar sua produçao acima da quota estabelecida para ele no cartel, ele poderá auferir, na margem, o seguinte lucro adicional: ∂i ∂qi P qiP ′ − Ci′ P Q − Q−iP ′ − Cí′ P QP ′ − Cí′ − Q−iP ′ ou, usando (8c): ∂i ∂qi − Q−iP ′ 0. Logo, o produtor i tem incentivo a desviar do cartel e aumentar unilateralmente a sua oferta, pois com isso ele auferirá, na margem, lucro positivo. Como vemos, o equilíbrio do cartel se estabelece em um nível de produção não eficiente do ponto de vista privado, pois as firmas poderáo auferir ganhos adicionais ofertando unilateralmente quantidades acima da quota atribuída à elas pelo cartel. De um modo geral, a estabilidade de uma coalizão depende das regras estabelecidas no acordo e do monitoramento feito das açoes individuais no interior da coalizao. Na teoria dos jogos aliás, vimos que a sobrevivencia do cartel, enquanto resultado cooperativo de um jogo repetido no qual os participantes tem incentivo individual para desviarem, pode ser sustentado como um equilibrio de Nash ou seja, estável, quando há um mecanismo eficiente de penalização que desencoraje rompimentos unilaterais do acôrdo. G) PADROES MISTOS Consideramos agora a atuação conjunta, no mesmo mercado, de uma coalizão de n1 produtores e de uma franja concorrencial composta de n0 produtores independentes. Para simplicidade da análise, consideramos o caso do produto homogêneo e de firmas simétricas no interior de cada grupo. Isto significa que ao produzirem q0 cada uma, cada firma da franja concorrencial incorre no custo C0q0 e cada firma da coalizao, ao produzir q1, incorre no custo C1q1. A extensão para o caso heterogêneo não apresenta dificuldades conceituais (veja exercício 23 à frente). As condições de primeira ordem para o equilíbrio são apresentadas e a existência e estabilidade são brevemente discutidas à seguir. Resultados explícitos são dados para o caso em que as firmas fazem face à uma demanda linear e incorrem em custos quadráticos. A função lucro de uma firma j na franja concorrencial é: j qjPQ − C0qj ; j 1,2, . . . ,n0, 9a e cada firma concorrencial escolhe sua oferta qj que maximiza seu lucro individual, dada a oferta das outras firmas da franja e a oferta agregada Q1 da coalizao. A coalizão, envolvendo n1 n − n0 firmas, escolhe a oferta agregada Q1 que maximiza o lucro agregado: 1 Q1PQ − n1C1 Q1n1 , 9b onde Q Q0 Q1 e Q0 n0q0, é a oferta agregada da franja concorrencial no equilíbrio simétrico e Q1 n1q1 é a oferta agregada da coalizao. A determinação de q0 e Q1 é obtida resolvendo-se o sistema de ( n0 1 condições de primeira ordem CPO. Por simplicidade, vamos supor que a variação conjectural de todos os produtores é nula, de maneira que o equilíbrio obtido é do tipo Cournot. As CPO’s são: P qjP ′ − C0′ 0 9c P Q1P ′ − C1′ Q1n1 0. 9d para j 1,2, . . . ,n0. Estabilidade. A matriz Hessiana das derivadas de segunda ordem das funções lucro escreve-se: H ∂2j ∂qj∂qk ∂2j ∂qj∂Q1 ∂21 ∂Q1∂qj ∂21 ∂2Q12 A B D c , onde A ajk é a matriz de ordem n0 correspondente à franja concorrencial com elementos: ajk ∂ 2j ∂qj∂qk aj 2P ′ qjP ′′′ − C0′′; se j k bj ; se j ≠ k ; B b1,b2, . . . ,bn0′ é o vetor coluna das derivadas bj ∂ 2j ∂qj∂Q1 P ′ qjP ′′ ; D d1′ é o vetor-linha com coordenada d ∂21∂Q1∂qj P ′ Q1P ′′ e c ∂21∂2Q12 P ′ Q1P ′′ .A estabilidade do equilíbrio exige que a matriz H seja definida negativa, requerendo portanto que os menores principais primários (m1 alternem de sinal, a começar pelo primeiro: m1 a1 0, m2 a1 b1 b2 a2 0, m3 a1 b1 b1 b2 a2 b2 b3 b3 a3 0, . . . , −1n0 mn0 −1n0 |A| 0, −1n01|H| 0. Como vemos, se c 0, aj 0 ( j 1,2, . . . ,n0 e C0′′, C1′′ 0, teremos m1 0, m2 0. . . . de maneira que estas condições, que são necessárias, sao também suficientes para garantir a estabilidade do equilíbrio no regime misto. Exemplo 3: Demanda linear, custos quadráticos Todos os produtores fazem face à demanda inversa linear: P − Q e e fazem face a custos quadráticos na produçao: C0q 12 0q2 para uma firma da franja concorrencial; C1q 12 1q2 para uma firma da coalizao. A resolução do sistema 10f das CPO′s fornece as seguintes ofertas individuais, para as firmas da franja e da coalizao, respectivamente: q0 n1 1/Γ 9e q1 0/Γ 9f onde Γ n0n1 1 2n1 1 0. Para a lucratividade das firmas individuais, pode-se mostrar, por substituiçao das equaçoes 9e, f em 9a e 9b: O lucro de uma firma da franja concorrencial é: 0 12 0q 02 9g O lucro de uma firma da coalizao é: 1 n1 12 1q 12 9h A oferta agregada no padrão concorrencial misto (Qm) é dada por: Qm n0q0 n1q1 n0n1 1 n1 0/Γ. Sendo Q1m n1q1 a oferta agregada da coalisão, o quociente Q1m/Qm pode ser visto como um indicador do grau de monopolização existente na indústria. Após substituição dos valores obtidos acima, nesta expressão, encontramos: 1 1 n0 1/n1 0 10 Como esperado, o grau de monopólio da indústria aumenta com um aumento nos custos marginais das firmas da franja concorrencial (0) e com aumentos no tamanho da coalisão (n1). O coeficiente diminui com um aumento nos custos marginais das firmas da coalisão (1) e com aumentos no tamanho da franja concorrencial (n0). Se toda a indústria for monopolizada, ou seja, n0 0, obtemos óbviamente 1. No caso de firmas simétricas 0 1, pode-se fácilmente constatar que 11 n0 se n1 1 e que o grau de monopolização excede este valor se n1 1. Bem estar Podemos avaliar a perda de bem estar gerada pela formaçao da coalizao com n1 no padrao concorrencial misto com a performance obtida no regime de Cournot, onde todas as firmas competem individualmente umas com as outras. Para tanto, suporemos que todas as firmas sejam simétricas, 0 1 (veja o exercício 3). Para se obter a oferta agregada no padrão concorrencial de Cournot, basta substituir n0 por n − 1 e n1 por 1 na expressão de Qm para o caso simétrico, o que leva à: QC n/n 1 , onde n n0 n1. Das ofertas individuais de equilíbrio apresentadas acima 9e, f, vemos imediatamente que se n1 1, as firmas da franja competitiva produzem quantidades maiores que as firmas da coalisão individualmente q0 q1. Logo, para n n0 n1 contante, Qm aumenta quando uma firma da coalisão ingressa na franja competitiva, até o ponto em que n1 1 e n n0 1, que é justamente o resultado de Cournot. Deste modo, temos Qm QC e, em consequencia, Pm PC. Como esperado, em uma indústria na qual firmas simétricas fabricam um produto homogêneo, a existência de coalisões não é favorável para os consumidores e o bem-estar. Incentivos para a formação de coalizões Se n simétricas competem independentemente no padrao Cournot, há incentivo para que um grupo de n1 dentre elas formem uma coalizao ? 1/ A viabilidade economica da coalizao deve, primeiramente, atender à restriçao de participaçao: a firma deve ter interesse em participar da coalizao. Portanto, é necessário que o lucro obtido na coalizao seja maior que o lucro que a firma aufere na ausencia da coalizao. Ou seja, a restriçao de participaçao requer: 1 C. No exemplo 2, substituindo n0 por n − 1 e n1 por 1 na expressao 9g obtemos o lucro de uma firma independente em Cournot: C n 1 2 12 . Por outro lado, usando 9f em 9h obtemos o lucro que a firma obterá na coalizao: 1 n0 n1 2n1 2n1 12 ; Levando em conta que n n0 n1 na expressao do lucro em Cournot, o quociente C/1 pode ser colocado no seguinte formato: C 1 1 n1 − 11 n−n1 n 1 2 1 2 n1 12 . É possivel mostrar que, para um número de firmas n n0 n1 fixo, o quociente acima é uma função côncava em n1. Visto como função de n1, o quociente C1 é igual à 1 para n1 1 e existe um n1 ∗ menor que n , o qual dependerá de , e n, que também iguala este quociente à 1, de maneira que C1 1 para n1 n1 ∗ e C1 1 para n1 n1 ∗. Isto significa que o lucro da firma na coalizão no padrão misto será maior que o lucro que obteria no padrão de Cournot sòmente se a coalizão for suficientemente grande. A Figura 5 abaixo ilustra esta relaçao entre C1 e o tamanho da coalizao n1 : Fig.5: Tamanho da coalizao X Restriçao de participaçao: Exemplo 3 nn1*0 1 ΠC /Π1 1 Encontramos aqui um resultado teórico conhecido em economia industrial: as firmas tem incentivo individual a formar coalizões em um oligopólio simétrico sòmente se o arranjo envolver um percentual suficientemente elevado das firmas da industria. No exemplo acima, se 1 e uma indústria com 10 firmas simétricas atuando no padrão de Cournot, somente coalizões envolvendo mais de 70% dentre elas (7 firmas) serão vantajosas do ponto de vista privado. Este percentual é ainda maior se as firmas incorrem em custos marginais constantes ao invés de custos marginais crescentes, como no exemplo 3. Exercício 23. Considere uma indústria homogênea composta de n firmas fazendo face à demanda: P − Q e competindo em quantidades no padrão concorrencial misto composto de uma coalisão de n1 firmas incorrendo no custo marginal constante c1 e de uma franja concorrencial de n0 firmas incorrendo no custo marginal c0. (a) Calcule as quantidades e os lucros de equilíbrio de uma firma na franja e de uma firma na coalisão; (b) Se as firmas forem simétricas, mostre que q0 q1 e que 0 1. (c) Calcule as quantidades e o lucro de Cournot colocando n n0 1, n1 1 nos valores do equilíbrio misto e mostre que QC Qm; (d) Dê o valor crítico n1∗ para o qual nenhuma coalisão de tamanho menor é privadamente interessante (para as firmas individuais). 2/ Além da restriçao de participaçao, a coalizao, uma vez formada, deve ser estável, no seguinte sentido: a firma participante da coalizao deve auferir lucro maior ou igual ao lucro auferido por uma firma da franja concorrencial. Assim, a "compatibilidade do incentivo" requer 1 0. Esta restriçao é de fato um requerimento de estabilidade do equilibrio cooperativo no jogo estágio do equilibrio misto, o qual, como vimos na seçao anterior sobre o cartel, nao é atendido. A firma participante do cartel tem incentivo em desviar do cartel e atuar como firma independente. A ausencia de estabilidade do equilibrio misto é, de fato, inerente ao padrão competitivo de Cournot no oligopólio homogeneo e simétrico: Toda coalizao entre firmas simétricas cria externalidades positivas para as firmas da franja concorrencial. A razao disto é simples: para aumentar o lucro agregado, a coalizão deverá retrair a oferta de maneira a elevar o preço do produto. Como o produto ofertado pelas firmas da franja é um substituto perfeito do produto da coalizão, a elevação do preço permitirá às firmas da franja expandirem suas ofertas e, com isso, auferirem lucros maiores que o das firmas da coalizão: 0 1. Óbviamente, no caso assimétrico, em que as firmas da coalizao tem custos marginais menores, ou seja 1 0, a restriçaode participaçao no cartel poderá ser atendida com um número menor de participantes. Neste caso, também, a estabilidade do cartel poderá ser atendida se a diferença nos custos marginais entre as firmas do cartel e da franja competitiva for suficientemente elevada ou seja, 0 − 1 elevado. Diferenciaçao e grau de monopolizaçao A análise do duopólio diferenciado e linear de Cournot do item B) mostrou que, sendo os produtos substitutos, os produtores retraem sua oferta com relação à oferta ótima que fariam sendo os produtos menos substitutos. Assim, o aumento da substituição entre os bens leva à um acirramento da competição entre os ofertantes. Na competição em quantidades, como as curvas de reação são negativamente inclinadas, o equilíbrio se estabelece em um nível de produção mais baixo do que com produtos menos substitutos. Já na competição em preços, as curvas de reação sendo positivamente inclidadas, os preços de equilíbrio aumentam mas, também as quantidades ofertadas aumentam, relativamente à situação em que os produtos são pouco substitutos. Portanto, o efeito da substituiçao entre os bens sobre o equilíbrio da indústria depende do regime competitivo. No regime Cournot, mais substitutição implica em menor oferta agregada. No regime de Bertrand, o acirramento da competição decorrente de um aumento na substituição entre os bens estimula a guerra de preços, da qual resulta uma oferta agregada aumentada. Em um modelo concorrencial misto, quando a competição se dá em quantidades, como este analizado aqui, uma coalizão de produtores ofertando um produto homogeneo disputa o mercado com uma franja de produtores independentes, os quais ofertam produtos substitutos imperfeitos entre si e diferenciados com relaçao ao produto do cartel. Como o regime é Cournot, sabe-se que o aumento da substituição entre os produtos da franja retrai a oferta agregada dos produtores independentes. Se seus produtos puderem ser de algum modo substituídos pelo produto da coalizão, o acirramento da competição na franja retrairá a oferta agregada dos produtores independentes, abrindo então espaço para uma expansão na oferta da coalizão, da qual resultará um aumento no grau de monopolizaçao da indústria. O exemplo abaixo ilustra particularmente bem esta situação. Exemplo 4: Considere uma indústria diferenciada composta de n firmas competindo em quantidades em um modelo concorrencial misto no qual n1 firmas formam conluio e ofertam conjuntamente Q1 unidades de um produto homogeneo, fazendo face à demanda: P 1 − 1Q1 − ∑ i1n0 qi, onde ,1, 0 e qi são as quantidades ofertadas por uma firma i da franja concorrencial ( i 1,2, . . . ,n0. Na franja concorrencial, as n0 firmas ofertam produtos substitutos imperfeitos entre si, sendo que a firma i faz face à demanda inversa: pi 0 − 0qi − ∑ jj≠in0 qj − Q1, onde 0,0, 0. Note que o parämetro mede a substituiçao intra-franja, entre os bens da franja concorrencial, e mede a substituiçao extra-franja, entre os bens da franja e o bem do cartel. Como convém, supomos que os efeitos diretos da oferta sobre os preços são mais fortes que os efeitos cruzados: 0 , e 1 . As firmas da franja concorrencial incorrem no custo C0q c0q 12 0q2 e as firmas da coalisão, individualmente, incorrem no custo C1q c1q 12 1q2. A maximizaçao conjunta do lucro das firmas individuais da franja e do lucro do cartel leva ao seguinte sistema linear, com n0 1 equações, das CPO’s: 0 − c01 1 − c1 A11 A12 A21 A22 q Q1 onde q q1,q2, . . . ,qn0′ é o vetor (coluna) da oferta das firmas da franja, 1 é o vetor coluna de um’s de dimensão n0 e: A11 20 0 − I0 11′ ; A12 1 ; A21 A12′ A22 21 1n1 ≡ −1 onde I 0 é a matriz identidade de ordem n0. O equilíbrio do regime misto é dado por: qm Q1m A 11 A12 A21 A22 0 − c01 1 − c1 . Usando-se as fórmulas da inversão particionada obtemos: A11 120 0 − I0 − − 211′ 20 0 n0 − 1 − n02 ; A12 −A111 A21 ′ e A22 1 21′A111. Colocando ≡ 1n0 1′A111 120 0 n0 − 1 − n02 , as ofertas de equilibrio, para uma firma da franja e para a coalizao sao, respectivamente: qm 0 − c0 − 1 − c1A111; Q1m 1 − c1 − n00 − c0 − 1 − c1. Supondo que ambas as quantidades acima sejam positivas, é possível mostrar que o aumento no grau de substituição entre os produtos, intra e extra franja competitiva, reduz a oferta agregada da franja e aumenta a oferta da coalisão. Sob a hipótese 0 − c0 1 − c1 ≡ − c, o grau de monopolização do mercado , definido pela parcela da oferta do cartel sobre a oferta total é, neste caso: 1 − n01 − 1 n0−11 − 2 15a Sendo Q1m 0, o numerador da expressao acima é não negativo. Como esperado, se reduz com o aumento de n0 e com a redução de n1, para n n0 n1 fixo. Note que se n0 0 (toda a indústria é cartelizada) então, 1. O termo é decrescente em , de maneira que o grau de monopolização aumenta com o aumento da substituição intra-franja concorrencial : ∂∂ 0. Com relação à substituição extra-franja , o sinal de ∂∂2 é ambíguo, depende do valor dos parâmetros da demanda e dos custos. O exemplo 4 evidencia um resultado conhecido na literatura teórica, indicando que uma maneira adequada das firmas independentes atenuarem a competição entre si consiste em diferenciarem seus produtos, de modo a ganharem poder de mercado. A maior diferenciação dos produtos lhes permitirá reduzir o grau de substituição entre eles, expandir a oferta agregada da franja concorrencial, atenuar o poder de mercado da coalizão e, como mostrado acima, reduzir o grau de monopolizaçao na indústria. BIBLIOGRAFIA: SN : Cap. 15 VO : Cap. 15 PR : Cap. 12 JR : Sec. 4.2 EXERCÍCIOS : ANPEC: 2010/Q11; 2009/Q13; 2008/Q14; 2006/Q06,Q14; 2005/Q07; 2004/Q06; 2003/Q06,Q13; 2002/Q06; 2001/Q06,Q08 SN : 15.1- 15.5, 15.7, 15.9 (analytical) bibliografia: a) Livros básicos. 1. TIROLE, J. The Theory of Industrial Organisation, The MIT Press, 1989 - Cap. 1, 5, 7. 2. VARIAN, H.R. Microeconomics Analysis, W.W.Norton and Co., 3nd.ed. 1992; cap. 1,4,5,7,9,10,14,16. 3. SHY, O. Industrial Organization, The Mit Press, 1995; cap.3,4,5,6,7,8. 4. SCHERER,F.M. and D.ROSS, Industrial Market Structure and Economic Performance, Houghton Mifflin Co., 1990, Cap.2,6,7. 5. MAS-COLELL,A. and M.D.WHINSTON and J.R.GREEN, Microeconomic Theory, Oxford Univ.Press, 1995; Cap. 3,4,5,12. b) Artigos Específicos: 1. SINGH,N. and X.VIVES(1984) Price and quantity competition in a differentiated duopoly, Rand Journal of Economics, 15,4, Winter; 2. 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